Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resenha: O Contrato Social de Jean- Jacques Rousseau (Livro II - capítulos I a IV e VI a X) PARTE 4 Capítulo VI: da lei. Para unir direitos e deveres, são necessárias convenções; porque os homens não são capazes de receber toda a justiça de Deus. As leis do contrato social possuem finalidades gerais, e as leis não julgam o indivíduo em particular ou atitudes particulares, e, sendo as leis de vontade geral não compete à ninguém fazê-las. A necessidade de um legislador nasce no instante em que se vê que é preciso que os homens sejam instruídos e que precisa reconhecer, mesmo que pela força, aquilo que quer. O capítulo VII falará melhor sobre esse legislador. Seriam precisos deuses para dar as leis aos homens, já que, para ser legislador precisaria ter uma inteligência superior e conhecer o homem sem estar exatamente como ele, sem ter relação com a sua natureza. Mas é preciso que o legislador esteja disposto a transformar os homens, privando o homem das forças que lhes são próprias, dando-lhes outras em troca, nas quais não possa usar sem o auxílio de outro, de forma que se fortaleça as forças adquiridas. O legislador não deve ter qualquer direito legislativo e o povo, mesmo que queira, não pode se privar deste. O oitavo capítulo, Rousseau dedica a escrever sobre o povo. O povo é uma instituição que só é dócil enquanto jovem, porque desde que são mais velhos e possuem costumes e preconceitos fortemente enraizados, não suportam reformas posteriores. O autor diz que, em alguns Estados, crises e guerras civis foram capazes de fazer o povo renascer à sua juventude, esquecendo o passado, porém, é uma raridade. Tais crises possuem grande potencial devastador, e com a energia civil já gasta, o povo preferirá um senhor e não um libertador. Sendo assim, a liberdade pode se adquirir, mas nunca retomar. O capítulo IX indica os limites da amplitude do Estado, tal qual a estatura dos homens. Um estado pequeno é mais forte e vantajoso do que um grande. Isso porque a administração fica totalmente comprometida. Uma série de dificuldades que envolvem encargos, distâncias, relações políticas, etc. são aquilo que potencialmente faz com que o estado seja esmagado pelo próprio peso. Assim, o autor evidencia que, antes de qualquer coisa, é necessário estabelecer uma base, de forma a confiar no vigor de um bom governo em vez de pensar nas vantagens de um grande território. No capítulo X, o autor indica qual seria o povo mais apropriado para a legislação: aquele que não possui costumes ou superstições enraizadas, que não tema ser vencido em uma invasão repentina, que pode resistir sozinho sem tomar o que é de seus vizinhos, conhecido por cada um de seus membros, onde um homem não precise carregar fardos demais acima do que pode, que pode passar sem outros povos sem que o dispensem; nem rico nem pobre, mas que consiga bastar-se a si mesmo. A leitura do Contrato social, no que diz respeito ao conceito de democracia representativa no Brasil - e por que não, no mundo? -, faz-se essencial e importante porque a problemática continua sendo de íntima atualidade. Embora Rousseau pareça um tanto ingênuo diante de suas alegações acerca da natureza humana e da maneira como se faz o contrato social, não parece apontar formas tão concretas de como tornar os homens, no contexto de uma coletividade, como sendo responsáveis pela vida política que diz respeito à todos. Forçar os outros a serem livres através de instrução ou qualquer coisa não parece indicar solução mais favorável, mas também pode abrir caminho para discursos que, em nome da liberdade, possam se impor aos povos de forma autoritária. Talvez, por dar preferência também a não discorrer sobre o sentido de liberdade em seus textos tenha pecado um pouco e não dado tanta atenção ao contexto social quanto este merecia, afinal, a lógica de Rousseau parte de uma premissa pura e especulativa de que um dia os homens se encontraram sozinhos para, depois, a partir de um contrato, unirem-se diante das convenções. Possivelmente, a obra de Jean-Jacques Rousseau diga mais sobre seu ideal modelo de convenção que sobre uma sociedade real.
Compartilhar