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Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 92 AULA 01 – Contas Nacionais SUMÁRIO RESUMIDO PÁGINA 1.8.2. Investimento = poupança 02 1.9. Déficit público 03 1.10. Diferentes conceitos de produto 05 1.11. Mensurando o PIB 09 1.12. Excedente operacional bruto (EOB) 15 1.13. Carga tributária bruta e líquida 16 1.14. Problemas com o uso do PIB 17 1.15. O Sistema de Contas Nacionais (SCN) 20 1.16. Bizús e memento 27 1.17. Exercícios comentados 30 Lista de questões apresentadas na aula 74 Gabarito 92 Olá caros(as) amigos(as), Oficialmente, iniciamos hoje nosso curso de Macroeconomia para STN. Se você está lendo esta aula, é porque certamente está acreditando em nosso trabalho realizado aqui no Estratégia Concursos, e sou profundamente grato por isto. Prometo não decepcioná-los. Ao fim do curso, vocês terão se tornado verdadeiros acertadores de questões de Macroeconomia, ok?! Agora, vamos falar da nossa aula. Continuaremos tratando sobre o assunto Contas Nacionais exatamente do ponto onde paramos na aula demonstrativa. E digo para vocês o seguinte: o tema Contas Nacionais é assunto certo na sua prova, ainda mais em se tratando de provas aplicadas pela ESAF. Com absoluta certeza, é o assunto mais importante do edital de Macroeconomia. Também acho importante salientar que a presente aula é a mais longa e também está entre as duas mais difíceis do curso. Junto com a aula 08 (Crescimento Econômico), considero as “Contas Nacionais” como um dos assuntos mais “enjoados” do edital. Isto acontece não porque o assunto seja difícil em si, mas sim porque é muita coisa, muito detalhe para decorar. É preciso estar atento e as coisas começam a se esclarecer apenas a partir de uma segunda lida e depois de fazer muitos exercícios. Desde já, acho importante alertá-los quanto a isto, ok?! Nesta aula, comentarei as questões do concurso do MDIC, aplicado pela ESAF em Maio/2012. Neste certame, houve uma área (Grupo 02) na qual a ESAF focou a preparação do candidato em temas de Economia. Na prova de conhecimentos específicos para este grupo, caiu Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 92 Microeconomia, Macroeconomia, Desenvolvimento Econômico e Contabilidade Nacional; sendo que esta última era uma disciplina isolada, com 15 questões. Ou seja, a profundidade com que as questões de Contas Nacionais foram cobradas pela ESAF no MDIC dificilmente se repetirá no concurso da STN. No entanto, mesmo assim, vamos nos aventurar e comentar praticamente todas as questões de Contas Nacionais do concurso do MDIC. Só deixarei de fora aquelas que tratam de assuntos que extrapolam bastante o edital da STN (exemplo: não abordarei as questões sobre a matriz de insumos de Leontief – embora seja possível, é bastante difícil de imaginar sua cobrança no concurso da STN). Desta forma, se você estudar bem a aula e fizer os exercícios, estará bastante tranquilo no que tange às contas nacionais, pois as questões de contas nacionais cobradas no MDIC possuem um nível acima do que deve cair na prova da STN. E aí, todos prontos? Então, vamos aos estudos! 1.8.2. INVESTIMENTO=POUPANÇA Numa economia fechada e sem governo (não tem G nem X–M na despesa agregada), a produção (P) de bens finais terá apenas duas utilizações: ou será consumida pelas famílias (consumo das famílias) ou será acumulada pelas empresas, como investimentos (sob a forma de bens de capital e/ou de variação de estoques). Assim: P = C + I Por outro lado, sabe-se que a renda (R) da economia tem duas utilizações: ou é apropriada para consumo (C) ou vira poupança (S). Assim: R = C + S Como sabemos, produto=renda=despesa, logo, P será igual a R: P = R C + I = C + S I = S Portanto, sabemos que as poupanças realizadas pelas famílias é que financiam os investimentos totais realizados pelas empresas. Se supusermos agora que estamos em uma economia completa (aberta e com governo), teremos as seguintes expressões, muito cobrada em provas: Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 92 I = SP + SG + SEXT FBKF + ΔE = SP + SG + SEXT Como SP+SG=SINT(poupança interna), podemos ainda definir assim: I = SINT + SEXT FBKF + ΔE = SINT + SEXT Assim, vemos que são as poupanças que financiam os investimentos da economia. Parte desses investimentos é financiada pela poupança privada, parte pela poupança pública e parte pela poupança externa. Os recursos das poupanças são convertidos em investimentos por intermédio do sistema financeiro. A renda não consumida pelos agentes é aplicada na aquisição de ativos financeiros que rendem juros. As instituições financeiras, por sua vez, utilizam os recursos captados para emprestar às empresas, que podem efetuar esses investimentos. No caso da poupança total (SP + SG + SEXT) ser maior que o investimento total (FBKF + ΔE), temos capacidade de financiamento. Por outro lado, se investimentos totais são maiores que a poupança total, temos necessidade de financiamento. Assim: S > I capacidade de financiamento, I > S necessidade de financiamento. .... A partir daqui, continuamos o assunto da aula demonstrativa: 1. 9. DÉFICIT PÚBLICO (DP) No item 1.3, consumo, nós vimos que os gastos do governo com investimentos (despesas de capital) não são contabilizados como consumo do governo (G), mas sim como investimentos (I). Desta forma, além da divisão habitual do agregado investimento em FBKF e ΔE, podemos dividi-lo também em IP e IG (investimento privado e investimento público). Assim: I = IP + IG ou I = FBKF + ΔE O déficit público (ou déficit orçamentário), em contas nacionais, significa o excesso de investimentos públicos sobre a poupança pública. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 92 Então, como déficit público(DP)=IG–SG; I=SP+SG+SEXT e I=IP+IG, então: IP + IG = SP + SG + SEXT IG – SG = SP – IP + SEXT DP = (SP – IP) + SEXT Assim, pela ótica da contabilidade nacional, o déficit público é financiado, em parte, pelo excesso de poupança privada sobre o investimento privado e, em outra parte, pela poupança externa (=déficit no balanço de pagamentos em transações correntes). Veja que chegamos a uma afirmação estranha, mas que é correta: o déficit público é financiado em uma parte pelo déficit do balanço de pagamento em transações correntes (Verdadeiro). Caiu na prova: 01. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional – 2012) - Em uma economia fechada e com o governo, os investimentos privados e públicos e os gastos correntes das administrac ̧ões públicas devem ser financiados pela poupançaprivada e pelas receitas líquidas do governo. Comentários: Questão difícil, cobrada em prova específica do MDIC (área 02). Em uma economia fechada e com o governo, teremos o seguinte, a partir da identidade macroeconômica entre investimento e poupança: IP + IG = SP + SG (1) Sabemos1 que SG = (II + ID + ORG) – (Transf + Sub + G) (2) Como RLG (receita líquida do governo) = II + ID + ORG – Transf – Sub Então, substituindo RLG em (2): SG = RLG – G Agora, substituímos SG em (1): IP + IG = SP + RLG – G IP + IG + G = SP + RLG 1 Ver aula 00, página 21. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 92 A expressão acima nos mostra que os investimentos privados (IP) e públicos (IG) e os gastos correntes do governo (G) são financiados pela poupança privada (SP) e pelas receitas líquidas do governo (RLG). Portanto, está certa a assertiva. Gabarito: Certo 02. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional – 2012) - Em uma economia fechada e com o governo, mesmo que exista poupanc ̧a pública positiva, existirá déficit orçamentário toda vez que a poupanc ̧a pública for inferior ao investimento público. Comentários: Outra assertiva difícil! O déficit orçamentário (ou déficit público) é igual ao excesso de investimentos públicos (IG) sobre a poupança pública (SG). Assim: DP = IG – SG Então, se IG>SG, necessariamente, haverá um déficit público ou orçamentário, mesmo que o valor de SG seja positivo. Gabarito: Certo 1.10. DIFERENTES CONCEITOS DE PRODUTO 1.10.1. Produto INTERNO X NACIONAL Interno dá a ideia de interior, de algo que é produzido dentro de algo. Nacional dá a ideia de nação, de algo que é produzido por uma nação. Pois bem, o produto interno é uma medição do produto que leva em conta aspectos geográficos, isto é, contabiliza tudo que é produzido dentro do país, no interior de suas fronteiras, não importando por quem seja. O produto nacional é uma medição do produto que leva em conta aspectos nacionais, isto é, contabiliza tudo que é produzido por nacionais, não importando se estão dentro ou fora do país. O que difere um conceito do outro é a renda que se envia ao exterior e a renda que se recebe do exterior. Vale lembrar que renda Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 92 significa soma de remunerações de fatores de produção. Por exemplo, aqui no Brasil, há inúmeras empresas cujos fatores de produção (capital, mão-de-obra, tecnologia) pertencem a outros países (Hyundai, Microsoft, Adidas, BMW, etc). De tempos em tempos, as filiais dessas multinacionais que estão aqui instaladas enviam rendas para as suas matrizes localizadas no resto do mundo. De acordo com a metodologia do produto interno, essas rendas enviadas devem ser contabilizadas no produto, pois foram originadas por fatores de produção instalados em território brasileiro, dentro de nosso país. De acordo com a metodologia do produto nacional, tais rendas enviadas não devem ser contabilizadas no produto, pois foram originadas por fatores de produção de propriedade estrangeira (não nacional). Agora imagine as inúmeras filiais da Petrobrás existentes na América do Sul. De tempos em temos, essas filiais enviam parte de suas rendas para a matriz no Brasil. De acordo com a metodologia do produto interno, essas rendas recebidas não devem ser contabilizadas no produto, pois foram originadas fora das fronteiras do país. Já para a metodologia do produto nacional, tais rendas devem ser contabilizadas sim, pois foram originadas por fatores de produção de propriedade de nacionais. Traduzindo estes conceitos algebricamente, temos que: Produto nacional = Produto Interno – Renda enviada ao exterior (REE) + Renda recebida do exterior (RRE) ou Produto Interno = Produto Nacional + REE – RRE Ainda temos que: REE – RRE = RLEE (Renda líquida enviada ao exterior) Assim: Produto Interno = Produto Nacional + RLEE (1) ou Produto Nacional = Produto Interno – RLEE Se a renda recebida for maior que a renda enviada, logicamente, a RLEE será negativa, ou ainda, teremos RLRE (renda líquida recebida do exterior) positiva. Pela equação (1), percebe-se que, caso o país mais envie renda ao exterior do que receba, terá o produto interno maior que o produto nacional. Este é o caso dos países em desenvolvimento ou Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 92 subdesenvolvidos (Brasil, por exemplo), em que o número de empresas estrangeiras em solo nacional é maior que o número de empresas nacionais em solo estrangeiro. Por este motivo, nestes países, usa-se o produto interno como meio de aferição macroscópica da economia, pois ele refletirá de forma mais precisa e real a evolução da economia. Caso o país tenha mais empresas nacionais em solo estrangeiro do que empresas estrangeiras em solo nacional, terá o produto nacional maior que o produto interno (a RLEE será negativa). Este é o caso dos países mais desenvolvidos economicamente (EUA, Japão, Alemanha, etc). 1.10.2. Produto BRUTO X LÍQUIDO A produção de um país sofre um desgaste físico parcial dos bens produzidos. Esse desgaste é a depreciação. O produto líquido corresponde ao produto bruto MENOS a depreciação. Assim: Produto líquido = Produto bruto – DEPRECIAÇÃO ou Produto bruto = Produto líquido + DEPRECIAÇÃO Do ponto de vista técnico, o conceito mais correto a ser utilizado para análise é o produto líquido, no entanto, a depreciação é muito difícil de ser estimada. Por isso, utiliza-se normalmente o conceito bruto. 1.10.3. Produto a PREÇOS DE MERCADOPM X a CUSTOS DE FATORESCF O produto a custos de fatores é aquele que mede a produção de bens e serviços considerando apenas os custos dos fatores de produção. No entanto, os bens e serviços produzidos na economia não são transacionados a este preço, pois há a intervenção do governo que, por meio dos impostos e dos subsídios, altera os preços dos custos de fatores. Assim, partindo do produto a custos de fatores, para chegarmos ao produto a preços de mercado, devemos somar os impostos indiretos e subtrair os subsídios. Somamos os impostos indiretos pois eles aumentam os preços dos produtos; diminuímos os subsídios pois eles reduzem os preços dos produtos. Utilizamos os impostos indiretos em vez dos impostos diretos, pois são aqueles que incidem sobre a produção. De forma análoga, utilizamos os subsídios em vez das transferências, pois são aqueles que incidem sobre a produção com o objetivo de reduzir o preço dos bens e serviços finais. Traduzindo algebricamente, temos: Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof HeberCarvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 92 PRODUTOPM = PRODUTOCF + Impostos Indiretos – Subsídios ou PRODUTOCF = PRODUTOPM – Impostos Indiretos + Subsídios A medida regularmente utilizada é o produto a preços de mercado, por motivos óbvios (é o preço que se usa na prática: “preços de mercado”). Normalmente, o PIBPM será maior que o PIBCF pois é natural que os impostos indiretos sejam maiores que o montante de subsídios. Porém, nada impede que estes sejam maiores que aqueles fazendo com que o PIBCF seja maior que o PIBPM. Exercício prático! Sabendo que a RLEE=50, Depreciação=25, Impostos Indiretos=30, Subsídios=10 e PIBPM=1000, calcule o PNLCF. Resolução: Bem, temos um PIBPM e devemos transformá-lo em PNLCF. Uma boa sugestão é fazer por partes, uma conversão de cada vez: 1) Conversão: Interno Nacional: PIBPM = PNBPM + RLEE PNBPM = PIBPM – RLEE PNBPM = 1000 – 50 = 950 2) Conversão: Bruto Líquido: PNLPM = PNBPM – Depreciação PNLPM = 950 – 25 = 925 3) Conversão: Preços de mercado Custo de fatores PNLPM = PNLCF + II – Sub PNLCF = PNLPM – II + Sub PNLCF = 925 – 30 + 10 PNLCF = 905 (Resposta!) Ressalto que esta é apenas uma das inúmeras formas de se resolver. Se você fez de outra maneira e atingiu o resultado, não se preocupe! Nota Como produto=renda=despesa, temos que qualquer conceito de produto será igual ao conceito de renda e/ou despesa equivalente. Por exemplo: RIB = PIB = DIB; RNLCF = PNLCF = DNLCF; DNBPM = PNBPM = RNBPM e assim por diante. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 92 1.10.4. PIBPM Conforme vimos nos itens acima, o Brasil utiliza os conceitos Interno, Bruto e a Preços de Mercado. Assim, aquela medida que vemos nos noticiários televisivos e jornais como aferição da medida econômica do país é o PIBPM. É ele a “menina dos olhos” da equipe econômica, é o principal agregado macroeconômico da contabilidade nacional. Quando, em questões de prova, é mencionado de forma genérica o PIB (Produto interno bruto), está sendo falado, na verdade, sobre o PIBPM. 1.11. MENSURANDO O PIB Em virtude de sabermos que Produto=Renda=Despesa, podemos calcular o valor do PIB por três caminhos diferentes: pela ótica da despesa, pela ótica da renda e pela ótica do produto (três métodos apenas pela ótica do produto). Os resultados encontrados nas três óticas devem ser iguais. 1.11.1. ÓTICA DO PRODUTO Nós vimos que o produto é o valor dos bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo. Nessa aferição é essencial evitar a dupla contagem: não faria sentido somar todos os valores produzidos por todas as unidades produtivas do país. Deixe me explicar melhor: suponha 01 litro de leite produzido em uma fábrica qualquer. Esse leite produzido poderá virar leite condensado, que poderá virar uma calda de chocolate, que poderá virar uma cobertura de uma deliciosa torta vendida em uma padaria. No entanto, esse produto só pode ser contado uma vez no cálculo do produto de um país, caso contrário o produto do país será superestimado. O procedimento correto, neste caso, é contabilizar apenas a torta que foi vendida na padaria, isto é, o produto final. Assim, para evitar a dupla contagem, só se inclui no produto o valor dos bens e serviços finais durante o período em questão. Outro exemplo: suponha o petróleo que é extraído pela Petrobrás. O petróleo extraído para exportação é um bem final (pois seu estágio final será venda para o resto do mundo), logo entrará no cálculo do produto. Já o petróleo que é empregado como insumo para a fabricação de gasolina não é computado no produto, sendo tratado como consumo intermediário (foi consumido na produção de gasolina), desta forma, só a gasolina (produto final) é computada no produto do país. Ou se procede desta maneira (considerando apenas o bem final), ou se soma tudo o que foi produzido e se subtrai o consumo intermediário. As duas formas (só o produto final; e Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 92 o total da produção menos o consumo intermediário) devem apresentar o mesmo resultado. Outra forma equivalente de aferir o produto obtém-se pelo conceito de valor adicionado ou agregado. Denomina-se valor adicionado em determinada etapa de produção a diferença entre o valor bruto produzido nesta etapa e o consumo intermediário. Assim, temos o seguinte em relação às várias (três) formas pelas quais podemos calcular o produto de um país: É o valor total dos bens e serviços finais produzidos no país num determinado período de tempo. O total dos valores brutos produzidos menos os consumos intermediários (CI) num determinado período de tempo. O total dos valores brutos produzidos é chamado de produção total (PT) ou valor bruto da produção (VBP). A soma dos valores adicionados ou agregados (VA) num determinado período de tempo. Sei que parece confuso, por isso, ilustraremos de forma numérica essas três formas de se calcular o produto de um país. Imagine o seguinte exemplo: suponha um país, que possua uma fazenda que produza trigo no valor de R$ 150 (valor adicionado=R$ 150, uma vez que não há consumo intermediário nesta primeira etapa da produção). Essa fazenda vende toda a sua produção de trigo para uma fábrica de farinha de trigo, que, por sua vez, produz farinha de trigo no valor de R$ 350 (valor adicionado=R$ 200). Essa fábrica de farinha de trigo vende toda a sua produção para uma padaria que produz pães no valor de R$ 650 (valor adicionado=R$ 300). Calculemos o produto utilizando os três métodos: Valor total bruto (VTB) Consumo intermediário (CI) Vlr adicionado (VTB – CI) Fazenda (trigo) R$ 150 0 R$ 150 Fábrica(farinha) R$ 350 R$ 150 R$ 200 Padaria (pão) R$ 650 R$ 350 R$ 300 Total R$ 1.150 R$ 500 R$ 650 1) 1º método (bens e serviços e finais): será R$ 650, pois este é valor do bem final (o pão). 2) 2º método (VTB – Cons. Intermediário): será R$ 1.150 (VTB) MENOS R$ 500 (somatório dos CI). Assim, o produto será R$ 650. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 92 3) 3º método (somatório dos valores adicionados): será R$ 150 (valor adicionado na 1ª etapa) mais R$ 200 (valor adicionado na segunda etapa) mais R$ 300 (valor adicionado na terceira etapa). Logo, o produto será R$ 650. Veja que o produto foi R$ 650 nos três métodos e não poderia ser de forma diferente! Vale destacar que estes três métodos nos dão o resultado do PIB a custo de fatores. Segue então o resumo com as três maneiras de se calcular o PIBCF, sob a ótica do produto: 1) PIBCF = Soma dos bens e serviços finais produzidos 2) PIBCF = Valor bruto da produção – Consumo intermediário 3)PIBCF = Σ Valores agregados ou adicionados Caso se queira chegar ao PIBPM, que é o conceito mais importante e ao qual todos se referem quando se fala em “PIB” genericamente, basta acrescentar os impostos indiretos líquidos dos subsídios (uma vez que PIBPM = PIBCF + II – Sub). Desta forma, pela ótica do produto, as formulações, considerando o PIBPM, serão: 1) PIBPM = Soma dos bens e serviços finais produzidos + II – Sub 2) PIBPM = Valor bruto da produção – Consumo intermediário + II – Sub 3) PIBPM = Σ Valores agregados ou adicionados + II – Sub 1.11.2. Ótica da renda Pessoal, prepare o espírito, pois este é o item mais “decoreba” da aula. Em algumas partes, pedirei apenas para memorizar, pois demonstrar e explicar determinadas expressões levaria muitas páginas e tomaria muito tempo, apresentando uma relação esforço/benefício muito elevada. Também ressalto que veremos aqui apenas uma das duas formas de cálculo do PIBPM pela ótica da renda. A outra forma será vista no próximo item (1.12), onde veremos o que é excedente operacional bruto. Devemos atentar inicialmente que renda é o somatório das remunerações dos fatores de produção. Assim, renda2 = salários + lucros + juros + aluguéis. Cabe-nos agora descobrir de que renda estamos falando? Essa renda significa a renda nacional. Logo, renda nacional = salários + lucros + juros + aluguéis. Por convenção, quando falamos em renda nacional, sem dizer se é líquida ou bruta, ou se é a preços de mercado ou a custo de fatores, 2 Excluímos os royalties e dividendos por motivos didáticos. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 92 trata-se da renda nacional líquida e a custo de fatores (renda nacional = RNLCF). Assim sendo: Renda Nacional3 = RNLCF = PNLCF O mesmo raciocínio vale para a renda interna. Quando falamos renda interna, entende-se que é a renda interna líquida e a custo de fatores (renda interna = RILCF): Renda Interna4 = RILCF = PILCF Segue o cálculo da Renda Nacional, que leva em conta as remunerações dos fatores de produção dos agentes da economia: Renda Nacional = RNLCF = salários + juros + lucros + aluguéis Para fins de prova, especialmente para as questões da ESAF, acredito que a expressão aí de cima já seja suficiente para resolvermos questões tratando da mensuração da renda. No entanto, mesmo assim, irei passar outros conceitos a ela subjacentes, e que podem cair, pois estão no rol do sistema de contas nacionais do Brasil Seguem estes conceitos: Renda nacional disponível bruta (RNDB): a renda nacional disponível bruta é a renda nacional (RNLCF) acrescida dos impostos indiretos menos os subsídios, mais a depreciação, mais transferências correntes5 recebidas menos as transferências correntes enviadas ao exterior. Em outras palavras, e de modo mais resumido, a RNDB é a renda nacional bruta a preços de mercado (RNBPM) +/- transferências correntes enviadas/recebidas do resto do mundo. Sendo assim: RNDB = RNBPM +/- transferências correntes do resto do mundo Se as transferências forem recebidas, estarão com sinal positivo; se forem enviadas, estarão com sinal negativo. 3 A Renda Nacional corresponde ao total da remuneração efetuada pelas unidades produtivas de um país aos proprietários dos fatores de produção, como contrapartida pela utilização de seus serviços para efetivar a produção nacional. 4 A Renda Interna corresponde ao total da remuneração efetuada pelas unidades produtivas de um país aos proprietários dos fatores de produção, como contrapartida pela utilização de seus serviços para efetivar a produção interna. 5 Transferências correntes são transferências sem contrapartida, não significam pagamento de fatores de produção, bens ou serviços. São como donativos. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 92 Nota 1 se a questão de prova falar em renda nacional, considere o conceito líquido e a custo de fatores, isto é, considere que renda nacional = RNLCF. O mesmo se aplica à renda interna, que é o mesmo que RILCF. No entanto, se a questão falar em renda nacional bruta (neste caso, existe a palavra bruta), considere o conceito a preços de mercado, isto é, considere que renda nacional bruta = RNBPM. O mesmo se aplica à renda interna bruta, que é o mesmo que RIBPM. Então, concluindo sobre estas duas convenções: Se for falado apenas em renda interna ou nacional, estamos falando do conceito líquido e a custo de fatores. Se for falado de renda interna bruta ou renda nacional bruta, estamos falando do conceito a preços de mercado. O motivo para isto é a convenção adotada pelo IBGE no sistema de contas nacionais. Poupança bruta: no item 1.4.4, poupança interna, vimos que a poupança interna pode também ser chamada de poupança bruta do Brasil ou simplesmente poupança bruta. A poupança, por definição, é a renda não consumida. No entanto, em questões de prova, muitas vezes, precisamos de uma definição mais precisa, que é essa: Poupança interna (SP + SG) = RNDB – Consumo final (consumo das famílias e do governo = CF + G) Como poupança interna=poupança bruta=poupança bruta do Brasil, então: Poupança bruta do Brasil = RNDB – CFINAL Renda pessoal disponível (RPD): este conceito pode ser memorizado através do raciocínio (não é tão decoreba). A RPD, pelo o que o próprio nome indica, é a renda que fica disponível para as pessoas. Então, RPD será a renda nacional (RNLCF) MENOS tudo aquilo que não sejam remunerações de fatores de produção de propriedade das pessoas (famílias) e/ou também MENOS tudo aquilo que reduz a disponibilidade de renda das pessoas. Assim: Renda pessoal disponível (RPD) = Renda nacional (RNLCF) – lucros retidos – impostos diretos sobre as pessoas + transferências às pessoas/famílias Os lucros retidos são os lucros que as empresas não distribuem às pessoas, portanto, não fazem parte da renda que é disponível para as pessoas (RPD), devendo, assim, ser excluídos do cálculo da RPD. Os impostos diretos que incidem sobre as pessoas/famílias também reduzem a renda que é disponível para as pessoas, devendo, assim, ser levados em conta no cálculo, com sinal de menos. Por último, as transferências às Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br14 de 92 Oferta global demanda global famílias aumentam a RPD, pois haverá mais renda disponível para as pessoas. Nota 2 Se os impostos diretos forem impostos diretos sobre as empresas (pessoas jurídicas), eles não reduzirão a RPD. O mesmo acontece com as transferências, se estas forem direcionadas às empresas (transferências a empresas), não aumentarão a RPD. 1.11.3. Ótica da despesa A despesa ou demanda agregada (DA) é o destino da produção, isto é, são os gastos dos agentes econômicos na aquisição da produção. Na ótica da despesa, para calcular o PIBPM, devemos somar todas as despesas realizadas pelos agentes econômicos para que eles possam adquirir a produção. Nós já vimos que essa soma equivale a: DA = C + I + G + X – M Neste caso, a despesa agregada é o próprio PIBPM. Sendo assim, o PIBPM, pela ótica da despesa será: PIBPM = C + I + G + X – M Lembro também que o item G só engloba os gastos do governo com bens e serviços. Não englobam os gastos com investimentos (enquadrados em I) e os gastos com salários de servidores, uma vez que estes não são despesas com aquisição da produção da economia. A partir do PIB pela ótica da despesa, também podemos definir mais dois conceitos que: demanda e oferta global. A oferta global (ou oferta agregada, ou oferta final) significa todos os bens que são ofertados na economia. Para isso, basta somar ao PIB o valor das importações (oferta global = PIB + M). A demanda global (ou demanda final) será o outro lado da equação, sem a dedução das importações: PIBPM + M = C + I + G + X Observação sobre os cálculos do produto sob as três óticas: as questões de provas, a priori, não informam sob qual ótica o candidato deve realizar o cálculo do produto. É ele próprio que deverá decidir, com base nos dados do enunciado sob qual ótica serão realizados seus cálculos. Por exemplo, se questão pedir o PIBPM e der os valores de C, I, G, X e M, é evidente que o concurseiro deverá utilizar a ótica da despesa. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 92 Se, por outro lado, a banca pedir o PIBPM e informar o valor total bruto da produção (VTB) e o consumo intermediário (CI), devemos utilizar, para este caso, a ótica do produto. 1.12. O EXCEDENTE OPERACIONAL BRUTO (EOB) e o RENDIMENTO MISTO BRUTO (RMB) O excedente operacional bruto (EOB) tem relação com que o seriam os lucros do setor produtivo da economia representado pelas empresas, ou o seu excedente. Nota: o excedente operacional bruto também pode ser chamado de rendimento operacional bruto (ROB). O rendimento misto bruto (RMB) tem relação com o que seriam os lucros do setor produtivo da economia representado pelos autônomos (pessoas física que trabalham como autônomos, ou seja, fazem parte do setor produtivo da economia). Outra nomenclatura usada para o RMB é rendimento de autônomos. A formulação algébrica envolvendo os dois conceitos é: EOB + RMB = PIBPM – Remuneração de empregados (RE) – Impostos sobre a produção e de importação + Subsídios à produção Em suma, a expressão nos diz que os lucros do setor produtivo (EOB – empresas, RMB – autônomos) é a renda/produto interna(o) bruta (RIBPM=PIBPM) MENOS as remunerações dos empregados MENOS os impostos sobre a produção e de importação MAIS os subsídios. Em outras palavras, é a produção/renda MENOS os itens que reduzem os lucros (remunerações de empregados e impostos sobre produção) MAIS os itens que aumentam os lucros (subsídios sobre a produção). A remuneração de empregados (RE) inclui todos os encargos, de todos os empregados que trabalham no país (sejam residentes ou não residentes). Ou seja, é uma conta que inclui, além dos salários, as contribuições sociais e demais tributos incidentes sobre a folha salarial ou decorrentes das relações de trabalho. Cabe aqui uma observação muito importante sobre a fórmula (que deve ser decorada!). O conceito de impostos sobre a produção e de importação não se confunde com o conceito apresentado no item 1.4.2, impostos sobre produtos. São conceitos diferentes: Impostos sobre a produção ≠ Impostos sobre produtos Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 92 Os impostos sobre produtos são aqueles que incidem sobre os produtos de forma a alterar de forma direta os seus preços (ICMS, IPI e ISS). Já os impostos sobre a produção e a importação são mais amplos, incluem aqueles que têm como fato gerador a produção, mas que não alteram, pelo menos teoricamente, os preços dos produtos e serviços vendidos. Como exemplo de impostos sobre a produção que não são computados na conta impostos sobre produtos, temos os impostos incidentes sobre a mão-de-obra utilizada na produção de bens ou serviços (ISS sobre serviços de mão-de-obra, por exemplo) ou remunerações pagas e taxas incidentes sobre o exercício de atividades econômicas específicas6. Assim, vê-se claramente que a conta impostos sobre produção e de importação terá valor sempre maior que a conta impostos sobre produtos. O mesmo raciocínio se aplica no caso dos subsídios. Temos os subsídios sobre produtos e os subsídios à produção, este último sendo o conceito mais amplo (com valor maior) e que deve ser utilizado no cálculo do EOB e RMB. Ademais, usando a fórmula do EOB e RMB, chegamos também ao PIBPM pela ótica da renda (segunda forma de cálculo): PIBPM = EOB + RMB + Remuneração de empregados + Impostos sobre produção e de importação – Subsídios à produção 1.13. CARGA TRIBUTÁRIA BRUTA e LÍQUIDA A carga tributária bruta (CTB) mede a proporção entre a receita tributária (impostos indiretos e diretos) e o PIBPM. Em outras palavras, ela mede qual o percentual da produção do país que serve para financiar os gastos do governo. Algebricamente: 𝐶𝑇𝐵 𝑒𝑚 % = Receita tributária do governo PIBpm = Impostos indiretos+ impostos diretos PIBpm Destacamos que o conceito de CTB é expresso em medidas percentuais. Por exemplo, se a receita tributária do governo é R$ 1 6 Exemplo retirado das notas metodológicas da nova série do SCN (Sistema de Contas Nacionais) do IBGE, em conformidade com o System of National Accounts (SNA), 1993, manual das Organizações das Nações Unidas – ONU. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 92 milhão e o PIB é R$ 5 milhões, a CTB será 1/5=0,2; o que corresponde dizer que a CTB é de 20%. A carga tributária líquida (CTL) exclui da receita tributária do governo as transferências e os subsídios: 𝐶𝑇𝐿 (𝑒𝑚 %) = Receita tributária− Transferências− SubsídiosPIBpm 1.14. PROBLEMAS COM O USO DO PIB O PIB não leva em conta a saúde de nossos filhos, a qualidade de sua educação ou a alegria de suas diversões. Não inclui a beleza de nossa poesia ou a intensidade de nossos casamentos, a inteligência de nossos debates públicos ou a integridade de nossas autoridades públicas. Não mede nem a nossa coragem, nem a nossa sabedoria, nem a nossa dedicação ao país. Mede todas as coisas, em resumo, exceto aquilo que faz com que a vida valha a pena. - Robert Kennedy, em discurso quando concorria à presidência em 1968. O PIB, apesar de bastante difundido, não é um instrumento perfeito para medir a produção e a renda correntes, assim como a Renda per capita (ou PIB per capita) não é um instrumento perfeito de avaliação do bem estar da população. Assim, não devemos confundir o PIB com desenvolvimento e/ou bem-estar, ele é apenas mais um índice. O fato de termos PIBs per capita elevados não implica obrigatoriamente bem-estar ou desenvolvimento, indica apenas riqueza material (de bens). Vejamos os motivos: • O PIB ignora em seu cômputo muitas transações não monetárias, como, por exemplo: trabalho do lar, prestações de favores, alimentação no domicílio, agricultura de subsistência, etc. Em suma, atividades produtivas que não envolvem transações de mercado, nem são precificadas, não entram no cálculo do PIB. A não-inclusão destas atividades pode levar a situações bastante esdrúxulas. Por exemplo, se uma madame se apaixona e se casa com seu motorista e, após o casamento, seu marido trabalhe para ela por amor e não por dinheiro, haverá redução do PIB, pois o salário que era pago ao motorista sumirá das estatísticas. Como disse certa vez o economista inglês Arthur Pigou: “Quem casa com a própria empregada diminui a renda nacional”. • O PIB, pela inviabilidade de cálculo, não registra a economia clandestina (informal e/ou ilegal). Pela própria natureza dessas Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 92 atividades, é impossível os institutos econômicos conseguirem aferir economicamente com alguma precisão essas atividades. Sendo assim, não fazem parte do PIB. • O PIB não considera os custos sociais (externalidades), efeitos colaterais ou males da produção. Entre essas ocorrências não registradas, temos os danos ambientais (o vazamento de óleo que ocorreu no Golfo do México causado pela British Petroleum em 2010 não é computado no PIB), desastres naturais (terremotos, furacões, enchentes e outros desastres também não são registrados no PIB), emissão de gases poluentes, etc. • O PIB não leva em conta a distribuição de renda da sociedade. Por exemplo, os países árabes têm elevada renda per capita, porém o número de pobres é elevadíssimo. Isto ocorre porque os ricos são excessivamente ricos e detêm a maior parte da renda. • O PIB exclui o lazer como um bem valorizado pelas pessoas, assim como o desconforto associado à produção de bens de serviços, como custo para o ser humano. Por tal motivo, ele não é um meio eficiente de medição do bem-estar econômico. Um país pode ter R$ 30.000,00 de renda per capita anual, com uma média de 30 horas de trabalho semanais; enquanto outro pode ter os mesmos R$ 30.000,00, porém com uma média de 50 horas de trabalho semanais. O PIB ou renda per capita é igual nos dois países, mas o bem-estar é melhor no primeiro caso. Nos casos acima, expusemos situações que acontecem na economia, mas que não entram no cálculo no PIB, pela inviabilidade da inclusão. No entanto, existe um caso interessante, em que ocorre o contrário. Nele, não há desembolso ou transação monetária, mas a atividade é sim levada em conta no cálculo no PIB. É o caso de domicílios ocupados por seus proprietários. Quando uma pessoa tem um imóvel, ela pode auferir alguma renda com o aluguel do mesmo. No entanto, quando o proprietário vive em seu imóvel (na “casa própria”), ele deixa de ganhar este dinheiro, caso o alugasse. Este valor de aluguel que o proprietário deixa de receber ao ocupar seu próprio imóvel é computado no PIB. Neste caso, em virtude não haver desembolso monetário, são imputados valores de aluguel semelhantes aos que são praticados no mercado. Tais valores entram no cálculo do PIB, mesmo que os proprietários dos imóveis não paguem a si mesmos. Apesar destes problemas de medição, o PIB provê uma medida razoavelmente precisa do produto de mercado de uma sociedade, bem como da taxa de variação desse produto. Apesar de não ser uma medida Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 92 de felicidade e bem-estar dos cidadãos, é bastante útil como ferramenta no auxílio às tomadas de decisões no âmbito da política econômica. Caiu na prova: 03. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional – 2012) - Assinale a alternativa incorreta: a) Em domicílios ocupados por seus proprietários, são imputados valores de aluguel equivalentes aos valores exercidos no mercado para compor a atividade aluguel de imóveis nas tabelas de recursos e usos. b) Pagamentos de salários e outras remunerações dos funcionários públicos, assim como gastos com bens e serviços do governo, entram no cálculo da renda nacional. c) Serviços pessoais e domésticos – tais como preparo de refeições, educação e cuidados com as crianças, limpeza e as reparações e manutenção dos bens de consumo duráveis e habitação –, realizados por membros da família para seu próprio consumo final, são excluídos da medição da produção. d) Com o objetivo de realizar a transformação das importações medidas a preços CIF para preços FOB, foi criada uma coluna de Ajuste CIF/FOB na Tabela de Recursos e Usos. e) Ao comprar um automóvel usado em uma revendedora, o consumidor está contribuindo para elevar o Produto Interno Bruto (PIB), uma vez que representa um aumento do consumo de bens duráveis. Comentários: A alternativa incorreta é a letra E, pois a compra de bens usados não entra no cálculo do PIB. Afinal, o PIB é o valor dos bens e serviços finais produzidos durante determinado período de tempo (não leva em conta bens produzidos em períodos passados). Segue uma passagem da aula 00, página 13: “O produto inclui somente a produção em determinado período de tempo: o produto, em 2012, inclui somente os bens e serviços produzidos durante esse ano. Em 2011, apenas os bens e serviços produzidos durante aquele ano e assim por diante. Em particular, o produto da economia não inclui o valor de bens usados. Se você comprar um livro de Macroeconomia em uma livraria, a compra será incluída no produto.” Ou seja, um bem usado é computado no PIB daquele ano em que foi produzido. Se, mais tarde, alguém compra esse bem usado (produzido em ano anterior), ele não integra mais o cálculo do PIB. PS: neste curso, não estudaremos em detalhes a tabela de usos e recursos, nem as diferenças dos critérios CIF e FOB e suas consequências Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 20de 92 na contabilização dentro do Sistema de Contas Nacionais. Apesar de fazer parte do edital do MDIC (área 02), não é objetivo para está estudando para outros concursos. Gabarito: E 1.15. O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN) Pessoal, neste item, coloco, de modo resumido, o sistema de contas nacionais (SCN) com tudo aquilo que aprendemos na aula. Tudo que está exposto no SCN já foi apresentado durante o texto da aula, na forma de conceitos e fórmulas. Assim, as contas nacionais que ora seguem são apenas a título de “curiosidade”, como forma de confirmação da teoria apresentada na aula. Julgo interessante apenas você se tomar ciência do que cada conta trata, pois uma questão de prova pode fazer perguntas teóricas do tipo: a conta de capital é a conta que registra a capacidade ou necessidade de financiamento (gabarito: certo); a conta de produção registra o consumo intermediário da economia (gabarito: certo); e assim por diante. Ressalto que os valores utilizados foram retirados do SCN da economia brasileira no ano-calendário de 2003 e já seguem a nova metodologia do IBGE, em conformidade com o manual do SNA (System Nacional Accounts) da ONU. Na coluna da direita, temos os recursos (origens) e na coluna da esquerda os usos (aplicações). Estão apresentadas três contas principais: conta de produção, conta de renda e conta de acumulação (de capital). Conta 1 – Conta de produção – R$ 1.000.000 (valores correntes) Usos Operações e saldos Recursos 1. Produção 3.026.167 1.630.563 2. Consumo intermediário 3. Impostos sobre produtos 160.578 3.1. Imposto de importação 8.084 3.2. Demais impostos sobre produtos 152.493 0 4. Subsídios sobre produtos 1.556.182 5. Produto Interno Bruto Primeiro, ressalte-se que o PIB de que trata a conta é o PIBPM. Esta conta evidencia o PIBPM pela ótica do produto, item 1.11.1: PIBCF = Produção – CI como PIBPM = PIBCF + II – Sub, então: PIBPM = Produção – CI + Impostos s/ produtos – Subsídios s/ produtos 5 = 1 – 2 + 3 – 4 Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 92 Conta 2 – Conta da renda – R$ 1.000.000 (valores correntes) 2.1. Conta de distribuição primária da renda 2.1.1. Conta de geração da renda Usos Operações e saldos Recursos 5. Produto Interno Bruto 1.556.182 554.149 6. Remuneração dos empregados 266.968 7. Impostos sobre a produção e de importação - 3.617 8. Subsídios à produção (-) 738.683 9. EOB + RMB Primeiro, note que o saldo de impostos sobre a produção e de importação, item 7, é diferente (maior) que o saldo de impostos sobre produtos, item 3. O mesmo acontece em relação aos itens 8 e 4. Esta conta evidencia o PIBPM pela ótica da renda, utilizando o EOB e RMB (vimos no item 1.12 da aula): PIBPM = EOB + RMB + RE + Impostos s/ prod. e imp. – Sub. à produção 5 = 6 + 7 + 8 + 9 Conta 2 – Conta da renda – R$ 1.000.000 (valores correntes) 2.1. Conta de distribuição primária da renda 2.1.2. Conta de alocação da renda Usos Operações e saldos Recursos 9. EOB + RMB 738.683 6. Remuneração dos empregados 554.149 7. Impostos sobre a produção e de importação 266.968 8. Subsídios à produção (-) - 3.617 66.384 10. Rendas de propriedade enviadas e recebidas do resto do mundo (RLEE) 10.902 1.501.032 11. Renda Nacional Bruta Conforme vimos em uma nota do item 1.11.2, a renda nacional bruta é o mesmo que RNBPM. Outra observação se refere ao fato de o item 10 se refere à RLEE, onde REE = 66.384 e RRE = 10.902, assim, a RLEE = 66.384 – 10.902 = 55.482. Esta conta evidencia a transformação do item 5 (PIBPM) em item 11 (RNBPM): PIBPM = EOB + RMB + RE + Impostos s/ prod. e imp. – Sub. à produção Ao mesmo tempo, PIBPM = RNBPM + RLEE, assim: RNBPM = PIBPM – RLEE 11 = 9 + 6 + 7 + 8 – 10 Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 92 Conta 2 – Conta da renda – R$ 1.000.000 (valores correntes) 2.2. Conta de distribuição secundária da renda Usos Operações e saldos Recursos 11. Renda Nacional Bruta 1.501.032 941 12. Transferências correntes enviadas e recebidas do resto do mundo 9.694 1.509.785 13. Renda disponível bruta A renda (nacional) disponível bruta (RNDB) é a RNB +/- transferências correntes. No caso acima, as transferências recebidas foram maiores que as enviadas, portanto, a RDNB é maior que a RNB. RNDB = RNB +/- transferências correntes enviadas e/ou recebidas 13 = 11 + 12 Conta 2 – Conta da renda – R$ 1.000.000 (valores correntes) 2.3. Conta de uso da renda Usos Operações e saldos Recursos 13. Renda Disponível Bruta 1.509.785 1.192.613 14. Despesa de consumo final 317.172 15. Poupança bruta Conforme no item 1.11.2 da aula, o item 14 da tabela é o consumo final (C + G). A poupança bruta (do Brasil) é a RNDB menos o consumo final. Assim: Poupança bruta do Brasil = RNDB – CFINAL 15 = 13 – 14 Conta 3 – Conta de acumulação – R$1.000.000 (valores correntes) 3.1. Conta de capital Usos Operações e saldos Recursos 15. Poupança bruta 317.172 276.741 16. Formação bruta de capital fixo (FBKF) 30.750 17. Variação de estoques (ΔE) 112 18. Transferências de capital enviadas e recebidas do resto do mundo (SEXT) 1.624 11.193 19. Capacidade (+) ou necessidade (-) de financiamento A conta trata da identidade investimento=poupança. O item 18 é a SEXT. No caso acima, a SEXT vale 1624 – 112 = 1512. Portanto, a SEXT é positiva, indicando que houve transferências de capital enviadas ao resto do mundo (conforme sabemos, se o resto do mundo recebeu capital, então, recebeu poupança externa). A poupança bruta é o mesmo que Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 92 poupança interna, que, por sua vez, é a soma da poupança privada e do governo. Assim, a conta diz que: 19 = 15 – 16 – 17 + 18 Capacidade de financiamento = Poupança bruta – FBKF – ΔE + SEXT Capacidade de financiamento = Poupança interna + SEXT – I Capacidade de financiamento = S – I Falamos em capacidade de financiamento, pois o saldo de (S – I) foi positivo, no valor de 11.193, uma vez que S é maior que I. Se I fosse maior que S, falaríamos em necessidade de financiamento. Adendo: As tabelas de recursos e usos (TRU) e as Contas Econômicas Integradas (CEI) Nota: o texto a seguir não está tão didático, a meu ver. No entanto, neste trecho da aula, eu preferi reproduzir quase que literalmente o que consta nas notas metodológicas do IBGE. Uma questão sobre isso, se cair, certamente, será teórica e estará embasada nas notas do IBGE, que é o órgão responsável pela estrutura do SCN. Assim, mesmo que não entenda muito bem algumas passagens, procure ler pelo menos uma vez o que vem a seguir sobre as TRU e sobre as CEI. É apenas para dar uma visão geral sobre o assunto. Se cair alguma questão, acredito que não deva ser nada aprofundado em relação a isso (porque se for, quase ninguém acerta ;-). a) as TRU As TRU se dividem em duas tabelas.A tabela I corresponde aos recursos de bens e serviços, isto é, donde vêm os bens e serviços. A tabela II é a de usos de bens e serviços, isto é, para onde vão os bens e serviços. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 92 A tabela de recursos de bens e serviços, tabela I, discrimina a origem dos produtos em nacional e importado. Veja que os bens e serviços têm basicamente duas origens: uma é a produção da economia, outra são as importações. O primeiro quadrante (A) apresenta a oferta global a preços de mercado e a preços básicos, as margens de comércio e transporte e os impostos e subsídios associados a cada produto. A produção das atividades especificadas por produto forma o segundo quadrante (A1) desta tabela. Por fim, no terceiro quadrante (A2) são apresentadas, em uma coluna, as importações e, em outra, as operações de produtos sem emissão de câmbio. A tabela de usos de bens e serviços, tabela II, apresenta o equilíbrio entre oferta e demanda, assim como as estruturas de custos das atividades econômicas detalhadas por produto. No primeiro quadrante (A) repete-se o vetor da oferta total, a preços do consumidor. O quadrante B1 apresenta os insumos utilizados na produção de cada atividade. O quadrante seguinte (B2) apresenta os bens e serviços que se destinam à demanda final: consumo final das famílias e das administrações publicas, formação bruta de capital fixo, variações de estoques e as exportações (é a demanda global). O último quadrante (C) mostra os demais custos de produção - remuneração dos empregados e os impostos, líquidos de subsídios, sobre a produção, que não incidem diretamente sobre o produto -, finalizando com o rendimento misto bruto e o excedente Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 92 operacional bruto. Como informação complementar, é apresentado o total de pessoal ocupado em cada atividade. O principal objetivo das tabelas de recursos e usos é a análise dos fluxos de bens e serviços e dos aspectos básicos do processo de produção - estrutura de insumos e estrutura de produção de produtos por atividade e a geração da renda. Resultam, portanto, dois elementos fundamentais na sua construção: atividades (conjuntos de agentes do processo de produção) e produtos (conjunto de bens e serviços). A unidade básica considerada na análise do processo de produção é a unidade produtiva (estabelecimento ou unidade local), definida como o local físico onde se realiza uma única atividade econômica. As atividades são compostas a partir da agregação de estabelecimentos com estruturas relativamente homogêneas de consumo e produção. Em alguns casos a unidade de produção coincide com a empresa; quando, no entanto, esta tem uma produção diversificada é desmembrada em estabelecimentos, podendo cada qual ser classificado numa atividade distinta. Por outro lado, mesmo desenvolvendo uma única atividade, os estabelecimentos podem produzir acessoriamente, por necessidade de ordem técnica ou questões de mercado, produtos típicos de outras atividades; neste caso, os estabelecimentos são classificados em função de sua produção principal, resultando, assim, uma produção secundária de produtos não-característicos de sua atividade principal. b) as CEI O SCN apresenta, por setor institucional, as contas correntes e a conta de acumulação, primeiro segmento das contas financeiras. A visão de conjunto da economia é fornecida pelas Contas Econômicas Integradas - CEI onde, numa única tabela, são dispostas, em colunas, as contas dos setores institucionais, do resto do mundo e de bens e serviços. Inclui, também, uma coluna para a soma dos setores institucionais, isto é, o total da economia onde os macro agregados são diretamente visíveis. Nas linhas figuram as operações, saldos e alguns agregados, descritos na coluna central da tabela. As contas do resto do mundo são apresentadas do ponto de vista do resto do mundo. Cabe a observação que na montagem da tabela síntese as colunas de bens e serviços são colunas especiais, funcionando como uma conta espelho da conta dos setores institucionais. No lado dos usos (esquerdo) aparece a oferta de bens e serviços enquanto no de recursos (direito) aparece a demanda de bens e serviços. O esquema apresentado a seguir mostra a desagregação das contas, por operação, para cada setor institucional. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 92 A conta de produção mostra o resultado do processo de produção - valor de produção, consumo intermediário e seu saldo o valor adicionado. A conta de distribuição primária da renda subdivide-se em duas subcontas: a conta de geração da renda e a conta de alocação da renda primária. As rendas primárias são rendas recebidas pelas unidades institucionais por sua participação no processo produtivo ou pela posse de ativos necessários à produção. A conta de geração da renda mostra como se distribui o valor adicionado entre os fatores de produção trabalho e capital e as administrações públicas. Esta conta registra, do ponto de vista dos produtores, as operações de distribuição diretamente ligadas ao processo e produção. A conta de alocação da renda registra a parte restante da distribuição primária da renda, ou seja, as rendas de propriedade a pagar e a receber, bem como a remuneração dos empregados e os impostos, líquidos dos subsídios, a receber respectivamente pelas famílias e administrações públicas. Esta conta centra-se nas unidades institucionais residentes como recebedoras de rendas primárias mais do que como produtores cujas atividades geram rendas primárias. A conta de distribuição secundária da renda mostra a passagem do saldo da renda primária de um setor para renda disponível, após o recebimento e pagamento de transferências correntes, exclusive as transferências sociais em espécie. Essa redistribuição representa a segunda fase no processo de distribuição da renda. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 92 A conta de redistribuição da renda em espécie leva à fase seguinte do processo de redistribuição da renda. Mostra como a renda disponível das famílias, das instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias e das administrações públicas se transforma em renda disponível ajustada, pela receita e pagamento de transferências sociais em espécie. As empresas financeiras e não-financeiras não estão envolvidas nesse processo, por não receberem transferências em espécie. A conta de uso renda desdobra-se em conta de uso da renda disponível e conta de uso da renda disponível ajustada pelo valor das transferências emespécie, de forma a explicitar a despesa de consumo e o consumo efetivo dos setores. A primeira tem como objetivo mostrar como as famílias, as instituições sem fins lucrativos e as administrações públicas alocam sua renda disponível em consumo e poupança. Parte-se da renda disponível e as despesas de consumo aparecem sendo realizadas pelos setores que efetivamente despenderam os recursos. As despesas de consumo individual das administrações públicas e das instituições privadas sem fins lucrativos são as relativas às transferências sociais em espécie para as famílias. A conta de uso da renda disponível ajustada parte da renda disponível ajustada, onde as transferências sociais foram recebidas pelas famílias das administrações públicas e das instituições privadas sem fins lucrativos. Assim, o consumo das famílias está acrescido das transferências sociais em espécie a fim de se registrar o consumo final efetivo. Deve-se notar que a poupança, saldo da conta de uso da renda, não se altera em função de seu desdobramento. Sendo a poupança o saldo final das operações correntes constitui, naturalmente, o ponto de partida da contas de acumulação. A conta de capital, primeira deste conjunto, registra as operações relativas às aquisições de ativos não-financeiros e às transferências de capital que implicam em redistribuição de riqueza; seu saldo é a capacidade/necessidade líquida de financiamento. As operações entre residentes e não-residentes, chamadas de operações externas da economia, são agrupadas na conta do resto do mundo. 1.16. BIZÚS E MEMENTO Pessoal, sei que o assunto é bastante extenso e é muita informação para memorizar. Posso dizer que contas nacionais não é um assunto difícil, mas é um assunto “enjoado”, exigindo paciência e perseverança. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 92 Quando estudei este assunto pela primeira vez, principalmente nas questões de cálculo, costumava ficar um pouco perdido com as informações. Eu via aquele amontoado de números no enunciado e não sabia em que fórmula ou conceito utilizá-los. Pois bem, a minha dica é a seguinte: memorize as principais fórmulas (as que eu coloquei no memento do final da aula). Assim, ao se deparar com a questão, adote os seguintes passos: 1º: veja qual o agregado pedido pela questão e veja em qual fórmula ele está (para ver em qual fórmula ele está, você acessará a sua memória na hora da prova, portanto, é importante memorizar as fórmulas do memento). 2º: tente trabalhar com os dados que estão na fórmula do item que a questão pede. Se for possível terminar a questão, termine-a. Se estiver faltando algum dado, prossiga. Você deverá voltar ao passo 1 para tentar achar esse dado faltante (ver em qual fórmula ele está e utilizar os dados da questão). 3º: faltando algum dado, veja em que outra fórmula você poderá descobrir o valor deste item faltante, e assim por diante. Para ver o método, veja especialmente a resolução das questões 14 e 18. Faça muitos exercícios de contas nacionais, pois eles farão com que seja praticamente impossível você errar alguma questão desse assunto na hora da prova. Segue agora o memento de conceitos e fórmulas, graduadas de acordo com o nível, do mais básico para o mais avançado. As fórmulas do nível I são conceitos básicos, inerentes ao próprio aprendizado de contas nacionais. Assim, são expressões que podem ser decoradas através da simples leitura da aula. As fórmulas do nível II são as principais, dentre aquelas exigidas nas questões de cálculos (é claro que, preliminarmente, você deve saber os conceitos abarcados no nível I). As fórmulas do nível III são mais difíceis de serem encontradas em questões de prova, mas, se cair alguma delas na prova, será uma daquelas questões que servirão para diferenciar os candidatos. Segue um recado especial àqueles que prestam provas da ESAF (é o caso de vocês, que estão se preparando para o concurso de Auditor da Receita!). Para a ESAF, os níveis I e II do memento são garantia de um excelente rendimento em questões sobre contas nacionais. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 92 Para finalizar, espero que tenham gostado da aula. Depois do memento, coloquei muitos exercícios para treinamento, essenciais para “pegar” o jeito, quando tratamos de contas nacionais. Até a próxima, abraços e bons estudos! Heber Carvalho hebercarvalho@estrategiaconcursos.com.br MEMENTO DE FÓRMULAS – CONTAS NACIONAIS Fórmulas nível I: (1) Poupança pública=o que governo ganha MENOS o que ele gasta: SG = II + ID + ORG – trans – sub – G (2) SEXT = - T (3) Poupança interna ou poupança bruta = SP + SG (4) I = FBKF + ΔE (5) IL = IB – dep (6) Poupança líquida = poupança bruta MENOS depreciação (7) CFINAL = C + G (8) AI = C + I + G (9) Produto=Renda=Despesa (10) Investimento = Poupança (11) Interno = Nacional + RLEE (12) Líquido = Bruto – depreciação (13) Preços de mercado = custos de fatores + II – Sub (14) Renda nacional = RNLCF (15) Renda interna = RILCF (16) Renda nacional bruta = RNBPM (17) Renda interna bruta = RIBPM (18) DIB = PIB = RIB = PIBPM Fórmulas nível II (importantíssimas para as questões da ESAF!): (1) DP = (SP – IP) + SEXT (2) SEXT = (M – X) + RLEE +/- TU (3) PIBCF = VBP – CI (4) PIBPM = C + I + G + X – M (5) FBKF + ΔE = SP + SG + SEXT (6) EOB + RMB = PIBPM – RE – Imp s/ prod e imp + Sub à prod Fórmulas nível III: (1) Renda nacional = salários + juros + lucros + aluguéis (2) RNDB (renda nacional disponível bruta) = Renda disponível bruta = RNBPM +/- transferências correntes do resto do mundo (3) Renda pessoal disponível (RPD) = Renda nacional (RNLCF) – impostos diretos – lucros retidos + transferências às pessoas (4) Poupança bruta (poupança interna) = RNDB - CFINAL Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 92 EXERCÍCIOS COMENTADOS 04. (ESAF – ACE/MDIC – 2012) - Considere os seguintes dados presentes na “Conta de Alocação da Renda” do Sistema de Contas Nacionais, em unidades monetárias: Renda Nacional Bruta: 3.175 Excedente Operacional Bruto e Rendimento Misto Bruto (total): 1.336 Remuneração dos Empregados: 1.414 Impostos sobre a Produção e a Importação: 496 Subsídios à Produção: 6 Rendas de Propriedades Enviadas ao Resto do Mundo: 83 Com base nessas informações, é correto afirmar que, em unidades monetárias, as “Rendas de Propriedade Recebidas do Resto do Mundo” foram iguais a: a) 101. b) 24. c) 18. d) 65. e) 97. Comentários: As rendas de propriedades recebidas do resto do mundo são a nossa RRE (renda recebida do exterior). As rendas de propriedade enviadas ao resto do mundo (REE) líquidas das rendas de propriedades recebidas do resto do mundo nos indicam o valor da RLEE (renda líquida enviada ao exterior). Assim, RLEE = Rendas de propriedades enviadas – Rendas de propriedades recebidas RLEE = 83 – Rendas de propriedades recebidas (1)Ou seja, para resolvermos nosso problema, precisamos encontrar o valor da RLEE. Sabemos que é a RLEE que difere os conceitos de PIB e PNB. Portanto: PIB = PNB + RLEE (2) O valor do PNB foi dado pela questão e vale: PNB = 3.175 Nota: lembre que Produto Nacional Bruto (PNB) é igual à Renda Nacional Bruta (RNB), PNB=RNB, uma vez produto é igual à renda. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 92 Agora, colocando o valor da RLEE (1) e do PNB na expressão (2), temos: PIB = 3.175 + 83 – Rendas de propriedades recebidas (3) Neste momento, nosso problema passa a ser a descoberta do valor do PIB. Pelos dados do problema, podemos utilizar a expressão do EOB aprendida no item 1.12 da aula: EOB + RMB = PIB – Rem. Empreg. – Imp. s/ prod. + Sub. s/ prod. 1.336 = PIB – 1.414 – 496 + 6 PIB = 3.240 Agora, finalmente, basta substituir o valor do PIB na expressão (3) e chegaremos ao final do problema (ufa!): PIB = 3.175 + 83 – Rendas de propriedades recebidas 3.240 = 3.175 + 83 – Rendas de propriedades recebidas Rendas de propriedades recebidas = 18 Gabarito: C 05. (ESAF – ACE/MDIC – 2012) - Considere os seguintes dados presentes no Sistema de Contas Nacionais em unidades monetárias: Salários: 681 Contribuic ̧ões Sociais Diversas: 141 Contribuic ̧ões Sociais Imputadas: 38 Rendimento Misto Bruto: 201 Rendimento Operacional Bruto: 755 Imposto sobre a Produc ̧ão e Importação: 335 Para que, em unidades monetárias, o Produto Interno Bruto da Economia seja de 2.147, os “subsídios à produc ̧ão e importac ̧ão” e a “remunerac ̧ão dos empregados” deverão ser (em unidades monetárias) respectivamente: a) 38 e 822. b) 4 e 860. c) 8 e 681. d) zero e 681. e) 22 e 898. Comentários: A expressão do EOB (ou Rendimento Operacional Bruto) é: Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 92 EOB + RMB = PIB – Rem. Empreg. – Imp. s/ prod. + Sub. s/ prod. 755 + 201 = 2.147 – Rem. Empreg. – 335 + Sub. s/ prod. Rem. Empreg. – Sub. s/ prod. = 856 (1) Observe que a única alternativa que obedece à expressão (1) é a letra B. No entanto, poderíamos calcular a remuneração dos empregados, sabendo que ela inclui o salário dos empregados e todas as contribuições dele decorrentes. Assim: Rem. Empreg. = 681 + 141 + 38 Rem. Empreg. = 860 Se substituirmos o valor da remuneração dos empregados na expressão (1), encontramos o valor dos subsídios (Sub=4). Gabarito: B 06. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional - 2012) - Com as informações retiradas no Sistema de Contas Nacionais, listadas abaixo, é possível obter os valores do Produto Interno Bruto (PIB) e da Renda Nacional Bruta (RNB) de um determinado País. É correto afirmar que os valores do PIB e da RNB são, respectivamente, iguais a: a) PIB = 2.500,00 e RNB = 2.200,00 b) PIB = 1.960,00 e RNB = 1.760,00 c) PIB = 1.800,00 e RNB = 1.500,00 d) PIB = 1.880,00 e RNB = 1.600,00 e) PIB = 1.960,00 e RNB = 1.660,00 Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 92 Comentários: Com os dados apresentados, é bem simples descobrirmos o valor do PIB: EOB + RMB = PIB – Rem. Empreg. – Imp. s/ prod. + Sub. s/ prod. 1.180 = PIB – 500 – 200 + 80 PIB = 1.800 Por aí, já acertávamos a questão. Mas, vamos calcular o valor da RNB (ou PNB, já que produto=renda). Sabemos que: PIB = PNB + RLEE PIB = RNB + (REE – RRE) 1.800 = RNB + (600 – 300) RNB = 1.500 Gabarito: C 07. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional - 2012) - Um Analista de Comércio Exterior inicia um estudo para verificar o valor monetário da Poupanc ̧a Bruta do País X, no ano de 2011. Para realizar esse estudo, o Analista retira do Sistema de Contas Nacionais do País X os seguintes elementos das Contas Econômicas Integradas (CEI) e os respectivos valores monetários, apresentados abaixo: Após esse levantamento, o Analista de Comércio Exterior poderá afirmar que a Poupanc ̧a Bruta no País X, em 2011, foi de: a) $ 0,00 (zero). b) $ 1.500,00. c) $ 1.300,00. d) $ 1.220,00. e) $ 220,00. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 92 Comentários: Outra questão difícil! Para resolvermos esta questão, necessitamos da identidade segundo a qual poupança é igual investimento. No entanto, devemos notar que há necessidade de financiamento, o que indica que o investimento é maior que a poupança, exatamente no valor de $ 800,00. Assim: I = S + 800 (FBKf + ΔE) = SP + SG + SEXT + 800 PS: Onde poupança bruta é (SP+SG), e SEXT é igual às transferências enviadas menos as recebidas. 400 + 200 = SBRUTA + (50 – 150) + 800 SBRUTA = -100 Ou seja, não há resposta! A questão foi anulada. Gabarito: Anulada 08. (ESAF – ACE/MDIC – Grupo 02_Contabilidade Nacional - 2012) - Os agregados do Sistema de Contas Nacionais são indicadores de síntese e grandezas-chave para os objetivos da análise macroeconômica e para comparações no espaço e no tempo. De acordo com o conceito de agregados adotado pelo IBGE, apresentado nas Contas Econômicas Integradas para uma economia aberta, é correto afirmar que: a) a Demanda Total da Economia é igual ao somatório do consumo intermediário, da despesa de consumo final, da formação bruta de capital fixo, da variação de estoque, das exportac ̧ões de bens e servic ̧os menos o valor das importações de bens e serviços. b) o Produto Interno Bruto medido pela ótica da renda é igual à remuneração dos empregados mais o total dos impostos (líquidos de subsídios) sobre a produção e importação mais o rendimento misto bruto mais o excedente operacional bruto. c) a Renda Nacional Bruta é igual ao PIB menos as rendas primárias a pagar, líquidas das rendas primárias a receber, das unidades não residentes (Resto do Mundo). d) o Saldo do Balanc ̧o de Pagamentos em transação corrente é igual ao saldo externo da conta de operac ̧ões correntes com o Resto do Mundo registrado com o sinal trocado. e) o Produto Interno Bruto medido pela ótica da produc ̧ão é igual ao valor da produc ̧ão menos o consumo intermediário mais os impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos não incluídos no valor da produc ̧ão. Macroeconomia para STN Teoria e exercícios comentados Prof Heber Carvalho – Aula 01 Prof Heber Carvalho www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 92 Oferta global demanda global Comentários: a) Incorreta. A demanda total (ou demanda
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