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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 3 3. Classificação ................................................................ 6 4. Morfologia ..................................................................... 8 5. Atendimento ..............................................................10 6. Manejo..........................................................................14 7. Terapia ..........................................................................20 8. Morte encefálica .......................................................23 Referências bibliográficas .........................................26 3TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO 1. INTRODUÇÃO O Trauma Cranioencefálico, famoso TCE, é o tipo mais comum de Trau- ma e, na grande maioria dos casos, o paciente acaba morrendo antes mes- mo de chegar ao hospital - aliás, cer- ca de 90% das mortes em ambien- te pré-hospitalar se devem a lesões cerebrais. Por outro lado, entre aqueles pacientes que sobrevivem, uma alta taxa acaba ficando com sequelas, que afetam suas atividades sociais e profissionais. Juntando tudo isso, então, o TCE aca- ba tendo um grande impacto sobre a saúde pública e é justamente por isso que precisamos compreendê-lo. 2. FISIOPATOLOGIA Para entendermos a fisiopatologia envolvida por trás de um TCE, nós precisamos trabalhar 2 pontos: • Pressão Intracraniana (PIC) • Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC) Pressão Intracraniana (PIC) A primeira coisa que precisamos ter em mente é de que o crânio é como uma caixa óssea e, portanto, inca- paz de se expandir. A partir disso, o volume de conteúdo no seu interior acaba determinando o valor da PIC - que, quando normal, fica em torno de 10mmHg. Em cima disso daí, podemos supor que caso o volume de conteúdo au- mente, a PIC também irá aumentar. E esse raciocínio está certo, no entanto, existe um mecanismo compensató- rio que precisa ser “vencido” antes de notarmos qualquer alteração na PIC. Então vamos entender qual é ele. Bem…esse mecanismo é explicado através da Doutrina Monro-Kellie, que distribui o conteúdo intracrania- no em 4 categorias: sangue veno- so, sangue arterial, cérebro e LCR (Líquido Cefalorraquidiano). Então, a partir do momento em que alguma coisa começa a aumentar o volume dentro do crânio, a compensação é feita comprimindo o sangue venoso e o LCR para fora, de modo a manter o volume constante e a PIC normal. 4TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Figura 1. Doutrina Monro-Kellie. Disponível em: ATLS, 9ª edição. Se o volume extra continuar crescen- do, no entanto, haverá um momento em que esse mecanismo já não será mais suficiente e a PIC começará a aumentar vertiginosamente podendo levar, inclusive, a herniação da mas- sa encefálica. A partir daí, o paciente começa a apre- sentar um quadro de hipertensão in- tracraniana (HIC) que pode progredir e se tornar grave, a partir de quando ele costuma se apresentar através da chamada Tríade de Cushing: Figura 2. Representação do “efeito chicote” em contra- golpes. Disponível em: https://bit.ly/2TuCxZr. TRÍADE DE CUSHING Bradicardia Hipertensão Arterial Alteração de Ritmo Respiratório 5TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC) A outra questão com relação à fisio- patologia do TCE é o fluxo sanguíneo cerebral (FSC), que pode sofrer redu- ções por conta do trauma, podendo até mesmo levar o paciente a um es- tado de coma. No final das contas, o importante é termos em mente que baixos níveis de fluxo sanguíneo cerebral podem não ser adequados para suprir as de- mandas metabólicas do cérebro e aí isso vai ter uma série de repercussões sobre o paciente. Mas será que também não há um mecanismo compensatório aqui? Até tem, mas agora a compensação é fei- ta pelos capilares, que são capazes de fazer vasoconstrição e vasodilata- ção de acordo com o valor da PAM. SAIBA MAIS! Uma pausa só para lembrarmos que a pressão de perfusão cerebral (PPC) pode ser encon- trada usando a seguinte fórmula: PPC = PAM - PIC Sendo que a PAM se autorregula entre 50 e 150mmHg para manter o FSC constante. No entanto, pode acontecer de a le- são ser tão grave que acaba impossi- bilitando esse mecanismos compen- satório e aí, nesses casos, a dinâmica será diferente: • PAM elevada = Aumento da PIC • PAM diminuída = Infarto/Isquemia Com base nisso, o nosso grande ob- jetivo no atendimento inicial de um paciente com TCE é aumentar o FSC pela redução da PIC elevada, man- tendo uma PAM normal, uma oxi- genação normal e a normocapnia. Para que? Para dessa forma conse- guirmos evitar a ocorrência de lesões cerebrais secundárias (normalmente decorrentes de hipotensão, hipóxia ou hiper/ hipocapnia). Ainda relacionado a sua fisiopatolo- gia, é importante saber que os trau- matismos cranioencefálicos podem ser provocados por diversos meca- nismos, se destacando os acidentes de variados tipos: de trânsito, de tra- balho, desportivos, domésticos, entre outros. Contudo, a maioria dos casos graves é provocada por acidentes de trân- sito, em que o TCE constitui uma das principais causas de morte. Existem vários mecanismos que po- dem provocar lesões encefálicas. O 6TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO mais comum corresponde a um gol- pe direto sobre o crânio, provocando, independentemente da eventual fra- tura óssea, o choque das estruturas nervosas subjacentes contra o osso no ponto de impacto ou no lado opos- to. Para além disso, um golpe forte so- bre uma outra parte do corpo, uma queda de uma grande altura sobre os pés ou nádegas, a onda expansiva de uma explosão ou uma outra causa indireta também podem provocar a deslocação das estruturas encefálicas no interior do crânio e o consequente choque violento contra as suas pare- des. É por isso que os contragolpes (o denominado “efeito chicote”) nos acidentes de trânsito, quando não se leva o cinto de segurança, são tão pe- rigosos. 3. CLASSIFICAÇÃO Os TCEs costumam ser classificados de acordo com a gravidade da lesão e para isso é adotado como parâme- tro a Escala de Coma de Glasgow (GCS, em inglês). A partir daí, o paciente pode ser en- qua- drado em 3 categorias de gra- vidade: • Leve (13-15) • Moderado (9-12) • Grave (3-8) Figura 3. Escala de Coma Glasgow SE LIGA! Durante o cálculo do Glas- gow do paciente, podem haver respos- tas diferentes em diferentes membros. Nesses casos, nós devemos sempre adotar a melhor das respostas apre- sentadas para concluir sobre o estado do paciente. 7TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO SAIBA MAIS! Na 10ª edição do ATLS algumas mudanças foram propostas na Escala de Coma de Glas- gow, entre elas temos: REATIVIDADE PUPILAR Na antiga versão da escala, os únicos critérios avaliados eram: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Agora, na nova versão, foi incluída a Reatividade Pupilar, ou seja, a reatividade da pupila à luz. Ao contrário dos outros critérios, este é pontuado de forma decrescente: o pior resulta- do apresenta a maior pontuação. Assim, teremos a seguinte atribuição: 2 pontos – Nenhuma reatividade em ambas as pupilas; 1 ponto – Sem reação em apenas uma das pupilas; 0 pontos – Caso as duas pupilas estejam funcionando normalmente. É importante se atentar que, ao aplicar o score de reatividade há uma mudança no score total, que se dá da seguinte forma: Pontuaremos normalmente todos os outros critérios e, após a nota final, o score da reativi- dade pupilar será subtraído! O que faz com que a escala varie de 1 a 15 pontos. Como assim? O cálculo do score será feito da seguinte forma: Escore final = Abertura ocular [1 a 4] + Resposta verbal [1 a 5] + Resposta motora [1 a 6] – Reatividade Pupilar [0 a 2] Caso todos os critérios estejam normais, teremos um escore de 15 (afinal, as pupilas nor- mais significam 0 pontos a menos!). Entretanto, caso o paciente apresente a menor pontu- ação em todos os critérios, teremos o escore final de 1! CRITÉRIONÃO-TESTÁVEL Sabemos que nem todos os pacientes são susceptíveis a serem avaliados da forma como a antiga Escala de Glasgow propõe. Por exemplo: pacientes amputados não necessariamen- te terão uma avaliação fidedigna da resposta motora; pacientes que apresentam surdez podem não ser responsivos a comandos verbais; pacientes com algum quadro de afasia não necessariamente conseguirão emitir respostas verbais adequadas. Considerando essas necessidades tão individuais, além das pontuações nos critérios pre- viamente estabelecidos, podemos agora marcá-los como “NÃO TESTÁVEL” (NT). 8TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Mas ainda mais importante do que determinar a gravidade, é classificar a lesão de acordo com a sua morfolo- gia. E aí teremos 2 grupos: • Fraturas • Lesões intracranianas 4. MORFOLOGIA Fraturas A primeira coisa precisamos ter em mente é que para ocorrer uma fratura de crânio no paciente, a energia en- volvida no trauma foi muito grande! As principais fraturas são as de calo- ta e as de base de crânio. O diagnóstico dessa condição costu- ma ser dado por meio de uma TC de crânio, no entanto, a própria inspeção da cabeça do paciente já pode nos di- zer muita coisa. No caso de uma fra- tura de calota, por exemplo, pode ser possível identificar uma depressão na cabeça. Já a fratura de base costuma ter sinais mais específicos: FFííssttuullaa lliiqquuóórriiccaa ppeelloo nnaarriizz//oouuvviiddoo (rino/otorreia) EEqquuiimmoossee ppeerriioorrbbiittaall (Guaxinim) DDiissffuunnççããoo ddee NN..CC.. VVIIII ee VVIIIIII (paralisia facial e surdez) EEqquuiimmoossee rreettrrooaauurriiccuullaarr (Battle) SSIINNAAIISS DDEE FFRRAATTUURRAA DDEE BBAASSEE DDEE CCRRÂÂNNIIOO Figura 4. Sinais de fratura de base do crânio Obs. fraturas de base de crânio que atravessam canais carotídeos podem lesar vasos importantes e por isso está indicado a realização de uma Angio TC. Lesões intracranianas Já com relação às lesões intracrania- nas, temos que elas podem ser difu- sas ou focais. Lesão Difusa As lesões difusas costumam estar associadas a acidentes de alto im- pacto ou de desaceleração, sendo normalmente causado por hipóxia ou isquemia. Os pacientes, por sua vez, costumam apresentar déficit neurológico não focal e perda de consciência. No en- tanto, o diagnóstico é dado por meio da TC de crânio, na qual é possível identificar sinais sugestivos como in- 9TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO chaço, perda da distinção entre cinza e branco e hemorragias pontilhadas entre as substâncias cinzenta e bran- ca (essa última conhecida como lesão axonal difusa, LAD, que é um indica- tivo de lesão severa e, normalmente, com prognóstico ruim). Lesão Focal Já quando falamos em lesões focais, estamos nos referindo, basicamente, aos vários hematomas que podem ocorrer. Hematoma Epidural O hematoma epidural é um tipo rela- tivamente raro, estando presente em apenas 0,5% dos pacientes com TCE (chegando até 9% nos casos de pa- cientes com TCE associado a coma). E apesar de ele poder ser causado pela ruptura de algum seio venoso, o mais comum é ele advir de um san- gramento arterial devido a lesão da Artéria Meníngea Média. Visto isso, temos que os pacientes com hematoma epidural costumam apresentar um intervalo lúcido entre o momento da lesão e o da descom- pensação neurológica. Enquanto que, por outro lado, - lembrando lá da ana- tomia (na qual a A. Meníngea Média passa por dentro da dura-máter) - a gente consegue entender que esse sangramento vai acabar empurrando a dura para o lado oposto da estru- tura óssea do crânio e é justamente esse mecanismo que faz com que o hematoma epidural se apresente na TC com um aspecto biconvexo, como conseguimos ver imagem a seguir: Figura 5. Hematoma Epidural Hematoma Subdural Já o hematoma subdural, por sua vez, é mais comum: ele está presente em cerca de 30% dos pacientes com TCE grave. E o seu mecanismo também é diferente. Aqui, a principal causa é a ruptura de pequenos vasos superficiais ou vasos ponte do córtex cerebral, de modo que não mais ocorre o desloca- mento da dura e aí o sangue se acu- mula no espaço subaracnoide. Por conta disso, na TC, ele se apresen- ta com aspecto côncavo-convexo (meio que acompanhando o contorno do cérebro). 10TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Figura 6. Hematoma Subdural Figura 7. Hematoma Subdural e Hematoma Epidural. Disponível em: https://bit.ly/3a6GrP2 SE LIGUA! A presença de hematoma subdural costuma ser mais grave devi- do a presença de lesão parenquimatosa concomitante. Contusão e Hematoma Intracerebral As contusões cerebrais também são bem comuns, estando presentes em cerca de 20-30% dos pacientes com TCE grave - normalmente nos lobos frontal e temporal. Mas a grande questão por trás desse tipo de lesão é que cerca de 20% des- ses pacientes, dentro de horas a dias, evolui para um hematoma intracra- niano ou para uma contusão coales- cente com efeito de massa suficiente para exigir uma evacuação cirúrgica. É justamente por conta disso que está indicado para todo paciente com con- tusão, a realização de TCs repetidas ao longo das primeiras 24h após a TC inicial. 5. ATENDIMENTO Avaliação Primária Via Aérea e Ventilação No Trauma, o que mata mais rapida- mente é a apneia e é por isso que a primeira coisa que devemos fazer é analisar o padrão respiratório do paciente e checar a permeabilidade das vias aéreas (VA). Como vamos fazer isso: • Se o paciente estiver desacordado: ◊ Realizar manobra de abertura de VA • Se o paciente estiver consciente: ◊ Pedir para ele abrir a boca É importante salientar que é neces- sário estabilizar a cervical do paciente durante todo o atendimento, pelo ris- co de trauma raquimedular adjacente importante que acompanha um pa- ciente vítima de TCE. 11TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Obs. é pouco provável que um pacien- te consciente e com bom resultado no ABCD. Rápido apresente alguma obs- trução de VA, mas é prudente que todos tenham suas vias verificadas. Feito isso, então, nós poderemos identificar sinais de obstrução na ca- vidade oral do paciente e a resolução desse quadro também requer condu- tas específicas: • Corpo estranho: retirar com dedo em garra • Sangue/Secreções: aspirador de ponta rígida Feito isso, então, a gente precisa pon- derar se o paciente tem condições de manter a perviedade das VA. Caso contrário, deveremos realizar uma via aérea definitiva, que consiste no po- sicionamento de um tubo com balão insuflado na traqueia e que esteja co- nectada com fornecimento de oxigê- nio a 100%, associado a monitora- mento com oxímetro de pulso (ideal é estar > 98%) e capnógrafo (ideal é estar em torno de 35mmHg). Parada respiratória e hipóxia são si- tuações comuns na presença de TCE, de modo que é importante sabermos quais são as indicações para a rea- lização de uma via aérea definitiva, entre elas temos: GCS ≤ 8, risco de obstrução (hematoma cervical, lesão de faringe/traqueia), inadequação res- piratória, comprometimento iminento ou potencial da via aérea (trauma ma- xilofacial, lesões por inalação, hemato- ma retrofaríngeo),apneia, entre outras situações.. Circulação Quando chegamos no C, precisa- mos ter em mente que a hipotensão não costuma ser decorrente do TCE e isso se explica pela própria anato- mia: como o crânio não se expande, ele acaba limitando o volume de san- gue perdido em uma hemorragia e é essa restrição que garante que esses pacientes não vão chocar (ao menos pelo sangramento intracraniano). Apesar disso, a hipotensão é uma ameaça importante pois ela afeta a perfusão e o funcionamento cerebral, de modo que a gente precisa se es- forçar ao máximo para conseguir nor- malizar o valor da PA. Sendo que alterações da pressão ar- terial e da frequência cardíaca podem ser decorrentes de hipertensão in- tracraniana ou de um choque neu- rogênico associado a lesões medu- lares altas graves. Reforçando assim a necessidade de estar atento às causas de possíveis alterações,para possibilitar seu tratamento. PA IDEAL 50-69 anos 15-49 anos ≥ 70 anos ≥ 100 mmHg Tabela 1. PA ideal 12TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Avaliação Neurológica Já no D, quando nos voltamos para a avaliação neurológica do paciente, temos que nos preocupar em obter informa- ções sobre 3 quesitos: Escala de Coma de Glasgow, resposta pupilar ao estímu- lo luminoso e déficit neurológico focal. É importante estar atento a sinais de herniação e/ou Hipertensão Intracra- niana, sendo eles: • Dilatação pupilar unilateral • Plegia, descerebração ou decorti- cação unilateral • Tríade de Cushing • Queda de 3 ou mais pontos na GCS • Parada cardiorrespiratória súbita É muito importante, no entanto, se atentar para os fatores que podem alterar o resultado dessa avaliação como é o caso, por exemplo, de pa- cientes sob efeito de drogas, em coma, ou que acabaram de ter um ataque epiléptico, por exemplo. Em todas essas situações o resultado da avaliação neurológica não será tão confiável. A sedação do paciente também pode interferir na avaliação. É justamente por isso que não se deve adminis- trar sedativos ou relaxantes mus- culares no atendimento primário, a menos que a condição clínica do pa- ciente impeça a realização das etapas subsequentes. Um exemplo de situação em que será necessário sedar o paciente é no caso de indicação de intubação, mas aí a gente se atenta para fazer uma ava- liação neurológica rápida antes de administrar as drogas no paciente. SAIBA MAIS! O nervo óculo motor (III nervo craniano ) passa ao longo da margem da tenda do cerebelo, podendo ser comprimido contra ela durante uma herniação do lobo temporal. Fibras pa- rassimpáticas, que são constritoras das pupilas, repousam sobre a superfície do III nervo craniano. A compressão dessas fibras durante a herniação causa dilatação pupilar devida à atividade simpática sem oposição, frequentemente chamada de pupila dilatada. Exposição Ao final da avaliação primária é im- portante se atentar à procura de san- gramentos, se destacando entre eles as lesões em couro cabeludo. Para controle de hemorragia essas lesões requerem limpeza, compressão direta e sutura. A presença de LCR é um indicativo de lesão nas meninges e requer ava- liação de neurocirurgião, bem como nos casos de fratura aberta ou com depressão do crânio. 13TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Atente-se também a procura de outras le- sões graves e em manter a normotermia. Anestesia, Analgesia e Sedação A adoção de qualquer uma dessas medidas deve ser cuidadosamente pensada quando o paciente estiver com suspeita de TCE, já que, como acabamos de ver, essas drogas po- dem acabar retardando o reconheci- mento de uma lesão cerebral, além de poder causar prejuízos para a respira- ção do paciente. Assim, o indicado é, se necessário, usar drogas de efeito curto e que po- dem ser facilmente revertidos. DROGA ANTAGONISTA Narcóticos Naloxona Benzodiazepínicos Flumazenil Tabela 2. Drogas e antagonistas Avaliação Secundária Uma vez passada toda a avaliação primária, a secundária fica tem por ob- jetivo: reavaliar o paciente em busca de deteriorização neurológica. Para tal, entram aqui a realização da GCS e a busca tanto por sinais de laterali- zação, quanto pela reação das pupilas. Diagnóstico A principal forma de estabelecer o diagnóstico de um TCE é através da realização da Tomografia Compu- tadorizada (TC) de crânio o mais rá- pido possível - desde que o paciente esteja hemodinamicamente estável. Basicamente, a TC sempre é indica- da para TCE grave ou moderado. Nos leves podemos pedir, mas deve-se ponderar, ela deve ser realizada em todos os doentes com suspeita de lesão cerebral que apresentem sus- peita clínica de fratura exposta de crânio, nos que apresentem qualquer sinal de fratura de base de crânio, na- queles que apresentem mais do que dois episódios de vômito, ou nos que apresentem idade superior a 65 anos. A TC também deve ser considera- da se o doente apresentou perda da consciência por mais de cinco minu- tos, amnésia retrógrada por mais de 30 minutos, um mecanismo de trau- ma importante, cefaleia grave, ou dé- ficit neurológico focal que pode ser atribuído ao cérebro. Sendo importante salientar que a reali- zação da TC não deve retardar a trans- ferência do doente, quando indicada. ALTO RISCO PARA NEUROCIRURGIA RISCO MODERADO PARA LESÃO CEREBRAL GCS < 15 por 2h pós- -trauma Inconsciência por mais de 5 min Suspeita de fratura ex- posta c/ afundamento Amnésia retrógada por mais de 30 min > 2 episódios de vômito Mecanismo perigoso de trauma Sinal de fratura de base Idade maior ou igual a 65 anos Uso de anticoagulante 14TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO O que esperamos encontrar de al- teração na TC de um paciente com TCE? Uma série de alterações, entre elas: fratura de crânio, hematoma subgaleal, inchaço de couro cabe- ludo, sangramentos intracranianos, contusões, obstrução de cisternas basais e até desvio de linha média. SE LIGA! Um desvio de linha média maior ou igual a 5mm indica a neces- sidade de realizar cirurgia para evacu- ar coágulo ou a contusão causadora do desvio. Hematoma Subgaleal Fratura de Calota Craniana Fratura de Base de Crânio Desvio de Linha Média 6. MANEJO Manejo de TCE Leve (GCS 13-15) Trauma craniencefálico leve ( TCEL) é definido por uma história de desorien- tação, amnésia, ou perda transitória da consciência em um doente que está consciente e falando. Isso correlaciona com um escore de 13 a 15 na GCS. A história de perda momentânea de consciência frequentemente é de difícil confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela coexistência de abu- so de álcool ou de outros tóxicos. Entretanto, alterações do estado men- tal nunca devem ser atribuídas a fato- res de confusão até que a lesão cerebral tenha sido definitivamente excluída. Figura 8. Alterações tomográficas no TCE 15TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO • TC com alteração • TCE penetrante • Perda prolongada de consciência • Piora do nível de consciência • Cefaleia moderada/grave • Intoxicação significativa por álcool/ drogas • Fratura de crânio • Perda de LCR • Traumatismo significativo associado • GCS < 15 • Déficit neurológico focal • Falta de acompanhante confiável FLUXOGRAMA 1 – MANEJO DE TCE LEVE PACIENTE COM GLASGOW 13-15 Colher história Nível de consciência, mecanismo e hora do trauma, amnésia (retrógrada/anterógrada), cefaleia (intensidade?) Exame Geral (excluir lesões sistêmicas) Exame Neurológico sumário Radiografia cervical (e outras indicadas) Nível de álcool no sangue + Perfil toxicológico da urina TC de crânio (se houver indicação) INTERNAR DAR ALTA • Ausência de qualquer critério para internação • Entregar “protocolo de instruções” 16TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO De todos os tipos de TCE, o leve é o único que nos permite cogitar dar alta ao paciente após o atendimento, mas isso é um risco, pois, como nós já vimos, uma das armadilhas no TCE é que o paciente pode começar a so- frer de uma lesão secundária a qual- quer momento após o atendimento inicial (e é justamente isso que sus- tenta a necessidade de reavaliação constante). Por conta disso, na avaliação secun- dária é necessário identificar o me- canismo de lesão, com particular atenção para a ocorrência de qual- quer perda da consciência, incluin- do o tempo de duração de estado não responsivo, qualquer episódio de convulsão e o nível subsequente do estado de consciência. Sendo neces- sário também determinar a duração da amnésia tanto antes (retrógra- da) quanto depois ( anterógrada) do evento traumático. Diante disso, antes de dar alta a um paciente, a gente precisa se precaver e, para tal, devemos entregar a ele o chamado protocolo de instruções. Basicamente, o que esse protoco- lo faz é explicar ao paciente que ele não tem indicações para ser interna- do, mas que as primeiras 24h após o trauma são cruciais e por isso existe uma série de coisas que ele não pode fazer. Mas além disso, esse protocolotambém cita vários sintomas que, se aparecerem, indicam que pode haver algum acometido do cérebro e, por- tanto, o paciente deverá retornar ao médico o mais rápido possível. Figura 9. Protocolo de instruções Manejo de TCE Moderado (GCS 9-12) Aproximadamente 15% dos doentes portadores de trauma craniencefálico examinados no serviço de emergên- cia apresentam trauma craniencefáli- co moderado. São ainda capazes de obedecer ordens simples, mas em 17TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO geral estão confusos ou sonolentos e podem apresentar déficit neuroló- gico focal, como hemiparesia. Aproximadamente 10 a 20% desses doentes apresentam piora e entram em coma. Por este motivo é crítico utilizar o exame neurológico seriado para tratar estes doentes. Na admissão no serviço de emergên- cia, antes da avaliação neurológica deve-se obter uma história breve e assegurar a estabilidade cardiopul- monar. Deve ser realizada uma TC do crânio e contatar um neurocirurgião. Esses doentes necessitam de hospi- talização para observação numa UTI ou unidade semelhante, capaz de ob- servação rigorosa de cuidados de en- fermagem e frequente reavaliação neurológica nas primeiras 12 a 24 horas. É recomendado seguimento com TC em 12 a 24 horas se a TC inicial for anormal ou se há piora das condi- ções neurológicas do doente. PACIENTE COM GLASGOW 9-12 SE MELHORAR Dar alta e seguir acompanhamento ambulatorial SE PIORAR Senão responde a comandos simples, devemos repetir a TC e tratar como TCE grave FLUXOGRAMA 2 – MANEJO DE TCE MODERADO Exame Inicial História + Exame Físico Admissão/Transferência para hospital com neurocirurgião TC de crânio Reavaliação neurológica frequente Manejo de TCE Grave (GCS 3-8) Aproximadamente 10% dos doen- tes vítimas de lesão cerebral que são tratados na sala de emergência apre- sentam lesão cerebral grave. Doentes que sofreram trauma cranioencefálico grave não são capazes de obedecer a ordens simples mesmo após esta- bilização cardiopulmonar. Embora esta definição inclua um am- plo espectro de lesões cerebrais, ela identifica os doentes que apresentam o maior risco de sofrerem morbida- de e mortalidade significativas. Para tais doentes, a abordagem à maneira “vamos esperar para ver como fica” 18TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO pode ser desastrosa e o diagnóstico e o tratamento imediatos são de suma importância. Não retarde a transferência do do- ente para realizar uma TC. Em doentes portadores de TCE grave, a hipotensão na admissão é acompa- nhada de taxa de mortalidade que é maior que o dobro da mortalidade de doentes sem hipotensão. A presença de hipóxia somada à hipotensão está associada a um aumento relativo no risco de mortalidade de 75%. Portan- to, é imperativo que a estabilização cardiopulmonar seja alcançada rapi- damente. A parada respiratória transitória e a hipóxia são comuns em doentes portadores de lesão cerebral grave e podem causar lesão cerebral secun- dária. A intubação endotraqueal precoce deve ser realizada em doen- tes comatosos. O doente é ventilado com oxigênio a 100% até que seja colhida gasome- tria e sejam feitos os ajustes apropria- dos da Fi02. Oximetria de pulso é um suplemento útil e saturações de 02 > 98% são desejáveis. Os parâmetros ventilatórios devem ser ajustados para manter a PC02 de aproximadamente 35 mmHg. A hiperventilação (PC02 < 32 mmHg) deve ser usada com cautela em do- entes portadores de TCE grave e so- mente quando ocorre piora neuroló- gica aguda. De modo geral, a hipotensão não é consequência da lesão cerebral por si só exceto em estágios termi- nais, quando sobrevém a insuficiên- cia medular ou quando existe lesão de medula espinhal concomitante. A hemorragia intracraniana não pode causar choque hemorrágico. Se o doente está hipotenso, deve-se estabelecer a normovolemia logo que possível utilizando-se produtos de sangue, sangue total ou soluções iso- tônicas conforme a necessidade. Uma TC de urgência deve ser rea- lizada logo que possível após a nor- malização hemodinâmica. Deve ser repetida sempre que houver mudan- ça no estado clínico do doente e roti- neiramente durante as 24 horas após o trauma naqueles com contusão ou hematoma à TC inicial. Suporte Nutricional O suporte nutricional precoce é re- comendado em pacientes com TCE, devendo ser iniciada assim que a es- tabilidade hemodinâmica for obtida. Estudos mostram que o início preco- ce da dieta está associado à melhores resultados de sobrevida e melhores taxas de recuperação pós-lesão neu- ronal. O início precoce de suporte nutricio- nal estáassociado a um aumento na função imunológica dos pacientes, com aumento dos valores de células 19TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO T CD4, relação CD4-CD8 e linfócitos T mais responsivos. O uso de fórmula enteral é preferível, mas em casos de grande volume re- sidual gástrico, com risco de bronco- aspiração ou trauma abdominal asso- ciado, o uso de dieta parenteral pode ser utilizado. Independente do mé- todo de suporte nutricional deve ser feita a monitorização do paciente em busca de efeitos colaterais do suporte dietético como hiperglicemia, cetoaci- dose, intolerância gástrica, diarreia e desidratação, ou qualquer condição que cause alteração do quadro he- modinâmico do paciente. TC DE CRÂNIO PACIENTE COM GLASGOW 9-12 FLUXOGRAMA 2 – MANEJO DE TCE GRAVE Avaliação e Tratamento ABCDE Avaliações primária e secundária História Ampla Intubação Orotraqueal Admissão/Transferência para hospital com neurocirurgião Administração de agentes terapêuticos Reavaliação neurológica Glasgow Reação pupilar a luz Exame neurológico focal TCE LEVE (13-15) TCE MODERADO TCE GRAVE História AMPLA + Exame neurológico pesquisar uso de anticoagulantes!!! É necessária avalia- ção neurocirúrgica É necessária avalia- ção neurocirúrgica Manejo inicial Dar alta mais… Determinar meca- nismo, tempo de lesão, GCS inicial, confusão, intervalo de amnésia, convul- são, gravidade da cefaleia, etc. Interna se… Não houver TC dis- ponível, TC anormal, déficit neurológico localizado, GCS não retornar a 15 dentro de 2h Avaliação primária + Reanimação Transferência (se for preciso) Exame neurológico direcionado Avaliação secun- dária + História AMPLA Avaliação primária + Reanimação Intubação Tratar hipoten- são, hipovolemia e hipóxia Exame neurológico direcionado Avaliação secundá- ria (AMPLA) 20TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO 7. TERAPIA Uma vez chegado até aqui, é a hora de a gente aprender quais interven- ções (clínicas e cirúrgicas) que podem ser feitas em um paciente com TCE na tentativa tanto de prevenir uma lesão secundária, quanto de fornecer ao cérebro tudo que ele precisa para se recuperar. Clínica Fluido Intravenoso A hipovolemia é bastante prejudicial ao funcionamento do cérebro, especial- mente se ele estiver lesado. Por isso, fluidos intravenosos podem ser ad- ministrados para reanimar o doente e manter a normovolemia. Também de- ve-se tomar o cuidado de não sobre- carregar o doente com líquidos. Não se devem usar líquidos hipotônicos. Além disso, o uso de soluções que contêm glicose pode produzir hiper- glicemia, que se mostrou prejudicial ao cérebro lesado. Portanto, para a reani- mação, recomenda-se o uso de solu- ção salina isotônica ou de Ringer lac- tato. Os níveis séricos de sódio devem ser monitorados muito cuidadosamen- te em doentes portadores de TCE. A hiponatremia está associada ao ede- ma cerebral e deve ser prevenida. Correção da Anticoagulação A avaliação de pacientes que estejam em terapia anticoagulante ou antipla- quetária deve ser cuidadosa e logo após a obtenção da INR, nós deve- mos nos dedicar à sua resolução. TCE LEVE (13-15) TCE MODERADO TCE GRAVE Diagnóstico TC de crânio Pesquisa de álcool e drogas no sangue ou na urina Não há disponibili- dade de TC TC anormal Intoxicação impor- tante TC Tipagem sanguínea, provas cruzadas e coagulograma Manejo secundário Exames seriados Exame seriado até GCS voltara 15 e o paciente não tenha mais perda de me- mória Refazer TC se: a) a primeira tiver sido normal; b) o GCS continuar abaixo de 15; ou c) exame neurológico piore Exames seriados Acompanhamento com TC durante 12-18h Exame neurológico seriado Recomendação Dar alta, mas apre- sentar o protocolo de intruções Refazer avaliação neurológica se TC for anormal ou se o paciente piorar Agendar avaliação neuropsíquica Repetir TC se piorar Agendar avaliação neuropsíquica Transferir assim que puder para o tratamento neuroci- rúrgico 21TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Hiperventilação Se o paciente vítima de TCE apresen- tar hipercapnia (PaCO2 > 45mmHg), ele começará a sofrer vasodilatação, o que aumenta o fluxo sanguíneo e, consequentemente, a própria pres- são intracraniana. Pensando em evi- tar justamente essa situação, a gen- te pode hiperventilar o paciente, de modo a reduzir a PaCO2 e provocar vasoconstrição no paciente. Mas mui- to cuidado com isso! Essa mesma va- soconstrição que impede o aumento da PIC pode provocar mais lesão ce- rebral, só que agora por isquemia. Botando tudo isso na balança, a nor- mocapnia (PaCO2 = 35mmHg) aca- ba sendo o preferível para a grande maioria dos pacientes, mas a gente pode fazer intervalos bem pequenos de hiperventilação (PaCO2 entre 25- 30mmHg) no manejo de pacientes com deteriorização neurológica agu- da – estando estes em via aérea de- finitiva –, enquanto outro tratamento está sendo providenciado. Ressaltando que a hiperventilação deve ser usada somente com mode- ração e, tanto quanto possível, por período de tempo limitado. Manitol O manitol é uma droga que atua re- duzindo a PIC, de modo que ele está indicado para os pacientes euvolêmi- cos com deteriorização neurológica aguda - mas presta atenção: isso é válido para pacientes euvolêmicos. O manitol é um diurético, de modo que a sua administração em pacien- tes hipotensos pode acentuar ainda mais a hipotensão e causar isquemia cerebral. Visto isso e tendo optado por admi- nistrar essa droga, nós vamos fazê- -lo em bolus (1g/kg) de forma rápida (5min) e providenciar o transporte do paciente para a TC ou diretamente para a sala de cirurgia - ou até mes- mo para outro hospital caso não se tenha os recursos necessários. Solução Salina Hipertônica As soluções salinas hipertônicas também são capazes de reduzir a PIC quando sua concentração varia entre 3% a 23,4%. Inclusive, nessa opção não há o efeito diurético, de modo que ela passa a ser a preferida em pacientes hipotensos. Seu menismo de ação se baseia no aumenta da osmolaridade com redu- ção da PIC, mantendo o seu volume intravascular. Atua por gerar gradien- te osmótico na barreira hematoence- fálica intacta, reduzindo o volume ce- rebral; A administração deve ser feita em in- fusão contínua, com controle do sódio sérico a cada seis horas, respeitando- -se o aumento máximo de sódio em torno de 15 mEq/l/dia. 22TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Anticonvulsivantes A epilepsia pós-traumática acontece em cerca de 5% dos pacientes com TCE fechado e até 15% dos pacien- tes com TCE grave, e ela precisa ser tratada de forma imediata porque a sua ocorrência por 30-60min já é su- ficiente para causar lesão secundária no cérebro. Assim, a gente pode controlar os ca- sos agudos de convulsão com a ad- ministração de drogas anticonvulsi- vantes, mas aí cabem 2 observações importantes: a) a administração antecipada não muda se o paciente terá ou não con- vulsões; Ou seja, o uso deve ser utili- zado em crise e não profilático. b) as drogas anticonvulsivantes atra- palham a recuperação do cérebro e por isso só devem ser utilizadas quando forem realmente necessárias. Beleza. E qual droga podemos usar? • Fenitoína • Fosfenitoína A dose de ataque inicial deve ser de 1g por via intravenosa, a uma veloci- dade > 50mg/ min. Já a manutenção é feita com 100mg/8h, com titulação da dose para obter níveis séricos te- rapêuticos. Normalmente é administrado diaze- pam ou lorazepam junto com a feni- toína em pacientes com convulsões prolongadas. E isso segue até que elas parem. Barbitúricos Os barbitúricos são drogas que po- dem ser utilizadas para tentar reduzir a PIC em pacientes refratários às ou- tras opções. No entanto, seu uso não é indicado em casos de: • Hipotensão ou hipovolemia • Durante a fase de ressuscitação • Lesões incompatíveis com a vida (seu efeito retardaria o protocolo de morte encefálica). Sendo importante salientar que seu uso deve ser discutido outros profis- sionais da área, como neurologistas, de modo a ponderar os riscos e bene- fícios da sua aplicação. Cirúrgica Lesões de Couro Cabeludo Fraturas com Afundamento de Crânio As fraturas com afundamento de crâ- nio precisam ser avaliadas por meio da TC para podermos ter uma noção melhor da profundidade da depres- são. Caso o afundamento não seja mui- to significativo, podemos optar por tratar apenas com o fechamento do couro cabeludo. Por outro lado, em se 23TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO tratando de uma depressão maior do que a espessura do próprio crânio, aí é imprescindí- vel que seja feita a cor- reção cirúrgica. Lesões Intracranianas de Massa Esse tipo de lesão só pode ser ma- nejado por neurocirurgiões, uma vez que envolve a reali- zação de uma craniotomia, um procedimento mui- to complexo e que se não for feito da forma correta, pode deteriorar rapida- mente o estado do paciente. SE LIGA! Só é aceita a realização de uma craniotomia por um médico não neurocirurgião em casos nos quais real- mente não existe nenhum possibilidade de acessar um profissional capacitado, nem mesmo por meio de transferência. Ferimentos Encefálicos Penetrantes A avaliação desse tipo de ferimento deve ser feito através da TC, no en- tanto, também são opções o uso da radiografia e da ressonância magné- tica (a depender do material do cor- po estranho envolvido!). Uma outra questão importante é a realiza ção de antibioticotera- pia profilática e a não retira- da de corpos que estejam exteriorizados, devido ao risco de sangramento. SAIBA MAIS: CRANIOTOMIA POR PERFURAÇÃO EM BROCA! Esse procedimento consiste na realização de uma abertura de 10-15mm de diâmetro do crânio no intuito de fazer um diagnóstico de emergência de hematomas em locais inóspitos onde não há nem neurocirurgião e nem métodos de imagens disponíveis. 8. MORTE ENCEFÁLICA O conceito de morte encefálica está relacionado a impossibilidade do cé- rebro recuperar suas funções e a gente pode identificar isso por meio de alguns sinais: SINAIS DE MORTE ENCEFÁLICA GCS = 3 Pupilas não reativas Ausência de esforço ventilatório espontâneo Ausência de fatores de confusão (álcool e drogas) Reflexos de tronco cerebral ausentes Tabela 6. Sinais de morte encefálica 24TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO No entanto, além desses sinais, para se abrir o protocolo de morte encefá- lica ainda é imprescindível que haja a comprovação por meio de algum exame de imagem, que pode ser um eletroencefalograma, um estudo de fluxo sanguíneo cerebral (como o Doppler, por exemplo) ou uma arte- riografia cerebral. Ainda com tudo isso, é importante a gente sempre estar atento aos fatores que podem mimetizar um quadro de morte encefálica como, por exemplo: • Uso de barbitúricos ◊ Por isso o protocolo só pode ser aberto depois que já tenha passado o efeito de todos os medicamentos administrados • Crianças ◊ Elas conseguem se recuperar de TCEs muito severos Após checado todos esses parâme- tros, se a morte encefálica for diag- nosticada, é importante contactar as instituições responsáveis por doação de órgãos antes de desligar os equi- pamentos de suporte avançado de vida. 25TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO MAPA MENTAL GERAL Lesões Intracranianas TODOS os TCE moderados e graves TCE Fisiopatologia TC de crânioTrauma TratamentoMorfologia Anticonvulsivantes e Barbitúricos Prevenir lesão secundária Fluidoterapia Ventilação Cirúrgico Fraturas Calota CranianaBase do Crânio Sinal de Battle Hemotimpano Sinal de Guaxinim Lesões Focais: • Contusões e hematomas • Hemorragia Extradural • Hemorragia Intraparenquimatosa • Hemorragia Subdural Lesões difusas: • Concussões • Lesão Axonal Difusa ABCDE D Glasgow Leve: ≥ 13 Moderada: 9-12 Grave: ≤8 Pressão Intracraniana Fluxo Sanguíneo Cerebral Doutrina de Monro-Kellie 26TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 9ª ed. Chicago - IL: 2012. American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10ª ed. Chicago - IL: 2018 27TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO
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