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Cássia Mendes Ataide - UFMS Alterações Fisiológicas na Gravidez São necessárias modificações do organismo materno no sentido de nutrir de forma eficiente o feto, que tem demanda nutricional crescente e é priorizado pelo metabolismo materno Maior exigência, muitas vezes, atinge os limites da capacidade funcional de alguns órgãos maternos Pode ocorrer desencadeamento quando função limítrofe ou piora de patologias preexistentes como IC, CI, IR, asma IMPORTANTE: sempre se atentar aos limites entre fisiologia e patologia, com base nas modificações da gestação, sinais e sintomas Aumento uterino, saída de pelve e aumento das mamas fazem com que o centro de gravidade seja desviado para frente e o corpo seja jogado para trás como uma compensação involuntária Deambulação: andar de ganso - passos curtos, base alargada e ângulo dos pés mais abertos → marcha anserina Hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral O aumento da flexão cervical causa compressão das raízes cervicais que original os nervos mediano e ulnar, acarretando fadiga muscular, dores lombares e cervicais e parestesias de extremidades Queixas comuns: cervicalgia e lombalgia Também ocorre ciatalgia Aumento volêmico ✓ Maior em gestações múltiplas ✓ Mais discreto em pacientes que apresentam restrição do crescimento fetal (RCF) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) Associado ao aumento das necessidades de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, especialmente em território uterino Função protetora para gestante e feto em relação à redução do retorno venoso, comprometido com as posições supina e ereta, além das perdas sanguíneas esperadas na parturição A gestante possui o número de hemoglobinas absolutas aumentado (30%), mas o plasma também aumenta (45-50%), o que deixa os níveis dosados de Hb menores Anemia dilucional: Hb < 11 g% (g/dL) ✓ Maior necessidade do ferro Anemia megaloblástica: incomum, demanda aumentada de ácido fólico na gravidez A anemia da grávida é quase fisiológica: deve-se suplementar com ferro e ácido fólico para prevenir o surgimento ✓ No Brasil, a farinha branca é enriquecida com ácido fólico Contribuem para a deficiência do ferro: consumo pela unidade fetoplacentária, utilização para produção de HB e mioglobina (aumentar a massa eritrocitária e da musculatura uterina) e depleção por perdas sanguíneas e aleitamento Exigências de ferro: Período periparto de uma gestação no termo com feto único: 900-1000 mg Fe livre total ✓ Período do último mês de gravidez até 5 após o parto Segunda metade da gravidez: 6-7 mg/dia A produção de hemoglobina fetal não é alterada mesmo em gestantes com grave deficiência de Fe Elevação dos leucócitos: às custas de neutrófilos, chegando a 12 mil/mm3 ou mesmo a 20-30 mil/mm3 no parto ✓ Normaliza entre 6 e 7 dias Plaquetas: podem diminuir discretamente no 3° trimestre ✓ Coagulação intravascular ✓ Aumento da produção de tromboxano A2 associa-se à maior agregação plaquetária, o que contribui para a redução da contagem Cássia Mendes Ataide - UFMS ✓ Contagem volta a aumentar logo após o parto e sobe por 3-4 semanas até retornar aos valores basais Plaquetopenia na gestação: <100.000/mm3 Fatores de coagulação estão aumentados, enquanto que os anticoagulantes estão diminuídos ✓ Gravidez: estado de hipercoagulabilidade ✓ Importante para o controle de perda sanguínea após o secundamento (expulsão da placenta) ✓ Estado de hipercoagulabilidade começa a reverter cerca de 1h após o parto ✓ Pensar em trombofilaxia caso a gestante necessite de alguma cirurgia Os fatores XI e XIII de coagulação não se elevam Especula-se que todas as alterações do mecanismo de coagulação sejam relacionadas aos altos níveis de estrógeno e progesterona oriundos do tecido placentário, uma vez que desaparecem cerca de 1h após a dequitação Atividade fibrinolítica reduzida à custa da elevação de inibidores dos ativadores de plasminogênio, PAI-1, PAI-2 e do inibidor da fibrinólise ativado pela trombina Redução das proteínas plasmáticas, sobretudo da albumina, reduzindo a pressão colodoismótica Lipídios como triglicerídios e colesterol também estão aumentados Aumento do volume plasmático: hiperatividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona + ação da progesterona e estrogênios aumentados → retenção de sódio e água, vasodilatação ✓ Em situações não-gravídicas, o aumento da volemia ativa receptores que desencadeiam a secreção do peptídeo natriurético atrial (PNA), o qual atua promovendo excreção de sódio e água, além da vasodilatação Aumento da frequência cardíaca basal entre 15-20 bpm e elevação do volume sistólico → aumento do débito cardíaco (DC) Aumento relativo da produção de prostaciclina, em comparação à produção de TX A2 + progesterona → vasodilatação sistêmica ✓ Aumento da produção endotelial de NO Redução da resistência vascular periférica (RVP): hiporreatividade vascular à angiotensina II ✓ Redução da RVP é tão acentuada que é capaz de reduzir a PAS Diafragma se eleva (aumento do volume abdominal) e o coração fica mais horizontalizado ✓ Coração desviado para cima e esquerda, ligeiramente rodado para a face anterior do tórax Pode ocorrer alteração do ECG com desvio do eixo para esquerda e inversão da onda T em D3 Volume cardíaco e volume sistólico aumentados Volume-minuto aumentado Pode ocorrer hipertrofia cardíaca na gravidez Sopros sistólicos podem ocorrer devido a hipercinesia e hipoviscosidade do sangue ✓ Hemodiluição ✓ Anemia Extrassistolia e taquicardia paroxística podem surgir Pressão venosa MMII: 3x maior na gravidez pela compressão da cava e vasos pélvicos, dificultando o retorno venoso ✓ Aumenta a incidência e/ou piora de varizes e hemorroidas ✓ Edema de MMII No decúbito dorsal, por compressão da veia cava e redução do retorno venoso, há redução do volume- minuto Cássia Mendes Ataide - UFMS Síndrome da hipotensão supina: lipotimia por reflexo vaso-vagal, bradicardia e hipotensão ✓ Útero em decúbito dorsal é desviado para a direita (principalmente devido ao intestino) ✓ P veia cava < P aorta → hipotensão Antes do parto/cesárea pode ser necessário deslocar manualmente o útero para a esquerda (descomprimir a veia cava) 80% tem dilatação uretral, sobretudo à direita pelo destrovio uterino ✓ Bloqueio mecânico do fluxo uretral ✓ Estase urinária Cruzamento das veias ovarianas sobre os ureteres também colaboram com o bloqueio mecânico Retardo do fluxo urinário → maior predisposição a infecções do trato urinário (ITU) Polaciúria fisiológica: relação com a acentuação da hidronefrose do lado direito e redução da capacidade vesical ✓ Hidronefrose: distúrbio causado pelo excesso de líquido em um rim devido ao acúmulo de urina ✓ Polaciúria: aumento do número de micções com diminuição do volume da urina Fluxo plasmático renal e taxa de filtração glomerular aumentados em resposta ao aumento da volemia + redução da RVP Comum queixa de noctúria Bexiga se encontra mais elevada, com retificação do trígono vesical, provocando refluxo vesicoureteral DCE aumentada: utiliza para medir a função renal Creatinina e ureia estão reduzidas para cerca de 2/3 ✓ A redução da ureia se deve ao aumento de sua depuração e a baixa degradação de proteínas Redução dos uratos na urina pela sua maior reabsorção pelos rins Filtração de glicose no rim aumenta em 50%, mas a capacidade de reabsorção tubular permanece igual, levando à glicosúria fisiológica ✓ ATENÇÃO: glicosúria pode estar relacionada com estado pré-diabético da gestante ✓ Glicosúria também se relaciona com ITU Cuidar dos níveis de creatinina e ureia! ✓ Não abaixam na gravidez ✓ Valores normais não gravídicos podem significar algum grau de IR em gestantes (>0,8) Níveis endógenoselevados de ácido úrico (>4,5) podem significar sinal precoce de pré-eclâmpsia Proteinúria até 300mg/24hs = normal ✓ Em adulto não grávido, até 150 O consumo de O2 aumenta de 20-30% Abertura das últimas costelas: diafragma se eleva em 4cm, aumentando seu diâmetro transverso ✓ Capacidade pulmonar total reduzida em aproximadamente 200mL Comum a sensação de dispneia, mais proeminente no fim da gestação ✓ Incursão diafragmática reduzida Cássia Mendes Ataide - UFMS ✓ Sensação de fôlego curto → tende a melhorar em decúbito lateral esquerdo ✓ Presente em 60-70% Aumento do volume corrente (VC) com redução da reserva expiratória e preservação da r. inspiratória → essa elevação do VC tende a suprir as demandas de O2 que estão maiores pelo aumento da quantidade total de Hb circulante ✓ Induzido pela hemodiluição e queda de Hb ✓ Frequência respiratória não se altera ✓ Determina aumento do volume-minuto Volume-minuto ventilatório aumenta: clinicamente notado como hiperventilação (discreto aumento da FR) com consequente redução da pCO2 ✓ Redução da pCO2 facilita a excreção fetal A progesterona elevada estimula o centro respiratório por reduzir seu limiar de sensibilidade ao CO2, mantendo a hiperventilação, além da ação direta na musculatura lisa brônquica Alterações dos volumes pulmonares durante a gestação. CI: capacidade inspiratória; CPT: capacidade pulmonar total; CRF: capacidade residual funcional; CVF: capacidade vital forçada; VC: volume corrente; VR: volume residual; VRE: volume de reserva expiratória; VRI: volume de reserva inspiratória. A posição supina piora a oxigenação da gestante, o que pode gerar episódios de dispneia paroxística noturna Maior dificuldade de intubação orotraqueal: edema de mucosas acomete laringe e faringe, diminuindo o lúmen dessas vias Hiperventilação com eliminação de CO2 leva a constante alcalose respiratória Ácidos permanecem sempre um pouco aumentados, pois a hiperventilação prevalece, havendo sempre algum grau de alcalose a ser compensada Gestante mantém o pH sanguíneo sempre no limite superior da normalidade ✓ Ácidos não são suficientes para compensar totalmente a alcalose, que discretamente aparece Feto exige 150 kcal/dia a mais para suprir o maior gasto energético e suas necessidades Primeira fase (concepção até 24-26 sem): anabolismo materno → aporte energético para reserva materna Segunda fase: catabolismo materno → aporte de energia ingerida + reservas maternas são para o crescimento do feto Feto necessita de glicose e aminoácidos para seu crescimento e extrai constantemente da mãe Fase anabólica da gestação: redução da glicemia em jejum e da glicemia basal materna em favor do armazenamento de gordura, glicogênese hepática e transferência de glicose para o feto → desencadeado pelo estrógeno e progesterona placentários Fase catabólica da gestação: lipólise, neoglicogênese e resistência periférica à insulina (secundária à produção placentária de hormônios diabetogênicos como GH, CRH, progesterona e hormônio lactogênico placentário (HLP) A mãe poupa glicose para o feto, reduzindo seu consumo periférico ✓ Ação de homônios anti-insulínicos: cortisol, HLP, estrogênio, progesterona, prolactina e glucagon Hormônios causam resistência periférica à insulina, o que estimula a produção de mais insulina Consequências: hiperinsulinismo + resistência periférica à insulina ✓ Mantém certo grau de hiperglicemia para que não falte glicose para o feto Glicose vai para o feto por difusão facilitada ✓ Feto apresenta glicemia cerca de 20 mg% abaixo da mãe Se há deficiência na produção de insulina, não haverá hiperinsulinismo ✓ Intolerância e DMG (em especial se a oferta de glicose no sangue materno ultrapassar a capacidade pancreática de produção de insulina) Cássia Mendes Ataide - UFMS Ritmo circadiano de glicemia e secreção de insulina em gestantes no 3° semestre e não gestantes Ácidos graxos livres não atravessam a placenta (não são úteis ao feto) e a mãe os armazena para sua própria reserva, síntese, hormônios e lactação O tecido adiposo produz adipocinas, como a leptina e adiponectina que estão envolvidas no metabolismo lipídico, no centro regulador de saciedade, na sensibilidade à insulina, entres outros ✓ Gestantes desenvolvem resistência relativa à leptina ✓ Níveis de adiponectina ficam menores, o que contribui para a diminuição da sensibilidade à insulina Cálcio: retido pelo organismo materno visando reservas para a lactação Fósforo: tecido ósseo e metabolismo energético → demanda cresce no último trimestre ✓ Uso de polivitamínicos na gestação Iodo: excretado em maior quantidade na urina, o que faz com que a gestante seja carente de iodo, devendo ser suplementado em populações específicas ✓ Cuidado com o iodo: dieta da população brasileira é rica em sal, que é enriquecido com iodo Magnésio: diminuído ✓ Gestante pode ter mialgia devido a essa carência Hipovitaminose A: pode ser relacionada com defeitos na embriogênese e anomalias congênitas Complexo B: necessárias ao metabolismo energético Carência de ácido fólico: além de causar anemia precoce na gestação, pode causar malformações do tubo neural, além de restrição do crescimento intrauterino (RCIU) Carência de vit C: em graus elevados, pode ocasionar abortamento ou morte fetal Vit D: importante para absorção do cálcio e fósforo e essenciais para a estrutura óssea ✓ Demanda aumentada ✓ Suplementação preferencialmente em dose diária ✓ Preferencialmente 15-20 min de sol no horário de pico Vit K: aumentada na gestação ✓ Fundamental mecanismo anti-hemorrágico Mecanismo hidroeletrolítico: sistema renina- angiotensina-aldosterona está hiperativo, aumentando a reabsorção tubular de sódio ✓ Volume plasmático aumentado, precisando de maior quantidade de sódio a fim de manter a osmolaridade do plasma 70% do aumento de peso na grávida é de água Pelo aumento do volume plasmático, há redistribuição de fluidos entre os espaços intra e extracelular e intersticial, o qual pode causar edema fisiológico (tornozelo) ✓ Atenção para edema mais intenso ou generalizado → pode estar associado a DHEG Enzimas envolvidas na nutrição como a glicose-6- fosfatase (glicose), desidrogenases (Krebs) e fosfatase alcalina (transporte ativo) estão elevadas na gestação Ocitocinase: bastante aumentada no início da gravidez, diminuindo próximo ao termo, tendo a função de inibir a ocitocina, evitando o desencadeamento precoce do parto Hormônios tireoidianos: βHCG e estrógenos competem nos receptores de TSH, elevando sua função Cássia Mendes Ataide - UFMS Muita fome e sede → muda qualitativamente a alimentação ✓ Avidez por frutas ácidas e alimentos condimentados Aversão a certos alimentos, podendo ocorrer náusea e vômito ✓ Pode ocorrer hiperêmese gravídica: vômitos incontroláveis que resultam em desidratação e perda ponderal Boca: pode haver hiperemia, edema e sangramento gengival, sialorreia, periodontite, cáries (comum) ✓ Cuidar da saúde bucal das gestantes! ✓ Sialorreia: estímulo neurológico do nervo trigêmeo e do n vago Pirose ocorre em 50% das gestantes, sobretudo após o 5° mês Ocorrência da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): diminuição do tônus do esfíncter esofagiano inferior por fatores mecânicos e ação da progesterona ✓ Progesterona: relaxante de fibras musculares lisas ✓ Estrógeno: induz os efeitos progestogênicos na mãe Estômago: elevado pelo aumento uterino, motilidade diminuída e tempo de esvaziamento aumentado Motilidade intestinal bastante diminuída Alças do delgado empurradas para cima e esquerda: cólon se eleva levando o apêndice para cima e direita ✓ Atenção para a topografia de apendicite na gestação ✓ Apendicite sem quadro clássicoProdução placentária de estrógenos leva à proliferação da microvasculatura de todo tegumento + estado hiperprogestogênico, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo Hiperpigmentação da pele, sobretudo na gestante mais exposta ao sol e em geral no último trimestre ✓ Local mais frequente: face ✓ Ocorrência: vulva, cicatrizes, nevos, linha alba e aréola Estrias são comuns em abdômen e mamas, em geral após o 6° mês ✓ Ocorre por distensão da pele, com rotura do tecido sub-epitelial (derme) ✓ Com o tempo, melhoram, mas não revertem Hipertricose: em geral de grau leve ✓ Reverte após o parto Eritema palmar: comum, acentuando-se com o decorrer da gestação → aumento da vascularização Glândulas sudoríparas e sebáceas: sofrem hipertrofia e hiperfunção, com aumento da sudorese e secreção sebácea Sinal de Hunter: pontilhado (glândulas) ao redor da aréola ✓ Surgimento da aréola secundária Articulações têm maior mobilidade na gestação, sobretudo nas articulações sacro-ilíacas e sínfise púbica Modificações articulares provenientes da ação do estrogênio, que causa retenção líquida no tecido conjuntivo articular (“embebição gravídica”) Alta demanda fetal de cálcio → grau discreto de osteopenia, sendo raros os distúrbios graves como osteomalácia ou osteoporose Distúrbios passageiros da função motora, sensitiva ou mental como tremores, contraturas, hiperêmese, Cássia Mendes Ataide - UFMS parestesias, hipotonia vesical, convulsões, alterações vasomotoras, etc Enxaqueca: retenção hídrica Alterações de humor, depressão e reações maníacas podem ser causadas por alterações bioquímicas Sonolência, fadiga e lentidão psicomotora são típicas da ação da progesterona (depressora do SNC) Aumento da vascularização destes órgãos Hipertensão ocular no último trimestre, decorrente de espasmos e estreitamentos arteriolares localizados Hipersecreção lacrimal é frequente Patologias oculares na gestação são raras Epistaxe é comum pelo aumento da vascularização das mucosas de modo geral, o que também favorece a obstrução nasal e rinite Hipo ou anosmia por edema e congestão, impedindo as partículas de odor chegarem às terminações do nervo olfatório Diminuição da acuidade auditiva durante a gestação, zumbidos e vertigens Parestesias em extremidade, alterando o tato Alterações gustativas - edema e congestão da língua
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