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Brasília-DF. Hematologia ClíniCa – Série VermelHa Elaboração Claudia Feriotti Julio Cesar Pissuti Damalio Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS ....................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 RECONHECIMENTO DAS CÉLULAS DA SÉRIE ERITROCITÁRIA E DA SÉRIE PLAQUETÁRIA .............. 23 UNIDADE II ANEMIAS ............................................................................................................................................. 55 CAPÍTULO 1 CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS .............................................................................................. 55 CAPÍTULO 2 ANEMIAS MICROCÍTICAS ........................................................................................................ 60 CAPÍTULO 3 ANEMIAS MACROCÍTICAS ...................................................................................................... 73 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 80 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 81 ANEXO ............................................................................................................................................ 85 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A ciência da hematologia vem passando por um intenso avanço tecnológico, implicando em uma necessidade constante de atualização, assim, o caderno de estudos e pesquisa “Hematologia Clínica - Serie Vermelha” foi elaborado com o objetivo de proporcionar ao aluno um melhor entendimento na área de hematologia clínica, possibilitando a identificação, a correlação clínica e a interpretação dos resultados das principais patologias hematológicas. O conhecimento e a utilização das ferramentas necessárias para a identificação das desordens hematológicas, através da realização dos cálculos hematimétricos, os valores de referência, leitura de lâminas, os quais permitirão identificar as alterações eritrocitárias e patologias associadas, como as alterações no tamanho (anisocitose), forma (poiquilocitose) e concentração de hemoglobina (anisocromia), irão preparar os futuros profissionais para o mercado de trabalho, além de despertar o poder crítico e criativo dos mesmos. A automação dentro dos laboratórios é outro fator de fundamental importância, requerendo uma dinâmica de atualização do profissional, através de constante reciclagem. Sob esta visão, fica clara a necessidade de se desenvolver práticas laboratoriais modernas e atualizadas, para tanto, a necessidade de um profissional embasado nos conceitos básicos em hematologia, é primordial para o desempenho de técnicas mais sofisticadas. Ao final do curso, o aluno será avaliado mediante aos exercícios propostos, levando em consideração fatores técnicos, poder de decisão e análise do contexto individual para cada evento aprendido no decorrer das aulas. Objetivos » Definir os índices hematimétricos, a saber: VCM (Volume Corpuscular Médio), HCM (Hemoglobina Corpuscular Média), CHCM (Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média). » Apresentar os valores normais e anormais, cálculos, valores de referência e interpretação dos resultados do VCM, HCM e CHCM. » Reconhecer as células da série Eritrocitária e da série Plaquetária. 8 » Apresentar a Eritrogênese e divisão do processo de maturação e sua relação com as alterações encontradas (microcitose, hipocromia e macrocitose). » Discutir as alterações eritrocitárias e patologias associadas, como alterações de: tamanho (macrócito, micrócito), forma (eliptócito, esferócito, drepanócito, leptócito, esquizócito, acantócito, estomatócito, hemácias em alvo), concentração e distribuição de hemoglobina (hipo e hipercrômicas), propriedades tintoriais (policromasia), distribuição dos eritrócitos (rouleaux, policitemia), inclusões (núcleo, corpúsculos de Howell-Joly, anéis de cabot, granulações azurófilas, ponteado basófilo, corpúsculos de pappenheimer, parasitas [malária], corpúsculosde Heinz) e artefatos. » Ensinar sobre a Plaquetogênese e características de cada célula dessa série. » Discutir sobre a classificação hematimétrica das anemias: anemias macrocíticas, microcíticas hipocrômicas, normocíticas e normocrômicas. » Apresentar a classificação laboratorial das anemias: conforme valores de referência de VCM, HCM de cada laboratório. » Apresentar as causas das anemias, assim como sua classificação etiológica. » Discutir as patogenias das anemias relacionadas à deficiência de Ferro. 9 UNIDADE IHEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Por definição, a hematologia é o estudo das células do sangue, incluindo as características morfológicas, fisiológicas e biológicas das células do sangue, além dos fatores da coagulação. Engloba também, o estudo dos seus precursores na medula óssea; constituintes químicos do plasma ou soro intimamente ligados à estrutura e função das células sanguíneas, e a função das plaquetas e proteínas envolvidas na coagulação sanguínea. CAPÍTULO 1 Índices hematimétricos Índices hematimétricos O hemograma constitui o meio mais direto e mais prático para estudar os elementos figurados do sangue periférico - os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. A contagem dos eritrócitos normalmente é feita pelo método eletrônico, o que diminui as fontes de erro nos resultados obtidos. A faixa normal para o homem adulto é de 4,5 a 6,1 milhões por mm3, e de 4,0 a 5,4 milhões por mm3 para a mulher. Na criança, por ocasião do nascimento é de 5,2 milhões, e de 01 a 15 anos é de 4,1 a 5,1 milhões por mm3. (Tabela 1). A hemoglobina (Hb) e o hematócrito (Ht), como os eritrócitos também variam conforme a idade, sexo, altitude do local etc. A hemoglobina é a medida em gramas por decilitro (g/dl) e representa a quantidade da proteína por unidade de volume do sangue. O hematócrito representa a porção dos eritrócitos no total do sangue. É medido em porcentagem (%). 10 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Com o resultado obtido do número de eritrócitos, da hemoglobina e do hematócrito, pode-se calcular outras medidas ou índices, chamados hematimétricos, como o volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). Os índices hematimétricos apresentam grande importância no estudo hematológico das anemias: fornecem dados úteis para o seu diagnóstico e tratamento, além de servirem de base para a classificação morfológica das anemias. Os valores de referência do eritrograma para diferentes idades (faixas etárias) e por sexo, em adultos, estão mostrados na tabela 1. Tabela 1. Valores de referência do eritrograma para diferentes idades (faixas etárias) e por sexo, em adultos. Eritrograma 15 dias 1 a 11 meses 1 a 2 anos 3 a 10 anos 10 a 15 anos adulto masculino adulto feminino Eritrócitos 5.2 4.1-4.9 4.1-5.1 4.1-5.1 4.1-5.1 4.5-6.1 4.0-5.4 Hemoglobina 17.0 10.3-12.7 10.6-13.0 11.1-13.5 11.5-14.5 12.8-17.8 11.3-16.3 Hematócrito 52.0 33-41 33-41 34-42 34-42 40-54 36-48 HCM 27-31 25-29 25-29 25-29 26-29 27-29 27-29 VCM 80-100 75-90 75-90 77-90 77-90 77-92 77-92 CHCM 30-35 30-35 30-35 30-35 30-35 30-35 30-35 Fonte: <http://www.ciencianews.com.br.> Determinações absolutas Conhecendo-se o número de eritrócitos por mililitro cúbico de sangue, a taxa de hemoglobina em gramas por decilitro e a porcentagem do valor do hematócrito, podem-se obter certos valores absolutos, em relação ao sangue do próprio paciente, sem referência aos padrões normais fixos exigidos para o calculo dos índices. As determinações absolutas são as seguintes: » O Volume Corpuscular Médio é a relação que existe entre o volume globular obtido (hematócrito) e o número de eritrócitos. O resultado é expresso em micra cúbicos (µm3) ou fentolitros (fl): CHCM = Hbx100/Ht. Exemplo: Valor hematócrito - 31% Eritrócitos - 4.300.000 por mm3 31 x 10 VCM 72 µm³ 4,3 = = 11 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I » A Hemoglobina Corpuscular Média é dada pela relação entre o valor da hemoglobina obtida em gramas por 100 dl e a contagem dos eritrócitos. O resultado é em picogramas (pg) ou microgramas (µg): Hgb x 10 HCM valores em pg Hem = = Exemplo: Hb - 12 g/dl Eritrócitos - 4.500.000 por mm3 12 x 10 HCM 26,6pg 4,5 = = » A Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média é calculada pela relação entre a hemoglobina obtida em g/100 dl e o volume globular. O resultado obtido é dado em porcentagem (%): Hgb x 100 CHCM valores em g/dl VCM = = CHCM = Hbx100/Ht. Exemplo: » Hb - 12 g/dl » VCM - 72 µm3 12 x 100 CHCM 16,6 em g / dl 72 = = Determinações relativas dos índices hematimétricos (segundo Haden): A fim de facilitar a interpretação clínica, os resultados devem ser fornecidos sempre na unidade de percentagem do normal, no laboratório que é feito o exame. Deste modo, a porcentagem de um sangue desconhecido é a mesma em todos os laboratórios, embora possam variar as cifras absolutas. Conforme recomenda Haden, devem-se determinar, em todo laboratório, a taxa de hemoglobina em g/dl e a porcentagem do valor do hematócrito a serem tomados como 100% do normal. Realizam- se, satisfatoriamente tais determinações, executando-se 12 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO com rigor, a contagem dos eritrócitos, a dosagem da hemoglobina e a determinação do valor do hematócrito, em 10 ou mais adultos normais, tirando-se a média. É conveniente determinar a média separadamente, segundo o sexo e a idade, a fim de que sejam obtidos resultados comparáveis. Quanto maior o número das determinações, menor o erro. Calcula-se a media de acordo com os exemplos de Haden (Tabela 2). Tabela 2. Determinação dos valores baseados na media de 10 adultos normais. Adulto normal Eritrocitos por mm2 Valor Hematócrito Hemoglobina em g/dl 1 ............................. 5,02 45,0 15,5 2 ............................ 4,00 37,0 12,6 3 ............................ 4,65 42,5 14,9 4 ............................ 5,50 50,0 16,8 5............................. 4,78 44,0 15,0 6 ............................ 4,57 43,5 14,2 7............................. 4,25 38,5 13,5 8 ............................ 5,31 47,5 16,5 9 ............................ 5,80 53,0 16,9 10........................... 4,92 44,5 15,1 Média................... 4,88 43,7 15,1 Fonte: Métodos de laboratório aplicados à clínica (OLIVEIRA LIMA, 2011). Os índices hematimétricos são determinações relativas que se obtêm estabelecendo-se as relações que guardam entre si o numero de eritrócitos, a taxa da hemoglobina e o valor do hematócrito. Os índices mais importantes são os três seguintes: a) índice volumétrico; b) índice colorimétrico e, c) índice de saturação, os quais revelam, respectivamente, o tamanho dos eritrócitos, o conteúdo e a saturação hemoglobínica destes. a. Índice Volumétrico (IV) O índice volumétrico (IV) expressa o volume médio de um eritrócito em relação ao volume médio normal. É obtido dividindo-se o valor do hematócrito pelo número dos eritrócitos, ambos referidos em porcentagem do normal, segundo a fórmula seguinte: IV = Valor hematócrito encontrado x 100 Valor hematócrito normal Número de eritrócitos encontrados x 100 Número normal de eritrócitos O IV normal é a unidade, com oscilações fisiológicas entre 0,9 e 1,1 13 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Exemplos: 1. IV normal (encontrado normalmente e nas anemias normocíticas) : Eritrócitos - 5.000.000 por mm3 de sangue Valor hematócrito - 45% IV = 45 x 100 = 1 45 5.000.000 x 100 5.000.000 2. IV baixo (encontrado nas anemias microcíticas) Eritrócitos - 4.350.000 por mm3de sangue Valor hematócrito - 28% IV = 28 x 100 = 0,71 45 4.350.000 x 100 5.000.000 3. IV alto (encontrado nas anemias macrocíticas) Eritrócitos - 1.300.000 por mm3 de sangue Valor hematócrito - 16% IV = 16 x 100 = 1,45 45 1.300.000 x 100 5.000.000 a. Índice Colorimétrico (IC) » O índice colorimétrico (IC), ou valor globular, expressa o conteúdo médio da hemoglobina de um eritrócito em relação ao conteúdo médio normal. É obtido dividindo- se a taxa da hemoglobina (em g/dl ou em percentagem) pelo número de eritrócitos, ambos referidos em percentagem do normal, de acordo com a fórmula seguinte: IC = Número de g/dl ou percentagem de Hb encontrada x 100 Número de g/dl ou percentagem de Hb normal Número de eritrócitos encontrados x 100 Número normal de eritrócitos O IC normal é a unidade, variando fisiologicamente entre 0,9 e 1,1. 14 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Exemplos: 4. IC normal (encontrado normalmente e nas anemias normocíticas): Eritrócitos - 5.000.000 por mm3 de sangue Hemoglobina - 15,4 g/dl IC = 15,4 x 100 = 1 15,4 5.000.000 x 100 5.000.000 5. IC baixo (observado em anemias hipocrômicas): Eritrócitos - 3.880.000 por mm3 de sangue Hemoglobina - 7 g/dl IC = 7 x 100 = 0,58 15,4 3.880.000 x 100 5.000.000 6. IC alto (encontrado nas anemias hipercrômicas): Eritrócitos - 2.570.000 por mm3 de sangue Hemoglobina - 10,5 g/dl IC = 10,5 x 100 = 1,32 15,4 2.570.000 x 100 5.000.000 a. Índice de Saturação (IS) O (IS) expressa a concentração média da hemoglobina dos eritrócitos por unidade de volume, em relação à concentração média normal; estabelece, portanto, a relação entre o conteúdo hemoglobínico e o tamanho dos eritrócitos. É obtido dividindo-se o conteúdo hemoglobínico (em g/dl ou em percentagem) pelo valor hematócrito, referidos em percentagem do normal, segundo a fórmula que se segue: IS = Número de g/dl ou percentagem de Hb encontrada x 100 Número de g/dl ou percentagem de Hb normal Valor hematócrito encontrado x 100 Valor hematócrito normal 15 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I » O índice de saturação pode também ser obtido dividindo-se o índice colorimétrico pelo índice volumétrico: IC 0,8 IS IS 0,8 IV 1 = = = Normalmente o IS é a unidade, variando entre 0,8 e 1,2. Exemplos: 7. IS normal (encontrado normalmente e nas anemias normossaturadas): Hemoglobina (Hb) - 15,4 g/dl Valor hematócrito - 45% IS = 15,4 x 100 = 1 15,4 45 x 100 45 8. IS baixo (encontrado nas anemias hipossaturadas): Hemoglobina (Hb) - 6,5 g/dl Valor hematócrito - 28% IS = 6,5 x 100 = 0,67 15,4 28 x 100 45 9. IS alto (não ocorre na prática, porque, normalmente os eritrócitos estão saturados de hemoglobina, ao máximo) Interpretação 1. O índice volumétrico (IV) revela o tamanho dos eritrócitos, superior aos métodos de mensuração direta e diafratométricos. O IV pode apresentar-se: a. Normal - 0,9 a 1,1: normocitose. Ocorre normalmente ou nas anemias secundárias (anemias normocíticas). 16 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO b. Baixo - menor que 0,9: microcitose. Encontrado nas anemias secundárias (anemias microcíticas). Indicação de ferroterapia. c. Alto - maior que 1,1: macrocitose. Observa-se principalmente na anemia de Addison-Biermer (anemias macrocíticas). Indicação terapêutica: vitamina B12 e ácido fólico. Na anemia ou icterícia hemolítica constitucional (microesferocitose hereditária), o IV é igual ou superior ao normal, enquanto a medida do diâmetro médio dos eritrócitos acusa microcitose. Isso porque os eritrócitos desta anemia ou icterícia hemolítica são biconvexos, em vez de bicôncavos; daí o nome microesferócitos. 2. O Índice Colorimétrico (IC) ou valor globular indica a riqueza dos eritrócitos em hemoglobina. O índice colorimétrico pode apresentar-se: a. Normal - 0,9 a 1,1: normocromia. Ocorre normalmente ou nas anemias secundárias (anemias normocrômicas). b. Baixo - menor que 0,9: hipocromia. Nas anemias secundárias (anemias hipocrômicas). Indicação de ferroterapia. c. Alto - maior que 1,1: hipercromia. Encontrado principalmente na anemia de Addison-Biermer (anemias hipercrômicas). Indicação de vitamina B12 e ácido fólico. As anemias hipercrômicas são sempre macrocíticas, ao passo que as hipocrômicas podem ser normo-, micro-, ou macrocíticas. 3. O Índice de Saturação (IS) revela a concentração da hemoglobina nos eritrócitos por unidade de volume. O IS pode apresentar-se: a. Normal - 0,8 a 1,2: normossaturação; normalmente ou nas anemias secundárias (anemias saturadas). b. Baixo - menor do que 0,8: hipossaturação. Ocorre principalmente na anemia hipocrômica idiopática e nas anemias pós-hemorrágicas crônicas (anemias não saturadas). Indicação de ferroterapia. c. Alto - maior do que 1,2: hipersaturação: raro. 17 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Nas anemias macrocíticas, o IS é, em geral, normal; quando se apresenta baixo, demonstra a existência de fator anemizante, exigindo, portanto, a ferroterapia, ao lado da vitamina B12 e ácido fólico. Fossat C, David M, Harle JR et al. New parameters in erythrocyte counting: value of histograms. Arch. Pathol. Lab. Med. 1987, 111:1.150-54. Mohandas N, Chasis JA. Red blood cell deformability, membrane material properties and shape: regulation by trans membrane, skeletal and cytosolic proteins and lipids. Sem. Hematol. 1993, 30:171-92. Willians W, Beutler E, Erlev AJ, Lichtman MA. Hematology. New York: McGraw- Hill, 1983:257-405. <http://www.youtube.com/user/academiadeciencia> <http://www.slideshare.net/> <http://hemo-blog.blogspot.com.br> Caso clínico 1 Individuo do sexo feminino, com idade de 30 anos, apresentou-se apática em uma consulta de rotina. Resultado do hemograma: GV: 4.6 milhões/mm3 - normal GB = 9000/mm3 – normal Hb = 11,5mg/dl - ↓ Ht = 30% - ↓ Ferro = 50mg/dL (VR=60-160mg/dl) - ↓ Plaquetas = 250.000/mm3 - normal VCM = 65,21 fl ↓ HCM = 25 pg ↓ CHCM= 38,33 ↑ Qual a provável patologia, mediante resultados apresentados? Resposta na seção “Anexos”. 18 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Avaliação qualitativa – esfregaço sanguíneo A avaliação hematológica do esfregaço sanguíneo auxilia na credibilidade da informação, e é dependente do exame sistemático de esfregaços bem confeccionados e corados. Se possível, os esfregaços sanguíneos devem ser preparados imediatamente. Pode-se afirmar que 90% das conclusões que se tiram do exame citológico são fornecidas pelo estudo dos esfregaços corados. Técnica (Figura 1) O exame do sangue distendido ou esfregaço sanguíneo deve ser feito do material logo após a coleta e, se possível, sem ação de qualquer anticoagulante. O material de vidro lamina e lamínulas devem ser quimicamente limpos e desengordurados. O esfregaço deve ser fino e regular para se ter boa distribuição das células. Pode-se usar lamínulas, que permitem melhor distribuição celular, porém o seu uso requer mais habilidade. Metodologia: 1. Com o auxilio de um capilar, coloque uma pequena gota de sangue na extremidade da lâmina. 2. Coloca-se a lâmina a qual será feito o esfregaço em um ângulo de 45º sobre a lâmina a ser estendido o sangue. 3. Assim que a lâmina encostar a gota de sangue, fazer um ligeiro movimento para traz, permitindo que a gota se distribua uniformemente por capilaridade. 4. Deslizar a lâmina para frente, estendendo-se desta forma a gota de sangue sobre a lâmina, formando uma camada delgada e uniforme. 5. Secar o esfregaço naturalmente ao ar, ou com auxilio de um ventilador. Figura.1 Confecção do esfregaço sanguíneo. Fonte: <http://pt.scribd.com>19 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Coloração A coloração citoquímica pode ser vista como o estudo dos constituintes químicos presentes nas células por meio de produtos corados, que podem ser observados à luz da microscopia. São de grande importância para a identificação de tipos celulares e estabelecimento de critérios diagnósticos de algumas doenças hematológicas. Sob o aspecto prático para a hematologia, as provas citoquímicas são especialmente importantes para a caracterização e identificação de granulócitos e monócitos, bem como para as características morfológicas e o conteúdo de hemoglobina dos eritrócitos. Os corantes químicos apresentam determinados radicais ácidos ou básicos que apresentam afinidade para certas estruturas ácidas ou básicas dos tecidos. Estes radicais possuem cor que permite a identificação de determinadas estruturas celulares. Os corantes usados em hematologia são compostos principalmente de: hematoxilina, corante básico que tem afinidade aos radicais ácidos presentes nos tecidos, são também chamados de acidófilos; eosina, corante ácido que tem afinidade por radicais básicos dos tecidos, são também chamados basófilos. O núcleo das células, os quais contêm DNA (substâncias ácidas), são basofílicos, e, portanto, coram-se pela hematoxilina (de cor roxa); e o citoplasma, onde as substâncias são básicas, é acidófilo, e cora-se pela eosina (de cor rosa). As colorações mais usadas em hematologia são as colorações panóticas, ou colorações segundo Romanowsky: Giemsa, Wright, May Grünwald, May Grünwald-Giensa, Wright-Giemsa, Leishman. As colorações de Romanowsky basicamente contêm azul de metileno (ou produtos de oxidação, como Azure B) e eosina B ou eosina Y. Eles são considerados corantes policromáticos, ou seja, apresentam múltiplas cores quando aplicados aos elementos celulares. Contagem global dos eritrócitos As células sanguíneas podem ser contadas manualmente, em hemocitômetro, ou por instrumentos automáticos. A contagem manual, consiste na determinação do número de eritrócitos por mm3 (ou µL) de sangue, após diluição da amostra de sangue total com solução isotônica, que evite lise dos eritrócitos. A contagem é feita nos cinco quadrados do quadrante central da câmara de Neubauer, e o resultado em mm3 é dado após ajuste dos cálculos para o grau de diluição e local de contagem no hemocitômetro. 20 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Procedimento: 1. pipetar 4 ml de solução diluidora para um frasco tipo penicilina; 2. homogeneizar a amostra e aspirar 20 µl (0,02 ml) com auxilio de uma pipeta; 3. limpar cuidadosamente a parte externa da ponteira com papel absorvente, evitando, porém, que esse procedimento retire qualquer quantidade de amostra aspirada; 4. transferir a amostra para o frasco com o liquido diluidor, tendo o cuidado de fazer a lavagem do interior da ponteira (por sucessivas aspiração e expulsão da amostra) ate que não fique nenhum resquício de amostra no seu interior; 5. agitar levemente; 6. desse modo, a diluição será de 1:200; 7. encher a câmara de Neubauer e proceder à contagem, em aumento de 400x (ocular de 10x e objetiva 40x), com condensador baixo. 8. somar o número total de eritrócitos encontrados em cada um dos cinco quadrados do quadrante central da câmara, ou seja, H1 + H2, + H3 + H4 + H5; 9. cada um dos nove quadrantes da câmara tem capacidade de conter o volume de 0,1 mm3 (1mm x 1mm x 0,1 mm); como todo quadrado central, contém um volume de 0,1 mm3 = 1/10 mm3; um quinto desse quadrado central = 1/10 x 1/5 = 1/50 mm3; 10. diluição = 1/200; como 1/50 x 1/200 = 1/ 10.000, o fator de correção para transformar 1/ 10.000 do mm3 em 1 mm3 será o próprio 10.000. Desse modo, número de eritrócitos / mm3 = somatório dos cinco quadrados do quadrante central x 10.000. Sistematizar a contagem segundo a Figura 2. 21 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Figura. 2 Contagem global dos eritrócitos em câmara de Neubauer. Fonte: <http://zunigamartinez.blogspot.com.br> Para conhecer melhor as técnicas de colorações, consultar: » Técnicas médicas de hematologia e imuno-hematologia. 7a ed. Belo Horizonte: COOPMED, 1999. » Clinica e laboratório – intervenção clinica das provas laboratoriais 4a ed. São Paulo: Sarvier, 1990. » Um Atlas colorido de citologia hematológica. Hayhoe e Flemans. São Paulo: Artes Médicas. » Hemograma: como fazer e interpretar , Oliveira, R.A.G. 1a ed. São Paulo- LMP, 2007. Dosagem de hemoglobina (método manual) É a determinação mais importante do eritrograma, constituindo um verdadeiro parâmetro para o diagnóstico de uma anemia. A concentração de Hb é diretamente proporcional ao conteúdo e coloração do eritrócito. Método da cianometaemoglobina Tem por principio básico a oxidação do íon ferroso (divalente), da hemoglobina, oxiemoglobina e carboxiemoglobina a ferro férrico (trivalente), pelo ferricianeto, com formação de metemoglobina. Esta combina-se com o cianeto de potássio para produzir cianometemoglobina (cor vermelho- alaranjada), que é medida fotocolorimetricamente em 540 nm ou em filtro verde. 22 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO A solução diluidora padrão usada é o líquido de Drabkin: Preparo do liquido de Drabkin: Bicarbonato de Sódio ............................................ 1,0g Cianeto de Potássio ................................................52,0mg Ferrocianeto de Potássio .......................................198,0mg Água destilada ...................................................... 1000,0ml Pipetar 5,0 ml do reagente de cor para tubo de ensaio medio; pipetar colocar 20µl de sangue total (homogenizado). Aguardar pelo menos 5 minutos e determinar a absorbância em espectrofotômetro em 540 nm, acertando o branco com a própria solução de Drabkin. Cálculo: Para cálculo da amostra: [Hb amostra] = DO amostra x Fator de correção. A DO (Densidade Ótica) encontrada no padrão será o controle para comparação com as amostras testes, com mesmo reagente. Portanto: F = [P] / [DO] P = 5,10 ou 15 mg/dl Valores de referência: Homens: de 14 a 18 g/dl Mulheres: de 12 a 16 g/dl Crianças até um ano:11 a 12 g/dl Recém-Nascido: de 14 a 19 g/dl 23 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I CAPÍTULO 2 Reconhecimento das células da série Eritrocitária e da série Plaquetária Eritrogênese ou eritropoiese O termo eritropoiese (eritro = RBC, e poiese = fazer) é usado para descrever o processo de formação e produção dos eritrócitos. No humano adulto, os eritrócitos, grande número de leucócitos e as plaquetas são formados na medula óssea. No feto, as células sanguíneas também são formadas no fígado e no baço, e, nos adultos, pode ocorrer em doenças nas quais a medula óssea é destruída ou sofre fibrose. Nas crianças, as células sanguíneas são ativamente produzidas nas cavidades medulares de todos os ossos. Em torno dos 20 anos de idade, a medula óssea das cavidades e dos ossos longos, à exceção da porção superior do úmero e do fêmur, torna-se inativa. A medula celular ativa é denominada medula vermelha, enquanto a medula inativa infiltrada por gordura é denominada medula amarela. A medula óssea é na realidade, um dos maiores órgãos do corpo, e seu tamanho e peso aproximam- se dos do fígado. Trata-se também de um dos órgãos mais ativos. Em condições normais, 75% das células presentes na medula óssea pertencem à série mieloide de células produtoras de leucócitos, e apenas 25% consistem em eritrócitos em processo de maturação, apesar de existirem 500 vezes mais eritrócitos do que leucócitos na circulação. Essa diferença na medula reflete o fato de que o tempo médio de vida dos leucócitos é curto, quandocomparado à dos eritrócitos, considerado longo. O órgão responsável pela sobrevida dos eritrócitos é o rim. Os rins podem detectar baixas quantidades de oxigênio no sangue. Quando isto ocorre, os rins respondem pela liberação de um hormônio chamado eritropoietina, que atua na medula óssea vermelha para estimular a produção de mais eritrócitos. Os fatores estimulantes para a formação de colônias eritróides (a eritropoietina - EPO), é um dos fatores nutrientes para a proliferação, diferenciação e amadurecimento dos precursores em eritrócitos e formação de todos os seus constituintes, principalmente a hemoglobina. Portanto, a síntese da EPO está condicionada a um mecanismo autoregulatório cuja causa principal é a hipóxia. Dessa forma, juntamente com o estímulo da interleucina 3 (IL-3) e do GM-CSF, principalmente, haverá formação das BFU-E 24 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO (unidades formadoras de explosão eritroide), com capacidade mitótica (proliferação) muito grande. Estas BFU-E, sob o estímulo da EPO, diferenciam-se em CFU-E (unidades formadoras de colônias eritróides), também denominadas células comprometidas da linhagem eritroide, que se diferenciarão em proeritroblastos (PE, primeiras células da linhagem eritroide). Uma vez que a eritropoietina estimula a medula óssea para a produção dos eritrócitos, uma série de eventos ocorre. Na medula óssea há muitas células-tronco (stem cells) capazes de produzir todos os tipos de células sanguíneas. Diferenciam-se em células progenitoras, que por sua vez darão origem aos vários tipos de células sanguíneas, incluindo os eritrócitos. Quando as células que darão origem aos eritrócitos estão maduras, elas perdem seus núcleos e ficam cheias de hemoglobina, se tornando em reticulócitos prontos para sair da medula óssea, atravessar os capilares sanguíneos e caírem na circulação corpórea. Nas amostras de sangue, os reticulócitos podem ser diferenciados dos eritrócitos porque eles ainda contêm resíduos de seus núcleos. Dentro de poucos dias, os reticulócitos perdem completamente todo o seu material nuclear e se tornam eritrócitos, prontos para transportar o oxigênio que o corpo necessita. Após três ou quatro meses, os eritrócitos começam a se enfraquecer, as membranas começam a se fragilizar e podem sofrer rupturas durante a passagem pelos pequenos canais durante a circulação. Estas “células velhas” são sequestradas pelo baço e, em geral, perdem muitos de seus componentes, em especial o ferro, que é o principal componente da hemoglobina, os mesmos serão reciclados e formarão novos eritrócitos. Todos os dias são produzidos novos eritrócitos para substituir os velhos, ou aqueles que tiverem sofrido danos ou morrerem. O corpo também aumenta a produção de eritrócitos conforme a demanda de oxigênio, por exemplo, quando uma pessoa está em altas altitudes, onde a quantidade de oxigênio no ar está drasticamente diminuída, insuficiente quantidade de oxigênio é transportada para os tecidos, e as células vermelhas são produzidas tão rapidamente que o número de eritrócitos no sangue encontra-se aumentado. Da mesma forma, se o suprimento de oxigênio é maior do que o corpo demanda, poucos eritrócitos serão produzidos, funcionando, portanto como um mecanismo de feedback. Para que a eritropoese ocorra, é essencial a aquisição de proteínas, carboidratos, sais minerais e vitaminas. O ferro, o ácido fólico e a vitamina B12 são os elementos essenciais, além da piridoxina e ácido ascórbico, considerados também essenciais. Para eficiente absorção do ferro, é necessário também ácido hipoclorídrico e ácido ascórbico, 25 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I e é dependente de uma proteína denominada transferrina, que irá transportar o ferro da medula óssea para o fígado e outros órgãos responsáveis pelo estoque do ferro. Para a absorção da vitamina B12, é necessária a participação do fator intrínseco, uma substância secretada pelas células parietais da mucosa gástrica. Para tanto, é necessário o funcionamento normal da mucosa gástrica para estes elementos serem absorvidos. Em situações de deficiência desses elementos no organismo, o ferro, o ácido fólico e a vitamina B12, estocados no fígado, são requisitados para suprirem esta carência. A Figura 3 mostra o desenvolvimento dos precursores celulares a partir da célula progenitora indiferenciada “stem cell”. Figura. 3 Eritropoiese. Fonte: <http://www.fcf.usp.br/> Fases de desenvolvimento das células eritrocitárias As células sanguíneas são produzidas a partir de uma célula-tronco mieloide (stem cell), a qual é transformada em proeritroblasto, que dará origem aos eritroblastos basofílicos os quais produzem grandes quantidades de ribossomos. Durante estas primeiras duas fases, as células se dividem muitas vezes. Desde a fase do eritroblasto precoce até a 26 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO fase do eritroblasto tardio, já ocorre a síntese de hemoglobina e o estoque de ferro. A cor do citoplasma celular muda de azul característico dos ribossomos e se torna cor- de-rosa devido à hemoglobina. Neste estágio, e posteriormente quando a célula se torna normoblasto, a concentração de hemoglobina na célula chega a cerca de 34%, muitas de suas organelas são ejetadas bem como o núcleo. Isto fará com que a célula tome um formato bicôncavo, tornando-se então um reticulócito, estes reticulócitos são considerados eritrócitos jovens porque e contém ainda ribossomos. Então, os reticulócitos completos pela hemoglobina, irão entrar na corrente sanguínea para o transporte de oxigênio. Normalmente os reticulócitos se tornam eritrócitos maduros dentro de dois dias, período em que os ribossomos serão degradados pelas enzimas intracelulares (Figura 4). Figura. 4 Fases de desenvolvimento das células eritrocitárias. Fonte: <http://doctorsgates.blogspot.com.br> Precursores dos eritrócitos Os precursores dos eritrócitos, assim como suas características principais, são: a. Proeritroblasto: é o maior dos precursores eritróides, o núcleo apresenta um padrão de cromatina fina e uniforme. A membrana nuclear é evidente, estão presentes um ou mais nucléolos proeminentes. O citoplasma possui uma qualidade heterogênea, ocorrendo em quantidade 27 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I moderada e sendo normalmente basofílico; não há grânulos presentes. O proeritroblasto sofre mitose e forma dois eritroblastos basofílicos (Figura 5a). b. Eritroblasto basofílico: possui uma cromatina ligeiramente mais grosseira, que se cora com intensidade, a cromatina pode estar parcialmente aglutinada e o padrão pode sugerir uma roda de carroça, de grossos aros. A paracromatina (a parte não cromatínica do núcleo) está diferenciada, e se cora em rosa. Há nucléolos presentes, mas nem sempre podem ser visualizados. A relação nuclear/citoplasmática (N/C) é moderada; cerca de um quarto da área celular total parece ser constituída de citoplasma. O citoplasma é intensamente basofílico, graças à abundância de RNA; nos estudos de microscopia eletrônica, boa parte dessa molécula fica evidenciada na forma de polirribossomos. As bordas celulares dos eritroblastos primitivos frequentemente são irregulares graças à ocorrência de pseudópodos. Depois da mitose o eritroblasto basofílico passa a dar origem aos eritroblastos policromatofílicos (Figura 5b). c. Eritroblasto policromatofílico: é ligeiramente menor que o eritroblasto basofílico. O núcleo ocupa cerca da metade da área da célula, cora-se intensamente, e apresenta uma cromatina moderadamente condensada, nitidamente distinta da paracromatina cor-de-rosa. O eritroblasto policromatofílico passa por uma ou duas divisões mitóticas. Depois da última mitose, o núcleo torna-se pequeno e denso (picnótico), sendo então atingindo o estágio de eritroblastoortocromático (Figura 5c). d. Eritroblasto ortocromático: a célula é menor que o eritroblasto policromatofílico e apresenta-se com menor relação N/C. O citoplasma contém hemoglobina mais abundante e menor número de polirribossomos, permanecendo ligeiramente policromatofílica. Não é mais possível a ocorrência da mitose. Acompanhado por contrações e ondulações citoplasmáticas, o núcleo e uma pequena parte da porção citoplasmática são ejetados do eritroblasto ortocromático, formando o reticulócito (Figura 5d). e. Reticulócito: o reticulócito é policromatofílico em decorrência da retenção do RNA. Como o núcleo não está mais presente no reticulócito cessa a síntese do RNA, ainda assim, o RNA presente permanece durante alguns dias, e a síntese de proteínas e do grupo heme continuam no reticulócito até que a célula perca seu RNA e mitocôndrias (Figura 5e). 28 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO f. Eritrócito: tem o tamanho de 6 a 8 µm, o citoplasma é rosa, os eritrócitos maduros são anucleados, com formato bicôncavo. Este formato ocorre devido as interações entre os elementos proteicos situados na membrana eritrocitária. As proteínas denominadas banda 3 e glicoforina compõem a camada dupla lipoproteica da membrana do eritrócito, e as proteínas espectrina, anquirina e proteína compõem a região mais interna, junto ao citoplasma. A morfologia e a função dos eritrócitos podem ficar comprometidas em casos de defeitos destas proteínas (Figura 5f). Figura 5. Precursores dos eritrócitos. Fonte: <http://kobiljak.msu.edu> Os elementos citológicos do sangue derivam de uma célula primitiva ou célula- mãe (célula mesenquimal indiferenciada), na qual, por diferenciação, se originam as células progenitoras das células adultas que se encontram no sangue. As células progenitoras ou células “blastos” são o: eritroblasto, que origina os eritrócitos; o mieloblasto, que dá origem aos granulócitos; o linfoblasto, aos linfócitos; o normoblasto, aos monócitos; e o megacariócito, às plaquetas ou trombócitos. A célula mesenquimal primitiva , segundo o setor hematopoiético em que se encontra, dá origem sempre às mesmas células blastos. Assim, a célula mesenquimal do sistema mieloide dá origem aos eritroblastos, aos mieloblastos e aos megacarioblastos; a do sistema linfoide, aos linfoblastos; e a do sistema reticuloendotelial, aos monoblastos. Teorias da hematogênese Há divergências quando se trata de estabelecer quais as células que se interpõem entre a célula mesenquimal primitiva e as células diferenciadas, ou células blastos. 29 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Há, portanto duas teorias: a teoria monofilética, admitindo que todos os elementos morfológicos do sangue provêm de uma célula ancestral comum a todos; e a outra teoria polifilética, partidária de que cada célula sanguínea tem seu precursor individual. Muitos autores tendem a adotar a teoria polifilética, em que cada célula sanguínea tem seu precursor individual. De acordo com vários trabalhos, os fatores hormonais participam nos mecanismos de formação das células precursoras, assim, a formação dos eritrócitos acha-se subordinada a eritropoietina, um hormônio produzido pelo rim, que tem a propriedade de estimular a maturação do hemocitoblasto mieloide, diferenciando-o e transformando-o em proeritroblasto e, assim sucessivamente, ate o eritrócito maduro. A produção das plaquetas por sua vez, é regulada pela trombopoetina, e a leucopoetina está envolvida na regulação da formação dos leucócitos. Alterações morfológicas dos eritrócitos Os eritrócitos podem sofrer alterações morfológicas, as quais podem ser classificadas conforme as variações no tamanho (anisocitose), na cor (anisocromia) e na forma (poiquilocitose). Anisocitose O diâmetro normal dos eritrócitos varia entre 6,5 e 8,5 µm (média 7,5 µm). Os eritrócitos de tamanho normal são também chamados de normócitos. Quando alterados em relação ao tamanho são denominados: » Macrócito: possui diâmetro maior, cerca de 8,5 - 10 µm, é originado de macroeritroblastos. A macrocitose é decorrente da deficiência de vitamina B12 e de ácido fólico (Figura 6a). » Micrócito: possui diâmetro menor do que o normal, inferior a 6 µm., é originado de microeritroblastos. A microcitose ocorre nos casos de deficiências de ferro e nas talassemias (Figura 6b). » Megalócito: possui diâmetro bem maior do que o normal, acima de 10 µm, é originado de megaloblastos. A megalocitose ocorre nos casos de anemias megaloblásticas (Figura 6c). Anisocromia O termo anisocromia é designado para denominar a variação do conteúdo de hemoglobina dos eritrócitos. A anisocromia ocorre quando na presença de ambos, 30 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO eritrócitos normocrômicos e hipocrômicos no sangue. Na anemia sideroblástica, em que os eritrócitos normocrômicos e hipocrômicos são encontrados, é indicada a produção destas células pela medula óssea. Em outros casos, como nas transfusões sanguíneas de pacientes que possuem anemia hipocrômica e recebem sangue com eritrócitos normais; ou ainda, as hemácias normais quando coradas com corante panóptico, podem apresentar um halo central mais claro após a coloração, indicando uma análise falso-positiva. Quando às alterações de cor, as hemácias podem ser: » Hemácia Hipocrômica: possui um halo central maior, cerca de 1/3 do diâmetro celular, contém menor concentração de hemoglobina devido à morfologia achatada da célula. A hemácia hipocrômica, normalmente é também microcítica, e ocorre nos casos de anemias ferroprivas, nas talassemias e outras causas (Figura 6d). » Hemácia Hipercrômica: quando a hemácia normal está saturada com hemoglobina, a coloração apresenta-se mais intensa, como exemplo os esferócitos que apresentam uma aparência densa ou “hipercrômica”. No entanto, os valores de HCM não se alteram, exceto em condições em que a síntese de hemoglobina está gravemente afetada. Assim, a contagem eletrônica do HCM serve apenas para confirmar o VCM medido diretamente. Nos macrócitos e megalócitos, ocorre a hipercromia, no entanto, o valor da HCM não ultrapassa ao normal, indicando que a hemácia não transporta hemoglobina excedente, ou seja, além da sua capacidade de saturação (Figura 6e). » Hemácia Policromática: apresenta basofilia em algumas colorações, como os panópticos, em função da presença de RNA ribossômico, apresenta também acidofilia em função da presença de hemoglobina, e mistas - uma coloração ligeiramente azulada ou acinzentada. Pode ocorrer naquelas células que perderam seus núcleos, antes de completar a hemoglobinização no citoplasma celular, mas que ainda não perderam os ribossomas. As hemácias policromáticas podem aparecer nos casos de anemias hemolíticas (Figura 6f). Hemácias com inclusões: » Hemácia com Pontilhado Basófilo: apresenta granulações basofílicas nas colorações vitais, os grânulos variam de tamanho e são geralmente puntiformes, compostos de RNA ribossômico e mitocondrial. Podem ocorrer nas intoxicações por chumbo, nas talassemias, secundariamente às leucemias, nas anemias ferroprivas e outras (Figura 6g). 31 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I » Hemácia com Corpúsculos de Howell-Jolly: fragmento cromossômico pequeno, denso, basofílico, em formato arredondado, geralmente único, que se desprendeu do restante da cromatina nuclear. Em geral, aparecem 1 a 2 corpúsculos esféricos na hemácia, com diâmetro de cerca de 0,5 µm, compostos por DNA. Os corpúsculos de Howell- Jolly podem ser ainda provenientes da cariorrexis, na fase terminal da maturação, antes da expulsão completa do núcleo. Podem aparecer em hemácias, reticulócitos e eritroblastos; após uma esplenectomia, nas anemias hemolíticas, nas anemias megaloblásticas, secundariamente àsLeucemias, e outras (Figura 6h). » Hemácia com Anel de Cabot: a célula apresenta uma cor lilás-azulada em forma de anel ou “em oito”, como remanescentes nucleares do final do fuso mitótico. Ocorre nas anemias megaloblásticas, leucemias, mielodisplasias, talassemias, intoxicação por chumbo etc. (Figura 6i). » Hemácia com Corpúsculos de Heinz: é caracterizada pela presença de inclusões citoplasmáticas nas hemácias, apresentam formato ovalado, arredondado ou angular (0,3 a 2µ de diâmetro); em geral, são únicas e pouco evidenciadas na Coloração Panótica, mas sim na Vital. São formadas por hemoglobina desnaturada dos tipos: Alfa 2, Beta 4, Gama 4 e Delta 4. São decorrentes da deficiência da Glicose-6-fosfato-desifrogenase, e ainda aparecem também nas intoxicações pelo chumbo, Fenil-hidrazina e outros (Figura 6j). » Hemácia com Corpúsculos de Pappenheimer: também denominado siderócito, que significa depósito de ferro nos eritrócitos. Podem aparecer como um único grânulo, ou múltiplos grânulos azuis, quando corados pelo corante Azul da Prússia. Na medula óssea, os siderócitos podem aparecer como uma forma em anel em volta do núcleo dos sideroblastos. Quando em casos patológicos, é possível ver os grânulos pela coloração usual panóptica. Ocorrem nos casos de, esplenectomia, talassemias etc. (Figura 6k). » Hemoglobina H – Hb H: a precipitação intraeritrocitária de corpúsculos de Hb H ocorre devido à disfunção da síntese da globina alfa (que estão diminuídas) e de globinas beta (que estão normais). As globinas beta se tetramerizam em complexos de globina b4, formando moléculas instáveis de hemoglobinas conhecidas por Hb H. Portanto, a ocorrência de Hb H pode ser indicativo de talassemia alfa. A precipitação de Hb H, se caracteriza por múltiplos corpúsculos homogeneamente distribuídos nos eritrócitos. (Figura 6l). 32 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Figura. 6 Alterações morfológicas dos eritrócitos: a-c) Anisocitose; d-f) Anisocromia; g-l) Hemácias com inclusões citoplasmáticas. Fonte: <http://www.cienciasnews.com.br/> Poiquilocitose A morfologia do eritrócito é bicôncava. Uma região central mais clara (halo) do que a da zona periférica pode ser vista, quando de frente ao microscópio. Isto é decorrente da distribuição da hemoglobina da parte bicôncava da hemácia. Quanto às alterações de forma as hemácias podem ser: » Hemácia em Alvo (target cell), codócito ou leptócito: são eritrócitos que na circulação se apresentam em forma de sino (codócitos). Possuem excesso de lípides na membrana, região intermediária mais delgada (passagem de luz), e região central densa, de onde se tem o aspecto de alvo. Exemplos: hemoglobinopatias C, S e E (em homo ou heterozigose); talassemias; interações MbS- talassemias; hepatopatias, pós- esplenectomia; deficiência de LCAT; anemia ferropriva etc. (Figura 7a) . 33 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I » Hemácia Esferocítica: são eritrócitos pequenos e de formato esférico, ocorre uma alteração na proteína da membrana, de forma que a célula perde a biconcavidade. Pode haver diminuição de espectrinas, de anquirina, entre outras, na membrana destas hemácias. A célula apresenta-se hipercorada (de hemoglobina). Exemplos: anemias hemolíticas autoimunes, esferocíticas, hereditárias e adquiridas (Figura 7b). » Hemácia Ovalocítica e Eliptocítica: são eritrócitos alongados em forma oval ou elíptica. São decorrentes de defeitos nas proteínas de membrana eritrocitária (eliptocitose) ou como forma alongada, consequente à falta de conteúdo por defeito maturativo de hemoglobinização. Exemplos: eliptocitose hereditária; anemia ferropriva (eliptócitos hipocrômicos – células alongadas em forma de lápis ou charuto); anemias megaloblásticas; mielofibrose com metaplasia mieloide. As formas aparentemente elípticas da anemia falciforme, fase anterior à formação da célula em foice desoxigenada, não são nem devem ser referenciadas como eliptócitos. Pode ocorrer por diminuição de espectrina, glicoforina C etc. (Figura 7c). » Hemácia Falciforme: são eritrócitos em que 50% ou mais do total de hemoglobina são MbS. Quando desoxigenadas na circulação, adquirindo forma de foice e são denominados drepanócitos. Não esquecer que as formas não totalmente desoxigenadas assemelham-se (apenas morfologicamente) aos eliptócitos. Entretanto, não devem ser referidos como tais células, pois de forma alguma trata-se de eritrócitos com defeitos nas proteínas de membrana (cauda da eliptocitose), mas na verdade, o defeito está na molécula de hemoglobina. Exemplos: doenças falciformes, como a anemia falciforme (SS); doença SC; interações MbS- talassemias; MbS-persistência de Hb fetal; SD; SE; etc. (Figura 7d). » Hemácia Estomatocítica: são eritrócitos com halo central em forma de fenda, semelhante a uma “boca”; há grande permeabilidade da membrana a cátions monovalentes. Muitas vezes, esta forma de hemácia pode ser encontrada como decorrência de artefato de técnica. Exemplos: doenças hepáticas; recém-nascidos; tratamento com asparaginase; estomacitose hereditária (Figura 7e). » Esquizócitos ou hemácias fantasmas: são pedaços distorcidos, restos ou fragmentos de eritrócitos sem forma definida. São decorrentes de várias etiologias, geralmente por trauma mecânico, na vasculatura por filamentos de fibrina ou por próteses cardíacas. Exemplos: anemias 34 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO microangiopáticas (coagulação intravascular disseminada - CIVD); púrpura trombocitopênica trombótica (PTT); síndrome-hemolítico- urêmica SHU; lúpus eritematoso, glomerulonefrites agudas; hipertensão maligna; eclâmpsia; hemangiomas; amiloidose, pacientes com válvulas cardíacas; talassemia maior, anemia hemolítica por drogas; anemia hemolítica por queimaduras; anemia por traumas mecânicos; na poiquilocitose hereditária etc. (Figura 7f). » Hemácias em Roleaux: empilhamento dos eritrócitos por neutralização da repulsão natural entre eles. É causado pela presença de macroglobulinas plasmáticas. São frequentes nos casos de mieloma múltiplo e macroglobulinemia (Figura 7g). » Hemácia Acantocítica (akantha= espinho): apresenta forma geralmente arredondada, com proeminências pontiagudas, em pequeno número e que se dispõem de modo não simétrico na superfície celular. É caracterizada pela alteração no metabolismo dos fosfolípides, resultante de beta-lipoproteínas. Exemplos: hepatopatias graves; insuficiência renal; acantocitose hereditária; prematuros; esplenectomizados; uremia; alcoolismo etc. (Figura 7h). » Dacriócitos: são eritrócitos em forma de lágrima ou gota. De tamanho variável, os dacriócitos podem ser normocrômico ou hipocrômico. São observados nas mieloproliferações, principalmente na mielofibrose com metaplasia mieloide; talassemias; anemias megaloblásticas etc. (Figura 7i). Figura. 7 Alterações de forma as hemácias. Fonte: <http://www.ciencianews.com.br/> 35 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Enquanto se examina a morfologia das hemácias, se deve levantar as seguintes questões: 1. Como a aparência das hemácias no esfregaço amplia a informação sobre o seu tamanho obtido pelo VCM? 2. O que significa o achado de macrócitos policromatofílicos em um esfregaço? Caso haja pequenos números de macrófagos policromatófilos acompanhados por números proporcionalmente altos de hemácias nucleadas, qual seria a hipótese diagnostica? 3. As alterações morfológicas são sugestivas de distúrbio na produção de hemácias ou de uma hemoglobinopatia? Por exemplo: a. Células ovais ou em forma de lágrima, que são vistas na anemia megaloblástica e na mielofibrose com metaplasia mieloide extramedular. b. Siderócitos, que são células contendo ferro não ligado à hemoglobina na forma de grânulos agrupados deferritina e que podem indicar síntese de hemoglobina prejudicada, não devido à deficiência de ferro. c. Células em alvo, que são células cujas membranas são muitos grandes para as células e que são encontradas em pacientes com doença hepática, com hemoglobina C, E, ou S e nas síndromes talassêmicas. d. Pontilhado basófilo, que resulta na precipitação de DNA dos ribossomos. As quantidades de RNA aumentadas em macrócitos policromatófilos ocasionalmente precipitam quando se cora o esfregaço com corante de Wright. Isto leva à formação de um pontilhado basófilo fino, um achado que não tem significado além daquele do macrócito policromatófilo em si. No entanto, em certos distúrbios da eritropoiese, como o envenenamento por chumbo e talassemia, as hemácias podem conter agregados residuais anormais de material ribossômico que precipitam quando se coram na forma de um pontilhado basófilo grosseiro. Caso clínico 2 Individuo do sexo masculino, com idade de 33 anos, se apresentou queixando-se de fadiga e apresentando hepatoesplenomegalia e icterícia. O hemograma revelou: 36 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO GV: 1.50 milhões/mm3 ↓ GB = 6500/mm3 ↓ Hb = 6mg/dl ↓ Ht = 11% ↓ Plaquetas = 450.000/mm3 ↑ VCM = 73,33 fl↓ HCM = 40 pg ↑ CHCM = 54,54 % ↑ No esfregaço presença de Corpúsculo de Heinz e na eletroforese de Hemoglobina (Hb) encontrou-se 35% de Hb H. Qual a possível hipótese diagnóstica? Resposta na seção “Anexos”. Descreva as alterações dos esfregaços. Em que situação patológica mais evidente essas alterações acontecem? Resposta na seção “Anexos”. Série plaquetária As plaquetas se originam de megacariócitos poliploides, as maiores dentre todas as células hematopoiéticas, e que representam menos de 1% do total das células nucleadas da medula óssea. Os megacariócitos originam-se da célula-tronco hematopoiética 37 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I multipotencial, e em seguida de uma célula progenitora comprometida. Com base em estudos in vitro e in vivo, é provável que a proliferação dos megacariócitos seja regulada por pelo menos dois fatores humorais: um fator (Meg- CSF) que induz a proliferação dos CFU-Megs, e um fator similar à trombopoetina, que promove diferenciação e maturação dos megacariócitos. O desenvolvimento dos megacariócitos está caracterizado por endomitose, a divisão nuclear sem divisão citoplasmática, que resulta em ploidias que variam de 2N a 64N. A maioria é dos tipos 8N e 16N, com números menores a cada lado. Os lobos nucleares não se correlacionam precisamente com a ploidia. O tempo de maturação para os megacariócitos na medula é de cerca de 5 dias nos seres humanos. As plaquetas são liberadas nos seios medulares ao longo de um período de várias horas, e os núcleos dos megacariócitos sofrem fagocitose pelos macrófagos. As plaquetas recém-liberadas parecem maiores, de metabolismo mais ativo e mais efetivas na homeostasia. As plaquetas circulam numa concentração estável, na média de 275x109/L. Em qualquer momento, cerca de dois terços das plaquetas totais estão circulando, por outro lado, em pacientes com doenças caracterizadas por esplenomegalia, 80% a 90% das plaquetas podem estar sequestradas no baço, resultando numa diminuição da concentração das plaquetas circulantes (trombocitopenia), em função dessa alteração da distribuição. As plaquetas sobrevivem por 8 a 11 dias na circulação. Algumas plaquetas são provavelmente utilizadas na manutenção da integridade vascular e no tamponamento de pequenas lesões vasculares (perda aleatória), e outras provavelmente são removidas pelo sistema fagocitário mononuclear, ao entrarem na senescência. Normalmente as plaquetas mantém a integridade (estado de vedação) dos vasos sanguíneos, e formam rolhas hemostáticas para a interrupção da perda do sangue por vasos lesionados e, no processo, promovem a coagulação dos fatores plasmáticos. Fases da maturação das plaquetas: » Megacarioblasto: mais primitivo identificável, apresenta lobos nucleares superpostos e pequena quantidade de um citoplasma basofílico e sem granulações. Este elemento pode ser encontrado no sangue circulante somente em pequenos fragmentos nucleares, porque as porções maiores ficam retidas nos capilares (Figuras 8 e 9 a). » Promegacariócito: os lobos nucleares aumentam e se expandem, e grânulos vermelhos-róseos passam a ser visualizados, primeiramente no centro da célula (Figuras 8 e 9 b). 38 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO » Megacariócito granular: é caracterizado por um alastramento difuso dos grânulos vermelho-róseos através da maior parte do citoplasma e por maior crescimento e expansão dos lobos nucleares (Figuras 8 e 9 c). » Megacariócito maduro: o núcleo é mais compacto, a basofilia desapareceu, e os grânulos estão reunidos em pequenos agregados. Estruturalmente, este aspecto é produzido por membranas superficiais invaginadas que separam o citoplasma em plaquetas individualizadas. Finalmente, as plaquetas são expelidas como fragmentos citoplasmáticos pela fusão das membranas de demarcação. Na medula óssea os megacariócitos situam-se adjacentes às paredes dos seios e as plaquetas são liberadas no lúmen sinusal (Figuras 8 e 9 d). » Plaquetas: de tamanho variando de 2 a 5µm, são porções de citoplasma, contendo granulações no seu interior. Não apresentam núcleo ou nucléolos (Figuras 8 e 9e). Nos esfregaços corados pelo método panóptico, distinguem-se duas partes das plaquetas: 1. Uma é periférica, hialina, acromófila ou levemente basófila (coloração ligeiramente azulada)- zona hialômera segundo Puchberger. 2. Outra é central, com finas granulações azurófilas, corando-se de violeta- púrpura - zona cromômera, segundo o referido autor. Nos esfregaços sem coloração, aparecem como corpúsculos de cor cinza, com tendência a formar agregação amorfa, a que se aderem os primeiros filamentos de fibrina, quando se inicia a coagulação. Nas preparações a fresco, distinguem-se, também uma zona periférica, hialina transparente, e outra central, granulosa. A zona central, granulosa, cromófila tem sido considerada de origem nuclear, o que é inteiramente errôneo, pois não dá as reações especificas da cromatina nuclear. São apenas substâncias cromatófilas. Em condições patológicas as plaquetas sofrem as seguintes alterações: 1. Alterações do tamanho ou anisocitose plaquetária: observam-se plaquetas pequenas, médias ou grandes (plaquetas gigantes) (Figura 9f). 2. Alterações da forma ou pecilocitose trombocítica: as plaquetas podem assumir diferentes aspectos. 3. Alterações da coloração ou anisocromia trombocítica: apresentam-se patologicamente, com zona periférica basófila, anormalmente intensa, com agrupamento das granulações em blocos, ou com repartição anormal das 39 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I granulações, com tamanho anormal das granulações, vacuolização patológica e falta de agregação (trombastenia). Estas alterações são encontradas, principalmente, nos casos de hiperatividade das células gigantes da medula óssea, como ocorre na mielose e em certas anemias, ou na disfunção e destruição progressiva dos megacariócitos na anemia perniciosa, na anemia aplástica, nas leucemias nos estados hemorrágicos. Figura. 8 Ilustração das fases de maturação das plaquetas. Fonte: <http://griho2.udl.es/> Figura. 9 Detalhes das fases de maturação das plaquetas: a) Megacarioblasto; b) Promegacariócito; c) Megacariócito granular; d) Megacariócito maduro; e) Plaquetas; f) Anisocitose plaquetária. Fonte: <http://mcvcorpohumano.blogspot.com.br> 40 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Contagem manual de plaquetas É a determinação direta das plaquetas em hemocitômetro de Neubauer, após diluição dosangue total em uma solução hipotônica lisante dos eritrócitos, de modo a obter o número de plaquetas por mm3 de sangue. Um método direto bastante usado e aconselhado é o método de Rees-Ecker. Método de Rees-Ecker: Material 1. material para punção digital ou venosa; 2. micropipeta de 0,02 ml; 3. câmara de Neubauer; 4. papel de filtro ou algodão; 5. placa de Petri. Solução diluidora: Citrato de Sódio.................................................................3,8 g Formol a 40%.....................................................................2,0 ml Azul de cresil brilhante......................................................0,05 g Água destilada....................................................................100,0 ml Procedimento: 1. em um tubo de ensaio médio, pipete 4,0 ml da solução diluidora; 2. adicionar 0,02 ml (20 µl) de sangue em EDTA ao liquido diluidor; impar a ponteira com gaze ou papel, lavando a ponteira dentro do líquido; 3. agitar por inversão 2 minutos no mínimo; 4. encher os retículos da câmara de Neubauer; 41 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I 5. deixar a preparação em repouso por 15 minutos; 6. realizar a contagem em microscópio óptico em aumento de 400 x em 1/5 de mm2, conforme indicado para as hemácias. É necessária experiência e atenção para distinguir as plaquetas de sujidades. As plaquetas aparecem como corpos ovais ou alongados, altamente refringentes, com 1 a 5 microns de diâmetro. Cálculos: Valores normais: 140.000 - 440.000/ mm3 Contar as plaquetas contidas nos 25 quadrados do retículo central da câmara de Neubauer, o fator de diluição será de 2.000, e aplicar a formula geral para obter o número de plaquetas (Pc) por mm3: Número de plaquetas contadas (Pc) x 10 x 200, ou seja, o valor obtido das Pc contadas em 1/5 de mm2 x 10.000 será igual ao valor das Pc. Metabolismo do eritrócito A atividade enzimática deficiente no eritrócito pode resultar em anormalidades que levam a uma destruição prematura e anemia hemolítica; estas desordens usualmente são herdadas. No entanto, mesmo em indivíduos que tenham eritrócitos normais, a interferência com estresse oxidativo no metabolismo do eritrócito, algumas vezes, pode resultar em hemólise. Como a hemácia madura não possui mitocôndria, as vias de fosforilação oxidativa e do ciclo de Krebs não ocorrem. A via glicolítica é responsável por 90% da produção de energia, e, é decorrente da via Embden-Meyerhof (Figura 10); com glicólise sendo metabolizada a ácido lático com produção final de dois moles de adenosina trifosfato (ATP). Este último, o ATP, é utilizado nas reações em que ocorre gasto energético da célula, alterações na polarização de membrana (transporte ativo de cátions), para manutenção da deformidade da membrana e para preservação do formato bicôncavo da célula. A maior parte da hemoglobina (metemoglobina) produzida na célula normal (cerca de 3% do total por dia) é reduzida pelo dinucleotídeo nicotinamida adenina (NAD) 42 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO ligado à redutase Met-Hb. A via da pentose fosfato (shunt hexose monofosfato) gera dinucleotídeo nicotinamida adenina fosfato (NADPH) nos primeiros dois passos, através das enzimas glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) e 6-fosfogluconato. A produção de NADPH é ligada à redução de glutationa e, através deste mecanismo, à preservação das enzimas vitais e da hemoglobina contra a oxidação. Pequenas quantidades de hemoglobina oxidada (metemoglobina) são reduzidas pela glutationa (GSH). A atividade da via da pentose fosfato aumenta quando a célula é exposta a uma droga antioxidante, provavelmente como resultado da produção aumentada de NADP. Se uma enzima nesta via não possuir atividade, a GSH não pode ser produzida e a hemoglobina será oxidada pelo estresse oxidante. O processo oxidativo nas hemácias requer o emprego de compostos de alta energia derivada do oxigênio, designados coletivamente como oxigênio ativado. A Hb oxidada desnatura e se precipita como corpúsculos de Heinz, os quais aderem à membrana, induzindo rigidez e tendência à lise. Deficiências enzimáticas moderadas nesta via (por exemplo na G6PD) podem não estar associadas à anemia em condições normais; no entanto, um episódio hemolítico agudo pode ocorrer se as células forem submetidas a um estresse oxidativo (por exemplo uso de droga, infecção). Deficiências na via Embden-Meyrhof resultam em uma produção prejudicada de ATP e em anemia hemolítica crônica. Ainda não está bem esclarecido o processo de destruição das hemácias neste caso. Os corpúsculos de Heinz não são formados. Parece que a falta da deformidade e deficiência na bomba de cátions pode ser importante no processo hemolítico. O shunt de Rapoport-Luebering é responsável pela conversão de 1,3-difisfoglicerato (1,3-DPG) para 2,3-difosfoglicerato (2,3DPG) ao invés de diretamente a 3-fosfoglicerato (3-PG) (fig. 7). Se este shunt estiver ativo, a geração de 2 moles de ATP (por mol de glicose) é ignorada; como resultado, não há produção energética na glicólise. No entanto, a 2,3 DPG se combina com a cadeia da hemoglobina e diminui a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio. A uma dada pressão parcial de oxigênio, portanto, uma 2,3 DPG aumentada permite que mais oxigênio deixe a hemoglobina e vá para os tecidos; a curva de dissociação do oxigênio é desviada para a direita. A atividade aumentada deste shunt é aparentemente estimulada por hipóxia. 43 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Figura. 10 Vias metabólicas do eritrócito. NAD: nicotinamida adenina dinucleotídeo; NADH: forma reduzida do NAD; NADP: nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato; NADPH: forma reduzida do NADP; 2,3 DPG: 2,3-difosfoglicerato; GSH: glutationa reduzida; GSSG: glutationa oxidada. Fonte: <http://ciencianews.com.br> A membrana eritrocitária A membrana do eritrócito contém aproximadamente quantidades iguais de lipídeos e proteínas. Os lipídeos são fosfolipídeos ou lipídeos neutros, e grande parte de colesterol não esterificado, os quais desempenham função importante na manutenção da flexibilidade e da deformabilidade celular. As proteínas que compõem a membrana eritrocitária podem ser divididas em duas porções: aquelas que atravessam a bicamada lipídica, chamadas de proteínas transmembranas, e as proteínas situadas na base da bicamada lipídica. As principais proteínas transmembranas são a glicoforina A e a proteína banda 3. A primeira 44 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO (glicoforina A) é composta por carboidratos situados na região externa da molécula, estas proteínas irão gerar carga negativa aos eritrócitos, impedindo a aglutinação dos mesmos. As glicoforinas (GP) estão relacionadas com os antígenos eritrocitários. A proteína que exerce papel como canal transportador de ânions e água para a célula é a proteína banda 3, localizada no interior da bicamada lipídica. A banda 3 se liga com as outras proteínas ankirina e espectrina, localizadas na região periférica, que serve para fixar a membrana ao citoesqueleto. As proteínas associadas ao citoesqueleto são denominadas de periféricas. Dentre elas estão a espectrina, a actina, a ankirina, banda 3, glicoforinas (Figura 11). Alterações nos componentes da membrana, lipídeos ou proteínas, podem resultar em mudanças na forma com consequente diminuição da resistência aos insultos metabólicos e mecânicos que estas células sofrem constantemente na circulação e aumento da destruição destas células (anemia hemolítica). Figura. 11 Diagrama de uma membrana eritrocitária com uma bicamada lipídica transfixada por proteínas integrais e sustentada por uma malha de espectrinas. Fonte: <http://pt.scribd.com> Transporte de moléculas Uma vez quea bicamada lipídica da membrana eritrocitária é impermeável a uma grande parte de moléculas, consequentemente, vários sistemas de proteínas transportadoras de membrana são utilizados nos processos transporte de moléculas para dentro ou fora da célula. A proteína banda 3 parece funcionar como um poro transportador, permitindo o transporte de ânions como água, cloreto e bicarbonato, e também alguns cátions. 45 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I Cappellini M.D, Fiorelli G. Glucose-6-phosphate dehydrogenase deficiency. Lancet. 2008; 371(9606):64-74 <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/> Turbendian HK, Perlman J.M. J Perinatol. Glucose-6-phosphate dehydrogenase deficiency in triplets of African-American descent. J. Perinatol. 2006; 26(3):201-3. <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/> Baskurt O.K, Meiselman H.J. Erythrocyte aggregation: Basic aspects and clinical importance. Clin Hemorheol Microcirc. 2012 <http://www.ncbi.nlm.nih. gov/> Hemoglobina A hemoglobina é uma proteína conjugada, e o componente de maior importância aos eritrócitos. Serve de veículo para o transporte de oxigênio, e dióxido de carbono (CO ). Quando completamente saturada, cada grama de hemoglobina contém cerca de 1,34ml de oxigênio. A massa sanguínea total do adulto normal contém 600g de hemoglobina capazes de transportar 800ml de oxigênio. Seu peso molecular é de 64,458kD, e contém ferro o qual reage com uma molécula de oxigênio por equivalente. Cada molécula de hemoglobina compõe-se de quatro grupos heme, de estrutura porfirínica. Cada uma contém um átomo de íon ferroso, ligado à parte proteica da molécula, a globina, constituída de quatro cadeias polipeptídicas. As cadeias polipeptídicas são dispostas aos pares, consistindo-se em ácidos aminados, ligados uns aos outros em sequência característica, formando longa cadeia. A molécula tem a forma de elipse helicoide, localizando-se cada grupo heme em sua superfície, em uma bolsa ou dobra de uma das cadeias polipeptídicas, onde funciona combinando reversivelmente com o oxigênio e o dióxido de carbono (Figura 12). A fração heme é a parte corada da molécula responsável pela cor vermelha do sangue; a fração globínica é incolor. A hemoglobina é a molécula primordial para transporte de oxigênio dos pulmões, onde sua tensão é alta, e para os tecidos, onde a tensão é baixa. À tensão do oxigênio de 100 mmHg nos capilares pulmonares, 95% a 98% da hemoglobina combinam-se com o oxigênio. Nos tecidos onde a tensão de oxigênio pode reduzir-se a 20 mmHg, o oxigênio dissocia-se logo da hemoglobina, a qual se transforma em hemoglobina reduzida, contendo menos de 30% de oxigênio. A hemoglobina está no sangue circulante sob duas formas: 46 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO a. A oxiemoglobina, existente, sobretudo no sangue arterial, resulta da oxigenação da hemoglobina; representa a combinação reversível do oxigênio com o íon ferroso, bivalente, dos componentes heme. A oxiemoglobina é a base da função respiratória da hemoglobina. É vermelho-brilhante e facilmente solúvel em água. b. A hemoglobina reduzida, ou simplesmente não oxigenada, presente sobretudo no sangue venoso, contém também íon ferroso bivalente. É vermelho-escura e um pouco menos solúvel em água do que a oxiemoglobina. Cumpre assinalar que a oxigenação da hemoglobina produz a oxiemoglobina. Deve ser diferenciada da oxidação da hemoglobina, a qual transforma o ferro na forma bivalente ou íon ferroso, para a forma trivalente (íon férrico), transformando a oxiemoglobina, vermelho-brilhante, na metemoglobina, castanha. Conforme já mencionado, a globina, que é parte a proteica da molécula hemoglobínica, compõe-se de quatro cadeias polipeptídicas, constituídas de ácidos aminados. Dependendo do número e sequência de ácidos aminados, as cadeias polipeptídicas são denominadas alfa (α), beta (β), gama (γ) e delta (δ). As combinações de um par de cadeias alfa (α) com um par de outras cadeias diferentes formam os três tipos de hemoglobinas normais. No cromossomo 11, estão localizados os genes beta, gama e delta, e o gene da cadeia alfa situa-se no cromossomo 16. O primeiro tipo de hemoglobina normal do sangue do adulto denomina-se HbA: constitui 95% ou mais de hemoglobina total do adulto. A fração globínica de cada molécula compõe-se de duas cadeias alfa (α), contendo 141 ácidos aminados cada uma, e duas cadeias beta (β), constituídas de 146 ácidos aminados. Sua fórmula é α2A β2A, indicando que a molécula é constituída de duas hemoglobinas normais A, de cadeias alfa (α), e duas hemoglobinas A, de cadeias beta (β). O segundo tipo de hemoglobina normal é HbA2, corresponde a 1,5% - 3,0% da concentração de hemoglobina total presente no sangue de um adulto normal. Consiste em duas cadeias alfa (α), e duas cadeias delta (δ), compostas por 146 aminoácidos, diferindo das outras duas cadeias beta (β), as quais estão substituídas por 10 aminoácidos. Sua fórmula é a seguinte: α2Aδ2A2. O terceiro tipo de hemoglobina normal é a hemoglobina fetal (HbF) existente, em alta concentração, durante a vida fetal. No recém-nascido sua concentração é de 50% a 75% da hemoglobina total reduzindo-se progressiva e rapidamente a cerca de 5%, aos seis meses de idade, e atingindo a concentração de apenas 2% ou menos aos dois anos de idade. Compõe-se de duas cadeias alfa (α), e em lugar das cadeias beta (β), 47 HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO │ UNIDADE I duas cadeias gama (γ) com 146 ácidos aminados. Sua fórmula é α2A γ2A. No início da vida fetal, encontram-se dois outros tipos de hemoglobina: as hemoglobinas primitivas ou embrionárias, que persistem somente durante cerca de três meses no embrião. Compõem-se de cadeias épsilon (ε), diferentes das demais cadeias. São a Hb Gower 1, cuja fórmula é ε4Gower 1,e a HH Gower 2, de fórmula α2Aε Gower2. A sequência dos ácidos aminados de cada cadeia polipeptídica acha-se sob controle genético. Um gene controla a composição de duas cadeias idênticas: por exemplo, um gene controlando as duas cadeias alfa e outro gene controlando as duas cadeias beta. Cada molécula hemoglobínica é, pois, controlada por dois genes. Cada cadeia tem o peso molecular de 16.460 kD. A sequência dos ácidos aminados das cadeias polipeptídicas é que determina o comportamento eletroforético e/ou outras propriedades físico-químicas de cada hemoglobina, permitindo sua identificação. Baseando-se nestes métodos de identificação, as hemoglobinas classificam-se em normais e anormais. As normais são as hemoglobinas que podem ser identificadas no hemolisado do sangue de uma pessoa normal, em diferentes idades. As hemoglobinas anormais são resultantes de alterações congênitas na composição das cadeias polipeptídicas. A presença de hemoglobinas normais pode alterar sensivelmente as propriedades fisiológicas dos eritrócitos que as contém. Figura. 12 Estrutura do tetrâmero da Hb A com identificação de suas subunidades a1, a2, b1 e b2. Superfície externa: corresponde aos aminoácidos das regiões A, B e F nas globinas alfa e beta. Superfície interna: D e C. Grupo heme: G e H. Fonte: <http://www.hemoglobinopatias.com.br/> 48 UNIDADE I │ HEMATOLOGIA CLÍNICA: INTRODUÇÃO Metemoglobina Em condições normais, uma pequena quantidade de hemoglobina é constantemente oxidada, formando-se a metemoglobina. A metemoglobina então é decorrente das mudanças nos processos fisiológicos da molécula de hemoglobina, ou seja, a mudança de seu estado oxigenado para o oxidado e vice-versa. Isso leva à mudança do Fe++ (ferroso) em Fe+++ (férrico). A célula tem sistemas redutores que permitem a volta do Fe+++ ao Fe++, havendo o equilíbrio entre a oxidação e a redução da hemoglobina. A enzima meta-hemoglobina-redutase (NADH-diaforase ou NADH-desidrogenase) permite tal redução, constituindo-se
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