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CORRELAÇÃO CLÍNICA Lara Camila | 4º Semestre D.M.P, sexo feminino, 32 anos de idade, casada, advogada, natural de Caxias do Sul – RS e residente em Camaçari-BA, é atendida em um pronto-socorro apresentando perda visual e fraqueza em perna direita há 12h. Nega cefaleia, febre, náusea, vômito, alteração do nível de consciência e outras queixas. Cursou com dor abdominal e diarreia, há, aproximadamente 30 dias. Refere episódio de “formigamento” em hemiface direita há 1 ano, com melhora espontânea. Nega patologias prévias. O exame neurológico evidencia perda visual importante no olho esquerdo, paresia em MID (FM III/V) e MIE (FM IV/V), reflexos tendinosos profundos aumentados em MMII e sinal de Babinski bilateral. Tomografia de crânio sem alterações. MID – Membro inferior direito MIE – Membro inferior esquerdo FM – Força muscular Sinal de Babinski É um reflexo no qual os dedos do pé se estendem e, em seguida, se abrem em um movimento parecido com um de um leque. Para isso, percute-se firmemente a região lateral da planta do calcanhar até o metatarso do pé com um abaixador de língua ou com a extremidade de um martelo. ➢ A reação é de um reflexo de origem espinal e indica desinibição espinal decorrente de lesão do neurônio motor superior. 1- Qual a doença apresentada por D.M.P? Esclerose múltipla 2- Qual a principal estrutura do sistema nervoso afetada nesta patologia? Bainha de mielina. A lesão é no SNC devido ao reflexo tendinoso aumentado e sinal de Babinski bilateral; se a lesão fosse no SNP, haveria uma perda dos reflexos tendinosos profundos e o sinal de Babinski, geralmente, é negativo. 3- Como explicar a melhora espontânea da parestesia em hemiface direita? Isso ocorreu porque a EM é uma doença do tipo surto/remissão, e durante o período de remissão, a bainha de mielina da paciente foi regenerada e, consequentemente, sua função foi restabelecida. TRANSMISSÃO DO IMPULSO NERVOSO Oligodendrócito e Células de Schwann O oligodendrócito é capaz de mielizinar células do SNC e a células de Schwann é capaz de mielinizar células do SNP. Além disso, as células de Schwann são capazes de mielinizar apenas um neurônio ou uma porção dele. Assim, a lesão nos oligodendrócitos é mais grave que nas células de Schwann, pois além de contribuírem na formação da bainha de mielina no SNC, ela consegue fazer isso em vários neurônios, e não em apenas um só, como as células de Schwann. A bainha de mielina formará a substância branca do encéfalo e da medula. Essa substância branca recebe vários nomes, como: lemnisco, coroa radiata e trato. Esses nomes mudam de acordo com a localização e organização da substância branca. A substância branca é formada pela bainha de mielina que reveste as fibras. A substância cinzenta é formada por corpos celulares de neurônios. O córtex cerebral possui uma densidade grande de neurônios. Assim, no cérebro, a substância branca está internamente, e a substância cinzenta, na periferia. Na medula, isso inverte: a substância branca estará externamente, e a substância cinzenta internamente. GRANDES VIAS AFERENTES E EFERENTES: EXEMPLOS Via neural: é um feixe de axônios que conecta dois ou mais neurônios diferentes, facilitando a comunicação entre eles. Tratos: são vias que estão localizadas no cérebro e na medula espinal, ou seja, no SNC. Alguns tratos são chamados de lemniscos, pedúnculos, fascículos etc. ➢ São formados por neurônios que fazem sinapse uns com os outros, e esses neurônios são classificados em primeira ordem, segunda ordem etc. ➢ São nomeados de acordo com sua origem e término. Ex: trato espinotalâmico (começa na medula espinal e termina no tálamo). A medula espinhal contém tratos ascendentes e descendentes. Tratos ascendentes: são as vias neurais sensoriais que levam informações somatossensoriais para o cérebro. São vias exteroceptivas (dor, temperatura, toque) e proprioceptivas (músculos e articulações). Os neurônios de primeira ordem são os neurônios aferentes que transmitem os impulsos nervosos dos receptores periféricos aos neurônios de segunda ordem – localizados no corpo posterior da medula espinhal. Os axônios dos neurônios de segunda ordem sobem pela medula espinhal e fazem sinapse com neurônios de terceira ordem em estruturas subcorticais do cérebro, como tálamo. Os neurônios de terceira ordem levam o impulso para o córtex cerebral. Trato espinotalâmico lateral Esse trato decussa na medula espinhal. Os neurônios de segunda ordem, viajando pelo trato espinotalâmico lateral, terminam no tálamo, e os neurônios de terceira ordem se projetam ao córtex somatossensorial primário. É a via que capta dor aguda e a temperatura; a dor entra via receptor e, através do neurônio de primeira ordem irá chegar na medula e irá para o cérebro. Sistema coluna dorsal – lemnisco medial Os fascículos grácil e cuneiforme (conhecidos como coluna dorsal). Juntamente com o fascículo longitudinal medial, forma o sistema coluna dorsal- lemnisco medial. Os axônios dos neurônios de primeira ordem ascendem ipsilateralmente (do mesmo lado) pela medula espinhal e fazem sinapse com os núcleos grácil e cuneiforme do bulbo. Os axônios dos neurônios de segunda ordem decussam (cruzam a linha mediana da medula espinhal) e continuam subindo como lemnisco medial até o tálamo. Após a sinapse, os neurônios de terceira ordem alcançam o córtex somatossensorial primário, onde as sensações são mapeadas e a fonte identificada. Essa via é responsável pela propriocepção e tato epicrítico. Assim, se houver lesão nessa via, possivelmente, haverá uma incapacidade de distinguir objetos com olhos fechados e prejuízos na consciência corporal. Tratos descendentes: são fibras motoras que percorrem a substância branca levando informações do cérebro para os efetores periféricos. Elas estão envolvidas nos movimentos voluntários e involuntários, nos reflexos, na regulação do tônus muscular e nas funções viscerais. Os neurônios de primeira ordem partem do córtex cerebral ou do tronco cerebral e fazem sinapse no corpo anterior da medula espinhal. Neurônios de segunda ordem muito curtos transmitem o impulso a neurônios de terceira ordem que também estão no corno anterior. Os neurônios de terceira ordem são os neurônios eferentes que percorrem o caminho até os músculos lisos e esqueléticos, inervando-os. OBS: os tratos corticoespinhal e corticobulbar formam o trato piramidal, que está sob controle voluntário. Os demais, formam o sistema extrapiramidal, que está sob controle involuntário. Trato corticonuclear/corticobulbar Influencia a atividade dos núcleos motores dos nervos cranianos motores e mistos. Através desses núcleos e motores e nervos, esse tato controla a atividade dos músculos da cabeça, face e pescoço. Trato corticoespinhais É responsável por transmitir impulsos relacionados à velocidade e agilidade dos movimentos voluntários. Os impulsos se originam no córtex motor primário, no giro pré-central, e o trato é composto por apenas dois neurônios (e não três, como vimos nas vias aferentes). Os neurônios motores de primeira ordem (neurônios motores superiores – NMS) emitem axônios que descem até o bulbo, onde a maioria (90%) decussa e forma os tratos corticoespinhais laterais. O restante das fibras desce homolateralmente como os tratos corticoespinhais anteriores e decussa mais abaixo na medula espinhal, depois de sua passagem pelo bulbo. No corno cinzento anterior da medula, fazem sinapse com os neurônios motores de segunda ordem (neurônios motores inferiores – NMI). Esses neurônios se projetam nos músculos efetores periféricos, resultando em movimento. ➢Também chamado de trato piramidal, porque forma uma pirâmide quando passa pelo bulbo. ESCLEROSE MÚLTIPLA É definida clinicamente pelo envolvimento de diferentes partes do SNC em momentos distintos (desde que outras doenças que causam disfunção central multifocal tenham sido excluídas, ou seja, é um diagnóstico de exclusão); Qualquer destruição da bainha de mielina desde a entrada na medula até o córtex cerebral irá provocar manifestações clínicas abrangentes. A esclerose múltipla tem uma diversidade de manifestações, porque ela pode danificar a bainha de mielina de qualquer ponto de substância branca do sistema nervoso central. Ex: se houver lesão no trato espinotalâmico lateral, o quadro clínico poderá ser de anestesia ou distúrbio na condução e, assim o paciente poderá ter percepções diferentes. Por isso, o paciente pode ter parestesia – sensação de formigamento. ➢ Ou seja, todo o neuroeixo pode ser afetado na esclerose múltipla. No caso da paciente do caso clínico, provavelmente, foi uma lesão de extensão pequena, pois ela não procurou o auxílio médico e conseguiu restabelecer a função da bainha de mielina (formigamento da hemiface direita há 1 ano); Quanto mais cedo iniciar o tratamento adequado, haverá redução da doença inflamatória (pois o organismo tenta reparar) e, consequentemente, redução do dano. Assim, o oligodendrócito é capaz de recuperar a bainha de mielina danificada e restabelecer sua função. No entanto, muitas vezes a função não é restabelecida porque a lesão foi grave. Mulher + adulta jovem + manifestações neurológicas dissociadas ou repetidas ao longo do tempo em regiões distintas (Ex: olho, MMII e hemiface direita) = pensar em esclerose múltipla!!! Epidemiologia É um dos distúrbios neurológicos mais comuns, e sua maior incidência é em adultos jovens. Os sintomas iniciais em geral começam antes dos 55 anos, com um pico de incidência entre 20 e 40 anos; sendo mais frequente em mulheres (3:1) > Evidências atuais: a causa da esclerose múltipla é desconhecida. Acredita-se que tem uma base autoimune -> mecanismo imunológico dirigido contra antígenos da bainha de mielina. Patologia Desenvolvimento focal (frequentemente perivenular) de áreas disseminadas de desmielinização → Gliose reativa → Dano axonal → Degeneração neuronal. • Essas lesões ocorrem na substância branca e na substância cinzenta do SNC e no nervo óptico (II). - Doença desmielinizante de caráter inflamatório (em resposta à agressão da bainha de mielina) e neurodegenerativo; - Lesão da bainha de mielina do SNC (substância branca); - A desmielinização ocorre em qualquer parte do neuroeixo, havendo remissão parcial ou total em dias ou semanas; - Normalmente, as lesões são justacorticais e periventriculares, pois essas regiões têm uma grande vascularização que facilita o processo inflamatório. Assim, se não houver restauração, o tecido nervoso será substituído por uma cicatriz glial. Consequentemente, haverá disfunção – em maior ou menor grau – da região acometida. OBS: para o diagnóstico de esclerose múltipla, as lesões precisam ter ocorrido em tempo e espaço distintos. Fisiopatologia Infecção viral ou outros fatores desencadeantes podem promover a entrada de células T e anticorpos no SNC por uma interrupção da barreira hematoencefálica → Respostas autoimunes contra vários antígenos → Ataque imunológico à mielina. Redução da velocidade de condução nervosa + perda de axônios + perda de corpos celulares = sintomas neurológicos progressivos. Principais manifestações clínicas: 1- Sintomas iniciais ou de apresentação; Queixas iniciais mais comuns: • Paraparesia espástica assimétrica (geralmente mão ou perna: lesão do trato corticoespinhal medular); normalmente, um lado é afetado mais que outro. Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores ou superiores; pessoas com paraparesia espástica têm reflexos exagerados, cãibras e espasmos, tornando os movimentos das pernas rígidos e espasmódicos (marcha espástica); • Parestesias (extremidades, tronco e/ou hemiface); Parestesias: são sensações cutâneas subjetivas que são vivenciadas espontaneamente na ausência de estimulação. Ex: frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento etc. • Distúrbios visuais (escotomas, diplopia, amaurose); Escotomas: manchas pretas no campo visual; Diplopia: visão dupla; geralmente devido a um distúrbio na condução. Amaurose: cegueira total ou parcial; • Reflexos tendinosos profundos aumentados e resposta extensora plantar (sinal de Babinski); • Fadiga; • Desequilíbrio ou um distúrbio da função vesical (urgência urinária ou hesitação – dificuldade de iniciar a micção). LEMBRAR: os sintomas são frequentemente transitórios, ou seja, desaparecem em alguns dias ou semanas. 2- Evolução subsequente Pode haver um intervalo de meses ou anos após o episódio inicial, antes do aparecimento de novos sintomas neurológicos. Os sintomas podem ser diferentes dos anteriores, mas podem ser uma progressão deles. ➢ Em mulheres, são mais prováveis que esses sintomas voltem nos três primeiros meses após o nascimento de um filho. CLASSIFICAÇÃO Recorrente-remitente A progressão não ocorre entre os ataques Progressiva secundária Evolução gradualmente progressiva, após um padrão inicial recorrente-remitente Progressiva primária Há uma progressão gradual da incapacidade depois do início clínico Progressiva-recorrente Recaídas agudas sobrepostas a uma evolução progressiva primária Investigações Líquido cerebroespinal (LCS): anormal, com linfocitose ou aumento leve da concentração de proteínas; presença de IgG em 90% dos pacientes; ➢ Quando existe evidência clínica de lesão em somente um lugar do SNC, o diagnóstico de EM não pode ser feito de modo adequado, até que outras regiões tenham sido afetadas subclinicamente. RM: ajuda a detectar lesões subclínicas. Por isso, tornou0se indispensável para a confirmação do diagnóstico. ➢ T1: “buracos negros”, demonstrando áreas de dano axonal permanente; ➢ T1 com gadolíneo: áreas de inflamação com degradação da BHE; ➢ T2: a carga da doença ou a carga a lesão (número total de lesões). OBS: os achados de imagem devem ser interpretados no contexto clínico no qual foram obtidos. A região do forame magno deve ser visualizada para excluir a possibilidade de uma lesão como a malformação de Arnold-Chiari. Diagnóstico A EM clinicamente definida pode ser diagnosticada em pacientes com uma evolução recorrente-remitente e sinais de pelo menos duas lesões envolvendo regiões diferentes da substância branca central. A EM provável é diagnosticada quando os pacientes têm evidência de doença multifocal da substância branca, mas apresentaram somente um ataque clínico ou têm uma história de pelo menos dois episódios clínicos típicos, com sinais de somente uma lesão isolada. ➢ Quando os pacientes tiveram um único evento clínico, deve ser feito o diagnóstico de uma síndrome clinicamente isolada (SCI). Esses pacientes têm risco aumentado para EM e recebem tratamento igual para retardar a progressão de uma doença clinicamente definida. Prognóstico Prognóstico mais favorável: sexo feminino + início anes dos 40 anos + apresentação com disfunção visual ou somatossensorial mais do que com disfunção piramidal ou cerebelar. POLIRRADICULONEUROPATIA INFLAMATÓRIA AGUDA - SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ Doença desmielinizante no SNP; Polineuropatia inflamatória aguda, em geral, rapidamente progressiva. ➢ Na polineuropatia, existe um envolvimento simétrico e simultâneo de vários nervos. Assim, os déficits resultantes de nervos individuais não podem ser reconhecidos clinicamente. Inícioentre 5-21 dias após quadro infeccioso, cirurgia ou vacinação; Quadro infeccioso é o gatilho em mais de 50% dos casos; Principais manifestações clínicas: Paralisia simétrica, ou seja, acomete os dois membros inferiores; inicia normalmente nos MMII e ascende para os MMSS Parestesia leve; Paralisia flácida, e não espástica; com ausência ou diminuição de reflexo tendinoso (Sinal de Babinski negativo). Em casos graves existe uma fraqueza acentuada de todos os membros, além de fraqueza facial bilateral; o envolvimento autônomo é comum e pode levar a um resultado fatal, com pneumonia aspirativa ou comprometimento respiratório decorrente da fraqueza. Patógenos frequentemente associados: • Campylobacter jejuni • Enterovírus • Citomegalovírus • Vírus Epstein-Barr • Mycoplasma spp. • Vírus da Zika LEMBRAR Axônio – vem de um neurônio Fibra nervosa – um ou mais axônios + estruturas adjacentes, como a bainha de mielina União de fibras no SNP – nervo União de fibras no SNC – substância branca, lemnisco, trato, fascículo etc.
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