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Alice Bastos Pneumonia Introdução A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar; As pneumonias podem ser classificadas em: Pneumonia adquirida na comunidade (PAC): doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48h da admissão na unidade assistencial; Pneumonia associada aos cuidados de saúde (PACS): ocorre em pacientes que se encontram institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que têm contato frequente com instituições de saúde (hemodiálise, quimioterapia, tratamento de feridas) ou que estão imunossuprimidos; Pneumonia nosocomial: surge, pelo menos, 48 horas depois da admissão hospitalar ou desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. Essa categoria inclui: Pneumonia adquirida no hospital (PAH): pneumonia adquirida 48 horas após a internação hospitalar; Pneumonia associada a ventilação mecânica: pneumonia adquirida 48 horas após a intubação endotraqueal. Epidemiologia Dentre as pneumonias, a PAC é a de maior impacto e é a terceira causa de mortalidade no meio médico; (por isso, a PAC será o foco do resumo) A incidência de pneumonia é alta entre os lactentes e crianças, diminui consideravelmente durante a infância, permanece incomum em adultos jovens e começa a aumentar após os 50 anos (principalmente após os 65); Entre os fatores de risco para PAC em geral estão: Alcoolismo; Asma; Imunossupressão; Institucionalização; Idade 70 anos; Os fatores de risco para pneumonia pneumocócica incluem: Demência; Distúrbios convulsivos; Insuficiência cardíaca; Doença vascular encefálica; Alcoolismo; Tabagismo; Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); Infecção pelo HIV. Etiologia A lista de agentes etiológicos potenciais da PAC inclui bactérias, fungos, vírus e protozoários; O Streptococcus pneumoniae e vírus respiratórios são os agentes mais comuns; As causas mais comuns de PAC podem ser divididas em: Bactérias típicas: S. pneumoniae, Haemophilus influenzae, S. aureus, bactérias gram-negativas (ex.: Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa); Bactérias atípicas: Mycoplasma pneumoniae, Clamydia pneumoniae e as espécies de Legionella; Vírus respiratórios: influenza, adenovírus, metapneumovírus humano e vírus sinciciais respiratórios. Fisiopatologia A pneumonia é resultado da: Proliferação dos patógenos microbianos nos espaços alveolares; Resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos; Os microrganismos podem chegar às vias respiratórias inferiores pelos seguintes mecanismos: Alice Bastos Aspiração de secreções orofaríngeas (durante o sono ou nos pacientes com níveis deprimidos de consciência); Inalados na forma de gotículas contaminadas; Disseminação hematogênica ou por extensão dos espaços pleural ou mediastinal infectados (casos raros); A pneumonia evidencia-se apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares ingerirem ou destruírem os microrganismos é “vencida”; Quando isso acontece, os macrófagos alveolares ativam a resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias respiratórias inferiores; Essa resposta inflamatória do hospedeiro, mais do que a proliferação dos microrganismos, desencadeia a síndrome clínica da pneumonia; A liberação de mediadores inflamatórios como a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral (TNF) provoca febre; As quimiocinas como a IL-8 e o fator de estimulação das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão; Isso causa leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas; Os mediadores inflamatórios liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos recém-recrutados acarretam extravasamento alveolocapilar; Até mesmo os eritrócitos conseguem atravessar a membrana alveolocapilar e isso causa hemoptise; O extravasamento capilar é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis à ausculta; A hipoxemia é atribuída ao preenchimento dos espaços alveolares; Além disso, alguns patógenos bacterianos interferem na vasoconstrição hipoxêmica e essa interferência pode causar hipoxemia grave; A dispneia tem como causas: Redução da complacência pulmonar secundária ao extravasamento capilar; Hipoxemia; Hiperestimulação do centro respiratório; Secreções profusas; Broncoespasmo desencadeado pela infecção; Se a doença for grave, as alterações da mecânica pulmonar secundárias às reduções do volume e da complacência pulmonares, bem como o shunt intrapulmonar do sangue, podem levar o paciente à insuficiência respiratória e à morte. Quadro clínico A gravidade da apresentação da pneumonia pode variar de leve a casos fatais; A gravidade dos sintomas está diretamente associada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada indivíduo; O paciente frequentemente tem: Febre; Taquicardia; Calafrios; Sudorese; A tosse apresentada pode ser seca ou produtiva com escarro mucoide, purulento ou sanguinolento; Dependendo da gravidade, o paciente pode ser capaz de pronunciar frases inteiras ou apresentar dispneia grave; Se houver acometimento da pleura, o paciente pode referir dor torácica pleurítica; Até 20% dos pacientes podem apresentar queixas gastrintestinais, como: Náuseas; Vômitos; Diarreia; Os pacientes também podem apresentar: Fadiga; Cefaleia; Mialgias; Artralgias; Ao exame físico, é comum observar: Aumento da frequência respiratória; Utilização dos músculos acessórios da respiração; Acentuação ou atenuação do frêmito toracovocal (palpação); Alice Bastos Submacicez e macicez (percussão), que refletem a condensação pulmonar ou o líquido pleural subjacente respectivamente; Estertores, sopros brônquicos e possivelmente atrito pleural (ausculta); A apresentação clínica pode não ser tão evidente nos pacientes idosos e em imunocomprometidos; Nesses pacientes, sintomas inespecíficos, como perda de apetite, confusão mental, desidratação, agravamento dos sintomas ou sinais de outras enfermidades crônicas podem ser as manifestações iniciais da pneumonia; Os pacientes mais graves podem apresentar: Choque séptico; Indícios de falência de órgãos. Diagnóstico Diagnóstico clínico e radiológico A história detalhada é importante para excluir algumas possibilidades diagnósticas; A sensibilidade e especificidade das alterações detectadas pelo exame físico são baixas e por essa razão, as radiografias de tórax geralmente são necessárias para ajudar entre a PAC e outros distúrbios; Os achados radiográficos servem como parâmetro para comparações futuras e podem incluir fatores de risco sugestivos de maior gravidade; Os achados radiográficos consistentes com o diagnóstico de PAC incluem: consolidações lobares, infiltrados intersticiais, cavitações; Imagem 1: Consolidação lobar Em alguns casos, os resultados das radiografias sugerem (NÃO É POSSÍVEL AFIRMAR APENAS COM A RADIOGRAFIA) o diagnóstico etiológico: Pneumatoceles: indicam infecção por S. aureus; Tomografia computadorizada (TC) pode ser útil nos casos suspeitos de pneumonia obstrutiva causada por um tumor ou corpo estranho ou suspeita de doença cavitária. Para os pacientes ambulatoriais, a avaliação clínica e radiológica geralmente é suficiente antes de iniciar o tratamento; A maioria dos resultados dos exames laboratoriais não fica disponível a tempo, de forma a influenciar significativamente o tratamento inicial. Diagnóstico etiológico A realização de testes etiológicos não é necessária nos casos de pacientes com PAC não grave em tratamento ambulatorial; Osexames que buscam a etiologia são recomendados apenas para pacientes com PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial, bem como nos internados em UTI; Coloração pelo gram e cultura de escarro: como as etiologias da PAC grave são um pouco diferentes das que se observam na doença mais branda, as vantagens principais da realização desses exames são: Alertar o médico para patógenos insuspeitos e/ou resistentes; Permitir a modificação apropriada do tratamento; Hemocultura: não é um exame obrigatório para todos os pacientes hospitalizados com PAC; Os pacientes de alto risco (aqueles com neutropenia secundária à pneumonia, deficiências de complemento, doença hepática crônica ou PAC grave) devem fazer hemoculturas; Alice Bastos Teste de antígenos urinários: existem testes para detectar antígenos pneumocócicos e de Legionella na urina; Esses dois testes podem detectar os antígenos mesmo depois de ter sido iniciado o tratamento antibiótico apropriado; O teste para antígeno pneumocócico na urina possui sensibilidade e especificidade de 80% e 90%, respectivamente; A sensibilidade e especificidade do teste para Legionella na urina podem chegar a 90% e 99% respectivamente; Reação em cadeia de polimerase: o PCR de swabs de nasofaringe se tornou padrão para diagnóstico de infecções respiratórias virais; A PCR múltipla pode detectar o ácido nucleico de espécies Legionella, M. pneumoniae, C. pneumoniae e micobactérias; Nos pacientes com pneumonia pneumocócica, a carga bacteriana aumentada no sangue total evidenciada pela PCR está associada a um risco mais alto de choque séptico, à necessidade d e ventilação mecânica e à morte; Sorologia: A elevação de quatro vezes no título dos anticorpos IgM específicos entre as amostras de soro das fases aguda e de convalescença geralmente é considerada diagnóstica da infecção pelo patógeno em questão; Biomarcadores: os dois atualmente usados são a proteína C-reativa (PCR) e a procalcitonina (PCT); Os níveis desses reagentes de fase aguda aumentam na presença de uma resposta inflamatória, particularmente com patógenos bacterianos; A PCR pode ser útil na identificação de piora da doença ou falha do tratamento, e a PCT pode ajudar para determinar a necessidade de terapia antibacteriana; Esses testes não devem ser usados soizinhos, mas, quando interpretados em conjunto com outros achados da história, exame físico, radiologia e exames laboratoriais, podem ajudar na escolha da antibioticoterapia e manejo adequado de pacientes gravemente enfermos com PAC. Tratamento Como o médico raramente conhece a etiologia da PAC antes de iniciar o tratamento, o esquema antibiótico inicial geralmente é empírico; Esse tratamento tem como propósito cobrir os patógenos mais prováveis e deve ser iniciado o mais rápido possível; A terapia antimicrobiana empírica é baseada na gravidade da enfermidade (pacientes internados ou ambulatoriais). (tabelinha sobre tratamento no final do resumo) Pneumonia e imunossupressão A pneumonia bacteriana (principalmente por S. penumoniae e H. influenzae) é observada com maior frequência nos pacientes com infecção pelo HIV; Isso pode ser atribuído à disfunção das células B e/ou às anormalidades das funções dos neutrófilos, que podem ser secundárias à doença causada pelo HIV A pneumonia por Pneumocistis jirovecii é a infecção respiratória oportunista mais comum no portador de HIV; Sua instalação é, em geral, gradual, em que se incluem: Febre; Tosse (predominantemente não produtiva); Dispneia progressiva; Fadiga; Calafrios; Dor torácica; Perda de peso; A pneumonia também pode se apresentar assintomática; As manifestações extrapulmonares são raras e incluem lesões no rim, cérebro, fígado e baço, podendo ocorrer hepatoesplenomegalia; O padrão radiográfico constitui-se de infiltrados difusos, bilaterais, intersticiais ou alveolares; Alice Bastos Referências LIMPER, A. H. Visão geral da pneumonia. In: GOLDMAN, L.; SCHAFER, A. I. Goldman Cecil Medicina. 24. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 2013-2043. MANDELL, L. A.; WUNDERINK, R. G. Pneumonia. In: KASPER, D. L. et al. Medicina interna de Harrison. 19. Ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. p. 3587-3619.
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