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Transtornos depressivos A depressão pode se apresentar de 3 diferentes dimensões, podendo ser classificada como um sintoma, uma síndrome ou uma doença. SINTOMA: Se configura como um sentimento de tristeza, ou seja, é passageira, sendo um sentimento normal do ser humano ou reação comum diante de problemas na vida. Ela não altera o sono, apetite, não provoca outros sintomas, nem afeta a performance no trabalho nem as relações interpessoais. SÍNDROME: Pode apresentar no seu quadro as seguintes alterações: • Alterações do humor: falta de prazer, vazio emocional e indiferença ao ambiente. • Alterações do pensamento: com curso lento, percebida na fala do paciente, e de conteúdo negativo, com perspectivas negativas sobre a vida. • Alterações da atenção: hipotenacidade e hipovigilância. • Sintomas somáticos: psicomotor (retardo até esturpor, inquietação) ou vegetativo (anorexia, insônia terminal, boca seca, palpitações, tremores e sudorese). DOENÇA: É uma patologia mental diagnosticada por médico, se configurando como uma condição duradoura, que pode alterar o corpo (sono, apetite, dores difusas), afetar a capacidade para o trabalho e, muitas vezes, prejudicar as relações interpessoais. De acordo com o DSM-5, ela pode ser classificada como: • Transtorno depressivo maior; • Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento; • Transtorno depressivo devido a outra condição médica; • Transtorno depressivo persistente (distimia); • Transtorno disfórico pré-menstrual; • Transtorno disruptivo da desregulação do humor. Todos esses transtornos possuem aspectos em comum, como afetar de forma significativa a capacidade de funcionamento do indivíduo, ser acompanhado de alterações somáticas e cognitivas, e humor triste, vazio ou irritável. (E é necessário haver pelo menos um desses aspectos para o quadro ser caracterizado como uma depressão). Na investigação do quadro clínico depressivo, é importante se atentar para a: • Duração: o depressivo maior possui um período mínimo de 2 semanas. • Momento: o disfórico pré-menstrual só acontece no período menstrual. • Etiologia presumida: observar se há relação com drogas, medicações ou alguma deficiência orgânica. Transtorno depressivo maior Possui um período mínimo de 2 semanas, e confere alterações no afeto, cognição e funções neurovegetativas do indivíduo. Para diagnosticar um indivíduo com transtorno depressivo maior, é preciso que ele apresente pelo menos 5 dos seguintes sintomas (sendo um deles, pelo menos, um dos 2 primeiros) na maior parte do dia em quase todos os dias: • Humor deprimido (em crianças e adolescentes pode ser irritável); • Diminuição do prazer ou interesse na maioria das atividades; OBS.: Em idosos, pode se apresentar como uma dor ou mal-estar inespecífico sem relação com doença orgânica (Depressão mascarada no idoso). • Perda ou ganho significativo de peso sem dieta • Insônia ou hipersonia quase todos os dias • Agitação ou retardo psicomotor • Fadiga ou perda de energia • Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva inapropriada • Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão • Pensamento recorrente de morte e ideação suicida, com ou sem plano ou tentativa. Transtorno depressivo persistente (distimia) Se apresenta como um humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos (sendo que em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável, com no mínimo 1 ano de duração). Para diagnosticar, é necessário a presença de duas ou mais das seguintes: • Apetite reduzido ou alimentação em excesso; • Insônia ou hipersonia; • Fadiga ou baixa de energia; • Baixa auto-estima; • Concentração pobre ou dificuldade de tomar decisões; • Sentimentos de desesperança. Transtorno disfórico pré-menstrual Consideramos esse transtorno quando os sintomas ocorrem na maioria dos ciclos menstruais da paciente, sendo que uma semana antes do início da menstruação pelo menos 5 sintomas devem estar presentes (sendo pelo menos um do 1º grupo, e um do 2º): Primeiro grupo: • Labilidade afetiva acentuada; • Irritabilidade ou raiva; • Humor deprimido, sentimento ou desesperança ou pensamento auto-depreciativo; • Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimento de estar muito nervosa. Segundo grupo: • Interesse reduzido pelas atividades habituais; • Sensação de dificuldade de se concentrar; • Letargia, fadiga, ou falta de energia; • Alteração do apetite; • Insônia ou hipersonia; • Sentir-se sobrecarregada ou fora do controle; • Sintomas físicos: inchaço nas mamas, dor articular ou muscular, sensação de inchaço ou ganho de peso não-intencional. Transtorno disruptivo da desregulação do humor Muito comum em crianças de até 12 anos, com irritabilidade persistente e episódios frequentes de descontrole comportamental extremo. Antigamente, acreditava-se que esse transtorno era um transtorno bipolar da infância, mas foi comprovado que essas crianças não necessariamente evoluem com essa doença. Na verdade, elas normalmente desenvolvem transtornos depressivos unipolares ou transtornos de ansiedade, ao invés de transtorno bipolar. O transtorno disruptivo da desregulação do humor é caracterizado por explosões de raiva recorrentes e graves, manifestadas pela linguagem (agressividade verbal) e/ou pelo comportamento (agressão física a pessoas ou propriedade) que são desproporcionais à situação, ocorrendo 3 ou mais vezes por semana. Entre as explosões, o humor é irritável ou zangado, a maior parte do tempo quase todos os dias, em pelo menos dois diferentes ambientes (em casa e na escola, por exemplo). Se atentando sempre que se a criança só ficar irritável em um lugar, é importante investigar o lugar antes de pensar na presença desse transtorno. Depressão na infância e na adolescência Crianças com depressão normalmente possuem dificuldade de verbalização, com vocabulário incompleto, e jogos e desenhos de conteúdo sugestivo. Nesse caso, é importante buscar o vocabulário próprio da criança, além de informações de pais, professores e colegas. Crianças com depressão também podem apresentar choro fácil, irritabilidade, sensibilidade, mudança de comportamento, condutas irritáveis, destrutivas e agressivas, piora do desempenho escolar, cansaço (perdendo o desejo de sair para brincar, descer pro play), e isola-se no recreio. A depressão pré-pubere muitas vezes se apresenta com um quadro de preguiça, perda de vontade de brincar, além de agitação, queixas somáticas e psicose (com presença, principalmente, de alucinações auditivas). Já na depressão na adolescência, não há preguiça, nem falta de vontade de brincar, mas o sentimento de infelicidade. O adolescente pode apresentar mudanças de peso, hipersonia, ideação suicida, e também psicose (mas, na depressão do adolescente, se apresenta mais como delírios, com visão extremamente negativa da realidade). Evolução na criança: Duração de 7 a 9 meses (assim como no adulto), remissão de cerca de 90%, taxa de cronificação de 6 a 10%, e evolução em 5 anos para transtorno bipolar de 20 a 40% nos adolescentes. Sequelas: Desempenho acadêmico insatisfatório, com comprometimento das relações, fumo e abuso de substância, como alcoolismo, distimia e personalidade depressiva. Tratamento: Anti-depressivos: • Podem ser utilizados na depressão, mas também em quadros ansiosos, em TEPT, TOC, somatizações, conversões, transtornos de personalidade, agitação na demência, autismo, retardo mental, em dores crônicas, fibromialgia, cefaleia, cessação do tabagismo, e em alguns quadros orgânicos funcionais como Síndrome do Intestino Irritável e em dispepsia funcional. • A maior parte dos anti-depressivos vai agir na inibição da recaptação de neurotransmissores, sendo os principais os: da Serotonina (ISRS), da Noradrenalina e Serotonina (ISRNS ou “duais”) e os seletivos danoradrenalina e dopamina. Também temos os anti-depressivos tricíclicos (ADR) e os inibidores da Monoaminoxidase (IMAO). Qual o melhor anti-depressivo? • Não existe “o melhor anti-depressivo”! Isso depende do paciente, da idade, da tolerância, dos efeitos colaterais, entre outros... • De uma maneira geral, todos os anti-depressivos são mais potentes que o placebo, mas, entre eles, a eficácia é muito semelhante. • A tendência atual é utilizar o ISRS (inibem a recaptação de Serotonina) em dose terapêutica (dose máxima ou dose máxima tolerada) por tempo suficiente (8 semanas ou 2 a 3 semanas na dose máxima). ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina): • São medicamentos aprovados para quadros depressivos e ansiosos, potentes e fáceis de tolerar, com baixa toxicidade, e que interagem menos com outras medicações, por isso são muito bons em idosos com polifarmácia, por exemplo. • Importante: Começar com dose mínima e aumentar gradualmente, lembrando que ele é um medicamento que demora para fazer efeito! • Principais efeitos colaterais: Enjoo e diarreia (principalmente na introdução), tremor, SEP, inquietação, insônia, perda ou ganho de peso (a depender da medicação: Fluoxetina diminui peso, Paroxetina aumenta), disfunções sexuais (o pior é a Paroxetina) e efeitos anticolinérgicos (o pior também é a Paroxetina). • OBS.: Síndrome Serotoninérgica: efeito colateral bem grave, porém muuuito raro. Normalmente acontece quando seu uso está associado a outras medicações. • Exemplos: o Fluoxetina (Prozac) → bom para perder peso; o Sertralina (Zoloft) e Paroxetina (Aropax) → bom também para ansiedade; o Citalopram (Cipramil), Escitalopram (Lexapro) e Fluvoxamina (Luvox); Duais (inibidores seletivos da recaptação da Noradrenalina e Serotonina): • São medicamentos potentes, com pouca interação medicamentosa, com menos efeitos colaterais do que o ADT e bons para pacientes com dor crônica ou fibromialgia pelo seu efeito noradrenérgico. • Infelizmente, produz muitos efeitos colaterais em sua introdução e retirada. • Bom porque possui dose única diária. ADT (anti-depressivos tricíclicos): • Atentar para a dose terapêutica e para dose de apresentação! Normalmente os ADTs possuem uma dose terapêutica bastante alta... por isso acabam tendo que tomar muitos comprimidos para tingí-la. • Ação: Dão efeitos de sono e aumento de peso, e em dose bem baixa promovem a modulação da dor, visto o seu efeito noradrenérgico. • Efeitos colaterais: Podem gerar efeitos anticolinérgicos e alteração de condução cardíaca, sendo pouco recomendado em idosos. • OBS.: O ADT que possui menos efeito anticolinérgico é a Nortriptilina. Atípicos: • Mirtazapina: aumenta o apetite e sono. • Trazodona: em dose baixa é hipnótico (bom para sono também). • Bupropiona: muito utilizada para o tratamento do tabagismo, sem trazer alterações sexuais para o paciente, porém sem tratar a ansiedade. • Vortioxetina: potente, sem alterações sexuais. • Agomelatina: depressões sazonais.
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