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Fisiopatologia do hipotireoidismo 1. Hipotireoidismo ➔ Assim como o hipertireoidismo, é provavelmente iniciado por autoimunidade contra a tireoide (doença de Hashimoto), mas imunidade que destrói a glândula em vez de estimulá-la, que é o que ocorre no hipertireoidismo. A maioria apresenta tireoidite autoimune. Causa deterioração progressiva e fibrose da glândula, resultando em diminuição ou ausência da secreção do hormônio tireoidiano. Muitos outros tipos de hipotireoidismo podem ocorrer associados ao aumento da glândula (bócio). ➔ Bócio Coloide Endêmico Causado por Deficiência Dietética de Iodeto: Bócio significa o grande aumento da tireoide. Cerca de 50 mg de iodo/ano são necessários para a formação de quantidade adequada de hormônio. Em certas regiões do mundo (Alpes Suíços, Andes e região dos Grandes Lagos nos Estados Unidos) existe quantidade insuficiente de iodo no solo, de modo que os alimentos não possuem sequer essa minúscula quantidade. Antes do sal de cozinha iodado, muitas pessoas que viviam nessas áreas desenvolviam tireoides muito aumentadas (bócios endêmicos). ➔ Mecanismo de desenvolvimento de grandes bócios: a falta de iodo impede a produção tanto de tiroxina quanto de triiodotironina; não há hormônios disponíveis para inibir a produção de TSH pela hipófise anterior, que passa a secretar quantidade excessiva desse hormônio. TSH estimula as céls tireoidianas a secretar grande quantidade de coloide de tireoglobulina nos folículos e a glândula fica maior. Devido à falta de iodo, a produção de tiroxina e triiodotironina não ocorre na molécula de tireoglobulina e não causa a supressão normal da produção de TSH pela hipófise anterior. Os folículos aumentam e a tireoide pode aumentar até 10 a 20 vezes. ➔ Bócio Coloide Atóxico Idiopático: pode ocorrer em pessoas que não apresentam deficiência de iodo. Glândulas aumentadas podem secretar quantidade normal de hormônios tireoidianos; entretanto, com mais frequência, sua secreção é reduzida, como no bócio coloide endêmico. A causa exata do aumento da tireoide, nesse caso, não é conhecida, mas a maioria desses pacientes apresenta sinais de tireoidite leve; sugeriu-se que a tireoidite provoca ligeiro hipotireoidismo que leva então ao aumento da secreção de TSH e ao crescimento progressivo das porções não inflamadas da glândula; poderia explicar por que essas glândulas são em geral nodulares, com o crescimento de algumas porções da glândula, enquanto outras são destruídas pela tireoidite. ➔ Em pessoas com bócio coloide, tireoide apresenta anormalidade no sistema enzimático de formação dos hormônios. Entre as anormalidades pode-se citar: 1) Deficiência do mecanismo de captação de iodeto (não é bombeado adequadamente); 2) Deficiência do sistema da peroxidase (iodetos não são oxidados em iodo); 3) Deficiência da conjugação de tirosinas iodadas na molécula de tireoglobulina (hormônios tireoidianos finais não podem ser formados); 4) Deficiência da enzima deiodinase (impede recuperação do iodo das tirosinas iodadas, que representam cerca de dois terços do iodo, levando à deficiência de iodo); ➔ Alguns alimentos contêm substâncias bociogênicas com atividade antitireoidiana, semelhante ao propiltiouracil (gera aumento da tireoide estimulado pelo TSH). Essas substâncias são encontradas em algumas variedades do nabo e do repolho. ➔ Características Fisiológicas do Hipotireoidismo: Causado por tireoidite, bócio coloide endêmico, bócio coloide idiopático, destruição da tireoide por radiação ou remoção cirúrgica da glândula, provoca os mesmos efeitos fisiológicos. ➢ Gera fadiga e sonolência extrema (12 a 14 horas de sono/dia), extrema lentidão muscular, redução da FC, do DC e do volume sanguíneo, possível aumento de peso, constipação, lentidão mental, insuficiência de muitas funções tróficas do organismo (redução do crescimento do cabelo e descamação da pele, desenvolvimento de rouquidão e, em casos graves, de aparência edematosa em todo o corpo – mixedema). ➢ Mixedema: desenvolve no paciente com ausência quase total da função do hormônio tireoidiano. Flacidez sob os olhos e inchaço na face. Por motivos não explicados, quantidade muito aumentada de ácido hialurônico e sulfato de condroitina, ligados a proteínas, forma excesso de gel tecidual nos espaços intersticiais, aumentando a quantidade total do líquido intersticial. Como é um gel, é essencialmente imóvel e o edema é deprimível. ➢ Aterosclerose no Hipotireoidismo: falta de hormônio tireoidiano aumenta a concentração sanguínea de colesterol, devido à alteração do metabolismo dos lipídios e do colesterol e à redução de sua excreção hepática na bile. A elevação do colesterol sanguíneo está geralmente associada ao aumento da aterosclerose. Muitos pacientes com hipotireoidismo, particularmente os com mixedema, desenvolvem Fisiopatologia do hipotireoidismo aterosclerose, que resulta em doença vascular periférica, surdez e doença arterial coronariana, com redução da expectativa de vida. ➢ Exames Diagnósticos no Hipotireoidismo: Concentração sanguínea de tiroxina livre é baixa. O metabolismo basal no mixedema, varia entre -30 e -50 e a secreção de TSH pela hipófise anterior, quando administrado TRH, fica em geral muito aumentada (exceto nos raros casos de hipotireoidismo causado por redução da resposta da hipófise ao TRH). ➢ Tratamento do Hipotireoidismo. A duração da ação do hormônio é, normalmente, maior que 1 mês. Assim, é fácil manter nível estável de atividade hormonal no organismo, pela ingestão oral de um ou mais comprimidos contendo tiroxina. Tratamento adequado do paciente com hipotireoidismo resulta em normalidade completa. ➢ Cretinismo: causado por hipotireoidismo extremo em fetos, bebês ou crianças. Se caracteriza pela deficiência do crescimento corporal e por retardo mental. Resulta da ausência congênita da tireoide (cretinismo congênito), de sua incapacidade de produzir hormônio tireoidiano por defeito genético, ou da ausência de iodo na dieta (cretinismo endêmico). A gravidade do endêmico varia muito, conforme o grau de iodo na dieta; populações inteiras de região geográfica endêmica de solo deficiente em iodo, apresentaram tendências cretinoides. ➔ Neonato sem tireoide pode ter aparência e função normais, por haver recebido alguma quantidade (geralmente insuficiente) de hormônio materno. Algumas semanas após o nascimento, os movimentos do passam a ser lentos e o desenvolvimento físico e mental ficam retardados. Tratamento, em qualquer momento, do neonato com cretinismo por meio de Fisiopatologia do hipotireoidismo quantidades adequadas de iodo ou tiroxina, geralmente provoca a normalização; a menos que o cretinismo seja tratado a partir de algumas semanas após o nascimento, o desenvolvimento mental permanece retardado de forma permanente devido ao retardo no crescimento, ramificação e mielinização das céls neuronais. ➔ Crescimento esquelético da criança com cretinismo está caracteristicamente mais inibido que o do tecido mole. Como resultado dessa desproporcionalidade, os tecidos moles apresentam probabilidade de crescer excessivamente, dando à criança aparência obesa, estrutura brevilínea e baixa estatura. A língua pode se tornar tão grande em relação ao crescimento esquelético, que obstrui a deglutição e a respiração, induzindo respiração gutural característica, que às vezes sufoca a criança. ➔ Sintomas clínicos do hipotireoidismo primário, geralmente por doença autoimune, evoluem de maneira insidiosa ao longo de vários anos. O seguimento do TSH elevado apresenta risco de desenvolvimento de hipotireoidismo em mulheres. Manifestações clínicas se distribuem numa ampla gama de sinais e sintomas, que podem se apresentar isoladamente ou em combinaçõese intensidade diversas. Sinal clínico com importante valor diagnóstico no hipotireoidismo é a alteração do reflexo de Aquiles. Os sintomas referidos pelos indivíduos idosos, faixa etária de maior incidência, merecem ser valorizados. ➔ Mulheres em idade fértil que apresentam sintomas de distúrbio menstrual e de infertilidade devem ser investigadas bioquimicamente para hipotireoidismo, assim como todos pacientes com hipercolesterolemia. Pelo fato de que muitos dos sintomas no hipotireoidismo, principalmente na fase inicial da doença, são queixas comuns (por exemplo, como fadiga, cansaço, pele seca, ganho de peso), mesmo em indivíduos eutireoidianos, a alteração da função tireoidiana só pode ser confirmada pela dosagem de TSH. ➔ Recomendação: deve investigar bioquimicamente para hipotireoidismo todos os pacientes que apresentam isoladamente ou em combinação as manifestações citadas no quadro clínico, além de mulheres com distúrbios menstruais e de infertilidade e portadores de hipercolesterolemia. ➔ O TSH é o exame de escolha utilizado no rastreamento para disfunção tireoidiana. É possível detectar alterações mínimas ou subclínicas de deficiência de hormônios tireoidianos com a dosagem sérica do TSH. Não necessita de outro exame e pode confirmar a disfunção tireoidiana. ➔ Os novos métodos para dosar TSH são baseados em ensaios imunométricos não isotópicos (IMA). Os ensaios com IMA utilizam anticorpos monoclonais que eliminam reação cruzada com outras glicoproteínas. Estes métodos, entretanto, podem detectar epítopos de isoformas anormais de TSH secretadas por alguns indivíduos eutireoidianos ou pacientes com alguma disfunção hipofisária ou hipotalâmica. Não se deve centrar a estratégia diagnóstica apenas na dosagem de TSH, porque neste caso, o eixo hipotálamo-hipófise- tireoide teria que estar sempre intacto e normal. A dosagem do TSH e do T4 L é importante para afastar alterações hipofisárias não dependentes de disfunção tireoidiana, como uso de dopamina, corticoides e doenças hipofisárias ou hipotalâmicas. ➔ Deve-se confirmar elevação do TSH com um segundo exame, principalmente se não houver alteração do T4 L, pela incidência variável de reversão do TSH elevado para TSH normal, como ocorre espontaneamente em doença sistêmica prévia, tireoidite subaguda e uso de alguns medicamentos, como glicocorticoides, somatostatina, dopamina etc. ➔ Recomendação: métodos de análise permitem uma utilização conveniente e econômica do TSH e do T4L para o diagnóstico de hipotireoidismo. Já, para o rastreamento de hipotireoidismo, o TSH é suficiente. ➔ A ultrassonografia, tanto a convencional (US) quanto a ultrassonografia com Doppler (US/Doppler), tem sido desenvolvida como método simples, não-invasivo, reprodutível e com alta sensibilidade para o diagnóstico das doenças da tireoide. ➔ Tireoidites autoimunes podem recuperar-se espontaneamente, sem complicações. Em alguns casos, evoluem para hipotiroidismo seis meses após a fase aguda. Acompanhamento com US e/ou US/Doppler é útil na detecção destes pacientes com maior risco de desenvolver hipotireoidismo após as tireoidites. Se o aumento do volume da tireoide na fase aguda tiver mais que 5 cm de diminuição no seguimento, temos possibilidade de desenvolvimento de hipotireoidismo, com ph menor que 0,05. ➔ Outra característica avaliada é a ecogenidade. A presença de hipoecogenidade teve valor preditivo positivo de 94% para hipotireoidismo clínico e 96% para qualquer tipo de hipotireoidismo. ➢ Ecogenidade normal teve valor preditivo negativo para hipotireoidismo de 91%. A sensibilidade depende da mudança da ecogenidade. o Ecogenicidade grau 1 (normal): ecogenicidade da tireoide semelhante à glândula submandibular e hiperecóica em relação aos músculos do pescoço. Especificidade de 82%, vpp de 78% e vpn de 91%. o Ecogenicidade grau 2: tireoide hipoecóica em relação à glândula submandibular e hiperecóica em relação aos músculos do pescoço. Sensibilidade de 84%, especificidade de 82%, vpp de 87% e vpn de 78%. o Ecogenicidade grau 3: hipoecóica em relação aos músculos do pescoço. Sensibilidade de 56%, especificidade de 96%, vpp de 95% e vpn de 61%. Fisiopatologia do hipotireoidismo ➔ Pacientes com hipotireoidismo também necessitam fazer US e/ou US/Doppler para avaliação de associação com doença nodular da tireoide. A associação de Hashimoto e câncer diferenciado da tireoide é de 23,8%, contra somente 6,7% de doença nodular benigna. Portanto, o seguimento ultrassonográfico de portadores de hipotireoidismo após tireoidite de Hashimoto permite diagnóstico precoce de câncer de tireoide.. ➔ Diagnóstico de hipotireoidismo central (HC): Apesar do HC ter uma prevalência baixa, 1:150.000, na presença de sintomas sugestivos de hipotireoidismo, mesmo com níveis séricos de TSH não elevados, devemos dosar T4 L para diagnóstico de provável de HC. Pacientes com HC apresentam clínica de hipotireoidismo e exames laboratoriais apresentando níveis séricos baixos de T4 L, sem elevação dos níveis séricos de TSH ou com elevação inapropriadamente baixa do TSH. O TSH tem atividade biológica diminuída, não tem ritmo circadiano, mas mantém a sua imunoatividade. O T4L é o melhor indicador de HC, geralmente encontra-se reduzido, entretanto em até um terço dos casos pode estar normal. ➢ Em pacientes com doença hipotalâmica ou hipofisária, o controle da reposição de T4 deve ser feito unicamente pela medida dos hormônios livres, não existindo papel para o TSH sérico. ➢ Pacientes com HC apresentam, com frequência, deficiência de outras trofinas hipofisárias (outros hormônios hipofisários devem ser avaliados). ➔ Recomendação: Para diagnóstico de HC, deve-se dosar o T4 L, na presença de um achado de TSH sem elevação, em paciente com quadro clínico suspeito de hipotireoidismo. Paciente deve ser tratado com reposição de hormônio da tireoide e seguido somente com dosagens de T4 L, sem necessidade de solicitar o TSH no acompanhamento.
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