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© A gastrulação ocorre na terceira semana do desenvolvimento e é o evento responsável pelo surgimento dos três folhetos embrionários – ecto, meso e endoderma - que darão origem aos tecidos do embrião. Durante esse período, em virtude de sua extrema importância para localização dos futuros órgãos, o embrião está mais suscetível a malformações que podem prejudicar o desenvolvimento do feto. O evento inicial da gastrulação é a formação da linha primitiva, que surge pela migração das células do epiblasto da região caudal em direção a região cranial, nesta última ocorrerá a formação da membrana bucofaríngea que será a futura boca do embrião. A região em que surge a linha primitiva formará a região posterior do embrião, enquanto a oposta dará origem a região cefálica. A migração é interrompida quando as células chegam no ponto em que forma o nó primitivo, que é um importante centro organizador e indutor dos eixos do embrião, que se encontra adjacente a fosseta primitiva, por onde se começará a formação da notocorda. Logo, podemos destrinchar a gastrulação em algumas etapas: 1) As células do epiblasto ingressam na linha primitiva deslocando o hipoblasto e formando o endoderma, que é um folheto ventral que dará origem ao intestino primitivo, ao trato digestório e respiratório; 2) Mais uma camada de células migra se alojando entre o endoderma e as células restantes do epiblasto, formando o mesoderma, que constituirá o tecido sanguíneo, muscular, ósseo e cardíaco; 3) O que resta se diferencia em ectoderma, que formará a pele, o sistema nervoso e as células pigmentadas. © Contudo, para que as células possam realizar a migração é necessário que haja a transição epitélio- mesenquimal. Isso é necessário, porque quando na forma epiblástica as células apresentam fenótipo epitelial estando bastante coesas, sendo assim, precisam sofrer algumas transformações para que possam migrar. Essas alterações incluem mudanças no padrão de expressão das moléculas de adesão, trocando E-caderinas e moléculas de junções oclusivas (como ZO-1), por integrinas e N-caderinas, a fim de se converterem a um padrão de célula capaz de interagir melhor com o ambiente e a MEC, e menos entre si, fazendo com que possam ‘’transitar’’. Dessa maneira, a movimentação das células acaba por quebras a simetria do embrião, que deixa de ser um disco bilaminar para se tornar uma massa trilaminar. A notocorda é gerada a partir das células epiblásticas que vão ficar entre o endoderma e o epiblasto, logo, é considerada parte do mesoderma. Ela faz parte do mesoderma axial e é formada pelas células no processo de migração cefálica, que constituem uma estrutura denominada de processo notocordal. No decorrer desse fenômeno, o processo notocordal se funde transitoriamente com o endoderma, e quando se desprende forma um cordão sólido que constitui a notocorda, por volta do 16° ao 20° dia de gestação. A notocorda institui a base para formação do esqueleto axial e das vértebras, bem como, induz a geração de padrões aos tecidos adjacentes. A gastrulação é um evento embrionário que só é possível pela combinação de múltiplos eventos como a expressão gênica diferencial, por meio da restrição progressiva da ativação de alguns genes, à medida que as células vão se comprometendo com um determinado tipo celular. Essa diferenciação é altamente regulada pelo tempo e o espaço. © A indução do tipo celular é determinada por meio da combinação de vários indutores, que em consonância com a memória celular, irão produzir uma resposta diferente ao mesmo tipo de estimulo. A principal fonte indutora de diferenciação são os morfógenos, que atuam por meio da proximidade ou da distância ao formarem um gradiente que pode ser amplamente distribuído ou distribuído parcialmente, se houver algum inibidor. Assim como a diferenciação, a linha primitiva depende de sinais que provém dos tecidos extraembrionários. Dessa forma, os tecidos extraembrionários secretam a proteína BMP que induzirá a expressão de Vg1 (da família do TGF-β e Wnt), estimulando a expressão de Wnt3 e Nodal na região caudal. A compartimentalização do sinal advém da repressão desses sinais nas regiões não- caudais, por intermédio de inibidores como Cer2 e Lefty1. Caso não haja inibição de Wnt, que não é expressa na região cranial, a sua presença nesse local pode causar anencefalia. A linha primitiva, como dito anteriormente, regride. Se ela não realizar essa regressão, no intuito de formar o broto caudal que é importante para formação dos membros posteriores e das vértebras sacrais, há o fenômeno de displasia caudal em que as pernas acabam por nascerem coladas. Além disso, a assimetria gerada durante a gastrulação, está correlacionada a expressão da molécula Nodal, que possui um gradiente apenas no lado esquerdo. Isso ocorre, pois a molécula Lefty1 impede sua passagem para o lado direito, assim como o cílio do embrião ao bater sempre da direita para esquerda. Caso hajam alterações nesse processo de assimetria direita- esquerda, podem ocorrer mutações e até mesmo a reversão total da leteralidade dos órgãos (situs inversus).
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