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LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 • O organismo sob o ponto de vista biológico se comporta de maneira uni forme frente a um trauma, independente da natureza da referida agressão. Uma intervenção cirúrgica representa para o organismo uma agressão similar a uma queimadura, u m a f r a t u r a o u m e s m o u m politraumatismo. • Do ponto de vista didát ico os componentes biológicos da agressão são divididos em três categorias: 1) Componentes primários. 2) Componentes secundários. 3) Componentes associados. • Dependem exclusivamente da ação direta de forças físicas, ou seja, agente agressor sobre o organismo. • É a cirurgia propriamente dita • É preciso pensar se o paciente será capaz de se recuperar da ação cirúrgica.. • • São dois componentes: lesão de tecidos e lesão de órgãos específicos. • Quando um tecido é lesado por es t ímu lo ex terno de pequena intensidade, muitas vezes o único efeito é a identificação da situação. Já quando o estímulo for significativo, surge destruição de células ou tecidos, podendo ser lesões irrecuperáveis e/ou fatais. • .É preciso que haja anál ise da destruição tecidual em relação ao trauma que envolve a lesão vascular. Ocorre aparecimento de hematomas e hemorragia (interna ou externa) quando acontece em sua maior intensidade. Graus menores de lesões deste tipo são representados pela vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, sendo que a última possibilita a perda de plasma sanguíneo no local do traumatismo onde se acumulam água, eletrólitos e outros componentes intracelulares. COMPONENTES PRIMÁRIOS Agressão cirúrgica LESÃO DE TECIDOS LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 • Out ros mecan i smos a tuam na formação do edema através da maior afinidade pela água por parte das proteínas liberadas pelo trauma celular. • Deve-se considerar os tecidos de revestimento, que constituem sistema de proteção. A lesão dos mesmos determina quebra da sua continuidade, criando-se verdadeiras portas de entrada de microorganismos, e, po r t an to , c ausando p roces sos infecciosos. • Essa lesão específica determina insuficiência parcial ou total da função do referido órgão. Assim, trauma cranioencefálico, trauma de fígado, lesão cardíaca, lesão pulmonar, lesão rena l , entre outras , acarretam insuficiência cerebral, hepática, cardíaca, respiratória ou renal. Caso a insuficiência orgânica seja de magnitude significativa, o quadro clínico pode ser incompatível com a vida, ou seja, o desequilíbrio do meio interno, com perturbação da homeostase foi fatal. Em casos de vítima de politraumatismo, a situação clínica se potencializa e o risco de óbito aumenta. • São fatores cuja ação é devida a presença de componentes primários (lesão de tecido e órgãos específicos) e de componentes secundários. • Não é exclusiva do paciente cirúrgico, paciente em terapia intensiva, etc. • São quatro: alterações endócrinas, alterações hemodinâmicas, infecções e falência múltipla de órgãos e sistemas. • Resposta orgânica ao trauma. • Existe uma necessidade fundamental de uma resposta endócrino normal para ocorrer a recuperação do paciente vítima de trauma. • Normalmente, na fisiologia normal, existem três fontes energéticas: glicose, gordura e proteínas, sendo a glicose a principal e primeira a ser usada pelo organismo. Já em pacientes vítimas de trauma, o organismo lança mão de todos os meios de produzir energia por meio da glicose, gordura e proteína, tudo ao mesmo tempo. Logo, o glicogênio faz glicogenólise, lipídio (gordura) faz lipólise e a proteína é quebrada em aminoácido produzindo alanina e arginina, ou seja, no trauma o organismo produz glicose de qualquer jeito, afim de cicatrizar. • A resposta neuroendócrina frente a traumatismo físico é influenciada pela ação do SNC, interação de hormônios, estímulos da zona comprometida, psiquismo, medicações, infecção, alterações nutricionais, entre outras condições. • O hipotálamo secreta RH que atua na hipófise produzindo ACTH, atuando na supra-renal, produzindo o principal COMPONENTES SECUNDÁRIOS LESÃO DE ÓRGÃOS ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 hormônio do trauma: o cortisol (um glicocorticóide). Esse cortisol ativa os demais hormônios. • A intensidade da resposta pós agressiva é modulada pelo estado metabólico prévio do paciente. IMPORTância dos hormônios na resposta neuroendócrina pós-traumática: • Hormônio antidiurético (had): Pode se elevar antes do ato cirúrgico, decorrente da restrição líquida, bem como por ação de medicamentos, como morfina. O HDA está elevado em decorrência de estímulos de área traumatizada. Esta elevação perdura até o 4º ou 5º dia pós-operatório, após esse período a secreção é “inadequada”, uma vez que s u a p r o d u ç ã o i n d e p e n d e d a osmolaridade, ocorrendo hiponatremia e hipotonicidade, caso grandes volumes de líquido sejam ofertados aos pacientes nos primeiros dias pós- operatórios. • ALDOSTERONA: nas cirurgias de médio e grande porte, ocorre aumento dos níveis de renina, angiotensina II e aldosterona. A queda do volume do espaço extracelular funcionalmente ativo, em decorrência da sequestração hídrica representada pelo edema traumático, é a principal responsável pelo aumento da produção de aldosterona. Assim, no período pós- operatório, a aldosterona elevada age no nível dos rins acarretando queda da excreção renal de sódio e bicarbonato e produção de urina com elevado teor de hidrogênio com quant idades elevadas de potássio (urina ácida). • cortisol: no período pós-traumático dá- se elevação do cortisol por quatro a 12 horas. Em situações especiais, em que as lesões tec idas permanecem ocorrendo por longo período, como ocorre nas queimaduras e infecções, a produção de cortisol pode ser bastante prolongada. É preciso ficar atento às condições de lesão de supra-renais, ou q u a n d o o c o r r e o b l o q u e i o farmacológico das mesmas, devido, por exemplo, ao uso rotineiro e prolongado de corticoesteróides. Esse bloqueio ou mesmo a lesão glandular (doença de Addison) acarreta inab i l idade à adequação hemodinâmica, possibilitando quedas de pressão arterial, ou mesmo instalação de choque circulatório, que pode ocasionar a morte em pouco tempo caso não seja suprida a deficiência de corticóides. O cortisol tem influência na síntese proteica, incorporação de aminoácidos e ação estimulante de enzimas hepáticas envolvidas com a degradação de aminoácidos. LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 • catecolaminas: a secreção de adrenalina e noradrenalina aumenta rapidamente n o p e r í o d o p ó s - a g r e s s i v o , permanecendo elevada por 12 a 48 horas nas cirurgias de grande porte. Têm g r a nde p a r t i c i p a ção no metabolismo e, por outro lado, desempenham a t i v i d ades com repercussões hemodinâmicas. Podem ter sua secreção também estimulada por ação psíquica como ansiedade, medo, raiva e excitação. • Insulina: no período pós-agressivo, por p rováve l ação endóc r i no das catecolaminas, a produção de insulina fica limitada. A insulina circulante é menor do que as necessidades em relação à glicose sanguínea. Ao lado disso, a vida média da insulina está diminuída, determinando então a elevação da glicemia semelhante a diabetes; por consequência, os pacientes no período pós-operatório não toleram sobrecarga de açúcares. • Glucagon: ocorre elevação dos níveis de glucagon no plasma sanguíneo apesar da vigência de hiperglicemia, ela ocorre em correlação com a intensidade do trauma. Ele favorece a degradação da glicose, bloqueia a formação de glicogênio e favorece a modificação de aminoácidos em glicose em nível hepático. Interfere ainda em nivel do tec ido ad iposo, promovendo . a liberação de ácidos graxos e glicerol. • Também tem a participação do hormônio adenocorticotrófico(ACTH), hormônio de crescimento (GH) e hormônio tireoidiano na resposta neuroendócrina relativa ao período pós-agressivo. LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 • Ocorre pe la perda de sangue decor ren te de hemorrag i a s e hematomas. Na zona do trauma ocorre a sequestração de plasma que é um dos constituintes do edema traumático. A destruição celular libera substâncias vasoativas, que influenciam diretamente a função cardíaca. A ação de drogas e de cirurgias sobre o sistema circulatório pode acarretar insuficiência funcional da bomba ca rd í aca . Ass im , há a possibilidade de ocorrer queda do debito cardíaco, diminuição do retorno venoso e vasoconstrição periférica determina a redistribuição sanguínea para territórios prioritários como o cérebro e o coração, em detrimento de outras áreas, como rins, pele e músculos. • A lesão dos tegumentos protetores se constitui em porta de entrada de microorganismos patogênicos . A presença de hematomas, tecidos desvitalizamos, queda da perfusão tecidual em locais específicos, como a pele, e a diminuição das defesas imunológicas favorecem a instalação de processos infecciosos. • O organismo l ibera mediadores inflamatórios, potencializando a reposta. Quando a infecção está muito grave e os mediadores são liberados em grande quant idade, causa uma “confusão”, ou seja, ataca partes que não poderia. O limite que antes era fisiológico, passa a ser patológico. • São duas as deficiências principais no período pós-operatório: dos rins e dos pulmões. • Traumas ou cirurgias sobre o tórax, anestesia, deprimir a respiração espontânea, distensão abdominal ou cirurgias que interfiram diretamente na movimetação do músculo diafragma, entre outras (que prejudiquem a função ventilatória), são circunstâncias que levam a essa situação. • Por outro lado, a atividade renal pode estar prejudicada por estimulação endócrino (HAD e aldosterona), etc. São condições clínicas não decorrentes da agressão cirúrgica, mas que por suas peculiaridades têm influência importante na resposta à agressão cirúrgica. Os fatores relativos aos componentes associados são: - Alteração do ritmo alimentar. - Imobilização prolongada. - Perdas hidroeletrolíticas extra-renais. • Pode ocorrer a interrupção total ou parcial da alimentação de duração ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS INFECÇÕES FALÊNCIA MÚLTIPLA DE ÓRGÃOS E SISTEMAS ALTERAÇÕES DO RITMO ALIMENTAR COMPONENTES ASSOCIADOS LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 variável dependendo do tipo de intervenção. • Com a diminuição de alimentos a energia necessária será conseguida pela mobilização e consumo de proteínas e gorduras. • O glicogênico hepático é consumido em 18 a 24 horas de jejum. • Ácidos graxos podem ser empregados como substratos energéticos para outros tecidos. Com o jejum, a metabolização de gorduras leva ao acúmulo de corpos cetônicos e à presença de acidose metabólica. • Muitas vezes, no período pós- operatório, o paciente permanece imóvel por longo período. • A inatividade conduz à atrofia muscular. Ocorre, portanto, catabolismo protéico, ou seja, catabolismo muscular. • A imobilidade favorece acúmulo de secreções e predispõe à infecção pulmonar. • Grandes queimados ou áreas extensas com tecidos de granulação, bem como traqueostomizados, podem perder considerável quantidade de agua nas 24 horas do dia. • O aparelho digestivo em condições normais perde pequenos volumes hídricos. No período pós-operatório, em decorrência de vômitos, ocorrem perdas de eletrólitos e água em quantidades significativas. • Assim, no período pós-agressivo, é necessário controlar as perdas e, através de cálculos e dosagens l abora to r i a i s , rea l i z a r ba l anços hidroeletrolíticos para que o cirurgião possa repor estas importantes perdas. • Destruição de tecidos: - Apesar de inevitável, pode e deve ser reduzida à menor expressão possível. O manuseio apropriado e delicado das estruturas, procurando produzir menor trauma, a preocupação em realizar hemostasia perfeita e precisa com o objetivo de reduzir a perda sanguínea, juntamente com pouco traumatismo, conduzindo melhores resultados. - Dispensar realização de ligadura de grandes massas tecidas, pois dará origem a áreas desvitalizaras e consequentemente necrose. - Uso de bisturi elétrico deve ser minucioso, uma vez que queimaduras externas propiciam má cicatrização e maior possibilidade de deiscências. - Optar sempre por fios adequados para cada tecido. Evitar formação de espaços mor tos , f u tu ramente preenchidos por sangue e plasma, transformando-se em meios de cultura para microorganismos. IMOBILIZAÇÃO PROLONGADA PERDAS HIDROELETOLÍTICAS EXTRA-REIANS PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE SUAS CONSEQUÊNCIAS LAURA ARAUJO - MED 102 F. DA CIRURGIA - AULA 5 - Remover tecidos desvitalizados e corpos estranhos que certamente irão prejudicar a reparação final. - Via de acesso respeitando anatomia da região. - Toda e qualquer manobra operatória deverá ser revestida de maior rigor de a s s ep s i a , p o i s a s o l u ç ão de continuidade dos tecidos e em especial dos tegumentos constitui porta de entrada para microorganismos. e instalação de infecção. • Alterações hidroeletrolíticas. - As alterações que ocorrem no período pós-agressivo são devidas fundamentalmente a dois fatores: pela redução do espaço extracelular funcionalmente ativo, em decorrência da formação do edema traumático , e p e l a s p e r d a s e x t r a - r e n a i s consequentes a sondagens, vômitos, f í s tu l a s , d renagem, d i a r ré i a e perspiração. - Manutenção do espaço extracelular funcionalmente efetivo. Expansão do volume do compartimento extracelular. O volume a ser reposto será o correspondente ao integrante do edema traumático. - A presença de hipotensão arterial, taquicardia, queda da PVC, elevação do hematócrito e débito urinário, inferior a 50 mL/h, indicam a necessidade de r e p o s i ç ã o d a v o l e m i a e , consequentemente, do vo lume extracelular. - No período pós-operatório o paciente tem grande tendência a reter água e sódio. Pode-se repor o volume associando soluções coloidosmóticas a soluções hidrossalinas. • Alterações do metabolismo orgânico. - Decorrentes dos componentes biológicos da agressão: destruição tec idua l , a l terações endócr inas , imobilização prolongada e perturbação do ritmo alimentar. • Infecção. - Principalmente evitada pelo processo de assepsia e anti-sepsia corretos.
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