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Atividade 5 - regulamentação e reavaliação de agrotóxicos _Professora Karen

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Nome: Gustavo Guazzelli Nanni					Data:14/03/2021 
1. A partir da leitura dos capítulos e da aula ministrada, descreva o processo de registro de um agrotóxico e suas principais limitações.
O registro de um agrotóxico no Brasil está regulamentado pela Lei 7.802/1989 e o decreto 4,074/2002. Para obter o registro no Brasil, o agrotóxico deve passar pela avaliação de três órgãos do governo federal: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O processo científico que fundamenta a decisão do registro dos agrotóxicos se dá em torno da identificação e avaliação de riscos dos “efeitos adversos” (MELGAREJO & GURGEL, 2019, p.43) de seu uso, possibilitando, em tese, estimar a natureza e a probabilidade de seus efeitos. É como se fosse a bula de uma medicação, que vai indicar os possíveis efeitos colaterais de seu uso.
Os resultados obtidos são analisados a partir de dados metrificados, os quais indicam os “limites de tolerância” (ibdem, p.44) que não podem ser ultrapassados, ou seja, uma análise quantitativa, a qual pretende-se objetiva e neutra, como se fosse possível determinar o quanto de agrotóxico poderíamos ingerir ou depositar, no caso do ambiente, sem prejuízos. As assunções e escolhas pessoas, que repercutirão nas estimativas, são um ponto ocultado no processo de registro.
Uma vez aceito o registro, ele passa a valer ad eternum. Sua reavaliação é condicionada a denúncias do risco (sanitário ou ambiental) que desaconselham o uso de determinado produto ou então por alertas internacionais de acordos do qual o país é signatário, podendo o processo resultar desde a manutenção do produto até sua suspensão. 
O processo como um todo é bastante frágil, tendo em vista as disputas econômico-políticas que o atravessam. Em síntese, a maior das fragilidades encontradas no processo de registro encontra-se localizada no conflito de interesses presente nos experimentos que determinam seu grau de toxicidade, já que são conduzidos pelas próprias indústrias que o fabricam. 
Os limites de exposição, por um exemplo, desconsideram os efeitos advindos do uso de múltiplos agrotóxicos de forma simultânea, o que no dia a dia das roças e plantações que fazem seu uso é bastante comum. Os testes laboratoriais, possíveis de replicação, são constituídos sob diversas condições não compatíveis com o uso real, o que o torna insuficiente para prevenir danos à saúde e ao ambiente. 
Além disso, a ausência de uma perspectiva científica que assuma a incerteza como princípio e a subjetividade do processo, impede que o registro em si responda as problemáticas complexas que a realidade os convoca a responder. Soma-se a isto a análise referendada na linearidade dose-resposta, que considera apenas nos efeitos agudos dos agrotóxicos, desconsiderando assim a toxicidade crônica, a mutagênese, a canceriogênese e os efeitos neurotóxicos.
Em síntese, o registro é um instrumento criado para regulamentar o uso dos agrotóxicos, cujo risco é um critério de análise. No entanto, na realidade é capturado pela lógica da indústria e do mercado, de forma que responda unicamente ao imperativo do lucro, relegando para segundo plano os impactos na saúde e no ambiente. Cria-se assim um mito que quer se passar como fato e que regula a vida de toda população brasileira, seja através de um contato direto ou indireto. O certo é que vão chegar em nossas mesas, nossos copos e em nosso ar, trazendo danos de graus inéditos historicamente. 
 
2. Em 2008 a Anvisa iniciou o processo de reavaliação toxicológica dos ingredientes ativos de agrotóxicos paraquat, glifosato e outros. Pesquise sobre a conclusão dos processos de revisão de registro desses dois agrotóxicos, suas principais decisões e possíveis problemas para a saúde associados. Cite os impactos da decisão tomada, segundo instituições de pesquisa e de saúde e mídias do agronegócio. Avalie esses argumentos e apresente sua opinião.
O ano de 2008 é paradigmático na história do uso dos agrotóxicos no Brasil. É o ano em que nosso país se torna seu maior consumidor mundial e o ano que a Anvisa entra com um processo de reavaliação toxicológica de 14 ingredientes ativos de agrotóxicos, dentre os quais estão o paraquat e o glifosato. 
“Mais de 200 mil toneladas de glifosato e paraquate foram vendidas no Brasil apenas em 2018, segundo o Ibama. Mas um levantamento inédito da Agência Pública e da Repórter Brasil revela que os dois herbicidas lideram a lista de agrotóxicos permitidos no Brasil que mais intoxicaram e mataram na última década.”[footnoteRef:1] [1: https://reporterbrasil.org.br/2020/09/agrotoxicos-paraquate-e-glifosato-mataram-214-brasileiros-na-ultima-decada-revela-levantamento-inedito/#:~:text=Mais%20de%20200%20mil%20toneladas,e%20mataram%20na%20%C3%BAltima%20d%C3%A9cada.] 
O paraquate e o glifosato são os dois dos agrotóxicos mais populares no Brasil e foram responsáveis pela morte de pelo menos 214 brasileiros na última década. O paraquate é tão mortal que é necessário apenas um gole para tirar a vida. Das 138 mortes por ingestão de paraquate, 129 foram registradas como suicídio. Uma a cada quatro pessoas intoxicadas pelo produto acabou morta, situação que se revela especialmente preocupante nas zonas rurais, 
Segundo a agência de notícias Repórter Brasil, o processo de reavaliação destes produtos que se iniciou em 2008 levou a conclusão em 2017 de retirar o paraquate do mercado, devido a seu risco à saúde, especialmente mutações genéticas e à doença de Parkinson. Previsto para sair das prateleiras em setembro de 2020, a decisão agora está sob pressão do lobby das empresas que o fabricam, as quais tentam suspender a proibição. 
O glifosato, recordista absoluto de vendas no Brasil, é muito utilizado nas culturas de soja, arroz e fumo. Numa economia agrodepente e agroexportado, representa assim um produto essencial para geração de capital. A indústria captaneando lobby no governo, conseguiu em 2019 manter o produto no mercado. A Anvisa ainda diminuiu a classificação toxicológica de 93 produtos formulados à base de glifosato. Todos os 24 que eram considerados “Extremamente Tóxico” passaram a ser taxados de “Produto Improvável de Causar Dano Agudo”. 
Na visão da indústria e do mercado as proibições são vistas como prejuízo financeiro e aumento de custo[footnoteRef:2]. Tratando estes produtos como defensivos agrícolas, enfatizam que a questão do uso e do risco se resume a utilizam do método correto e da presença de EPIS. Ainda por cima desacreditam nas evidências cientificas que revelam que os prejuízos à saúde. Formaram a "Força-tarefa paraquate" para encomendar pesquisas que reforçam a opção do não-banimento, obtendo êxito em setembro do ano passado. [2: https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/proibicao-do-uso-do-paraquat-a-partir-de-setembro-preocupa-produtores/ ] 
	A discussão em torno da reavaliação toxicológica de ingredientes e produtos que causam danos imensuráveis a vida como um todo, é recheada de influências políticas das grandes empresas da agroindústria. Por outro lado, movimentos sociais, comunidades tradicionais organizadas, intelectuais orgânicos e críticos e instituições públicas constituem uma contraofensiva ao avanço destas tecnologias de fazer morrer. 
A luta é no campo do adversário, que cria as regras do jogo e seus produtos. A opinião pública em grande medida está hipnotizada pelas propagandas que glamourizam e modernizam o que há de mais retrógrado em nossa sociedade, favorecendo-os sem mesmo ter ciência disso. A luta também é no campo dos sentidos, das narrativas, sem que isso sobreponha a necessidade cotidiana de uma alternativa ao modelo hegemônico. Por isso, cobra uma grande capacidade de organização e criação, que garantam a autonomia das comunidades e sua sobrevivência.

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