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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE DIDÁTICA VENDA NOVA DO IMIGRANTE – ES SUMÁRIO 1 O QUE É DIDÁTICA? ....................................................................................................................... 4 2 CONCEITUANDO O TERMO DIDÁTICA ......................................................................................... 6 3 DIDÁTICA: CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................ 12 4 EDUCAÇÃO FORMAL E NÃO FORMAL: MODALIDADES ........................................................... 13 5 A ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO ........................................................................ 15 6 A EDUCAÇÃO INERENTE À SOCIEDADE HUMANA ................................................................... 17 7 OS DILEMAS DO PROFESSOR INICIANTE ................................................................................. 19 8 O INÍCIO DA CARREIRA E A FORMAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA .................................. 21 9 A EDUCAÇÃO COMO MEIO DE TRANSFORMAÇÃO .................................................................. 22 10 CARACTERÍSTICAS PECULIARES AO PROFESSOR ............................................................ 24 11 A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA TRANSFORMADORA .......................................................... 26 12 A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................................................ 31 13 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA PRÁTICA ESCOLARES ................................................... 34 14 TENDÊNCIA LIBERAL E TENDÊNCIA PROGRESSISTA ........................................................ 36 15 TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL ..................................................................................... 39 16 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSISTA ............................................................ 41 17 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA ............................................................... 43 18 TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA ........................................................................................ 45 19 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA ....................................................................... 49 20 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA ........................................................................... 52 21 TENDÊNCIA PROGRESSISTA “CRÍTICO SOCIAL DOS CONTEÚDOS” ............................... 55 22 TENDÊNCIA LIBERAL (PEDAGOGIA LIBERAL) ...................................................................... 62 23 TENDÊNCIA PROGRESSISTA (PEDAGOGIA PROGRESSISTA) .......................................... 64 24 TENDÊNCIA PEDAGÓGICA: TRANSIÇÃO E CONFLITO ....................................................... 65 25 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: SABERES E FAZERES NECESSÁRIOS À ATUAÇÃO DOCENTE.............................................................................................................................................67 26 ARTICULAÇÃO DE SABERES .................................................................................................. 69 27 OS SABERES ESPECÍFICOS ................................................................................................... 70 28 OS SABERES PEDAGÓGICOS E DIDÁTICOS ........................................................................ 72 29 OS SABERES ARTICULADOS NA SALA DE AULA ................................................................. 75 30 ARTICULAÇÃO DE SABERES EXIGE UMA ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA DE ENSINO.................................................................................................................................................76 31 FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............................................................................................ 78 32 AS 10 COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA .......................................... 83 33 COMPETÊNCIA NA EDUCAÇÃO.............................................................................................. 85 34 OS DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA ATUALIDADE .............................................. 87 35 A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PROFESSOR ................................................................ 89 36 SER PROFESSOR: RESGATE PESSOAL E PROFISSIONAL ................................................ 91 37 OS DESAFIOS DE SER PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE .................................... 93 34 A FORMAÇÃO E OS SABERES E FAZERES DOCENTES ..................................................... 95 38 MÉTODOS DE ENSINO QUE PODEM SER USADOS NO ENSINO SUPERIOR ................... 97 39 OS DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS PARA O ENSINO UNIVERSITÁRIO.................................................................................................................................103 40 A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO ...................................................................... 108 41 A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA PEDAGOGIA DE FREIRE ..................... 111 42 OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE ................................................................................ 113 43 ENSINO: AS ABORDAGENS DO PROCESSO ...................................................................... 117 44 ABORDAGEM TRADICIONAL ................................................................................................. 119 45 ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA ............................................................................. 121 46 ABORDAGEM HUMANISTA .................................................................................................... 123 47 ABORDAGEM COGNITIVISTA................................................................................................ 125 48 ABORDAGEM SOCIOCULTURAL .......................................................................................... 127 49 QUE FUNDAMENTA A AÇÃO DOCENTE? ............................................................................ 129 50 A ESCOLA, O ALUNO, O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM................................................................................................................................130 51 A ESCOLA E O PROCESSO SOCIAL .................................................................................... 133 49 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO................................................................................................................................134 52 PLANEJAMENTO E AÇÃO PEDAGÓGICA: DIMENSÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS .......... 140 53 ETAPAS DO PLANEJAMENTO ............................................................................................... 141 54 REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO DO ENSINO ......................................................... 143 55 A PRODUÇÃO DE UM PLANO ESCOLAR PARTICIPATIVO ................................................ 144 56 A AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR ............................................................................ 147 56 EXAMINAR PARA AVALIAR .................................................................................................... 149 57 MEDIR PARA AVALIAR ........................................................................................................... 151 58 AVALIAR PARA CLASSIFICAR OU PARA REGULAR ........................................................... 154 59 AVALIAR PARA QUALIFICAR ................................................................................................. 156 60 A PRÁTICA DO PROFESSOR EM AVALIAÇÃO .................................................................... 159 61 BIBLIOGRAFIA BÁSICA .......................................................................................................... 1644 1 O QUE É DIDÁTICA? Fonte: i.calameoassets.com A didática tem como objeto de estudo o processo de aprendizagem e das inter-relações na sua globalidade, isto é, tudo o que nos ensinam ou o que ensinamos está ligado a uma didática específica, seja na escola, em casa, no trabalho ou simplesmente no nosso cotidiano. Desta forma está inteiramente ligada às teorias da educação 1, as teorias da organização escolar, as teorias do conhecimento e a psicologia da educação. Esse suporte teórico é à base da prática educativa. Assim todos nós, em qualquer área que atuamos, precisamos conhecer e nos dispor de recursos teóricos para organizar e articular o processo de ensino e aprendizagem comum e natural em nosso dia a dia. Pois bem, na concepção de Baline Bello Lima (2008)2, a palavra didática se associa à arrumação, ordem, logicidade, clareza, simplificação e costuma denotar, 5 portanto, bitolamento, limitação, quadradura. Segundo a autora, se ela adquiriu significados negativos, supõe-se que isso se deve ao fato do exercício regular da Didática em todos os níveis de ensino, com o uso de manuais carregados de regras e conselhos (o professor deve isso... o professor não deve aquilo... tem que...), verdadeiros receituários ou listagens de permissões e proibições que acabam por minimizar estes processos constitutivos. A Didática se caracteriza como mediação entre as bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente. Ela opera como “uma ponte” entre o “o que” e o “como” do processo pedagógico. Para isso, recorre às contribuições das ciências auxiliares da Educação e das próprias metodologias específicas. É, pois, uma matéria de estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, formação pedagógica e formação técnico- prática, provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as demais disciplinas. Didática é uma disciplina de caráter pedagógico, voltada para o ensino. É uma disciplina importante na formação de professores. Mas também é importante para todo e qualquer profissional que se preocupe com a transformação da vida das pessoas, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo. No processo do ensinar e aprender, a didática torna-se um elemento impres- cindível fornecendo suporte para os professor (e futuros professores) desenvolverem a sua prática educativa, à medida que amplia a forma pela qual pensam as ações, refletindo sobre o sentido social e político de sua prática no âmbito da sala de aula e onde mais acontecer o processo educativo. De acordo com Veiga (apud MELO; URBANETZ, 2008) 3 estão presentes no processo didático quatro elementos, que são: 6 2 CONCEITUANDO O TERMO DIDÁTICA De modo geral, a palavra Didática se associa a arrumação, ordem, logicidade, clareza, simplificação e costuma, portanto, também conotar rigor, bitolamento, limitação, quadratura. Se ela adquiriu significados negativos, supõe-se que a origem deles esteja nas práxis, ou seja, o exercício regular da Didática, em todos os níveis de ensino, seria responsável pelo seu desprestígio ou má fama. Realmente, muitos manuais de Didática estão cheios de itens e subitens, regras e conselhos: o professor deve, o professor não deve e ficam, portanto, muito próximos dos receituários ou listagens de permissões e proibições, tentando inutilmente disfarçar o seu vazio atrás de excessivo formalismo. Corroborando todas estas restritivas, fez-se popular o seguinte conceito de Didática - disciplina com a qual ou sem a qual tudo fica tal e qual. De fato, convém perguntar como aprenderam os nossos antepassados, entregues a professores leigos, cuja preocupação maior era a competência conteudística, a manutenção do respeito à cátedra e a sua pessoa, que do alto do seu tablado despejava sobre os alunos seu saber irrefutável. Por outro lado, com tanta didática hoje em voga, enriquecida pela psicologia, pela análise de sistemas e por toda a tecnologia do ensino, como explicar que o ensino continue piorando sempre, como a querer comprovar a inutilidade desses recursos? 7 Aliás, estarão eles sendo utilizados? E se realmente estão, haverá em seu emprego uma dose mínima de consciência, de adequação, de espírito de busca e pesquisa? Ou tudo acontece na simples cópia ou transplante de modelos inadequados à realidade brasileira e, por isso, devidamente rejeitados? Como saber também se o caos do ensino seria bem maior, sem as tentativas de reformulação, sem o esforço das Faculdades de Educação com licenciaturas, sem os cursos de reciclagem, sem as pós-graduações em Educação? O momento pedagógico é dos piores, reflete os problemas da sociedade doente, inflacionada, violenta, desigual. Não adianta, pois, esperar milagres da Didática. Conviria, ao contrário, tomar consciência dos seus limites e possibilidades e impedir que ela fosse mais um elemento de manipulação do homem, de violação dos seus direitos, de repetição do passado. Enfrentar o amanhã com as armas de ontem é garantir, previamente, a derrota. Desistir de lutar, sob o pretexto de falta de equipamento, é covardia. Não há verbas, não há material, mas o recurso humano, o mais válido, existe, e aí está a exigir um aceitamento interior, capaz de acioná-lo. De um professor de Didática espera-se que seja pelo menos um didata, não na acepção vulgar da palavra, mas no sentido de reconhecer que suas atitudes valem bem mais que suas técnicas, que, trocando com seus alunos o que ele é, abrirá caminhos mais amplos do que se apenas trocar com eles o que sabe, tentando moldá-los a si, ao seu fazer didático. Do professor de Didática é natural que o aluno cobre um pouco mais do que de qualquer outro professor: em primeiro lugar, ele exige respeito ao que ele (aluno) é; em segundo lugar, que ele vivencie e comprove numa lição de autenticidade o que ele (professor) considera correto, mas que tenha também abertura para valorizar outras opções. Veja o desenho abaixo: 8 Fonte: www.tecnologiaedidatica.blogspot.com.br O mesmo retrata sobre a importância de a Didática ser centrada, correta e induzir o pensamento do aluno. Uma Didática de vida estaria à frente de qualquer Didática legista ou receitante; a vivência didática seria preferível à permanência no exercício didático isolado ou atomizado. Ser o professor é conseguir integrar, harmoniosamente e com amor, as habilidades antes treinadas em separado. Se em cada habilidade ele se coloca, sua humanidade ultrapassará a técnica, conferindo-lhe espaços inusitados. Não se trata de negar as bases técnico-científicas em que se assenta a Didática, mas de, em as mantendo, acrescentar-lhes uma possibilidade a mais - a da ousadia, a do incomum, a do ilógico, a ênfase a tudo o que foge aos padrões cotidianos e rotineiros. Parte-se do pressuposto de que se a Didática se alicerça na psicologia da aprendizagem e se alimenta da tecnologia do ensino, nada impede o seu enriquecimento ou extrapolação na dinâmica da criatividade. Por certo, praticando a criatividade, professores e alunos não se tornarão melhores, mas é possível que se prepare um pouco mais para o futuro, que transfiram mais facilmente as aprendizagens de hoje para o contexto de amanhã e que possam tornar-se menos temerosos e mais felizes na superação de situações diversas e adversas. 9 Opta-se pela crença de que a boa didática é a que incentiva a produção e não a reprodução, a divergência muito mais que a convergência, a crítica em lugar da tranquila aceitação, a dúvida em detrimento das certezas preestabelecidas, o erro provisório em lugar do acerto fácil. Propõe-se também que a essa Didática se chame AMPLA DIDÁTICA: além da fusão harmoniosa de princípios científicos e recursos técnicoscom a valorização da função criativa, ela se diz "ampla" por aplicar-se a todos os níveis de ensino e por estar aberta a todas as contribuições plausíveis que vieram subsidiá-la. TEXTO PARA REFLEXÃO: QUALIDADE EM EDUCAÇÃO (PDQ Consultoria - www.pdq.com.br) O desenvolvimento de processos consistentes voltados para a qualidade em educação tem um duplo significado e efeito. Quando uma instituição educacional está comprometida com o desenvolvimento de um sistema da qualidade, ela está não apenas aperfeiçoando seus processos pedagógicos e administrativos, como também exercendo um papel educador extremamente importante, com a demonstração de modelos e comportamentos que serão exigidos dos alunos nos seus diferentes meios sociais, já que o conceito de qualidade transcende o enfoque tecnicista das organizações produtivas e contempla todo o contexto do que podemos denominar de "qualidade de vida" do cidadão, especialmente nas relações humanas. Por isso, o entendimento, a ampliação e a disseminação do conceito de qualidade em educação vêm merecendo nos últimos anos uma atenção especial de diferentes segmentos da sociedade, não somente daqueles ligados diretamente a essa área, mas de todos aqueles efetivamente preocupados com a consolidação desses valores de forma sustentada. http://www.pdq.com.br/ 10 Fonte: www.compromissocampinas.org.br Mas, afinal, o que é qualidade em educação? Para tentarmos responder essa questão, é importante que entendamos a qualidade como um processo complexo, que tem no comportamento humano a essência de sua natureza. Inicialmente, dentro desse processo complexo, entendemos a qualidade como uma componente naturalmente integrada ao planejamento, e que essa integração se constitui não só num fator fundamental para o desenvolvimento sustentado das instituições, como também num exercício valioso dentro do contexto dos processos de aprendizagem. Dentro de uma visão técnica, o planejamento, como atividade estratégica, que se preocupa com o futuro e com os ambientes externos e internos da organização, define seus objetivos e os referenciais para o seu desenvolvimento. A qualidade, que se preocupa com o aperfeiçoamento contínuo da organização, busca permanentemente a melhor forma de atingir seus objetivos e de viabilizar o seu desenvolvimento. Definir objetivos (planejar) e buscar a melhor forma de atingi-los (qualidade) são os pressupostos básicos para entendermos planejamento e qualidade como um processo integrado essencial para o desenvolvimento das organizações. Peter Senge, em seu livro A Quinta Disciplina, cita que "as melhores organizações do futuro serão aquelas que descobrirão como despertar o empenho e a capacidade de aprender das pessoas em todos os níveis da organização". Para o autor, as empresas terão que se converter em organizações de aprendizagem. 11 Esse conceito nos mostra que as instituições de ensino podem constituir-se em modelos para esse processo e que, por isso, terão um papel cada vez mais relevante nesse contexto. A negociação e o diálogo no lugar do autoritarismo, trabalho em equipe substituindo posturas individualistas, ampla delegação ao invés de centralização, estruturas organizacionais sem rigidez hierárquica onde se cultive a confiança mútua, estímulo à cooperação e desenvolvimento de laços afetivos e desestímulo à competição e aos comportamentos agressivos; essas serão as características das organizações do futuro que farão com que as técnicas do planejamento e da qualidade sejam efetivas e se constituam em fator diferencial competitivo para o seu desenvolvimento. Podemos, portanto, propor que o entendimento do conceito de qualidade em educação se fundamente na busca da formação integral do indivíduo onde a racionalidade deve ser vista como uma das dimensões humanas e não como a única. Uma instituição de ensino como referencial de qualidade será aquela que demonstre esses valores com a prática de seus processos de ensino/aprendizagem e se constitua numa organização de aprendizagem, tal como definida por Peter Senge. Fonte: www.almanaqueliterario.com 12 3 DIDÁTICA: CONTEXTUALIZAÇÃO Fonte: 4.bp.blogspot.com Imagine que você trabalhe numa empresa coordenando uma equipe. E percebe que essa equipe caiu em produtividade. Para fazer uma intervenção, você precisa comprovar essa queda, através de instrumento avaliativo. De posse desse instrumento, você irá aplicá-lo, tabular os resultados, reunir o grupo, apresentar e buscar alternativas. Esses são passos metodológicos de um trabalho, que envolvem saberes didáticos. Talvez você trabalhe na área da saúde, e tenha que orientar uma pessoa analfabeta sobre o uso correto dos medicamentos que ela irá tomar. Que estratégia você usará para que a pessoa consiga definir o horário, a dosagem, sendo que ela não sabe ler? Com certeza você é criativo e irá encontrar uma maneira ou “método” eficaz para orientar essa pessoa. Pois então? Ai está a Didática, a sua “maneira de ensinar”, de acordo com a realidade do sujeito envolvido no processo de aprendizagem. Esse processo de construção do conhecimento, de ensino e de aprendizagem, que leva em consideração os saberes e a realidade de cada sujeito envolvido, objetiva desenvolver as potencialidades, habilidades e competências dos mesmos. 13 A concepção democrática de educação respeita o educando como ser único que constrói seu aprendizado, e é capaz de encontrar a melhor maneira para construir seus conhecimentos, dentro da realidade cultural, cognitiva e pessoal de cada um. O mais importante nestas situações ilustrativas é podermos perceber que o processo de ensino e de educação, acontece em todo e qualquer lugar, não somente no contexto escolar, não somente pelas mãos de professores, mas pelas nossas mãos! A filosofia em síntese não é tão somente uma interpretação do já vivido, daquilo que esta você possa estar objetivando, mais também a interpretação das aspirações e desejos do que ainda está por vir e do que está para chegar. Para iniciar o exercício 4 EDUCAÇÃO FORMAL E NÃO FORMAL: MODALIDADES Muitas vezes nos deparamos com a indagação: o que é educação? Educação é a mesma coisa que sistema escolar? Geralmente, quando se fala em educação pensamos imediatamente em escolas, alunos, professores, livros, materiais pedagógicos. Ou seja, a palavra remete imediatamente ao universo escolar. No entanto, a escola não é o único lugar onde a educação acontece, ela acontece em todos os lugares, em todos os dias em todas as horas: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Somos todos educadores, e, portanto, todos envolvidos com a didática! 14 Podemos dizer que não encontramos um sentido unívoco para esse termo. Educação é algo tão abrangente quanto às relações humanas. Podemos confirmar isso nas palavras de Brandão (1985, p. 7), quando ele nos escreve que ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Segundo Luckesi (2001, p. 30)5, a educação é um típico ‘o que fazer humano’, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesmo, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Todos os profissionais passam pelas mãos de um educador. Ao trabalhar com a Didática, uma disciplina cujo caráter é educativo, que tem ensino como seu objeto principal de trabalho, que rejeita receituários como única fonte de orientação, mas aceita-os como instrumentosde apoio para a reconstrução da prática. Fonte: image.slidesharecdn.com 15 Fonte: image.slidesharecdn.com 5 A ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO Fonte: comunidade.rockcontent.com Devemos aqui definir que existem diferentes níveis e modalidades de educação, desde a Educação Infantil (creche) até o último grau de Doutorado. Além de escolas que são privadas e públicas (municipal/federal). O funcionamento das 16 escolas, dos cursos de graduação, pós e outros, são gerenciados, senão “fiscalizados” por órgãos de instância maior: Ministério da Educação (MEC), Secretarias Estaduais/municipais (SEE), Superintendências Regionais de Educação (SRE), e que definem diretrizes nacionais e locais para a educação. Além disso, temos a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) que discute a organização da educação brasileira. O coordenador pedagógico poderá auxiliar na obtenção desses dados, além de ajudar na administração dos “dilemas” e na reflexão da atividade docente durante esse “choque com a realidade”, impacto sofrido por todo profissional que inicia a profissão (FRANCO, 2007). Saber como ensinar é igualmente importante. Se o educador não conhecer as diferentes estratégias e metodologias de ensino, não souber explorar as diferentes tecnologias que podem ser empregadas na educação, de nada adianta dominar a teoria. De acordo com os especialistas, desenvolver estratégias para facilitar a aprendizagem, assim como ter profundo conhecimento de como ocorre o desenvolvimento cognitivo do educando, faz parte das ações dos bons educadores. Muita informação não é mesmo? Mas o mais importante é você compreender a relevância de se conhecer o espaço de trabalho para concretização de qualquer proposta de intervenção ou modificabilidade. 17 6 A EDUCAÇÃO INERENTE À SOCIEDADE HUMANA Para muitos pesquisadores, a educação é considerada como um processo inerente a todas as sociedades humanas. É através dela que o homem e a sociedade se desenvolvem. Durante muito tempo houve uma diferença radical entre o homem e o animal. O homem, enquanto ser que aprende pela experiência, ao perceber que uma determinada experiência é eficaz e boa, ou ineficaz e danosa, trata de conservar o conhecimento referente a essa experiência e transmitir às próximas gerações, visando, assim, dar continuidade à espécie. Em qualquer lugar ou tempo em que tiver um grupo de pessoas, é possível encontrar procedimentos que tendem a transmitir aos jovens valores, vivências e aptidões testados e aprovados. Nas sociedades antiga (modo de produção escravista) e medieval (modo de produção feudal), com a apropriação das terras privadas houve o surgimento da classe ociosa, que vivia do trabalho alheio e, com isso, pôde se dedicar a uma educação diferente, com a função de preencher o tempo livre de uma forma mais digna. Em contrapartida, o restante da sociedade (formada por trabalhadores livres e escravos) era educada de forma assistemática, baseada na própria experiência de vida e voltada para o trabalho. Já na sociedade moderna e capitalista, classe dominante se tornou empreendedora, procurando sempre revolucionar as relações de produção e, dessa forma, afetou a sociedade por completo. Durante esse processo a agricultura foi subordinada à indústria e o campo à cidade. A educação "primitiva" advinha de quatro aspectos importantes: o saber (relacionado ao conhecimento), o estar (relacionado em reconhecer a posição na sociedade e agir em conformidade com ela), o fazer (relacionado à aptidão técnica) e o ser (relacionado ao valor). Esse tipo de educação era conservadora, visando transmitir aos jovens o modo de ser e estar, e também a experiência e visão de Só os seres humanos são educáveis, porque só eles adquirem as noções e comportamentos que os caracterizam por aprendizagem. 18 mundo dos mais velhos, não existindo lugar para inovação, criatividade e originalidade. Deve ser devido a esses motivos que a sociedade nessa época cresceu de forma extraordinariamente lenta. Durante a idade média a nobreza dispensou a educação intelectual por muito tempo, bastando apenas o treinamento militar e o conhecimento e saber de quem estava no topo da pirâmide social. Essa formação intelectual passou a ser destinada ao clero. Ao clero compete também a direção espiritual da Cristandade, exigindo assim uma preparação de natureza teológica, por muitas vezes precária; em contrapartida tornava-se necessário o aprendizado do latim, a língua do culto, surgindo assim a cultura greco-romana. A educação primitiva, tal como a educação moderna, incidia sobre o 'saber', o 'fazer', o 'ser' e o 'estar'. Durante a Idade Média, a educação intelectual restringe-se ao clero, a única classe que dela carecia, devido às suas funções de direção espiritual da Cristandade. 19 7 OS DILEMAS DO PROFESSOR INICIANTE Fontes: nova-escola-producao.s3.amazonaws.com A seguir, você terá a oportunidade de ler fragmentos de uma pesquisa sobre os dilemas do professor em início de carreira, publicada na Revista Multidisciplinar da UNIESP – 2009. [...] O enfoque nesta fase inicial da carreira docente tem se dado por ser considerada “[...] um período muito importante da história profissional do professor, determinando inclusive seu futuro e sua relação com o trabalho” (TARDIF, 2002, p.84). De modo geral, o início da carreira constitui um período marcado por crises. Pesquisas revelam que esse período é considerado pelo professor como um dos piores da vida profissional docente. (HUBERMAM, 1992). Aproximadamente os primeiros cinco anos marcam o início na carreira, considerando que é bastante complexo precisar quando o professor deixa de ser “iniciante”, pois o predicativo iniciante refere-se a uma categoria transitória e situacional. Autores que discutem o início da carreira como Esteves (1995), Veenman (1984), analisam que estes profissionais ao chegarem à realidade escolar sofrem o que denominam de “choque de realidade”, que representa as dificuldades na nova profissão. Esse choque, se não for bem gerido pelo professor com apoio de outros profissionais da educação mais experientes, pode provocar sérios danos à construção do perfil do docente que neste momento se inicia no trabalho escolar. 20 Os dilemas e dificuldades do professor iniciante são causados pela exigência de atuação na resolução de vários problemas, entre os quais, segundo Franco (2000, p.34) destaca-se: problemas em conduzir o processo de ensino e de aprendizagem, considerando as etapas de desenvolvimento de seus alunos e o conteúdo a ser desenvolvido; problemas com a disciplina dos alunos e com a organização da sala de aula. Neste momento o professor sente “[...] como se da noite para o dia o indivíduo deixasse subitamente de ser estudante e sobre os seus ombros caísse uma responsabilidade profissional, cada vez mais acrescida, para qual percebe não estar preparado. ” (Silva, 1997, p.53). No entanto, é importante ressaltar que se são os piores anos, também constituem um momento profícuo para mudanças e desenvolvimento profissional, pois, segundo Perrenoud (2002, p.14), favorecem a tomada de consciência e o debate. Enquanto os profissionais experientes não consideram ou nem percebem mais seus gestos cotidianos, os estudantes medem o que supõem ser serenidade e competência duramente adquiridas. [...] a condição de principiante induz em certos aspectos, a uma disponibilidade, a uma busca de explicação, a um pedido de ajuda, a uma abertura à reflexão. Finalizo esta aula lembrando que, não importa se você será (ou não) professor, mas tome essas reflexões para qualquer profissional em início de carreira.“Grandes obras são executadas não pela força, mas pela perseverança” – Samuel Johnson 21 8 O INÍCIO DA CARREIRA E A FORMAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA Fonte: canaldoensino.com.br São muitos os problemas que o docente encontra na fase de entrada na carreira e, de acordo com Veenman (1984), o mais completo refere-se ao “choque com a realidade”, sentimento decorrente das expectativas iniciais em relação à carreira e a realidade vivenciada nas escolas. Tal sensação leva o professor a repensar tudo o que foi estudado e fazer uma sistematização disso com a prática. Deste modo, podemos entender que o “[...] início da carreira docente está intimamente ligado ao período que antecede esta atuação, ou seja, a formação profissional” (ROCHA, 2004, p. 04) e, no caso da presente pesquisa, suas experiências com a Matemática no decorrer de sua formação nos cursos de Pedagogia. Souza (2009) considera que é no começo da carreira que o professor se vê a mercê da sorte, sem ter com quem compartilhar suas dificuldades. Com isso, a autora afirma ainda que por não ter experiência profissional, “[...] o professor acaba apoiando sua prática em ações que vivenciou na época de estudante, reproduzindo a prática de seus antigos professores [...]” (SOUZA, 2009, p. 37). Assim, ainda descrevendo características das dificuldades deste momento, a autora enfatiza que “[...] é importante ressaltar que se são os piores anos, também 22 constituem um momento profícuo para mudanças e desenvolvimento profissional [...]” (SOUZA, 2009, p. 38) podendo instigar o docente a ter uma maior consciência de seus métodos de ensino levando-o a investigar por meio de suas vivências, inseguranças e experiências seus acertos e erros, para saber como a identidade profissional, pois se por um lado a uma complexidade inicial que distancia a realidade vivida em sala de aula das teorias estudadas, por outro lado há entusiasmo em conhecer a melhor forma de lidar com os conteúdos programados que por vezes são dados como abstrusos, assim o “[...] turbilhão de sentimentos como angústia, insegurança, vivenciados pelo professor, dialeticamente [...]” passa a ser “[...] combustível para que este possa se reafirmar na profissão” (SOUZA, 2009, p. 39). Se em um primeiro momento o início de carreira é difícil, notaremos, então, que muitos acadêmicos de Pedagogia não entendem a complexidade do processo de ensino e aprendizagem da Matemática escolar no curso de formação inicial por se tratar, muitas vezes, de “[...] uma formação centrada em processos metodológicos, desconsiderando os fundamentos da matemática” (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2009, p. 17). 9 A EDUCAÇÃO COMO MEIO DE TRANSFORMAÇÃO Inicialmente, conversamos sobre o conceito das perspectivas tradicionais e construtivistas, depois refletimos sobre a questão da educação como instrumento de libertação e como a escola pode servir tanto para a alienação, como para emancipação do homem na sociedade. Agora, nossas reflexões serão para compreensão da escola como um espaço para reprodução das lutas de classes e desigualdades sociais. 23 Fonte: www.fotosearch.com.br As diversas relações estabelecidas são resultado de uma construção histórica. Como já vimos nas aulas anteriores, o homem, historicamente, desenvolve a educação por meio da aprendizagem mútua “(...) O homem é sujeito em meio a relações dialéticas e históricas, as quais envolvem questões políticas, econômicas, sociais e culturais”. Como nos ensina Leontiev (1978), o homem é um ser de natureza social e tudo o que tem de humano nele é resultado da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade. Conforme afirma Ponce (1986), na sociedade primitiva, sem a divisão de classes, os objetivos da educação são resultados da estrutura homogênea do ambiente social, identificando-se com os interesses comuns do grupo, acontecendo de forma igualitária para todos os membros. O modelo de sociedade primitiva é superado a partir do momento em que se estabeleceu a divisão de classes, onde acontece a substituição da propriedade comum pela propriedade privada, o processo educativo, também, sofre tais influências. Conforme Pires (2003, p. 46-47), na sociedade dividida em classes, a educação é utilizada para formar o “[...] homens limitado e cerceado em suas possibilidades de enriquecimento: para o fortalecimento do homem unilateral”. Quando falamos de escola não estamos nos referindo a uma instituição restrita, somente especializada em tratar de uma educação sistematizada e sistêmica, mas de uma forma ampla e globalizante como forma de compreensão do homem, e suas relações em sociedade. 24 Afirma ainda que, tal direcionamento perpassa a escola, pois “[...] Tanto na escola como na vida, a educação burguesa é um instrumento de dominação de classe, tendo seu poder localizado, sobretudo na capacidade de reprodução [...] adequadas à reprodução dos interesses e do poder burguês” (PIRES, 2003, p. 47). A autora Otaíza Romanelli (2002) chega a afirmar que a escola surge como instrumento para a manutenção dos desníveis sociais. Salienta que a função desta foi a de manter privilégios, pois a própria instituição se apresenta como privilégio da classe dominante a partir do momento que se utiliza de mecanismos seletivos e de conteúdo cultural que não propicia às camadas sociais, ao menos, uma preparação eficaz para o trabalho. 10 CARACTERÍSTICAS PECULIARES AO PROFESSOR Fonte: www.overmundo.com.br 1. Está entre duas identidades, o de ser aluno e de assumir-se como professor; 2. O estresse, a angústia, diversos medos e mesmo momentos de pânico assumem enorme importância, eles diminuem com a experiência e com a confiança; 25 3. Precisa de muita energia, de muito tempo e de muita concentração para resolver problemas que o profissional experiente soluciona de forma rotineira; 4. A forma de administrar o tempo (preparação, correção, trabalho de classe) não é muito segura, e isso lhe provoca desequilíbrio, cansaço e tensão 5. Passa por um estado de sobrecarga cognitiva devido ao grande número de problemas que tem de enfrentar. Em um primeiro momento, conhece a angústia da dispersão, em vez de conhecer a embriaguez do profissional que “joga” com um número crescente de bolas; 6. Geralmente se sente muito sozinho, distante de seus colegas de estudo, pouco integrado ao grupo e nem sempre se sente acolhido por seus colegas mais antigos; 7. Está em um período de transição, oscilando entre os modelos aprendidos durante a formação inicial e as receitas mais pragmáticas que absorve no ambiente profissional; 8. Não consegue se distanciar do seu papel e das situações; 9. Tem a sensação de não dominar os gestos mais elementares da profissão, ou de pagar um preço muito alto por ele; 10. Mede a distância entre o que imaginava e o que está vivenciando, sem saber ainda que esse desvio é normal e não tem relação com incompetência nem com sua fragilidade pessoal, mas que está ligado à diferença que há entre a prática Autônoma e tudo o que já conhecera. Assim, no “[...] turbilhão de sentimentos como angústia, insegurança, vivenciados pelo professor, dialeticamente [...]” passa a ser “[...] combustível para que este possa se reafirmar na profissão” (SOUZA, 2009, p. 39). E para que isto aconteça é necessário que possa recorrer ao apoio da instituição que trabalha e aos referenciais de sua formação inicial. 26 11 A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA TRANSFORMADORA Fonte: image.slidesharecdn.com Para Suchodolski (1977), a Pedagogia pode ser considerada como a ciência sobre a atividade transformadora da realidade educativa. A Pedagogia é uma ciência da prática social da educação. A atividade educativa que acontece em todos os espaços sociais só é efetivamente educativa quando transformae emancipa o cidadão. A emancipação, por sua vez só acontece quando existe o enfrentamento das contradições. Com a consciência de sua existência enquanto cidadão, num mundo repleto de relações contraditórias a serem enfrentadas e transformadas, é que se estabelece a emancipação. No mundo em que vivemos, os processos que transformadores e a análise crítica que incide no sistema social desaparecem. Desse modo os programas educativos admitem o sujeito adaptando-o à sociedade, visando assim aumentar a produtividade, o lucro e a alienação do processo educativo. A Pedagogia é uma ciência da prática social da educação. Historicamente a formação de pedagogos no Brasil sempre esteve vinculada ao preparo do profissional para atuar dentro da escola, se envolvendo com o processo de ensino e aprendizagem. Da escola jesuítica tradicional até os dias de hoje, existiu uma ambiguidade que se resume em dois enfoques: da técnica e 27 instrumental, da operacionalização metodológica a partir dos estudos das ciências da educação. Uma formação voltada para a aplicação prática e outra voltada para a aplicação da ciência da educação. Pensar em uma Pedagogia Social é pensar em uma Pedagogia que tenha qualidade social, analisando e interpretando contextos e fatores que ainda não foram totalmente explorados. Segundo Freire (1982), “É que, quase sempre, num primeiro momento deste descobrimento, os oprimidos, em lugar de buscar a libertação, na luta e por ela, tendem a ser opressores também, ou sub-opressores”. Atuar na Pedagogia Social é definir uma concepção teórica a partir de parâmetros da educação crítica. É também uma escolha política, com interesse social, com intenção delimitada, pelas necessidades dos excluídos e marginalizados, não só os sujeitos pobres, os miseráveis. De acordo com Caliman: A Pedagogia Social seria necessária numa sociedade com um sistema educacional excelente? Perguntei, certa vez, a uma amiga professora de uma universidade finlandesa se a Finlândia, por ser um país altamente desenvolvido na implementação das políticas educacionais, precisaria da contribuição da Pedagogia Social. Sua resposta ligou-se ao fato de que a Pedagogia Social não é um privilégio da área da pobreza, mas principalmente das áreas de conflito social. E os conflitos existem em todas as sociedades, mesmo as mais desenvolvidas. No caso da Finlândia, além da presença de problemas ligados à migração, enfrenta outros inerentes à sua rica sociedade, como, por exemplo, o crescimento de uma juventude pouco preocupada com os problemas sociais, com a solidariedade e com os ‘outros’, marcada por atitudes de indiferença e de autocentrismo. Portanto, mesmo as sociedades mais abastadas têm necessidade de intervenções que recuperem atitudes voltadas para a solidariedade, a paz, e o bem comum. (CALIMAN, 2011, p. 257). Fonte: www.icguedes.pro.br 28 Pedagogia como foco de estudo e como ciência tem por objeto uma educação que não está fechada na escola, mas está para além dela. Segundo Libâneo (1999), “o aspecto educativo diz respeito à atividade de educar propriamente dita, à relação educativa entre agentes, envolvendo objetivos e meios de educação e instrução, em várias modalidades e instâncias”. A educação se insere no processo social, como parte de um todo, onde se encontra uma sociedade, seus conflitos e dinamismos. É com a Pedagogia que surge a educação intencional que acontece quando o ato de educar passa a ser um objeto explícito de atenção, criando uma educação sistematizada. Quanto a nós, se pretendemos ser educadores (especialistas em educação) é porque não nos contentamos com a educação assistemática. Nós queremos educar de modo intencional e por isso nos preocupamos com a educação. (SAVIANI,2002, p.48). QUESTÃO 01 Para organizar o projeto da escola, faz-se necessário pensar nas finalidades cultural, política, social, profissional e humana que a escola se propõe, como alcançá-las e quais ações devem ser priorizadas. A finalidade humana visa: a) Preparar o estudante para a compreensão do papel do trabalho na sua formação. b) Preparar culturalmente os indivíduos para compreender melhor a sociedade em que vivem. c) Formar o estudante integralmente. d) Formar os indivíduos para participarem politicamente na sociedade da qual fazem parte. e) Definir coletiva mente os conteúdos curriculares. QUESTÃO 02 Julgue as afirmativas a seguir. I. No trabalho pedagógico diário, o professor precisa gerir o uso do tempo em sala de aula direcionado para aprendizagem. ATIVIDADES DE FIXAÇÃO 29 II. As situações no relacionamento com seus alunos, ou mesmo entre eles, podem comprometer o ambiente ou o empenho coletivo no processo de ensino- aprendizagem. III. Os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática. IV. A existência de uma pluralidade de saberes docentes possibilita a formação ou a existência de um único padrão de práticas docentes que viabilizem o sucesso na aprendizagem. Está correto apenas o que se afirma em: a) I e IIl. b) I e IV. c) II e III. d) II, III e IV. e) l.ll e lll QUESTÃO 03 A Didática, como disciplina e campo de conhecimento, é marcada pelas mudanças gestadas pelo próprio campo em interface com as áreas afins. Como disciplina e campo de conhecimento, a Didática tem como objeto de estudo o a) Aluno. b) Método de ensino. c) Professor. d) Processo de ensino. e) Ensino escolar QUESTÃO 04 Considerando a articulação entre Pedagogia, Didática e Práxis Educativa, é coerente afirmar, EXCETO, que: a) A educação só poderá ser transformadora, quando houver por parte do seu profissional uma postura de percepção dos fatos que estão acontecendo ao seu redor, com vistas a promover readequações que contribuam para o cumprimento de sua intencionalidade. 30 b) O momento fundamental da prática educativa é a reflexão crítica, uma vez que esta pode conduzir caminhos que proporcionem melhorias para próximas práticas, pois a reflexão crítica da práxis educativa conduz a um novo movimento de pesquisa. c) A ação teórico-prática da Pedagogia sobre seu objeto de pesquisa, que é a práxis educativa, poderá ser compreendida como práxis pedagógica. Então, a práxis pedagógica será o exercício do fazer científico sobre a práxis educativa. d) A pedagogia é a ciência que transforma o senso comum pedagógico, a arte intuitiva presente na práxis, em atos científicos, sob a luz de valores educacionais, garantidos como relevantes socialmente. e) A práxis educativa, objeto da ciência pedagógica caracteriza-se pela ação não intencional de sua prática, prescindindo de um processo reflexivo de fins e meios. Diferentemente, de outras práticas sociais, que até podem funcionar, em certos momentos, como práticas educativas, mas por serem organizadas intencionalmente, não foram, até então, objeto de estudo da Pedagogia, apesar de estarem incluídas no amplo contexto da educação. QUESTÃO 05 A abordagem histórico-social compreende o homem como sujeito que se constitui socialmente num dado contexto. Nessa abordagem, o desenvolvimento humano é entendido como processo a) Que precede à aprendizagem. b) Impulsionado pela aprendizagem. c) Simultâneo à aprendizagem. d) Que independe da aprendizagem. e) Não interfere na aprendizagem 31 12 A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Fonte: slideplayer.com.br A Ao longo da história da educação, é possível perceber que o ensino e a aprendizagem são compostas por práticas e teorias inseparáveis. Assim o discurso para romper a dualidade entre a teoria e a prática não pode ser discutido, enquanto for parte do todoeducacional. No entanto é preciso entender e compreender o caminho histórico da Didática e suas implicações na formação do professor. Um campo destinado a Didática é o constante manejo entre a teoria e prática com as outras áreas do conhecimento com a finalidade de dar suporte ao professor no desenvolvimento de suas habilidades e competências diante da educação. Libâneo (2012, p. 16) refere-se ao assunto e diz que: [...] a formação de professores precisa buscar uma unidade do processo formativo. A meu ver essa unidade implica em reconhecer que a formação inicial e continuada de professores precisa estabelecer relações teóricas e práticas mais sólidas entre a didática e a epistemologia das ciências, de modo a romper com a separação entre conhecimentos disciplinares e conhecimentos pedagógico-didáticos. 32 O estudo da didática é realizado há séculos por diferentes autores, estudiosos e teóricos que procuravam identificar e discutir as várias formas técnicas e os modelos metodológicos educacionais existentes, com o intuito de melhorar a educação. Comenius (1651) reconhece o direito à educação e a importância da Didática em relação ao ensino e ao aprendizado na vida de todo ser humano. De acordo com ele: Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados, de ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas, ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo solido, não superficialmente, de qualquer manheira, mas para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes, a uma piedade mais profunda (COMENIUS, 1651, p. 13). Damis (1988, p. 13), relata a evolução da Didática em paralelo com a história da educação quando diz: Desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey, Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu um longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada através de uma prática social específica – a pedagogia -, esta educação organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir- assimilar) o saber erudito produzido pela humanidade. A literatura educacional da área aponta vários estudos feitos sobre o processo de formação do professor, destacando-se dentre estes Gómez (1992), Candau (1993), Pereira (1999), Contreras (2002) e Alarcão (2001), que de modo geral, abordam os paradigmas/modelos de formação do professor, questionam suas implicações no processo de ensino e de aprendizagem e explicitam as competências e os saberes relativos a cada modelo de formação. Existem 4 paradigmas (modelos) para a formação do professor: Professor culto – aquele que domina os saberes Professor técnico – aquele que aderiu ao saber-fazer técnico Professor prático-reflexivo – aquele que constrói um saber pela reflexão da experiência, tornando-se um pesquisador Professor Ator social – aquele engajado na definição do projeto0 da escola e de sua gestão. Saviani (2005), ao escrever sobre a história da formação docente no Brasil, cita em seu estudo a LDB 9394/96. Segundo a Lei, 33 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal (BRASIL, 1996). Estudar a Didática no Ensino Superior, não quer dizer que o profissional irá acumular as informações sobre as técnicas e as práticas do processo de ensino e aprendizagem, mas que receberá uma capacidade crítica para questionar e fazer reflexão sobre as informações adquiridas ao longo de todo processo. Conforme dizia Veiga (2010, p. 58) é preciso “tornar o ensino da Didática mais atraente e respaldado nos resultados das investigações envolvendo alunos em processo de formação”. A Didática dentro do currículo é muito importante para o professor. Veiga (1989, p. 22) diz que “o papel fundamental da Didática no currículo de formação de professor é o de ser instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica, contribuindo para a formação da consciência crítica”. Ele ainda afirma que: Enfatizar o processo didático da perspectiva relacional significa analisar suas características a partir de quatros dimensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação reciproca e interdisciplinar das dimensões fundamentais. Integram-se, são complementares. (VEIGA, 2004, P.13) A Didática como ciência deve desenvolver a capacidade crítica dos professores que estão em formação, para que possam analisar de forma clara e objetiva a realidade do ensino de modo que possibilite ao educando construir seu próprio saber e não seja alienado apenas com o que lhe é falado. A educação é um processo que faz parte do conteúdo global da sociedade e significa entender que a prática pedagógica é parte integrante do todo social. 34 13 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA PRÁTICA ESCOLARES Nas próximas aulas vamos tratar das concepções pedagógicas propriamente ditas, ou seja, vamos abordar as diversas tendências teóricas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana. Desse modo, estaremos aprofundando a compreensão da articulação entre filosofia e educação, que, aqui, atinge o nível da concepção filosófica da educação, que se sedimenta em uma pedagogia. Genericamente, podemos dizer que a perspectiva redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas. Essa discussão tem uma importância prática da maior relevância, pois permite a cada professor situar-se teoricamente sobre suas opções, articulando-se e auto definindo-se. O presente capítulo de autoria de José Carlos Libâneo é a reprodução do capítulo 1 - "Tendências Pedagógicas na Prática Escolar" - do livro Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos, São Paulo, Loyola, 1985, autorizada pela Editora e pelo autor, aos quais agradecemos. Foram introduzidas modificações na Introdução do capítulo para articulá-lo com o conteúdo deste livro. Para desenvolver a abordagem das tendências pedagógicas utilizamos como critério a posição que cada tendência adota em relação às finalidades sociais da escola. Assim vamos organizar o conjunto das pedagogias em dois grupos, conforme aparece a seguir: 2.3 crítico-social dos conteúdos 35 36 14 TENDÊNCIA LIBERAL E TENDÊNCIA PROGRESSISTA Fonte: blogdonikel.files.wordpress.com Devemos aqui definir que existem diferentes níveis e modalidades de educação, desde a Educação Infantil (creche) até o último grau de Doutorado. Além de escolas que são privadas e públicas (municipal/federal). O funcionamento das escolas, dos cursos de graduação, pós e outros, são gerenciados, senão “fiscalizados” por órgãos de instância maior: Ministério da Educação (MEC), Secretarias Estaduais/municipais (SEE), Superintendências Regionais de Educação (SRE), e que definem diretrizes nacionais e locais para a educação. O termo liberal não tem o sentido de "avançado", "democrático", "aberto", como costuma ser usado. A doutrina liberal apareceu como justificação do sistema capitalista que, ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais da sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes. A pedagogia liberal,portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinquenta anos, tem sido marcada pelas tendências liberais, nas suas formas ora conservadora, ora renovada. 37 Evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se deem conta dessa influência. A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou ativa), o que não significou a substituição de uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem na prática escolar. Na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual. A tendência liberal renovada acentua, igualmente, o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. Mas a educação é um processo interno, não externo; ela parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio. A educação é a vida presente, é a parte da própria experiência humana. A escola renovada propõe um ensino que valorize a autoeducação (o aluno como sujeito do conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela atividade; um ensino centrado no aluno e no grupo. A tendência liberal renovada apresenta-se, entre nós, em duas versões distintas: a renovada progressivista2, ou pragmatista, principalmente na forma difundida pelos pioneiros da educação nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira (deve-se destacar, também a influência de Montessori, Decroly e, de certa forma, Piaget); a renovada não-diretiva orientada para os objetivos de auto realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers. 38 A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de "recursos humanos" (mão-de-obra para a indústria). A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas. No tecnicismo acredita- se que a realidade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens descobri- las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tecnologia (aproveitamento ordenado de recursos, com base no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento da sociedade; a educação é um recurso tecnológico por excelência. Ela "é encarada como um instru- mento capaz de promover, sem contradição, o desenvolvimento econômico pela qualificação da mão-de-obra, pela redistribuição da renda, pela maximização da produção e, ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento da ‘consciência política indispensável à manutenção do Estado autoritário”. Utiliza-se basicamente do enfoque sistêmico, da tecnologia educacional e da análise experimental do comportamento. O termo "progressista", emprestado de Snyders9, é usado aqui para designar as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Evidentemente a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser ela um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais. A pedagogia progressista tem-se manifestado em três tendências: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. As versões libertadora e libertária têm em comum o antiautoritarismo, a valorização da experiência vívida como base da relação educativa e a ideia de autogestão pedagógica. Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendizagem grupal (participação em discussões, assembleias, votações) do que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática educativa somente faz 39 sentido numa prática social junto ao povo, razão pela qual preferem as modalidades de educação popular "não-formal". A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado. 15 TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.4 Papel da escola - A atuação da escola consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem procurar o ensino mais profissionalizante. http://slideplayer.com.br/slide/1421680/ 40 Conteúdos de ensino - São os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica. Métodos - Baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor, observados os seguintes passos: a) preparação do aluno (definição do trabalho, recordação da matéria anterior, despertar interesse); b) apresentação (realce de pontos-chaves, demonstração); c) associação (combinação do conhecimento novo com o já conhecido por comparação e abstração); d) generalização (dos aspectos particulares chega-se ao conceito geral, é a exposição sistematizada); e) aplicação (explicação de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios). A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos. Relacionamento professor-aluno - Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmiteo conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio. Pressupostos de aprendizagem - A ideia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características próprias de cada idade. A aprendizagem, assim, é receptiva e mecânica, para o que se recorre frequentemente à coação. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. A transferência da aprendizagem depende do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o aluno possa responder às situações novas de forma semelhante às respostas dadas em situações anteriores. A avaliação se dá por verificações de curto prazo (interroga- tórios orais, exercício de casa) e de prazo mais longo (provas escritas, trabalhos de 41 casa). O esforço é, em geral, negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às vezes, é positivo (emulação, classificações). Manifestações na prática escolar - A pedagogia liberal tradicional é viva e atuante em nossas escolas. Na descrição apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou leigas que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma orientação humano-científica, sendo que está se aproxima mais do modelo de escola predominante em nossa história educacional. 16 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSISTA Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.7 Papel da escola - A finalidade da escola é adequar as necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela deve se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida. Todo ser dispõe dentro de si mesmo de mecanismos de adaptação progressiva ao meio e de uma consequente integração dessas formas de adaptação no comportamento. Tal integração se dá por meio de experiências que devem satisfazer, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigências sociais. À escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se, num http://slideplayer.com.br/slide/1421680/ 42 processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente. Conteúdos de ensino - Como o conhecimento resulta da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se de "aprender a aprender", ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito. Método de ensino - A ideia de "aprender fazendo" está sempre presente. Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas. Embora os métodos variem, as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly, Cousinet e outros) partem sempre de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas do seu desenvolvimento. Na maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em grupo não apenas como técnica, mas como condição básica do desenvolvimento mental. Os passos básicos do método ativo são: a) colocar o aluno numa situação de experiência que tenha um interesse por si mesma; b) o problema deve ser desafiante, como estímulo à reflexão; c) o aluno deve dispor de informações e instruções que lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções; d) soluções provi- sórias devem ser incentivadas e ordenadas, com a ajuda discreta do professor; e) deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova, a fim de determinar sua utilidade para a vida. Relacionamento professor-aluno - Não há lugar privilegiado para o professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança; se intervém, é para dar forma ao raciocínio dela. A disciplina surge de uma tomada de consciência dos limites da vida grupal; assim, aluno disciplinado é aquele que é solidário, participante, respeitador das regras do grupo. Para se garantir um clima harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento positivo entre professores e alunos, uma forma de instaurar a "vivência democrática" tal qual deve ser a vida em sociedade. Pressupostos de aprendizagem - A motivação depende da força de estimulação do problema e das disposições internas e interesses do aluno. Assim, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o 43 ambiente apenas o meio estimulador. É retido o que se incorpora à atividade do aluno pela descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. A avaliação é fluida e tenta ser eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente reconhecidos pelo professor. Manifestações na prática escolar - Os princípios da pedagogia progressista vêm sendo difundidos, em larga escala, nos cursos de licenciatura, e muitos professores sofrem sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não somente por falta de condições objetivas como também porque se choca com uma prática pedagógica basicamente tradicional. Alguns métodos são adotados em escolas particulares, como o método Montessori, o método dos centros de interesse de Decroly, o método de projetos de Dewey. O ensino baseado na psicologia genética de Piaget tem larga aceitação na educação pré-escolar. Pertencem, também, à tendência progressivista muitas das escolas denominadas "experimentais", as "escolas comunitárias" e mais remotamente (década de 60) a "escola secundária moderna", na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima. 17 TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA Fonte: slideplayer.com.br 44 Papel da escola – Acentua-se nesta tendência o papel da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está em estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal ás solicitações do ambiente. Rogers4 considera que o ensino é uma atividade excessivamente valorizada; para ele os procedimentos didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem muito pouca importância, face ao propósito de favorecer à pessoa um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo próprio e com seus semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito semelhante ao de uma boa terapia. Conteúdos de ensino – A ênfase que esta tendência põe nos processos de desenvolvimento das relações e da comunicação torna secundária a transmissão de conteúdos. Os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios para buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, são dispensáveis. Métodos de ensino – Os métodos usuais são dispensados, prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do professor em desenvolver um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das características do professor "facilitador": aceitação da pessoa do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo e ter plena convicção na capacidade de autodesenvolvimento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimentos de cada um possam ser expostos, sem ameaças. Assim, o objetivo do trabalho escolar se esgotanos processos de melhor relacionamento interpessoal, como condição para o crescimento pessoal. Relacionamento professor-aluno – A pedagogia não-diretiva propõe uma educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através da vivência de experiências significativas que lhe permitam desenvolver características inerentes à sua natureza. O professor é um especialista em relações humanas, ao garantir o clima de relacionamento pessoal e autêntico. Toda intervenção é ameaçadora, inibidora da aprendizagem. Pressupostos de aprendizagem – A motivação resulta do desejo de adequação pessoal na busca da auto realização; é, portanto, um ato interno. A motivação aumenta, quando o sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de 45 agir em termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve a valorização do "eu". Aprender, portanto, é modificar suas próprias percepções; daí que apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. Resulta que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao "eu", ou seja, o que não está envolvido com o "eu" não é retido e nem transferido. Portanto, a avaliação escolar perde inteiramente o sentido, privilegiando-se a auto avaliação. Manifestações na prática escolar - Entre nós, o inspirador da pedagogia não-diretiva é C. Rogers, na verdade mais psicólogo clínico que educador. Suas ideias influenciam um número expressivo de educadores e professores, principalmente orientadores educacionais e psicólogos escolares que se dedicam ao aconselhamento. 18 TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.9 Papel da escola - Num sistema social harmônico, orgânico e funcional, a escola funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas. À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de http://slideplayer.com.br/slide/1421680/ 46 habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. Tal sistema social é regido por leis naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas relações funcionais observáveis entre os fenômenos da natureza), cientificamente descobertas. Basta aplica-las. A atividade da "descoberta" é função da educação, mas deve ser restrita aos especialistas; a "aplicação" é competência do processo educacional comum. A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas. A pesquisa científica, a tecnologia educacional, a análise experimental do comportamento garantem a objetividade da prática escolar, uma vez que os objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que independem dos que a conhecem ou executam. Conteúdos de ensino - São as informações, princípios científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos audiovisuais etc. Métodos de ensino - Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a importância da tecnologia educacional. A tecnologia educacional é a "aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e tecnológicos a problemas educacionais, em função de resultados efetivos, utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica abrangente"5. Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade deles) possui três componentes básicos: objetivos instrucionais operacionalizados em comportamentos observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e avaliação. As etapas básicas de um processo ensino-aprendizagem são: a) 47 estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais; b) análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar sequencialmente os passos da instrução; c) executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. O essencial da tecnologia educacional é a programação por passos sequenciais empregada na instrução programada, nas técnicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego da tecnologia instrucional na escola pública aparece nas formas de: planejamento em moldes sistêmicos, concepção de aprendizagem como mudança de comportamento, operacionalização de objetivos, uso de procedimentos científicos (instrução programada, audiovisuais, avaliação etc., inclusive a programação de livros didáticos). Relacionamento professor-aluno - São relações estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos: o professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem; o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo- lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem. Pressupostos de aprendizagem - As teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja, o ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os sistemas instrucionais visam ao controle do comportamento individual face objetivos preestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das condições que cercam o organismo que se comporta. O objetivo da ciência pedagógica, a partir da psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis naturais que presidem as reações físicas do organismo que aprende, a fim de 48 aumentar o controle das variáveis que o afetam. Os componentes da aprendizagem - motivação, retenção, transferência - decorrem da aplicação do comportamento operante Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: "Se a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada". Entre os autores que contribuem para os estudos de aprendizagem destacam-se: Skinner, Gagné, Bloon e Mager. Manifestações na prática escolar - A influência da pedagogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50 (PABAEE - Programa Brasileiro-americano de Auxílio ao Ensino Elementar). Entretanto foi
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