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Fundamentos Histórico e Filosóficos da Educação

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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICOS E 
FILOSÓFICOS DA 
EDUCAÇÃO
Professor Me. Gilson da Costa Aguiar
Professor Me. Rodrigo Pedro Casteleira
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação 
a Distância; AGUIAR, Gilson da Costa; CASTELEIRA, Rodrigo 
Pedro. 
Fundamentos Históricos e Filosóicos da Educação. Gilson 
da Costa Aguiar; Rodrigo Pedro Casteleira. 
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2019.
240 p.
“Graduação - EaD”.
1. História. 2. Filosoia. 3. Educação. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0587-5
CDD - 22 ed. 370
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Giovana Costa Alfredo
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Designer Educacional
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Projeto Gráico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Ana Carolina Martins Prado
Qualidade Textual
Talita Dias Tomé
Ludiane Aparecida de Souza
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e proissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando proissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
proissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desaios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação proissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e proissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
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T
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E
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Professor Me. Gilson Costa de Aguiar
Possui mestrado em História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita Filho (1999). Graduação em História pela Universidade 
Estadual de Maringá (UEM/1991). Atualmente é professor titular do Centro 
Universitário de Maringá e do Ensino a Distância do UniCesumar. Atua 
nas áreas de Teoria das Ciências Sociais, Sociologia da Educação, Filosoia 
da Educação e História da Educação e possui livros publicados nas Áreas 
de Sociologia, Antropologia, Filosoia e História da Educação. Atua como 
jornalista na rede CBN de rádio e é âncora e colunista na CBN Maringá e 
Gazeta Maringá. 
http://lattes.cnpq.br/3020130108890878
Professor Me. Rodrigo Pedro Casteleira
Possui mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá 
(UEM/2014). Graduação em Filosoia, pela Universidade Estadual de Maringá 
(UEM/2006). Atualmente é professor de Filosoia da Rede Pública Paranaense, 
lecionando, também, as disciplinas de Fundamentos Históricos e Filosóicos 
da Educação para os cursos de licenciatura pelo Centro Universitário de 
Maringá (UniCesumar).
http://lattes.cnpq.br/2234110887343110
SEJA BEM-VINDO(A)!
Saudações aluno(a), este trabalho é a realização de um objetivo e o começo de um de-
saio. Feito para garantir, a quem está cursando uma licenciatura, um entendimento das 
origens do pensamento ocidental e, por consequência, de como está estruturada nossa 
forma de compreender a contemporaneidade.
Este livro é fruto de uma insistência em compreender melhor o que somos para traçar 
um caminho para o desenvolvimento do pensamento ocidental e da educação no Brasil. 
É ainda um desaio quanto à função deste material qualiicar quem educa, as pessoas 
que terão em suas mãos a capacidade de preparar outras e lhes dar potencial para mu-
dar seu destino. Desejamos que cada pessoa, ao lê-lo, se permita mergulhar no universo 
da curiosidade e pesquisa, a im de alcançar saberes e conhecimentos cada vez mais 
profundos. 
Na Unidade I, trabalharemos os pensadores clássicos. Colocaremos em questão as pri-
meiras construções do pensamento ocidental com o homem grego. Resgataremos os 
pré-socráticos e seus dramas da existência - drama que ainda hoje rodeia nossas vidas.
A partir da Unidade II, avançaremos para o pensamentomoderno e contemporâneo. A 
supremacia planetária da ilosoia ocidental: as conquistas econômicas e sociais da so-
ciedade europeia se expressaram em sua compreensão do homem, na sua organização 
política e, em especial, na formação dos estados nacionais. Assim, esta unidade ainda 
contempla os grandes clássicos das ciências sociais: o positivismo de Comte, o estrutu-
ralismo de Durkheim, o materialismo de Marx e a história cultural de Weber. Mais que 
isso, resgataremos os pensadores contemporâneos do existencialismo e os que resga-
taram por meio da fenomenologia a crise do indivíduo contemporâneo. Pelo fato de o 
homem de hoje estar em crise, necessitamos analisar com profundidade os fatores que 
a determinaram. Esse é um dos temas centrais da discussão desta unidade.
A Unidade III revelará o cenário brasileiro educacional desde a chegada dos jesuítas jun-
to da comitiva de colonização até a retirada do sistema educacional das mãos religiosas. 
Nesta Unidade será possível perceber a lacuna deixada pelo Estado no âmbito educacio-
nal até o período da República.
Na Unidade IV, o período republicano não revelará um melhoramento no sistema edu-
cacional, apesar da laicidade adquirida e da absorção das ciências vindas da Europa. Na 
prática, veremos que a educação icará voltada à formação de mão de obra trabalhado-
ra.
A Unidade V é uma espécie de provocação frente a algumas questões contemporâneas 
de discussão do corpo e da antropologia ilosóica. Ao se pensar no corpo e como fo-
ram algumas de suas categorias pensadas na história e ilosoia, é possível romper com 
alguns paradigmas que o marcam como essencialidade inlexível, além de ser pensado 
como múltiplo, ao mesmo tempo passível de respeitabilidade.
Procuraremos demonstrar o papel que o estado teve na ineiciência da educação pú-
blica ao longo de boa parte da história brasileira. Mesmo quando assumiu o papel de 
APRESENTAÇÃO
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS
DA EDUCAÇÃO
propagar a educação, fez de forma quantitativa e não qualitativa. Mesmo hoje, os 
resultados da educação do país, comparados com a de outros países, preocupam. 
O desempenho dos nossos alunos do ensino público comparado com o privado 
também é um dilema. A história é um importante instrumento para orientar nossa 
análise sobre esses problemas.
Esperamos que o objetivo seja atingido. Sempre haverá algo a ser refeito. Sempre 
teremos que repensar nossa forma de compreender o mundo, sempre descobrire-
mos imperfeições. A imperfeição é nossa característica mais importante, e o repen-
sar o nosso maior instrumento de superação - um trabalho que pedimos a ajuda dos 
nossos leitores. Não rogamos a plenitude, quando educar implica em reconhecer 
que se tem algo a aprender. Por isso, envie observações, faça e refaça também a sua 
versão sobre o conteúdo desta obra, ela é feita para você e deve ser revista a partir 
do momento em que você se relaciona com o conteúdo que está presente nela.
“Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, a frase de Heráclito nunca 
deve ser esquecida. Enquanto autores, pensamos que este trabalho é como um rio, 
não será visto por nós da mesma forma, assim como não seremos os mesmos após 
tê-lo produzido. Espero que você também se transforme ao entrar em contato com 
ele. Ele também irá mudar por tudo isto, com certeza. A mudança é uma necessida-
de, se a ciência puder promover as bases para que ela ocorra sem perder o sentido 
que a vida tem para cada um de nós, preservando a convivência social e respeitan-
do-a, este trabalho terá cumprido o seu papel.
Desejamos a você um proveitoso estudo!
Gilson de Costa Aguiar
Rodrigo Pedro Casteleira
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A ORIGEM DA FILOSOFIA
15 Introdução 
16 A Origem do Pensamento Filosóico: Dos Pré-Socráticos aos Clássicos Gregos
26 Além da Grécia: As Civilizações Que Herdaram O Pensamento Grego 
35 O Pensamento Filosóico Medieval 
45 O Nascimento do Islã 
48 Cruzadas: a Palavra, a Espada e o Combate ao Califado 
51 O Nascimento do Pensamento Ocidental Moderno 
61 A Construção do Estado Nacional e a Ciência Política 
69 O ‘Senhor’ do Pensamento Moderno 
74 Do Racionalismo às Portas do Iluminismo 
79 Considerações Finais 
UNIDADE II
DO PENSAMENTO ILUMINISTA AO CONTEMPORÂNEO
91 Introdução 
92 Iluminismo 
101 Teorias do Mundo Contemporâneo 
116 A Crise de Identidade Humana e as Teorias Contemporâneas 
125 Considerações Finais 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA AUSÊNCIA SENTIDA
137 Introdução
138 Os Primeiros Tempos 
145 Educação Laica, o Abandono 
151 Da Colônia ao Império 
163 Considerações Finais 
UNIDADE IV
DA VELHA REPÚBLICA À REPÚBLICA NOVA
175 Introdução
176 O Regime Republicano: Educação de saliva e papel 
184 Eis Que Getúlio se Estabelece: O Modelo Imposto 
191 O Regime Militar e a Educação Abaixo de Botas 
198 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
FILOSOFIA, MODERNIDADES E CORPOS
209 Introdução
210 O Chamado Período Moderno e algumas Interpretações 
214 Algumas Questões para se Pensar a Filosoia Atual 
216 A Filosoia da Linguagem 
218 Corpos: Saberes que Atravessam as Fronteiras 
230 Considerações Finais 
238 CONCLUSÃO 
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Professor Me. Gilson da Costa Aguiar
Professor Me Rodrigo Pedro Casteleira
A ORIGEM DA FILOSOFIA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Entender os desdobramentos do pensamento ilosóico ocidental na 
Antiguidade, Grécia e Roma.
 ■ Compreender a importância dos pensadores clássicos gregos – Sócrates, 
Platão e Aristóteles – e seus princípios que se propagaram além da Grécia. 
 ■ Estabelecer a relação entre o desenvolvimento de uma ilosoia clássica 
com as mudanças que o mundo sofreu na passagem da Antiguidade para a 
Idade Média.
 ■ Compreender o pensamento moderno, derivado da lógica medieval cristã 
e suas bases, para o racionalismo do Período Moderno.
 ■ Entender a racionalidade ocidental como elemento fundamental para 
o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que promoveram o 
desenvolvimento do Ocidente.
 ■ Relacionar o desenvolvimento da ciência política e do papel do poder na 
sociedade ocidental.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A origem do pensamento ilosóico: dos pré-socrático aos clássicos gregos
 ■ Além da Grécia: as civilizações que herdaram o pensamento grego
 ■ O pensamento ilosóico medieval
 ■ O nascimento do Islã
 ■ Cruzadas: a palavra, a espada e o combate ao califado
 ■ O nascimento do pensamento ocidental moderno
 ■ A construção do estado nacional e a ciência política
 ■ O ‘senhor’ do pensamento moderno
 ■ Do racionalismo às portas do iluminismo
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), a importância da ilosoia como base para a compreensão 
do mundo, muitas vezes, é questionada. Sempre estamos à volta de que a relexão 
sobre o mundo que nos cerca é distante demais da realidade e de suas necessi-
dades. Pode haver uma verdade nisso. Se há uma verdade, ela está relacionada 
à ignorância da necessidade de compreender o signiicado da vida humana, do 
que um educador não pode abrir mão, mas que infelizmente muitos abrem.
Diante desta dúvida, procuramos apresentar em cinco unidades a trajetória 
do pensamento ocidental. Em relatos resumidos, com relacionamento constante 
com a contextualização histórica de cada pensador(a) e o contexto em que sua 
obra foi produzida, buscamos desenvolver um texto com os pontos fundamen-
tais do histórico pessoal e os elementos fundamentais que sustentam sua teoria.
Esta unidade parte do pensamento clássico grego, demonstrando as teses 
de Sócrates, Platão e Aristóteles como base do pensamento ilosóico ociden-
tal. É possível perceber queesses autores são citados no decorrer da Unidade, 
servindo de base para os demais ilósofos, além de trazer pensamentos que per-
passam a Idade Média.
Teóricos como Santo Agostinho, Santo Anselmo, São Abelardo e São homaz 
de Aquino demonstram a corrente de pensamento organizada dentro do discurso 
católico. A relação direta entre o conhecimento de Deus e a verdade humana. 
Por mais que superado na chamada “modernidade’, essa concepção dominou a 
vida europeia.
Nesta Unidade, a principal sugestão é perceber quanto o pensamento clás-
sico (grego) e o pensamento religioso moldam o que se tornará a ética ocidental. 
Ainda hoje temos instituições religiosas que estabelecem sua perspectiva de exis-
tência nas concepções que você vai estudar nesta Unidade.
Boa leitura!
Introdução
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A ORIGEM DA FILOSOFIA
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A ORIGEM DO PENSAMENTO FILOSÓFICO: DOS PRÉ-
SOCRÁTICOS AOS CLÁSSICOS GREGOS
Platão nos traz Sócrates como igura emblemática em diversas de suas obras, na 
forma de diálogo, uma vez que este nada escreveu. Em uma delas, relata o julga-
mento do pensador grego, considerado corruptor da juventude, mesmo sendo 
avaliado como o maior dos ilósofos, o “pai da ilosoia”.
Nesse episódio, o julgamento foi resultado da denúncia de três moradores 
de Atenas – Ânito, Meleto e Lícon.
O primeiro, Ânito, era um importante comerciante grego. Sua discórdia com 
Sócrates foi o ilho, um aprendiz do pensador. O comportamento questionador 
do aprendiz irritou o pai. Dessa forma, juntou-se aos demais e fortaleceu a acu-
sação assinada por Meleto.
Meleto era um poeta pouco conhecido, mas segundo se levantou nas obras 
escritas por pensadores gregos, teria se indisposto com Sócrates pela sua forma 
de propagar ideias e de questionar o ganho de quem cobrava do ministério de 
ensinar, assim como Lícon, um professor desconhecido, o prestígio de Sócrates 
irritava. “A inveja também mata, tanto quanto a vaidade”.
A Origem do Pensamento Filosóico: dos Pré-Socráticos aos Clássicos Gregos
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O PENSAMENTO SOCRÁTICO
Sócrates é um personagem controverso. Jamais deixou uma obra escrita, pelos 
menos até o momento nunca foi encontrado nenhum manuscrito de sua auto-
ria. O que se sabe sobre ele vem de relatos de outros pensadores - discípulos, 
como Platão ou inimigos e críticos, como Aristófanes.
Ele se negava aos manuscritos por considerar que a palavra escrita prenderia 
a ideia e a colocaria limites, destruindo a capacidade de mudança e eternizando 
os erros. Hoje, são exatamente estes erros escritos que nos faz reescrever o que 
somos. Mas, em uma Grécia onde a oralidade era o elemento determinante para 
a preservação da memória e repassar o saber, não havia o que julgar a postura.
Sua oposição aos soistas, homens que percorriam as cidades discursando 
sobre temas da natureza e da vida pública, lhe rendeu muitos inimigos. Sua crítica 
direcionava-se à prática de discutir sem questionar, ainal os soistas se prendiam 
ao que não discutia a essência humana, mas apenas à manutenção da conduta ou 
à complexidade de raciocínios que os afastavam dos homens comuns.
Oposto à vida dos soistas, Sócrates era visto em meio ao povo, andava des-
calço. Segundo Platão, brincava com crianças e se apegava a pensar e reletir sobre 
as questões profundas da existência humana. Jamais cobrou sobre suas palestras 
e diálogos. É possível perceber em um dos diálogos descritos por Platão: “Disse 
ele que o encontrara Sócrates, banhado e calçado com as sandálias, o que pou-
cas vezes fazia” (PLATÃO, 1972, p. 174).
A vida de ilosofar e reletir sobre a existência humana e a capacidade de enten-
der o que nos cerca veio ainda na infância do pensador grego, quando sua mãe, 
uma parteira, não de proissão, ao ajudar o nascimento de uma criança, desper-
tou em Sócrates o sentido da relexão, o que icou conhecido como “maiêutica”.
O papel de um ilósofo, então, seria colaborar para despertar o nascimento 
da relexão, o que todo mundo tem como potencial dentro de si. Permitir que 
essa capacidade se expresse e se mantenha constante ao entender os elementos 
que dão sentido à vida humana.
Por isso, Sócrates não se considerava um denunciador da verdade, mas 
alguém que tinha por propósito despertar a capacidade das pessoas de buscá-
-la. Para ele, mais importante do que propagar a certeza seria estimular a dúvida.
A ORIGEM DA FILOSOFIA
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Ficamos pensando se não seria essa a função dos educadores. Não só aque-
les que se formam hoje para a educação institucionalizada, como também os 
que têm a capacidade de nos indagar sobre o que nos cerca, sobre o dia a dia e, 
enim, toda a nossa vida. Desvendar o sentido da existência é o verdadeiro sen-
tido de existir - de que adianta existir se não se tem a compreensão do porquê 
se existe. Mas, como todo pensador que compreende além do senso comum o 
sentido da vida, Sócrates pagou com a sua própria audácia de romper com o 
esperado, de sair do controle, o que o conduziu a pagar com a vida, sendo obri-
gado a beber veneno.
Conta-se que atirou uma parte do veneno à maneira do que se fazia 
num jogo que consistia em lançar o resto de um copo de vinho numa 
bacia de metal, invocando o nome da pessoa amada; se o jato pro-
duzisse um som vibrante, era sinal de que o amor era correspondido 
(GOTO, 2010, p. 110).
Nasceu em uma família humilde em 469 a.C, e foi condenado em 399 a.C. Sua 
origem humilde contracenou com grandes momentos da história grega em que 
foi protagonista. Ele liderou tropas gregas na Guerra do Peloponeso (431 a.C a 
404 a.C) e, ao ser derrotado, preferiu preservar a vida de seus homens a trazer 
consigo os corpos dos mortos. Um crime para os gregos, mas se livrou da sen-
tença ao argumentar “que sem os vivos não se pode enterrar os mortos”. Mas, 
por ter se tornado o pensador inluente que percorria Atenas e “contaminava” 
sua juventude, foi condenado em uma assembleia de 501 cidadãos.
O interesse dos juízes era que Sócrates se calasse, que fugisse para não ser 
executado ou que tivesse a língua cortada. Ele preferiu morrer, considerava que 
era um ganho diante das outras opções que demonstravam a perda de fazer o 
que mais gostava.
Para ele, morrer teria duas possibilidades desconhecidas, uma delas seria um 
sono eterno para quem morresse, seria o bom sono de uma única noite; a outra, 
se caso existisse outra vida, seria de imortalidade e com homens bem melhores 
do que ele deixava nesta vida.
Uma das críticas feitas pelos amigos ao pensador grego, entre sua condena-
ção e a execução (30 dias), era que ele não pensava nos ilhos. Caso pensasse, 
deveria fugir para preservar a integridade de sua família. Diante dessa questão, 
A Origem do Pensamento Filosóico: dos Pré-Socráticos aos Clássicos Gregos
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ele dizia que os ilhos deviam seguir seu destino. Da mesma forma que eles não 
teriam que ser condenados pelo que o pai fez, não cabe ao pai fugir da conde-
nação por eles.
PLATÃO E A VERDADE UNIVERSAL, IR ALÉM 
DE SI, DAS DEMAIS PESSOAS. ALCANÇAR O 
ETERNO
A principal crítica de Platão (427 a.C a 347 a.C) direcio-
nava-se ao que não se estabelece como verdade universal. 
Por mais que exista a necessidade dos valores imedia-
tos da vida, temos que ter um sentido maior que norteia 
nossa existência. Não é por acaso que ele é um discípulo 
de Sócrates. O ilósofo compara com o sol a relação de 
verdade e de bem, considerando que o que se vê não é o 
sol em si, mas permite que se veja cada coisa.
Confessa, então, que o que derrama a luz da verdade sobre os objetos 
do conhecimento e proporciona ao indivíduo o poder de conhecer é a 
ideia do bem. Podes concebê-la como objeto de conhecimento por ela 
ser o princípio da ciência e da verdade, mas, por mais belas que sejam 
estas duas coisas, a ciência e a verdade, não te equivocarás se pensares 
que a ideia do bem é distinta delas e as ultrapassa em beleza. Como no 
mundo visível se considera, e com razão, que a luz e a visão são seme-
lhantes ao Sol, mas se acredita, erroneamente, que são o Sol da mesma 
forma no mundo inteligível é correta pensar que a cidade e a verdade 
são, uma e outra, semelhantes ao bem, mas é errado julgar que uma ou 
outra seja o bem; a natureza do bem deve ser considerada muito mais 
preciosa (PLATÃO, 2000, p. 221).
Sua trajetória dentro da ilosoia grega tentou consolidar o pensamento ilosóico 
e propagar a universalidade do conhecimento. Sua busca por orientar a forma-
ção de um governo justo, para ele, dirigido por um ilósofo, o levou a Siracusa 
em três momentos. Neles, tentou mudar o governo de Dionísio I e, depois, mais 
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duas vezes, o governo de Dionísio II. Para Platão, o bom governo tem um pen-
sador à sua frente. A razão e a sabedoria são os melhores governantes. 
Sua busca por propagar as ideias de justiça além das muralhas de Atenas lhe 
custou ser vendido como escravo por Dionísio I. Foi resgatado por seus amigos 
atenienses que o compraram e lhe devolveram a liberdade.
Entre suas idas e vindas da Magna Grécia (Sul da Itália) e de Siracusa, fun-
dou a Academia de Atenas. A primeira instituição acadêmica oicial do mundo 
ocidental. Um modelo que se propagaria e daria os moldes ao conhecimento 
desenvolvido pela civilização ocidental.
Uma das grandes contribuições de Platão (2002) foi a divisão da verdade em 
dois elementos, o material e o imaterial. O primeiro se refere às coisas em si, às 
que, pelos sentidos, percebemos em sua existência física. A outra, a imaterial, é 
a que damos sentido, valor, aos elementos que nos cercam. O conceito moral, a 
relevância social e o peso ético.
Da mesma forma que Sócrates, Platão considerava a sabedoria nata, ela 
está em nós, mas precisa ser despertada. Vivemos em um mundo de sombras 
que encobre a verdade sobre o que nos cerca. Antes de nascermos, vivíamos em 
outro lugar, em um corpo celeste, onde tínhamos a sabedoria sobre as coisas da 
Terra, porque a víamos com um saber superior. Ao nascermos, fomos jogados 
no mundo material e perdemos a consciência sobre nossa sabedoria. Cabe a 
nós, a busca pelo despertar do conhecimento e sairmos deste mundo de “som-
bras”, da ignorância.
Por isso, ele considerava que nascemos sem consciência do mundo, ao con-
vivermos com o que nos cerca, lhe damos sentido. Mas, a sabedoria repousa 
dentro de nós. Essa capacidade de reconhecer as “coisas” e desvendá-las com um 
conhecimento anterior, o qual aos poucos desperta, é chamada de anamnésia.
Essa capacidade de elucidação eleva a pessoa e lhe dá uma importância 
maior diante das demais. Esses devem ter acesso ao comando social. São eles os 
melhores elementos para conduzirem a vida de uma cidade, de uma comunidade.
É assim que Platão concebe o bom governo, o dos sábios. A ordem social 
perfeita teria neles os elementos mais elevados. Seriam os membros de “ouro” 
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de uma sociedade ideal. Seriam seguidos pelos soldados, aqueles que garantem 
a ordem e mantêm a unidade entre os elementos de uma mesma comunidade. 
Essa camada social teria como principal virtude a coragem. Por im, os elementos 
inferiores seriam os da “temperança”, os servos e escravizados, os trabalhadores, 
ligados às necessidades materiais constantes e necessárias.
Da mesma forma que o corpo social idealizado por Platão, a pessoa, segundo 
ele, deveria seguir o mesmo modelo: uma relação em que a racionalidade deve 
imperar, ainda que os desejos sejam características da alma (ROBINSON, 1998). 
Dito de outro modo, Platão acredita que, como os sentidos são imprecisos, “para 
atingir a verdade é necessário que a alma rompa tanto quanto lhe for possível a 
união com o corpo, que a engana. O ilosofar é uma forma de puriicar a alma 
dos vícios corporais” (NETO; DESTRO, 2009, p. 7). Entender a necessidade de 
uma vida dirigida por valores superiores, integrar o corpo a um ideal maior 
que conduzisse a coragem e agisse sobre as necessidades materiais concretas. 
Essa relação entre corpo e alma é conhecida como dualismo psicofísico, como 
Robinson chama a atenção:
Ao escrever dessa maneira, Platão está no limite extremo do dualismo 
psicológico; em nenhum outro diálogo ele se expressa em termos tão 
rígidos e irmes a respeito da relação entre corpo e alma. Até que pon-
to, no momento em que escreve o diálogo, ele próprio acreditou que 
esse dualismo acentuado seria uma descrição autêntica dos fatos, ou 
até que ponto tal dualismo serviu ao propósito dramático de explicar a 
disposição de Sócrates em face da morte, nunca saberemos. Mas uma 
coisa sabemos. No diálogo ao que tudo indica imediatamente posterior 
ao Fédão, isto é, na República, ele já passou para uma descrição muito 
mais soisticada da relação alma-corpo (ROBINSON, 1998, p. 343).
Essa relação descrita pelo autor revela como a alma é compreendida na medida 
em que está conectada ao conceito de racionalidade. Frente a isso, Platão des-
creve uma importante Alegoria que trata das relações com a forma: A Alegoria 
da Caverna, ou Mito da Caverna. É na República que o ilósofo grego traça um 
diálogo entre Glauco e Sócrates delineando o Mito da Caverna.
Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela 
recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, 
homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. 
A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens 
estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pes-
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coço, demodo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça 
para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que 
queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, 
há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um 
pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes 
dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes 
e apresentam o espetáculo (REPÚBLICA, 514 a).
A sequência do diálogo leva tanto Glauco como quem lê a pensar em seres acor-
rentados que jamais viram o mundo externo, tendo contato apenas com sombras 
projetadas na parede da caverna. A verdade, então, estaria fora da caverna, ou 
seja, existe uma relação entre as sombras, que seriam cópias, e o que está fora, 
a verdade. Quando uma das pessoas presas consegue fugir, promove para si a 
ruptura entre cópia e realidade, saindo das noções de senso comum para se apro-
ximar ao conhecimento.
ARISTÓTELES E A HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Na Escola de Atenas, fundada por Platão, se destacou Aristóteles (384 a.C a 322 
a.C), o mais completo dos ilósofos, o de maior destaque. Contudo, não foi o 
herdeiro oicial platônico. Vale lembrar que a crítica ao mestre foi uma marca 
aristotélica. Mas, esta é outra história contada aqui aos poucos, enquanto enten-
demos o pensamento do preceptor (educador/professor) de Alexandre, o Grande.
Várias características do pensamento aristotélico fazem dele ilósofo distinto. 
Em primeiro lugar, a capacidade de compreensão de um mundo que vai além 
da projeção de uma sociedade ideal. Diferente de seu mestre Platão, Aristóteles 
na Política, por exemplo, considerava fundamental compreender a pessoa em 
conjunto com os fenômenos que a cercam. A natureza e sua dinâmica foram 
algumas das preocupações do pensador, tanto que associava as concepções de 
cidade com a estrutura organizativa dos demais animais. 
No pensamento aristotélico está o respeito à reconstrução de uma lógica his-
tórica, tanto que o ilósofo escreve um tratado de lógica formal, por exemplo, 
além de categorizar as espécies, como reino, ilo e família. Aristóteles buscava 
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compreender os resultados das obras dos ilósofos que o antecederam e contri-
buir para o avanço do conhecimento.
O perigo da obra aristotélica foi a generalização do que o antecedeu, a análise 
particular de uma grande quantidade de obras com diversidade de posicionamen-
tos, nem sempre uma continuidade. Esse determinismo acabou por confundir 
dois conceitos, o de resultado e princípio.
O conceito de resultado diz respeito à preocupação de que todo o pensa-
mento deve se prender a uma única busca, a semelhança entre os elementos 
diferentes. Um exemplo é que há algo em comum entre o cérebro de um homem 
e do macaco, mas essa semelhança não pode ser o fator que determine que um 
homem qualquer e o macaco sejam iguais, pois não são. Logo, não se aponta a 
discordância com condição de se abordar um determinado conteúdo. Esta gene-
ralização ameaça as abordagens que se faz da sequência histórica que Aristóteles 
propõe. Os princípios de verdade são, conforme Almeida (2008), uma estrutura 
em que deve apontar para um fundamento que objetiva critérios de verdade.
Nesta equivalência encontra-se aquilo que se pode chamar de ‘princí-
pios de verdade’, os quais, segundo Aristóteles, são o fundamento úl-
timo (ou primeiro) de justiicação para qualquer discurso declarativo 
que se pretenda verdadeiro, sendo, por isso, também assumidos pelo 
mestre do Liceu como critérios últimos para determinar a verdade ou 
falsidade de qualquer discurso declarativo (ALMEIDA, 2008, p. 6).
Se fossemos pensar o que isso signiicaria na atualidade, seria admitir que 
Aristóteles considera o conhecimento produzido uma continuidade direcio-
nada para um determinado im. Não implicaria em uma dinâmica que pode 
apontar para diferentes formas de compreensão da existência.
Se pensarmos no signiicado de nossa vida e considerarmos como chegamos 
a um determinado ponto, nós temos a impressão de que todos os fatos que nos 
antecederam conspiraram para estarmos aqui, vivendo o que estamos vivendo. 
Isso seria incorreto. Somos um resultado, mas nem sempre de uma condição 
desejada. As relações categóricas aristotélicas, para além disso, concedem uma 
estreita relação entre linguagem e verdade, sem qualquer dualidade, prática 
comum nos escritos platônicos, mas que se conecta com princípios lógicos que 
fornecem estruturas para os argumentos.
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A PREOCUPAÇÃO COM OS QUE VIERAM ANTES
Como airmado anteriormente, Aristóteles se preocupou em resgatar os pensa-
dores que o antecederam. Aqueles que deram origem ao pensamento ilosóico, 
diferenciando-os dos historiadores ou dos soistas. Para ele, pensadores como 
Tales (624-547 a.C) ou Parmênides (530-460 a.C) foram importantes iniciado-
res da construção de uma lógica complexa e de um entendimento superior sobre 
a essência da natureza e da humanidade.
Tales, que viveu na Itália, não buscava nos elementos da natureza o princí-
pio único de tudo o que nos cerca. Para ele, o saber deve ir além do princípio 
moral, ou seja, se a água está em quase todas as coisas, e o Planeta é formado 
em sua maioria por água, não signiica que ela é a essência de tudo o que existe, 
a sua natureza não é determinante sobre as demais.
O saber verdadeiro, segundo o próprio Aristóteles, não se prende a um 
conceito moral ou ético, ele vai além, ele é eterno. Ou seja, ele independeria de 
mudanças histórico-sociais.
O ser verdadeiro ou falso é, nas coisas (epì twn pragmatwn), o estar 
reunido ou separado, de modo que diz a verdade (aletheúei) aque-
le que crê (ho oiómenos) estar separado o que está separado e que 
crê estar reunido o que está reunido; falseia, porém, aquele que se 
mantém contrariamente às coisas. Pois tu não és branco porque nós 
cremos (hoíesthai), verdadeiramente, que tu sejas branco, mas por-
que tu és branco é que nós, que dizemos isso, dizemos a verdade 
(ARISTÓTELES, 1998, p. 474). 
A relação de verdade está na airmação ou negação de determinada coisa. Desta 
forma, ou airmamos algo ou o negamos, o que não depende de subjetividades, 
mas sim das relações entre o que se fala e do que se fala, o que implica em se 
dizer que o saber verdadeiro o é segundo essa relação entre discurso e a coisa 
discursada.
Heráclito (540-470 a.C) foi emblemático, sendo o responsável pela célebre 
frase: “um homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio”. Ou seja, o mundo 
vive um movimento constante. Tudo é mudança. Mas o que muda?
Um pioneiro nesse princípio foi Parmênides. Em sua série de poemas com 
o título “Da Natureza”, ele considerava que o conhecimento era o saber dos 
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deuses. São eles que compreendem a lógica do que existe e sua função. A huma-
nidade nomina as coisas, mas não sabe sobre sua essência e o que elaé capaz 
de determinar.
Aqui temos mais um aprendizado fundamental. O saber é eterno, os homens 
não. Viver sem conhecer a importância da ciência, da essência de tudo, não é 
viver. Ou, se é, é existir sem dar um sentido à existência.
Mas, como é possível conhecer as coisas se tudo está em constante mudança? 
Esta é uma indagação que ainda hoje movimenta as teses ilosóicas. Vivemos 
um mundo em transformação, como seria possível conhecer sua lógica? Existiria 
um meio de compreender a permanência sem perder os elementos que expli-
cam as constantes mudanças?
Zenão (490-430 a.C), vindo de Eléia, a mesma cidade italiana de Parmênides, 
condenava o movimento, assim como a diversidade, ele considerava que ambas 
eram uma ilusão. Para o ilósofo eleata “Tempo e a mudança são tidos como con-
ceitos contraditórios e relativos” (MODENESI, 2011, p. 2). Porém, a essência do 
mundo também é importante para os pré-socráticos como elemento de compre-
ensão da natureza. Os elementos que formam a materialidade das coisas também 
podem ser os elementos que formam a materialidade da alma.
Um dos antecessores de Sócrates que tratou do tema, por mais que com dis-
túrbios das análises de Zenão e Parmênides, foi Anaximandro. Pouco se sabe 
sobre sua data de nascimento ou morte, mas foi um dos membros da escola de 
Tales de Mileto. Ele considerava que o ar, e não a água, seria o elemento vital 
para a manutenção da vida, inclusive da alma.
Mas, nem todos os pensadores comungaram com a ideia prática da iloso-
ia, do homem que deveria entender os elementos e interferir em sua existência. 
Pitágoras nasceu na Grécia, em Samos, mas desenvolveu seus trabalhos e sua 
“escola ilosóica” no sul da Itália, em Crotona. Ele considerava que o papel do 
ilósofo era a contemplação. Comparava a existência aos jogos olímpicos, uns 
vão para comprar e vender, os inferiores; outros vão para competir, os agentes 
da política, os soldados, os que determinam a vida das instituições; por im, os 
que vão assistir e contemplar, estes são superiores, estes são os ilósofos.
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ALÉM DA GRÉCIA: AS CIVILIZAÇÕES QUE 
HERDARAM O PENSAMENTO GREGO
O que vimos aqui sobre o desenvolvimento do pensamento grego é apenas um 
fragmento, uma pequena parte de uma discussão que tem uma “ininidade” de 
possibilidades de entendimento. Mas, procuramos demonstrar que a forma de 
compreender o mundo incomodou aqueles que foram os fundadores do pensa-
mento ocidental, a cultura helenística.
Para entendermos como este pensamento conseguiu ir além das fronteiras 
gregas, avançando ao longo da história e chegando aos nossos dias, é necessário 
lembrar que os próprios gregos sempre foram além de si, fundando colônias e 
mantendo relações mercantis com vários povos da antiguidade.
O momento inicial da expansão do pensamento grego, uma prévia do que 
viria a ser a expansão do “ocidentalismo”, foi a conquista da Grécia pelos mace-
dônios, no Século IV. Após conquistar os gregos, o Império Macedônico adotou 
a cultura grega como o princípio da cultura a ser levada na expansão territorial.
As vitórias macedônicas se consolidaram na Ásia Menor, no Egito e em 
todo o Mediterrâneo oriental. Os povos que foram submetidos por Alexandre, 
o Grande, foram subordinados não só a sua força militar, mas tiveram que con-
viver com a cultura grega. Instituições políticas e língua, por exemplo, passaram 
a ser introduzidas nos “quatro cantos” do Império.
A inluência não foi supericial como uma mancha em um tecido, ela se 
aprofundou e passou a ser incorporada nas práticas comerciais, na vida pública, 
na produção do conhecimento, a orientação ilosóica dos pensadores gregos 
ganhou novo sentido. Muitos desses conhecimentos, os ocidentais iriam reen-
contrar com as “Cruzadas” promovidas pelos cristãos contra os muçulmanos. 
O próprio desenvolvimento cientíico e econômico dos árabes (séculos VI ao 
XV) foi marcado pelas bases do pensamento grego. O Renascimento Cultural, 
na Europa, permitiu a retomada das raízes ilosóicas helenísticas.
O Império Macedônico não foi duradouro, na prática, sua decomposição 
começou com a morte de Alexandre (323 a.C), o seu fundador. Dividido pelos 
generais, foi aos poucos conquistado por romanos e árabes. Territórios foram 
retomados pelos persas e os egípcios se libertaram da dominação macedônica, 
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mas a cultura grega icou, deixou suas marcas e orientou o destino do conheci-
mento do universo em muitas regiões onde os macedônios percorreram.
O clima de insegurança em que o Império Macedônico se decompôs gerou 
uma angústia que predominou também no pensamento ilosóico do período. 
Um pensador que expressa esse clima é Diógenes (404 a 323 a.C), discípulo de 
Antístenes, seguidor de Sócrates, e que questionava a vida mundana, a sedução 
pela matéria e buscava uma vida simples.
Segundo a lenda, Diógenes andava perambulando pelas ruas de Atenas e, 
depois de ser expulso de sua casa, passou a viver em um barril e andava pelas 
ruas em plena luz do dia com uma lamparina. Ele airmava que fazia aquilo por 
estar à procura de um honesto.
Diógenes escolheu uma vida austera, demasiadamente simples, sem 
luxo, sem casa, sem pátria; seu único objetivo era defender, como um 
cão feroz, a sua ilosoia de vida; contentava-se com o estritamente ne-
cessário à sua sobrevivência, desprezava a suntuosidade, tinha aversão 
ao prazer, negligenciava as convenções sociais, considerava inútil o es-
tudo metafísico (DIAS, 2014, p. 131).
Sua atitude despertou a curiosidade do imperador Alexandre, que um dia quis 
conhecê-lo. Quando o encontrou, ele estava deitado dentro do barril onde vivia. 
O imperador teria dito que ele poderia fazer o pedido que quisesse e pronta-
mente seria atendido. Diógenes teria dito para que Alexandre saísse de sua frente 
e parasse de roubar sua luz com a sombra. Encantado pela convicção do “anda-
rilho” ilósofo, o imperador teria airmado que se não fosse Alexandre, gostaria 
de ter sido Diógenes.
Diógenes foi um dos adeptos do cinismo, uma corrente que associava a pes-
soa ao desprendimento das coisas materiais, e também a uma forma de crítica à 
vida de excessos. O princípio dos homens, aqui pensados como pessoas do sexo 
masculino, que seguiam esse pensamento, era ter autonomia diante do mundo. 
Não depender daqueles que buscassem o enriquecimento na manipulação dos 
indivíduos e na inluência de seus interesses.
Uma airmação de Diógenes que expressava a crítica ao mundo da materia-
lidade era a busca de inluência, convivendo com pessoas de poder: “preiro a 
companhia dos corvos a dos bajuladores”. Valorizava, assim, a realidade em detri-
mento da falsidade, que o poder material e a inluência política podiam nos dar.
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A crítica ao apego à vida material estava na forma como o homem se deforma 
diante do desejo do prestígio adquirido com o enriquecimento. O que hoje é 
uma condição que atingegrande parte dos seres humanos. Uma denúncia da 
perda de princípios profundos que possam conduzir a sociedade a uma condi-
ção superior, justa.
O que Diógenes criticava era a demonstração da decadência da sociedade 
de seu tempo. As cidades dominadas pelos macedônios eram voltadas aos inte-
resses particulares e desprezavam os temas de unidade política. A formação de 
um império com uma diversidade considerável de povos acabaria por levar à 
destruição do que os unia e elevar o particularismo. Isso estava expresso tanto 
na política quanto no comportamento de cada um.
O cinismo cresceu, mas acabou se deturpando. Passou a ganhar a conotação 
de crítica, mas incorporado aos desejos de sucesso material. Porém, não havia a 
preocupação da perda do enriquecimento pelo cínico. Ele estava mais preocupado 
com seu imediatismo. Essa é uma linha do cinismo que chegou até nossos dias. 
Viver o hoje sem se preocupar com o amanhã, uma “ilosoia de vida” expressa 
na propaganda dos cartões de crédito da atualidade.
Outra escola do período de crise macedônica foi o ceticismo. Apesar de já 
ser um tema tratado pelos pré-socráticos, o “ser cético” cresceu no mundo helê-
nico e teve em Epicuro (342 a 270 a.C) sua maior expressão. Ateniense, suas teses 
acabaram se desenvolvendo na Ásia menor, onde icou encantado pelas teses de 
Demócrito (um dos seguidores das teses céticas).
Epicuro elabora sua ética com base em três princípios fundamentais: 
(a) a correta compreensão da natureza dos deuses e a consequente eli-
minação do seu temor; (b) a correta compreensão da natureza da morte 
e a consequente eliminação do seu temor; (c) a correta compreensão da 
natureza dos desejos e a sua consequente boa vivência (FILHO, 2009, 
p. 13).
O pensamento de negar toda a verdade absoluta, defendida por ele, gerava a 
necessidade de conduzir um homem a um eterno questionamento sobre os fun-
damentos de sua existência e questionar até mesmo as resposta que viesse a ter 
a partir de suas dúvidas. A angústia como condutora e a crise como princípio 
deiniam o homem cético.
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Um contraponto ao cínico era que o cético considerava que os prazeres morais 
deviam ser uma busca e um direito humano. A condição humana de estar rode-
ada de prazeres materiais não signiicava aboli-los, como se eles levassem a um 
mal, mas se valer deles sem culpa.
Para os céticos, a mente deve buscar na razão do mundo o espírito elevado 
da conduta, mas não deve se eximir da existência, ou seja, viver bem não impede 
uma compreensão apurada da vida. Um contraponto que para muitos foi a solu-
ção para viver com satisfação material e transformar a angústia em um ritual 
que não necessita se desfazer da realização do desejo.
Nas teses de Epicuro, a pessoa não tem mais a sensação após a morte. A 
separação entre o corpo e alma se dá quando o átomo da matéria se decompõe 
se libertando dos sentimentos de prazer e dor. Desta forma, não há o que temer 
na morte, e ela não nos aproxima dos deuses, os quais, por mais que tivessem 
nos gerado, não determinam nosso destino. Nossa alma apenas se dispersa pelo 
mundo, sem sentido. Por isso, não há o que temer na morte, ela nada signiica 
no mundo sensível.
O PENSAMENTO ROMANO: FUNCIONAL E MATERIAL
A formação do Império Romano é uma 
demonstração da eiciência da organi-
zação do Estado e sua capacidade de 
governar as diferenças constantes dos 
povos que se domina. A dimensão do 
Império, atingindo inúmeros povos, 
demonstrou sua eiciência em condu-
zir o poder a lugares onde a cultura local 
não se identiicava com as instituições 
clássicas latinas.
O pensamento romano foi expresso por pensadores como Zenão (340 a 264 
a.C), o fundador do estoicismo valorizava a rigidez do caráter, a ação que expres-
sava os valores da moral incorruptível. Filho de comerciantes, apesar de ser de 
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origem fenícia, se erradicou no mundo grego e viveu a expansão romana. Uma 
pessoa de valor é constante em seu comportamento, independente das condições 
em que se vê obrigado a conviver. Mudança do mundo não signiica despren-
dimento e mudança de valores. Estes eram princípios defendidos por Zenão.
A popularidade do estoicismo cresceu e atingiu mais adeptos do que o pen-
samento de Platão e Aristóteles em seu tempo. Um herdeiro do pensamento 
socrático, Zenão acabou por inluenciar a conduta de reis da antiguidade, ape-
gados ao comportamento “reto” como um princípio de governo. De certa forma, 
era o que Sócrates esperava do bom governante, agir como um ilósofo, ter prin-
cípios rígidos.
Dessa forma, é fácil perceber como a ação ganha força e passa a ser determi-
nante do caráter humano. É preciso dar praticidade ao comportamento, ir além 
da relexão, promover a ação. O conhecimento passa a ser um valor impregnado, 
que se expressa no comportamento. Até mesmo o valor divino, os deuses, estão 
dentro dos seres humanos, nas condutas que determinam sua proximidade ou 
não com um sentido superior da vida.
Mas se as leis mudam, o homem não muda seus valores? Essa talvez seja a 
principal crítica ao estoicismo. Não é possível ser eternamente detentor de prin-
cípios, mas não podemos ser lexíveis o tempo todo. Ou seja, não podemos ser 
uma mudança constante e transformar os conceitos sobre o mundo numa super-
icialidade momentânea. Zenão considerava que a perda de bens materiais pode 
ser reparada, se não no todo ou em partes. Já a dignidade humana, uma vez per-
dida, o desumaniza e condena.
CONTRADIÇÕES NO PENSAMENTO ROMANO
A história romana está recheada de uma glória à conduta e de contradições de 
quem deveria expressá-la. Os personagens que apelam no discurso e na estética 
pública uma conduta moral rígida são, em regra, os mesmos que têm, em sua 
privacidade, uma vida mundana.
Um destes exemplos de contradição entre o público e o privado é Sêneca 
(4 a.C. a 65), o senador romano, famoso por sua defesa à moral, discípulo de 
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Zenão. Foi um crítico da perda moral romana. Exigindo de seus governantes um 
comportamento a “altura” de seu posto. Ele mesmo não obedeceu a este critério.
Em uma de suas críticas à mulher do imperador Cláudio, acabou sendo 
banido de Roma, mas retornou quando as práticas da imperatriz foram desco-
bertas. Ele mesmo tinha uma conduta que dava espaço a críticas como cobrar 
impostos abusivos de súditos britânicos, quando o Império Romano se esten-
dia até a Bretanha. Ele mesmo foi convidado a cometer suicídio após uma série 
de atos corruptos que o envolviam.
Na atualidade, as práticas de corrupção continuam tomando conta do Estado. 
E como no tempo de Sêneca, o discurso de alguns dos adeptos do abuso é a con-
duta reta. O que na retórica prega princípios e faz alusão ao comportamento 
que não se deixa abater ou seduzir pelos excessos não corresponde à realidade. 
Podemos considerar que o abuso de quem assumeo poder acaba por se contra-
dizer com o discurso.
Outro estóico foi Epicteto (60 a 100), escravo, como o seu próprio nome sugere 
(adquirido), foi liberto e passou a ministrar aulas em Roma. Mesmo sofrendo 
de doenças constantes, fruto de seu tempo de sofrimento como escravo, jamais 
abandonou o ofício da educação e da crítica. A segunda lhe gerou a persegui-
ção por parte do Imperador Nicópolis, um corrupto. Acabou por buscar exílio 
na Grécia, onde viveu até o im dos seus dias.
Uma das grandes escolas ilosóicas do período helenista, assim chamada 
pelo pórtico pintado (Stoá poikílé) onde foi fundada, por volta de 300 a.C, 
por Zenão de Cício. Os principais mestres dessa escola foram, além de Ze-
não, Cleante de Axo e Crisipo de Soles. Com as escolas da mesma época, 
epicurismo e ceticismo, compartilhou a airmação do primado da questão 
moral sobre as teorias e o conceito de ilosoia como vida contemplativa 
acima das ocupações, das preocupações e das emoções da vida comum. 
Seu ideal, portanto, é de ataraxia ou apatia. 
Fonte: Abbagnano (2007, p. 375).
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Sua principal crítica era a conduta desonrosa do poder. Considerava que o 
governo justo não se corrompe. Se obrigados a aceitar as instituições públicas, 
elas devem cumprir com suas funções. Para ele, o dever do governante está acima 
de seus interesses privados. Ele não pode transformar o poder em um instru-
mento de suas particularidades.
O mais ilustre dos estóicos foi Marco Aurélio (121 a 180), imperador romano. 
Ele buscou documentar sua vida no Império e seguir os princípios de idelidade 
à Roma e suas instituições. Dedicado a manter o poder em um império que já 
sofria as invasões dos povos vizinhos (chamados de bárbaros) e convivia constan-
temente com revoltas internas, Marco Aurélio buscou preservar Roma, garantir 
sua integridade, tanto na força física como no discurso moral.
Ter perseguido os cristãos, em seu período, não foi uma tradição ou hábito, 
foi a forma de garantir a religiosidade romana e a lógica de sua autoridade a qual 
os cristãos incitavam levantes. Para o imperador ilósofo, era necessário que o 
homem público cumprisse o seu papel. Ele necessitava executar o seu dever 
dentro do organismo social. Nesse ponto, Aurélio se aproxima da concepção de 
Platão sobre a ordem perfeita da sociedade, em que cada um dos seus elemen-
tos deve cumprir o seu papel de forma eicaz e se subordinar a ele.
A própria formação do Império Romano foi marcada pela ação violenta e 
conquista. O domínio constante possibilitou a incorporação de inúmeros povos 
e a implantação de uma estrutura militarizada em todo o território dominado 
pelos romanos.
O sucesso da expansão romana se deu sobre povos organizados das mais dife-
rentes formas. As fronteiras romanas foram os rios Danúbio e Reno, ao Norte, 
ao Leste, o deserto da Arábia e o Rio Eufrates, ao sul, o deserto do Saara e, ao 
Oeste, o Atlântico. Em todo esse território, ocorreu a integração e implantação 
de uma administração bem-sucedida. Ela alcançou seu tempo de paz nos pri-
meiros séculos da Era Cristã.
O legado romano também inluenciou o nosso tempo. Assim como os gregos, 
também deixou marcas que se mantiveram e chegaram até nós: as instituições 
jurídicas, a produção cultural, a concepção do Estado e o cristianismo. Contudo, 
os romanos tiveram na cultura grega a medida para tudo o que izeram. Podemos 
considerar que foi nas estruturas de Roma que a cultura grega se alicerçou no ocidente.
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No oriente, o legado grego se manteve subordinado à cultura predominante 
dos povos que conquistaram as terras do Império Romano, principalmente os 
muçulmanos. Nem por isso deixamos de reconhecer que a cultura grega tam-
bém foi redescoberta pelo ocidente quando da conquista da Península Ibérica 
pelos muçulmanos (século VIII), sendo necessário também mencionar o con-
tato que o ocidente teve com estes povos. O que já comentamos anteriormente.
ATRAVESSAMENTOS CRISTÃOS E O PENSAMENTO FILOSÓFICO 
MEDIEVAL
O cristianismo foi criado por Roma e sobreviveu à sua decadência. Fez-se e refez 
aos moldes do tempo e sobrevive até nossos dias. Podemos considerar, dadas as 
devidas proporções, que o Ocidente é “cristão”. Se não mais pela crença, a qual 
ele não é obrigado a professar, pela carga cultural de compreensão do mundo 
que o cristianismo construiu e permitiu durante a expansão que a civilização 
ocidental promoveu.
O ponto de encontro entre o cristianismo e a ilosoia grega foi Alexandria, 
localizada dentro do território egípcio. A cidade, que continha o principal porto da 
África durante o período romano e ainda hoje é destaque na orla do Mediterrâneo, 
foi o centro de uma cultura que nasceu de muitos caldos culturais e permitiu a 
concepção cristã que o ocidente disseminou.
As ideias de maior expressão que se difundiram em Alexandria têm autoria 
de Plotino (204 a 270). O jovem egípcio estudou em Alexandria e manteve-se 
na cidade até 243, quando fugiu após uma campanha desastrosa do imperador 
romano na África. Em Roma, cidade onde propagou seus estudos e difundiu suas 
ideias, Plotino plantou o pensamento que viria a se impor sobre todo o territó-
rio europeu ocidental e, mais tarde, sobre boa parte do Planeta.
Suas ideias, pela carga de misticismo, já demonstravam um desprendimento 
com a realidade e a despreocupação em se ter uma conduta política fundada na 
racionalidade do estado. O contexto de decadência do Império Romano, no qual 
viveu, demonstrava a diiculdade de se entender de forma racional a crise que se 
atravessava. O cristianismo nasce da sobrevivência diante da crise.
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Em nosso tempo não é diferente a forma como o pensamento se desprende 
da necessidade de ação. Se observarmos, ao longo da história, o pensamento 
ganha conotações metafísicas diante das diiculdades que as instituições racio-
nais atravessam. Hoje, em pleno desenvolvimento de uma estrutura tecnológica, 
que é fruto do desenvolvimento cientíico, nos apegamos aos misticismos dege-
nerativos da consciência, infantilizamos o pensamento do homem. Calculo que 
seja medo de enfrentar com a razão e sentir sobre os ombros o peso da existên-
cia que nos faz agir assim.
Plotino concebe que a vida é fruto de um encontro entre a “trindade”, aqui, 
diferente daquela que concebem os cristãos da atualidade. Na trindade de Plotino, 
há um elemento único que integra, o “Uno”. Esse primeiro elemento conduz a 
força criadora do “Nous” (espírito), o segundo, propagador da vida. Por im, a 
“Alma” é o terceiro elemento, o qual dá vida à toda criação. As bases desse pen-
samento são gregas, e são uma releitura da dialética platônica e de Demóstenes 
sobre os elementos da criação.
Claro que o pensamento de Plotino não deu origem imediata ao pensamento 
cristão que conhecemos. Sobre esse tema trataremos no próximo capítulo. O 
que temos que ter claro é que o desenvolvimento da civilizaçãoocidental se deu 
com a construção de um legado grego. Nossa busca incessante por respostas, o 
desejo de encontrar uma lógica determinante para a existência e de dominar a 
natureza que nos cerca através da compreensão das leis que a regem são, sem 
dúvida, legados gregos.
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O PENSAMENTO FILOSÓFICO MEDIEVAL
A construção do mundo medieval foi o resultado da destruição do Império 
Romano, onde as invasões bárbaras não foram só um fator determinante, mas 
resultado de outros fatores.
A decadência está relacionada à crise escravista, à falta de trabalhadores nas 
áreas agrícolas e à constante tributação para manter a imensidão do império. A 
falta de trabalhadores gerou uma queda de produtividade dentro das terras do 
Império. A tributação, por consequência, caiu e a ineiciência do estado romano 
se ressaltou.
Um governo imperial, tão eiciente para integrar as províncias, não foi capaz 
de administrar as crises que tiveram origem em diversos territórios, muitos por 
problemas locais. A imposição centralizadora sempre foi a saída romana, seja 
pelas tropas, seja pelas instituições. De problemas locais, uma crise geral se alas-
trou. Foi nesse contexto que as invasões bárbaras se disseminaram. Muitos dos 
líderes estrangeiros serviram a Roma, aprenderam a combater com ela e a des-
truí-la com o conhecimento que adquiriram.
Mesmo antes da decadência do Império, os cristãos já não eram mais perse-
guidos e a religião havia se oicializado. No governo de Constantino e Teodósio, 
a Igreja Cristã formou a estrutura administrativa que acompanharia a sua exis-
tência por séculos.
Com o surgimento de uma estrutura de poder romana associada à Igreja 
Católica, um novo personagem de poder assume a função da administração dos 
homens ocidentais, o Papa. A construção de uma cúpula de comando da Igreja 
(Clero) permitiu a consolidação de uma instituição política com forte inluên-
cia sobre os demais povos que viriam a habitar os territórios que um dia foram 
do Império Romano.
A conversão dos bárbaros por membros do clero e a construção de institui-
ções que propagavam o cristianismo foi uma prática constante na decadência 
romana e ascensão do medievalismo. Muitos pensadores se dedicaram a difundir 
a fé cristã e aprimorar o pensamento religioso fundado na Bíblia, o documento 
sagrado dos cristãos que foi compilado e produzido na decadência do Império 
sob a égide dos últimos imperadores romanos.
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Uns dos princípios fundamentais da nova concepção que se estabelecia com o 
desenvolvimento do cristianismo foi a separação entre o comando do Papa – da 
igreja de uma forma geral – e dos imperadores, monarcas europeus. Enquanto 
o primeiro deveria governar a alma dos homens, o segundo deveria adminis-
trar a matéria.
Esta separação se constitui de um elemento importante até nossos dias. 
A questão da propriedade do corpo e a condução da vida. Até onde o homem 
comanda sua existência, pela sua consciência, até onde ela não lhe pertence e 
deve obedecer às regras estabelecidas por uma legislação. De certa forma, a perda 
de uma liberdade a qual os gregos jamais se submeteram.
A concepção do mundo se organizava dentro das instituições organizadas 
pela Igreja Católica. Nelas, a ilosoia se oicializa independente do império que 
se estabelece. Seja nas monarquias dos francos, germanos, godos ou visigodos, 
o cristianismo orienta a concepção de homem e garante a supremacia de suas 
ideias por toda a Europa. Chegou, por consequência, a justiicar o próprio poder 
dos monarcas. O que só foi questionado com o advento da Reforma Protestante, 
no Século XVI.
A supremacia dos cristãos acaba por ser também uma contradição em relação 
aos judeus, religião da qual são dissidentes. No início, o cristianismo se colocava 
como um desdobramento do judaísmo, sem lhe causar rompimento e reconhe-
cendo sua validade. Mas com a ascensão dos cristãos ao poder em Roma, os judeus 
passaram a ser vistos como negadores de Cristo, o ilho de Deus. A perseguição 
aos judeus se acentuou. Ironicamente passaram a ser perseguidos por quem tinha 
sofrido perseguição.
O termo bárbaro é uma herança grega, mas que o povo egípcio já chama-
va toda pessoa que falava uma língua diferente. Na Grécia, por exemplo, o 
termo estava ligado a quem não falava o grego, mas que parecia apenas 
dizer coisas incompreensíveis, e não “compartilhava nem os costumes nem 
a civilização dos helenos. 
Fonte: Guerra (1987, p. 5).
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Uma das formas de romper com o judaísmo e iniciar sua perseguição foi 
o gnosticismo, um encontro entre o cristianismo e o helenismo. Sua principal 
expressão foi Paulo de Tarso (5 a 67), um judeu helenizado e cristão. Ele construiu 
os elementos necessários de universalização do cristianismo. Um desdobramento 
do gnosticismo foi construído a partir das ideias de Tarso. Nela, Iavé é o cria-
dor das coisas materiais, uma divindade inferior ao “supremo criador”. Ele, Iavé, 
criou as coisas materiais e deturpou o seu signiicado, fugindo ao propósito de 
Deus (o criador universal). Diante disso, a divindade suprema se materializa para 
poder colocar ordem no mundo, Cristo. Nessa construção, Deus é perseguido em 
sua materialidade e rompe com qualquer tipo de elaboração teológica judaica.
Na construção do ideário religioso judeu-cristão, a perseguição é um ele-
mento vital. Presente como um meio de unir os iéis e garantir o direito de reagir. 
Em muitos casos, são os verdadeiros agressores, mas o discurso de serem per-
seguidos eternamente os inocenta. Por isso que, tanto na defesa do território de 
Israel pelos judeus, ou no discurso de supremacia dos cristãos sobre o Mundo, 
o discurso de serem perseguidos justiica o ato de perseguir.
Um dos importantes pensadores cristãos do primitivismo foi Orígenes de 
Cesaréia (I185 a 253). Sua obra está relacionada à deinição da vida espiritual. 
Ele concebe a existência do espírito separado da matéria, sendo que, ao se jun-
tar com o corpo, lhe dá vida no nascimento. A ideia de eternizar a existência 
antes e depois de a vida lhe dar a autoria de um dos principais elementos que 
se consolidava no ideário cristão, a eternidade da alma e sua relação com Deus.
Para Orígenes, uma existência em essência espiritual, livre de toda for-
ma e substância, só se deve a Deus; o homem, mesmo o eleito que se 
estabelece no estado deiicado não pode confundir-se, amalgamar-se a 
Deus mesmo, ou seja, estabelecer-se em uma condição de panteísmo, 
pois o ser humano é por essência diferente do Criador, e mesmo se a 
natureza de sua matéria corporal ver-se limpa e puriicada, “feita total-
mente espiritual”, ela não poderá unir-se consubstancialmente a Deus, 
pois o Criador participa de um estado de perfeição próprio (AMARAL, 
2009, p. 11).
Todos estes pensamentos foram incorporados à Igreja Cristã Católica com o 
governo do imperador Constantino. Nele se organizou a estrutura dos dogmas 
católicos e oprincípio administrativo do clero. A centralização da administração 
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clerical foi fundamental para, mais tarde, quando da decadência do Império 
Romano, o cristianismo prevalecer não só como culto, mas como instituição de 
poder político com forte centralização administrativa em torno da igura do Papa.
Um dos fatores importantes para o fortalecimento da autoridade papal, ainda 
durante o Império Romano, foi o discurso de defesa dos pobres proferido por 
uma Igreja voltada aos humildes. Eles, que se sentiam distantes e desamparados 
por parte de uma administração centralizada, de caráter religioso, agregaram-se 
às obras do clero católico e se tornaram sua principal base de sustentação social.
Não seria por acaso que a Igreja Católica estaria preocupada, mais tarde, com 
a organização das ordens religiosas que deveriam converter a população. Também, 
parte dessas obras estava para ações missionárias de ajuda à população carente, 
servindo-lhe de abrigo e massa de manobra para o exercício do poder clerical.
O Concílio do Nicéia (325) foi fundamental para a organização dos dogmas 
católicos. Nele se organizou a doutrinação dos iéis e os princípios que deveriam 
nortear o poder papal. Naquele momento, a Igreja Católica combatia o arianismo, 
doutrina cristã fundada no pensamento de Ário (256 a 336).
Mas o pensamento cristão que se propagou no “mundo medieval” se deve 
principalmente a quatro grandes pensadores: Ambrósio (340 a 397), Jerônimo 
(347 a 420), Santo Agostinho (354 a 430) e ao Papa Gregório (540 a 604). Foram 
eles que instituíram o pensamento predominante do cristianismo que se cons-
tituiu através da fé católica, e que também lançou bases para o protestantismo 
após a Reforma Protestante.
Ambrósio está ligado diretamente à supremacia do poder papal sobre o 
estado. Filho de uma família de nobres romanos, ele recebeu educação requintada 
para atuar na administração do estado romano. Contudo, acabou na adminis-
tração do Bispado de Milão, na época, a sede do Império Romano do Ocidente.
Durante seu bispado, assumiu a responsabilidade de preservar o poder da 
igreja sobre os senadores e, até mesmo, sobre o imperador. Enfrentou a oposição 
dos arianos, cristãos que seguiam as palavras de Ário, como já chegamos a analisar.
Ambrósio conseguiu submeter às autoridades e, até mesmo, obter um pedido 
de perdão do imperador Teodósio, quando este ordenou o Massacre de Tessalônica 
(388). Em função desse episódio, o imperador foi a Abadia de Milão e pediu per-
dão pelo ato.
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Dessa forma, Ambrósio é lembrado pela sua capacidade de argumentar e 
agir em favor dos interesses do clero, mantendo o poder da Igreja diante da deca-
dência do Império Romano. Santo Agostinho o admirava pela capacidade de 
argumentação, fator fundamental que contribuiu para sua permanência diante 
dos cargos de administração do clero dentro da estrutura de poder do Império. 
Mas, foi na produção documental da Igreja Católica que sobreviveu o instru-
mento vital para a pregação da fé: a construção da Bíblia em latim. 
Este feito de tradução e organização do principal documento sacro foi obra 
de Jerônimo. Nascido no Egito, mas com a sua vida dedicada aos estudos em 
Roma, acabou se desentendendo com autoridades da Igreja Católica. Jerônimo 
produziu documentos de condução ética e princípios morais do cristão.
Sua postura doutrinária acabou por se traduzir nos estudos dos documentos 
que formaram a interpretação do Velho Testamento e organização dos documentos 
do Evangelho. Em função de sua expulsão da Itália, por desentendimento com líde-
res religiosos, acabou por formar um mosteiro em Jerusalém. Assim, ele inaugurou 
uma das formas de organização dos estudos do período medieval, o clero regular.
A originalidade dos documentos sacros acabou, mais tarde, dividindo a cris-
tandade, permitindo aos católicos eliminarem interpretações que fugissem aos 
interesses do clero estabelecido em toda a Europa medieval.
O terceiro grande pensador cristão foi Santo Agostinho. Filho de nobres, ele 
nasceu no Norte da África, na cidade de Cartago. Sua vida foi marcada por rom-
pimentos entre uma formação religiosa familiar e sua vida mundana durante a 
juventude. Por causa desta última, se mudou para Roma, trazendo consigo sua 
concubina e o ilho que teve com ela.
[...] ao contrário, nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca 
é todo presente. Esse tal, verá que o passado é impelido pelo futuro e que 
todo o futuro está precedido dum passado, e todo o passado e futuro são 
criados e dimanam d’Aquele que sempre é presente. 
(Santo Agostinho).
A ORIGEM DA FILOSOFIA
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Criticado pela mãe, uma cristã ortodoxa, Agostinho viveu a culpa do pecado, o 
que sempre lhe guiou em seus pensamentos acerca da religiosidade. Ele foi um 
dos principais responsáveis por traduzir o pecado como um problema de con-
duta do indivíduo e não da condição em sociedade.
Outro elemento importante nas teses de Agostinho é a predestinação. A busca 
de entender a vida na Terra como um relexo da vontade de Deus. A existência 
humana expressa aquilo que está designado, logo, a própria conduta do homem 
não lhe permitirá se salvar se esta não for a vontade de Deus. Logo, o homem 
arrasta a culpa, a fé pode lhe aproximar de Deus, mas somente a vontade divina 
pode salvá-lo. Por isso, a importância dos sinais divinos como guia do caminho 
de desvendar seu destino, expresso no pensamento de Santo Agostinho.
Ao aceitarmos a condição que Deus criou na Terra, estabelecemos uma rela-
ção de fé sem questionamento da origem dos elementos materiais que nos cercam. 
Estes são, para Agostinho, uma condição criada por Deus sem que tenhamos o 
direito ou a capacidade de questioná-la. Temos que aceitar, por exemplo, que a 
criação de todo o Universo foi feita a partir do “nada”, da inexistência de qual-
quer elemento anterior. Assim, Deus fez o tempo, fez a matéria. Ele cria a partir 
do nada e assim é, sem questionamento, acreditava Agostinho.
Deus quis criar todas as coisas, mas não se deve buscar esta causa na 
vontade de Deus, pois Ele é causa única das coisas, e sendo a causa de 
tudo, não tem causa. Deste modo, toda criação surgiu da Palavra Cria-
dora, o Verbo (CARDOSO, 2010, p. 84).
Esse pensamento coloca a condição de existência como dádiva e não con-
quista. Ou seja, o homem na terra é uma concessão divina. Sua existência está 
sequestrada por um destino que não lhe pertence construir, apenas seguir os 
desígnios divinos, conforme descreve o próprio ilósofo.
[...] a vontade de Deus não é uma criatura; está antes de toda a criatura, 
pois nada seria criado se antes não existisse a vontade do Criador. Essa 
vontade pertence à própria substância de Deus. Se alguma coisa sur-
gisse na substância de Deus que antes lá não estivesse, não podíamos, 
com verdade, chamar a essa substância eterna. Mas, se desde toda a 
eternidade é vontade de Deus que existam criaturas, por que razão não

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