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Hérnias da parede abdominal em crianças 1 Hérnias da parede abdominal em crianças Hérnia umbilical Ausência de fechamento do umbigo após retorno do intestino médio à cavidade celomática por volta da 10ª semana de vida intrauterina Segunda mais frequente malformação em cirurgia pediátrica sendo a mais comum a raça negra (maior incidência de ausência da fáscia umbilical) Tende ao fechamento espontâneo na maioria dos casos dependendo do tamanho do orifício e da idade da criança pequeno diâmetro (até 0,5cm) fecham espontaneamente; diâmetros maiores que 1 a 1,5cm raramente fecham espontaneamente Quanto à idade, o fechamento ocorre habitualmente até os 2 ou 3 anos de idade obs: O fechamento espontâneo pode ocorrer mais tardiamente na raça negra, até os 11 anos de idade Correção cirúrgica Indicações: Hérnias presentes após os 6 anos de idade, independente do tamanho Hérnias maiores que 1cm após 2 a 3 anos de idade Hérnias da parede abdominal em crianças 2 Grandes hérnias umbilicais, maiores que 1,5cm de diâmetro em qualquer idade Procedimento A cirurgia é realizada com anestesia geral em regime ambulatorial. A incisão realizada é infraumbilical na borda da cicatriz umbilical. O saco herniário é separado da pele do umbigo e liberado do tecido frouxo adjacente. Realiza-se uma incisão transversa no limite do saco herniário e da aponeurose sadia. O saco herniário é então transfixado com fio inabsorvível fino. Um único ponto aproxima num segundo plano a aponeurose de um lado e de outro da linha de sutura, invaginando-a. O mesmo fio é utilizado para fixar a pele do umbigo à aponeurose subjacente. Curativo compressivo para evitar o aparecimento de hematomas e coleções serosas Complicações: a mais frequente é o aparecimento de pequeno granuloma de corpo estranho principalmente quando se utilizam fios inabsorvíveis Hérnia Epigástrica Protrusão de gordura pré-peritoneal através de pequeno defeito na linha média da aponeurose anterior A linha média é formada por tecido frouxo de fibras tendinosas entrelaçadas dos dois lados da parede abdominal, qualquer solução de continuidade por rompimento de fibras ou falha de desenvolvimento leva a formação de orificio de herniação. É sintomática com queixa de dor espontânea e à palpação, o orifício geralmente é pequeno e a hérnia raramente é redutível Correção cirúrgica Incisão longitudinal mediana sobre o orifício herniário Retirada do tecido gorduroso herniado Fechamento com fio inabsorvível obs: lembrar de marcar o local da hérnia antes do procedimento Hérnias da parede abdominal em crianças 3 Hérnia Inguinal Patologia cirúrgica eletiva mais frequente na criança Embriologia 3º mês de vida IU surge, na parte inferior do abdome uma evaginação do peritônio chamado conduto peritoniovaginal ou processo vaginal, em direção à região inguinal No feto do sexo masculino: O testículo é um órgão embriologicamente intra-abdominal situado no retroperitônio próximo ao polo inferior do rim 7º mês de vida IU o testículo migra caudalmente e penetra do conduto peritoniovaginal, atravessando o músculo transverso do abdome (orifício inguinal interno), prossegue medialmente entre o músculo transverso e os músculos obliquo interno e externo ao longo de um canal (trajeto inguinal) e o deixa pelo orifício inguinal externo, junto ao pubis. A decida dos testículos é guiada pelo gubernaculum testits e pela ação de hormônios androgênicos O conduto peritoniovaginal é reabsorvido a partir do orificio inguinal interno em direção caudal, sua absorção é completa ao longo da descida testicular, permanecendo apenas as túnicas vaginais que envolvem o testículo O posicionamento final do testículo se dá por volta do nascimento ou nos primeiros meses após o nascimento No feto do sexo feminino Ausência de migração de órgãos intra-abdominais Acredita-se que o ligamento redondo, que é fixado externamente junto aos grandes lábios também seja acompanhado de migração de peritônio, sendo a origem da hérnia e do cisto de Nuck. Etiologia Reabsorção incompleta do processo vaginal Congênita: consiste na passagem de estruturas intra-abdominais para a região inguinal através do conduto peritoniovaginal patente obs: caso o conteúdo herniário seja apenas líquido, forma-se a hidrocele comunicante. Hérnias da parede abdominal em crianças 4 obs: cisto de cordão - variante da hérnia inguinal que corresponde a uma reabsorção incompleta do conduto peritoniovaginal Não está clara a época da reabsorção do conduto. Cerca de 80% dos meninos ainda possuem o conduto aberto ao nascimento e 20% dos adultos ainda o apresentam permeável. obs: correlação do surgimento da hérnia com surgimento de ascite, derivação ventriculoperitoneal e diálise peritoneal. Epidemiologia Propensão familiar 10% dos casos) Predominância do sexo masculino 31 até 101 Lado direito é mais acometido 60% direito, 30% esquerdo e 10% bilateral) Maior incidência no primeiro ano de vida com pico no primeiro mês Maior incidência em prematuros 30% que em RN a termo 14% Associação com fibrose cística, luxação congênita de quadril e malformações genitais obs: a hérnia inguinal direta (medial aos vasos epigástricos) é muito rara em crianças - aparece por fraqueza da parede abdominal na região de inserção do tendão conjunto na arcada inguinal obs: hérnia crural: rara em crianças 0,5% das hérnias) , normalmente não há presença de saco herniário com peritonio, sendo seu conteúdo gordura pré-perioteal que se exterioriza na raiz da coxa acompanhando medialmente os vasos femorais no canal crural. Diagnóstico Clínico: aumento de volume na bolsa escrotal ou abaulamento na região inguinal relacionados com aumento da pressão intra-abdominal (choro, constipação, posição ereta) Para inspeção o melhor é examinar o paciente de pé, em crianças grandes pode se realizar a manobra de valsava O diagnóstico pode ser feito pela palpação do cordão espermático que deve ser realizada com paciente deitado em decúbito dorsal, tracionando delicadamente o testículo caudalmente e palpando o cordão espermático de encontro ao púbis com o dedo indicador ou médio. Hérnias da parede abdominal em crianças 5 Cordão espermático: composto por vasos sanguíneos envoltos por uma ainha de tecido fibroso, músculo cremaster e nervo ilioinguinal. Não se deve realizar, em crianças avaliação digital da pele escrotal em direção ao orifício inguinal Também não estão indicados ultrassom, peritoneografia ou peritoneoscopia Tratamento Cirurgia eletiva O tratamento é sempre cirúrgico, podendo ser realizado em regime ambulatorial com alta apenas algumas horas após. Momento da intervenção: Se sem contraindicações, deve ser realizado logo que diagnosticado Pesar os riscos de estrangulamento contra os cirúrgicos e anestésicos (não há urgência em operar RN com hérnia redutível antes da recuperação fisiológica do peso ao nascimento) Quanto menor a criança, maior a tendência ao estrangulamento e mais precocemente deve ser realizada a cirurgia Exploração contralateral: ⇒ Por quê? Crianças abaixo de 1 ano submetidas a herniorrafia unilateral apresentam evidência de hérnia contralateral em cerca de 40%; após 1 ano 20% e em meninas 50% das vezes. ⇒ Quando fazer? a) meninos abaixo de 1 ano, em todas as meninas e em meninos abaixo de 2 anos com hérnia clínica à esquerda ou em presença de patologias que aumentam risco de hérnia inguinal b) na ausência de sinais sugestivos somente em prematuros, pacientes de alto risco de se submeter a nova intervenção sob anestesia e em casos de encarceramento obs: Apenas 10% dos pacientes que realizaram herniorrafia unilateral precisaram de operação por surgimento contralateral. Complicações da herniorrafia: diminuição do volume testicular, atrofia, criptoquirdia iatrogênica) Hérnias da parede abdominal em crianças 6 Obs: A exploração contralateral mesmo assintomática está indicada emcrianças portadoras de válvulas ventriculoperitoneais! A exploração contralateral pode ser realizada por video durante a hernioplastia com pneumoperitonio de baixa pressão pelo saco herniário onde é inserida a óptica para visualizar se há conduto permeável contralateral. Também é possivel, em casos duvidosos, instrumentar o conduto com uma sonda metálica passada por dentro de um Jelko 14. Em condutos maiores que 1,5cm está indicada a cirurgia contralateral Hidrocele no RN não deve ser operada antes do 4 ou 6 mês de vida pela possibilidade de reabsorção do conduto. Em crianças maiores, hidrovele unilateral não justifica exploração contralateral. Não há necessidade de operar rodo conduto peritoneovaginal permeável!! Em meninas, a incidência de estrangulamento é menor que nos meninos, porém, o encarceramento isolado de ovário é bastante comum e sem urgência, mas devendo ser operado pelo risco de torção. Procedimento Via de acesso: incisão transversa sobre a prega abdominal iniciando-se na espinha do púbis Abre-se o subcutâneo buscando a fascia superficialis (fascia de scarpa) - em crianças pequenas pode confundir com a aponeurose do oblíquo externo Identificar o orifício inguinal externo e abre-se a aponeurose do oblíquo externo em direção paralela a suas fibras (técnica de Banks não abre o músculo o. externo - não há vantagens) Divulsão romba do m. cremaster e da fibrosa comum buscando no interior do funículo o saco herniário O saco herniário deve ser totalmente liberado dos vasos sanguíneos e canal deferente (risco de azoospermia ou atrofia testicular). A dissecção do saco prossegue até o orifício inguinal interno onde o mesmo é tracionado, ligado e fixado. Ressecar o saco distalmente (pode alcançar a bolsa escrotal, nesses casos, deve-se ressecar o excesso da vaginal e invertê-lo para evitar hidrocele. fazer hemostasia rigorosa para evitar hematomas Hérnias da parede abdominal em crianças 7 Reaproximação do m. oblíquo interno e transverso (tendão conjunto) com 1 ou 2 pontos para corrigir o afastamento causado pela cirurgia. Em meninas: manobra de Barker ⇒ fixação do saco herniário ligado medialmente e por baixo do músculo transverso e oblíquo externo Aproximar aponeurose do oblíquo externo, fascia superficialis e pele com suturas contínuas e curativo micropore fino ou dermabond. Nos meninos verificar posição escrotal do testículo para evitar criptoquirdia iatrogênica ou torção do cordão espermático Quando não se realiza peridural, pode aplicar bupivacaína 0,25% no subcutâneo para analgesia pós-operatória. Não precisa de atb profilático. Deambulação precoce. Cirurgia de urgência Em hérnia encarcerada deve-se tentar redução incruenta e correção da hérnia de maneira eletiva Redução incruenta: com criança levemente sedada, com os dedos indicador e polegar, comprimir o anel inguinal interno para baixo e com a outra mão, empurrar o conteúdo encarcerado para cima com pressão constante. Quando não é possível realizar a redução incruenta, a cirurgia deve ser realizada em caráter de urgência. ⇒ maior risco de infecção da ferida e maior incidência de lesão de estruturas vasculares e do deferente No caso de necrose da alça a mesma deve ser ressecada através da mesma incisão. Nesses casos, pode-se lavar exaustivamente a ferida usando antibióticos pois podem ocorrer quadros sépticos com morte em lactentes principalmente Sempre inspecionar o testículo que frequentemente estará escuro podendo atrofiar após a cirurgia Situações especiais Prematuros: herniorrafia tem maior risco de apneia tardia no pós- operatório, devendo o RN permanecer 24h em observação. Pelo risco de complicações, a herniorrafia deve ser realizada nas duas primeiras semanas de vida ou antes da alta do berçario. Na menina, o escorregamento do ovário e da trompa na parede do saco herniário é comum e impede a transfixação do saco em sua base, nesses Hérnias da parede abdominal em crianças 8 casos realiza-se a invaginação do saco e seu conteúdo com uma sutura em bolsa externa ao saco e manobra de Baker A cirurgia para recidiva é mais trabalhosa e deve ser realizada pela técnica convencional A criptorquidia geralmente é acompanhada pela falta de reabsorção do processo vaginal e apresenta uma hérnia clínica, devendo ser realizada o mais cedo possível a correção da hérnia com a pexia testicular. Em casos de criptoquirdia iatrogênica, a correção deve ser feita nos primeiros 2 anos Síndrome de Morris Hérnia inguinal direta e hérnia crural: mais raras, técnica com reforlo da parede posterior levando-se a fascia transversalis ao ligamento de cooper após abrir a parede posterior do trajeto inguinal Complicações São pouco frequentes nas cirurgias eletivas e mais comuns nas realizadas em caráter de urgência Recidiva: Rara. Em 60% dos casos ocorre como hérnia indireta e associada a algum fato específico ou situação mórbida 70% das vezes ocorre em menores de 1 ano Associações frequentes: derivações ventriculoperitoeais, falha no crescimento, prematuridade, doença pulmonar crônica, doenças do tecido conjuntivo, nutrição deficiente, doença convulsiva e criptoquirdia. Pacientes operados em caráter de urgência apresentam maior indice de recidiva Erro técnico: fechamento parcial do saco ou conduto muito fino Pode ser decorrente de supuração local - rara Recidiva como hérnia direta 30% é relacionada a lesão da parede posterior do trajeto inguinal na cx inicial e deve ser tratada pela técnica de McVay Hérnias da parede abdominal em crianças 9 Atrofia testicular: decorrente de isquemia testicular ou lesão iatrogênica do pedículo vascular durante a dissecção do saco herniário Hidrocele residual: geralmente reabsorvida em semanas. Em casos em que a vaginal não foi invertida pode persistir e necessitar de nova intervenção que pode ser realizada por via escrotal caso se tenha certeza de não haver recidiva da hérnia. Hematomas: podem ser evitados por hemostasia rigorosa. è autolomitado sendo reabsorvido em semanas. raro haver infecção associada Granuloma de corpo estranho: 0,6% dos casos e associado a cirurgia de urgência, uso de fio de seda e crianças de baixa idade.
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