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Aulas G7 Intensivo I - Direito Civil

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Aulas G7 – Intensivo I
Direito Civil – Aula 1
Conteúdo Programático
a) Intensivo I (25 aulas)
· Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e Parte Geral do Código Civil
· Teoria Geral das Obrigações
· Teoria Geral dos Contratos 
· Contratos em Espécies
b) Intensivo II (20 aulas)
· Responsabilidade Civil
· Direito das Coisas
· Direito de Família 
· Direito das Sucessões
1. Aspectos de Direito Privado na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB – Decreto Lei 4.657/1942)
1.1 Primeiras palavras
A LINDB é uma norma de sobredireito, isto é, uma “norma que trata da aplicação de outras normas” (lex legum).
De um modo geral, o comando inscrito em uma norma jurídica é dirigido a todos (atributo da generalidade). Isso, no entanto, não acontece com a LINDB, que é destinada a atores específicos, a saber, o legislador e o aplicador do Direito. Essa peculiaridade da LINDB fica mais visível quando analisamos os comandos que os arts. 4º e 5º dirigem ao julgador, quando tratam dos métodos de integração normativa (art. 4º) das diretrizes de aplicação do Direito conforme a equidade (art. 5º). 
Art. 4º: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Art. 5º: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 
Lembre-se: o nome do Decreto 4.657/42 nem sempre foi LINDB. Até 2010, estava o nome de Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) quando foi alterada pela Lei 12.376/2010. A alteração suscita um pequeno ponto de controvérsia na doutrina, levando os autores a debaterem se há alguma justificativa plausível para a mudança no nome. Autores como o Prof. José Fernando Simão acreditam que não. Em nossa opinião, porém, a Lei de Introdução é dirigida não só ao Direito Civil, mas a todos os ramos do Direito, motivo pelo qual a alteração do seu nome faz sentido. 
A título de exemplo, veja-se que o papel que a LINDB exerce na regulamentação das matérias de Direito Internacional do chamado Estatuto do Direito Internacional”. O “Estatuto do Direito Internacional” designa um rol de 12 (doze) artigos da LINDB, voltados à disciplina de tópicos como a competência processual em matéria internacional, o conflito entre normas internacionais e o direito dos tratados (art. 17). 
Os argumentos para a alteração do nome da lei, entretanto, não param por aí. A recente alteração da LINDB feita pela Lei 13.655/2018, que trata das exigências de motivação e da observação do chamado “consequencialismo jurídico” na prática de atos administrativos pelos agentes públicos, corrobora o argumento de que a alteração do nome da lei tem sim significância. Isto porque, a Lei 13.655/2018 representa um certo distanciamento em relação a antiga Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), indicando uma aproximação mais clara com os ramos do Direito Público. Além disso, é bom lembrar que a Lei de Introdução nunca fez parte de nenhum dos dois Códigos Civis (CC/1916 e CC/2002), uma vez que ela sempre foi uma lei de introdução a todo o sistema jurídico. 
Art. 20: Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único: A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação do ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018). 
Nota: sobre a questão da fundamentação e motivação dos atos por parte dos agentes públicos, bem como sobre o chamado “consequencialismo jurídico”, ver texto de Carlos Eduardo Elias de Oliveira. 
1.2 Conteúdo da LINDB
I) Formas de integração da norma jurídica
II) Regras de aplicação da norma jurídica no tempo
III) Regras de aplicação da norma jurídica no espaço
IV) Regras de Direito Internacional (Público e Privado)
V) Regras de Direito Público
1.3 Fontes do Direito (visão clássica)
a) Conceito e Classificação
Segundo a doutrina civilista, a palavra “fonte” pode ter dois sentidos principais: 
a) Origem (“de onde vem”), como ensina a Profª Maria Helena Diniz.
b) Manifestações jurídicas (“formas de expressão do direito”), nas palavras do Prof. Rubens Limongi França. 
As fontes do Direito dividem-se em:
a) Fontes formais: constam da lei de introdução e subdividem-se em fontes primárias (como a lei, no sistema romano-germânico – civil law/art. 5º CF) e fontes secundárias (aplicadas na falta de lei, como recurso de integração normativa/ art. 4º, LINDB)
Art. 5º, CF/88: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 
b) Fontes não formais: não constam da lei de introdução, constituindo-se, basicamente, em: I) doutrina; II) jurisprudência e III) equidade. 
b) Fontes Formais Primárias
Segundo o conceito do Prof. Gofredo Telles Júnior, a lei é a norma jurídica, um imperativo autorizante. Mas, o que isso quer dizer? 
Em primeiro lugar, a lei é um imperativo porque emana de uma autoridade competente, sendo dirigida a todos. A imperatividade faz remissão ao atributo da generalidade (= vigências sincrônicas).
Em segundo lugar, a lei é autorizante, porque autoriza ou não determinada conduta. 
Dentro deste conceito não cabe, por exemplo, o conceito tradicional de Hans Kelsen, segundo o qual a norma jurídica é um imperativo sancionador, uma vez que diversos diplomas legais comportam normas sem sanções. A Constituição Federal de 1988 é exemplo dessa superação ao conter diversos comandos que não comportam sanção: Nesse sentido, veja o que diz o dispositivo que trata da instituição familiar. 
Art. 226, CF/88: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
Além de imperativa e autorizante, a norma jurídica detém obrigatoriedade, não podendo o cidadão alegar ignorância quanto ao seu conteúdo. Essa é a ideia contida no art. 3º da LINDB, o qual recebe diferentes interpretações da doutrina. 
Art. 3º, LINDB: Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 
Grosso modo, são três as correntes que tratam de justificar o atributo da obrigatoriedade: 
I) ficção
II) presunção
III) teoria da necessidade social (majoritária) 
Há uma necessidade social de que todos conheçam as leis (Maria Helena Diniz e Zeno Veloso). 
A regra do art. 3º da LINDB não é absoluta, uma vez que existem exceções previstas no ordenamento jurídico. No direito civil, colhemos um bom exemplo da Teoria do Negócio Jurídico, expresso no art. 139, III, do CC/02, que permite a anulação do negócio jurídico por erro do direito (que nada mais é do que o desconhecimento da lei). 
Outro exemplo que pode ser evocado é o do locatário, que acha que perdeu o prazo da renovatória e acaba celebrando um negócio mais oneroso. Nesta hipótese, o inquilino poderia, em tese, pedir a anulação do negócio. 
Atenção: não devemos confundir subsunção com integração. A subsunção é a aplicação direta da lei, ao passo que a integração é o método a partir do qual o juiz supre as lacunas do ordenamento, recorrendo às ferramentas previstas no art. 4º da LINDB (analogia, costumes e princípios gerais do Direito). 
c) Fontes Secundárias
As fontes formais secundárias são aplicadas na falta da lei, isto é, quando ela for omissa (lacuna normativa). Sua importância pode ser extraída da proibição do não julgamento (non liquet), prevista no nosso ordenamento. 
Art. 140 CPC/2015: O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. 
Segundo Maria Helena Diniz, as fontes formais secundárias são as ferramentas de correção do sistema jurídico. A ideia de completude do ordenamento nos lembra que as lacunas da lei, isto é, de parte do sistemanormativo e não de todo o sistema jurídico. 
Nesse sentido, há dúvidas se a ordem do art. 4º da LINDB deve ser rigorosamente obedecida. Sobre o assunto controverte a doutrina nos seguintes termos: 
a) Doutrina Clássica (Clóvis Beviláqua, Washington de Barros Monteiro, Maria Helena Diniz): sim 
b) Doutrina Contemporânea (Zeno Veloso, Gustavo Tepedino e Daniel Sarmento): não 
A opção por uma das duas correntes dependerá muito da composição da banca avaliadora do concurso. Entretanto, verifica-se uma inclinação das bancas a segunda visão, pautada na ideia de que os princípios constitucionais têm prioridade na atividade de concretização e aplicação do Direito. Logo, a ordem das ferramentas de integração pode e deve ser flexibilizada. Corrobora este argumento o art. 8º do CPC/2015, que coloca o princípio da dignidade da pessoa humana como ponto de partida para qualquer decisão judicial, e o art. 5º, §1º, da CF/88, que trata da aplicabilidade imediata das normas de direitos fundamentais. Note que a segunda corrente é formada majoritariamente por constitucionalistas (Daniel Sarmento) e estudiosos do Direito Civil Constitucional (Gustavo Tepedino). 
Art. 8º do CPC/2015: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. 
Art. 5º, §1º da CF/88: As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
d) Fontes Não Formais
a) Doutrina: é a interpretação do Direito feita pelos estudiosos. Ex: dissertações de mestrado, teses de doutorado, manuais, cursos, tratados, além dos enunciados do Conselho de Justiça Federal (CJF), aprovados na Jornada de Direito Civil. 
b) Jurisprudência: é a interpretação do Direito feita pelos Tribunais. Ex: Súmulas dos Tribunais Superiores (STJ e STF). 
Nota: O CPC/2015 valorizou de modo substancial a jurisprudência, quebrando a ideia de jurisprudência como uma fonte não formal ao atribuir-lhe força vinculativa (e não vinculante). Isso representa um rompimento com aquilo que se entende por um sistema jurídico de feições romano-germânicas, denotando uma relativa aproximação, cada vez mais presente, com o sistema anglo-saxão (common law). 
Art. 332 CPC/15: Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I) enunciado de Súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça. 
II) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos.
III) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. 
IV) enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. 
Art. 489, CPC/15: 
§1º: Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: 
VI) deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência, ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. 
Art. 926, CPC/15: Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. 
Art. 927, CPC/15: Os juízes e os tribunais observarão: 
I) as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade.
II) os enunciados de súmula vinculante. 
III) os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos. 
IV) os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional. 
V) a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. 
e) Equidade
É a “justiça ao caso concreto”. (Aristóteles)
A equidade é fonte do direito? 
a) Doutrina Clássica (Washington de Barros Monteiro, Maria Helena Diniz e outros): não, é apenas uma ferramenta de auxílio posta a disposição do juiz. 
b) Doutrina Contemporânea (Pablo Stolze/ Rodolfo Pamplona, Flávio Tartuce): Sim, conforme se extrai do art. 5º, da LINDB, que impõe a busca dos fins sociais da lei e do bem comum. 
Atenção: o ordenamento jurídico contemporâneo é marcado pela erupção de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados. Diante disso, a tarefa de concretização do juiz torna-se excessivamente mais árdua e trabalhosa. A equidade, nesse sentido, pode ser tida como fonte do Direito, já que auxilia o julgador a concretizar estes conceitos nos seus sentidos e significados a partir da ideia aristotélica de “dar a cada um o que é seu”. 
E a Súmula Vinculante (Art. 103-A CF/88)? Seguindo a lição de Walber Moura Agra, a Súmula Vinculante é fonte formal (tem previsão legal na Carta Constitucional), estando compreendida entre a fonte primária e a fonte secundária, isto é, ocupa uma posição intermediária e ostenta uma natureza sui generis. 
2. Formas de Integração da Norma Jurídica (Art. 4º, LINDB) 
2.1 Analogia
a) Conceito
É a aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximo na ausência de lei para determinado caso concreto. 
I) Analogia legal (= legis)
II) Analogia jurídica (=iuris)
Exemplo de analogia iuris: caso da união homoafetiva, no qual o STF decidiu que este tipo de união enquadra-se no conceito de entidade familiar, de tal sorte que todas as normas da união estável heteroafetiva aplicam-se por analogia, à união homoafetiva (ver Informativo 625 do STF). 
Atenção: não confunda analogia com interpretação extensiva. Na analogia, outra norma é aplicada, havendo, portanto, integração por meio do rompimento de sentido da norma original (o aplicador vai além dela!). Por outro lado, na interpretação extensiva o aplicador apenas amplia o sentido da norma, havendo, portanto, subsunção. Vejamos alguns exemplos: 
Regra: por essa linha somente circula camelo marrom.
Se o intérprete, por qualquer motivo ou justificativa, aplica o comando descrito na regra jurídica para camelos da cor amarela, há interpretação extensiva. No entanto, se no momento da aplicação, o intérprete assume como verdadeira a premissa de que dromedários também podem circular pela linha, ele o faz com base no mecanismo da analogia, já que houve a mudança do tipo descrito (fatispécie). 
Na integração analógica, a regra que antes era dirigida apenas a um conjunto de pessoas ou coisas determinados no texto legal passa a ser aplicável a outro(s) conjunto(s) por força das razões apresentadas pelo intérprete-aplicador no momento da fundamentação. 
Regra: Neste cesto só podem ser colocadas maçãs vermelhas. 
Aqui vale o mesmo raciocínio. Se o intérprete aceitar que no cesto sejam colocadas maçãs verdes, ele estará lançando mão da interpretação extensiva. Agora, se o intérprete aceita que sejam colocadas pêras no cesto, a alteração ao tipo de fruta faz deste um caso de analogia, no Direito Civil, podemos colher mais um exemplo da Teoria do Negócio Jurídico. Assim, se aplicarmos a regra da figura geral da lesão para a figura da lesão usuária, teremos interpretação extensiva. Por outro lado, se aplicarmos a regra da lesão para uma situação onde se verifica situação semelhante aos casos onde aplicaríamos a figura do estado de perigo, há analogia. 
2.2 Costumes
a) Conceito
Práticas ou usos reiterados com conteúdo lícito e relevância jurídica. 
Art. 113 CC/02: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (= regras de tráfego). 
b) Classificação
I) Costumes segundo a lei (secundum legem): quando a expressão costume consta da lei, havendo, neste caso, subsunção. 
Art. 187 CC/02: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
II) Costumes praeter legem (na falta da lei): aplicado quando a lei for omissa (=costume integrativo).Ex.: cheque pós-datado (Súmula 370, STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado).
III) Costumes contra legem: são aqueles que contrariam a lei, não sendo, por regra, admitidos pelo ordenamento, salvo se a lei contrariada tenha caído em desuso (adequação social). Ex.: a norma que prevê que o jogo do bicho é contravenção penal. 
2.3 Princípios Gerais do Direito 
Segundo Limongi França, os princípios gerais do Direito são regramentos básicos aplicáveis a determinado instituto jurídico, sendo abstraídos das normas da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais. Seguem este conceito Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery. 
Os princípios podem ser expressos na norma jurídica ou não. Como exemplo, temos o instituto da função social do contrato, expresos no Código Civil de 2002 nos arts. 421 e 2035, parágrafo único e de modo implícito em outros diplomas, como o Código de Defesa do Consumidor (CDC). 
Art. 421 CC/02: A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 
Art. 2035 CC/02: A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. 
O Prof. Paulo Bonavides destaca que com a vigência da CF/88, alguns dos princípios gerais do Direito ganharam status constitucional, tendo, assim, prioridade de aplicação, mesmo nas situações em que há lei específica sobre a matéria. São exemplos a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88), a solidariedade (art. 3º, I, CF/88) e a igualdade (art. 5º, caput, CF/88).
3. Regras de Aplicação da Norma Jurídica no Tempo 
O estudo dos efeitos da norma jurídica no tempo centra-se na verificação dos requisitos para que a lei entre “em vigor”. 
Como todo e qualquer ato jurídico, os atos normativos devem observar os requisitos de existência, validade (requisitos formais) e eficácia (requisitos de aplicabilidade). Alguns autores destacam ainda a existência de um quarto plano, o da eficiência, na intenção de denotar o aspecto de eficácia social da norma jurídica em questão (“a norma pegou”). 
3.1 Início de Vigência 
A doutrina civilista destaca 3 fases que antecedem a vigência da lei. São elas: 
I) Elaboração
II) Promulgação
III) Publicação
A lei entra em vigor imediatamente após a publicação? 
Não, pois deve ser observado o prazo de “vacatio legis”. Não havendo previsão na própria lei, o prazo será de 45 (quarenta e cinco) dias para o Brasil ou 3 meses para os Estados estrangeiros com os quais o Brasil mantém relação no plano internacional, contado o prazo da data de publicação oficial. 
3.2 Fim da Vigência
 A principal forma de revogação da norma por outra norma jurídica, conforme dispõe o art. 2º da LINDB. 
Art. 2º LINDB: Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§1º: A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§2º: A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
§3º: Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 
No entanto, existem ainda outros modos: 
a) Quanto à extensão (amplitude)
I) Revogação total (ab-rogação): Ex.: art. 2045, CC/02
II) Revogação parcial (derrogação): Ex.: art. 2045, CC/02
b) Quanto ao modo: 
I) Revogação expressa: é taxativamente prevista na norma posterior (Ex.: art. 2045, CC/02)
II) Revogação tácita: acontece quando a lei nova trata da mesma matéria da lei anterior ou quando há incompatibilidade entre a lei posterior e a anterior (Ex.: revogação tácita e parcial da Lei do Condomínio Edilício – L. 4.591/64, pelo Código Civil de 2002). 
O art. 2º da LINDB trata dos aspectos relacionados a vigências das leis. Há, no entanto, uma polêmica sobre a contraposição deste artigo com o disposto no art. 9º da Lei Complementar nº 95/98, que, segundo alguns, impediria a revogação tácita. Não obstante, tem prevalecido o entendimento de que a revogação tácita é sim possível. 
Art. 9º, LC 95/98: Quando necessária a cláusula de revogação, esta deverá indicar expressamente as leis ou disposições legais revogadas. 
4. Observações Importantes
a) Interpretação do art. 2º, §2º, LINDB
Lei com sentido complementar não revoga disposições anteriores sobre o mesmo tema. Ex.: a Lei 11.804/2008 (Lei dos Alimentos Gravídicos) não revogou o Código Civil de 2002 em matéria de alimentos, trazendo apenas acréscimos ao reconhecer o direito à alimentos ao nascituro e à mulher grávida. 
b) Repristinação (art. 2º, §3º, LINDB)
Acontece quando a norma revogada volta a valer com a revogação da sua revogadora. Em regra, não se admite a repristinação no Direito Brasileiro. 
Ex.: Se a norma C revoga a norma B, a qual, por sua vez, havia revogado a norma A, esta última não volta a produzir efeitos, salvo se houver previsão legal (repristinação) ou diante de declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora B (efeito repristinatório). 
c) Retroatividade da norma jurídica
A norma jurídica tem vigência, em regra para o futuro. Logo, a irretroatividade é regra e a retroatividade exceção. 
Para que a retroatividade seja possível, é necessária a presença de dois requisitos principais: deve haver permissão legal e não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 
Art. 5º, XXXVI, CF/88: A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 
Art. 6º, LINDB: A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957). 
§1º: Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957). 
§2º: Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957).
§3º: Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
Direito adquirido: é o direito incorporado ao patrimônio da pessoa, inclusive porque já exercido (Gabba). 
Ato jurídico perfeito: é toda manifestação de vontade lícita e consolidada. 
Coisa julgada: é toda decisão judicial da qual não cabe mais recurso. 
Lembre-se: a tutela da segurança jurídica prevista neste dispositivo não é absoluta, devendo ser ponderada com outros direitos previstos na CF/88, conforme a técnica de ponderação prevista no §2º do art. 489, CPC/2015. 
Ex.: relativização da coisa julgada, em ações investigatórias de paternidade julgadas improcedentes em momento anterior ao exame de DNA. Tanto o STF, quanto o STJ, admitem a relativização para estes casos. 
Recurso Extraordinário. Direito Processual Civil e Constitucional. Repercussão Geral. Reconhecida. Ação de Investigação de Paternidade. Declarada extinta, com fundamento em coisa, em razão da existência de anterior demanda em que não foi possível a realização de exame de DNA, por ser o autor beneficiário da justiça gratuita e por não ter o estado providenciado a sua realização. Repropositura da ação. Possibilidade, em respeito à prevalência do direito fundamental à busca da identidade genética do ser, como emanação de seu direito de personalidade. (STF, RE 363.889/DF, Rel. Min Dias Toffoli, J. 02/06/2011)
Processo Civil. Investigação de Paternidade. Repetição de ação anteriormente ajuizada, que teve seu pedido julgado improcedente por falta de provar. Coisa Julgada. Mitigação. Doutrina. Precedentes. Direito de Família.Evolução. Recurso Acolhido (STJ, RESP 226.436/PR, Rel. Min Sálvio de Figueiredo Teixeira, P. 02/02/2002, J. 28/06/2001). 
Ex. 2: retroatividade motivada da norma de ordem pública, conforme previsão do art. 2035, parágrafo único, CC/02. A retroatividade motivada é denominada por Paul Roubier de retroatividade máxima.
O STJ já decidiu que a multa devida pelo condômino inadimplente é a prevista no CC/02 (2%) e não a prevista na convenção de condomínio, ainda que este documento ostente a qualidade de ato jurídico perfeito em razão da constituição do condomínio ser anterior a vigência do Código. 
O argumento foi justamente o fato de que a norma do art. 1336 do CC/02 retroagiria por relacionar-se a função social da propriedade, atraindo a aplicabilidade do art. 2035 do CC/02. 
Ex. 3: Aquele que havia comprado um escravo no dia anterior a entrada em vigor da Lei Áurea não poderia alegar direito adquirido, uma vez que a norma, neste caso, retroagiria, motivadamente, por envolver a proteção da pessoa humana (questão de ordem pública). 
Aula 2
1. Parte Geral do Código Civil de 2002
A Parte Geral do CC/02 é estruturada da seguinte forma: 
· Pessoas naturais e pessoas jurídicas
· Bens 
· Teoria geral do negócio jurídico
· Prescrição e decadência
· Provas (não serão analisadas neste curso, mas sim em Direito Processual Civil)
2. Pessoa Natural
2.1 Conceitos Iniciais
Nas provas de Direito Civil, não se deve utilizar a expressão “pessoa física”. Deve-se utilizar “pessoa natural” ou “pessoa humana”. Também não é adequado utilizar o termo “homem”. 
O Código Civil, em seu art. 1º, dispõe que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Assim, a capacidade mencionada neste artigo é a capacidade de direito ou de gozo, a qual todas as pessoas têm, sem distinção. Trata-se da capacidade para ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil. 
É necessário ter atenção porque a palavra “gozo” pode dar a entender que é a capacidade para exercer um direito, mas, na verdade, é a capacidade de usufruir do direito. 
Assim, se é uma pessoa humana automaticamente, tem capacidade de direito ou de gozo. 
Art. 1º: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
Há ainda a capacidade de fato ou de exercício, que é aquela para exercer direitos. Algumas pessoas não têm essa capacidade, sendo elas os incapazes dos artigos 7º e 4º do CC. 
Lembrando que os artigos 3º e 4º, CC foram alterados recentemente pelo Estatuto das Pessoas com Deficiência. 
O professor Flávio Tartuce apresenta a seguinte fórmula: 
	Capacidade de direito/gozo (para ser sujeito de direitos e deveres)
+
Capacidade de fato/exercício (para exercer os direitos na órbita civil)
=
Capacidade civil plena
2.2 Conceitos Correlatos à Capacidade
a) Legitimação
É uma capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Um exemplo de legitimação é a outorga conjugal, que pode ser de dois tipos: 
I) uxória: da esposa
II) marital: do marido
Essa outorga conjugal é exigida para alguns atos que estão no art. 1647, CC. 
Geralmente, o desrespeito à legitimação acarreta uma sanção. Assim, se não houver suprimento judicial, o art. 1649, CC, prevê que a falta de outorga gera a anulabilidade do ato praticado. Ressaltando que a anulabilidade é também chamada de nulidade relativa. 
Art. 3º, CC: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 
Art. 4º, CC: São incapazes relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos
II) os ébrios habituais e os viciados em tóxico
III) aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. 
IV) os pródigos
Art. 1647, CC: Ressalvado o disposto no art. 1648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: 
I) alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis
II) pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; 
III) prestar fiança ou aval
IV) fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. 
Art. 1649, CC: A falta de autorização não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal. 
Parágrafo único: A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado. 
Atenção: o ato praticado sem outorga era nulo apenas no Código Civil de 1916, no Código Civil de 2002, o ato é anulável e, conforme preceituado no art. 1649, CC, o prazo para pleitear a anulação é de dois anos (decadencial), contados do término da sociedade conjugal. 
b) Legitimidade
É a capacidade processual, ou seja, capacidade específica para o processo (art. 17, CPC/2015 que equivale ao art. 3º do CPC/1973).
Observação: a própria lei utiliza as expressões legitimação e legitimidade como sinônimas, mas há distinção entre elas. 
Ex.: no art. 12, parágrafo único, CC, o legislador usou o termo “legitimação”, quando o correto seria “legitimidade”. 
c) Personalidade
Personalidade é a soma de caracteres ou aptidões da pessoa, aquilo que a pessoa é para si e para a sociedade. Este conceito é do autor italiano Adriano de Cupis. 
Como diferenciar capacidade de personalidade? 
Capacidade é a medida da personalidade (quantum). Assim, ela é apenas um dos aspectos da personalidade. Personalidade é a essência da personalidade (quid).
Sobre o início da personalidade, tem-se o art. 2º, CC, o qual é bastante polêmico e diz que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. 
Lembrando que nascituro é aquele que foi concebido, mas ainda não nasceu. 
O professor, ao analisar o art. 2º, CC, afirma que é equivocado dizer que tal dispositivo adotou a teoria natalista, pois ela se encontra apenas no início do artigo. Prevalece na doutrina que o CC adotou a teoria concepcionista. 
A respeito da situação jurídica do nascituro, há três correntes doutrinárias:
Teoria natalista: para tal teoria, o nascituro não é pessoa humana, pois a personalidade começa do nascimento com vida. 
Os autores Silvio Rodrigues, Caio Mário da Silva Pereira e Santiago Dantas, todos civilistas clássicos já falecidos, defendiam esta teoria. 
Teoria da personalidade condicional: na opinião do professor Flávio Tartuce, essa teoria equivale à natalista. O nascituro é considerado pessoa se nascer com vida. Os defensores dessa teoria são Washington de Barros Monteiro, Serpa Lopes e Arnaldo Rizzardo. 
Teoria concepcionista: o nascituro é pessoa humana, tendo direitos da personalidade desde a concepção. Essa teoria é defendida pela professora Silmara Chinellato, Francisco Amaral, Maria Helena Diniz, Álvaro Villaça, Giselda Hinoraka, Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald. 
Art. 17, CPC: Para postular um juízo, é necessário ter interesse e legitimidade. 
Art. 12, Parágrafo único, CC: Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. 
Art. 2º, CC: A personalidade civil da pessoa começa ao nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
Assim, a teoria concepcionista prevalece na visão contemporânea. Inclusive, o Enunciado 1º, aprovado na I Jornada de Direito Civil, também adotou esta teoria. 
A proteção que o CC deferiu ao nascituro alcança também o natimorto. 
Há um argumento de que o STF, ao julgar o caso de aborto de feto anencéfalo e ao julgar a possibilidade de utilização de célula-tronco embrionária, valeu-se da teoria natalista. O professor afirma que isso não é verdadeiro, pois essa foi a posição adotada pelo relator do caso e não pelo STF. 
A teoria concepcionista tem prevalecido na atual composição do STJ. 
Entende o STJ que cabe dano moral pela morte do pai do nascituro ocorrida antes de seu nascimento (RESP399.028/SP). 
Ementa. Direito Civil. Danos Morais. Morte. Atropelamento. Composição Férrea. Ação ajuizada 23 anos após o evento. Prescrição Inexistente. Influência na quantificação do quantum. Precedentes da Turma. Nascituro. Direito aos danos morais. Doutrina. Atenuação. Fixação nesta instância. Possibilidade. Recurso parcialmente provido. I) Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum. II) O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida têm influência na fixação do quantum. III) Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional. (STJ- RESP 399028 SP 2001/0147319-0, Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Data de Julgamento: 26/02/2002, T4 – Quarta Turma, Data de Publicação: DJ 15/04/2002 p. 232 RSTJ vol. 161 p. 395 TR vol. 803 p. 193)
Mais recentemente, há o AgRg no AgRg no ARESP 150297 – DF: 
Agravo Regimental. Agravo em Recurso Especial. Ação de Indenização. Danos Materiais e Morais. Nascituro. Perda do pai. 1) Não há falar em omissão, contradição ou obscuridade no acórdão recorrido, que apreciou todas as questões que lhe foram submetidas de forma fundamentada, ainda que de modo contrário aos interesses da Recorrente. 2) “O nascituro também tem direito aos danos morais pela parte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida têm influência na fixação do quantum”. (RESP 399028/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 15/04/2002)”. 3) “A jurisprudência desta Corte é disposta no sentido de que o benefício previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, porquanto, ambos têm origens distintas. Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela Previdência; A indenização por ato ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba” (AgRg no AgRg no RESP 1292983/AL, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 7/3/2012) 4) Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado” (Súmula 313/STJ). 5) “A apreciação do quantitativo em que autor e réu saíram vencidos na demanda, bem como a verificação da existência de sucumbência mínima ou recíproca, encontram inequívoco óbice na Súmula 7/STJ, por revolver matéria eminentemente fática” (AgRg nos Edcl no RESP 757825/RS, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 2.4.2009). 6) O recurso não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 7) Agravo Regimental improvido”. (STJ – AgRg no AgRg no ARESP 150297 DF 2012/0041902-2, Relator: Ministro Sidnei Beneti, Data de Julgamento: 19/02/2013, T3 – Terceira Turma/ Data de Publicação: DJe 07/05/2013)
I Jornada de Direito Civil – Enunciado I: “A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura”. 
Um caso recente, julgado pela atual composição do STJ, é o de Rafinha Bastos x Wanessa Camargo e filho (RESP 1.487.089/SP). Neste caso, foi fixada uma indenização em benefício da Wanessa Camargo e uma indenização em benefício de seu filho. Na opinião do professor, é um julgado que adota a teoria concepcionista. 
“Recurso Especial – Ação de Indenização por Danos Morais – Comentário realizado por apresentador de programa televisivo, em razão de entrevista concedida por cantora em momento antecedente, - instâncias ordinárias que afirmaram a ocorrência de ato ilícito ante a agressividade das palavras utilizadas e, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana determinaram a responsabilização do réu pelos danos morais suportados pelos autores, aplicando verba indenizatória no montante de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Irresignação do réu. Hipótese: a controvérsia cinge-se a aferir a existência ou não de dano moral indenizável em razão do conteúdo de frase pronunciada em programa humorístico veiculado na televisão aberta. 1) Revela-se inviável o pleito de concessão de efeito suspensivo ao recurso especial, ante a inadequação da via eleita, pois, nos termos da jurisprudência desta Corte, tal pedido deve ser formulado de forma apartada, ou seja, mediante ação cautelar (artigo 288 do RISTJ), não se admitindo sua inserção nas razões do apelo extremo. Precedentes. 2) Quanto à apontada violação do art. 535, inciso II do CPC, aplicável à hipótese o óbice da Súmula 284/STF, porquanto das razões recursais não é possível extrair qual o objeto de irresignação do recorrente, uma vez que apenas alegou, genericamente, a ocorrência de omissão no julgado quanto aos dispositivos apontados, sem especificação das teses que supostamente deveriam ter sido analisadas pelo acórdão recorrido. 3) Inaplicável, ao caso, o óbice sumular nº 7/STJ, porquanto incontroverso o teor do comentário tecido pelo recorrente e, estando a controvérsia afeta exclusivamente à ponderação/valoração jurídica acerca da potencialidade ofensiva dos fatos tidos como certos e inquestionáveis, expressamente delineados pelas instâncias ordinárias, descabida a incidência do referido enunciado sumular. Precedentes. 4) Quanto à tese de responsabilização civil do réu pelo comentário tecido, aplicável o óbice da súmula 320 desta Corte Superior, pois o fato de o voto vencido ter apreciado a questão à luz dos dispositivos legais apontados como violados não é suficiente para satisfazer o requisito do prequestionamento. Precedentes do STJ. 5) Apesar de em dados e específicos momentos ter o Tribunal a quo, implicitamente se referido a questões existentes no ordenamento legal infraconstitucional, é certa a índole eminentemente constitucional dos fundamentos adotados pelo acórdão recorrido, não tendo o recorrente interposto o regular recurso extraordinário, a atrair o óbice da Súmula 126 desta Corte Superior. Precedentes. 6) No que tange ao pedido subsidiário de redução do quantum indenizatório fixado pela Corte local em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos autores, totalizando a quantia de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), ponto sobre o qual, implicitamente, houve o prequestionamento de dispositivo de lei federal, haja vista que nos termos do artigo 944 do Código Civil “a indenização mede-se pela extensão do dano” - não merece acolhida a irresignação ante a aplicação do óbice da Súmula 7/STJ. O Tribunal local analisou detidamente a conduta do ofensor, as consequências do seu comentário, a carga ofensiva do discurso, o abalo moral sofrido pelos autores e, de forma proporcional e razoável, o valor da indenização a ser custeada pelo réu para aplacar o sofrimento, a angústia e a comoção imposta aos ofendidos. Para modificar as conclusões consignadas no acórdão impugnado e concluir estar exagerado o quantum indenizatório como quer a parte recorrente, seria necessária a incursão no conjunto fático-probatório das provas e nos elementos de convicção dos autos, o que é vedado em sede de Recurso Especial (Súmula nº 7 do STJ). 7) Recurso especial conhecido em parte, e, na extensão, desprovido”. (STJ – RESP 1487089 – SP (2014/0199523-6), Relator Ministro Marco Buzzi – Quarta Turma, julgado em 23/06/2015. DJe 28/10/2015.
O STJ tem posição consolidada de que cabe indenização por seguro DPVAT em favor do nascituro (RESP 1120676/SC de 2011 – Terceira Turma; e RESP 1415727/SC de 2014 – Segunda Turma). 
Seguro DPVAT. Nascituro. Trata-se de RESP em que se busca definir se a perda do feto, isto é, a morte do nascituro, em razão de acidente de trânsito, gera ou não aos genitores dele o direito à percepção da indenização decorrente do seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotoresde via terrestre (DPVAT). Para o Min. Paulo de Tarso, Sanseverino, voto vencedor, o conceito de dano-morte como modalidade de danos pessoais não se restringe ao óbito da pessoa natural, dotada de personalidade jurídica, mas alcança igualmente, a pessoa já formada, plenamente apta à vida extrauterina, embora ainda não nascida, que, por uma fatalidade, teve sua existência abreviada em acidente automobilístico, tal como ocorreu no caso. Assim, considerou que sonegar o direito à cobertura pelo seguro obrigatório de danos pessoais consubstanciados no fato “morte do nascituro” entoaria, ao fim e ao cabo, especialmente aos pais já combalidos com a incomensurável perda, a sua não existência, malogrando-se o respeito e a dignidade que o ordenamento deve reconhecer e reconhece inclusive, àquele que ainda não nascera (art. 7º da Lei nº 8069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente). Consignou não haver espaço para diferenciar o filho nascido daquele plenamente formado, mas ainda no útero da mãe, para fins da pretendida indenização ou mesmo daquele que, por força do acidente, acabe tendo seu nascimento antecipado e cheque a falecer minutos após o parto. Desse modo, a pretensa compensação advinda da indenização securitária estaria voltada a aliviar a dor, talvez não na mesma magnitude, mas muito semelhante à sofrida pelos pais diante da perda de um filho, o que, ainda assim, sempre se mostra quase impossível ou determinar. Por fim, asseverou que, na hipótese, inexistindo dúvida de quem eram os ascendentes (pais) da vítima do acidente, devem eles figurar como os beneficiários da indenização, e não como seus herdeiros. Diante dessas razões, entre outras, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao recurso. Cumpre registrar que, para o Min. Relator (vencido), o nascituro não titulariza direitos disponíveis (patrimoniais e não detém capacidade sucessória. Na verdade, sobre os direitos patrimoniais, ele possui mera expectativa de direitos, que somente se concretizam (é dizer, incorporam-se em seu patrimônio jurídico) na hipótese de ele nascer com vida. Dessarte, se esse é o sistema vigente, mostra-se difícil ou mesmo impossível conjecturar a figura dos herdeiros do natimorto, tal como propõem os ora recorrentes”. Precedente citado: RESP 931.556-RS, DJe 5/8/2008 (RESP1120676-SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/12/2010 – Dje: 04/02/2011). 
Direito Civil. Acidente Automobilístico. Aborto. Ação de Cobrança. Seguro Obrigatório. DPVAT. Procedência do Pedido. Enquadramento Jurídico do Nascituro. Art. 2º do Código Civil de 2002. Exegese Sistemática. Ordenamento Jurídico que acentua a condição de pessoa do nascituro. Vida Intrauterina. Perecimento. Indenização devida. Art. 3º, inciso I, da lei nº 6194/1974. Incidência. 1) A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil – que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento-, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei. 2) Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1779 e 1798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei nº 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro – embora não nascida – é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127) sempre esteve alocado no título referente a “crimes contra a pessoa” e especificamente no capítulo “dos crimes contra a vida” – tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina (Mirabete, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; Nucci, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8. Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2012, p. 658). 3) As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro – natalista e da personalidade condicional – ficam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou, de bens imateriais da pessoa – como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros. 4) Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais. 5) Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei nº 6.194/1974. Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina. 6) Recurso especial provido”. (RESP 1415727-SC 2013/0360491-3), Rel. Min. Luis Felipe Salomão – Segunda Turma – Julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014). 
2.3 Teoria das Incapacidades. Os incapazes no CC/2002 (arts. 3º e 4º, alterados pela Lei 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência)
2.3.1 Considerações Sobre o Estatuto das Pessoas com Deficiência 
a) Regulamenta a Convenção de Nova Iorque, que é um tratado de direitos humanos. Tal tratado tem força de Emenda à Constituição, conforme art. 5º, §3º, CF. 
O professor ressalta que o referido dispositivo legal foi incluído pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004 e, portanto, as convenções internacionais sobre direitos humanos anteriores a ele têm natureza supralegal. 
b) Premissas fundamentais do Estatuto das Pessoas com Deficiência (art. 4º, Lei 13.146/2015); igualdade, inclusão com autonomia, vedação da discriminação. 
Antes, para as pessoas com deficiência, existia a premissa da dignidade-vulnerabilidade. Tal premissa foi substituída pela dignidade-igualdade. A pessoa com deficiência, a partir da entrada em vigor do Estatuto das Pessoas com Deficiência, passou a ser, em regra, plenamente capaz. Para os atos existenciais familiares, sempre haverá capacidade civil plena (art. 6º, Lei 13.146/2015). 
Ex.: contrair casamento, união estável, praticar atos reprodutivos, adotar e exercer o planejamento familiar. 
Art. 5º, §3º, CF: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
Art. 4º, Lei 13.146/2015: Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
§1º: Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. 
§2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa. 
Lei 13.146/2015
Art. 6º: A deficiêncianão afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: 
I) casar-se e constituir união estável;
II) exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III) exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso à informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV) conservar sua fertilidade sendo vedada a esterilização compulsória. 
V) exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e 
VI) não exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”.
As eventuais restrições somente atingem os atos patrimoniais (artigos 84 e 85, EPD – Lei 13.146/2015). Para tanto, a regra passa a ser a tomada de decisão apoiada (art. 1783-A, CC). 
A tomada de decisão apoiada é um procedimento judicial em que a própria pessoa com deficiência, por sua iniciativa, indica apoiadores (ao menos dois) para auxiliá-la. Somente em casos excepcionais, caberá a restrição para atos patrimoniais. 
O CPC traz a Ação de Interdição Relativa (art. 747/758, CPC). O EPD traz a ação de Instituição de Curatela Parcial (artigos 84 e 85, Lei 13.146/2015). O professor ressalta que, pelo direito posto, o que cabe é a Ação de Interdição Relativa. 
2.3.2 Análise dos artigos 3º e 4º, CC
a) Antes do Estatuto das Pessoas com Deficiência - EPD
Art. 3º: Absolutamente incapazes:
I) menores de 16 anos (impúberes) 
II) enfermos e deficientes mentais sem discernimento
III) pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir vontade. 
Art. 4º: Relativamente incapazes: 
I) maiores de 16 anos e menores de 18 anos (púberes)
II) ébrios habituais, viciados em tóxicos e pessoas com discernimento reduzido
III) excepcionais sem desenvolvimento completo
IV) pródigos
Lei 13.146/2015
Art. 84: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. 
§1º: Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. 
§2º: É facultado à pessoa com deficiência a adoção do processo de tomada de decisão apoiada. 
§3º A definição de curatela da pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. 
§4º: Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano”.
Art. 85: A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. 
§1º: A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. 
§2º: A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões de sua definição, preservados os interesses do curatelado. 
§3º: No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado. 
Art. 1783-A, CC: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade.
b)Depois do Estatuto das Pessoas com Deficiência - EPD
Art. 3º: Absolutamente incapazes
Caput – menores de 16 anos (impúberes)
Obs.: não existem mais maiores de idade que sejam absolutamente incapazes.
I) Revogado
II) Revogado
III) Revogado
Art. 4º: Relativamente incapazes
I) maiores de 16 anos e menores de 18 anos (púberes)
II) ébrios habituais e viciados em tóxicos 
III) pessoas que, por sua causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir vontade 
IV) pródigos
Os absolutamente incapazes devem ser representados, sob pena de nulidade, absoluta ao ato praticado (art. 166, I, CC). 
Para os relativamente incapazes, há o instituto da assistência, sob pena de nulidade relativa do ato praticado (art. 171, I, CC). 
Art. 3º, caput: há um critério etário de incapacidade absoluta, o que impede de ação específica – não há interdição de menor de idade. 
Cuidado! Os menores impúberes podem praticar atos de menor complexidade, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto (Enunciado 138, III Jornada de Direito Civil – Atos – fatos jurídicos). Exemplo: comprar lanche na cantina da escola. 
Art. 4º, I: há um critério etário de incapacidade relativa, sem ação de interdição. 
Os menores púberes podem praticar atos civis mais complexos, sem assistência, por previsão legal. Exemplos: podem se casar (há autorização especial), fazer testamento, reconhecer filho, ser testemunhas, aceitar mandato extrajudicial (“ad negotia”). 
Em alguns casos, ocorrerá a emancipação do menor de idade (art. 5º, CC).
Art. 166, CC: É nulo o negócio jurídico quando: I) celebrado por pessoa absolutamente incapaz
Art. 171, CC: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I) por incapacidade relativa do agente.
Enunciado 138, III, JDC: “a vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I, do art. 3º é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. 
Art. 5º, CC; a menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único: cessará, para os menores, a incapacidade:
I) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezessete anos completos;
II) pelo casamento;
II) pelo exercício de emprego público efetivo;
IV) pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
2.3.3 Observações Sobre a Emancipação
Com a emancipação, ocorre a antecipação dos efeitos da maioridade para data anterior aos 18 anos, para efeitos civis. 
Cuidado! O menor emancipado continua menor, mas passa a ser um menor capaz (apenas para efeitos civis). 
2.3.4 Modalidades de Emancipação
Voluntária: feita por concessão dos pais (escritura pública), tendo o filho 16 anos completos. 
Judicial: feita por suprimento ao juiz, tendo o menor 16 anos completos. 
Legal
1º) Matrimonial: decorrente do casamento. Tem-se entendido que a união estável não emancipa. 
2º) Exercício de emprego público efetivo
3º) Colação de grau em ensino superior; e
4º) Estabelecimento civil/empresarial do menor ou relação de emprego. Nestes casos, o menor deve ter 16 anos completos e economia própria. É chamada de emancipação profissional ou laboral. 
A emancipação é irrevogável, salvo nos casos de invalidade do casamento. 
O professor entende que, no caso de casamento anulável, também é possível revogar a emancipação, apesar de que tal procedimento é meio raro. 
Art. 4º, II; ébrios habituais (viciados em álcool) e viciados em tóxicos. 
Nestes casos, há necessidade de interdição relativa com laudo médico. A sentença deve apontar quais atos podem ou não podem ser praticados pelo indivíduo. 
Art. 4º, III: pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir vontade (antiga previsão do art. 3º, III, CC). 
Grande problema ao EPD: pessoas em coma profundo e pessoas em estado vegetativo são relativamente capazes. Há o PL 757/2015 que visa a corrigir este erro. 
Atenção! O cego, o surdo-mudo e o senil, em regra, são capazes. Se, entretanto, elas não conseguirem exprimir suas vontades, poderão se enquadrar como relativamente incapazes. 
Art. 4º, IV: pródigos: são as pessoas que gastam de maneira destemperada o seu patrimônio, o que pode reduzi-los à penúria. Ex.: viciado em jogo
Art. 1782,CC: a interdição do pródigo somente diz respeito a atos de disposição direta de bens. Ex.: vender, doar, hipotecar, etc.
Ele pode se casar livremente. 
Em regra, o regime de casamento é o da comunhão de bens, e não o da separação obrigatória, pois ele não consta nos casos do art. 1641, CC. 
Para fazer pacto antenupcial há necessidade de assistência? Há duas correntes sobre o tema: 
1ª) Não. José Fernando Simão defende que não há previsão do pacto no art. 1782, CC. 
2ª) Sim. Esta é a corrente majoritária encabeçada pelo professor Carlos Roberto Gonçalves, o qual defende que a celebração do pacto é tida como ato de “alienar” (especialmente se a comunhão de bens é universal).
No caso de testamento, predomina o entendimento de que o pródigo pode testar, pois é ato “post mortem” e o art. 1782, CC, trata de atos entre vivos. 
2.3.5 Observações Finais Sobre a Teoria das Incapacidades
1º) O ausente era absolutamente incapaz pelo CC/1916. Entretanto, o mesmo não ocorre no CC/2002. 
Ausente é aquele que desapareceu sem deixar notícias (local incerto e não sabido). 
A ausência é uma morte presumida. Ocorre após três fases: curadoria de bens do ausente, sucessão provisória e sucessão definitiva. 
2º) Os indígenas, índios ou silvícolas não são relativamente incapazes pelo CC/2002. O CC/2002 prevê, em seu art. 4º, § único, que a situação dos indígenas será regulada por lei especial. Tal lei existe e é o Estatuto do Índio (Lei 6001/1973). 
Art. 1782, CC: a interdição do pródigo só o provará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. 
Art. 1641, CC: é obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I) das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; 
II) da pessoa maior de 70 (setenta) anos (Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010). 
III) de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. 
Art. 4º, Parágrafo único, CC: a capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. 
Aula 3
1. Pessoa Natural (Continuação)
1.1 Direitos da Personalidade na Perspectiva Civil-Constitucional
Conceito: os direitos da personalidade são aqueles inerentes à pessoa humana e à sua dignidade. 
Observação nº 1: a expressão “inerentes” decorre da adoção da teoria dos direitos inatos ou originários da pessoa humana (Limongi França, Bittar e Maria Helena Diniz). 
Questão nº 1: e a pessoa jurídica? Tem direitos da personalidade por equiparação legal (CC, art. 52). Por isso, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (S. 227, STJ). 
Os danos morais são lesões aos direitos da personalidade, especialmente uma lesão à honra. A honra é classificada em duas modalidades: honra subjetiva: autoestima; honra objetiva: reputação. 
Observação nº 2: a pessoa jurídica só sofre dano moral quanto à honra objetiva, e não quanto à honra subjetiva. 
Art. 52, CC: aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 
Súmula 227, STJ: a pessoa jurídica pode sofrer dano moral. 
O Código Civil de 2002 protege os seguintes direitos da personalidade (CC, arts. 11 a 21): vida, integridade físico-psíquica, nome, honra (subjetiva e objetiva), imagem (retrato-fisionomia – e atributo – repercussão social), intimidade, vida privada e segredo. 
Pessoa jurídica: nome, honra objetiva, imagem (retrato e atributo), e segredo. 
Essa classificação é muito próxima à proposta pelo professor Rubens Limongi França (classificação tripartida). 
Integridade física: vida, corpo vivo, corpo morto, entre outros. 
Integridade moral: nome, honra, imagem, intimidade, entre outros. 
Integridade intelectual: criações, invenções, direitos autorais e intelectuais, entre outros. 
Questão nº 2: os direitos da personalidade previstos no Código Civil de 2002 estão em rol taxativo (“numerus clausus”) ou exemplificativo (“numerus apertus”)? Rol exemplificativo, conforme Enunciado nº 274 – IV Jornada de Direito Civil. Os direitos da personalidade são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana (CF, art. 1º, III). 
Existem direitos da personalidade previstos na CF/88 como direitos fundamentais. Exemplo: art 5º, CF – direitos de autor, privacidade, imagem, etc. 
Existem direitos da personalidade que sequer estão escritos. Exemplo: direito ao esquecimento – nesse sentido, Enunciado nº 531 – VI Jornada de Direito Civil e STJ. 
Enunciado 286, IV JDC: os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. 
Enunciado 531, VI JDC: a tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento. 
RESP nº 1.334.097/RJ (“Linha direta e chacina da Candelária)
Ementa – Recurso Especial. Direito Civil. Constitucional. Liberdade de Imprensa vs. Direitos da personalidade. Litígio de Solução Transversal. Competência do Superior Tribunal de Justiça. Documentário exibido em rede nacional. Linha Direta – Justiça. Sequência de homicídios conhecida como chacina da Candelária. Reportagem que reacende o tema treze anos depois do fato. Veiculação inconsentida de nome e imagem de indiciado nos crimes. Absolvição posterior por negativa de autoria. Direito ao esquecimento dos condenados que cumpriram pena e dos absolvidos. Acolhimento. Decorrência da proteção legal e constitucional da dignidade da pessoa humana e das limitações positivadas à atividade informativa. Presunção legal e constitucional de ressocialização da pessoa. Ponderação de valores. Precedentes de direito comparado. 1) Avulta a responsabilidade do Superior Tribunal de Justiça em demandas cuja solução é transversal, interdisciplinar, e que abrange, necessariamente, uma controvérsia constitucional oblíqua, antecedente ou inerente apenas à fundamentação do acolhimento ou rejeição de ponto situado no âmbito do contencioso infraconstitucional, questões essas que, em princípio, não são apreciadas pelo Supremo Tribunal Federal. 2) Nos presentes autos, o cerne da controvérsia passa pela ausência de contemporaneidade da notícia de fatos passados, que reabriu antigas feridas já superadas pelo autor e reacendeu a desconfiança da sociedade quanto à sua índole. O autor busca a proclamação do seu direito ao esquecimento, um direito de não ser lembrado contra sua vontade, especificamente no tocante a fatos desabonadores, de natureza criminal, nos quais se envolveu, mas que posteriormente, fora inocentado. 3) No caso, o julgamento restringe-se a analisar a adequação do direito ao esquecimento ao ordenamento jurídico brasileiro, especificamente para o caso de publicações na mídia televisiva, porquanto o mesmo debate ganha contornos bem diferenciados quando transposto para internet, que desafia soluções de índole técnica, com atenção, por exemplo, para a possibilidade de compartilhamento de informações e circulação internacional do conteúdo, o que pode tangenciar temas sensíveis, como a soberania dos Estados-nações. 4)Um dos danos colaterais da “modernidade líquida” tem sido a progressiva eliminação da “divisão, antes sacrossanta, entre as esferas do ‘privado’ e do ‘público’ no que se refere à ‘vida humana’, de modo que, na atual sociedade da hiperinformação, parecem evidentes os ‘riscos terminais à privacidade e à autonomia individual, emanados da ampla abertura da arena pública aos interesses privados (e também o inverso), e sua gradual mas incessante transformação numa espécie de teatro de variedades dedicado à diversão ligeira” (Brauman, Zugmunt. Danos colaterais: desigualdades sociais numa era global. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, pp.111-113). Diante dessas preocupantes constatações, o momento é de novas e necessárias reflexões, das quais podem mesmo advir novos direitos ou novas perspectivas sobre velhos direitos revisitados. 5) Há um estreito e indissolúvel vínculo entre a liberdade de imprensa e todo e qualquer Estado de Direitoque pretensa se autoafirmar como Democrático. Uma imprensa livre galvaniza contínua e diariamente os pilares da democracia, que, em boa verdade, é projeto para sempre inacabado e que nunca atingirá um ápice de otimização a partir do qual nada se terá a agregar. Esse processo interminável, do qual não se pode descurar nem o povo, nem nas instituições democráticas -, encontra na imprensa livre um vital combustível para sua sobrevivência, e bem por isso que a mínima cogitação em torno de alguma limitação da imprensa traz naturalmente consigo reminiscências de um passado sombrio, de descontinuidade democrática. 6) Não obstante o cenário de perseguição e tolhimento pelo qual passou a imprensa brasileira em décadas pretéritas, e a par de sua inegável virtude histórica, a mídia do século XXI deve fincar a legitimação de sua liberdade em valores atuais, próprios e decorrentes diretamente da importância e nobreza da atividade. Os antigos fantasmas da liberdade de imprensa, embora deles não se possa esquecer jamais, atualmente, não autorizam a atuação informativa desprendida de regras e princípios a todos impostos. 7) Assim, a liberdade de imprensa há de ser analisada a partir de dois paradigmas jurídicos bem distantes um do outro. O primeiro, de completo menosprezo tanto da dignidade da pessoa humana quanto da liberdade de imprensa; e o segundo, o atual, de dupla tutela constitucional de ambos os valores. 8) Nesse passo, a explícita contenção constitucional à liberdade de informação, fundada na inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra, imagem e, de resto, nos valores da pessoa e da família, prevista no art. 220, §1º, art. 221 e no §3º do art. 222 da Carta de 1988, parece sinalizar que, no conflito aparente entre esses bens jurídicos de especialíssima grandeza, há, de regra, uma inclinação ou predileção constitucional para soluções protetivas da pessoa humana, embora o melhor equacionamento deva sempre observar as particularidades do caso concreto. Essa constatação se mostra consentânea com o fato de que, a despeito de a informação livre de censura ter sido inserida no seleto grupo dos direitos fundamentais (art. 5º, inciso IX, a Constituição Federal mostrou sua vocação antropocêntrica no momento em que gravou, já na porta de entrada (art. 1º, inciso III), a dignidade da pessoa humana como – mais que um direito – um fundamento da República, uma lente pela qual devem ser interpretados os demais direitos posteriormente reconhecidos. Exegese dos arts. 11, 20 e 21 do Código Civil de 2002. Aplicação da filosofia kantiana, base da teoria da dignidade da pessoa humana, segundo a qual o ser humano tem um valor em si que supera o das “coisas humanas”. 9) Não há dúvida de que a história da sociedade é patrimônio imaterial do povo e nela se inserem os mais variados acontecimentos e personagens capazes de revelar, para o futuro, os traços políticos, sociais ou culturais de determinada época. Todavia, a historicidade da notícia jornalística, em se tratando de jornalismo policial, há de ser vista com cautela. Há, de fato, crimes históricos e criminosos famosos, mas também há crimes e criminosos, que se tornaram artificialmente históricos e famosos, obra da exploração midiática exacerbada e de um populismo penal satisfativo dos prazeres primários das multidões, que simplifica o fenômeno criminal: às estigmatizadas figuras do “bandido” vs. “cidadão de bem”. 10) É que a historicidade de determinados crimes por vezes é edificada à custa de vários desvios de legalidade, por isso não deve constituir óbice em si intransponível ao reconhecimento de direitos como o vindicado nos presentes autos. Na verdade, a permissão ampla e irrestrita a que um crime e as pessoas nele envolvidas sejam retratados indefinidamente no tempo – a pretexto da historicidade do fato – pode significar permissão de um segundo abuso à dignidade humana, simplesmente porque o primeiro já fora cometido no passado. Por isso, nesses casos, o reconhecimento do “direito ao esquecimento” pode significar um corretivo – tardio, mas possível – das vicissitudes do passado, seja de inquéritos policiais ou processos judiciais pirotécnicos e injustos, seja da exploração populista da mídia. 11) É evidente o legítimo interesse público em que seja dada publicidade da resposta estatal ao fenômeno criminal. Não obstante, é imperioso também ressaltar que o interesse público – além de ser conceito de significação fluida – não coincide com o interesse do público, que é guiado, no mais das vezes, por sentimento de execração pública, praceamento da pessoa humana, condenação sumária e vingança continuada. 12) Assim como é acolhido no direito estrangeiro, é imperiosa a aplicabilidade do direito ao esquecimento no cenário interno, com base não só na principiologia decorrente dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana, mas também diretamente no direito positivo infraconstitucional. A assertiva de que uma notícia lícita não se transforma em ilícita com o simples passar do tempo não tem nenhuma base jurídica. O ordenamento é repleto de previsões em que a significação conferida pelo Direito à passagem do tempo é exatamente o esquecimento e a estabilização do passado, mostrando-se ilícito sim reagitar o que a lei pretende sepultar. Precedentes de direito comparado. 13) Nesse passo, o Direito estabiliza o passado e confere previsibilidade ao futuro por institutos bem conhecidos de todos: prescrição, decadência, perdão, anistia, irretroatividade da lei, respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada, prazo máximo para que o nome de inadimplentes figure em cadastros restritivos de crédito, reabilitação penal e o direito ao sigilo quanto à folha de antecedentes daqueles que já cumpriram pena (art. 93 do Código Penal, art. 748 do Código de Processo Penal e art. 202 da Lei de Execuções Penais). Doutrina e precedentes. 14) Se os condenados que já cumpriram a pena têm direito ao sigilo da folha de antecedentes, assim também a exclusão dos registros da condenação no instituto de identificação, por maiores e melhores razões aqueles que foram absolvidos não podem permanecer com esse estigma, conferindo-lhes a lei o mesmo direito de serem esquecidos. 15) Ao crime, por si só, subjaz um natural interesse público, caso contrário nem seria crime, e eventuais violações de direito resolver-se-iam nos domínios da responsabilidade civil. E esse interesse público, que é, em alguma medida, satisfeito pela publicidade do processo penal, finca raízes essencialmente na fiscalização social da resposta estatal que será dada ao fato. Se é assim, o interesse público que orbita o fenômeno criminal tende a desaparecer na medida em que também se esgota a resposta penal conferida ao fato criminoso, a qual, certamente, encontra seu último suspiro, com a extinção da pena ou com a absolvição, ambas consumadas irreversivelmente. E é nesse interregno temporal que se perfaz também a vida útil da informação criminal, ou seja, enquanto durar a causa que a legitimava. Após essa vida útil da informação seu uso só pode ambicionar, ou um interesse histórico, ou uma pretensão subalterna, estigmatizante, tendente a perpetuar no tempo as misérias humanas. 16) Com efeito, o reconhecimento do direito ao esquecimento dos condenados que cumpriram integralmente a pena e, sobretudo, dos que foram absolvidos em processo criminal, além de sinalizar uma evolução cultural da sociedade, confere concretude a um ordenamento jurídico que, entre a memória – que é a conexão do presente com o passado – e a esperança – que é o vínculo do futuro com o presente – fez clara opção pela segunda. E é por essa ótica que o direito ao esquecimento revela sua maior nobreza, pois afirma-se, na verdade, como um direito à esperança, em absoluta sintonia com a presunção legal e constitucional de regenerabilidade da pessoa humana. 17) Ressalvam-se do direito ao esquecimento os fatos genuinamente históricos – historicidade, essa que deve ser analisada em concreto -, cujo interesse público e social deve sobreviver à passagemdo tempo, desde que a narrativa desvinculada dos envolvidos se fizer impraticável. 18) No caso concreto, a despeito de a Chacina da Candelária ter se tornado – com muita razão – um fato histórico, que expôs as chagas do País ao mundo, tornando-se símbolo da precária proteção estatal conferida aos direitos humanos da criança e do adolescente em situação de risco, o certo é que a fatídica história seria bem contada e de forma fidedigna sem que para isso a imagem e o nome do autor precisassem ser expostos em rede nacional. Nem a liberdade de imprensa seria tolhida, nem a honra do autor seria maculada, caso se ocultassem o nome e a fisionomia do recorrido, ponderação de valores que, no caso, seria a melhor solução ao conflito. 19) Muito embora tenham as instâncias ordinárias reconhecido que a reportagem se mostrou fidedigna com a realidade, a receptividade do homem médio brasileiro a noticiários desse jaez é apta a reacender a desconfiança geral acerca da índole do autor, o qual, certamente, não teve reforçada sua imagem de inocentado, mas sim a de indiciado. No caso, permitir nova veiculação do fato, com a indicação precisa do nome e imagem do autor, significaria a permissão

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