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No Brasil, 80% dos casos de queimaduras ocorrem em crianças, sendo que há diversos agentes causadores que cursam com lesões variáveis em extensão. As lesões podem ser graves e profundas, induzindo uma resposta inflamatória sistêmica, sendo importante o atendimento especial na primeira abordagem. A síndrome da resposta inflamatória sistêmica faz com que ocorra extravasamento de líquido intracelular para o extracelular e por isso a hidratação vigorosa é muito importante no primeiro atendimento. Atrasos nessa reposição pioram o prognóstico e elevam a mortalidade. O cálculo da área queimada auxilia na indicação da quantidade de fluidos a ser realizada. O choque tóxico é uma complicação tardia das queimaduras, sendo uma reação inflamatória imposta pela exposição da queimadura e pela exposição a toxina do Staphylococus aureus. Apesar de ser uma condição rara ela é fatal caso não seja reconhecida precocemente. Perfil principal dos pacientes vítimas de queimaduras: • Mais comum no sexo masculino • Acomete lactentes e pré-escolares em maior número • A maior parte dos acidentes ocorre na casa do paciente, amigos ou familiares • O principal cômodo envolvido é a cozinha • As lesões menos extensas são a maiorias • Mais da metade são lesões de segundo graus • Maioria das internações não ultrapassam 15 dias • É comum associação de lesões de segundo e terceiro graus • Causar importantes de queimadura: ✓ Escaldadura – 71% ✓ Fogo/explosão – 15% ✓ Sólido aquecido – 10% ✓ Eletricidade – 3% A primeira medida após a queimadura para leigos deve ser lavar o local queimado com água e retirar as roupas. Não está indicado usar pomada, gelo, pasta de dente, talco ou coisas do gênero. Atendimento inicial à vítima de queimadura Podemos manejar o atendimento em 4 etapas (steps). O step extra ocorre em queimaduras por choque elétrico. 1) STEP !: A primeira etapa é o suporte avançado de vida (ABCDE) → vias aéreas, padrão respiratório, circulação, função neurológica e exposição do paciente. A abordagem das vias aéreas é prioridade no atendimento, podendo haver lesçoes nas vias aéreas que podem ser supraglóticas (edema por lesão térmica ou subglóticas (lesão aprenquimatosa decorrente da inalação de gases tóxicos ou fuligem). Nem todo paciente que sofre queimadura em via aérea tem indicação de intubação, é necessário a análise de cada caso. Se as vias aéreas estiverem pérvias deve-se atentar ao padrão respiratório e observar movimentos do tórax da criança acompanhada de ausculta detalhada. Sinais que podem indicar intubação: Histórico: incêndios em espaço fechado, incêndios que envolvam o uso de aceleradores e incêndios com produtos químicos. Sinais clínicos: pelos faciais chamuscados, escarro carbonáceo, fuligem dentro ou ao redor da boca, rouquidão, estridor, esforço respiratório e incapacidade de deglutir secreções. Abordagem da circulação: oximetria de pulso contínua, utilizar monitor cardíaco, aferir PA, verificar o tempo de enchimento capilar, avaliar o estado circulatório do paciente e em queimaduras graves pegar acesso de grosso calibre. Abordagem da função neurológica: avaliar possíveis disfunções neurológicas, oscilação/redução do nível de consciência, verificar e corrigir hipóxia, choque, trauma. Exposição do paciente: objetivo é avaliar a porcentagem de superfície corpórea queimada, remover roupas, fraldas, joias; atentar-se a hipotermia, bom controle térmico e ambiental já que a hipotermia pode levar a coagulopatias, arritmias cardíacas e morte. 2) STEP II: cálculo da fórmula de Parkland, verificar a necessidade hídrica, evitar consequências graves como choques e reduzir de comorbidade e número de óbitos. 3) STEP III: Analgesia e cuidados com a região queimada. Deve-se resfriar a área queimada com água em tempertatura ambiente para alívio da dor e redução do dano celular, não usar gelo ou água gelada, aplicar curativos não adesivos e recomenda-se vaselina com gases. Os benefícios desse passo incluem: diminuição da estimulação das terminações nervosas expostas, redução de traumas mecânicos e diminuição de infecções/colonização bacteriana. A analgesia medicamentosa fornecerá maior conforto, alivio da dor, controle da ansiedade. A preferência é para analgésicos não opiódes, exceto quando a dor é intensa (morfina). Deve-se analisar a necessidade da profilaxia antitetânica. 4) STEP IV: esse passo contém as orientações após estabilização do paciente, contendo as indicações de transferência para a unidade especializada em queimados que são: Queimadura 2º grau superior 10% SCQ Queimadura 3º grau independente da extensão Queimaduras em rosto, mãos, pés, genitais, períneo ou grandes articulações Queimadura circunferenciais Queimaduras químicas/ elétricas Lesão inalatória Além disso, a nutrição do paciente deve ser com uma dieta hipercalórica e hiperproteica e se houver condições para deglutir a dieta deve ser oral. O jejum é desaconselhável devido a translocação bacteriana. 5) STEP EXTRA: nas queimaduras por choque elétrico não se calcula a fórmula Parkland e a realização do ECG é imprescindível. Deve se seguir as recomendações específicas para essa causa. Cálculo da superfície corporal queimada Existem 3 fórmulas de cálculo: A regra dos nove que considera a extensão da lesão → a cabeça e pescoço de menores de 1 ano vale 18% e cada aumento de 1 anos de vida suprime 1% da SCQ da cabeça e do pescoço, acrescentando 0,5% a cada membro inferior. A partir dos 10 anos de idade a SCQ da criança se iguala a do adulto. A regra de Lund-Browder é mais precisa, porém é menos prática do que a regra dos nove para cálculo da superfície queimada. Ele leva em consideração as várias faixas de idade com precisão. No método da palma da mão se usa a mão do paciente e a palma inteira e dedos equivalem a 1% do corpo, quando apenas a palma da mão equivale a 0,5% do corpo. Esse método é útil em queimaduras irregulares ou para subtrair áreas não queimadas de queimadas de grandes queimaduras. Cálculo e aplicação da fórmula de Parkland Ocorre após o STEP I (ABCDE) com reposição de fluidos de início precoce e o mais agressivo possível. É importante lembrar que queimaduras graves liberam mediadores inflamatórios e vasoativos, causando aumento da permeabilidade capilar com saída de fluidos, eletrólitos e proteínas para o interstício resultando em depleção de volume intravascular com edema de tecidos queimados e nos não lesionados. O extravasamento capilar e suas consequências tem início logo após a queimadura, atingindo seu pico entre 8 e 12 horas após o acidente. Por isso, a reposição de fluidos na fase inicial previne a isquêmica de diversos órgãos. Não se utiliza colóide, e sim ringer lactato ou SF. Deve-se monitorar a glicemia capilar e considerar a superfície corpórea queimada, idade, peso e as condições do paciente para a reposição volêmica. As indicações para utilizar a fórmula de Parkland são: adultos e adolescentes com mais de 15% SCQ e crianças com mais de 10% SCQ, Fórmula de Parkland 4ml x PESO (Kg) x %SCQ Metade do volume deve ser administrado nas primeiras 8 horas e a outra metade nas 16 horas subsequentes. Deve-se acrescentar o volume da necessidade diária, sendo um terço na primeira etapa e dois terços na segunda. Se houver edema importante após 24 horas de infusão de líquidos com dificuldade em aumentar o volume intravascular, devemos usar solução salina hipertônica, atentando-se para a função renal. NaCl 20% - 11 ml + = 1 ml/ Kg/ h SF 0,9 % - 89 ml Sempre deve haver avaliação individualizada quanto a necessidade ou não de continuar com reposições volêmicas agressivas, considerando as características de aceitação do paciente de líquido via oral. Manter a diurese mínima de 1 ml/kg/ h. Queimaduras elétricas As queimaduras elétricas são causas significativas de morbimortalidade. As crianças menoressão vítimas de acidentes em casa e os adolescentes geralmente sofrem queimaduras de maior voltagem. As principais causas de morte envolvem problemas cardíacos e respiratórios, além de danos profundos em partes moles que podem ocorrer. Elas se classificam em leves, moderadas e graves. Os principais mecanismos que causam danos são os efeitos diretos nos tecidos corporais, conversão da energia elétrica em térmica e a lesão mecânica bruta por meio de relâmpagos, contrações musculares e complicações de queda. Nesse tipo de queimadura a regra de Parkland não se aplica, fazendo a reposição volêmica adequada para manter a frequência cardíaca e pressão arterial dentro da normalidade. Deve-se realizar ECG em todas crianças com história de queimadura elétrica. A monitorização cardíaca contínua deve ser feita nas seguintes situações: queimadura elétrica com alta voltagem, perda de consciência, pele molhada no momento do acidente, tetania e história de cardiopatia prévia. Em pacientes de tensão de alta voltagem ou relâmpagos, na admissão devem ser pedidos: hemograma geral, CPK, ureia, creatinina e urina I com dosagem de mioglobinuria. Suspeitar de falência renal em pacientes com hematúria, aumento de CPK ou sinais clínicos de insuficiência renal. Síndrome do choque tóxico É uma complicação rara e fatal causada pela liberação de toxinas pelo S. aureus ou pelo Streptococus (menos frequente). As tocinas agem como superantígenos e acentuam ainda mais a liberação de citocinas inflamatórias. Os sintomas incluem febre alta, eritema macular difuso, vômitos, diarreia, e sinais do choque como taquicardia, taquipneia e hipotensão. Os critérios diagnósticos são: febre, hipotensão, eritema macular com descamação, envolvimento dos três sistemas que afetarão o fígado, o sangue, sistema renal, TGI, sistema muscular e podem causam hiperemia faríngea e conjuntival. Além disso, sorologia negativas para outros organismos diferentes do Staphylococcus também é um dos critérios. As complicações envolvem CIVD, falência cardíaca, renal e respiratória. Os fatores de risco são crianças de 6 meses a 2 anos e que apresentam queimaduras pequenas (inferiores a 10% SCQ). O tratamento inclui suporte intensivo com oxaciclina, podendo ser associado a clindamicina. Locais com Staphylococcus resistente a oxaciclina pode ser utilizado a vancomicina. Além disso, deve0-se fazer o debridamento intenso e frequente das áreas queimada. Em casos refratários deverá ser administrado imunoglobulinas ou plasma fresco. Não há evidência científica que demonstre benefício da antibioticoterapia profilática.
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