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Julia Paris Malaco – UCT13 SP4 – DOR Dor visceral A dor visceral é causada por alterações internas de órgãos ocos e cápsula de vísceras sólidas, tais como o estômago, rim, bexiga, vesícula biliar, cápsula hepática e intestinos, entre outros. Os principais fatores que estimulam as fibras nociceptivas viscerais são: “estiramento” ou “tensão” na parede muscular das vísceras ocas e cápsula das vísceras sólidas, de forma que as anormalidades motoras intestinais que geram pressões intraluminais exageradas são causas mais comuns de dor visceral; processo inflamatório de origem infecciosa ou química (colites, pancreatite entre outras); Isquemia ou Neoplasias. Os órgãos viscerais são inervados por fibras do tipo C → seguem a via espinoretículotalâmica → se caracteriza por uma dor difusa e lenta → dor crônica. A dor visceral é caracterizada por uma percepção subjetiva dolorosa localizada na região abdominal ou torácica, podendo ser referida em estruturas somáticas. O termo dor visceral crônica funcional (DVCF) e desordens gastrintestinais funcionais (DGIF) possuem definições diferentes: DVCF é definida como uma dor originada de órgãos internos (visceral), como estômago, rim, vesícula biliar e outros, com duração superior a 3 meses. O termo funcional descreve um sintoma ou um complexo de sintomas na ausência de qualquer anormalidade estrutural ou tecidual. DGIF é definida como uma desordem do sistema digestório no qual os sintomas não podem ser explicados pela presença de alterações estruturais ou teciduais, baseado nos sintomas clínicos. A dor visceral pode ter origem nas cavidades torácica, abdominal, pélvica ou craniana, com localização difusa e imprecisa, devido a pouca quantidade de vias aferentes viscerais Fisiopatologia Os mecanismos da dor visceral são provavelmente diferentes entre órgãos e sistemas, mas além das características específicas de cada víscera, existem dois princípios comuns que se aplicam a todas as formas de dor visceral. A dor visceral possui características clínicas que a tornam única e diferente da dor somática. A dor visceral não é evocada de todas as vísceras (1) Não está ligada à lesão visceral (11) É referida a outros locais, muitas vezes remotos (111) É difusa e mal localizada (1V) É acompanhada por reflexos motores e autonômicos exagerados. (V) As propriedades 1 e 11 são devidas às propriedades funcionais dos receptores periféricos que inervam os órgãos viscerais e ao fato de que muitas vísceras são inervadas por receptores cuja ativação não evoca a percepção consciente e, portanto, não são receptores sensoriais em sentido estrito. As propriedades 11, 1V, V são explicadas pela organização central dos mecanismos nociceptivos viscerais, particularmente pela falta de uma via sensorial visceral separada na medula espinhal e no cérebro e pela proporção muito baixa de fibras aferentes viscerais em comparação com aquelas de origem somática. Com destaque à dor visceral, pode-se dizer que a via paleoespinotalâmica é dividida (quanto à sua transmissão) em: Via visceral verdadeira: age em feixes nervosos autônomos simpáticos em que as sensações são referidas para as superfícies corporais geralmente longe do órgão afetado. A pessoa normalmente localiza a dor referida no segmento dermatomico de origem do órgão visceral no embrião Via parietal: conduz diretamente para os nervos espinhais locais e a sensação se localiza sobre a lesão Mecanismo de ação: Inicialmente, estímulos nocivos (inflamação, hipóxia, estiramento e isquemia) excitam os visceroceptores (fibras do tipo C de terminações livres e originadas dos nervos esplâncnicos, vagais, torácicos, lombares pélvicos) que inervam as vísceras gerando potenciais de ação. Estes se propagam ao longo da fibras C, as quais adentram os gânglios simpáticos e se dirigem à medula espinhal através do ramo comunicante branco. Logo após, fazem a primeira sinapse com os neurônios de segunda ordem da lâmina V de Julia Paris Malaco – UCT13 Rexed no corno posterior dorsal da medula, e continuam o trajeto ascendente da dor. A dor visceral é uma dor propagada por fibras C que inervam as visceras intra abdominais, que fazem estímulos nociceptores que podem ser quimiorreceptores e mecanorreceptores sensíveis à distensão, quando uma víscera abdominal contrai de maneira rápida gera a dor. Essas fibras nervosas levam estímulos ao SNC, mas antes passam pelas cadeias de tronco simpático, fazem confluência com outras vísceras que vão confluir no mesmo gânglio intra-abdominal, fazendo com que os pacientes não consigam referir exatamente o local onde está doendo, por isso a dor é vaga e mal localizada. Além disso, pode ter sintomas como náusea, vômito e sudorese, pois tem uma descarga autonômica na dor. A dor visceral é causada por alterações internas de órgaos, como estômago, rim, bexiga, vesicula biliar, capsula hepática, intestinos. Os principais fatores que estimulam as fibras nociceptivas viscerais são: Estiramento ou tensão na parede muscular das vísceras ocas e cápsula das vísceras sólidas. Processo inflamatório de origem infecciosa ou quimica Isquemia Neoplasias Viscerosreceptores: Os visceroceptores ou também conhecidos como interoceptores, recebem estímulos dos órgãos internos. Barorreceptores: Os visceroceptores especializados no interior do sistema circulatório, sensíveis às alterações na pressão sanguínea; Quimiorreceptores: que monitoram os gases respiratórios e células nervosas sensitivas que produzem a sensibilidade proveniente das vísceras (dor interna, fome, sede, fadiga, náuseas). Os receptores dos neurônios aferentes viscerais primários são localizados na mucosa, músculo, serosa e de órgãos ocos e respondem a estímulos químicos locais e luminais e a estímulos mecânicos. Há duas classes de nocioceptores viscerais: Receptores de alto limiar a estímulos naturais: respondem a estímulos mecânicos de alcance nocivo. Eles inervam exclusivamente órgãos cuja dor única e com sensação consciente, como: ureter, rins,pul mão, coração, veias, vesícula biliar, esôfago, intestino delgado, cólon, bexiga e útero; Receptores de baixo limiar para estímulos naturais: estímulos mecânicos que codificam a intensidade do estímulo na magnitude da sua descarga, desde estímulos inocuos a nocivos. As vísceras apresentam receptores aferentes que se projetam ao sistema nervoso central através do sistema nervoso simpático e parassimpático, alguns desses aferentes possuem apenas função regulatória (autonômica), enquanto outros geram respostas sensitivas de dor. Esses aferentes são formados por fibras nervosas finas que podem ser pouco mielinizadas (Adelta) ou amielinizadas (fibras C). A maior parte das fibras aferentes viscerais antes de se dirigem para a medula trafegam para os gânglios simpáticos pré-vertebrais e paravertebrais. Os gânglios pré-vertebrais são representados pelos gânglios celíaco e mesentéricos superior e inferior. Os gânglios paravertebrais são representados pelos gânglios cervicais superior, médio e inferior, gânglio estrelado, gânglios toracolombares, gânglio sacral e gânglio impar coccígeo (gânglio de walther). Outra pequena parte dos estímulos dolorosos trafega pelo sistema nervoso parassimpático. Enquanto as fibras aferentes somáticas são numerosas e penetram na medula espinal em determinado segmento, as fibras aferentes viscerais são poucas e penetram no corno posterior da medula espinal em vários níveis, o que justifica a pouca localização espacial das dores. Na medula espinal, as fibras se dirigem especialmente a laminasuperficial – lamina 1 de rexed – e as outras mais profundas – V e X. Em seguida os estímulos são transmisitos pelas mesmas vias da dor superficial, cruzam a linha media e ascendem pelo trato espinotalamico lateral ate os núcleos ventrais do tálamo e dai ao cortex cerebral Julia Paris Malaco – UCT13 Tradicionalmente, duas formas de hiperalgesia, primária e secundária, têm sido consideradas. A hiperalgesia primária ocorre no local da lesão e é a consequência do aumento da entrada de nociceptores sensibilizados pelo estímulo de origem. Esses nociceptores sensibilizados enviam descargas aferentes intensificadas para o SNC, evocando assim aumento da dor da área hiperalgésica primária e contribuindo para as alterações no processamento central que são, por sua vez, responsáveis pela hiperalgesia secundária A hiperalgesia secundária é geralmente definida como um aumento da sensibilidade à dor que ocorre em áreas adjacentes ou mesmo remotas ao local da lesão. Sabemos que a hiperalgesia secundária é o resultado de uma alteração no processamento central dos impulsos dos mecanorreceptores de baixo limiar, de forma que esses impulsos são capazes de ativar neurônios nociceptivos, evocando dor. O modelo básico de hiperalgesia visceral inclui a origem periférica da hiperalgesia primária devido à sensibilização do nociceptor e a alteração no processamento central dos impulsos aferentes dos mecanorreceptores de baixo limiar que resulta na referida hiperalgesia secundária. Essa alteração é inicialmente desencadeada e posteriormente mantida pelas descargas aferentes intensificadas da área hiperalgésica primária. No caso da referida hiperalgesia visceral, o foco primário está localizado em um órgão interno, onde os nociceptores são sensibilizados pelo estímulo de origem e enviam descargas intensificadas para o sistema nervoso central (SNC). Lá, esses impulsos desencadeiam e mantêm uma área hiperalgésica secundária que, neste caso, é referida à superfície do corpo. O mecanismo neurobiológico fundamental é, portanto, semelhante na hiperalgesia somática e visceral e em ambos os casos inclui um componente periférico de atividade aumentada de nociceptores e um componente central de alteração no processamento central de entradas de baixo limiar. No entanto, no caso da hiperalgesia visceral, o componente periférico pode gerar um estado hiperalgésico secundário que é remoto do locus de origem e produz uma alteração sensorial mediada por uma alteração no processamento central. A dor é a única sensação que pode ser evocada da maioria dos órgãos internos e até mesmo sensações inócuas de plenitude retal ou da bexiga podem evoluir rapidamente para desconforto e dor se forem mantidas. A inervação aferente das vísceras consiste principalmente de fibras amielínicas sem terminações receptoras especializadas. As propriedades de codificação dos receptores sensoriais viscerais incluem faixas discretas nos domínios inócuos e nocivos, bem como codificadores de intensidade que são ativados por uma faixa completa de intensidades de estímulo. Esses são apenas alguns exemplos das muitas diferenças mecanicistas entre a dor somática e a visceral. Talvez a característica mais marcante da ativação e sensibilização dos nociceptores viscerais seja a relação desses processos com o microambiente do receptor sensorial visceral. As complexas funções motoras e secretoras dos órgãos internos, e especialmente do intestino, desempenham um papel determinante na ativação dos nociceptores viscerais e em sua capacidade de aumentar sua responsividade em estados hiperalgésicos. A dor visceral persistente é mediada por uma maior sensibilidade dos neurônios nociceptivos no SNC. Ao contrário da dor somática, a dor visceral pode ser expressa por aumento da dor e desconforto em áreas do corpo remotas, e geralmente superficiais, da víscera doente, processo conhecido como hiperalgesia referida. Em certas condições patológicas, a hiperalgesia referida pode ser a única expressão de doença visceral subjacente. Essas áreas de referida hiperalgesia são mantidas por um impulso aferente intensificado do foco primário, devido à sensibilização dos nociceptores viscerais periféricos, e são consequência do processamento sensorial alterado pelo SNC. Os padrões de hiperalgesia referida estão intimamente associados ao foco de origem e são, portanto, uma ferramenta clínica valiosa para o diagnóstico de muitas formas de doença visceral. A interpretação mais popular dos mecanismos de hiperalgesia referida é baseada na ideia de sensibilização central, pela qual os neurônios do SNC tornam-se sensibilizados pelo impulso aferente intensificado do foco primário. As consequências dessa hiperexcitabilidade seriam o aumento da sensibilidade à dor da víscera de origem, um aumento geral nas reações motoras e autonômicas e o aparecimento de áreas de hiperalgesia nas áreas somáticas cuja inervação aferente converge na medula espinhal com a da víscera lesada. A sensibilização central é o resultado da plasticidade sináptica e é um traço de memória de estímulos dolorosos anteriores. Dor abdominal funcional As síndromes de dor abdominal, como a doença inflamatória intestinal (DII) e a síndrome do intestino irritável (SII), geram dois tipos diferentes de dor visceral: orgânica e funcional. A dor orgânica da DII é consequência de uma lesão Julia Paris Malaco – UCT13 inflamatória do intestino que ativa diretamente sua inervação sensorial. Esse tipo de dor se deve à sensibilização dos aferentes sensoriais locais e ao processamento desses sinais intensificados por mecanismos do SNC que os amplificam e mantêm uma excitabilidade aumentada dos neurônios centrais. Por outro lado, a dor funcional da SII e outras condições semelhantes aparecem na ausência de patologia demonstrável do intestino ou de seus nervos associados. Esse tipo de dor é comumente interpretado como consequência da hipersensibilidade das vias nociceptivas viscerais, seja dos receptores sensoriais da periferia ou dos neurônios centrais. Todas as formas de dor visceral incluem o desenvolvimento de um estado hiperalgésico que se origina no órgão interno que foi danificado ou inflamado e se refere a uma região remota e superficial do corpo. Em alguns casos, a hiperalgesia visceral aparece na ausência de uma causa periférica identificável, talvez como consequência da sensibilização e hiperexcitabilidade das aferências viscerais evocadas por alterações subclínicas em seu microambiente. A hiperalgesia é a característica mais proeminente do processo de dor visceral e é a expressão da hipersensibilidade da via da dor induzida pela sensibilização dos receptores periféricos que sinalizam eventos sensoriais viscerais ou dos neurônios que transmitem e processam essas informações sensoriais para o SNC. Um processo de plasticidade sináptica, do qual vários componentes moleculares já foram identificados, medeia a amplificação central dos sinais aferentes viscerais que leva à hipersensibilidade dos neurônios centrais. Além da hiperalgesia desencadeada em consequência da lesão ou inflamação de um órgão interno, existem também estados de dor funcional, caracterizados por dor referida na cavidade abdominal ou pélvica, mas na ausência de causa periférica demonstrável. Transmissão da dor visceral O impulso sensorial dos 2/3 superiores do esôfago é transmitido por fibras A-delta e C no vago e do 1/3 inferior por fibras simpáticas, que vão de T-5 a T-8. O estômago e os intestinos delgado e grosso até o ângulo esplênico são supridos por fibras simpáticas de T-6 a L-2. As fibras que inervam o cólon descendente e reto passam através do nervo pélvico e penetram na medula espinhal, por via ventral e dorsal,associadas às raízes de S2-S4. Os receptores mecânicos ou mecanorreceptores existentes na musculatura lisa de todas as vísceras ocas são do tipo A delta e C, e respondem a estímulos mecânicos leves, tensão aplicada ao peritônio, contração e distensão da musculatura lisa. O trato gastrintestinal possui receptores químicos e mecânicos de adaptação lenta e rápida que são classificados em dois grupos: o grupo de receptores de alto limiar para estímulos mecânicos leves, e o grupo de baixo limiar para estímulos mecânicos que responde a estímulos agressivos e não agressivos. O primeiro grupo é encontrado no esôfago, sistema biliar, intestino delgado e cólon e o segundo, apenas, no esôfago e cólon. A relação entre a intensidade do estímulo e a atividade nervosa é somente evocada após a estimulação nociva. As estimulações viscerais, tais como hipóxia e inflamação tissular, resultam em sensibilização de receptores de alto limiar e de nociceptores silenciosos previamente não-responsivos os quais perfazem 40% a 45% da inervação visceral aferente do cólon. Estes nociceptores contribuem para a tradução do sinal na dor visceral crônica, alterações prolongadas dos reflexos espinhais e da regulação autonômica anormal dos órgãos internos. A sensibilização desses receptores persiste mesmo após a cessação do estímulo nociceptivo, traduzida por alterações das funções motora e sensitiva (hiperalgesia visceral). Assim, estímulos fisiológicos como comer e beber são traduzidos e amplificados de forma inadequada, provocando uma descarga periférica exagerada, que é interpretada no SNC como dolorosa. Isso sugere que nociceptores silenciosos ativados podem favorecer a iniciação e manutenção da hiperalgesia visceral por mecanismos centrais e periféricos. Além disso, dano e inflamação da víscera afetam a fisiologia habitual de motilidade e secreção, produzindo mudanças dramáticas em torno do ambiente que circunda as terminações nervosas nociceptivas. Dessa forma, pode haver excitação de nociceptores distantes do local inicial da agressão Sensibilização periférica Existe uma grande quantidade de mediadores periféricos (bradicinina, citocinas, prostaglandinas, serotonina, ATP, prótons H+) que agem diretamente nos receptores nociceptivos gastrintestinais e inicia a transmissão dolorosa. Podem ativar imunócitos locais ou outras células, como mastócitos e varicosidades simpáticas, que liberam interleucinas e substâncias adrenérgicas, perpetuando e facilitando, assim, a hiperexcitabilidade neuronal. Na sensibilização periférica ocorre, então, redução da intensidade dos estímulos necessários para iniciar a despolarização neuronal e aumento do número ou da amplitude de descarga neuronal, em Julia Paris Malaco – UCT13 resposta a certos estímulos químicos ou mecânicos 3,4. As neurocininas (fator de crescimento nervoso - FCN) estão presentes no tecido intestinal e mastócitos e são liberadas durante a degranulação mastocitária. Estão envolvidas na plasticidade neuronal e podem alterar a distribuição de nociceptores, e o limiar de sensibilidade para os estímulos mecânicos e químicos. Em decorrência das fibras C intestinais possuírem muitos “receptores silenciosos” para as neurocininas, essas substâncias possuem um papel importante na transmissão das mensagens nociceptivas do intestino. A serotonina, dentre os mediadores, é o único que parece ter alta seletividade para a nocicepção visceral. É liberada no intestino pelas células enterocromafins, plaquetas e degranulação dos mastócitos e, subseqüentemente, age nos aferentes viscerais através de receptores específicos, expressados também no SNC (estruturas límbicas, tronco cefálico e cordão espinhal). O peptídeo relacionado ao gen - calcitonina (CGRP) - está presente na maioria dos aferentes esplâncnicos e, quando liberado perifericamente, pode modificar a descarga sensorial, causando alterações no fluxo sangüíneo, contração da musculatura lisa, reação imune e desgranulação dos mastócitos 1,3,4. A sensibilização periférica pode também ser mediada através de canais de sódio resistente a tetrodoxina (TTX). Esses canais estão presentes nos aferentes nociceptivos no cólon e aumentam em densidade após a aplicação de mediadores inflamatórios in vitro. Sensibilização central A sensibilização central é um processo resultante da atividade sustentada que acontece na fibra aferente primária, após a sensibilização periférica, favorecendo a liberação de neurotransmissores excitatórios. Estes aumentam a eficácia da transmissão sináptica entre os neurônios aferentes primários e os do corno dorsal, envolvendo, portanto, receptores pré e pós-sinápticos específicos. Embora o mecanismo de sensibilização visceral central não seja totalmente conhecido, acredita- se que alguns mediadores como a substância P, CGRP, aspartato, glutamato, neurocininas, somatostatina e VIP estejam envolvidos no desenvolvimento e manutenção da sensibilização central induzida pela inflamação. A ação desses neuromediadores em receptores específicos ionotrópicos (AMPA, cainato) e metabotrópicos (NMDA) ativa segundos mensageiros (cAMP, PKC, fosfatidilinositol, fosfolipase C) para abertura de canais de cálcio e entrada dessas substâncias para o interior das membranas celulares. Ocorre então produção de outros mediadores (óxido nítrico e metabólitos do ácido araquidônico) e formação de oncogenes (cfos, fos B, C jun, jun B e D), que provavelmente alteram a transmissão do potencial de ação e ultra-estrutura dos nervos e suas sinápses, sensibilização medular e fenômeno de wind up (aumento da duração da resposta de certos neurônios). Acredita-se, também, que as conexões entre estruturas espinhais e supraespinhais, as chamadas projeções supraespinhais, estejam envolvidas no processo de sensibilização central para hiperalgesia visceral. Essas projeções estão relacionadas aos reflexos autonômicos e motores que acompanham a dor visceral, como náusea e aumento da tensão muscular da parede abdominal 1, e podem explicar, também, o caráter difuso e mal localizado da dor visceral referida. As vias ascendentes envolvidas na transmissão do estímulo visceral agressivo incluem o trato espinotalâmico, o espinohipotalâmico, o espinosolitário, o espinorreticular e o espinoparabraquial. Manifestações clinicas As causas de dor visceral dependem da natureza do estímulo desencadeante. As características do sintoma são: Início abrupto; Dor difusa e de difícil localização, mais frequentemente percebida ao longo da linha média do tronco; Dor referida em tecidos superficiais; Presença de hiperalgesia; Ativação de respostas motoras, autonômicas e afetivas. Outros autores acrescentaram mais algumas características: Não é evocada por todas as vísceras (órgãos sólidos como fígado, rins, parênquima pulmonar não são sensíveis à dor); Não está sempre associada à a lesão visceral. Um estímulo de baixo limiar pode provocar ativação de aferentes sensitivos da víscera, como a pressão gasosa intraluminal; É referida em outros locais, provavelmente relacionada à convergência das fibras nervosas viscerais e somáticas ao se conectarem no corno dorsal da medula espinhal É difusa e pobremente localizada devido à organização das vias nociceptivas viscerais no SNC, que ascendem conjuntamente com as de origem somática; Julia Paris Malaco – UCT13 É acompanhada de reflexos autonômicos e motores, que servem como sistema mantenedor e facilitador da transmissão dolorosa. As dores viscerais frequentemente são descritas como de intensidade variável, como em onda, com períodos de piora, seguidos de melhora. Devem cor responder aos períodos de contração do músculo liso. Os exemplosclássicos ocorrem nas cólicas intestinais e na dor do parto. Outro fenômeno característico das dores viscerais é a associação mais exuberante com fenômenos neurovegetativos, é frequentemente associada a efeitos no sistema nervoso autônomo, incluindo palidez, suores, náuseas, distúrbios gastrointestinais, alterações na temperatura corporal, pressão arterial e frequência cardíaca A dor é descrita como profunda, dolorida em cólica ou pressão intensa. A dor visceral verdadeira ocorre no local da estimulação primaria podendo ou não se associar com a dor referida Uma doença que acomete uma víscera pode se alastrar (ex. pleura e peritônio) passando a acometer nervos somáticos. Quando isso ocorre a dor que era difusa pode se tornar mais localizada. Como exemplo a apendicite que no inicio tem localização abdominal difusa passando a se localizar na fossa ilíaca direita após comprometimento peritoneal Estímulos capazes de causar dor visceral: estímulos elétricos, distorção mecânica, isquemia e aplicação de substancias irritantes. Processos inflamatórios, infecções, estiramento, distensão súbita, contração rápida e violenta das vísceras, tração (peritoneal, do mesentério ou de vasos sangüíneos nele localizados). Diagnostico A anamnese e o exame físico do paciente são suficientes para determinar o diagnóstico funcional na maioria dos casos. O exame adequado deve incluir exames de laboratório para processos infecciosos e inflamatórios, além de imagens dos locais que não são facilmente acessados pelo exame físico. Os exames laboratoriais, de imagem, endoscópico e eletrofisiológico auxiliam no diagnóstico diferencial da dor abdominal O tratamento da dor visceral não deve ser adiado, a menos que o tratamento possa mascarar o estudo diagnóstico. Não existe, ainda, um protocolo bem estabelecido para a determinação de estratégias diagnósticas e condutas terapêuticas, no paciente com dor visceral. Apesar disso, as seguintes etapas poderiam ser adotadas na condução clínica desses pacientes: 1. Realizar anamnese completa do paciente, enfocando: o Dor (especificar): localização; início; irradiação; intensidade; periodicidade; duração; se desperta o paciente durante o sono; fatores precipitantes, de melhora ou piora (tosse, espirro, ingesta alimentar (tipo), ingesta alcoólica, eliminação de flatus ou fezes, urina, movimentos, esforço físico, trauma abdominal, cicatrizes abdominais); modificação do padrão da dor ou dos sintomas associados (obstipação, diarréia); 2. Medicamentos em uso (inibidores da angiotensina, beta-bloqueadores, antibióticos, agentes quimioterápicos, inibidores de bomba de próton ou AINH podem causar dor abdominal e diarréia); 3. Período do ciclo menstrual; 4. História de doença sexualmente transmissível; 5. Sinais e sintomas associados: o Sistêmicos: perda ponderal significativa (mais de 10 kg em 6 meses), febre, anemia, adinamia, síncope, adenomegalias e massas abdominais; o Digestivos: náuseas, vômitos, diarréia, obstipação, distensão abdominal, eructações, pirose, saciedade precoce, empachamento pós-prandial, anorexia, sinais ou sintomas de colestase (icterícia, colúria, acolia e prurido), massa abdominal, hemorragia digestiva (hematêmese, melena, enterorragia, hematoquesia), hepato-esplenomegalia; o Extra-digestivos: artrite/artralgia, dor pleural símile, urgência miccional, micção noturna, dispareunia, dismenorreia, dor lombar, dorsalgia, fraqueza dos membros, enxaqueca; o Estresse: palpitações, insônia, cansaço fácil, aumento ou redução do apetite; 6. Exame físico completo, incluindo toque retal, vaginal e pesquisa de pontos gatilhos. o Se a primeira etapa evidenciar sinais ou sintomas de doença(s) bem definida(s), prossegue-se a investigação com propedêutica diagnóstica específica para aquela(s) doença(s). 7. Caso não haja evidência compatível com uma doença específica, podemos utilizar para avaliação diagnóstica inicial os seguintes exames de imagem e/ou endoscópicos. Julia Paris Malaco – UCT13 Tratamento O tratamento da dor visceral vai depender da doença e sua evolução, baseado inicialmente no uso de analgésicos e opioides. Em casos crônicos, especialmente de doenças de base sem cura, a medicina oferece procedimentos neuroaumentativos, que visam estimular e conservar a parte afetada (sistemas implantáveis de liberação de drogas analgésicas e neuroestimuladores) e procedimentos ablativos, que destroem e desligam o nervo condutor da dor (neurólises e cordotomias). As orientações dietéticas como o uso de dieta fracionada, evitar a ingestão de alimentos gordurosos, café e álcool, constituem etapa importante no tratamento dos quadros dolorosos abdominais. Indicar fármacos sintomáticos e direcioná-los à remissão de sintomas predominantes ou às anormalidades primárias. Procinéticos, inibidores da secreção ácida, agonistas da 5-hidroxi-triptamina, antiespasmódicos, antidepressivos, ansiolíticos, analgésicos (opioides ou não), erradicação do Helicobacter pylori, acupuntura, dieta balanceada, ingestão adequada de fibras e psicoterapia podem ser indicados nas afecções gastrointestinais. Analgésicos, anticonvulsivantes e antidepressivos são utilizados para reduzir a sensibilização e melhorar o sistema de modulação da dor endógena. Tratamentos não farmacológicos e opções de tratamento complementares podem ser indicados. Dor referida Toda dor referida é visceral, mas nem toda dor visceral é referida. É definida como uma dor sentida em um local que se encontra a distância dos tecidos responsáveis pela dor, porém mantendo relação com o ponto do estímulo primário. Ramos das fibras para a dor visceral faze m sinapse na medula espinhal, nos mesmos neurônios de segunda ordem (1 e 2) que recebem os sinais dolorosos da pele. Quando as fibras viscerais para a dor são estimuladas, os sinais dolorosos das vísceras são conduzidos pelo menos por alguns dos mesmos neurônios que conduzem os sinais dolorosos da pele, e a pessoa tem a sensação de que as sensações se originam na pele propriamente dita. Quando a dor visceral é referida para a superfície do corpo a pessoa em geral a localiza no segmento dermatomico de origem do órgão visceral embrionário. A dor referida de origem visceral geralmente se manifesta em porções definidas da superfície corporal, de maneira isolada ou acompanhada de sensação concomitante de dor concebida como de origem visceral. Pode também se manifestar em outra área profunda do corpo não coincidente com a localização da víscera que a produz. O fenômeno da dor referida ocorre não somente em doenças viscerais. Pode ser observado em afecções da superfície das cavidades, tais como a pleura e o peritônio (dor referida parietal), bem como em lesões ou doenças das estruturas somáticas profundas (músculos, articulações, ligamentos e periósteo). Pode também ocorrer referência de dor de uma área da pele a outra. Geralmente, a área de referência toma-se dolorosa somente quando os estímulos já existem há algum tempo e são suficientemente intensos, ou quando o limiar da dor, de uma víscera ou órgão, estiver diminuído por alguma lesão prévia (inflamação. isquemia etc.). Esta área dolorosa pode inclusive persistir após ter-se esvaecido a dor do local primário. No segmento onde se manifesta a dor referida podem ocorrer alterações das atividades efetoras Julia Paris Malaco – UCT13 ou motoras como contração da musculatura esquelética. Advém então, uma rigidez reflexa, constituindo assim a defesa muscular. O estímulo de vasos sanguíneos e glândulas produz alteraçõesvasomotoras que se manifestam através de uma diferença de temperatura e umidade da pele. Podem, ainda, ocorrer hiperestesia e hiperalgesia secundárias a um aumento da sensibilidade e a uma diminuição do limiar para estímulos táteis e dolorosos. Tanto a dor quanto as demais alterações cutâneas são referidas não à pele que está sobre a víscera estimulada, mas à que recobre as regiões inervadas pelo mesmo segmento espinhal daquele órgão. Estas áreas cutâneas, ou zonas de Head, para as várias vísceras, coincidem grosseiramente com a distribuição segmentar das fibras sensitivas somáticas que têm origem nos mesmos segmentos medulares das fibras (geralmente simpáticas) das vísceras em questão. Nem sempre esta distribuição está restrita aos dermátomos esperados, podendo espalhar-se para áreas mais extensas.7 Também pode não ocorrer o comprometimento de todo um dermátomo ou segmento medular.1 A explicação do mecanismo da dor referida é de que os impulsos provenientes dos órgãos viscerais e das estruturas somáticas, superficiais ou profundas, compartilham vias comuns do interior do sistema nervoso central. Deste modo, os ramos das fibras aferentes da dor visceral fazem sinapse na medula espinhal com alguns dos neurônios de 2ª ordem que recebem fibras de dor provenientes da pele A dor tem localização geralmente difusa nas proximidades do órgão afetado ou mesmo a distância. Sendo assim, uma dor de origem cardíaca pode se manifestar na região do ombro superior esquerdo Uma dor pancreática pode se manifestar com queixas álgicas no ombro esquerdo Dor na vesícula biliar pode ser na região do ombro direito ou interescapular a direita. Isso ocorre porque os estímulos viscerais penetram em várias partes da medula onde se juntam com fibras oriundas das estruturas somáticas. A dor visceral de origem no estômago localiza- se habitualmente na região médio- epigástrica. O acometimento da camada parietal do peritônio por doenças gástricas pode determinar dor apenas no quadrante superior esquerdo do abdômen. Doenças que acometem o bulbo duodenal causam dor visceral na região epigástrica e eventualmente, no QSD do abdômen. Doenças da porção distal do duodeno causam dor na região periumbilical. A dor no hipocôndrio direito ocorre por afecções do fígado, vesícula biliar, flexura hepática do cólon, distúrbios no hemitórax direito, hemidiafrágma direito, doenças musculoesqueléticas ou do sistema nervoso. A dor hepática localiza-se no hipocôndrio direito, epigástrio, ou na região torácica distal, intensifica-se às expirações e pode ser referida no ombro e escápula direita. A dor no hipocôndrio esquerdo ocorre por afecções do baço, flexura esplênica do cólon, lesão do hemitórax esquerdo, cauda do pâncreas, doenças neurológicas e musculoesqueléticas. A dor visceral pancreática caracteriza-se por desconforto abdominal constante, com irradiação para regiões lombar ou dorsal distal. A dor lombar ocorre por lesão dos rins, ureteres, cabeça e cauda do pâncreas ou cólon. A dor no hipogástrico ocorre devido a lesões da bexiga, genitália interna, doenças intestinais, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas. A dor na região periumbilical ocorre por lesão do intestino delgado, apêndice, ceco, corpo do pâncreas, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas A dor na região ilíaca direita ocorre por lesões do apêndice, intestino delgado, ceco, rim e ureter direito, tuba uterina direita ou ovário direito, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas A dor na região ilíaca esquerda ocorre devido a lesões do cólon sigmoide, trato urinário esquerdo, genitália feminina interna, afecções musculoesqueléticas ou neurológicas A dor abdominal de origem peritoneal na fase aguda pode associar-se a náuseas, vômitos, febre, taquicardia, hipertonia e rigidez abdominal, descompressão brusca dolorosa da parede abdominal e abolição dos ruídos hidroaéreos. O comprometimento do peritônio parietal geralmente causa dor na região correspondente Julia Paris Malaco – UCT13 ao envoltório acometido. A dor musculoesquelética pode ser referida nas mesmas regiões de referência da dor visceral Referida X irradiada Dor irradiada A dor irradiada, também chamada de dor radicular, é produzida pelo estiramento, torção, compressão ou irritação de uma raiz espinhal, central ao forame intervertebral. Apesar de possuir muitas das características da dor referida, ela difere quanto à intensidade, aos fatores agravantes e atenuantes e ao tipo de disseminação.4 Suas características são de uma dor aguda e muito intensa, que quase sempre se inicia em uma região central, próxima à coluna, e se dirige para uma parte da extremidade inferior. Seu melhor exemplo é a compressão da 4ª e da 5ª raízes lombares e 1ª raíz sacral por uma hérnia de disco intervertebral, produzindo a dor ciática. Ela se estende caudalmente através da parte posterior da coxa, ântero-lateral e posterior da perna até o pé.4,11 Parestesia ou perda da sensibilidade da pele e diminuição da sensibilidade de algumas regiões ao longo do nervo geralmente estão associadas. Se coexistir envolvimento das raízes anteriores, podem, ainda, ocorrer perda de reflexos, atrofia, diminuição da força muscular, fasciculações e edema de estase. Ações que causam estiramento do nervo (flexão do tronco sobre as pernas estendidas, elevação das pernas em extensão) ou aumento da pressão intra-espinhal (compressão da veia jugular, tosse, espirro) agravam a dor radicular. É sentida a distância da origem em estruturas inervadas pela mesma raiz nervosa. A dor irradiada é manifestada ao longo de um trajeto nervoso, como a dor sentida numa ciatalgia. Outros exemplos de dor irradiada são, a dor presente na síndrome do túnel do carpo e na nevralgia do trigêmeo, herpes zoster e dor pós acidente vascular cerebral. Dor referida Dor referida é definida como uma dor sentida em um local que se encontra a distancia dos tecidos responsáveis pela dor, porem mantendo a relação com o ponto do estimulo primário. A dor referida de origem visceral geralmente de manifesta em porções definidas da superfície corporal de maneira isolada ou acompanhada de de algum outro sintoma. Pode também se manifestar em outra área profunda do corpo não coincidente com a localização da víscera que a produz. Ocorre somente em doenças viscerais. Geralmente a área referida torna-se dolorosa somente quando os estímulos já existem a algum tempo e são suficientemente intensos ou quando o limiar da dor de uma víscera ou órgão estiver diminuindo por alguma lesão previa. Onde se manifesta a dor referida podem ocorrer alterações das atividades efetoras ou motoras, como contração da musculatura esquelética. Advém então uma rigidez reflexa constituindo assim a defesa muscular. O estimulo de vasos sanguíneos e glândulas produz alterações vasomotoras que se manifestam através de uma diferença de temperatura e umidade da pele. Podem ainda ocorrer hiperestesia e hiperalgesia secundarias a um aumento da sensibilidade e uma diminuição do limiar para estímulos táteis e dolorosos. Tanto a dor quanto as demais alterações cutâneas são referidas não a pele que está sobre a viscera estimulada, mas a que recebe a regiões inervadas pelo mesmo segmento espinal daquele órgão. Em áreas cutâneas ou zonas de Head, para as várias vísceras coincidem grosseiramente com a distribuição segmentar das fibras sensitivas somáticas que tem origem nos mesmos seguimentos medulares das fibras (geralmente simpáticas) das vísceras em questão. Nem sempre essa distribuição está restrita aos dermatomos esperados, podendo espalhar-se para áreasmais extensas. Também pode não ocorrer compormentimento de todo um dermatomo ou segmento medular. A explicação do mecanismo da dor referida é de que os impulsos provenientes dos órgãos viscerais e das estruturas somáticas superficiais ou profundas compartilham vias comuns do interior do sistema nervoso central. Desse modo, os ramos das fibras aferentes da dor visceral fazem sinapse na medula espinal com alguns neurônios de 2º ordem que recebem fibras de dor provenientes da pele Julia Paris Malaco – UCT13 Diferença: Existe, na literatura, muita confusão entre dor referida e irradiada, chegando alguns autores a usá-las, inclusive, como sinônimos. Isto ocorre porque os sinônimos de irradiar são: espalhar, propagar, difundir, transmitir, entre outros. Na maioria das vezes, esta palavra é usada com este sentido. Ao dizermos que a dor da cólica nefrética se inicia na região lombar e se irradia para a virilha e/ou testículos, estamos nos referindo apenas a sua propagação e não a sua classificação. Esta é definida somente como dor referida Dor somática Dor somática ocorre quando os estímulos que vão produzir a sensação de dor provêm da periferia do corpo (pele, músculos, periósteo, articulações) ou de tecidos de suporte do organismo. Dor Somática é sensação dolorosa rude, exacerbada ao movimento (dor "incidental"). É aliviada pelo repouso, é bem localizada e variável, conforme a lesão básica. Ex.: dores ósseas, pós-operatórias, dores musculoesqueléticas, dores artríticas, etc. A dor somática é sentida com alto grau de discriminação, sendo amplamente representada na área somatosensorial (áreas 1 e 2). É transmitida de acordo com a distribuição anatômica das vias nociceptivas e pode ser superficial cutanea e profunda de acordo com a estrutura envolvida na lesão Dor Somática Superficial: Ocorre em estruturas ricamente supridas por nociceptores, como a pele, subcutâneo, aponeurose, pleura parietal, periósteo, ligamentos e tendões. É medida por fibras aferentes A delta e C e é uma dor bem localizada. Dor Somática Profunda: Os nociceptores localizam-se no peritônio parietal e na raiz do mesentério. É mediada também por fibras aferentes A delta e C, originadas entre T6 e L1. É uma dor mais aguda e específica que a dor visceral, sendo localizada próxima ao ponto onde ocorre a estimulação. Pode ser causada por diversos agentes irritantes (conteúdo gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) e substâncias (bradicinina, serotonina, histamina, prostaglandinas e enzimas proteolíticas). Sentida como câimbras musculares, cefaleias, dores de articulações dor em pontada ou aguda dor em queimaço/pele, tecido conjuntivo, ossos, articulações, músculos Fisiopatologia A dor somática ou estrutural é mais facilmente localizada pelo paciente, pode se originar de músculos, articulações, ligamentos osseos, tendões ou fascia. A descrição do paciente pode variar desde uma dor aguda e intensa ate imprecisa e dolorida, o paciente geralmente relaciona a algum atividade física ou a postura. Tecidos estruturais podem estimular fibras nervosas aferentes em decorrência de lesões traumáticas ou também pela pressão. A dor somática profunda localiza-se bastante bem quando tem sua origem em tecidos situados próximo da superfície do corpo, por exemplo nos tendões ou aponeuroses superficiais, no periósteo de ossos imediatamente sob a pele, nas paredes das cavidades abdominal e torácica. Ao contrário, quando se origina em estruturas profundas, é mais difusa e só vai ser referida a um ponto distante Quanto mais ácido for o pH ou quanto maior for a concentração de íons K+ de determinada substância, maior será o seu poder de irritação peritoneal.2,12 A irritação do peritônio parietal, além da dor, acarreta contratura muscular. Esta pode ser localizada ou generalizada (abdômen em tábua), dependendo da extensão da irritação.13 A contratura muscular é explicada pela inervação comum do peritônio parietal e da musculatura abdominal. Qualquer processo irritativo que atinja os troncos nervosos ou estruturas por eles inervadas, dentro ou fora do abdômen, acarreta contratura dos Julia Paris Malaco – UCT13 músculos abdominais.2,13 Por isto, a contratura da musculatura abdominal secundária à irritação do peritônio parietal (contratura muscular verdadeira) deve ser diferenciada da contratura muscular que pode ocorrer na meningite, nos traumatismos do canal medular, nos traumatismos torácicos e nas pleurites. Devemos ainda diferenciá-la da contratura muscular voluntária. Na contratura muscular verdadeira, qualquer tentativa de vencer a rigidez pela palpação não dá resultados. Ao contrário, ocorre um agravamento da dor em consequência da irritação peritoneal subjacente. A dor aumenta também com os movimentos, tosse, deambulação ou qualquer outra situação que aumente a pressão intra-abdominal, por causa da torção, tensão ou tração do peritônio doente. A presença de contratura muscular abdominal verdadeira representa, portanto, a existência de irritação peritoneal subjacente e seu achado equivale, quase sempre, à cirurgia. Manifestações clinicas Dor superficial (dor cutânea): como pequenas feridas ou queimaduras de primeiro grau, ocorre ao nível da pele ou membranas mucosas; Dor profunda: é uma dor causada, por exemplo, por rupturas, fraturas ósseas e ocorre ao nível dos músculos, ossos, articulações, ligamentos, tendões e vasos sanguíneos; Diagnostico Os componentes essenciais do processo de avaliação da dor incluem a determinação de fatores como a localização, descrição, intensidade, duração, fatores de alívio e agravamento, fatores associados (náuseas, vómitos, obstipação, confusão ou depressão) a fim de garantir o tratamento mais correto e adequado a cada doente. Tratamento As técnicas farmacológicas conservadoras envolvem, fundamentalmente, fármacos analgésicos e fármacos adjuvantes. Os analgésicos podem ser opióides e não opióides, sendo que o fármaco de referência nos opióides fortes é a morfina, nos opióides fracos a codeína, e nos analgésicos não opióides os anti- inflamatórios não esteroides (AINE’s), onde também se incluem outros analgésicos antipiréticos como o paracetamol e o metamizol. A dor neuropática pode não responder tão bem aos opióides ou aos anti-inflamatórios não- esteróides (AINE) quanto a dor nociceptiva, que em geral pode ser facilmente controlada com esses fármacos, ao menos por períodos curtos. Os anti-inflamatórios não esteróides podem ser utilizados como adjuvantes no tratamento da dor nociceptiva, somática e visceral ou como terapia única, quando se trata de dor ligeira. Costumam ser indicados para o tratamento de dor aguda ou crónica, principalmente quando há inflamação. Este tipo de fármacos têm um mecanismo de ação comum – a inibição da síntese de prostaglandinas pelas isoenzimas cicloxigenase COX. Os opióides fortes são fármacos de última linha no tratamento da dor, pelo que só devem ser utilizados quando outras terapêuticas, farmacológicas e não farmacológicas, já não são suficientes. A ação analgésica destes fármacos deve-se à sua ligação aos receptores opióides. Existem vários tipos de receptores opióides e alguns medicamentos têm mais afinidade para um tipo de receptor do que para outros. Para além da afinidade, os opióides fortes, diferem também na sua potência analgésica e farmacocinética. Os relaxantes musculares podem ser úteis na dor associada a espasmos musculares. São utilizados no tratamento da dor o baclofeno, diazepam, clonazepam, ciclobenzaprina e tizanidina. O baclofeno, agonista do receptor GABA, é utilizadoprincipalmente como um agente antiespasmódico. No entanto, a sedação, hipotonia e confusão em pessoas idosas pode complicar a terapia com este tipo de fármacos Antiespasmódicos Antiespasmódicos são um grupo de substancias que previne ou interrompe a contração dolorosa e involuntária (espamo) do musculo liso intestinal. Os antiespasmódicos, como a butil-escopolamina, podem ser utilizados para dores caracterizadas como cólicas. Nesse tipo de dor, há evidências de melhora com uso concomitante de AINHs. O mecanismo de ação dos antiespasmódicos é competir com a acetilcolina pelos receptores muscarínicos. Esses receptores estão localizados https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/butil_escopolamina.htm Julia Paris Malaco – UCT13 principalmente no músculo liso do trato gastrointestinal e geniturinário, nas glândulas, no coração e no sistema nervoso central. Uma vez que este efeito antagônico é competitivo, pode ser excedido se a concentração de acetilcolina nas proximidades do receptor for alta o suficiente. Estes fármacos antagonizam os receptores M3, reduzindo espasmos intestinais por inibir a atividade parassimpática e, consequentemente, amenizam a dor do tipo cólica (como se sabe, tradicionalmente, a cólica é um tipo de dor causada por contração de uma víscera oca). Desta modalidade de fármacos, a mais utilizada é a Escopolamina, sem sombra de dúvidas. Trata-se de uma opção válida para dores abdominais, dismenorreias, cólicas menstruais, etc. Embora tenha pouco efeito na musculatura lisa das vias urinárias, é largamente prescrita em casos de cólica nefrética. São classificados em vários grupos de acordo com seu mecanismo de ação: Agentes relaxantes diretos do musculo liso (mebeverina, derivados direto da papaverina) Anticolinérgicos (butiliosona, hioscina, hiosciamina, levocina, dicicloverina, butilscopolamina, trimebutina e brometo de cimetropio). Agentes bloqueadores dos canais de cálcio (brometo de prinaverium, brometo de otylonium, fenoverina, rociverina, pirrenzepina). Relaxantes musculares diretos: atuam sobre miofibrilas do musculo liso do sistema digestivo, reduzem o tônus e o peristaltismo e aliviam o espamo intestinal sem afetar substancialmente a motilidade gastrointestinal. Os efeitos colaterais desses medicamentos são raros e incluem dores de cabeça e tonturas. Antipaesmodicos anticolinérgicos: atenuam espasmos ou contrações do intestino, tendo potencial para reduzir a dor abdominal. Os efeitos colaterais mais comuns são dores de cabeça, tonturas, visão turva, disúria, diminuição transpiração, erupção cutânea e xerostomia. Antagonistas do cálcio: relexam o intestino impedindo sua entrada nas células do musculo liso intestinal. Como o cálcio desencadeia a cascata de eventos que ativam a contração muscular, sua inibição das células causa relaxamento intestinal. Pode ainda diminuir o reflexo gastrocolico e modificar tempo de transito colonico. Efeitos colaterais podem ser náuseas, erupção cutânea, diarreia e xerostomia. As antiespasmódicos mais utilizados são atropina, buscopan e mebeverina. Atropina O principal efeito da atropina no homem e nos animais superiores é o aumento da frequência cardíaca, devido ao bloqueio das ações do parassimpático sobre o coração. O grau de taquicardia varia de indivíduo para indivíduo, dependendo do tono parassimpático basal; a atropina produz taquicardia de pequena intensidade tanto em crianças como em idosos, pois nesses casos o tono vagal é baixo . Em adultos jovens, cerca de 2 mg de atropina podem até fazer duplicar a frequência cardíaca, no entando não altera significativamente a pressão arterial. No homem, a atropina tem efeito discreto sobre a vasodilatação decorrente de exercício, pois esta mais relacionada ao metabolitos vasodilatadores produzidos durante o esforço, do que com a estimulação parassimpática da área. Em doses elevadas a atropina causa dilatação dos vasos sanguíneos cutâneos, notadamente na face e no pescoço, resultando no aparecimento de “rubor atropinico” (liberação de histamina) que é sinao típico de intoxicação atropinica. No trato gastrointestinal a atropina causa diminuição prolongada do tono e da motricidade, desde o estomago ate o reto. A atropina produz diminuição do fluxo salivar e da secreção de muo pelas glândulas das vias respiratórias, provocando secura das mucosas (boca, narina, faringe e brônquios). A secreção lacrimal também é inibida pela atropina. A sudorese – estimulada por fibras nervosas simpáticas colinérgicas – fica suprimida e a pele se torna quente e seca, doses elevadas de atropina promovem aumento da temperatura corpórea. A atropina também é usada como antidoto dos inibidores da colinesterase, dos inseticidas organofosforados. Efeitos colaterais: boca seca, constipação, aumento da frequência cardíaca, aumento do desejo de urinar, taquicardia, palpitações, arritmias Buscopan (butilbrometo de escopolamina) Exerce atividade espasmolitica sobre a musculatura lisa do trato gastrointestinal, genitourinario e vias biliares. Não atravessa a baerreira hemato-encefalica e assim não causa efeitos colaterais anticolinérgicos sobre o sistema nervoso central. A ação anticolinérgica periférica resulta de uma ação bloqueadora sobre os gânglios intramurais das vísceras ocas, assim como de uma atividade antimuscarinica. Julia Paris Malaco – UCT13 Efeitos colaterais: disturbios da acomodação visual, taquicardia, tontura, boca seca. Mabeverina É um antipasmodico musculotropico com ação direta sobre a musculatura lisa do trato gastrointestinal sem afetar a motilidade intestinal normal. São propostos vários mecanismos como a redução da permeabilidade dos canais de ion, o bloqueio da recaptaçao de noradrenalina,o efeito anestésico local. Alterações na absorção de agua podem contribuir para seu efeito local no trato gastrointestinal. Através desses mecanismos esse medicamento tem efeito antiespasmódico resultando na normalização da motilidade intestinal sem exercer um relaxamento permanente das células do musculo liso do trato gastrointestinal (chamado de hipotonia). Efeitos colaterais: urticaria, angioedema, edema de face, exantema e hipersensibilidade (reações anafiláticas) Todos os tipos Alcalóides naturais: Atropina (DL-hyoscyamine): vem em comprimidos, em solução injetável, em pomada oftálmica, em solução oftálmica e em extrato e tintura de beladona Escopolamina (L-hioscina): sua apresentação é em comprimidos, solução injetável e oftálmica. Aminas terciárias: Bromidrato de Homatropina (solução oftálmica) Eucatropina (solução oftálmica) Ciclopentolato (solução oftálmica) Tropicamida (solução oftálmica) Diciclomida (comprimidos, cápsulas, xarope, solução injetável)Flavoxato (comprimidos) Methixen (comprimidos)Oxifinclimina (comprimidos) Piperidolato (comprimidos) Tifenamil (comprimidos) Aminas quaternárias: Benzotropina (comprimidos) Brometo de metil Homatropina (comprimidos e elixir) Metescopolamina (comprimidos, xarope e solução injetável) Glicopirrolato (comprimidos e solução injetável) Oxifenônio (comprimidos) Pentapiperium (comprimidos) Pipenzolato (comprimidos) Propantelina (comprimidos, comprimidos de ação prolongada e solução injetável) Pirenzepina (comprimidos) Mepenzolato (comprimidos) Difemanil (comprimidos, comprimidos de ação prolongada) Hexocíclico (comprimidos, comprimidos de ação prolongada) Isopropamida (comprimidos) Tridihexetil (comprimidos, cápsulas de ação prolongada e solução injetável) Tiotrópio (comprimidos) Tolterodina (comprimidos) Ipratrópio (comprimidos) Metilatropina (comprimidos) AntieméticosOs antieméticos correspondem a uma classe farmacológica destinada a promover o alívio dos sintomas relacionados às náuseas (enjoos) e êmese (vômito). De preferência, devem ser administrados cerca de trinta minutos antes da refeição, para se evitar os sintomas associados a ingestão do alimento. Os principais sítios de ação para estes fármacos são os próprios receptores dos neurotransmissores envolvidos com o mecanismo do vômito (M1, H1, 5-HT3 e D2). Muitos antagonistas dos receptores H1, muscarínicos (M1) e 5-HT3 exibem atividade antiemética clinicamente útil. Os agentes eméticos e antieméticos agem nos estímulos, na zona de gatilho, no centro do vômito e no controle das funções viscerais e somáticas envolvidas no vômito. Os efeitos indesejáveis como cefaleia e desconforto gastrointestinal são relativamente incomuns. O processo do vômito é controlado primariamente no tronco cerebral, na formação reticular do mesencéfalo. Nesse local não existe barreira hematoencefálica, o que permite que quimiorreceptores ali presentes, na zona de gatilho dos quimiorreceptores (ZDQ), monitorem o sangue e o líquido cefalorraquidiano constantemente. Assim, se for detectada a presença de alguma substância tóxica, o centro do vômito recebe as informações. Os antieméticos de ação central bloqueiam os impulsos nos centros mais elevados e no centro emético, incluindo anticolinérgicos muscarínicos, os antidopaminérgicos que bloqueiam os receptores dopaminérgicos na zona quimiorreceptora de disparo. Os antieméticos de ação periférica são fármacos que aliviam a dor, protegem o trato gastrointestinal e afetam a Julia Paris Malaco – UCT13 motilidade gástrica, incluindo fármacos anticolinérgicos e pro-cinéticos. Centro do vomito O “centro do vômito” no tronco encefálico é uma região neuronal imprecisamente organizada dentro da formação reticular lateral do bulbo, que coordena o complexo ato do vômito por meio de interações com os nervos cranianos VIII e X e redes neurais no núcleo do trato solitário, que controlam os centros respiratório da salivação e vasomotor. Foram identificadas concentrações elevadas de receptores muscarínicos M1, histamínicos H1, de neurocinina I (NK1) e serotonina 5-HT3 no centro do vômito Existem quatro fontes importantes de influxo aferente para o centro do vômito: A “zona de gatilho quimiorreceptora” ou área postrema localiza-se na extremidade caudal do quarto ventrículo. Encontra-se fora da barreira hematencefálica, porém acessível a estímulos emetogênicos no sangue ou no líquido cerebrospinal. A zona de gatilho quimiorreceptora é rica em receptores D2 dopamínicos e receptores opioides e, possivelmente, receptores 5-HT3 de serotonina e receptores NK1. O sistema vestibular é importante na cinetose por meio do nervo craniano VIII. É rico em receptores M1 muscarínicos e H1 histamínicos. Os nervos aferentes vagais e espinais do trato gastrintestinal são ricos em receptores 5-HT3. A irritação da mucosa gastrintestinal por quimioterapia, radioterapia, distensão ou gastrenterite infecciosa aguda determina a liberação de 5-HT da mucosa e a ativação desses receptores, que estimulam o influxo aferente vagal para o centro do vômito e a zona de gatilho quimiorreceptora. O sistema nervoso central desempenha um papel no vômito, devido a transtornos psiquiátricos, estresse e vômito antecipatório antes da quimioterapia para o câncer Antagonistas dos receptores D2: Os antidopaminérgicos atuam bloqueando os receptores dopaminérgicos na zona quimiorreceptora de disparo. Os receptores dopaminérgicos que ativam o centro do vômito são do subtipo D2. Uma vez ativados, provocam a náusea e êmese. Os fármacos que atuam nesta via são antagonistas desses receptores. Exemplos - Metoclopramida (Plasil); Clorpromazina (Amplictil); Perfenazina; Haloperidol (Haldol; Loperidol); Levomepromazina; Domperidona (Dom); A Metoclopramida apresenta ainda a capacidade de se ligar aos receptores H1 e M1, provocando um bloqueio mais intenso da êmese. Anti-histamínicos: Compostos pela prometazina, difenidramina, clorfeniramina, meclizina e dimenidrinato. Atuam como antagonistas do receptor de histamina H1. Eficazes contra alguns tipos de vômitos. Antagonizam competitivamente os receptores de histamina H1. Assim como os anicolinérgicos, os antagonistas H - 1 têm ação predominante em núcleo do trato solitário; atuam também em receptores muscarínicos. A maioria dos fármacos anti- histaminicos que possuem ação antiemética tem como efeito colateral uma ação anticolinérgica central. A ação anticolinérgica deve contribuir para a inibição de impulsos do labirinto para o cerebelo. São usados principalmente nos casos de cinetose, doenças vestibulares e em vômitos pós-operatórios. Exemplos - Prometazina (Phenergan); Cinarizina (Antigeron; Cinarix); Ciclizina, Meclizina (Meclin); e Dimenidrinato (Dramin). Seu uso apresenta efeitos colaterais como: sonolência (grande ação sedativa), diminuição da coodenação, disartria. Antagonistas muscarínicos/anticolinérgicos: Os fármacos anticolinérgicos muscarínicos, bloqueiam, por antagonismo competitivo, os receptores muscarínicos para a acetilcolina. Atropina e escopolamina têm como local de ação o centro do vômito ou região próxima a ele, onde há muitos receptores muscarínicos; têm também alta afinidade por receptores dopaminérgicos e histaminérgicos; reduzem, ainda, a excitabilidade do labirinto, diminuindo os impulsos para as vias cerebelares e zona do gatilho. Exemplos - Escopolamina/Hioscina (Buscopan). Efeitos colaterais: boca seca, sonolência e visão embaçada são os efeitos indesejáveis mais comuns. https://www.infoescola.com/neurologia/acetilcolina/ Julia Paris Malaco – UCT13 Antagonistas dos receptores serotoninérgicos (5-HT3): Compostos pela ondansetrona, dolasetrona e granisetrona. São os mais indicados na êmese provocada por radioterapia e quimioterapia do câncer. Os receptores serotoninérgicos 5-HT3, quando ativados, provocam a náusea e vômito. O uso abusivo de álcool, consumo de alguns fármacos, liberação de determinadas toxinas e estímulos visuais podem atuar como estimulantes deste receptor, onde os fármacos antagonistas atuam bloqueando-os. Exemplos - Ondansetron (Nausedron); Granistron; Tropisetron e Dolasetron (Anzemet). Os fármacos utilizados na quimioterapia do tratamento do câncer são capazes de ativar os receptores 5-HT3 do centro do vômito, desencadeando o reflexo do vômito. Daí a importância do uso de Ondasetrona neste tipo de tratamento. Anti-inflamatórios Não esteroidais (AINEs): Todos os medicamentos desse tipo apresentam 3 efeitos básicos e fundamentais: a ação antipirética, analgésica e anti-inflamatória. Os quadros inflamatórios surgem quando há um aumento da produção de uma substância chamada prostaglandina. A prostaglandina é gerada através da ação de uma enzima chamada ciclooxigenase – ou também conhecida pela sigla COX. Os medicamentos desse tipo agem inibindo a ação dessa enzima COX – sem o COX, há uma menor produção de prostaglandinas e menos estímulos para ocorrer inflamações. Como é a presença da prostaglandina que estimula o surgimento das inflamações em geral, dor e febre, a sua inibição pelos AINES acaba tendo efeito analgésico, antipirético e anti-inflamatório. Classificaçao química dos AINES Classificados de acordo com sua estrutura química: Salicilatos: ácido acetilsalicílico ou AAS (Aspirina, Somalgin); Clonixinato de lisina; Salsalato; etc. Derivados indol-acéticos: Acemetacina; Glucametacina; Indometacina; Sulindac; etc. Derivados arilo-acéticos: Aceclofenaco; Diclofenaco (Cataflam,Voltaren); Etodolaco (Flancox); etc. Ácidos enólicos: Meloxicam; Piroxicam; Tenoxicam; Fenilbutazona; Metamizol ou Dipirona (Anador, Novalgina); etc. Derivados arilpropiônicos: Ibuprofeno (Alivium); Naproxeno (Flanax); etc. Fenematos: Ácido meclofenâmico; Ácido mefenâmico (Ponstan); etc. Outros: Nimesulida; Coxibes (Colecoxib, Rofecoxib, Valdecoxib); Acetaminofeno ou Paracetamol (Tylenol). Em resumo, o mecanismo de ação dos AINEs é agir na cascata do ácido araquidônico, inibindo a síntese de prostaglandinas através do bloqueio da enzima ciclo-oxigenase (COX). Ação analgésica dos AINES As citocinas do processo inflamatório (principalmente a IL-1 e a IL-8) induzem a produção de COX (principalmente a COX-2) por meio do aumento da transcrição gênica desta enzima. O aumento da COX promove o aumento da síntese de PGE2, que tem a função de sensibilizar os receptores de dor (nociceptores). Quando o nociceptor é ativado e sensibilizado, o limiar de dor diminui, o que pode desencadear esta modalidade sensitiva com maior facilidade. Como os MAINEs inibem a COX, há uma diminuição das concentrações de PGE2, fazendo com que o limiar de dor dos nociceptores seja restabelecido. Exames de imagem Caso não haja evidência compatível com uma doença específica, podemos utilizar para avaliação diagnóstica inicial os seguintes exames de imagem e/ou endoscópicos: Radiografias de tórax e coluna torácica (para dores no abdômen superior), de abdômen em ortostase (se dor em cólica, difusa ,associada a vômitos, e/ou diarréia, e/ou obstipação) e radiografia de coluna lombar (se dor lombar associada); Ultrassonografia abdominal total: para dores em hipocôndrios e epigástrio com ou sem irradiação, para afastar doenças https://www.infoescola.com/medicina/radioterapia/ Julia Paris Malaco – UCT13 biliopancreáticas; para dores em mesogástrio ou difusas mal definidas, sem sintomas digestivos associados, para afastar aneurismas ou tumorações, para dores pélvicas, para afastar afecções ginecológicas ou urológicas (ultrassonografia pélvica). Se interposição gasosa impedir a visualização do pâncreas ou rins e vias urinárias ou qualquer outra víscera, solicitar tomografia computadorizada abdominal (superior, renal, pélvica ou total, respectivamente); Ultrassonografia dos rins e vias urinárias: para dor em flancos ou região lombar; • EDA (endoscopia digestiva alta): para dor ou desconforto em epigástrio (não inclui hipocôndrios); Colonoscopia com múltiplas biópsias (para afastar colite microscópica em pacientes com diarreia), principalmente íleo terminal: para dor em fossas ilíacas ou difusa associada à alteração do trânsito intestinal em pacientes com idade > 45 anos e/ou sinais de alarme e/ou história familiar de câncer colorretal ou polipose familiar e/ ou mudança no padrão da dor ou das alterações do trânsito intestinal e/ou sintomas intensos ou incapacitantes e/ou história de curta duração (< 2 anos). Endoscopia digestiva alta
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