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Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Prof. Felipe Góis – Emergências Cirúrgicas - 07/03/2021 ALTS – Cap. 7 Lesão espinhal (com ou sem défice neurológico) deve ser SEMPRE considerado em vítimas de traumas múltiplos. Anatomia e Fisiologia da Coluna Vertebral A Coluna Vertebral é formada por: • 7 vértebras cervicais • 12 torácicas • 5 lombares → pelo sacro e cóccix. Vértebra típica: consiste em um corpo vertebral de posição anterior. Os corpos vertebrais são separados pelos discos intervertebrais e são fixados, entre si, anterior e posteriormente por ligamentos longitudinais, respectivamente, anteriores e posteriores. Posterolateralmente, 2 pedículos forma os pilares sobre os quais se apoia o teto do canal vertebral. Estruturas que que contribuem para dar estabilidade à coluna: • Facetas articulares • Ligamentos interespinhosos • Músculos paravertebrais O canal medular é amplo na parte superior da coluna cervical, ou seja, do forame magno até a parte inferior de C2. 1/3 dos pacientes morrem no local do trauma em decorrência de apneia provocada por perda de inervação central dos nervos frênicos resultante da lesão da medula em C1. Abaixo de C3 → o diâmetro do canal medular é menor que o diâmetro da medula, por isso que as lesões nesse nível provocam lesões medulares. Os arcos costais conferem uma maior mobilidade a coluna cervical, por isso a mobilidade na torácica é mais restrita. • A incidência de fraturas torácicas é muito menor. • A maioria das fraturas da coluna torácica ocorre por compressão e não está associada a lesões medulares. Entretanto, quando a lesão vertebral ocorre por fratura- luxação resulta em lesão medular completa, pois o canal medular é relativamente estreito. Transição toracolombar • Ponto de apoio entre a região torácica • Inflexível • Níveis lombares mais robustos Devido a isso, se torna mais vulnerável ao trauma. • 15% de todas as lesões da coluna ocorrem nessa região. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Anatomia da Medula Espinhal Origina-se na extremidade caudal da medula oblonga, no nível do forame magno. • Termina a nível de L1 • Abaixo desse nível situa-se a cauda equina → mais resistente ao trauma (dentro dos limites) Tratos da medula espinhal que podem ser avaliados clinicamente: • Corticoespinhais laterais • Espinotalâmicos • Posteriores Os tratos estão distribuídos aos pares e as lesões podem ocorrer uni ou bilateralmente. Lesão completa da medula espinha: quando não há qualquer evidência de função motora ou sensorial abaixo de um determinado nível. Primeiras semanas após a lesão → NÃO pode ser feito o diagnóstico pois existe possibilidade de choque medular. Lesão incompleta da medula espinhal: Permanece certo grau função sensitiva ou motora. • Prognóstico e recuperação melhores Preservação da sensibilidade na região perianal “Sacral sparing” → Única evidência de função residual. Preservação sacral → existência de alguma percepção sensorial na região perianal e/ou contração voluntária do esfíncter anal. Exame do Sistema Sensorial Dermátomo: área de pele inervada pelos axônios sensitivos que estão situados dentro de uma determinada raiz nervosa segmentar. O dermátomo permite determinar: • O nível da lesão traumática • Evolução neurológica → Para melhora ou agravamento. Nível sensorial → dermátomo mais baixo com função sensorial normal. Pode diferir de um lado para o outro do corpo. Dermátomo cervicais superiores (C1 a C4) → Não costuma ser usados para localizar leão medular • Lembrar → C2 a C4 fornecem inervação sensorial à região que recobre os músculos peitorais (“Cervicais Cape”) • A presença de sensibilidade nessa região pode confundir o examinador. Miótomos Cada nervo segmentar (raiz nervosa) inerva mais de um músculo e maioria dos músculos é inervada por mais de uma raiz nervosa (normalmente duas). No exame para simplificar, alguns músculos ou grupos musculares são identificados representado uma única raiz nervosa espinhal. • Músculos chave → devem ser testados quanto a força dos dois lados. Cada músculo é classificado em uma escala de 6 pontos de uma força normal até a paralisia. • A documentação de força ajuda a avaliar melhora e piora nos próximos exames. O esfíncter anal externo deve ser testado quanto à contração voluntária durante o toque retal. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Miótomos Chave Choque Neurogênico x Choque Medular Choque neurogênico: resulta da lesão das vias descentes do sistema simpático da medula espinhal ou torácica alta. Resulta em • Perda do tônus vasomotor • Perda da inervação simpática do coração Raro em lesões medulares abaixo do nível de T6. Perda de tônus vasomotor → Causa vasodilatação dos vasos viscerais das extremidades inferiores, represamento do sangue e consequente hipotensão. Perda de inervação simpática do coração → Pode se tornar bradicardico ou pelo menos não ter taquicardia em reposta a hipovolemia. Infusão de líquidos • Não costuma melhorar • Pode resultar em sobrecarga hídrica e edema pulmonar. A pressão sanguínea pode ser restaurada pelo uso cauteloso de vasopressores, após reposição volêmica moderada. Atropina → Usada para corrigir uma bradicardia, que acarrete repercussões hemodinâmicas significativas Choque medular → flacidez (perda de tônus muscular) e a perda de reflexos notada após a lesão medular. Para a medula lesada, esse “choque” pode fazer com que ela pareça totalmente desprovida de função, ainda que não esteja necessariamente destruída. Duração → Variável Efeitos em outros órgãos e sistemas • Lesão em medula cervical baixa ou torácica alta → Paralisia dos músculos intercostais. • Lesão da medula cervical alta e média → Diafragma paralisado (comprometimento de C3 e C5 → Inervam diafragma e Nervos frênicos) A incapacidade de perceber estímulos dolorosos pode mascarar lesões potencialmente graves em outras partes do corpo. • É o caso dos sinais usuais de abdome agudo. Conduta terapêutica Tratamento básico • Imobilização • Infusão endovenosa de fluidos • Medicações • Transferência → se isso for apropriado Imobilização SEMPRE que se suspeite de lesão de coluna → IMOBILIZAR! • O doente deve ser imobilizado desde acima até abaixo do local suspeito. • Isso deve ser feito até a suspeita tenha sido excluída (exames radiológicos) Para garantir uma imobilização apropriada → Posição neutra (sem rotação ou arqueamento da coluna) Deformações evidentes → NÃO se deve tentar corrigir. Portadores de: • Deformidades de angulação • Cifose da coluna de origem não traumática DEVEM ser imobilizados em prancha longa, em posição confortável e se necessário, usar coxins. NÃO é recomendada a realização de tentativas de alinhamento da coluna com o intuito de mobilizar o doente na prancha longa, se isso provocar dor. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Imobilização do pescoço com um colar semirrígido → NÃO garante a estabilização completa da coluna cervical. • Usar pranchas dotadas de dispositivos para apoiar a cabeça e limitar os movimentos do pescoço. Manter a imobilização contínua usando: • Colar cervical semirrígido • Imobilizadores de cabeça • Uma prancha • Esparadrapos e ataduras Antes e durante o transporte para uma unidade que possua os recursosnecessários para o tratamento EVITAR → Extensão e flexão do pescoço (Mais perigosos para medula espinhal) Intubação precoce: pode e deve ser realizada → sempre que existirem evidências de comprometimento respiratório. • Deve ser feita com o pescoço em posição neutra. Manter a imobilização adequada em inquietos, agitados e violentos. • Esse comportamento pode ser por hipóxia, hipotensão, álcool e drogas ou distúrbio e personalidade. • Deve tentar corrigir a causa • Caso seja necessário → Uso de sedativos e BNM, assegurando controle e proteção de VA e garantindo a ventilação. Assim que chegar na sala de emergência → Retirar o mais cedo possível para evitar a formação de úlcera de pressão. Remoção da prancha → Faz parte da avaliação secundária, quando o doente é rolado em bloco para inspeção e palpação da região dorsal. • NÃO deve demorar para fazer isso • O objetivo é apenas para realizar radiografias adicionais. Movimentação segura 1. Quando rolar ou levantar o paciente deve manter alinhamento neutro. 2. Uma pessoa fica designada de manter a imobilização e alinhamento do pescoço. Indivíduos posicionados no mesmo lado do tronco do doente evitam manualmente a rotação segmentar, a flexão, a extensão, o dobramento lateral ou o encurvamento do tórax ou do abdome durante a transferência do doente. A quarta pessoa fica responsável por movimentar as pernas, remover a prancha e examinar o dorso do doente. Fluidos Endovenosos Administração de fluidos venosos da mesma forma que faz no doente traumatizado. Se não suspeitar ou não detectar hemorragia ativa, a hipotensão persistente após a reposição de 2l ou mais deve ser interpretada como choque neurogênico. • Choque hipovolêmico → Taquicardia • Choque neurogênico → Bradicardia PA não melhora → pode drogas vasopressoras. Recomenda-se: • Hidrocloridato de fenilefrina • Dopamina • Norepinefria A administração excessiva de líquidos em choque neurogênico pode resultar edema pulmonar. Dúvidas quanto às quanto às condições volêmicas → Monitorização invasiva. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Sonda vesical → Deve ser passado para monitorar o débito urinário e evitar distensão da bexiga. Medicamentos Evidências são insuficientes para sustentar o uso rotineiro de esteroides em lesões medulares. Transferência Paciente que apresentam fraturas de coluna ou défice neurológico comprovados devem ser transferidos para serviços que possuam recursos para proporcionar-lhes tratamento definitivo. O procedimento mais segura consiste em transferir o doente após uma consulta telefônica com consulta telefônica com especialista. As condições do doente devem ser estabilizadas e deve- se proceder à aplicação das medidas necessárias para a imobilização, tais como talas, prancha e/ou colar cervical semirrígido. Lembre-se de que as lesões altas de medula cervical acima de C6 podem resultar em perda parcial ou total da função respiratória. Caso tenha dúvida na eficiência da ventilação, o doente deve ser intubado antes de ser transferido.
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