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Fischer - História da Leitura

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Prévia do material em texto

FUNDAÇÃOEDITORA DA UNESP
Steven RogerFíscher
Presidente cío Cottselbo CI.orador
Marcos Nlacari
Dtretor-Presidellte
José Castilho blarques Neto
Edita r-Execlttiuo
Jézio Hernani Bomfim Gutierre
Coltseibo EditoNai Acctdêmico
Antonio Censo Feri-alia
Cláudio Antonio Rabello Coelho
Elizabeth Berwerth Stucclli
Kestel' Cerra ra
b'latia clo Rosário Longo Nlortatti
olaria Encarnação Beltrão Sposito
Mana Heloísa Nlal-uns Dias
Mano Fernando Bolognesi
Paulo José Brando Santilli
Rol)erro Anclré Ki'aenl<el
HISTORIA DA LEITURA
/
Editores-Asststel ! tes
Anclerson Notara
[)enise l<atc]luian Dognini
Dicla Bessana
Tradução
Claudia Freire
editora
unesp
$
Título original A history of reading
© 2005 da tradução l)rasileira:
Fundação Editora cla UNESP(FEU)
Praça cla Sé, 108
01001-900 -- São Paulo -- SP
Tel.:(Oxxl1) 3242 7171
Fax:(Oxxl1) 3242-7172
www.eclitoraunesp.com.br
feu@editol'a.unesp.br
Sumário
CIP -- Brasil. Catalogação na fonte
Sindicato Nacional elos Editores cle Livros, RJ
P562h
Fischer, Steven R
História cla leitura / Steven Rogar Fischer
Paulo: Editora UNESP, 2006
3S4p.;il.
Tradução cle; A histoly of I'eading
Inclui l)ibliogralia
ISBN S5-7t39-655 8
1. Leitura - História. 2. Livros e leitura
1. Título.
[tuclução Claudia Freire. São Prefácio 7
l
2
3
4
5.
6.
7.
A Testemunha Imortal 9
A Fala do Papiro 41
Uln Mundo de Leitura 91
A Visão clo Pergaminho 129
A Página Impressa 187
A "Consciência Universal" 231
Lendo o Futuro 279
l história. 3. Livros - História
06-3951 CDD 028.9
CDU028
Bibliografia selecionada 317
índice remissivo 325
Editora afinada:
n.. llggw g"l@ã\
cl Curllic Editoras Universitárias 'e'oriHttDo ''
Ast :bit:ll'nl clc Edlttlrlitlcs
dc Amérk:a l;ttliut y
40 STEVEN REGER FISCHER
ta. Os leitores conseguem ampliar sua comunicação no tempo e no espaço; poc]em
também expandir sua memória em extensão e duração.
Apesíu cle os escribas :antigos terem feito tudo isso a p:unir clo motnento em
que inantiver2un ]egistros, tl-ocarana cartas, iclentificaríun lnercaclorias e até exalta-
l:un governantes eill inscrições em monumentos, dei iiouéó iilisttnguiam essa ãp-
ticlão clo desempenho oral: isto é, as habilita
plocl:u laclol ei' (.}'iêtiõnhecimento clo vei clítcleir io
ttucliamente no seu clesenvolviinentu -- na realiclacle, cerca cle três iiiií anos apos a
ela
A palaviii esciila, com sua aacliva, trouxe t2unbém suzl tirania. Por conse-
qtlência cle uma mel:unonose voiuntá u
ra e a noeraaêlê ói:iiis. Uma iiiitoridiiillaiiiií:iiçac tt
Eoclos os le =iivizava SenIS clev0[21-
clos súclitos. Hoje, porqiie pêitlé iiiiilhâiií6"õrãrnão
[emos muita noção c]a onipresente imposição c]a tirana na inec]ida em qüé çiüé-
lnos, pensíunos, cremos e vener:ursos pol' meio cla palavra escrita, tornaããiõ:fios
incitpazes cle enxergar ótiti:ãê pussi uitlãilê:''T3ilõihói:iêin exceçao, soiüõFgúdí-
tos inconscientes cla leitura.
Contudo, muitos reconlleceriain que esse é uin pequeno preço a ser pingo
pol' uma clzts ini\is notáveis maravilhas cla vicia: o conta'ole incliviclual sobre o tempo
e o esp;tço Todos os idiomas e culturas conlleciclos cla história são preseiv;tclos
por meio c]a ]eitura. Dessa f'onda, e]es continutun a fazer pal'te c]a narrativa ]luma-
na, visto que testemunham a glória e os conflitos cle nosso passado em colnuln:
sumério, egípcio, acádio, persa, sânscrito, cllinês clássico, grego, hebraico, latim,
árabe clássico e centenas cle outros.
Assim, tennina(to o inilênio, a "testemunha imortal" flnallnente tornou-se a
voz cla própria llumaniclacle.
Capítulo
A fala do papiro
Dtiraltte o jantar, na presençct de rotinha esposa otl de algum amigos,
esctLtamos a feitura de t m boro; após o jantar alma comédia otl o sollt dcl {Íra;
em seguida, tlln pctsseio com o gn,tpo, o clt al
inc! i ndiüduos en.éditos. Assim c} no te
passc} com conoe7'sm sobre Dados assuntos, e até lllesmo o dia mais evllbdonbo
logo se torna {Kteressc111te.!
O escritor e administrador P]ínio, o Jovem (c. 62-c.-1] 3 d.C.), conhecido por
sua epormq.111uqntidade de cartas:têêonhecia muito bem o lugar da leitura na
Romã antiga, pelo menos ehtré ã elite patrícia. Isso porque a maior parte da leitura
não-essencial, durante quase toda a Antiguidade Clássica, era entretenimento ê
imperador Augusto (63 a.C:=4 d.C.) não cóhsegüia dormir, por e5iêhplo, convocá-
vãleitores e cõnLaaores cic nlsLonas, sêãühdõ ielãtos de seu biógrafo, Suetâni=C
75-150 d.C.)
Todo o ensino clássico tinha como objetivo máximo não a aquisição de
conhecimento, mas a perfeição da eloquência. Gregos e romanos, após seus res-
pectivos períodos arcaicos, empregavam, decerto, a escrita de forma generalizada
Mas seu cotidiano ainda permanecia dominado pela palavra /a/ada. Eles ditavam
cartas, escutavam declamações, ouviam notícias, participavam das leituras de lite-
ratura e cartas de seus escravos. Era a oralidade, e não a leitura e a escrita, que
regia a sociedade mediterrânea antiga. A mudança foi que, com a repentina proli-
feração da escrita, gregos e romanos de diversas posições e classes passaram a ler
em voz alta rolos de papiro (e tabuletas de cera) fáceis cle manusear.
Isto é, até os mestres declamavam, nesse momento, com a fala do papiro.
l P/fmftls der/zingere, BriefelPlínio, o Joveml. Beilim: Hehllut Kasten, 1982. IX:36
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42 STEVEN ROGER FtSCHER HISTORIA DALEfTURA 43
© W nuas exceções na Antiguiclacle -- eram aplicadas em pedra. A maior parte cla leitunt
coticliana ocorria, cera:urgente, por meio cle tabuletas cle cera Quase todas as cartas
e'tiiüHlidãdes cotiàiiitnas eiiíin registraclas ein superfícies fáceis cle apagar -- com
bordas ein relevo e capãi tltii:ãÉ protegendo o conteúdo e lidas em çi;z a ta Até
obrti êiii formato cle tabuleta de cem Mas o sooe-
rãno em matéria cle supêffícies foi o papir(i, importítclo do Evito.
Os gregos talvez Ja uvessein usam o o papão egípcio en] Cnossos, Micenas e
outros centros antigos clo Egeu, durante o segundo milênio a.C. Depois o hábito
esvaiu-se. Apen;ts por volta clo século Vll a.C., numerosos tnercadores e mercená-
rios gregos, que estavam tlansformanclo Náucratis, no Evito, em uin próspero cen-
tro comercial grego, reclescobriiam o papiro em seu uso diário. Mas somente após
a obra .4?záóasís, clo historiador e general grego Xenofonte (c. 431-355 a.C.), o piipi-
ro tbi citado por uin historiador grego. Até meneios clo século IV a.C., os gregos, na
pi'óplia Hélade, até onde sabemos, "eram clesproviclos cle um material para escrita
que fosse comum, barato e acessível a tactos".S Os gregos antigos escreviam em
qualquer' material que estivesse disponível: hagmentos cle cerâmica, t:tbuletas cle
cera, peles cle todo tipo, até placas cle ouro e prata, além cle chapas cle chumbo. (O
chumbo ela, na verdade, piesclito para feitiços.) Como esses materiais não contri-
l)uíanl para uma leitul-a f2'tal e concisa, poucos trabalhos mais extensos foram escri-
tos. Contava-se sobretudo com a memória llumana, como sempre.
Quando o papiro se tornou um material cle escrita mais conhecido, ainda
que extremamente caro, seu comércio teve súl)ito crescitnenlQ, o que promoveu
a leitura e a escrita no iitoial mediterrâneo. O Evito, pg! copseq!!Êgçil: passou a
proãlti2ii: êãõi:itiêí'ãtiiinticlacles cle papiro obra os gregos e, mttis tarde, para os
ihercaclos roinanus. A acmitnd:í manteve constante atividacle ao longo clo Nulo,
sustentando inilllares cle pess02LÕ. \...uniu iç UiLZIUU, u cu
naclus ein rólus uc pitpiius sc ctesenvolveu em Roitiã, ãÕm gr:i;filia'húlnero de
publicaiiõi:ê:'iljiiê:'Õor sua vez, cinpregavam ceiiiê;i:iiãé ê;Eril)as e ilustradores.
Cg!!11$bl poucos tinliiii
não giuantissein alguiüiii"çêiiil:i;:'iõEíos oli exemplares iiiain piua os senllores
abitstaclõÉI O galão princij5ãTTrii o papiro propriamente clitõ;êãil:ítiiii"3ã:'ttivETs6s
intennéê a iinpoit:ição do Egito exigia uma porcentagein.Entretanto, umii'têi sitia õ jiãj5iro se ti:ãnifoiiiitra eiií iiiéitããõii;í'8ê"êltiTÍRt
importância, os r-
raneo e a
Figunt 2 F'riso cnl sarcóRigo esculpido pouco depois clc 270 d.C., rcprcscntanclo una filósofo,
talvez Plotino, lendo una ro]o c]c papiro, cc]ucado cnl A]exan(iria c. 205-70 (1.C., Museu
clo Vaticano, ltonla.
Claro que a grande maioria elos povos cla Grécia e cle Romã viveu e morreu
fazendo pouco ou nenhum
que, com freqtlência. einplçgavam a leitura e a escrita preíEliãin usar outros para a
tarefa; sem incentivo p:ua agir cle outro moela, é e
tii nos da ]listórii'jiêÉil
e romana, a intimidade diária com a leitura e a escrita, sem clúvicla, se aproximava
cla univeisalidacle ergue essa elite governante, que buscava apenas "os mais nobres
elos objetivos" em suas leituras, colho nos ensinou o histori;tclor gl'ego Diâcloros
Século (após 21 a.C.). Mas a "leitor:\ e a escrita clifuncliclas" existiam apenas cle
segunda filão e entre olha minoria muito restrita ou seja, os escravos alEtbetizaclos
que liatn pífia seus senhores e senhorias e os patrícios seini-alfabetizaclos.
Três tnilênios após a elaboração completa cla escrita na Mesopotâmia, a
leitura passou a contei' com uin:t cliversiclacle cle materiais. Os Manuscritos clo Mar
Morto revelztm que a maioria cla escrita ein pal'tes isoladas clo Oriente Médio se
clava em couros, embora ouro, prata, cobre e bronze também fossem empregados
eni clocuinentos especiais. As inscrições em monumentos -- tão famosas hoje, mas
e
3 1)AIN. A. L'écriturc gtcccluc du VTTI siõclc avant notrc êrc à la fin dc la cívilisiition byzítntinc.
In: Z'cfcdftire' ef /a p ycbo/(4qnú' de.çpetip/es. Pauis, 1963. p.167-80
4 \.nGPNN. \\. V.. ThcAlphabetEjject: Tbc Impclcl(d' the Pbt)nelicAlphabe on thc l)et;etoptllen (!f
\We.çfarrz C7uf/izzlfíozz. Nova York, t9S6.
2 HAliRTS, W. V. ,4ncfenr Z{/e'rz/cy. Cambriclgc, MA, c Londres, 1989.
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44 Ay STEVEN ROGER FfSCHER
}x As folhas cle papiro el'am unidas pzua fol-luar um rolo, o qual precisava sei
clesemolaclo para ser lido. Por esse motivo, a publicação cle obras extensas era un)
tanto "clesajeit;tela", pelo menos para os nossos pac]rões. Na Antiguic]ac]e, a 1712zdcz,
cle Homero, por exemplo, abrangia 24 rolos sepaiitclos, pois a obra contgiií 24
livros inclivicltiais; apenas muito tempo clé e; de
páginas inc[ivic[uais, esses livros foratn reunic]os ein uiã, iênc]o reinterpretados
como "capítulos" inclivicluais. Tão estranha quanto isso êi=';Í'asiiãlização cle um
rolo cle papiro, e caclít quadro seqtlencial era visto sepaiacliunente, cle macio seine-
lllante ao que f'fizemos hoje quando "rolainos" as páginas na tela clo computador.
Etn virtude clo fol'mato clo livro antigo, o leitor entendia a leitul'a como algo
seqtlencial pol'natureza.
Isso se ajustava cle inoclo extraordinário à leitura oral, que t2unbéin era, por
natureza, seqtienciztl. O texto contíguo (sem sepiuação entre palavras, sem pon-
tuação ou distinção entre maiúiêülits e inihúiiitiias) segue, ein gel'al, o fiiiiõ natu:'
ral ci:í'õitiiõãã. O ato físitiã da leitura em voz alta clesinelBbra o texto em suas
características básicits, conceclenclo significado para a língua, enquanto não há um
significztclo evidente para os olhos. Embora a pontuaçÊJQ tivesse sido ci-iacla cedo' , ::''':
(por AristóEines cle Bizâncio, cerca cle 200 a.C.), ela em usada sobretudo em casos
cle ainbigtliclacle, a flm cle distinguir a pronu!!ç!!!.g.g:SntçlnaçãQ çlç$çjílclas na apre-
sentação pública clo texto. A pontuação universal e paclronizacla, usada em um
texto inteiro cle forma consistefiãel passou a ser estilística quasgZ.mil anos clepóis.
após 1l introdução cla iinpressao ãi'ÊiiiÕi;i'Õaiii;ii;ii A pontuação, que atualmen-
[e expressa significado eln vez ae iõiiij"iõiiiÕíi-ge it]go definitivo nos últimos tre-
zentos anos.
Ein uma forma pl'imitava cle sep;nação cle textos, os escribas escreviam per
co/íz e/ col/znzíz/a ("por orações e frases"). São Jerõnimo (c. 347-420 cl.C.) foi o
pJiineiro a descrever esse inétoclo cle segmentação cle texto, identificando-o em
exeinplatcs antigos cle Deinóstenes e Cícero, obseivanclo que ele "transmite um
scnticlo mais óbvio aos leitores".S Com isso, o texto é divicliclo ein linha inclivicluais
cle significado coerente, pala o reconhecimento visual itlais f'fácil. Tal método indi-
cava ao leitor quando elevar ou abaixar a voz, a fim cle atribuir sentido por meio cla
entonação adequada. Como vantagem adicional, ele permitia a recuperação cle
claclos mais facilmente na hora cle pesquis:u' uln texto, algo que era prejudicado
pela escrita, com fleqtlência, muito conclensacla cla Antiguiclacle.
Os rolos cle papiro eram armazenados cle duas maneiras: em caixas reclon
clãs inclivicluaiÉ :'êauzl fulo exibia uití'ii5iiilõ'iêÕãi:;iillõ'(õ='Egípcios empregavam
HISTORIA DALEfTURA 45
rótulos de zugila; os ]olnanos preferiam rótulos cle papiro, os quais mais tarde
seli:un confeccionados em pergaininllo), e as caixas septii=ãEí:iiEõiitii;íi;iiiíliiiiÕi:ês
ou assuntos diferentes ou êiü biãtéléiias :ii5êiras, com etiquetas cle icléntificação
no final cle cHeIa rolo. Quando o pergaminho se popularizou, em aproxiniadamen-
[e 4õõ c].C.] com êóc]ices ou ]ivros encac]ernac]os substitüíhZiã'õi';aios de papiro,
esséi liça
cleixanclo-se a lombada dos livros à inoitra, coiro fazelnõli ilol&
Jlnii vêZtiue a apiencuziiÉêiiíd:i leitura é definitiva -- não se pode clesaprenclê-
la --, durante toda a Antiguiclacle, os governantes tirânicos que não conseguiam
evitou que se aprendesse a escrever e ler atacavam aquilo que opositores ou
supostos inimigos estavam lendo: os próprios livros. Desde os dias mais remotos
clzt leitura na Europa, assim colho na Mesopotâmia e no Egito, as obras literárias
críticas ou subversivas, mas também as introspectivas ou meramente filosóficas
tlviVavanl as cllamas clo ineclo. Em 411 a.C., os atenienses queimariun as obras clo
então já falecido filósofo e matemático grego Pitágoras (c. 580-c. 500 a.C.). O
in)peraclor Augusto proibiu as obras clo político e poeta Galo (c. 69-26 a.C.) e as
clo poeta Ovíclio (43 a.C.-c. 15 cl.C.): o primeiro, funclaclol cla elegia cle amor
romana, suicidou-se para não [er cle deixar Roilla; o segunc]o, poeta romano mais
célebl-e depois cla morte cle Hoiácio, j:finais recebeu perdão clc seu exílio en] Tonli
(anual Constante, na Rotnênia). Furioso pelo fato cle a faina cle tais iiutores ser
supclior à sua, o iinperaclor Calígula (12-41 cl.C.; imperaclol' cle 37-41) decretou a
queima cle todas as cópias clãs ol)ras cle Hoineio (a /7í2zda e a Odísséiíz foram os
livros mais copiados clo Ocidente), bem como cle todas as cópias clãs obl'as dos
dois mitos literários jú falecidos de sua época o poeta romano Virgílio (70-
19 a.C.) e Tito Lívio (59 a.C.-12 cl.C.), o historiacloi cle Romã. (Desnecessário dizer
que o decreto foi ignorado.) O iinperaclor Diocleciano (245-313 cl.C.) ordenou 21
incineritção de todos os livros cristãos ein 303, tal era seu temor pela :uneaça à sua
supleinacia.
Como a religião local piececleu a :!q1lis ção cla cly)acidacle de leitura, e esta
permaneceu, desse modo, alheia à celebração elos ofícios religiosos, a leitura não
fazia parte tias diversas formas clãs liturgias grega e latina, as quais se inilntinh2un
exclusivamente orais. As clivinclacles nunca são ãiiiEiãi ou representaclits como
leitores. Como nãõ'líavia "escrituras sítgraclas" gregas ou roldanas, então, cla mes-
lnil fol-ma, não havia mito ou representações cle Zeus ou Júpiter diEanclo textos
sagrados, colho os encontrados na Jucléia naquela época. (Contudo, os etruscos
eill sua are representaram vários cle seus deuses como escribas ou leitor-es, depoiscle tereill emprestado a escrita tios gregos.y
[
S \lN\\XKFS, tÃ. B. Patlsc cwld Efbc!: An it! rodKct o l to the History (}fPuncttLcltion {n tbe Wcst.
Berjçclcy c Los Angclcs, 1993; WTNGO, E. O. la/ /z Pz/rzc/tlói/fole fn /óe C7 l.s.çfca/ ''lge. Janua
Linguzu'unl, Series ])racticil. Thc Haguc, 1972. v.133. 6 MESSERSCHNITI), T, F'. ,4 rcbíz//i2r rc/zügfonçzufs.çe/zscbó!/}. Bcrlitll, 193 1
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46 STEVEN REGER FISCHER HISTORIA DA LEITURA 47
Ainda assim, os livros estavam entre as posses mais estimadas cle gregos e
romanos instruídos, sendo obletos cle unia paixão outrora declicacla apenas à fltmí-
lia, ao cônjuge ou aos amantes.
Pal-a muitos, os livros eram ainda mais íntimos e cstiinaclos.
freqtlente cle fazer inscrições e exibir leis públicas, cunllagein cle moedas, inscrição
em vasos com figuras pintadas cle preto e outras inovações afins." Embora tenha
sido alegado que, por volta cle 500 a.C., a inaioriit dos atenienses, por exemplo,
conseguia ler as leis publicadas em toda parte cla ciclacle,P é pouco provável que g
isso seja verclttcle: a socieclacle grega arcaica 27ão era letrada. Por certo, as leis que '.B
rcgíiuu o ostracismo itteniense -- ou seja, a punição por exílio temporário, resultan- Ê
[e cla eleição realizada com (5stracos ou fragmentos c]e cerâmica nos quais se P.
inscrevia o nome do cidadão zl ser banido -- sugerem que cerca cle 15% cla popa- N
laçao inascultna adulta cle Arenas, pêlo menos ein cerca cle 480 a.C. enl clittnte. =8
laaviiun alcançado níveis cle semi-alf1lbetização ou
ça(to, pois muitos deles tinham nítida aptidão para escrevem sem ajuda cle nin- rQ
Éuém. Levando-se em conta esse fato, talvez aproximildilmente 5i%:'8ii um pouco . 'S
mais, cle toda a popa s, :S
fossem lê es '!g
fosse capaz çle "ler" ç1l! divelsõi iiíiiêiê cle competência. '
Foi nessa época, também ein razão cla escrita e cla leitura, que a épica mítica
grega se clivicliu na consciência pública entre a nanativa histórica, cle um lado, e a
obra cle "ficção" (conceito totalmente novo), cle outro.'"Já por volta de 700 a.C., o
poeta [lesíoclo tentava organizar os mitos trac]icionais enl a]gutn tipo cle ordem
ci-onológica racionztl, que ajustasse um novo reconlaeciinento cle tempo e espaço,
assim como cle seu papel nil ordem clãs percepções lluinanas. No século V a.C., a
leitura deixavzt de ser monopólio cle umit oligarquia que cICIa se aproveitava para
validar seu poder: rapiclzunente pass2wa a ser uma f'enamenta "popular" cle acesso
a informações. O historiador e político Tucíclicles (c. 460-395 a.C.) chegava a con-
fiar mz\is em documentos escritos que nas tradições orais para compilar uma cro-
nologia e avaliar eventos passados, estabelecendo nesse processo a disciplina cla
llistoriografia.
EI'a o sinal de uma inuclança cle paradigma no reconhecimento, pela huma-
nidade, clo poder inato cla leitura. Percebia-se, nesse illomento, que a escrita per-
mitia a compleillentação e a retenção cle textos em um grau que a oraliclacle jamais
conseguiria alcançou. Por tneio cla leitura, unia pessoa poclelia visualmente "se
tornar" um texto e, com mais leitura, até olha "biblioteca ambulante" cle cliveisas
obras. Até o final do século V a.C., os poetas permanecentm, cle modo exclusivo
discípulos clãs musas. Mas, depois, os g/'nnznzzz/i&(is ou "dramáticos" coinanclai;un
Os gregos
Os gl-egg:l lêem clescle cerca cle 2000 a.C., quando a icléia cle escrita silábica
cllegava ao Eg o
consonântico foi einpresç!!çjg elos clescenclentes cananeus, os fenícios, i'i5êiiiiiíiu
;los escribas gregos clc Cllipi'e a elabontção iia'tii; :iÍHi;êia'EÕi;ij;feto com con-
soante e vogal (como escreveiüos hoje).' No início, o novo sistema cle escrii;"ila
Europa apenas substituiu a escrita silábica mais difícil e alnmgtii pai:i reg sarar
contas, exuatos ç çorrêsponclências curtas, sol)I'etuclo em pêlo:''Mãilogõ'iê'F;is
sou a escrever em vasos, metais, fnignlentos cle cerâmicas e outros objetos, com os
sextos iõihancl e-
gos encontra-Éê le
L .
dura". É o.
[anlbém foram escl'itos nessa época, provave]meãtê ein pe]es, em])ora ã; fmgmen-
tos pieselvaclos mais antigas, em i5ãpiio, êlãiêltí cRo século 111 ã.C.
Enl grego, arzagzg/z(iséó significava "Eu leio", assim colho "Eu reconheço'
;Eu leio en] voz alta" e, en] grego jónico, "Eu convenço, eu hüo (pala que alguém
ktça algo)". Por conseguinte, a pr(5pria definição cle leitura em grego denotava,
nesse peiíoclo, a comunicação flüacla, a oratória e a retórica persuasiva. No século
Vll a.C., il escrita no Ocidente tornou um fumo decisivo quando a legislação grega
começou a surgir ein inscrições em monumentos, clotanclo a escrita cle uin novo
s/a/t/s social. Sobrepondo-sc à leituilt, as leis escritas tom:uam-se visíveis na arquive
Lura pública p:ua que todos os letrac]os ]essem enl voz a]ta e comparti]hassem o que
liiui} cona outras pessoas. Contudo, assim como nos monumentos com inscrições cla
Mesopotânliit e clo Egito, a principal flnaliclí\cle cla inscrição pública er=1 tornar-se
visível, não necessariamente ser lida. A simples pi-esença indicava autoridade.
Até 600 zt.C., pouquíssimos gregos SÉ\biam ler. A capaciclacle cle ler e escre-
vem' propagou-se no século VI a.C., quando a esci'ita passou a ser usada cle forma
mais generalizada na vicia pública e semipública: com o hábito cada vez mais
8 FIAltliTS. ,4 7zcze/zr Zf/e/z/cp.
9 STt JBBS, M. Ir/7zgziózge r/rzd Zfrerz/cp.. 7be Socio/zlzgtll.çrícç (!/'/?eó/ó/ízz.q- ó/ z / IUr/rzrz'q. Lonclrcs,
10 TFiONIAS, R. gire'/zi(Zy r///r/ Orar/l(v ízz Hlzcle?z/ Greece. Cama)rídgc, 1992; c Ora/ Zízlr/frio/z a}/c/
Wrz//elz/?ecorz/ ízz C7rls.çlcrz/ ,4/óe lz.ç. Canil)riclgc, 19S9
ll liOMTLLY, J. clc. J7h/ocre e/ rziisoiz cbez 7htl(w /ic/e. 2. cd. Pai'is, 1967
1980H
7 FTSCHER, S. R. ,4 /íÊç/OCy (i/ IKrí/ín.q. Londrcs, 2001; W001)ARI), R. 1). Gree& wrífírzglr017z
Kttossos to }[o[[ et': A Livtgttislic !ntetpretc]tio]! (g the Origiyi (!fthe Gree] A]Phc be! allci tbe
Gofzfí/z1/ (7 r#'.4ncfeni/ GreeÊ Zz/e'nziqy. Oxforc1, 1997.
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48 STEVEN REGER FfSCHER HISTORIA DA LEITURA 49
o iclionla grego, sabendo como ler e interpretar um texto escrito. Foi durante a vicia
clo filósofo Platão (c. 427-c. 347 a.C.) -- discípulo cle Sócrates (c. 470-399 a.C.) e
mestre cle Aristóteles (384-322 a.C.) -- que o iclioina grego avançou a ponto de
tornar possível al)orclal' conceitos abstratos acleqtiãããiüêiiie pela priinêiiã vê2lz
Platão, ciente clo (lue acontecia na socieclacle ateniense, documentou essãi trans-
foi-mações revolucionárias em seu célebre diálogo Feclro.
Essa era a Elscinante história clo jovem Ferro, no final clo século V :t.C., que
demonstrava a Sócrates a nova laabiliclacle cle como alguém "iaiÕi;i;iTã" uma obra
cle literatura escrita. Depois cie tei; ineinorizaclo uma obra escrita poi:i leias soliib
os deveres cle uin amante (à épõêiil o tema favorito), Feclro desejava impressionar
Sócrates com sua declamação. Mas Sócrates, erroneamente acreclitaãEiaEjiiaFêilío
llavia esconclicto o texto escrito sob suas vestes, solicitou ao Jovem que lesse o
o lê
mim quando o propno usias esta aqui presentes".i3 A onu ae usl;ts nao tratava
;tpeiiãi do amor'. iüãi tiunbéin çl;L !!111g çl guinte
explanação:
nhecer essa I'evolução na leitura, Sócrates, insistindo na tradição laerdada, repu-
diou por completo a escrita como unl todo.
A atitude cle Sócrates não era uma acusação claleitura, nem uma última
defesa em favor da socieclacle oral, como algtms claegaram a afirmar. Foi sobretudo
uma crítica à inaclequztção cla escrita grega cla época como reprõiliitoia do discurso
grego, êm particular cla entonitção característica cla oratória grega. Sócrates estava
i;i dfiüíéÊõêii fêãlliiêniê cla+ain ih:iiÉêin a
muita amoigiiiilaae, o que prejucucava akõinunicação.
'Dêitiiaêõiiiêiji;illatiiicurso escrito, os leitores precisavatn interpretar, quer
para re elo iiutor quer para compreender algo
l o
lcade:esta
ia insisti:i, 'iãiãvãcla na alma clo ouvin-
s pessoas esc l/ízuam a
negar a multiclimensionalidãille
potencial tlãlõiíiiii:ií'tjüõ;'õiíí'tSi;eVõ; tflifiHõlnl:u ia a sucieclacle õãdêiíta
iíi:iõ:'iíi:aíisiiia ê biógrafo cle Sócrates, apoiava a opinião cle seu mestre.
Platão rejeitou a filosofia escrita, chegando a defender a legislação civil para con-
trolei a poesia oral. Mas, como muitas gerações ressaltaram, Platão usou a escl-ita
para lutar por sua causa. Isso levou a que muitos ztcieclitassem que Platão estava
apenas Êtzenclo uin apelo llennenêutico ou interpretativo clo uso "aclequaclo" cla
escrit;t.]s As suas diversas obras comprovam um uso consciente cla escrita colho
meio pata afiar e mocleliu o própl'io pensamento, fato inédito no Ocidente: algo
que rranscencle, por completo, a capaciclacle clo desempenho oral. Se Sócrates
tivesse vivido apenas no mundo oral, seu discípulo Platão seria, ein grande piute,
um leitor' e um escritor, apes;tr cla máscara pública.
Ainda assim, Platão teria l)aniclo o poeta cle sua república ideal. Isso refletiu
uma descrença geral qu;unto à ficção no Ocidente, que perdura até hoje. A ficção
é algo que deve ser temido, pois representa a mente clesimpeclicla, capaz cle qual-
quer coisa. O conhecimento é, sem clúvicla, algo a ser clirecionaclo para o bem
comum. Mas a ficção, sendo uma energia sem clireção certa, sempre levantou
suspeita e provocou a censura.
Na l-ealiclacle, havia pouquíssimos textos escritos na Arenas cle Sócrates e
Platão. O potencial total cla escrita colho ferramenta social ainda estava por se
concretizar. IJm coillércio primitivo cle livros floresceu ein Atenas, no século V a.C.
Mas a leitura privada cle livros (rolos cle papiro) parece ter-se toinaclo l-elativ:unen-
[e "comum" apenas no século IV a.C., em clo discípulo cle Platão, Aristóteles,
O uso da escrita, Fedro, tem um inconveniente que se assemelha à pintura.
Taml)éln as figuras pintadas têm a atitucte cle pessoas vivas, mas se alguém as inter-
rogar conservar-se-ão gravemente caladas. O mesmo sucede com os discursos. Fa-
lam clãs cousas como se as conhecessem, mas quando alguém quer informar-se
sol)re qualquer ponto clo assunto exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma
coisa. Uma vez escrito, um cliscuiso sai a vagar por toda parte, não só entre os
conhecedores mas também entre os que não o entendem, e nunca se pode dizer
para quem serve e para quem não serve. Quando é clesprezacto ou injustamente
censurado, necessita clo auxílio do pai, pois não é capaz cle clefencler-se nem de se
proteger por si.''
Sócrates acreditava que os livros -- os objetos ein si, não seu conteúdo --
eram, na verclacle, um obstáculo à aprenclizagein. Segundo ele, haviÉt apenas unia
interpretação "apropriada" cle um texto, uma interpretação compartilhada por pes
sons treinadas no âmbito intelectual e comunicada apenas cle inoclo oral. Perde-se
muito na escrita. SÓ a voz transmite "a interpretação colreta". Sócrates exigia clo
[exto o caráter unicliincnsional da oralidztcle que, n;ts duas gerações seguintes, viria
il ser transformado pelo leitor interpretativo enl tnulticlimensioniü. Em vez cle reco-
L 2 'E\NNF:LOCÀÇ., F.. P.. 'lheMttse learns to Whte= eflectiolts ott Oralityc!?td Literal(y.fto:n AntiquiW
fo /be Pre.vem/. Ncw Flavcn,(:T, 19S6.
13 1'LATÃO. Fcdro. Tn: HAMTLTON, tt.; CATRNS, H.(lÍcls.). Zbe Cfi//acre'd Dlíi/(4qtíe.ç. I'rinccton,
14 Platão. /)lóí&49o.ç. Ménon, Bancluete, Ferro. Rio dc Janeiro, Ecliouro, s.d. Tracl. Jorgc I'aleikat.
19rll9 15 MAltTTN, rí.:J. 7he f?i'.s/OCP ói zó/ Fo er (ZfWnfít4g. Trens. Lyclia G. Cochranc. Cllicago c Lon
drcs, 1994.
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50 STEVEN ROGER FfSCHER HISTORIA DALEITURA 51
nascido 15 anos após a morte clc Sócnites. Ao contrário cle Sócrates e sua geração,
Aristóteles tornou-se um leitor contumaz, chegitnclo, até mesmo, a reunir unia
biblioteca particuklr da qual usufrui:t para sua erudição.
A passagem clo século V ao IV a.C. nliucou a transição cla trac]ição orai para
a escrita (mas não cla É(iêieclacle oral para a letraci
recente). Como discípulos de Sócratcs, Platão a
preservar os ensiniunentos orais cle seu meiiiã : ãté seu l:épúêiiõ'ã"êiõiii;i":'Zllt
!mesma ronda aue a nÕça gemçã
c. 377 a.C.), usou a esciit:i l
jlnl-is cogSIS! -
ção criiltivíl dos textos escritos, expancli o.
O n épico, anatomili -
plo, finalmente éiiii
servaçoes aue são clein;tsiaclaiiiênte Õ15:ãiii;i;a;iEiê;tlêiii;ii:ii iÜinhas propnas as
quais foriun ol)tidas pelos métodos que ele
sentido cla leitura: compreender, õ
base n&tekiãêiEiiiõ'
NÕ séêdõ'TV':i.c., leitura e escrita começav:un :t ser vistas por um prismit
[otalinente novo no Ocic]cnte. O clramztturgo ateniense Menanclro (c. 342-c. 292
a.C.) chegou a afirmou: "Aqueles que sztbem ler conseguem enxergar duas vezes
mais"." Nessa época, a palavrít escrita era, muitas vezes, pelcebicla não apenas cle
modo equivalente, mas como superior à palavra lltlada. No início clo século IV a.C.,
;havia uin cleterminaclo número cle homens nas cidades gregas que gastavam bas-
[ante tempo com textos escritos, e muitas vidas fbr im influenciadas pelas ativicla
des realizadas na escrita".IS
A escrit:t na Hélacle surgiu, sobretudo, em viltucle clo papito, uma vez que
os PEolomeu, clinastiit maceclânia que regeu o Egito clescle a mol-te cle Alexanclre, o
Giancle (323 a.C.) aré a morte cle Cleópatra (30 a.C.), tinham tonlaclo posse c]o
Egito e incentivado o comércio com as ciclacles-Estado gregas. Antes clo papiro,
apenas em uin
exemplar feito cle pele. As obras cle Aristóteles, por exemplo, fÓrUm armitzenaclas
se nao
houvessem sido compradas por um astuto bibliófilo que as resgatou pala a poste
riclade. Somente após o século IV a.C., depois que a importação cle papiro em
grande escala foi autorizada pe]os Pto]onleus em A]exanc]ria, a ]iteraturit prospe-
rou na Grécia, pernlitinclo a confecção cle diversas cópias cle uma obra, coleções
particulares, bibliotecas públicas -- cle fato, uma cultura cla pztlavnt escrita. O
incipiente comércio cle livros, iniciado en] Ateias, no século V a.C., apresentou um
súbito crescimento no século 111 zt.C., depois cle o pal»io se tornar anais disponível.
Em outras palavi-as, a toldada do Egito por Alexandre, o Grztncle, e a imposição de
i.ini:íitchninistração grega nlaceclânia não só abriram õ s
para o coniéJ'cio europeu mas, graças ao papiro, resultariun na ascenliiiÕ"Eii'j;il:irra
escrita ao poder, hein êõiüó hu nasciuicnto cla ctilttira eicrlta no uciclente, com
todas as repercussoes concomitantes.iv
Na fih;iíUo secuio l v a.u., a transmissão oral clo conlleciinento social deci-
cliclamente havia-se tornado a transmissão escrita. Acima cle tudo, a escrita tinlla
cíeixaao cle a -
nllêciinento. Em espeêiiil: êitii=êDia-sé, ii u
algum ensiniullehto. A esci;ita alcançavíi unia grande clifiilião e ãisegurava a auto-
riclacle. A leitura nao era mais tiin simples recurso cle ineinóiia, idas tiin canal
autânoilio piua a transmissão cle informação, interpretação a êria<jãõ. õi ÊiêÊõs
não usavam a escrita com íi s,
iiõiaii é outros povos até o final clo século IV a.C. Naquela época (e mail iãrcle
com os romanos) tts declãi: na
maioria das qtiõgiõeg'jiiõEiõiiiiiiiii
Por conseqtlência,õígiegos helenísticos, sobretudo os que governavam o
Egito, elitborartun usos burocl'éticos cle leitura e escrita que exceclenim de modo
significativo o que havia ocorrido nos séculos anteriores.:" A palavi-a escrita manti-
nha inteiros unidos estados. Mais impor'tente ainda, o ensino fundamental capaci-
tiva, nesse montento, a socieclacle, pois pelo menos algumas ciclacles-estado se
beneficiavztm de mecenas que financiavam a participação cle todos os meninos
não-escravos (e, em alguns locitis, meninas não-escravas) em escolas públicas cujo
foco estava na leitura e na escrita gregas.
O ensino obrigatório para meninos e meninas figurava como uma pane da
repúl)laca ideal cle Platão.:' Entretanto, o filósofo Teofiasto (c. 372-c. 287 it.C.) se
opunlla, afirnlztnclo que as mulheres deviam aprender apenas as responsabilidades
domésticas, já que conllecimentos mais avançados "transfoi-maia as mulheres ein
tagarelas briguentas e indolentes". Embont cortesãs gregas e muitas escravits tives-
sem sido leu-nelas,zz a típica mullael' patrícia, que escutava a leitura em voz alta de
suas escravas, não o era. O arquétipo cle escola helenística sempre ensinava um
número muito maior de meninos que cle meninas.
r .
granctes obras liteláriits llaviam sicto conseivaclas, caiu flecitiência
colmo rolos eln uma caverna e, por certo, estariam percliclas í)ara sempre
16 GALEN, /)c z/sll prirliilizz, 1 :8, citado cnl [IAltJilS. ,4 //cfetz/ Zf/c/r/cp.
17 MENANI)FIR, Será/cruz//ae. 657. Tn: AltNOTT, W. G. (Ed.). W?)rkç. C:tml)riclge, MA, c Lonclrcs.
18 HARliTS. ,47zclerz/ ZÍ/elzrqp.
1969
19 MAliTTN, 7be Hi.ç/o :p azzd Pn oer (!/ Wn/in.q.
20 HAltRTS, .4ncfe7zZ .[//emz/c .
21 1'LATÃO, .4 /?cptíó/ícrz. Tracl. B. Jowctt. Nova Yoi'k, t960
22 11ARRTS, ,47zclerzz Z//e/z/cy.
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52 STEVEN ROGER F:SCHER HISTORIA DALEfTURA 53
Os alunos iniciavam os estudos aos seres anos c glacluavam-se aos 14.:s O
ensino cle leitura seguia un] método analítico que rendia lento progresso. Enl
primeiro lugar, ensinava-se o alfabeto grego, clo alfa ao âmcga. Depois, cle trás
para a frente. Em seguida, partia-se simultaneamente cle nimbos os extremos: alth-
õil ega, beta-psi, terminando em mi-ni. Com l)ase nisso, praticavam-se sílabas mais
complexas. Depois, ensinavatn-se palavras inteiras, cle uma, tinas e, por fim, cle
crês sílabas. Pastel'dormente, acrescentava-se vocabulário, incluindo palavras raias
(como termos técnicos e inéclicos) escolhidas por critérios cle clificuldacle cle leitura
e pronúncia. Passados alguns anos, os alunos Já liam textos contínuos (pritneiro
nlemoiizaclos), os quais constituíam ítntologias especiais cle passagens famosas
selecion;telas tiunbém cle acordo com o conteúdo moral: em geral Homero, Eurípicles
e alguns outros. A cleclalnação tinha iinpol'tância equivitlente à leitura, pois ler
sempre significou a leitura enl voz alta. A retórica fbrnlal abrangia uil\ estudo
avançado que era clesenvolviclo sobre o alicerce cla leitura. A pedagogia grega
antiga era rígida, sevel-a e repressora. A inspiração verclacleira estava em outros
lugares: ein uni rolo cle papiro einprestaclo pol' um gentil tutor, llm papiro especial
cle um amigo ou unl discurso comovente cle uin respeitado ancião.
Tutores particuliues ensinavam os filhos cle ricos e poderosos. Por meio cla
tutela cle Aristóteles, por exemplo, Alexancli-e, o Grande, tomou-se "um gl'ande
:icloraclor cle todos os tipos cle ensino e leitura", segundo seu biógrafo, o filósofo
grego Plutarco (c. 46-c. 120 cl.C.).:' P;tra onde quer que viajasse, Alexanclre calle-
gava consigo os rolos cla 17í2zda e cla Od/ss(í/a cle Homem'o e, quzlnclo morreu, na
Babilõnia eni 323 a.C., ele estava segurando um cle seus rolos cla /7i2zdcz (assim
como, em gerações posteriores, pessoas expirariam com uma cópia clip Bíblia ou
clo Alcoião presa nas mãos). Esses relatos elos ricos e poderosos são comprova-
ções cla crescente veneração à palavra escrita, que passou a ser pessoal e profun
da. As obras cle Homero, acima cle tudo, tornaram-se "unl can)po cle treinamento
onde unia geração cle gregos formava o c:uáter cla próxima, até o final cla Antigui-
CIHCIC".:s (De moela semelhante, a Eneídóz de Vilgílio, em sua época, adquiriu valor
para os romanos.) E difícil par:t nós, hoje, calcular o grau cle veneração que se
concedia, na Antiguiclacle, sobietuclo aos escritos cle [lomero.
As leituras públicas mais antigas cle que se tem notícia ocorreram entre os
gregos. JÚ no século V a.C., Herócloto (c. 485-c. 425 a.C.), o "Pai cla História", em
vez cle viajar cle ciclacle ein ciclacle píua ler suas obras, como era costume na época,
apresentava-as a todos os homens gregos reunidos nos festivais olímpicos. E ne
cessário tei em mente que as primeiras leituras públicas, na G]écia e en] Romã,
ainda mantinllain íntima ligação entre a literatura oral e a escrita, pois os autores
apresentavtuil suas própl'i:ts obras pane un l pequena parcela clít socieclacle, e eram
conhecidos pcssozthnente. Cada leitor-cleclamaclor registrava cletenninacla inter-
pretação -- por meio cle entonação, ritmo, emoção, gestual e outros componentes
- com uma chancela cle autoridade, piivanclo ao mesmo tempo o texto escrito cle
sua riqueza cle significados possíveis.
O entretenimento, a iinagein e o som cle um texto sempre clominarain as
leituras públicas. A essência clo texto não era imediata, e o público, em geral, não
eia crítico enl relação a naclít excito ao pr(5prio cleclainaclor; voz, paixão, apitrên-
cia, ctu'isola. Era o mundo cla oratória, clo desempenho oral, com critérios comple-
tamente diferentes elos da "leitura" como a conhecemos hoje. Era o leitor-autor
quem incorporava o texto, quem pensava pe/o público passivo.
Os nléclicos cla Antiguiclacle até prescreviam a leitura aos seus pacientes
como um exercício mental. Isso significava, é cltuo, na maioria clips vezes, "escutar
21 leitura feita por alguém". Muitos gl'egos (e mais tarde romanos) mantinham por
perto uin escravo, mullaeres ou homens libertos treinados, cuja única responsabi-
liclacle eni a cle ler para eles enl voz alta. Essas pessoas recebiam instruções espe-
cíficas sobre escanção, pronúncia e declamação corretas cle prosa e poesia (duas
csfei-as sepitradas), pois tais elementos eram tão importantes quanto o próprio
conteúdo.
No século TTT a.C., a escrita estava pl'esente em todas as ttuelbs concebíveis
na socieclacle cle Alexanclria (extremamente burocrática e, assim, bem organizada e
orclenacla) clominacla pelos gregos: venclzt cle cerveja, manutenção cle casas de
banllos, autorizitção cle uin serviço cle pintura, con\ércio cle lentilhas touaclds.26 Ein
um intervalo cle 33 ellas, por exemplo, o ministro elas finanças Apolânio recebeu
434 rolos cle papiros escritos para serem ex2uninaclos. Não nos causaria surpresa,
então, o fltto de tel' sido exatamente nessa ciclacle onde o comércio cle pítpiro
fortaleceu, pela primeira vez, a palavl'a escrita que o maior santuário à escrita clo
mundo antigo foi erguido: a Biblioteca cle Alexímclria.27 Ela viria a se tornar tão
Curiosa que, 150 anos depois cle sua clestiuição, Ateneu cle Náucratis ainda escreve-
I'ia, antecipando-se ao conhecimento geral cle seus leitores: "E quanto ao número
cle livros, zl folinação cle bibliotecas e a coleção na Galeria clãs Musas, por que eu
elevo ine pronunci:u, lá que tudo isso está vivo na memória cle todos os homens?".a
A Biblioteca cle Alexanclria começou a ser farmácia no governo clo sucessor
cle Alexanclre, o grego maceclânio Ptoloineu l Sóter (que reinou cle 323 a 285 a.C.),
talvez colmo uin anexo clo museu intmicipal. No início, os tolos cle papiro eram
23 MARltOI. J, [l.-r. J7í.ç/(jrza í/a c(/t/có/ção }za .47zriktlfú/cz(/e'. Paras, 1981. 2v.
241'LIJTAltCO. A vida clc Alcximdrc. In: PllliRIN, B. (Ed.). 7be /huna///e/lide.ç. Canil)liclgc, MA, c
Londrcs, 1970.
25 FIAliltTS. .,'l rzcfe7zz .Zi/e/z/c.p.
26 TI)iclcm
27 1'AliSONS, H. A. 7be' H/clxz/mdnan Zibxz/ly.- G/o :y (!//be .f?ê//e-/zfc l )r/d. Nova York, 1967.
28 A'r.llENAEUS. Dezyono.ç(pb{.ç/ó/{. GULTCl<, C. B. (Ecl.). Cambriclgc, MA, c Lonch'cs, 1969. v.l
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54 STEVEN ROGER F:SCHER HISTORIA DALEfTURA 55
:apenas armazenados em prateleiras colocadas em nicho que seguiam a extensão
cle uma ampla e coberta g2ileria. Presume-se que cada nicho classificasse cletermi-
nacla categoria cle autores, inclicacla por um título inarcaclo com niriclcz. CHeIa
prateleira, por sua vez, erit classificada por subtítulos. O objetivo cla l)ibliotecii,
resultante cla assimilação cla antiguiclacle egípcia pela cultul-a grega, era englobar a
Eotaliclz\cle clo conhecimento lluinztno: representaria a memória daquele nlunclo.
Nlestno a coleção cle livros pertencente a Aristóteles, com o tempo, chegou com
segurança até Alexanclria.
Supõe-se que, na época clo reinado cle Ptolonleu 111 Euergetes (reinado cle
246 a 221 a.C.), ninguém eia citpaz cle ler todo o conteúdo cla biblioteca. Durante
um século e meio, zl coleção expandiu-se, clleganclo a contou' com cerca cle qlli-
nhentos mil rolos cle papiro; outros quarenta mil foram al'lnazenaclos (;i;ítiiií'tTepo-
sito separaiFo, itliêtã ãõ'Ti2inllo Templo de Serápis. Elit al)ligava o maior volume
físico de literatura que a região jamais llavia visto.
Como a Bil)lioteca cle Alexitnclria cresceu tão rapiclzullente? Recebia apoio
real colho uln ativo aportava em
Alexanclria, u]i] clg! maiores portos clo mundo era obrigitclo a entregar os fotos
que estivesseill enl sua posse para que fosseill copiados. Os etnissários grec(;-
egípcios toillavam emprêstaclos rolei cle outras t;i15TíõiEtiãs grei;ii'j;;ii:í'Eõj;ia clo
material. Bibliotecas inteiras eF:uii cuinpi ziiias, outras doadas. iviuitos Êi:êãi;;'ilõ:l-
1 .
Alguns falsários cllegzua o
que apenas séculos mais tarde tiver:ul] falsificação coinprovacla).
Uma desvantagem cle uma coleção tão imensa era a inlpossibiliclacle cle se
encontnu' qualquer coisa, a não ser por unia extraordinária memória, la que ainda
não havia un] sistetna eficiente cle catalogação elos livros. O noite-africano Calímaco
cle Ciiene (c. 305-c. 240 a.C.), professor, escritor, poeta e autor cle epigramas,
finalmente chiou um elos mais antigos sistemas de catalogação lógicos de quc se
tema notícia exaratnente na Biblioteca cle Alexanclria, onclc acabou indo trabalhar.
Defensor clzl escrita clara e concisa, Calíinaco, suborclinaclo ao chefe cla biblioteca.
Apolõnio de Rocles (seu oponente e adversário), assumiu a tarefa etnpreganclo um
conceito inovador: a biblioteca colho um lnoclclo clo mundo inteiro, conforme
concel)leio pelos eruditos gregos cla época.
Concluícl;t a tarefa, apenas o catá]ogo c]a bib]ioteca soinavil ]20 rolos
(Calímaco não viveu até a conclusão cle sua tarefa). A coleção foi cliviclicla em oito
seções, cle acordo com o tema: clr:una, oratória, poesia lírica, legislação, ineclicina,
llistória, filosofia e "diversos" (significativo o fato cle não hztver uma categoria
sepiuacla pzu-a teologia, a minis importante cla lclacle Média). Textos extensos eiiim
copiados en] diversos "livros" mais curtos, proporcionztnclo ao leitor a praticiclacle
cle manusear' rolos cle papiro inclivicluais e menores. A noviclacle eram os livros
listados enl ordem zllfal)ética grega (alfa, beta, gania, eleita, e assim por diante);
embora conlaecicla anteriormente, a lista alfabética jamais llavia sido usada p:ua
catalogar livros enl tamanl)a escala.
Nesse motnento, pela primeira vez no mundo, yn)a biblioteca era mais que
um clepó stema-
tizaclas, uma vez aue o }!gesso oassou :t ser reconhecido com(l!!!!go de importância
equivalente aos claSjg: plgp!!:ullente ditos -- na verclacle, aml)os em conjunto eram
consiciel-naus illgo cle extrenao benefício. Assim, zl Biblioteca cle Alekãiiili:ü iõiããii-
se g])nncipl1l centro clc aprencliiãêiã'Ziã NíêiliiêíT:Ííiê=M(iíiinent:ido nit piu2\'
escl'ita. Todas as bibliõiêêits que a sucecleratn passaram a segtiii: õ inodoro
alexandrino. (Até iloje temos a Biblioteca cle Alexancii:iii tlÕiiiãiiiÕciêlÕ:aincta que
;iiliãptiiclo aos novos tempos-)
'ír8r'Eiif;iT'tÍiie fulgiu um gênero literário inédito, o qual, no (!ecorrer clo
nlilênio, conquistaria o mundo: o romance. Um dos pritneiros romances que soba-e-
viveiain em sua totaliclacle, talvez clataclo clo século ll cl.C., começa itssiln: "Meu
norte é Cariton clc Atroclísias e sou funcionário clo aclvogaclo Atenitgol'as. Vou con
tzu-lhes unia llistória cle amor que aconteceu em Siracusa"... Foi a priilleir;t grande
eia cle histórias cle amor, o tipo cle narrativa que só muito tempo depois ficitria
conhecido como ro//7arzce (palavra derivada clo fntncês arcaico ro//zólnz, que signi-
tlca "uma obra escrita na língua vernácula"). Assim como muitas obras populares cle
lloje, o romance grego antigo era recheado cle aventur:\s e amor. Dois ainzmtes
nitsciclos em l)erço cte ouro (os personagens mitos comuns na época), sofrendo a
sep:nação e o infortúnio, Rias sempre contianclo nos deuses e eill si mesmos, e
preseivanclo suas Juras recíproc;\s cle amor, enfim conseguem se reencontrar e viver
felizes pzua sempre.:9 Z)á/}zls e C7oé de Longos, por exemplo, cla prin\eira metade
clo século 111 cl.C.. emocionou leitores durante séculos com sua nanativa bucólica
sobre Ueiê.iexÊni.31u;!111çg..aUÇ lutiull piua concretizou' o verclacleirã athõí quê'Eên-
[iam uin pelo outro. (Os patrícios !glpltnos t:unbé]n iunaviim ioiiiitnces, sõbretucto
eill grego). Os primeiros roillance! gregos nunca um gênero lidei-brio cle exiiêiSã
pel y4p:} lçlç!!!:;L 111111â !çye. cleltipilclí! !gbretuclo ao entreteni] nento, com un] requinte
cle linguagem indicando uma leitura feminina -
cem tei:':lindo preférehãi'ã épica e ao ctr:ulla: guerras e lendas cle laeróis.) Esses
romances perc[eram popu[aric[ac[e entre os sécu]os V] e V]]] c].C., mas eruc]itos
l)izantinos os recuperaram nos séculos IX ao XI -- e conseguiram influenciar muito
os públicos árabe, espiinhol e, por fim, leitores cla Europa como um todo.
Ao conta'álio clo que alguns llistoriaclores têm afirmado, a leitura não ofere
ceu zl c]enlocracia, a ciência teórica ou a ]ógica forma] aos gregos. isto é, a leitura
persa não inoclificou o modo cle pena:\r elas pessozts. Na iealidacle, o que ela fez foi
29 ANI)t11iSON. G. .'lzzcfe zf c/íon. 7beNoz;e/ fn róe Grego-/?0/7zó/zz W?)r/d. Londics, 1984; HÃGG
T. Zbe No1/e/ f?z H7zrfqz,lf<p. Oxford, 1983.
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r56 STEVEN ROGER FiSCHER HISTORIA DALEITURA 57
incentivar mais pessoas a escrevem sobre o que pensavtun. E forneceu a oportuniclit-
cle piu-a que essas e outras predisposições similares criassem raiz e tlorescessem.3'i
israelitas, centralizada no Templo cle Jeruszüém. O principal objetivo cle Josias,
porém, era expandir seu reinado por toda a Juclá e pelo antigo reino setentrional
Essa conquista exigia a criação /l/ezzí/"za cle unia nzurativa coerente da história
israelita colho uin instl-uinento evidente cla vontade divina.
Se essa explicação estiver cometa, significa que o Pentateuco ou Toro (os
primeiros cinco bvl-os clo Antigo Testamento) e t
crituras hebraicits são, na realicl2tcle, ficção política, escritos muito depois elos even- 'B
tos que p!!!ecem clocuinenta!:Essas h stórias tinha!!! Q !111yito de suprir os temas Ê
presentes e f111111gs cle Josiascom uln passado mítico a fim cle criar uma consciên- 8
cia nacional cle "sel' judeu", com sua própria teologia singular. tii;i:í'êõiiÊãêiiêia B
n iB;iÜÕÜ=iÕI m. BX
ita aramaica foi empa:eÉtacla pala'iiiiii:iiiRir '''ià/
o idioma hebrai to, ou mesmo ni;ii:'iãiillê:'ilü- à{
ra;iiê o períoiió liéienístico (332-63 a.C.), depois cle o i-eino cle Judo ter-se terna- :S
cB Tucléia.
A icléia cte a escrita ser a "Palavra cle Deus" deve ter sido uin f'enâineno mais
t:uclio, uma vez que os registros contábeis e achninistrativos dos gregos e fenícios
erlun quase tudo o que os escribas hebreus antigos jamais haviam compreencliclo
com base na prática primitiva. Parece provável que, pelo menos na maior pal'te cle
sua llistória antiga como uma "nação" incipiente, os judeus não se valiam clzt escrita
cle forma alguma. SÓ por volta do século IX a.C., as primeiras inscrições em monu-
n[entos ein hebraico arcaico começaram a surgir, escritas en] letras fenícias. Depois
disso, os judeus começar:un a usam' a escrita com cada vez mais freqtlência, mas
pala registros contábeis, administração, impostos e raras inscrições funerárias e en]
monumentos: todas as funções cla escrita conllecidas cle seus contemporâneos.
Não obstante, as leis nunca eram escritas, pois a legislação llebi-bica era consuetu-
clinária e aprovada, apenas oralmente, pelos anciões cla ciclacle.
No caso clo hebl'bico, assim como ein todas as outras línguas dít Antiguicla-
cle, "ler" (qózra 1) era uin verbo polivalente, com outros significados colho "chíunar,
evocar, declamar, ploclainar", m2tis uma vez enfatizando o sentido funcliunental da
leitura: "falar en] voz ;alta com base ein um texto escrito". Não llavia uma palavrit
única, como "ler" ein português, que captasse a especificiclacle clo ato porque,
como vimos, essa singulariclacle clcmoraria séculos para se concretizar.
Das prestações cle contas elos escribas às "tabuletas escritas por Deus" não
laouve olha transfonnação abrupta, mas uma transcendência genuína cla imagina-
ção humana. Os mandamentos cle Javé aos hebreus para a construção cla Arca cla
Aliança a Hall cle conservar as Tábuas cla Lei miraculoszunente inscritas estão no
livro cle Deuteronânlio que, :to que tudo indica, foi escrito no final clo século VIT
a.C., quando os judeus estavam criando sua iclentidacle e, ao mesmo tempo, orga-
nizitnclo uma biblioteca completa cle ü-adições orais que continham muitos gêne-
ros cle diversas épocas, enl ge12tl conflitantes.
Os judeus
Seguindo o exemplo elos gregos, os judeus clo Oriente Médio figut-ain entre
os primeiros que prezam as evidentes vantagens cla leitura cultural, talvez já no
século Vll a.C. Ao contrário elos gregos, porém, eles preserviuzun o ato em si colmo
algo sagrado.
Babilânios e assírios tinh2un profundo respeito por textos mágicos. Mas isso
decorreu clãs úteis instruçuçb çunu
sobrenatur2tl e cla explói=
pessoais. Q rê56Eitatãíiiãiíiinplicou a veneração cla palavi=ii esêiii:íêin si óii sej:i,
a santiHlcação cla escrita e dç õua uüueiia iisica. us Junte
essa santificação, conf'erincto à leitura uma cliiiiêiiiãZÍ'iõiãl
A palavra escrita, na realiclacle, tornou-se fundamental pam a iclenticlacle
judaica. O aprenclizaclo (a leitura e interpretação elos textos "s;tgraclos"), depois cla
devoção a Deus, seria o pr(5ximo dever dos judeus enl suis fé. (As mulheres Judias
foram clesaconselllaclas, ou, na verclacle, quase sempre proibidas cle ler e escrever.
;lté recentemente.) A leitura e o debate são tidos colho os meios para a compreen-
são clo divino. O ofício cle cantor, comum no Oriente Médio antigo, tornou-se uma
liturgia totalmente baseada em textos escritos. O próprio ato cle leitura desses
textos convem'teu-se ein parte cla celiinânia sagrada, a transmissão clireta cla aliança
divina. Esse conceito novo, originado na liturgia llêbraiciil acabou por inspirar
gregos e romzlnos cristão!! Sujas liturgias clifuncliram a pratica bém como a nova
dimensão da palavra escrita, por todo iiiiiTiifiÕti::ê
na exaltação judaica clip palavra escrita e. por meio dela, foi rapiclainente clifuncli-
clo. Nesse momento, a leitura transcencleu t\té mesmo a autoriclacle eclesiástica.
Havia-se tornado it "Palavra cle Deus'
Propôs-se recentemente que a ramificação levantina específica cla escrita,
muito bem adaptável ao hebraico e clo ai'amaico, clataria cla vedação clo relato
bíblico sobre a "origem e história" cle lsrael ao l-einaclo clo reijosias, que governou
cle 639 a 609 a.C.sz A corte cle Josias reinstituiu a adoração exclusiva do deus elos
5Ç) \)Xr\\SO\q, \k. Ott Libera(?: The Politica (jthe Wt)rlcllront Homcr [o the Agc (!f]]ock. oxtotc\,
31 MA[iTTN, ] ]..J. Pour Lmc histoirc (]c ]a ]cctute. Xez/tie./rrl?zçaz.se- í/'óí'.s/ocre í/t//fure-. XI.VTT.
P.583-60S, 1977
32 1'INl<ELSTETN, T., STLBI'lltMAN, N. A. 7he Bib/É- Urzearrócz/. .4rcór/eo/olW Aklzp VZçfon (2/,4ncfelzf
rsrae! clttd the erigir (g ts Sacred. Te9;ts. Rota 'folk , 2üQ'L
1982H
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58 STEVEN ROGER FfSCHER
HISTÕR{A DALEITURA 59
E essa confusão inspirada que informa o Antigo Test2uuenEO ou as Escl-ituras
llebrliicas, revelando clivei:sas revisões e edições. Os mais antigos de todos são os
po:!!!!! gra s O "Cântico dos Cânticos", por exetnplo, reproduz o poema secular
típico em forma cle calção cle caráter roinâniiêã õii ei:ótiãõ ti='íiiiií'leio seg u)clo
lnilênio a .c. Algo ns eventos llistóiicos cle antiguiclacle siinilai, ãii;'i;;íi;;;'i;;iíi;i=i
sido escritos pela prin)eii:lí$ê él;i ileoraico arctuco).
tinhzul} como objetiv
Muitas versões escritas iiiis tracliçõéli llebi=ãiEãi competiam entre si: há pro-
vas cle vigorosos conflitos literários que teriam ocorrido na Antíguiclade. Nenhum
escrito era cle fato "sagrado". Quando todo o poder secular' desmoronou no século
VI a.C., o poder religioso preencheu a lacuna social, reprocluzinclo as tradições, os
costumes, os llábitos e até a escrita elos babilânios dominantes, colo iclioina era o
;uamiüco. Foi nessa época, no Exílio Babilânio, que os ritos clo culto cle Jerusaléin
f'eram escl'idos e as I'evasões oficiais clo código sacerdotal foram asseguracltts. Isso
permaneceu após tal exílio, até que, no século V a.C., o Pentateuco ou Toro inan-
[eve-se em uma ec]ição abso]utanlente "oficial".
Pouco antes clo exílio babilânio, o rei Josias parece, então, ter sigla a fonte
inicial cla primeira veneração da escrita entre os judeus, intl'ocluzinclo uill novo uso
cla escrita tradicional para optei, sobretudo, maior controle político. Ele promulgou
colho o único santuário
de Javé. Dul'ante esse mesmo processo, um elos secretários cle Josias sem querer
descobriu" (c. 622 a.C.) os rolos do Livro de Deutelonâmio dentro clo templo, os
quais :tté então er;un rolos clesconheciclos que apenas integravam a Toro na qual
as leis que definiam o povo Judeu, bem colmo seus deveres e responsabiliclacles,
estão cleclaraclas. Tambétn nesse caso, alega-se que Moisés teria dito (IV:2); "Não
ilcrescentareis, nem tiiiueis naclít à palavra que vos digo; guarclai os mandamentos
clo Senlaor vosso Deus, que eu vos intimo'
Josias reuniu seus súclitos para ler essa obra "recém-descoberta" em voz
alta, e os convenceu a estabelecer um;t nova aliança com Deus. Esse foi o início
cle um prolongado processo que envolveu a santificação da escrita en] si, algo
que jiullais havia acontecido antes e apenas era possível agont eln razão cla decen-
te comercialização cla escrita, cle uin público nazis leal'acto e de uma nova conside-
ração cla expansão cl;ts possibiliclacles culturais cla palavra escrita no Levante e no
Confoi-me sugerido recentemente por estudiosos "minimalistas", esszl con-
solidação bastante tardia dos hebreus por certo taillbéin traz um sentido mais
económico pala a llistória clo surgimento cle uma sociecl2tcle cle "alfabetização'
elementar na região.Cinto que a llistória tradicional elos llebretis, bztseacla na Toro.
colocaria a veneração cla escrita no final clo segundo iliilênio a.C., quando Moisés
supostamente recebeu os Dez Mancliullentos no A'fonte Sinal, as Tábuas cla Lei
(Êxodo XIX-XX) inscritas graças a um milagre. Isso é implausível, no entanto, pois
EgctiE
os judeus talvez ainda não empregassem a escrita nessa época. Falir dais sentido
imaginar que essa veneração tenha surgido no mesmo momento em que começa-
va a surgir uma socieclacle mediterrânea gemi-alfabetizacla. Isso só ocorreu por
voltzt cle meados clo primeiro milênio a.C
Cona a santificação cl;t escrita, o livro tambén} se tornou um símbolo. Com
ef'eito, foi nesse história e cle uma iclenticlaclc
i s
:i;;Õ;ii;il;õis cio primeiro ataque cle Nabucoclonosor a Jerusalém, Ezequiel, o Profe-
1:;''8ííiõilí'i;iia Javé em sua carruagem, recebegclo instn ção dele (Ezequiel 11: 8-
mi:e a [ua boca, e colhe tudo o que eu te dou'. / E olhei, e eis que uma mão
estavit estenclicla para tnim, na qual se :\calava uin livro enrolado; e o abriu diante
cÍiiiiiiii;'ê'ê:iã7;í escrito por dentro e por forte, ê viaill-se escl'itiiÉ relê liunç11111çgg!
muito rtuniiizu:izaclo com a literatura fenícia e aratnaica. Pol' meio cle profecias
quase sempre contendo artigos d2t legislação judaica, ele acabou clescrevenclo sua
visão clo Templo cle Jerusalénl iestauraclo e a recém-proposta té "tradicional" clo
monoteísmo pi-eponclerzlnte. Na verclacle, Jerusalém toi destruída sete anos depois,
em 586 a.C., quando todos os judeus foram exilados na Bal)ilõnia.
Após o exílio, tendo sofrido a influência cla Babilânia cosmopolita, os lu-
cleus pitssaranl a ter uma nova compJ'eensão cla palavra escrita em aramaico, assim
como respeito por ela. Os escribas logo assumiram um novo significado na socie
clacle Judaica à medida que redigiam ilntigas tradições e escritos hebraicos em
aratnaico, nessa época f;tlaclo por todos os judeus, tornando-se a língua franca clo
poderoso Império Persa (550-330 a.C.). Nas sinagogas, os escribas começaram a ler
e fazer comentários sobre o que só então se transfonniu-ia na Toro (ainda cra
apenas o Pentateuco, os cinco primeiros livros cla Bíblia), a qual posteriormente
seria todo o alicerce clo ensino tradicional luclitico. Os escribas eram os principais
intérpretes cla lei, os editores clãs escritul'as, elos comentários e elas traduções, os
E-Óprios porta-vozes cle Javé. El-am também os primeiros leitores do jucliúsmo
Foi após ietornarem clo exílio babilõnio pala Juclá que os judeus constituí-
riull a palavl'a sagrada. Tratava-se essencialmente de um processo cle influência
llelênica em uma região que estava se transfoimanclo na Jucléia, quando a língua,
11 cultura e os costumes gregos repercutirain em todos os aspectos cla nova fé. Os
nomes tradicionais elos livros "mais antigos" cla Tara -- Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronâmio -- são basicamente cle origem greco-latina, o que teste
nlunlla seu ingresso tardio na reclação e na organização de informações.
Quase todos os judeus, porém, eram analfabetos na Antiguiclacle, pelo me
nos enl hcbn\ico e aranlilico. (Por motivos comerciais, muitos deles, contudo, liam
e escreviam enl grego.) Quanto aos textos sagrzlclos, a maioria contava com os
escribas clo templo ou com suis própria ineillória extraordinária. Foi apenas cluian-
[e a época clo imperador l-oir]ano Vespasiano (69-79 cl.C.) que o cânone cla Bíblia,
a legislação na tentativa cle nomear o Templo cle Jerusaléin
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60 STEVEN ROGER FISCHER HISTORIA DALEfTURA 61
a lista cle escritos sagrados reconhecidos conto "genuínos", finalmente passou a ser
;assunto encerrado. Pouco tempo depois, quando a Jucléia ionlana havia se trans-
fonnado na Palestina romana, a Michná ou comentário aprovado sobre a Toro foi
cletemlinacla pol' escrito. Naquela época, a leitura concentrava-se soba-etuclo nesses
cinco primeiros livros elas Escrituras Hebraicos. Os comentários orais e escritos
conhecidos como Talmucle foram escritos em variações posteriores clo hebraico (e
em aranlilico). Nos séculos IV e V cl.C., o Talmucle oriental e ocidental (principal
fonte cle lei religiosa judaica, forinaclo pela Michná e pela Ge/lzízra) foriun coloca-
dos em uma forma oficial, cona a codificação escrita cla lei que ocorria ao mesmo
tempo por todo o Império Romano.
Os tahnuclistas itclaavam que as Escrituras hebraicits coclificavam uma inulti-
pliciclacle cle significacl e
(l !utigos cle
-!# Pl99:gele.sytls:n=!!' .
e oral ao mesmo tempo; ali Moisés teria estuc ado
sozlgho dtlrante quzu çlBii ellas, l
comentário à noite. O mito étn ii=Í
(como os cristãos mecligy! is pensavam a res
'os EIT !fll:-çãS? flS? $2}1''an?: !pas t:!!!1l?Ép uin,
:tptencliclo à medida aue a sociedade
[exto podia ser chips coisas ao mesmo tempo: o original (oficial) e sua nterpreta-
ção (criativo), e este infinitaillente
O conceito tiunbém foi intrócluziilid'ha Eur(ij;i8EiElêiii;il Idas não antes da
Renascença.
A veneração judaica pela palavra escrita fbi levada a extremos nos séculos
seguintes. O Se/br Hez/rab clo século VI cl.C. -- o mitos antigo texto judaico conser-
vado, referente ao pensamento sistemático e contemplativo -- clecl:u'ava, por exem-
plo, que Deus criara o mundo com 32 "caldinhos cle sabedoria" secretos, o com-
posto por dez números c 22 letnls.SS O mundo físico, o tempo e o corpo humano
que constituíam as três cainaclas clo cosmo eram seu piocluto clireto. Toda a criitção
poderia ser consicleJacla um autêntico livro cle números e letras. Se nós mortais
pudéssemos fazer a leitura "aclequacla" elos números e clãs letras, "desvenclanclo'
su;t combinação numa imitação cle Deus, pocleríiunos, cla mesma forma, originar a
viclit. Na l-ealidacle, iipós estudarem o Sega?7" Hez/rab, os eruditos talmuclistas Hanani
e Hoshaiah foratn capazes cle criar, como narra uma lenda medieval judaica, seu
jantou seinttnal cle uin bezerro cle três :tnoslS4
Os romanos
Os etruscos cla ltália, influenciados a escrever seu próprio idioma, pela pri
metia vez, usando a escrita alfabética cle seus novos vizinllos, os gregos coloniais,
l:ii;ãis desenvolveram uma socieclacle sequer rucliinentannente letiíiêlã' N:í'iêãlitlã-
:li; eles restringiram sua escrita a inscrições funerárias, cohttiitõijüi:ítlTiE6::iõitilagãb
êõãibêiÉ. No pri-
meiro milênio a.C., esse uso l-estrito piuece ter czuacterizaclo toclõi''õg'ê:fritos
:iilSiaiijiíõiiiõ;EíaõiQõiii eti-usca na península itálica, colmo os elos lígures, lepâncios,
reucos, giiliêiitnos, Vêiiêiii:iiiõ:a õiêõs, entre outros Apenas uinii fainificacão cla
escrita etrusca progrediu pai:ii üiiiii iiãjiãêiciaêle mais avançada cle leitura e escrita --
e enfim para a imortalidade:
atiin escrito e titlaclo pelos llabitantes cle Rolha.
As priineir2ts leituras em latitn consistiam em nomes cle proprietários em
vasos e objetos cle metal, algumas cleclicatórias religiosas e alguns textos curtos.
Poderíamos supor que os primeiros reis e comerciantes cle Romã faziam uso fre.
qtlente cle tabuletas cle ceei mitra correspondência e contztbiliclacle. Duntnte o sécu-
lo IV a.C., porém, inscrições mais significativzls começam a surgir. Ness;t época, a
escrita t;unbém llavia-se tornado "vital pata a eficácia clo poderio militar e político
cle Ronca".ss As funções cla escrita foram ainpliaclas durante a República. Ao final
desse período, o uso cl2i escrita aumentou exponencialmente, tanto em cat-acterís-
Eicas quanto em relação à área geográfica que pâcle :atingir, com a roinítnização elas
províncias ocos'lida nos séculos ll e l a.C.
Alguns laistoriitclores recentes alegariun que os romanos antigos chegariam a
apreciar a erudição "tnoclerna". Mí\s isso é por certo um exagero. O que se pode
zttirmar cona segurança é que a abrangênciacla escrita no Império Romano era
muito grande:
Os romanos usavam receitas escritas e mantinllam l-egistios contál)eis escritos,
escreviam s/ogúzrzs políticos, organizavam as forças armadas por meio cle um grande
número cle documentação, registravam quem se tornara cidadão, circulavam textos
sobre feitiços mágicos e livros clefendenclo crenças religiosas, insultavam-se e decla-
ravam amor entre si em grilfitos, escreviam)l caEEas e, com milita f'reqtlência, homena-
geavam os mortos.s''
Apesar disso, a socieclitcle romana pennaneceu funclamentahnente oral, ain-
da percebcnclo a leitura como uma habiliclacle acessória, mas não uma aptidão
33 SCI ROLEM, G. Kóióóó//zlb. Jcrusalém. 1974.
34 MANGA Jltl, A. .4 //l.ç/OCy (!/'/?cac/f?zg. Londrcs, 1996.
35 HARliTS. ,47zcie zf ZI/erzicp.
36 MAliTTN. 7he //l.çfop:p ilzc/ Prizuer (!/' WHff/7g
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62 STEVEN ROGER FfSCHER HiS TERIA !:)A LEITURA 63
funclíullental. O latim, como vimos em outros casos, não possuía unia palavra
singular que diiiiiiguis:ie uni aLO umco. zqqo ("leio") também designava "reúno.
coleciono; escolllo, seleciono; examino, analisa; declamo, leio cin voz alta, recato .
lglli1lnlente, era possível clizéi mijo/uo ("leio") , le
"çjgenlç?jgLçjçsclobro; ei;ii s
c[e naDiro. Até ] 00 a C., é possíve] qt a
plP11111i!.Sljclacle de Romã era capaz cle ler e escrever, e durante tacto o Império.
menos cle uma em cacl:i Vi ntê óu tiiiii;í'i;iiiTíiêiê;' N:iaa;; tuna socieaacle letrada.
O z;o/tlmen oti iõiõ romano, como seu colresponclente grego, tneclia cerca
cle 25 centímetros cle largura por seis a dez metros cle comprimento e, por isso,
conseguia conter textos mais extensos. (Enl geral, unl uo/in/zela continha quitse a
mesma quanticlacle cle texto que um elos nossos livros finos em brochura.) Essa era
;l vantagem do papiro, que permitia que textos mais extensos fossem escl'idos em
pritneiio lugar; até então, peles, inacleiJa, cera, cerâmica, marfitn, nleral, pedra e
casczi cle árvore permitiam apenas inscrições mais curtas. Ao contrário clo rolo
grego, no entanto, o qual se clirecionava, em geral, pala baixo ein linhas contínuas
(colmo a tela elos computacloles cle hoje), g uo/ !mera rolpano era escrito em padrão
perpgclicular ao comprimento, cle moela quc as "páginas" individuais da escrikt
pareciam umii página clesenrolaclíi. Diiiã
rara: rolas cle ptipiiõ iióih um
:un15as as mãos em posiçõêiê8iiii;;i:i;'aiíii:ê';i:
Unl'-i ':página" clç uni uo/ii;ãZ;(El;tília segmento cle rolo aberto) tinha cluits
colunas paralelas cle 15 a trinta letras caclit em 25 zl 45 linhas, totztlizanclo entre 750
e 2.700 letras por página.3' (O texto cle uma página cligitacla laoje com espaço
duplo contém cel-ca de 1 .700 leal-as). Eih geral, as linhzts continham um número
específico cle letras. Os papiros mais antigos uo/[l/?zírla eram escritos em letras
nítidas, legíveis e até rebuscadas, na maioria elas vezes, e o seu tamanllo conespondia
It taxa cobl'nela pelo escriba. CHeIa linha cle poesia continha un) hexâmetro épico,
uni trímetro iâtnbico ou um verso cleclamatório dramático, ao passo que qualquer
linha cle prosa possuía trinta letras. Essas linhas curtzts ajuc]avam os olhos a iclenri
ficar ils palavras, facilitando a compreensão.
Até os séculos ll ou 111 cl.C., os escritores cle latim sepalavain as palavras
usando dois ou ti:êi j5ontos; depois clessc período, a sc/l»/l/zw co///í//l/zz (texto l
contínuo conhecida, a pont ação nunc;tece- l
beu muita importância. As pausas, soba-etuclo usacliG'i;;i;"i'81:;;tona, eram quase l
sempre nlarcaclas por um mero espaço êi . 4
me ja naencionamos, os gramáticos gregos introcluziliun as m:ucas ilíacl-éticas
sinais colocados sobre Oli sob a letra -- a princípio pzua auxiliar a pronúncia e
ênfase (conto as deixas elos amores e apresentadores cle telejornais cle hoje) e,
tarde, piora distinguir palavl'as inteiras, sentenças e parágrafos. A base cle toda a
pontuação :antiga era :í retól'ica; e não zl análise lógica. (Atuallnente, a pontuação
vinculada sobretudo ao signiticaclo e não ao sono, o que clemonsti;ii õ iêÉultaclo d
tiãii:rõiiiiã€1=a'iíã leitura oral en] silenciosa.)
A leitura ao rolo cle papii:o ii:i&êi:;í'uma tarefa simples, pois ela necessário
clesenlolã:lo iêEiliiilãi?ê2ê:'Rêiõí?i:iE'ií:iiliiiiite no [éitii Óti j;iÕÕÜi::ir cletéi:iiiiii;iUzt
passagem nele er:í ilHicii. ixao navio sunlárioi e
papiro e armazena-lo de niõiTÕ ããêijuaclo, era preciso enrola-lã iiõT:iiiiêiii=ãiê
i iléria cauÉiir danos.) Àléin disso: êia
uiü óbjêto ctuíssinlo e, por iüol iii:êãõso; ãEjili:ir=êiãj5i:e exigia umit arinazêiiãÉem
sêjiira, longe cle êrlanças, cães, l:õêiioiê::'Eiiiiiõêi e, aciiiiii cle tiitiõ:'ETiiiVã"õu
vim io atei:i;ãll na casa. os z/o/llmzírla eram. seio tlútii-
c a, as primeiras coisas a serem sa]vas depois (]as crianças.
ócio) à Capaclócia (Turquia oriental),
lia-se quase na mesma caligrafia, plovtt cle uin enonne volume cle correspondêncizt
pessoal lnantenclo os padrões na amplitude clo império. A letra manuscrita rolda-
na, fácil cle ser reconhecida, ficou sendo o f'orinato comum clãs letras. Ein uin curto
período, apenas um ou dois riscos eram suficientes parir fonnar cada letril ein uma
rápidit sucessão, inclicanclo uma escrita bastante frequente. Se a escrita, no início,
servia como instrumento cle poclel' empunllaclo por unia pequena oligarquia, com
o tempo, por meio clãs incessantes conquistas romanas, ela passou a ser trivial na
aclministr:tção c nit correspondência diária cle um Império cHeIa vez mais vasto.
Elabora o próprio Cícero (106-43 a.C.), o grande olaclor, achasse que, Fina
a memória, ver um texto êi:i'ini.üto melhor que apenas ouvi-lo,W i-cconhecenclo
iissiin li exclusiva vantagem cla leitura na socieclacle oral romítna, a maioria dos
romanos acreditava que o cliséiiiio prevalecia como minis iinporrante. As cleclant
ções orais eram equivalêhtêi;'iaii:iaitijiêíiõies, à êsci:ítii na iniiiõfiit tias questões
processuais. Na realiclacle, os ioinanos, muito fetais que os gregos, conferiam ao
discurso oral unia importância vital nas questões civis, assetnelhitnclo-se mais aos
alemães setenta-zonais que a seus parceiros comerciais e súclitos no Levante, em
especial os judeus."
Apesar de lloje as inscrições latinas em monumentos serena a mostra mais
evidente cla leitura romana, esse eng]'anclecin]ento cla autoriclacle ]'epresentou ape-
nas uma fiação cle segundos enl tenros cle leitura pífia os ioillanos antigos. Pelo
menos no que de refere il literatura e ensino; a leitura romana calcava-se na grega,
3S CTCleRO. /)e o/zz/orc. SI JTTON, E. W., RACl<HAM, H. (Reis.). Cíulal)ridgc, bIA, c Lonclrcs, t(967
39 LEVA-BR[JHL, H. L'écritutc ct ]c droit. Tn: COHEN, M. (Ed.). Z'ticn/zf]-e- et /ap.ç(vcbo/íiEfe r/ex
pe'típ/aç I'afãs, 1963. p.329.
v.l
37 Ibidem.
4,
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64 STEVEN REGER FiSCHER HISTORIA DALEITURA 65
bem como a itprenclizagent romana seguia a grega.io Apenas séculos mais raide os
;uitoies latinos, sol)re udo Virgílio, alcançarttnl a vene;lêãi'ini;;iê;i''i;l;iiil;;ios os
alunos romanos, porém, aprender a ler e escrever, na tniüoria dos casos. cons sua
em ajifêhclel' a ler e escrevem' ein grego. A sita p
educação grega.
Mas, ao contrário cla Grécia, onde apenas uma minoria privilegiada partici-
pava cla viela civil, aue exig r
cl : !bala uma representação ma or de
eles S!!Ujçja pública que exigia«m
g;'& é;MÜ;B;'i=;ã;;:;qiit-:Õ;
cle declarações ao censor, tabuletas cle votaç r
uin nome e outras manifestações civis. Romã era coinanclada por escriturados e
sustentada por, pelo menos, um grupo cle ciclaclãos com alguma instrução.De
fato, esse foi talvez o primeiro "Império cla Leitura", uma vez que os patrícios,
assim como grande número cle homens, mullleres, libertos e escravos -- em Romã.
no restante cla ltália rotnanizacla e ein muitas outras províncias --, liam e escreviatn
todos os dias.
Ao contrário cle qualquer outro lugar no restante clo lnunclo conhecido até
então, incluindo-se a Gréci11: a esçlik! aparecia em quase toda parte clo linpério:
moedas, monumentos, lápides funerárias, altares em encruzilhadas, pedras cle divi-
sas inarcaclores cle iiiÍüeclutos, marcos miliários, sem contar as ompi-esentes tabule-
çp..sy.]g@l pê!!siÊ$;.Êãiiü
l:e!!113Éi!!! .!391..g:Ê!!y)lo, cartazes eíêi
(Na subseqtlente lclade Mécli:t, tio contrário, esse po cle escrita púl)lica fl)i quase
inexistente.) A ilaaioría elas tlunílias era responsável pela própria contabiliclacle. E as
tropas I'oinztnas "tinllam quase tanta burocracia quanto os exércitos modernos".4'
Tal é a lição a ser aprenclicla com Vinclolancla, antiga base militar romana no
norte cla Grã-Bretanha, próxima à Muralha cle Aclriano.4: A piiitir cle 1973, cerca clé
duas mil cartas e documentos ein tabuletas cle inacleira foram encontrados nesse
local, o que comprovou :t difusão cla escrita na socieclacle roldana antiga. Conten-
do o maior arquivo cle escritos romanos antigos jamais ctescobertos em nenhum
outro local, a literatura vinclolancla cinta clo período compreencliclo entre 85 e 130 cl.C.
Todas as inscrições f'eram reitlizadas com tinta ou entalllaclas com buril em ceia e
expressíun os pensziinentos cle homens e mulheres comuns se correspondcnclo
entre si na própria base e cona pessoas mais afastadas.
O fato cle existia uin [esou[o como esse, en] un] loca] tão isolado, definitiva-
mente comprova a granel i-
do entre os romanos ein todo o linpério. Nessa época, a escrit2Íi;i;iiiiiilliií5Tj5HEão
pesso;iil
ein regiões piiniitivas exteJ-nazi'3 Essas corresponclênci;ii i:iiiii)em garantiam os
siiiirilüêhtiii iüilitareli e sanãõiiivaiú pedidos, aléii;lE'i;;iã;;;iiií;i;'íiiBiiii:i<lÕês
secretas essenciiiis. Ein outras piiliiVras. ã l .
Mento clo Impérios &iãiÍ ãn®-
Carlisle, Ribchester e Caerleon, no País cle Goles, citando apenas três -- revelaram
esconderijos semelhantes cle tabuletas cle madeira. Ao que tudo indica, durante os
primeiros séculos cl.C., a maioria elos ronlzinos letrados lia em voz alta para si
mesma e escrevia sua própria conesponclência, já que a aptidão e a habiliclacle
llaviam-se expancliclo para além cla (classe e clo ambiente elos patrícios. Escravos
especialmente treinados, escribits profissionais e secretários deixavam de dominar
a classe cle leitores.
A enorme cleinancla cle rolos de papiro e, mais tai'cle, de volumes cle perca
ininho constituía o êoi [a
a cldiüiinclal Í15E.
tomou ii dii inêntilclo, "não concltlíclo" . (Uiiiiiegra
gentil refê ii; ll cl.C., segundo a qual a edição
mais recente cle unl texto deveria ser consicleracla b:iüi iiii5iiiEuir a sua edição
Êinterior. Em ouvias píii: a
conter a versão "autõi;i2itiiíii' .
na pela literatura escl'ita, os liv s
egípcios itnpoiticlos continhaiti i-
caclos e minutas finais de aros oficitüs. Apenas os verclacleiramenti;iil;astaclos po
aliam pos is
ricas de Pompéia e Herculano, IhtRlãtre
)s líVl;oÉ coillercializaclos no finiil tlã Rêjiúblicii e ão alto Império eram,
muitas vezes, escanclalosailaente fotos. Na verclacle, apenas os senadores e seu
círculo cle relacionamentos cla alta socieclaclé conseguiaill pagar peltt qualiclacle
exigida por unl colecionaclor, a preços exorbitantes. O Novo Testamento (Aios
XIX: 19) nana que, nil época em que um cenário era o salário diário connim cla
população, os bvl'os mágicos cle Éfeso valiitm cinqtlenta lilil plenários. Onde uma
dracma valia un] plenário, o escritor grego Luciano (c. 120-após 180 cl.C.) cita um
livro ralo no valor cle 30.750 clracinasl4s
qO MA\U{O\ 1. Hist(ária c educação ncl Á ritiguÍclacle.
41 MAr'lIN. 7he .f7z.ç/OCP a//c/ Fntz;e'r (#' Wnfí?4q
42 \30VrlÁP.N, À. \k. LUÜ ctitcl LcLLcl on the liolnan Frontiex: Vitüolattda ctltd its Pcople. \nnd cs
1994. ll tiulll)ém BOWMAN, A., THOMAS, J. 7be Uilzdo/a7zda Wn/in.q-Zaó/e.ç, Tal)ulac
Vindolanclcnscs, TT. Lonclrcs, 1994
43 FISCFIER. ,4 É/ilçfo :p (!/ IWrffíng.
44 }ÃêCB:T\N. Tbe Histoty ayicl. Potuer (}f Writittg.
45 FIAltliTS. ,4 rzcfe'ur l /e/z/cp.
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n"
66 STEVEN ROGER FISCHER HISTORIA DALEITURA 67
Ronca era, sem dúvida, o centro cle publicação, comercialização e distribui-
ção cle bvl-os clo Império. ético, correspondente de Cícero, por exemplo, edil tant-
bém o venclcclor de livros de Cícero; Ático mantinha uma equipe cle escravos cuja
tareflt, quase exclusiva, eia copiar livros em grego paul venda. (Em alguns ci\sos,
livros em latim também eram copiados.) Um corretor, antiga representação clo
ecliEol cle lloje, era convocado para fazer a revisão dos textos. Os "lotes cle iinpies-
são" poc]i;ual chegar a vo]uilaes consic]eráveis. No sécu]o ] d.C., o rico, poderoso e
vaidoso Marcos Régulo Aquílio, quando cla morte cle seu jovem filho, não s(5
encomendou imagens clo falecido para que fossem repiesentaclas em tinta, cera,
prata, ouro, marfim e mármore, mias também leu enl voz alta, para um grande
público, unia l)iografia clo garoto e, então, pccliu que os escribas fizessem mil
cópias dessa biografia zl serem clistribuíclas em toda a ltália e nzls províncias. Ein
seguida, Régulo escreveu pztra os oficiais locais a fim cle que selecionassem um
talentoso orador entre eles para ler a obra em voz itltzt cliilnte clãs pessoas cla
ciclacle e foi o que fizerlun.4Ó
Assim como lloje, as livrarias eram\ lug:ues "popul:u-es" em Romã, com pra-
teleiras cle macieira exibindo as edições mais l-ecentes elos rolos cie papiro. Os
homens cle letras fttziíun contato (lom os vendéciores cle litros à noite e. muitas
vezes, visitavam seu estabelecimento çlyl;!!!!g ç? dia. Os vencleclores pencluravíiin
c:trtazes anunciando novas obras; folhetos eram colocados em circulação ein encle-
ieços proeminentes; às vezes, excertos elas obras eram clistril)Liíclos cle graçit p:ua
clespeitar o interesse clo público. À meclicla que os povoados provincianos cle Rom;i
se tornavam ciclacles iiiiíêj;êiiillEiiiê::'i5;'Têhcleclores também lá se estabeleciíun,'
longe cle Rosna.47 O poe impe-
rador Augusto, vangloiiava-se cle que sua obra HI /e Poéf/crz era venclicla eni B(5stb-
ro, na Espinha, Gália e África: um autêntico "bes/-se//e/" internacional". O poeta
elegíaco Propércio (c. 50-c. 15 a.C.), contemporâneo cle Horácio, ficou satisfeitíssimo
;to saber que seus textos eram lidos nas l-egiões setentrionais. O autor cle epigramas
e poeta Marcial (c. 40-c. 104 cl.C.), natural cla Espanlaa, orgulhava-se em saber que,
entre seus leitores, estavam os jovens e as senlloras de Viena, na Gália centro
ocidental. Seu amigo Plínio, o Jovens escreveu para o :unigo em comum Gemino:
Eu não tinha a menor icléia cle que havia vendedores cle livros em Lugclunum
ILyon. FI'ança] c assim soube com o n)pior pl'fizer, pol' sua cal'ta, que meus livros
esE:io enconrranclo compradores por lá; fico feliz que a inesn)a populariclacle obti-
c[a na Cic]ac]e [Roma] seja mantic]a no exterior" (Cb/Ir/s ]X; ]]).
As escolas romanas seguiam o modelo clãs gregas em quase tudo: eram
igualmente rígiclits, severas e impressoras. Prognosticanclo o que muitos eclucaclo-
res cletenclem hoje, o aclvogaclo e eclucaclor espanhol Quintiliilno (c. 30-c. 96 cl.C.),
P
nlestie elos sobrinhos-netos clo in)peraclor Doilliciano e autor cla célebre .íns/í/l//ío
orrz/orla, incentivava o início da leitura o mais cedo possível nil vicia cle unia
criança, aconselhando
Alguns defenclenl que os meninos não elevem) aprender a lei' antes tios sete
anos, pois essa serizt a idade mais precoce eni que são capazes de ol)ter pioveiro clo
ensino e suportzlr il extenu;lção clo a])renclizaclo. Aqueles,

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