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Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Prof. Felipe Góis – Emergências Cirúrgicas - 02/03/2021 Atendimento ao Politraumatizado Cap. 150 UNIFESP Introdução Trauma: principal causa de morbidade e mortalidade em adultos jovens. Prioridade no atendimento de paciente politraumatizados é o reconhecimento rápido e o tratamento imediato das lesões que ameaçam a vida. A reanimação do paciente tem como objetivo assegurar a perfusão dos tecidos até o tratamento definitivo Controle das vias aéreas e imobilização da coluna cervical Devem ser rapidamente verificadas para garantir sua permeabilidade e boa ventilação. O trauma pode comprometer a função ventilatória pulmonar que compreende: • SNC → TCE • Lesão medular → Instabilidade de coluna cervical e lesão medular • Caixa torácica → Tórax instável • Parênquima pulmonar → Pneumotórax • Lesão diafragmática → Ruptura diafragmática • Comprometimento da oxigenação por alteração parênquima-pulmonar → Contusão pulmonar • Obstrução por corpo estranho, lesão de traqueia → Lesão de traqueia. Principal causa de hipoventilação em pacientes inconscientes → Obstrução de VA por queda de base de língua. (Decorrente do relaxamento da musculatura orofaríngea) Inspeção de VA → Avaliar a presença de trauma de face, cabeça pescoço ou tórax, que são os fatores complicadores de manipulação dessas vias. Presença de sangue, secreções, restos alimentares ou objetos na cavidade oral é indicativa de potenciais lesões secundárias (ex. hipóxia) • Devem ser corrigidas imediatamente, como por exemplo, aspiração com cânula rígida de aspiração. Proporcionar: • Adequada oxigenação • Ventilação • Proteção da coluna cervical São pontos fundamentais no controle e manuseio das VA. Acesso às VA e avaliação adequada da ventilação são fundamentais e não devem passar dos 10 a 15 segundos do atendimento inicial. Paciente fala → VA patente e desobstruída. • NÃO demonstra que a ventilação é adequada, normal ou ideal. TODOS os pacientes devem receber oxigênio suplementar por meio de máscara com reservatório em alta concentração (100%Fio2). Apneia → Usar o dispositivo bolsa-valva-máscara para efetuar as ventilações até obter uma VA definitiva. Manobras de elevação do mento e da mandíbula → auxiliam na permeabilidade das vias, mantendo proteção cervical. A unidade de aspiração deve estar pronta como prioridade. Tipos de cateteres para aspiração: • Duros e rígidos: tubo grande com múltiplos furos na região distal e final, possibilita aspirar grandes volumes rapidamente. o Usado apenas da orofaringe • Maleáveis: longos, flexíveis, de diâmetro menor. Não removem grandes volumes rapidamente. o Podem ser usados na nasofaringe, orofaringe e dentro do tubo endotraqueal. A cânula orofaríngea está indicada como dispositivo de permeabilidade em pacientes inconscientes ou sem reflexo de tosse/vômito. • O método de inserção baseia-se na mensuração da distância entre a fissura labial e o lóbulo da orelha. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Nos indivíduos semiconscientes deve ser utilizada a cânula nasofaríngea • Exceto em casos de suspeita de lesão de base de crânio). Possíveis complicações da orofaríngea: • Lesões traumáticas de epiglote/laringe → posicionamento inadequado ocasionando obstrução. O colar cervical não imobiliza a coluna completamente, apenas sustenta o pescoço, impedindo flexão/extensão, então a mobilização lateral deve ser realizada simultaneamente. O tubo endotraqueal com cuff insuflado protege a via de prováveis aspirações e garante oxigenação/ventilação adequada, sendo caracterizado como uma via definitiva. • Sua inserção seve ser realizada por dois profissionais, preferencialmente: um estabiliza manualmente a cervical e o outro insere o tubo. Intubação nasotraqueal é contraindicada em casos de suspeita de lesão de base de crânio ou obstrução parcial das vias. A via aérea definitiva deve ser precedida de pré- oxigenação. Em situações de lesões de face ou trauma completo de cabeça/pescoço, a cricotireoidostomia deve ser priorizada. Avaliação de Circulação e Controle de Hemorragias A hemorragia é a principal causa de morte em vítimas de trauma. Hipotensão relacionada à hemorragia é fator prognóstico de mortalidade em 30 dias, e seu manuseio correto pode alterar a evolução. A avaliação inicial da circulação envolve alguns aspectos importantes: • Estratificação da perfusão tecidual e volume circulatório, • Controle de hemorragia, • Restauração de volume intravascular • Reavaliação sistemática. Define-se hipotensão como PAS<90mmHg associada a sinais de hipoperfusão periférica. Diagnóstico diferencial de um paciente em choque: • Choque obstrutivo: tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, TEP), • Choque cardiogênico: contusão cardíaca, síndrome coronariana aguda. • Choque distributivo: sepse, insuficiência adrenal. • Choque hipovolêmico: hemorragia • Choque neurogênico: lesão medular. O manuseio inicial de um quadro hemorrágico é a reposição volêmica inicial com soluções isotônicas, preferencialmente ringer lactato aquecido. Utilizam- se 2 acessos venosos periféricos de 14 ou 16 gauge e observa-se a resposta após 2000mL de solução. O paciente pode apresentar resposta completa à prova de volume, resposta transitória (melhora hemodinâmica inicial com piora em segundo momento) ou ausência de resposta. Obs: Reposição volêmica em casos que o paciente não responde a volume é questionada, podendo piorar o quadro devido à hemodiluição, de fatores de coagulação, aumentar a PA e impedir a formação de coágulos, translocado os já existentes. Avaliação Neurológica Inicial O exame deve contemplar o: A → Alerta V → Verbal D → Dor N → Não responsivo A checagem de irresponsividade é a tarefa primária do SBV. Um rebaixamento de consciência deve ser inicialmente atribuído: • Hipóxia, • Hipovolemia • ou hipoglicemia. Entretanto, efeito de drogas, álcool, hipotermia e distúrbios metabólicos também devem ser considerados. • Qualquer alteração no exame neurológico requer TC. • O exame neurológico primário deve durar 1- 2 minutos. A escala de coma de Glasgow é um método simples e rápido para determinar o nível de consciência do paciente. Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Histórico do Paciente • Um breve histórico do paciente deve ser obtido o mais rápido possível. Também são informativos: • Cicatrizes de cirurgias antigas, • Adornos que forneçam indicações de alergias, • Documentos em bolsos • Carteiras, medicações encontradas com o paciente. Exposição e Controle de Temperatura Todo o corpo da vítima deve ser examinado em busca de outras lesões graves e com potencial risco de vida. Após a remoção das vestimentas, o paciente deve ser protegido contra perda de calor com cobertores térmicos (a hipotermia é um fator que aumenta a morbidade e está associada a coagulopatias) e fluidos de reanimação aquecidos. Avaliação Secundária Consiste: • na busca ativa de lesões ameaçadoras de vida, • definição de seus cuidados definitivos • e planejamento de sua transferência. Deve ser realizada após o ABCDE, quando os sinais vitais estiverem estabilizados. É feita por: • História completa, • Exame físico completo, • Exames laboratoriais e • Testes adicionais → se necessário, TC, LPD, Fast) A história deve contemplar o A → Alergias M → MedicaçõesP → Patologias prévias L → Líquidos ingeridos na última hora E → Eventos relacionados ao trauma – biomecânica do trauma). É importante conhecer a biomecânica do trauma. Avaliando o tipo de evento (colisão veicular, queda, lesão penetrante), estimativa da energia transferida à vítima, impacto e/ou colisão do paciente com o objeto. O exame neurológico inicia-se pela escala de Glasgow de forma seriada e comparativa com o exame inicial, ressaltando o nível neurológico e tendência evolutiva do paciente. Deve-se assegurar via aérea definitiva em Glasgow<9. Exame Físico Cabeça: • Deve ser palpada em toda a sua extensão para se detectares possíveis lacerações/contusões/fraturas. • A observação de equimoses ao redor da órbita (sinal do guaxinim) e/ou retroauricular podem significar fraturas de osso de base do crânio (não utilizar cateter nasogástrico!). deve-se observar pupilas e acuidade visual, pesquisar hemorragias conjuntivais e avaliar movimentos. • Deve-se observar otorragia e/ou saída de LCR pelo canal auditivo e nariz. Coluna cervical e pescoço: Solicitar radiografias de coluna cervical latera (C7- T1) e a transoral para visualização do processo odontoide. Traumas em cabeça/maxilofaciais devem ser considerados como portadores de lesão cervical instável e o colar cervical deve ser mantido: • Avaliação de radiografia cervical: feita pelo ABCS (alinhamento e radiografia adeuqada, avaliação dos ossos – Bone –, avaliação das cartilagens, avaliação dos soft tissues. • Sinais a serem explorados durante a avaliação do pescoço: dor local, enfisema subcutâneo, desvio de traqueia, estase jugular, sopro carotídeo e crepitações por fratura de ossos/cartilagens Tórax: Avaliar primeiro o padrão ventilatório. • Ausculta pulmonar anterior e axilar, bem como a qualidade e profundidade dos esforços respiratórios. • A avaliação de enfisema subcutâneo, fraturas, lacerações/perfurações pulmonares podem estar associadas e seu tratamento rápido deve ser realizado. A ausculta cardíaca pode corroborar com achados importantes como • Bulhas abafadas (tamponamento), • Sopros cardíacos novos (laceração de valvas ou dissecção de aorta). Medicina FTC – 2021.1 Catarina Viterbo Deve-se realizar radiografia de tórax AP para avaliar procedimentos • Lesões torácicas com potencial risco de vida: o Pneumotórax simples (drenar), o Hemotórax (drenar), c o Contusão pulmonar (oxigenoterapia, analgesia, VM), o Laceração traqueobrônquica (avaliação de cirurgia), o Traumatismo contuso do coração (avaliação de cirurgia, ECG, eco), o Ruptura traumática da aorta (cirurgia), o Ruptura traumática do diafragma (cirurgia), o Ferimentos transfixantes do mediastino (TC e exploração cirúrgica) Abdome: Procura de sinais/sintomas como: • Ferimentos abertos e/ou trauma fechado, • Presença de dor à palpação, • Sinal do cinto de segurança, possível lesão de vísceras abdominais/órgãos sólidos, • Hematomas, • Crepitações em parede abdominal. Um exame abdominal normalmente não exclui lesão, devem ser feitos exames seriados. Em pacientes com exame duvidoso podemos fazer a USGFAST ou TC abdominal ou LPD. Complementando o exame abdominal, devemos avaliar a instabilidade do quadril, à procura de possíveis fraturas. OBS.: o FAST + denota sangue na cavidade e possível necessidade de laparotomia exploratória. • Indicações FAST: trauma cardíaco penetrante, trauma cardíaco fechado, trauma abdominal fechado, trauma torácico, pneumotórax, hemotórax, hipotensão de causa não definida. Períneo, reto e vagina: inspecionar em busca: • Hematomas, • Lacerações • Sangramentos. O toque retal e vaginal deve ser realizado antes da inserção de sondas e cateteres urinários, para avaliação de fraturas de pelve, deslocamento de próstata e sangramento intestinal, avaliação da tonicidade do esfíncter retal (casos de lesão medular). Mulheres de idade fértil sempre solicitar teste de gravidez. Sistema musculoesquelético: Avaliar extremidades em busca de hematomas, lacerações, contusões, sinais de fraturas e/ou deformidades. A avaliação dos pulsos é imprescindível. Avaliar coluna torácica pela técnica de rolamento em bloco (precisa de 3 socorristas) • Sinais de lesão vascular: dor, palidez, parestesia, paralisia, ausência de pulso e alteração da temperatura A partir do momento em que se identifique necessidade de transferência, nenhum procedimento diagnóstico/exame laboratorial deve ser realizado/aguardado. Indicações para transferência: Transferência para CTI, lesões críticas: • Lesão de artéria carótida/vertebral, • Lesão de aorta torácica/grandes vasos • Lesão cardíaca • Contusão pulmonar bilateral • Lesão vascular abdominal maior • Lesão hepática grau IV/V • Fratura pélvica instável, fratura • Luxação com ausência de pulso distal Lesões ameaçadoras de vida: • (CTI ou CTII) lesões penetrantes em crânio e /ou fraturas abertas de crânio, • ECG<14 ou sinais de lateralização, • Fratura de coluna espinhal e/ou lesão medular, • Fratura de arcos costais ipsilaterais e/ou fraturas costais com contusão pulmonar, • Fratura exposta de ossos longos, • Lesões significados de tórax com comorbidades.
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