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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA SERRA GAÚCHA Faculdade de Veterinária Anatomia Patológica II Articulações – Anomalias do Crescimento e Desenvolvimento, Lesões Degenerativas e Inflamação. Alessandra Gasparin Katiane Carvalho Colombo Lucas Ariel Rossi Vitória de Oliveira Maciel Caxias do Sul, 2020 1 Introdução As articulações podem ser definidas como o local que conectam as estruturas esqueléticas, proporcionam movimento e em alguns casos possuem funções de absorção de choque. (Zachary, 2017). Existem três tipos de articulações adjacentes aos ossos e estruturas cartilaginosas ao longo do esqueleto. São classificados baseadas na morfologia e na composição dos tecidos, como fibroso que são articulações de pequenos movimentos entre ossos, cartilaginoso que presenta em sua composição tecido fibroso, cartilaginoso ou a união de dois tecidos com realização de pequenos movimentos e o sinovial que são articulações predominantes, apresentando grandes movimentos entre os ossos adjacentes (Thompson, 2007). As articulações sinoviais ocorrem tanto no esqueleto axial quanto no apendicular. Permitem um grau variável de movimentos e anatomicamente são compostas de duas porções de terminais de ossos ligadas por uma cápsula fibrosa e ligamentos. (Zachary, 2017). O líquido sinovial é encontrado na Cavidade Articular, a qual é delimitada pela cápsula. A cartilagem articular é considerada uma peça chave da articulação sinovial para suportar as força compressivas associadas com peso, tendo em adição de forças que ocorrem durante o movimento (Thompson, 2007). Contudo, a cartilagem articular contém células metabólicas ativas como uma baixa resposta às lesões e uma mínima capacidade de reparação (Weisbrode, 2007). As patologias que envolvem as articulações, como as anomalias de crescimento e desenvolvimento, lesões degenerativas e inflamações são de grande importância na rotina veterinária não só de pequenos animais como de grandes animais. Em pequenos animais, estas acometem mais os caninos e em casuística menor os felinos. Em grandes animais, as enfermidades realacionadas às articulações ocorrem principalmente em equinos, por se tratar de um animal que precisa de um bom manejo e preparo físico, e que rende muito ao proprietário pela prática de esportes. 2 Articulações: Anomalias do Crescimento e Desenvolvimento, Lesões Degenerativas e Inflamação. 2.1 Anormalidades de Crescimento e Desenvolvimento 2.1.1 Artrogripose A atrogripose caracteriza-se por uma contratura congênita de uma articulação morfologicamente simétrica e bilateral. Essa patologia é bem comumente em surtos de infecções virais relacionadas ao sistema nervoso central dos fetos (vírus Akabane e vírus da língua azul) em bovinos e ovinos. Algumas lesões relacionadas ao sistema nervoso central são hereditárias, devido a maior incidência de proles acometidas após a introdução de um novo reprodutor macho. As mesmas acometem no sistema nervoso central a degeneração ou atrofia de grupos musculares com subsequente contração do membro distal. Presume-se que a intoxicação materna se ocasiona por alguns alcaloides (coniina, na intoxicação por cicuta) e plantas lupinas (anagria) resultando em paralisia fetal. A falta de movimento fetal durante uma fase crítica do desenvolvimento resulta em atrogripose. Em situações de atrogripose secundária á ausência de movimento fetal no útero, não existe alteração articular primária em alguns casos é possível seccionar as tensões ou a cápsula articular, essas contraturas podem ser aliviadas e a articulação, reorientada. Em casos de circunstâncias raras, há má malformação articular congênita resultando em superfície articulares incongruentes (Zanchary, 2017). 2.1.2 Displasia Coxofemoral e ou Displasia do Quadril A displasia coxofemoral é classificada como uma doença biomecânica que causa uma disparidade entre a massa muscular primária e um rápido crescimento ósseo (ALEXANDER, 1992). A displasia coxofemoral acomete mais frequentemente cães da de raças grandes e gigantes, sendo uma das patologias mais importantes nessas raças. Ela pode ser herdada geneticamente, porém podem ser adquiridas a partir de alguns fatores predisponentes como ambientais, peso e exercícios (ZANCHARY, 2017). A displasia do quadril também ocorre como uma doença herdada (recessiva, restrita ao sexo) em touros de determinadas raças de corte, incluindo Herefords. Os animais afetados têm acetábulos rasos, fraqueza e instabilidade da articulação, que predispõe à uma doença articular degenerativa precocemente na vida. O diagnóstico é baseado na história pregressa do animal, nos sinais clínicos e nos exames ortopédico e radiográfico. No exame físico, observa-se um aumento no afastamento da articulação coxofemoral, claudicação, sinal de Ortolani positivo (pode estar ausente em casos crónicos devido à fibrose na articulação), relutância em correr e saltar, dor e crepitação à manipulação da articulação, atrofia muscular nos membros pélvicos e hipertrofia muscular dos membros torácicos (TUDURY, 2004). 2.1.3 Osteocondrose Considerada uma lesão degenerativa dos ossos e das cartilagens e da região articular, a Osteocondrose (OC) é responsável pela alteração da estrutura dos tecidos afetando a resistência dos membros locomotores (Kliminiè e Klimas, 2006), consistindo em lesões da cartilagem de crescimento em animais jovens (Weisbrode, 2007). Conhecida por ser uma das principais patologias que acometem os esqueletos dos suínos, designada pela deformação óssea e retenção da cartilagem articular (Kliminiè e Klimas, 2006), além de aponderar-se de outros animais domésticos como cães, cavalos, bovinos, ovinos e roedores com diferentes manifestações clínicas, sendo classificada uma doença muito de relevância na ortopedia veterinária (Weisbrode, 2007). Descrita como uma condição não inflamatória, progressiva e crônica que, acomete animais de crescimento rápido e os destinados à reprodução (Barcelos, et al, 2007), podendo causar desde claudicação até a incapacidade de se locomover (Alberton et al., 2000). A etiopatogenia é vista por anormalidades no segmento de ossificação endocondral da placa epifisária, placa de crescimento, e estruturação do Complexo Cartilagem Articular-Epifisárias, conhecida como CAE (Weisbrode, 2007), esta de animais jovens, necessita da presença vasos sanguíneos viáveis dentro dos canais cartilaginosos. (Thompson, 2007). Com o passar do tempo ocorre atrofia dos canais cartilaginosos, morte de células dos vasos e a nutrição passa a ser realizada pelos vasos sanguíneos encontrados abaixo da cartilagem epifisária localizada no osso subcondra (Ytrehus et al., 2004b). Por volta dos cinco meses de idada ocorre o cessamento do crescimento do animal, as CAE são substituídas por ossificações, sobrando uma pequena quantidade de cartilagem nas extremidades, cartilagem articular, recebendo seus nutrientes por difusão por meio líquido sinovial (Thompson, 2007). A etiologia da OC é multifatorial, entretanto, os principais fatores envolvidos no desencadeamento da patologia são: nutrição, traumas, genética, velocidade de crescimento, sexo, além da influência ao exercício, agentes infecciosos, qualidade e quantidade de carne, taxa de crescimento e conversão alimentar (Kardamideen et al., 2004). A apresentação clínica da OC ocorre aos 4 a 7 meses de idade, embora lesões possam ser encontradas em animais mais jovens, variando de acordo com a localização das lesões, lembrando-se que qualquer articulação pode ser afetada, sendo em 80% dos casos bilateral. Os sinais mais presentes são claudicações crônicas e progressivas, deslocamento com os membros estendidos, deixando visível a dificuldade em realizar movimentos articulares (Alberton, 2007). Com isso acabam evitando a realização de certos movimentos,preferindo permanecer em repouso (Barcellos et al., 2007), porém quando os realizam são de forma lenta, representando estado de dor, esta é causada por um aumento da produção de líquido sinovial e pelo inchaço da cápsula articular (Dewey, 2006). Essas lesões são definidas, macroscopicamente, pela existência de uma ou mais áreas focais de aumento da espessura da cartilagem articular, podendo abranger presença de dobras, abas ou úlceras na cartilagem (Johnston et al. 1987). Lembrando que muitas vezes os casos de OC podem ser subclínicos, podendo ser diagnosticados por meio da inspeção das articulações, utilizando US e palpação em animais domésticos e no abate em animais de produção (Alberton, 2007). As lesões microscópicas são desencadeadas pelo surgimento de uma área de necrose isquêmica focal da cartilagem epifiseal de crescimento, resultante da destruição do vaso proximal levando a anastomose nos canais da cartilagem, sendo estas anomalias causadas por microtraumas nas trabéculas subcondrais, provocando oclusão ou uma ruptura de um ou vários vasos (Ytrehus, 2004). Essa área de necrose, provavelmente seria secundária a uma trombose fisiológica dos vasos da cartilagem e poderia contribuir para o aparecimento de lesões de OC no CAE (Thompson, 2007). 2.2 Lesões Inflamatórias 2.2.1 Osteocondrite Dissecante O termo osteocondrite, consiste em um progresso inflamatório que se amplia na articulação, e o termo dissecante refere-se as fraturas e ou fissuras que progridem na cartilagem articular (Sturion et al., 2009). Desta forma, a Osteocondrite dissecante, OCD, é uma displasia na CAE que acontece a partir de fissuras nas cartilagens que ficam retidas, acometendo ao aparecimento de uma aba cartilaginosa (Weisbrode, 2007). Esta patologia é atribuida por desligamento de segmentos da cartilagem epifiseal e ou cartilagem articular, que resulta em evidenciação do osso subcondral mineralizado. Pode acontecer o completo desligamento da cartilagem articular, provocando uma profunda úlcera com exposição do osso subcondral e fragmentos da cartilagem no interior da articulação (Thompson, 2007). Lembrando que as lesões ocorrem em diversas articulações sinoviais, incluindo as da coluna vertebral (Weisbrode, 2007). As lesões dissecantes não circundam os ossos, porém, abas ou cartilagens contendo tecidos ósseos, podem estar presentes. Acontecem com constância nas superfícies dos côndilos medial do úmero e fêmur, e acometem os mesmos animais que a Osteocondrose. Esta patologia acomete mais os machos do que as fêmeas e tem predisposição por certas raças, quando falado de cães, associadas ao desequilíbrio nutricional durante os primeiros meses de vida, assim como a traumas de articulação. A OCD é relacionada à OC, tendo como etiopatogenia as mesmas causas (Weisbrode, 2007). 2.2.2 Artrite Infecciosa Ocorrendo com maior frequência nos animais pecuários, a inflamação da membrana sinovial e das superficies articulares, determinada por claudicações de variados graus, calor, dor e aumento de volume da articulação (DESROCHERS et al., 1995; REBHUN et al., 2000; RADOSTITS et al., 2000). Os principais microorganismos encarregados pela artrite infecciosa são Actinomyces pyogenes, Corynebacterium pyogenes, Staphylococcus aureus Escherichia coli, Streptococcus spp., Salmonela spp., Mycoplasma spp., Erysipelothrix insidiosa, Chlamydia Psittacci e Fusobacterium necrophorum (RADOSTITS et al., 2000; KALLO et al., 1997). Sendo secundária à onfalite ou à entrada orointestinal, a bacteriemia neonatal, pode induz a poliartrite em cordeiros, bezerros, leitões e potros, podendo atingir a articulação (Zanchary, 2013). As lesões presentes nesta patologia podem ser bastante similares a outras enfermidades, portanto, as lesões são classificadas e identificadas pelo tempo de ocorrência e com base nos atributos do exsudato inicial, tendo por predominância o neutrofílico na artrite supurativa ou fibrinosa. Sendo assim, o feedback da cartilagem à inflamação ao passar do tempo dependerá exclusivamente do organismo e da seriedade dos exsudatos. Vale a pena lembrar que na inflamação aguda, independentemente da seriedade do exsudato em questão, a cartilagem articular estará normal macroscópicamente e microscopicamente (Zanchary, 2013). 2.2.3 Artrite viral É uma patologia que acomete caprinos e em outros mamíferos ela não parece ser significativa ou reconhecida. Caprinos mais velhos quando infectados com o vírus da encefalite caprina vão apresentar artrite fibrinosa crônica e seus sinais clínicos são caracterizados pela claudicação debilitante, higromas carpais (bolsas preenchidas por líquido das articulações afetadas) e distensão das maiores articulações sinoviais. Nos casos crônicos de CAE os animais ainda podem apresentar sinovite linfoplasmocítica, hipertrofia/hiperplasia vilosa sinovial e formação de pannus típica da artrite fibrinosa crônica. (Zanchary, 2017). 2.2.4 Artrite por Mycoplasma A artrite causada por Mycoplasma possui lesões semelhantes as outras artrites bacterianas. Geralmente, várias articulações podem ser afetadas pelo fato da infecção se espalhar por via hematógena (via corrente sanguínea, atingindo todos as articulações do corpo, tendo acometimento rápido). A principal característica da artrite causada por Mycoplasma é a claudicação e edema nas grandes articulações sinoviais dos membros dos animais acometidos. Mycoplasma hyornis – acomete suínos pós desmame; Mycoplasma hyosynoviae – acomete suínos com mais de três meses de idade; Mycoplasma bovis – acomete bovinos confinados; (Zanchary 2017). 2.2.5 Osteomielite A Osteomielite engloba a inflamação do osso, sendo na maioria das vezes por causada bactérias. Enfermidade dificilmente diagnosticada, pois os animais afetados, geralmente morrem de septicemia antes de suspeitar clinicamente de osteomielite. (Thompson, 2007). Dessa forma, os agentes infecciosos podem entrar no osso, diretamente no periósteo, por meio de um trauma, cirurgia ou via hematógena, podendo assim acometer qualquer animal vertebrado (Weisbrode, 2007). Por possuirem uma predileção por locais metabolicamente ativos, as bactérias, nos ossos se alojam principalmente na ossificação endocondral epifiseal e metafiseal (Thompson, 2007). Muitas dessas infecções podem ser controladas no estágio inicial, devido a um eficiente tratamento antibacteriano, entretanto, se a infecção não for eliminada, poderá ocorrer a formação de abscessos metafisários e ou epifisários (Thompson, 2007). O agente infeccioso pode acometer a cavidade medular adjacente, ocasionando necrose dos tecidos moles e osso trabecular, ocorrendo como áreas pálidas discretas, demarcadas pela medula óssea vermelha. Afluem reabsorção do osso trabecular necrótico, e existe proliferação de tecido de granulação em torno desse osso, o que resulta na segmentação do tecido viável e do osso necrótico (Thompson, 2007). Os segmentos de uma resposta inflamatória no interior do osso podem modificar a estrutura e função dos mesmos. A intensidade da reação inflamatória e a decorrente formação de edema, ocorrendo um aumento na pressão interna do osso, pode ocasionar compressão dos vasos sanguíneos, o que pode resultar em necrose isquêmica (Weisbrode, 2007). 2.3 Lesões Degenerativas As lesões degenerativas são doenças que destroem as articulações sinoviais, acometendo uma articulação (monoarticular) ou podendo acometer várias (poliarticular). São classificadas em osteoartrite e osteoartrose, podendo ocorrer em todas as espécies que possuem um esqueleto vertebrado e em todas as idades. (Zanchary, 2017) 2.3.1 Osteoartrite Consiste em uma patologia que causa uma degeneração lenta das articulações e perda da cartilagem articular, causando assim, a exposição do osso subcondral (Pedersen et.al 1992). A osteoartrite é a artropatia mais comum tanto no homem como nos animais, sendo mais frequente no cão no que no gato. A osteoartrite pode ser primária ou secundária. Osteoartrite primária (ou idiopática), é aquela em que não há uma causa inicial óbvia e a osteoartrite secundária é aquela que a doença é decorrente de outras anormalidades, como por exemplo a osteocondrose ou a ruptura do ligamento cruzado cranial (BENNETT, 1991). 2.3.2 Osteoartrose Osteoartrose (OA) é uma doença articular crônica, progressiva e degenerativa, muito comum em cães e relativamente infrequente em gatos (Shaw, et al. 1999 e Taylor, 2006). Definida pela deterioração progressiva da cartilagem articular, pela formação de osteófitos, pelo remodelamento ósseo nas superfícies e margens articulares, e pela fibrose periarticular (Shaw, et al. 1999). Pode acometer todas as articulações e por ser progressivo, gera graus de manifestação sintomática. Os sinais clínicos mais comuns nesta patologia são: dor, claudicação, rigidez, diminuição da atividade, intolerância ao exercício e atrofia muscular (Taylor, 2006 e Rychel, 2010). A patologia OA pode ser classificada como primária (idiopática), secundária ou erosiva. A primária é parcialmente incomum, já foi descrita tanto em adultos ou em jovens de algumas raças específicas como chow-chow, dálmata e labrador, possuindo causas indefinidas, ocorrendo acometimento bilateral das articulações. Nos cães a secundária é a forma mais acometida, e sua causa é identificada, entretanto a erosiva também tem sua causa desconhecida, sendo nesta, alterações erosivas articulares são vistas no exame radiográfico, todavia, alguns autores dizem que são necessários mais estudos para se ter um diagnóstico preciso, pois essas alterações radiográficas não são exclusivas dessa doença (Budsberg, 1996). Já os fatores etiológicos da osteoartrose secundária, podemos citar as fraturas articulares e rupturas ligamentares, displasia, cirurgias ortopédicas, deformidades articulares, obesidade. No exame radiográfico podemos identificar efusão articular, inchaço do tecido mole periarticular, esclerose do osso subcondral, formação de cistos subcondrais, redução do espaço articular, formação de osteófitos e remodelamento ósseo (Rychel, 2010). 3 Artigo REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679-7353 Ano VIII – Número 15 – Julho de 2010 – Periódicos Semestral ARTROGRIPOSE, BRAQUIGNATISMO E PALATOSQUISE EM BOVINO DA RAÇA NELORE – RELATO DE CASO DRUZIANI, Juliana Teixeira FAVARETTO, Luísa NOVASKI, Eliane Discentes da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, UFPR - Campus Palotina PERES, Jayme Augusto Docente da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO GUIMARÃES, Gregório Correa Docente da Universidade Federal de Lavras - UFLA BIRCK, Arlei José FILADELPHO, André Luís Docentes da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, UFPR - Campus Palotina. RESUMO Este trabalho discorre sobre a ocorrência de malformação fetal, como artrogripose, palatosquise e braquignatismo, encontrados em um feto de bovino que apresentava anomalias múltiplas. O caso foi relatado no município de Lupércio/SP e analisado na UFPR - Campus Palotina. As malformações encontradas neste espécime são provavelmente decorrentes de uma ou mais causas, sejam elas ambientais, genéticas, nutricionais, por agentes teratógenos, microorganismos patogênicos ou drogas administradas durante a gestação. Palavras-Chave: artrogripose, palatosquise, braquignatismo, bovino. Tema Central: Medicina Veterinária. ABSTRACT This article discourses about the occurrence of fetal malformation, as arthrogryposis, palatoschisis and brachygnathia that it has founded in a bovine embryo whose presented multiple anomalies. The case has been told in the city of Lupércio, São Paulo and it has been analyzed in Palotina’s UFPR Campus. The abnormalities found in this specimen are probably due to one or more causes, be they environmental, genetic, nutritional, teratogenic agents, pathogenic microorganisms or drugs administered during pregnancy. Keywords: arthrogryposis, palatoschisis, brachygnathia, bovine. 1- INTRODUÇÃO Geralmente as anomalias congênitas têm origem durante a vida embrionária, quando se inicia o desenvolvimento da maioria das estruturas do corpo. A freqüência das malformações pré-natais é surpreendente, e sua enorme variedade é quase inacreditável (JONES et al., p.92, 2000). As causas ambientais dessas anomalias podem ser de natureza infecciosa, quando fêmeas prenhes são infectadas por determinados vírus; de natureza nutricional e também pela ingestão durante a gestação de plantas tóxicas; pela administração ou ingestão acidental de agentes químicos utilizados na agropecuária; como também por insultos físicos como irradiação beta e gama e hipertermia. Podemos verificar também que a maioria dos defeitos congênitos hereditários conhecidos é transmitida por genes recessivos autossômicos, que resultam no nascimento de animais defeituosos, cujos progenitores são normais (SCHILD, 2003). Deste modo, o principal intuito deste trabalho é relatar a ocorrência de um feto bovino portando malformação múltipla, incluindo artrogripose, palatosquise e braquignatismo inferior. 2- DESENVOLVIMENTO As malformações estruturais resultam de erros durante a organogênese; as deformações caracterizam-se por alterações na forma de uma estrutura orgânica, após sua diferenciação no embrião. Estatísticas apontam uma taxa de prevalência entre 0,5 % e 3% para bovinos (SCHILD, 2003). Esses erros durante a organogênese podem ser devido à ingestão de plantas e substâncias tóxicas como Sorgo, Capim Sudão e outros. O gênero Lupinus sp., por exemplo, contém o teratógeno amodendrina, um possível causa de escoliose, artrogripose e fenda palatina (SMITH, 2006). Também a administração de agentes químicos muito comuns a campo como organofosforados e fármacos como cortisona, sulfonamidas e estradiol (SCHILD, 2003). Alguns metais pesados passam através da placenta como o mercúrio, que em sua forma orgânica (metil-mercúrio) produz diversas anomalias congênitas no homem e nos animais (NODEN & LAHUNTA, 1990). E ainda deficiências nutricionais como a deficiência de vitamina A, manganês e selênio. Muitas infecções virais podem resultar em anomalias nos tecidos e orgãos embrionários. O vírus da diarréia viral bovina (BVD) resulta em braquignatismo inferior (figura 1). Outro Vírus causador de anomalias é o Akabane que lesa o feto, sendo sempre este do sexo masculino, sem que haja qualquer lesão sistêmica concorrente na vaca prenhe. No neonato, são notáveis a artrogripose e a torção da coluna espinhal em suas diversas formas como escoliose, torcicolo, lordose e cifose (figura 2) (JONES et al., 2000). Fatores genéticos também são prováveis causas de malformação, podendo ser transmitidos principalmente por genes recessivos e estão relacionados à ocorrência de consangüinidade (SCHILD, 2003). Em bovinos de corte, onde o cruzamento entre raças é comum, um gene mutante pode ser transferido de uma raça para outra (SMITH, 2006). Como há diferenças genéticas entre os indivíduos, animais de diferentes raças ou famílias e rebanhos podem responder diferentemente a determinado teratógeno, o que constitui, às vezes, um importante ponto no diagnóstico (SMITH, 2006). O conhecimento do manejo utilizado no rebanho, da aplicação de medicamentos em determinados períodos da gestação e o reconhecimento das áreas onde os animais permanecem durante a gestação são dados fundamentais para a determinação da etiologia destas enfermidades (SCHILD, 2003). A artrogripose é uma das anomalias congênitas mais frequentementediagnosticada em bezerros, e caracteriza-se comumente por deformidade na flexão das articulações com contração persistente. Em geral a afecção é bilateral e simétrica, os músculos exibem atrofia acentuada, com coloração pálida e substituição de varias fibras musculares por tecido adiposo. As malformações congênitas de uma modo geral têm origem multifatorial e frequentemente apresenta-se acompanhada por outras anomalias anatômicas e neurológicas, incluindo hidranencefalia, escoliose e fenda palatina. Na raça Charolesa uma tríade de sintomas é mais comumente observada em bezerros: artrogripose, escoliose e fenda palatina. (ANDREWS, 2008) A Síndrome do bezerro torto, resultante da intoxicação por Tremoço, é uma enfermidade associada à artrogripose, tendo como sinais escoliose, torcicolo e fenda palatina. Outra doença associada é a artrogripose hereditária, tendo como sinais cifose, torcicolo, escoliose e fenda palatina (SMTIH, 2006). A fenda palatina provém da falta de fusão de massas mesenquimais dos processos palatinos (figura 3). E o braquignatismo deve-se a malformação dos processos maxilar e mandibular (GARCIA, 1991). 3- RELATO DE CASO Este espécime foi enviado ao laboratório de Anatomia Veterinária da UFPR - Campus Palotina, oriundo de um frigorífico municipal de Lupércio/SP. Neste local, o médico veterinário responsável pelo serviço de inspeção municipal observou durante o abate que um dos fetos retirados apresentava malformação congênita múltipla. O exemplar apresentava cerca de 2 meses de desenvolvimento fetal e pertencia a raça Nelore. Ao chegar ao laboratório de anatomia, o exemplar foi lavado em água corrente e fixado em solução aquosa de formol a 10% para posterior dissecção e fotodocumentação. Foi observado no feto artrogripose, fenda palatina e braquignatismo, entre outras malformações ósseas. 4- CONCLUSÃO Observou-se que o feto relatado apresentava malformação múltipla. Após os estudos realizados pode-se constatar que essas enfermidades são resultado da hereditariedade aliada a causas exógenas. 5- FIGURAS Figura 1- Feto bovino apresentando braquignatismo (seta). Figura 2- Feto bovino apresentando torção da coluna vertebral (seta branca) e artrogripose (setas pretas). Figura3- Feto bovino apresentando palatosquise (seta). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NODEN, D.M.; LAHUNTA, A. Embriologia de los animales domésticos. 1ª ed. Espanha: Zaragoza, 1990. CORREA-RIET, F.; SCHILD, A.L.; MENDEZ, M.D.C.; LEMOS, R.A.A. Doenças de ruminantes e eqüinos. 2ª ed., vol.1, São Paulo: São Paulo, 2003. JONES, T.C.; HUNT, R.D.; KING, N.W. Patologia veterinária. 6ª ed. São Paulo: Barueri, 2000. 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Vale salientar que com este trabalho podemos saber como identificar determinada patogenia dentro dessa patologia articulares, através de exames específicos para a doença acometida. Se faz essencial que o médico veterinário saiba fazer o reconhecimento dos sinais clínicos para um diagnóstico precoce, podendo ser dificuldade para andar, dificuldade para beber água ou comer, mudanças de comportamento entre outras. Não há uma maneira totalmente eficaz para evitar tais doenças, uma vez que, ocorre em todos os animais o desgaste natural das articulações de forma geral ou com situações específicas de acidentes. Em alguns casos não existe tratamento disponível, sendo possível apenas a realização de tratamentos de suporte para melhorar a qualidade de vida do animal como fisioterapias, acupuntura e hidroginástica. Referências Bibliográficas ALBERTON, G.C, et al. Osteocondrose – Principal causa de artrite em suínos de abatedouro no Brasil. 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