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Disgrafia De acordo com o DSM – V (APA, 2014) a disgrafia é um transtorno específico de aprendizagem com prejuízo na expressão escrita, caracterizada por alteração funcional no componente motor do ato de escrever que afeta a qualidade da escrita caligráfica e, presença de caligrafia deficitária no traçado e forma das letras, surgindo estas de forma irregular e disforme. A disgrafia resulta em habilidades de escrita abaixo do esperado para a idade, relacionada à falta de equilíbrio entre a qualidade da formação da letra (alinhamento e espaçamento de letras e palavras, dimensionamento das letras, entre outras) e a taxa de produção (velocidade da escrita caligráfica). Sendo a escrita caligráfica uma atividade complexa que envolve simultaneamente habilidades percepto-motoras (controle motor fino, integração visuo-motora, planejamento motor, propriocepção, percepção visual, percepção sinestésica, entre outros) e processos cognitivos (capacidade de decodificação das palavras, atenção sustentada, flexibilização, entre outros) , podendo impactar no desempenho acadêmico e psicossocial; interferir nas relações pessoais; interferir na autoestima; e ser preditora de dificuldades de aprendizagem, entender a DISGRAFIA ajudará na identificação precoce do problema, para direcionar o encaminhamento eficaz e a intervenção assertiva. É importante ressaltar que a criança com Disgrafia possui o desenvolvimento intelectual normal. O que o problema traz é a dificuldade ou incapacidade de escrever de acordo com o “padrão” exigido em nossa sociedade, como em salas de aulas e ambientes de trabalho, prejudicando os estudos e o desenvolvimento. Sinais/Sintomas da Disgrafia Os sinais disgrafia podem ser notados principalmente na escola, pois a escrita é uma tarefa acadêmica necessária para as crianças em período escolar, sendo que de 30 a 60% do tempo do dia, a escola realiza tarefas motoras finas, consistindo principalmente de caligrafia (Cardoso, 2017). Dentre os sinais/sintomas da disgrafia observáveis em casa e na escola que ajudam a identificar o problema, podemos citar: Dificuldade para escrever; Letra ilegível, e não “letra feia”, até para a criança que escreve; Escrita com junção de letras maiúsculas e minúsculas; Dificuldade em diferenciar letras maiúsculas e minúsculas; Dificuldade em realizar a letra cursiva, misturando letras cursivas e bastão em palavras e frases; A escrita é muito “junta” ou incompleta; ou com um afastamento desnecessário entre as letras e palavras; Não consegue utilizar as linhas da folha do caderno para organizar as palavras; Incapacidade ou demora para acompanhar e copiar as informações escritas no quadro durante as aulas; Lentidão para escrever. Sinais e Sintomas observáveis nas crianças durantes as tarefas que envolvem escrita: Reclamação constante e persistente no inicio, durante e depois da tarefa; Briga para concluir a tarefa; Reclama de dores no braço; Fica exausto quando termina; Se dispersa facilmente para fugir da tarefa; Começa a não gostar de ir para a escola. O que fazer quando observar esses sinais e sintomas? Na presença dos sinais e sintomas acima, devemos considerar: Por se tratar de um diagnóstico complexo, o médico necessita de avaliações específicas realizadas pelos profissionais da fonoaudiologia e da terapia ocupacional. Por que esses profissionais? O profissional da fonoaudiologia é responsável pela avaliação do processo de decodificação das letras e palavras, habilidade necessária para a aquisição da leitura e que antecede e é necessária para a aquisição da escrita. Além de identificar a presença de outros transtornos específicos de aprendizagem que podem co-ocorrer com a disgrafia (RESOLUÇÃO CFFa nº 387, de 18 de setembro de 2010). O profissional da terapia ocupacional é o responsável por avaliar e intervir em habilidades que interferem no desempenho em contextos de ocupação humana, como a escola. Além disso, é o profissional que avalia o desempenho em habilidades motoras, a integração viso-motora, a percepção sinestésica, e destreza, velocidade e coordenação bimanual (RESOLUÇÃO Nº 500, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2018). Tratamento da Disgrafia O tratamento deve passar pelas pessoas envolvidas na educação da criança (pais e professores) e também um profissional capaz de auxiliar na melhora da capacidade motora fina e integração viso-motora. Vale ressaltar que as avaliações específicas são essenciais para direcionar o plano de intervenção individualizado que https://bozelli.com.br/servicos/fonoaudiologia-2/ https://www.fonoaudiologia.org.br/resolucoes/resolucoes_html/CFFa_N_387_10.htm https://www.fonoaudiologia.org.br/resolucoes/resolucoes_html/CFFa_N_387_10.htm https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=10488 https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=10488 melhor atenda às necessidades da criança. É importante também tomar cuidado com a frustração e decepção por exercícios que vão além da capacidade da criança, por isso o acompanhamento por profissionais especializados é de extrema importância! Aqui estão algumas sugestões de atividades gerais, elaboradas por mim e algumas colegas (vide referências abaixo) que podem auxiliar qualquer criança com dificuldades em escrita caligrafica: Executar movimentos independentes dos dedos, das mãos e dos punhos, deslocando no espaço os objetos: andar com dedos, imitar elefante, imitação, fazer sombra, manipular marionete, brincar com areia, entre outras; Fazer todos os padrões de preensão e poder passar um mesmo objeto de um tipo de preensão para outro: abrir com chave-rosquear-deslizar objeto entre os dedos, entre outras; Conseguir ajustar e adaptar as mãos e os dedos à forma, à consistência e à orientação dos objetos: empalmar partes do rosto, empalmar objetos diferentes; Deslizar a mão ou um objeto sobre uma superfície: esfregar, riscar, varrer, fazer a exploração tátil de um objeto, pintura com dedo, brincar de passar ferro, desenhar com o dedo sobre o espelho, entre outras; Pressionar, apalpar ou procurar moldar um objeto: massinha de modelar, argila, colagem, apertar botões, entre outros; Realizar movimentos que permitam deslocar e orientar um objeto para ser depositado sobre outro: transportar um ovo na colher, correr com balde cheio de água, enfiar contas, entre outros; Fazer movimentos de rotação dos objetos utilizando-se essencialmente dos movimentos dos dedos e punhos: enrolar um fio, parafusar com uma chave de parafuso, abrir maçaneta, enroscar a tampa de objetos cilíndricos, rodar objetos, enrolar tiras de papel, enroscar um parafuso numa porca, rodar objetos entre os dedos, entre outros; Combinar os movimentos das mãos com os outros segmentos dos braços: exercícios de mímica e imitação, fazer construção com blocos, movimentar uma roda ou manivela, entre outras; Praticar ações em que se utilizam as duas mãos: rasgar, picar, torcer pano, dobradura, dar laço, abotoar, entre outras; Executar ações instrumentais: usar tesoura, garfo, martelo, pinça, alicate, entre outros; Através dos dedos polegar e indicador, em forma de pinça, alinhar vários pinos; Realizar rabiscos, da esquerda para a direita e de baixo para cima, em folhas grande, média e pequenas, através do giz de cera em forma de ¨tijolinho¨; e posteriormente, com o gizão de cera + espátula (para o trabalho de pinça) , com movimentos amplos e depois mais curtos para dissociação da articulação do ombro; Realizar círculos em sentido anti-horário, com gizão + espátula, para dissociação dos dedos polegar e indicador;Posteriormente, em sentido horário; Ligar pontos para formar desenhos ou cópias de desenhos: exercícios em que se ligam pontos e se reproduzem padrões visuais apresentados como modelo e outros exercícios de colocação de objetos, alternando a ordem. Reforçar as linhas dos cadernos para ajudar a visualização de cada uma e a marcação de parágrafos. Recorrer a atividades que criem distorções de proporção e profundidade, como recorte de figuras de com uma cor e colagem em uma folha de outra cor (vermelho e branco; preto e laranja), formando sombras. Circuitos de exercícios que demandem habilidades motoras e percepto-visuais, como correr uma distância ultrapassando obstáculos (pular, rastejar), pegar uma bola e acertar um alvo em um determinado tempo, por exemplo; Atividades com recorte, colagem, jogos de encaixe, jogos de construção e manipulação, modelação, picotagem. Exercícios que facilitem a concentração nos estímulos e a identificação das qualidades de forma, tamanho e cor. A criança tanto pode distinguir objetos misturados, como classificar objetos da vida diária, destacar pormenores dos objetos, ver figuras específicas que estão sobrepostas a outras em fundos complexos, etc. Realizar os movimentos junto com a criança para que tenha a sensação do movimento e a visualização da ação.
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