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Raphaela Carvalho – 2024.2 Aula 04 – Sobrecargas Ventriculares As sobrecargas ventriculares podem acontecer por diversas patologias e para serem identificadas no ECG, observaremos o complexo QRS – que representa a despolarização ventricular tanto direita quanto esquerda. Os parâmetros normais do QRS são: Amplitude Nas derivações periféricas (D1-AVF): 0,5-2mV, o que corresponde 5-20 quadradinhos verticais do extremo negativo ao extremo positivo. Nas derivações precordiais (V1-V6): até 3mV, correspondendo a 30 quadradinhos verticais do extremo negativo ao extremo positivo. Duração Em qualquer derivação a duração do complexo QRS tem que ser de até 0,12ms, ou seja, 3 quadradinhos horizontais. Normalmente, a onda S diminui progressivamente de V1→V6, enquanto a onda R aumenta Tendo em vista que a amplitude dos complexos QRS representa o gasto energético do coração para a despolarização dos ventrículos, e que esse dispêndio é diretamente proporcional ao volume ou à massa dessas câmaras, quanto maior (mais dilatado) ou mais espesso (mais hipertrófico) for um ou ambos os ventrículos, maior será a amplitude dos complexos QRS no traçado eletrocardiográfico. Além disso, o eixo médio de QRS no plano frontal desviará para o lado da câmara comprometida. Assim, desvio anormal do eixo médio de QRS no plano frontal para a esquerda, associado a aumento anormal da amplitude de QRS pressupõe sobrecarga ventricular esquerda; desvio do eixo médio de QRS no plano frontal para a direita, associado a aumento anormal da amplitude de QRS pressupõe sobrecarga ventricular direita. As sobrecargas ventriculares são as mais relacionadas ao aumento de amplitude do QRS. Apesar disso, pode acontecer fisiologicamente em alguns grupos, como: • Crianças, adolescentes e adultos jovens; • Longilíneos; • Atletas; • Mulheres mastectomizadas; • Vagotonia. Os vetores de ativação ventricular esquerda fisiologicamente predominam. Por outro lado, quando há grande sobrecarga ventricular direita haverá sensível alteração do ECG normal. Mas para que ocorra a predominância do VD é necessário que o aumento da massa ventricular exceda em três vezes a massa do ventrículo esquerdo. Sobrecarga Ventricular Direita (SVD) O padrão típico é com o eixo elétrico desviado para frente e para direita, mas em casos específicos de, por ex pneumopata crônico e DPOC, o desvio do eixo pode ser para trás e para direita. Pode ocorre atraso na condução do ramo direito do feixe de his de grau leve a moderado. Os critérios diagnósticos da SVD são: � Aumento da amplitude do R e diminuição na do S (relação R/S >1) em V1 e V2 � Desvio do eixo para direita � Sinais de crescimento do AD � Em V1 onda R > S ou onda R > 7 mm (7 quadradinhos verticais) � Em V5-V6 onda S > R ou S > 7 mm, ou seja, há um aumento da onda S e diminuição de R nas precordiais esquerdas (inverte o padrão normal, que seria R maior que S a medida que se aproxima de V6). Observar também D1 e AVL (derivações periféricas do coração esquerdo). � Persistência de onda S em D1, D2 e D3 (síndrome S1S2S3) � Onda R terminal em AVR � Onda T negativa de V1 a V5 � Padrão strain de VD: discreto infra de ST seguido de onda T invertida e assimétrica � Aumento do tempo de ativação ventricular (TAV) em derivações direitas = deflexão intrinsecoide. O TAV começa no fim do intervalo PR e vai até o pico da onda R. Nem todo paciente que tem sobrecarga tem hipertrofia, mas geralmente os pacientes que tem hipertrofia tem sobrecarga associada. As causas mais frequentes de HVD por sobrecarga diastólica do VD (resposta a sobrecarga de volume) são: comunicação interatrial (CIA), drenagem anômala de veias pulmonares, insuficiência tricúspide e insuficiência pulmonar. A sobrecarga diastólica do VD é diagnosticada pelo BRD: em V1-V2 observamos o padrão R-S-R’ onda T negativa e em V5-V6 observamos q-R-S com onda S profunda. Menos comum que a diastólica, a HVD também pode ser decorrente de uma sobrecarga sistólica do VD, sendo as causas mais frequentes: estenose de valva pulmonar, T4F, hipertensão pulmonar e estenose mitral grave. Os critérios são: infra do ponto J e do segmento ST de V1-V4 além de onda T negativa e assimétrica (padrão de strain). Em V1-V2 onda R bem positiva e onda T negativa e em V5-V6 onda S profunda maior que R (semelhante a D2 e AVL), além do desvio para a direita. *Padrão de strain está relacionado a sobrecarga sistólica. Sobrecarga Ventricular Esquerda (SVE) Possíveis etiologias: HAS, Estenose Aórtica, Insuficiência Aórtica, Insuficiência Mitral, Persistência do canal arterial, Miocardiopatia Hipertrófica e Miocardiopatia dilatada idiopática. Em primeiro lugar, a SVE é caracterizada pelo desvio do eixo QRS para esquerda, ou seja, o eixo está localizado no quadrante superior esquerdo, entre 0 e -90º, mostrando uma rotação anti- horária (Q1S3 – onda Q em D1 e S em D3). Contudo, é importante lembrar que pessoas brevelíneas podem ter o eixo fisiologicamente desviado até -30°. *Eixo desviado p/ esquerda = D1 positivo e AVF negativo. As alterações observadas no QRS incluem: � Aumento da amplitude da onda R nas precordiais esquerdas + padrão de strain � Atenuação da onda Q nas precordiais esquerdas (menos frequente) � Aumento da amplitude da onda S nas precordiais direitas � Deflexação intrinsecóide (aumento do tempo de ativação ventricular – TAV – nas precordiais esquerdas: >50ms, ou 2 quadrados grandes) � Índice de Morris em V1 (onda P de início positivo e final negativo), indicando SAE associado. Alterações de segmento ST e onda T: � T negativa em V5, V6, D1 e AVL (derivações que olham o coração esquerdo) � T positiva em V1, V2 e AVR � Padrão de Strain nas precordiais esquerdas Assim como na SVD, a SVE pode estar associada a hipertrofias. No caso de HVE associada, são utilizados como critério: índice de sokolow-lyon, índice de lewis, escore de cornell (mais fidedigno – sensibilidade de 60% e especificidade de 90%), amplitude da onda S aumentada/profunda em V1 (>24mm/25quadradinhos/5quadrados grandes) e R1S3 > 35mm. A HVE inicialmente mostra-se como sobrecarga diastólica do VE por sobrecarga de volume, sendo suas causas mais frequentes a insuficiência mitral, insuficiência aórtica, estenose aórtica comunicação interventricular (CIV) e persistência do canal arterial (PCA). As características eletrocardiográficas são: discreto supra do ponto J e do segmento ST em V5-V6 seguido de onda T positiva, pontiaguda e simétrica nas mesmas derivações. Quando há sobrecarga sistólica é porque o ventrículo está exposto a uma sobrecarga muito grande de pressão, que pode ser causada por: cardiopatia hipertensiva, estenose aórtica e coarctação da aorta. No ECG observamos: discreto infra do ponto J e de ST em V5-V6 seguido de onda T negativa e assimétrica → padrão de strain. A presença de BRE também não é incomum, mas não é indispensável para o diagnóstico. Suas características são: amplitude de R aumentada em AVL (>11mm/10 quadradinhos/ 2 quadrados grandes), aumento na amplitude/profundidade de S em V1, S em V1 + R em V6 = > 40 e S profunda em V2 (> 30mm) ou V3 (> 25). Além disso, pode estar presente Bloqueio Divisional Antero Superior Esquerdo (BDASE) ou Hemi Bloqueio Anterior Esquerdo (HBAE). Índice de sokolow-lyon: S com amplitude muito aumentada em V1-V2 e R em V5-V6. Se a soma dessas duas amplitudes for ≥ 35, podemos dizer que é um SVE. >28mm em homens e 20 em mulheres sugerem SVE *se usar digitálico adicionar mais um ponto Sobrecarga Biventricular É diagnosticada pelos critérios de Murphy: presença de SAE, relação RS em V5 <1, amplitude aumentada de S em V5-V6 (>7mm) e eixo elétrico desviado para direita. Sinal de Katz-Watchtel: padrão RS proeminente no plano horizontal/ nas precordiais. Em precordiais direitas observa-sepadrão de SVD (R-S-R’) e nas esquerdas o padrão de SVE (supra de ST com onda T positiva e simétrica).
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