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ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 1 A obturação consiste no preenchimento da porção modelada do canal com materiais inertes ou antissépticos que promovam um selamento tridimensional e estimulem – ou não interfiram – no processo de reparo. É axiomático que o selamento tridimensional do canal radicular, através da obturação, constitui um procedimento de fundamental importância. Ao ocupar o espaço criado pela modelagem, a obturação inviabiliza a sobrevivência dos micro-organismos, evita a estagnação de líquidos, oferece condições para que ocorra o reparo e, assim, contribui de maneira decisiva para o sucesso da terapêutica endodôntica. Para que a endodontia possa ser concluída, o que acontecerá com a obturação, é necessário que algumas condições sejam observadas: ✓ O dente não deve apresentar dor espontânea ou provocada, pois a presença de dor indica a existência de inflamação e/ou infecção dos tecidos periapicais, e a obturação poderia exacerbar a algia. ✓ O canal deve estar corretamente limpo e modelado. ✓ O canal deve estar seco: a presença de exsudado contraindica a obturação. Algumas vezes, durante o tratamento de um dente com polpa necrosada, após algumas tentativas para secar o canal, o exsudado persiste. Nestas situações, é conveniente reavaliar o preparo realizado e preencher o canal com uma pasta de hidróxido de cálcio. ✓ O canal modelado não deve ter ficado aberto à cavidade bucal por rompimento da restauração provisória. Quando o dente apresentar todos esses requisitos, a obturação pode ser concretizada. A obturação do canal radicular pode ser realizada na mesma sessão em que a modelagem foi concluída. A obturação do canal efetuada em outra sessão, seguinte àquela em que se realizou o preparo mecânico, e depois que o canal preparado ficou submetido à ação do curativo de demora, é um procedimento que propicia um pós- operatório tranquilo. O tratamento endodôntico em uma sessão deve ser um privilégio daqueles que conseguem reunir conhecimento, experiência e esmero. NÍVEL APICAL O nível da obturação está intimamente relacionado com o nível da modelagem, uma vez que todo o espaço modelado deve ser preenchido. Estudos dos autores confirmaram os achados de outras investigações, ao observar que os melhores resultados, tanto do ponto de vista clínico quanto do histológico foram alcançados quando a obturação distou, aproximadamente, 1 mm do forame apical. O nível da obturação é o mesmo da modelagem. TRIDIMENSIONALIDADE A obturação endodôntica deve preencher tridimensionalmente o canal modelado. De nada vale alcançar satisfatoriamente o nível apical se permanecerem espaços laterais que são locais adequados para a sobrevivência e o desenvolvimento de bactérias, bem como do acúmulo de suas toxinas. A obturação deve assegurar um ótimo selamento em todas as dimensões, bloqueando as comunicações coronárias, apicais ou laterais da cavidade pulpar com o periodonto. MATERIAIS A literatura, a experiência clínica e os estudos realizados pelos autores sobre o comportamento histopatológico de alguns materiais obturadores indicam: a) que o sucesso do tratamento pode ser alcançado com o uso de diferentes materiais; b) que mais importante do que o material é a realização da obturação tridimensional no nível considerado ideal. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 2 Assim, até que investigações propiciem o aparecimento ou a confirmação da existência do material ideal, a obturação poderá ser realizada com um dos materiais que – por suas propriedades físicas, químicas e biológicas – propicie à obturação condições para que ela atinja os seus objetivos. GUTA-PERCHA A guta-percha foi introduzida na Endodontia por Bow- mann, em 1867. É uma substância vegetal extraída sob a forma de látex de árvores da família das sapotáce- as (Mimusops balata e Mimusops hiberi). Os cones de guta- percha têm aproximadamente 20% de guta-per- cha, 60 a 75% de óxido de zinco e os demais elementos em proporções menores. A guta-percha apresenta-se sob duas formas cristalinas distintas: alfa-cristalina e beta- cristalina. A guta-percha na forma alfa-cristalina é quebradiça à temperatura ambiente, tornando-se, quando aquecida, pegajosa, aderente e com maior es- coamento. Sua temperatura de fusão é de 65°C. Já a forma beta-cristalina, disponível comercialmente na maioria dos casos, é estável e flexível à temperatura ambiente. Quando aquecida, não passa a apresentar adesividade e tem menor escoamento do que a forma alfa. Sua temperatura de fusão é de 56°C. As deficiências evidenciadas nos diversos produtos têm sido, em parte, superadas pelo emprego concomitante de materiais em estado sólido (cones de gutapercha ou resilon) e em estado plástico (cimentos). Os cones de guta-percha apresentam, em sua composição, guta-percha, óxido de zinco, radiopacificador e resinas ou ceras e, por suas boas propriedades físicas, químicas e biológicas, vêm sendo o material mais intensamente empregado ao longo dos anos. Existem cones para serem empregados como cone principal e cones para serem utilizados como secundários. Os cones principais são comercializados nos números 15 ao 40, 45 ao 80 e 90 a 140 com conicidade 0,02. Os da primeira e da segunda série também são fabricados com outras conicidades (por exemplo, 0,04, 0,06, etc.). Estes calibres deveriam corresponder, aproximadamente, aos dos instrumentos; lamentavelmente, na grande maioria das marcas, essa relação não existe. Os cones secundários, auxiliares ou acessórios, usados na condensação lateral para ocupar os espaços maiores entre o cone principal e as paredes do canal, são mais finos, têm várias conicidades e não têm padronização. Associados aos cones de guta-percha, os materiais plásticos, por sua capacidade de ocupar pequenos espaços, desempenham papel significativo no selamento tridimensional do canal radicular. TÉCNICAS DE OBTURAÇÃO Ora adequadas ao material usado, ora de acordo com as condições do canal em tratamento, todas elas têm objetivos comuns: reunir qualidade com praticidade. Concluído o preparo mecânico e preenchidos os demais requisitos indispensáveis, estaremos em condições de realizar a obturação do canal radicular. Após a retirada do selamento provisório, faz-se uma abundante irrigação, com o objetivo de remover restos do curativo de demora. O canal é seco com cones de papel estéreis e tem início a obturação, de acordo com as seguintes etapas: 1-ESCOLHA DO CONE PRINCIPAL O cone principal – com o cimento – é o responsável pela obturação do canal em profundidade e, com os cones acessórios, promove a repleção em lateralidade. A escolha de um cone de guta-percha com diâmetro similar ao diâmetro do canal em sua porção apical é decisiva para a qualidade da obturação. Sua eleição está baseada em dois fatores: 1. no calibre do último instrumento utilizado na modelagem e 2. no comprimento de trabalho usado para modelagem. O extremo do cone principal dever ter forma e dimensões muito próximas daquelas que o último instrumento usado na modelagem do terço apical deu ao canal radicular. Para conseguirmos essa adaptação, é fundamental correlacionarmos o número do cone principal com aquele do último instrumento usado na modelagem do terço apical. Como essa correlação é subjetiva, somente a colocação do cone no canal permitirá avaliar, tatilmente, se ele está adaptado. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 3 O uso de uma régua calibradora de cones de guta-percha, que apresentaorifícios com diâmetros que correspondem aos instrumentos de # 20 ao # 140, pode simplificar esta escolha. Bem adaptado, o cone oferecerá discreta resistência à tração; parecerá preso ao canal. Atenção e sensibilidade são indispensáveis para que se possa identificar o travamento do cone. Como o cone de guta-percha pode entrar em contato com os tecidos periapicais, é necessário fazer a sua desinfecção. Para isso, antes de iniciar a seleção, os cones que provavelmente serão utilizados devem ficar submersos em um antisséptico, por exemplo, a soda clorada (hipoclorito de sódio a 5,25%) por 1 a 2 minutos. Com o uso de instrumentos e de cones de guta-percha estandardizados, essa escolha fica aparentemente facilitada. Assim, ao uso do instrumento # 45, deveria corresponder o cone principal # 45 Infelizmente, na maioria dos casos, a falta de estandardização, especialmente na fabricação dos cones de guta-percha, não proporciona a correspondência de calibre desejada entre o instrumento e o cone do mesmo número. Além disso, os cones apresentam irregularidades que dificultam a escolha. Por essa razão, algumas vezes somos obrigados a recorrer a cones de numeração inferior (# 40, para o exemplo dado) ou superior (por exemplo, # 50). Ainda assim, em alguns casos, é difícil encontrar um cone que se ajuste ao canal. Nessas circunstâncias, a confecção de um cone com diâmetro intermediário pode ser a solução. No exemplo usado anteriormente, o cone # 45 era o escolhido mas, na prática, mostrou-se muito calibroso; o de # 40, muito fino. Cortando, pouco a pouco, pequenas frações da extremidade do cone # 40 com uma lâmina de barbear ou um bisturi, obteremos um cone com calibre intermediário que se ajuste ao canal. O corte com tesoura deve ser evitado. A pressão das lâminas da tesoura esmaga as extremidades do cone, alterando completamente a sua forma. Durante todas as manobras para selecionar o cone com diâmetro adequado, é necessário considerar também o comprimento de trabalho. Ajustes do cone aquém ou além do nível estabelecido constituem erros que devem ser corrigidos. A escolha do cone principal não é fácil e, devido a sua importância decisiva para a qualidade da obturção, exige muita atenção. Mesmo assim, podem ocorrer equívocos. O travamento do cone alcançado, após diversas tentativas e muito esmero, muitas vezes não assegura sua correta adaptação à porção apical do canal, que só acontecerá quando houver correspondência entre a forma da secção do canal e a do cone; a inexistência desta correspondência poderá comprometer a qualidade do selamento. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 4 Esse fato destaca a importância de uma correta instrumentação e evidencia a interrelação entre as diversas etapas do tratamento endodôntico. Escolhido o cone, uma radiografia confirmará o nível de sua adaptação apical (prova do cone) Feita essa verificação, é prudente – antes de retirá-lo do canal – cortá-lo, com uma tesoura, rente ao bordo de referência ou esmagá-lo nesse ponto com os mordentes de uma pinça clínica. Na sequência, ele deverá ser colocado em um recipiente contendo uma solução desinfetante, como soda clorada ou álcool 70°, durante aproximadamente 1 a 2 minutos. Ocasionalmente, a adaptação do cone principal no nível desejado só é alcançada por meio da moldagem do cone de guta-percha (técnica do cone moldado). Nesse procedimento, a ponta de um cone, ligeiramente maior, é levemente aquecida (por exemplo em água morna) ou amolecida (por exemplo em clorofórmio ou xilol) e o cone é introduzido no canal úmido até o nível desejado. Uma suave pressão apical fará com que o cone amolde-se à forma apical do canal. 2- PREPARO DO CIMENTO OBTURADOR Os cimentos obturadores de canal são geralmente encontrados sob a forma de pó-líquido ou de pasta-pasta. Com uma espátula esterilizada, tire do frasco uma determinada quantidade de pó e deposite-a sobre uma placa de vidro estéril. Do frasco que contém o líquido, pingue algumas gotas sobre a placa, ao lado do pó. A quantidade de pó depende do volume de cimento obturador que se deseja preparar, de acordo com a amplitude e o número de canais a serem obturados. O líquido será usado em quantidade suficiente para que se obtenha um cimento na consistência desejada. Com o auxílio de uma espátula para manipulação vá, pouco a pouco, aglutinando o pó ao líquido até que o cimento preparado adquira uma consistência pastosa e homogênea. Quando estiver nessa consistência, ao colocar a espátula sobre a mistura e levantá-la, irá formar-se um fio de cimento que se romperá ao atingir uma altura de aproximadamente 2 cm. Misturas muito fluidas favorecem o extravasamento; aquelas muito consistentes podem prejudicar a qualidade da obturação. Uma correta manipulação pode melhorar suas propriedades. Preparado o cimento, recolha-o de sobre a placa de vidro com a espátula. Escolhido o cone principal e preparado o cimento obturador, inicia-se a terceira e última etapa. 3- TÉCNICA DA OBTURAÇÃO 1) Utilizando o último instrumento empregado na modelagem, calibrado 2 a 3 mm a menos do que o comprimento de trabalho, apanhe de sobre a espátula uma pequena quantidade do cimento obturador e leve-a ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 5 ao canal. Acoste o instrumento sobre as paredes do canal e, com movimento de rotação anti-horário, retire-o lentamente, procurando deixar depositado sobre elas o cimento. 2) Repita a operação mais uma ou duas vezes, ou até que as paredes do canal estejam revestidas por uma delgada camada de cimento obturador. 3) Com uma pinça clínica, apanhe o cone principal, lave- o com soro fisiológico ou com água destila- da, seque-o com uma compressa de gaze estéril, besunte-o no cimento deixando livre a sua extremidade e introduza-o lentamente no canal até que penetre em toda a extensão do comprimento de trabalho. 4) Por tentativa, selecione um espaçador digital de calibre compatível com o espaço ainda existente no interior da cavidade pulpar e proceda a sua calibragem de acordo com o comprimento de trabalho. 5) Com movimento firme em direção apical e com pequenas oscilações, de um quarto de volta, para a direita e para a esquerda, introduza o espaçador no canal, procurando pressionar o cone principal lateralmente contra uma das paredes. Em face do travamento do cone principal, o espaçador nunca deverá penetrar em todo o comprimento de trabalho. Se isso acontecer, reavalie a escolha do cone principal. 6) Mantenha o espaçador no canal. 7) Com a pinça clínica, apanhe um cone acessório (que deve estar mergulhado há alguns minutos em uma solução antisséptica, como álcool 70°) de calibre similar ao do espaçador, seque-o e besunte-o no cimento obturador, inclusive sua extremidade. 8) Enquanto, com uma das mãos, você segura a pinça com o cone acessório, com a outra, retire o espaçador do canal, girando-o no sentido anti-horário. 9) Imediatamente, introduza o cone acessório no espaço deixado pelo instrumento, procurando fazer com que alcance o mesmo nível de profundidade do espaçador. 10) Repita este procedimento, buscando levar ao canal radicular a maior quantidade possível de cones acessórios . Eles, juntamente com o cone principal e o cimento obturador, serão os responsáveis pela obturação tridimensional do canal. 11) A colocação dos cones acessórios deverá ser feita até que você observe que tanto o espaçador quanto os cones não penetram no canal além do limite entre os terços médio e cervical. 12) Concluídaa condensação lateral, faça uma radiografia periapical para avaliar a qualidade da obturação (radiografia pré-final). ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 6 13) Constatada radiograficamente sua adequação, com o auxílio de uma cureta aquecida na chama de uma lamparina, corte todos os cones na entra- da do canal (depois do colo clínico) e remova os excessos. 14) Utilizando um calcador pequeno, pressione os cones de guta-percha na entrada do canal, fazendo uma condensação vertical, procurando regularizar a superfície cervical da obturação. 15) Com uma bolinha de algodão embebida em álcool e com o auxílio de uma pinça clínica, limpe minuciosamente a câmara pulpar, eliminando todo o remanescente do material obturador empregado. 16) Seque a cavidade com uma bolinha de algodão e restaure o dente com um cimento provisório 17) Faça uma radiografia periapical do dente obturado Após a remoção do isolamento absoluto, é importante avaliar a harmonia oclusal do dente tratado.Sobreoclusões podem determinar pós- operatórios desconfortáveis e retardar o reparo dos tecidos periapicais. Para contar com a colaboração e a compreensão do paciente, oriente-o sobre o pós-operatório. Nos casos de algum acidente (sobreinstrumentação ou sobreobturação), é conveniente alertá-lo para a possibilidade de uma sintomatologia mais acentuada Os espaçadores são instrumentos metálicos destinados a proporcionar espaços para colocação dos cones secundários durante a obturação. São comercializados com cabos manuais e digitais e em diferentes calibres. Apresentam uma forma cônica com ponta aguda ou romba, de acordo com a fábrica. São fabricados em aço inoxidável ou níquel-titânio, sendo estes últimos mais flexíveis e, por isso, recomendados para obturação de canais curvos . Com o tratamento endodôntico corretamente concluído, é necessário realizar periodicamente avaliações clínicas e radiográficas que possibilitem aferir o resultado em longo prazo. Os inúmeros estudos que têm demonstrado a possibilidade de ocorrer infiltração através da obturação do canal, no sentido coroa-ápice, recomendam que a restauração provisória, ao final da sessão em que o canal foi obturado, deve ser realizada com materiais que proporcionem bom selameto. Ao mesmo tempo, é ne- cessário providenciar a restauração definitiva na maior brevidade possível. A técnica para obturação de dois, três ou mais canais de um mesmo dente em geral é idêntica à que foi descrita. 1. A obturação, por exemplo, de três canais exige mais tempo e mais tranquilidade. 2. Faça a obturação de cada canal individualmente. Não obture todos ao mesmo tempo: isso evitará que os cones se juntem na câmara pulpar, dificultando a condensação lateral. 3. Prepare um pouco de cimento para cada canal no momento de usá-lo. Isso impedirá que, com o passar do tempo, o cimento comece a mostrar sinais de endurecimento. As discrepâncias morfológicas dos instrumentos entre si, entre os instrumentos e os cones de guta-percha, somadas à variada anatomia dos canais radiculares cria grandes dificuldades para a obturação do sistema de canais radiculares com um único material. Por esse motivo, a obturação, para atingir o preenchimento tridimensional, necessita da guta-percha complementada pelo cimento endodôntico. A finalidade do cimento é ocupar os pequenos espaços entre a guta-percha e as paredes do canal radicular, assim como aqueles entre os próprios cones de guta- percha. REQUISITOS ✓ Fácil manipulação e aplicação no canal: ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 7 A mistura apropriada dos componentes (pó-líquido, pó- gel, pasta-pasta) melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas dos cimentos endodônticos. Um cimento corretamente preparado, em proporções e consistência, possui um tempo de trabalho adequado, menor solubilidade e desintegração, conserva a estabilidade dimensional, apresenta uma correta radiopacidade e melhora, consideravelmente, sua tolerância tecidual. Um tempo de trabalho adequado significa que o cimento deve conservar-se em estado plástico durante todo o procedimento de obturação para permitir sua introdução no conduto radicular e as manobras inerentes à colocação da guta-percha, seja na forma de cones, seja na forma termoplastificada. Existem cimentos endodônticos que possuem um tempo de endurecimento aceitável (tempo decorrido entre a mistura e o completo endurecimento), porém um escasso tempo de trabalho (tempo decorrido entre o fim da espatulação e o início do endurecimento), o que dificulta a obturação. O uso de um cimento com um bom tempo de trabalho permite realizar as manobras de correção da obturação quando, na radiografia pré-final (antes de cortar definitivamente os cones), constatamos alguma incorreção. Por outro lado, não é conveniente que o tempo de endurecimento do cimento endodôntico seja muito prolongado, pois sua ação irritante é maior quando se encontra em estado plástico. ✓ Boa estabilidade dimensional, impermeabilidade e aderência O cimento endodôntico deve preencher, de forma estável e permanente, os espaços entre os cones de guta- percha e/ou entre eles e as paredes do canal radicular. A estabilidade dimensional do material de obturação, ao longo do tempo, é uma condição imprescindível. Sua perda parcial ou total atenta contra os objetivos da obturação e pode ser produzida por causas físicas (contração) ou químicas (solubilidade e desintegração). Dentre as condições físicas que devem apresentar os cimentos endodônticos, também devemos considerar sua impermeabilidade. Nesse sentido, a obturação não deve absorver nem ser afetada pela umidade tissular. Da mesma forma, é importante que o material tenha aderência às paredes do canal ou, pelo menos, se adapte adequadamente a elas. Quando o material apresentar essas propriedades, estaremos em condições de alcançar o adequado selamento do canal radicular em toda a sua extensão. Isso significa impedir a passagem, quer por via coronária, apical e/ou lateral, de micro-organismos, toxinas e outros produtos do canal radicular para a região perirradicular e vice-versa. ✓ Bom escoamento A variada anatomia do sistema de canais radiculares, caracterizada pela presença de anfractuosidades, canais laterais, deltas apicais, etc., torna necessário que os cimentos endodônticos possuam fluidez adequada para ocupar estes espaços e facilitar a tridimensionalidade da obturação. Esta propriedade adquire fundamental importância durante a condensação lateral e no momento da compactação da guta-percha termoplastificada. ✓ Adequada radiopacidade A leitura radiográfica representa o único controle possível do nível apical e da homogeneidade da obturação endodôntica. Esta situação requer que os materiais empregados na obturação possuam uma radiopacidade superior à dos tecidos dentários e ósseos. Ainda assim, a radiopacidade não deve ser tão intensa que termine por esconder os defeitos da obturação, como ocorre com algumas pastas. ✓ Não alterar a cor do dente Alguns cimentos obturadores, à base de óxido de zinco e eugenol, ou que contêm metais pesados, podem alterar a cor da coroa. Para minimizar ao máximo essa possibilidade, é necessário deixar a obturação além da linha do colo, remover completamente o material da câmara pulpar e limpá-la cuidadosamente. ✓ Ação antibacteriana Os cimentos endodônticos devem ter ação antibacteriana ou, ao menos, não favorecer o desenvolvimento dos micro-organismos. Em geral, todos possuem em sua fórmula componentescom propriedades antibacterianas e, assim, teriam ação contra as bactérias que possam ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 8 persistir após o preparo do canal radicular. Esse efeito diminui consideravelmente após o endurecimento. ✓ Não interferir com os cimentos para fixação de retentores intrarradiculares Diversas publicações contraindicam o uso de cimentos endodônticos que contenham eugenol quando se pretende empregar pinos intrarradiculares que deverão ser fixados com materiais resinosos. De acordo com estes estudos, os resíduos de eugenol interfeririam na polimerização das resinas para cimentação, alterando o mecanismo de adesão. Ao contrário, outras avaliações descartam a importância clínica daqueles resultados. Assim, diante da controvérsia sobre este tema, seria conveniente evitar o emprego de materiais de obturação endodôntica que possam exercer alguma influência sobre o mecanismo de adesão dos cimentos utilizados pela prótese. ✓ Passível de ser removido parcial ou totalmente Os materiais empregados na obturação dos canais radiculares devem possibilitar a remoção parcial em caso da necessidade de uso de um retentor intrarradicular. Da mesma forma, em casos de fracasso endodôntico, o retratamento exige sua total remoção a fim de tentar uma nova terapia. Materiais que dificultam essa manobra conduzem, com muita probabilidade, a acidentes. Os cones de guta-percha são solúveis em eucaliptol e muito solúveis na presença de xilol, clorofórmio e terebentina. ✓ Biocompatibilidade A relação dos materiais de obturação com o tecido periodontal circundante deve ser ótima. Até o presente, todos os materiais empregados possuem certo grau de agressão, o que é geralmente tolerado e compensado, com o decorrer do tempo, pela capacidade defensiva do organismo. Todos os materiais, para serem empregados na obturação dos canais radiculares, devem apresentar um bom comportamento biológico. Nesse sentido, a propaganda comercial não é uma garantia suficiente, e os resultados de investigações criteriosas devem aconselhar seu emprego ou seu desuso. TIPOS DE CIMENTOS A fim de ordená-los didaticamente, os cimentos em dodônticos podem ser agrupados de acordo com seus componentes químicos: CIMENTOS ENDODÔNTICOS COM BASE DE ÓXIDO DE ZINCO-EUGENOL a) Cimento de Grossman (pó-líquido) Possui um tempo de trabalho adequado, bom escoamento, boa adesividade às paredes dentinárias e radiopacidade aceitável. Durante a sua preparação, deve ser espatulado demoradamente, a fim de incorporar ao líquido a quantidade necessária do pó. Para se obter um bom escoamento, não se deve exagerar na quantidade de líquido, mas sim fazer uma mistura bem espatulada. Um cimento com alta proporção de eugenol é muito irritante e com propriedades físicas e químicas deficientes. b) Endométhasone ivory (Septodont) (pó-líquido) Devido ao pequeno tamanho de suas partículas, permite uma maior incorporação do pó ao líquido, o que lhe confere boa consistência. Como consequência da presença de corticosteroides em sua fórmula, lhe são atribuídas propriedades anti-inflamatórias. c) Pulp Canal Sealer (SybronEndo) (pó-líquido) É um cimento tradicional, conhecido como cimento de Rickert. Devido à presença de prata na sua composição, possui alta radiopacidade e seu tem de trabalho é curto. Existe uma versão (Pulp Canal Sealer EWT, SybronEndo) com tempo de trabalho maior. Outro selador, com características semelhantes, é o N-Rickert que, além dos componente enunciados, contém delta-hidrocortisona. d) Tubli Seal (SybronEndo) (pasta-pasta) É uma resina oleosa que possui um tempo de trabalho reduzido, especialmente na presença de calor e de umidade. A apresentação pasta-pasta permite uma mistura mais homogênea. Sua radiopacidade, seu escoamento e sua capacidade seladora são adequados. Atualmente, o Tubli-Seal e o Tubli-Seal EWT são comercializados com o sistema de seringas automescladoras. RESINAS PLÁSTICAS a) AH 26 (Dentsply/DeTrey) (pó-gel) ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 9 É uma resina epóxica que possui um tempo de trabalho prolongado e endurece entre 24 e 48 horas. Esta característica a torna ideal para o emprego na obturação de peças dentárias multirradiculares ou com dificuldades anatômicas, em que o procedimento pode resultar mais complicado ou serem necessárias correções, dada a dificuldade do caso. Sua radiopacidade e adesividade são muito satisfatórias. Possui alto escoamento, de modo que o canal a ser obturado deve apresentar um bom stop apical, a fim de evitar a sobreobturação. Seu efeito antisséptico é moderado e se mantém até que comece o endureci- mento. O AH 26 Silver Free (Dentsply/DeTrey) é outra versão, da qual foram eliminados o pó de prata e o óxido de titânio da fórmula original. b) AHPlus (Dentsply/DeTrey) (pasta-pasta) Esse cimento é uma epóxi-amina. Possui uma composição química diferente do AH 26, e seus tempos de trabalho e de endurecimento são ligeiramente menores (4 e 8 horas respectivamente). Sua radiopacidade e adesividade são muito satisfatórias. Possui alto escoamento, o que exige um canal com bom stop apical. A proporção adequada para mistura é de partes iguais de ambas as pastas. c) Diaket (3M ESPE) (pó-gel) É uma resina polivinílica que tem um curto tempo de trabalho e, alguns minutos após sua preparação, adquire uma consistência filamentosa que dificulta sua manipulação. A proporção adequada é obtida combinando-se duas gotas de gel com uma medida de pó. Apresenta ótima e prolongada ação antimicrobiana, boa capacidade adesiva e escassa solubilidade. É considerado um cimento com boa resistência física, pouco escoamento e boa radiopacidade. Em casos de sobreobturação, sua reabsorção é muito lenta. CIMENTOS ENDODÔNTICOS COM BASE DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO a) Sealapex (SybronEndo) (pasta-pasta) Os ingredientes ativos são: resinas de salicilato isobutil e salicilato neopentil-glicol-propano-trimetiol e óxido de cálcio. Para prepará-lo, são empregadas porções iguais de base e catalisador. É um cimento com um tempo de trabalho e de endurecimento prolongado. Sua plasticidade, seu escoamento e sua radiopacidade são adequados. Possui alta solubilidade, o que o transforma num selador de pouca estabilidade. Essa solubilidade é o que lhe permite liberar o hidróxido de cálcio no meio em que se encontra. Atualmente, o Sea- lapex também é comercializado no sistema de seringas automescladoras. b) Calcibiotic Root Canal Sealer – CRCS (Hygenic) (pó- líquido) O pó vem em porções individuais contendo, fundamentalmente, óxido de zinco e, em menor proporção, hidróxido de cálcio. Cada porção deve ser misturada com duas ou três gotas de líquido, incorporando o pó de forma lenta até se obter uma mistura cremosa. Possui um tempo de trabalho reduzido, uma vez que seu endurecimento se acelera significativamente em presença de calor e umidade. Sua aderência e radiopacidade são satisfatórias. Apesar de conter hidróxido de cálcio, sua capacidade de liberá-lo é pequena, comportando-se biologicamente como um cimento à base de óxido de zinco eugenol. c) Apexit Plus (Ivoclar Vivadent) (pasta-pasta) Sua composição está formada por um enorme número de componentes, entre os quais se encontra hidróxido de cálcio, óxido de zinco, estearato de zinco, fosfato tri- cálcico, colofonia hidrogenada, carbonato de bismuto, diferentes salicilatos, etc.. Foi pouco difundido universalmente. Possui um tempo de trabalho adequado, porém diversas pesquisas enfatizam sua ação altamente irritante. d) Sealer26 (Dentsply/Maillefer) (pó-resina) Cimento bastante usado no Brasil, tem tempo de trabalho adequado e boa radiopacidade. - Novas propostas: Nos últimos anos, surgiram no mercado odontológico numerosos materiais de obturação que, por unirem-se intimamente à parede dentinária do canal radicular criariam um monobloco que melhoraria o selamento e reforçaria a estrutura dentária. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 10 ✓ Epiphany (Pentron Clinical Technologies). O kit é composto por: • Cones de Resilon – para substituir os cones de guta- percha, são à base de um polímero sintético termoplástico (policaprolactona), que contém vidro bioativo, sulfato de bário e oxicloreto de bismuto. São oferecidos com conicidades 0,02, 0,04 e 0,06. Pedaços de Resilon estão disponíveis para uso em sistemas injetáveis para condensação vertical. • Frasco com primer (Epiphany primer) autocondicionador, que contém ácido sulfônico, HEMA, água e um iniciador de polimerização. • Seringa com selador (Selador Epiphany), que é uma resina hidrofílica dual que une o Resilon às paredes dentinárias condicionadas, gerando um único bloco. Atualmente, está disponível o Epiphany SE (Self Etching) com autocondicionante. Além do Epiphany, existem diferentes versões deste material: Real Seal (SybronEndo), Resinate (Obtura Spartan) e outros. O Resilon pode ser encontrado também na forma injetável ou como obturadores similares ao Thermafil, quando são denominados RealSeal 1. ✓ Endorez (Ultradent Products Inc) É um cimento hidrofílico de dupla polimerização (dual) empregado com cones de guta-percha, recobertos pela mesma resina do cimento, que apresentam diferentes conicidades. Juntos, buscam unir o cimento ao cone, bem como a penetração da resina nos túbulos dentinários, previamente tratados com). É uma técnica que utiliza um único cone. ✓ Agregado trióxido mineral (MTA) O agregado de trióxido mineral (MTA) é um pó branco ou cinza, que, misturado com água destilada, forma um cimento que endurece em aproximadamente 4 horas. O pó tem, em sua composição, fundamentalmente cimento Portland e outros óxidos metálicos, dentre eles, o óxido de bismuto, que lhe confere radiopacidade. É empregado para o recobrimeto da polpa, em capeamentos e pulpotomias, para o tratamento de perfurações, para o tratamento de dentes com rizogênese incompleta e, ainda, em retro-obturações. Graças a sua natureza hidrofílica, pode ser utilizado em meio úmido e a presença, por exemplo, de sangue ou exsudado não altera suas propriedades físico-químicas. Tem um pH alcalino, muito próximo ao do hidróxido de cálcio, aceitável compatibilidade biológica e excelente capacidade seladora. Grande quantidade de publicações, seja em estudos experimentais, seja em avaliações clínicas, relatam seu excelente comportamento. Para levá-lo ao local desejado – o que nem sempre é fácil – podem ser utilizados calcadores ou uma seringa apropriada. A ESCOLHA DO CIMENTO ENDODÔNTICO É comum que o clínico geral ou o endodontista se acostume a usar um determinado cimento endodôntico. A pergunta é inevitável: um cimento endodôntico serve para todos os casos clínicos? A resposta obriga a algumas reflexões. A escolha do cimento deve ser feita levando em consideração suas propriedades biológicas, suas propriedades físico-químicas ou ambas? Fundamentados na literatura pertinente ao assunto, os autores consideram que todos os cimentos adequados, possuem certo grau de toxicidade quando em contato com os tecidos apicais e periapicais. Um cimento poderá ser empregado em todos os casos mas, em certas circunstâncias, a utilização de um cimento apropriado às condições clínicas do dente em tratamento poderia tornar o trabalho mais fácil e, talvez, alcançássemos uma obturação de melhor qualidade. Na realidade, quando escolhemos um cimento endodôntico, o fazemos pensando em aproveitar suas características físico-químicas. Vejamos alguns exemplos para esclarecer esse conceito. Se estivermos realizando o tratamento endodôntico em um dente multirradiculado, com dificuldades anatômicas, ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 11 devemos dar preferência ao emprego de um cimento que possua um tempo de trabalho prolongado, como o AH 26, AH Plus ou Pulp Canal Sealer EWT. Nesses casos, o uso de um cimento de endurecimento rápido, como o Tubli Seal ou o Diaket, dificultará a obturação. O cimento começará a endurecer durante a obturação e inviabilizará um procedimento adequado, bem como impedirá a realização de qualquer correção. Em outra circunstância, perante um caso clínico de uma raiz muito curta, quando se deverá fazer o preparo para um retentor intrarradicular e, em consequência, o remanescente da obturação endodôntica será de apenas alguns milímetros, seria conveniente empregar um cimento endodôntico de endurecimento rápido, com muito boa capacidade de selamento e baixa solubilidade, como o Diaket ou o MTA. Em dentes sem um stop apical nítido, deve-se evitar cimentos com grande escoamento. Em dentes com rizogênese incompleta, em pacientes adultos, que apresentem um forame com dimensões que evidenciem que não foi formado e que necessitem de tratamento endodôntico, seria recomendável Molar inferior com anatomia complexa, obturado pela técnica de condensação lateral com cones de guta- percha e AH 26. Paea fazer a obturação do terço apical usando o MTA que possui propriedades químicas, físicas e biológicas reomendáveis para estas situações. Nas situações em que se obteve um forte ajuste do cone principal às paredes do conduto radicular, a escolha deveria recair sobre os cimentos endodônticos fluidos, como o AH Plus ou Tubli Seal, pelo fato de que um cimento consistente, como o Diaket, não permitiria o reposicionamento do cone até o limite apical desejado. Quando empregamos técnicas com guta-percha termoplastificada, é aconselhável o uso de cimentos endodônticos de endurecimento lento. O aumento da temperatura a que é submetida a guta-percha tende a acelerar o endurecimento do cimento no canal radicular. A partir de 1967, com a generalização da técnica de condensação vertical da guta-percha, foram desenvolvidas várias técnicas de obturação que empregam a guta-percha termoplastificada. Estas técnicas buscam criar uma obturação personalizada para cada conduto radicular, dando como resultado uma obturação tridimensional que acompanha a anatomia do canal. As técnicas de guta-percha termoplastificada são especialmente indicadas na obturação de canais amplos, com anfractuosidades, com istmos, com reabsorções internas, etc. Para facilitar a leitura, elas serão agrupadas em: TÉCNICAS TERMOMECÂNICAS As técnicas de compactação termomecânicas mais difundidas são a de McSpadden, e a técnica híbrida (de Tagger). TÉCNICA DE MCSPADDEN Nas técnicas termomecânicas, a guta-percha é amolecida pela ação do calor produzido pela fricção de instrumentos especiais denominados compactadores. Fabricados com aço inoxidável, esses compactadores têm um desenho similar a uma lima Hedströem, porém com as espirais invertidas . No mercado odontológico existem diferentes marcas e tipos de compactadores (Gutta- Condensors - Dentsply/ Maillefer; Microseal Condensers – SybronEndo) comercializados em calibres de # 25 a # 80, com comprimentos de 21 e 25 mm. ✓ Antes de iniciar os procedimentos para obturar o canal por esta técnica, é necessário escolher o compactador que será usado. Esta escolha é importante para que possamos obter uma boa obturação e principalmente para não fraturá-lo. ✓Com o canal vazio, teste o compactador selecionado levando-o até a profundidade desejada (CTM – 2 a 3 mm). Ele não deverá ficar preso entre as paredes do canal. Se ficar travado com o canal vazio, poderá fraturar durante o uso. Também não deverá estar muito folgado, pois poderá não gerar a fricção e o calor necessário para plastificar a guta-percha. A escolha deverá recair sobre um instrumento que não fique travado ou excessivamente folgado. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 12 ✓ Selecione e deixe prontos para uso calcadores que possam penetrar na entrada do canal. Logo após a colocação do cimento nas paredes dentinárias, o cone principal, escolhido da forma habitual, deve ser posicionado corretamente no canal. ✓ O compactador selecionado deve entrar, sem pressão exagerada, pelo menos até o terço médio. Antes de levá-lo ao canal, é importante verificar se está girando no sentido horário. ✓ O instrumento calibrado (CTM – 2 a 3 mm), girando a uma velocidade de 8.000 a 12.000 rpm, é introduzido ao lado do cone de guta-percha, e o calor resultante do atrito plastificará a guta-percha que, concomitantemente, será compactada dentro do canal. ✓ Este instrumento não pode ser empregado no sentido anti-horário. ✓ À medida que a guta-percha vai sendo compactada, o instrumento tende a sair do canal. Essa retirada, sempre com o micromotor em movimento, deve ser feita lentamente. Nem tão rápido como o instrumento parece querer e nem tão lento para produzir um aquecimento excessivo, possibilitando a aderência da guta-percha ao compactador e criando espaços na obturação. Imediatamente após a retirada do compactador, com o uso de calcadores faz-se a condensação vertical. TÉCNICA HÍBRIDA Na obturação do canal pela técnica híbrida serão utilizadas duas técnicas: condensação lateral e McSpadden. Com a primeira, faremos a obturação do terço apical; com a segunda, concluiremos a obturação dos terços médio e cervical. Empregando cimento endodôntico, o cone principal e alguns cones acessórios, em quantidade compatível com as dimensões do canal, os primeiros passos dessa técnica são idênticos à condensação latera Posteriormente, um espaçador cria um espaço, nos terços cervical e médio, onde é introduzido um compactador de guta-percha de calibre previamente escolhido. Girando na velocidade correta e no sentido horário, ele provocará o amolecimento e a compactação da guta- percha. O uso do compactador é similar ao descrito no item anterior, variando somente a profundidade de introdução que, nesta técnica, não deve alcançar o terço apical. Esta técnica reúne os benefícios do correto posicionamento do cone principal no terço apical, propiciado pela técnica de condensação lateral, e a homogeneidade e a compactação da guta-percha, obtidas pela ação termomecânica do compactador. TÉCNICAS TÉRMICAS PROPRIAMENTE DITAS Entre outras, destacam-se a condensação vertical da guta-percha aquecida, o Thermafil (Dentsply/Maillefer), o MicroSeal (SybronEndo) e o System B (Sybro- nEndo). TÉCNICA DE CONDENSAÇÃO VERTICAL DA GUTA- PERCHA AQUECIDA A técnica de condensação vertical da guta-percha aquecida foi introduzida por Shilder em 1967. Para realizá-la, faça inicialmente a escolha do cone principal, que deve estar adaptado à porção apical do canal modelado. Selecione e deixe prontos para o uso calcadores que possam ser levados próximos ao terço apical do canal. Leve ao canal uma pequena quantidade de cimento e coloque o cone selecionado. Um espaçador quente ou o Touch’n Heat (SybronEndo) introduzido no canal promove o aquecimento do cone, que imediatamente é compactado com os calcadores selecionados previa- mente, de acordo com o calibre do canal. Dessa maneira, a guta-percha vai sendo gradualmente compactada do terço cervical até o terço apical. Obturado o terço apical, pedaços de guta-percha vão sendo colocados nos terços médio e cervical do canal, aquecidos e com- pactados, realizando o preenchimento homogêneo e tridimensional. THERMAFIL (DENTSPLY /MAILLEFER) Obturadores Thermafil são hastes plásticas revestidas com uma guta-percha mais pegajosa e fluida do que a guta-percha tradicionalmente utilizada. São comercializados em diferentes calibres e com conicidade 0,04. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 13 Com a ajuda de instrumentos especiais chamados verificadores, o obturador a ser usado deverá ser sele cionado, de acordo com as dimensões do canal radicular Introduzido no canal, o verificador deve ajustar-se, sem pressões excessivas ao seu diâmetro e comprimento. O obturador deverá ter o mesmo número do verificador. Uma pequena quantidade de cimento endodôntico, com boa fluidez, deve ser colocada no terço cervical do canal. O obturador Thermafil é colocado em um forno (ThermaPrep) que, após algum tempo, através de um sinal sonoro, informará que a guta-percha está plastificada. Neste momento, ele será retirado do forno e inserido, firme e lentamente, no canal. Depois de alguns minutos, a haste plástica é cortada na entrada do canal radicular, com uma broca esférica, e a guta-percha é compactada verticalmente com condensadores adequados. Quando necessário, a obturação dos terços cervical e médio pode ser complementada com cones acessórios. Os obturadores Thermafil também são empregados para os sistemas GT e ProTaper e se denominam Obturadores GT e Obturadores ProTaper, respectivamente. Há um sistema similar denominado Soft-Core (CMS Dental).
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