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Revista científica dos profissionais de fisioterapia Ano 11 - Nº 4 - out / nov / dez - 2016 Fundamentação teórica para ®criolipólise polarys convencional, reperfusão e contraste Influência do Método Pilates nas alterações pulmonar, postural e psicossocial observadas na asma As consequências da mastectomia: enfoque físico e psicológico Distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos como preditora de óbito em cardiopatas: um estudo retrospectivo Fisioterapia oculomotora no tratamento da presbiopia Modificações de função pulmonar mediante treinamento físico Percepções pessoais da protetização e o impacto na qualidade de vida e na independência funcional de pacientes com amputação transfemural unilateral 181 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 SUMÁRIO 181 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 ARTIGOS ORIGINAIS Influência do Método Pilates nas alterações pulmonar, postural e psicossocial observadas na asma ............................... 183 Keila Soares da Silva, Anna Victória Ribeiro Porras, Charles da Cunha Costa, Rondinele de Jesus Barros, Alba Barros Souza Fernandes As consequências da mastectomia: enfoque físico e psicológico ..................................................................................... 188 Marcela Rufino Araujo, Clícia Guilherme de Oliveira Paiva Araújo, Ana Vanessa Araujo Pedrosa, David Jonathan Nogueira Martins, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos Distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos como preditora de óbito em cardiopatas: um estudo retrospectivo .................................................................................................................................................. 195 Joédson da Silva, Vanessa do Carmo Correia, Júlio Marins de Castro, Patrícia dos S.V. de Abreu, Marco Orsini, Tiago Batista da Costa Xavier, Mauricio de Sant Anna Jr, Dominique Babini Lapa de Albuquerque, Nathielly Carolina Silva Gonçalves, Paulo Henrique de Melo Fisioterapia oculomotora no tratamento da presbiopia ................................................................................................... 199 Dominique Babini Lapa de Albuquerque, Nathielly Carolina Silva Gonçalves, Paulo Henrique de Melo Modificações de função pulmonar mediante treinamento físico ...................................................................................... 203 M. S. Pinto, K. Marques, Araújo L.D., P. M. Sá Percepções pessoais da protetização e o impacto na qualidade de vida e na independência funcional de pacientes com amputação transfemural unilateral ........................................................................................................... 206 Angelina Maria dos Santos Oeby, Rebeca Andrade de Freitas, Monique Opuszcka Campos, Leandro Dias de Araujo REVISÕES Características anatomofisiológicas da articulação temporomandibular .......................................................................... 213 Aureliano da Silva Guedes, Antônio José da Silva Nogueira, Aureliano da Silva Guedes II O uso da corrente russa na flacidez abdominal em mulheres no puerpério ..................................................................... 218 Izabel Cristina Melo de Oliveira, Maria dos Prazeres Carneiro Cardoso, Maykon Felipe Pereira da Silva, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha Prevenção de lesões em atletas no uso de protocolos: uma revisão integrativa ............................................................... 221 Maykon Felipe Pereira da Silva, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha Fundamentação teórica para criolipólise polarys® convencional, reperfusão e contraste .................................................. 224 Estela Sant’Ana RESUMOS ....................................................................................................................................................................232 AGENDA ......................................................................................................................................................................239 NORMAS .....................................................................................................................................................................240 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 182 A Revista Fisioterapia Ser é um periódico Técnico-científico sobre fisioterapia, registrado no International Standard Se- rial Number (ISSN), sob o código 1809-3469, com distribuição trimestral no Brasil e na América Latina. É uma publicação di- rigida a fisioterapeutas, professores, pesquisadores, acadêmicos de fisioterapia, empresários e demais instituições da área. Stevenson Edições e Recursos - Editora Ser - É proibida a reprodução total ou parcial dos artigos publicados, sejam quais forem os meios empregados (mimiografia, fotocópia, datilografia, gravação, reprodução em discos ou fitas), sem permissão por escrito da Editora Ser. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 122 e 130 da lei 5.988 de 14/12/83. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Conselho Científico Alessandro dos Santos Pin (UFAM - Coari/AM) Anke Bergmann (UNISUAM - Rio de Janeiro/RJ) Aureliano da Silva Guedes (UFPA - Belém/PA) Beatriz Helena de S. Brandão (HSE - Rio de Janeiro/RJ) Elhane Glass Morari-Cassol (UFSM - Santa Maria/RS) Fábio Oliveira Maciel (UFAM - Coari/AM) Fernanda Luisi (UFCSPA - RS) Geraldo Magella Teixeira (UNCISAL - Maceió/AL) Jones Eduardo Agne (UFSM - RS) Júlio Guilherme Silva (UNISUAM - Rio de Janeiro/RJ) Maria Goretti Fernandes (UFS - SE) Mário Bernardo Filho (UERJ - Rio de Janeiro/RJ) Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno (CEULP - Palmas/TO) Mauricio de Sant´Anna Junior (IFRJ - Rio de Janeiro/RJ) Nadja de Souza Ferreira (FRASCE - Rio de Janeiro/RJ) Sérgio Nogueira Nemer (HCN - Niterói/RJ) Silmar Silva Teixeira (UFPI - Parnaíba/PI) Vasco Pinheiro Diógenes Bastos (CUEC/FIC - Fortaleza/CE) Victor Hugo do Vale Bastos (UFPI - Parnaíba/PI) Wilma Costa Souza (UCB - Rio de Janeiro/RJ) Assessores Alessandro Júlio de Jesus Viterbo de Oliveira (Avante - RS) Alexandre Gomes Sancho (UNIGRANRIO - RJ) Alexsander Evangelista Roberto (Rio de Janeiro/RJ) Blair José Rosa Filho (UNIVERSO - Niterói/RJ) Camila Costa de Araújo (UENP - PR) Danúbia da Cunha de Sá Caputo (Rio de Janeiro/RJ) Fábio dos Santos Borges (UNESA - Rio de Janeiro/RJ) Fábio Marcelo Teixeira de Souza (Rio de Janeiro/RJ) Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (IFRJ - Rio de Janeiro/RJ) Hélio Santos Pio (Rio de Janeiro/RJ) Henrique Baumgarth (ABCROCH - Rio de Janeiro/RJ) Jefferson Braga Caldeira (UNIGRANRIO - Rio de Janeiro/RJ) José da Rocha Cunha (UNESA - Rio de Janeiro/RJ) José Tadeu Madeira de Oliveira (IBC - Rio de Janeiro/RJ) Kátia Maria Marques de Oliveira (UCB - Rio de Janeiro/RJ) Leandro Azeredo (IACES - Rio de Janeiro/RJ) Leandro Gomes Barbieri (INTA - Sobral/CE) Ludmila Bonelli Cruz (UNIVERSO - MG) Márcia Maria Peixoto Leite (UFBA - Salvador/BA) Nílton Petrone Vilardi Jr. (Rio de Janeiro/RJ) Palmiro Torrieri (Rio de Janeiro/RJ) Odir de Souza Carmo (Rio de Janeiro/RJ) Wagner Teixeira dos Santos (UCB - Rio de Janeiro/RJ) Wellington Pinheiro de Oliveira (CESUPA - PA) Esta revista é indexada pela CAPES com média QUALIS B4 em Engenharia III, Interdisciplinar, Medicina II, Edu- cação e Saúde Coletiva. Assinaturas: Anual – 4 números – R$ 168,00 Bianual – 8 números – R$ 252,00 Endereço: Rua Adriano, 300 - Bl.: 19 / 204 Méier - Cep 20735-060 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax.: (21) 98661-2711 e 98014-2927 www.editoraser.com.br Stevenson Gusmão Diretor / Editor Executivo Aline Figueiredo Projeto Gráfico / Dir. Arte Luana Menezes Colaboradora de redação 183 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 Artigo Original Influência do Método Pilates nas alterações pulmonar, postural e psicossocial observadas na asma Influence of pilates methodin pulmonary, postural and psychosocial changes observed in asthma Keila Soares da Silva1, Anna Victória Ribeiro Porras2, Charles da Cunha Costa3, Rondinele de Jesus Barros4, Alba Barros Souza Fernandes5 Resumo Introdução: A asma é uma doença inflamatória crônica, associada à hiperres- ponsividade das vias aéreas e episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse. Em função do recrutamento excessivo da musculatura acessória da respiração, indivíduos asmáticos podem apresentar alterações posturais, além do comprometimento pulmonar. Portanto, o objetivo desse estudo foi analisar os efeitos de exercícios do Método Pilates na função pulmonar e nas alterações postu- rais e psicossociais na asma. Metodologia: Voluntários com asma foram avaliados com relação à força muscular respiratória, pico de fluxo expiratório, mobilidade torácica, tolerância ao exercício, alterações posturais e qualidade de vida antes e após serem submetidos a um protocolo de tratamento com o Método Pilates. Resultados: O Método Pilates foi eficaz em aumentar a pressão expiratória máxi- ma em 23,38% (p = 0,02) e a distância percorrida em seis minutos em 13,20% (p = 0,00), além de influenciar a qualidade de vida nos domínios global (p = 0,02), sintomas (p = 0,01) e limitação de atividade (p < 0,00). Conclusões: O Método Pilates aumentou a força dos músculos expiratórios e a tolerância ao exercício em asmáticos, além de melhorar a qualidade de vida. Palavras-chave: asma, pilates, fisioterapia. Abstract Introduction: Asthma is a chronic inflammatory disease associated with ai- rway hyperresponsiveness and recurrent episodes of wheezing, breathlessness, chest tightness and coughing. The excessive accessory muscles of respiration recruitment leads to postural changes, in addition to lung function impairment. Therefore, the aim of this study was to analyze the effects of Pilates exercises on lung function and the postural and psychosocial changes in asthma. Methodology: Volunteers with asthma were evaluated for respiratory muscle strength, peak expi- ratory flow, thoracic mobility, exercise tolerance, postural changes and quality of life before and after undergoing a treatment protocol with the Pilates Method. Re- sults: The Pilates Method was effective in increasing maximal expiratory pressure in 23.88% (p = 0.02) and the six minutes distance walked in 13.26% (p = 0.00), besides influencing in domains global (p = 0.02), symptoms (p = 0.01) and limita- tion of activity (p < 0.00). Conclusions: The Pilates Method increased the strength of the expiratory muscles and exercise tolerance in asthmatic, besides favoring the improvement in quality of life. Keywords: asthma, pilates, physiotherapy. 1. Fisioterapeuta, Graduada pelo Centro Univer- sitário Serra dos Órgãos - UNIFESO, Teresó- polis, RJ, Brasil. 2. Discente do Curso de Graduação em Fisiote- rapia do UNIFESO. 3. Fisioterapeuta, Graduado pelo UNIFESO. 4. Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício, Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia do UNIFESO. 5. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências, Docen- te do Curso de Graduação em Fisioterapia do UNIFESO. Endereço para correspondência: Alba Barros Souza Fernandes – Clínica-Escola de Fisiote- rapia – Centro de Ciências da Saúde – Cen- tro Universitário Serra dos Órgãos – Estrada Wenceslau José de Medeiros, 1045, Prata – CEP 25976-345 – Teresópolis, RJ – Brasil – Telefone: (21) 2743-5311 E-mail: alba.fernandes@gmail.com Recebido para publicação em 26/08/2016 e acei- to em 30/09/2016, após revisão. Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 184 Introdução A asma é uma doença inflamatória crônica, que está associada à hiperresponsividade das vias aéreas, levando a episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse, principalmente à noite ou pela manhã ao despertar. Esses episódios são uma consequência da obstrução variá- vel ao fluxo aéreo, que pode ser reversível espontaneamen- te ou com tratamento. As exacerbações são decorrentes da interação entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes, além de outros fatores que contribuem para o de- senvolvimento e manutenção dos sintomas1. Indivíduos asmáticos apresentam consideráveis res- trições físicas, que quando não controladas devidamente, geram limitações nas atividades de vida diária e atividades de lazer, além de também apresentarem alterações sociais e emocionais2,3. Segundo Marcelino4, a hiperinsuflação oca- sionada pelo aumento da resistência das vias aéreas altera a posição dos músculos respiratórios, incluindo o diafragma, diminuindo a sua eficiência mecânica. Além disso, é comum pacientes com asma desenvolve- rem alguns tipos de alterações posturais, devido ao compro- metimento da mecânica respiratória. Os episódios de crises, o aumento do volume residual e o uso excessivo da muscu- latura acessória da respiração contribuem para uma restrição na mobilidade do tórax e podem causar assimetrias, proble- mas musculoesqueléticos e movimentos compensatórios5,6,3. Além das alterações posturais, pacientes com doença respiratória crônica tendem a apresentar menor tolerância ao exercício físico em função de diversos fatores, incluindo difi- culdade respiratória, restrição a atividades ou mesmo falta de atividades fisicomotoras7. Essas limitações levam ao descon- dicionamento do sistema cardiorrespiratório, gerando dimi- nuição da força muscular de membros superiores e inferiores2. O Método Pilates vem se destacando como importante ferramenta, principalmente nas correções de alterações pos- turais, pois tem a função de fortalecer, alongar e melhorar a postura. Os diferentes tipos de exercícios realizados no Pila- tes possibilitam a melhora do condicionamento cardiorrespi- ratório e muscular. Além disso, a prática do Pilates apresenta um diferencial em relação às outras atividades físicas, pois uma de suas importantes características é o controle da res- piração, que enfatiza a importância de manter os níveis de oxigenação da circulação sanguínea8. Nesse contexto, o Pilates, em virtude do fortalecimento do centro corporal e pelo alongamento da musculatura da re- gião torácica e da musculatura acessória da respiração9, pode ser eficaz na asma, visando à correção das alterações pos- turais e, consequentemente, a melhora da função pulmonar. Metodologia O presente estudo foi realizado no setor de Pilates da Clínica-Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Ser- ra dos Órgãos (UNIFESO). Foram incluídos indivíduos com diagnóstico clínico de asma, de ambos os sexos, independen- temente do estágio da doença, clinicamente estáveis. Foram excluídos indivíduos com incapacidade cognitiva, que impos- sibilitasse a compreensão/realização das avaliações, com limi- tação da amplitude de movimento da articulação de ombro e de joelhos; voluntários obesos; com história de infecções res- piratórias em um período inferior a 30 dias, cirurgias recentes e indivíduos acima de 60 anos. O protocolo de pesquisa estava em consonância com a Resolução 466/12 e foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa do UNIFESO – CEPq, via Pla- taforma Brasil, e aprovado em 03/07/2014 sob o parecer de número 712.954. Todos os integrantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os sinais vitais, incluindo ausculta pulmonar (AP), pres- são arterial (PA), frequência cardíaca (FC), frequência respi- ratória (FR) e saturação periférica de oxigênio (SpO 2 ) foram verificados anteriormente e posteriormente à intervenção, com os participantes respirando em ar ambiente e em repou- so. Também foram observados os níveis de fadiga e dispneia, através da Escala Subjetiva de Borg. A avaliação da força da musculatura respiratória foi obtida por meio das medidas de pressão inspiratória máxi- ma (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx)10. Três medidas de cada uma das pressões foram executadas com um manovacuômetro, sendo considerado para o estudoa de maior valor11. O Pico de Fluxo Expiratório (PFE) foi ana- lisado a partir da Capacidade Pulmonar Total, através de três medidas em um medidor de pico de fluxo expiratório. O maior valor obtido foi usado para quantificar o grau de obstrução das vias aéreas. A mobilidade torácica foi verificada através da cirtome- tria torácica, utilizando-se uma fita métrica escalonada em centímetros (cm) e posicionada horizontalmente em quatro níveis: axilar, xifoidiano, últimas costelas e linha umbilical. Entretanto, para análise dos dados, foi considerado o maior valor obtido das três medidas realizadas e calculado o Índice de Amplitude (IA), com a finalidade de atenuar as diferentes dimensões de tórax e abdômen12. A análise postural foi realizada através da fotogrametria computadorizada (biofotogrametria). O procedimento para ob- tenção das imagens foi padronizado com a determinação de dis- tâncias fixas entre a câmera fotográfica e o solo e entre a câmera e o voluntário, posicionando a câmera sobre um tripé nivelado e colocado paralelamente ao solo, com uma distância de 3,0 m do indivíduo avaliado. Os indivíduos se posicionaram com os pés descalços a uma distância de 15,0 cm de um pé ao outro e a 30,0 cm do calcanhar à parede para um melhor equilíbrio corpo- ral. Os membros superiores permaneceram na posição neutra. Foram retiradas três imagens de cada participante em cada uma das quatro posições em ortostatismo: vista anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda. Não foi utilizado zoom para evitar distorções. Todas as fotografias foram realizadas pelo mesmo examinador. Os pontos anatômicos utilizados para aná- lise das imagens foram previamente marcados nos voluntários por marcadores de isopor brancos. A todos os voluntários foi solicitado o uso de um short ou calça de lycra e de um top, para que os pontos anatômicos ficassem expostos. Na vista anterior, foram marcadas as articulações acrômio-claviculares, apêndi- ce xifoide e incisura jugular. Na vista posterior, os processos espinhosos da sétima vértebra cervical (C7), décima segunda vértebra torácica (T12) e quinta vértebra lombar (L5), ângulos inferiores e superiores das escápulas e espinhas ilíacas poste- rossuperiores (EIPS). As imagens capturadas foram analisadas 185 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 pelo software ALCimagem®, que mede os ângulos formados pelas linhas traçadas a partir dos pontos anatômicos, a fim de identificar e quantificar possíveis assimetrias6,13,14,15,16. O instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida dos indivíduos asmáticos foi o Questionário sobre Qualida- de de Vida em Asma com Atividades Padronizadas (AQLQ (S)), que é um questionário específico de medição de quali- dade de vida de pessoas com asma, constituído por 32 itens, sendo doze itens relativos aos sintomas, onze relativos a li- mitações de atividades, cinco relativos à função emocional e quatro relativos à exposição ambiental. Foi solicitado aos indivíduos que recordassem as experiências das duas últimas semanas e que respondessem a cada questão em uma escala de sete pontos (de “totalmente limitado” a “nada limitado”). A pontuação global do AQLQ (S) foi obtida através da média das 32 respostas, e a pontuação individual de cada domínio também foi obtida a partir da média dos itens que constituem cada domínio. Valores menores que quatro indicam aumen- to da gravidade e valores maiores que quatro indicam menor comprometimento17,18. O questionário foi aplicado sob a for- ma de entrevista, em um ambiente silencioso e isolado, e os participantes responderam às questões sem interferência. Para interrogar os participantes, o entrevistador leu as questões e as alternativas de resposta em voz alta, sem explicações A tolerância ao exercício foi avaliada através do Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M), que é um teste de esforço submáximo que engloba e integra diversos sistemas envolvidos durante a atividade física, sendo indicado principalmente para avaliar a capacidade funcional19. É um método simples para se observar a melhora do desempenho nas provas de tolerância ao exercício, de fácil aplicabilidade, bem tolerado pelos pacientes e o que melhor reproduz as atividades de vida diária20. Na re- alização do teste, os participantes caminharam em um terreno plano, nivelado, sem obstáculos e sem trânsito de pessoas, per- fazendo a distância entre dois cones separados por 30 metros, a uma velocidade auto imposta pelo próprio voluntário. Os dados obtidos foram comparados estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade, através do software SigmaStat 3.5 (Systat Software, Inc., 2006). Para a aplicabilidade da cor- relação linear simples e comparação entre os grupos, foi testada a normalidade dos dados pelo Teste de Normalidade Kolmo- gorov-Smirnov. Em seguida, foi aplicado o teste da mediana de Levene para verificar a homogeneidade das variâncias. Os dados paramétricos foram comparados pelo Paired t-test e os dados não paramétricos pelo Wilcoxon Signed Rank Test. Resultados No presente estudo, foram avaliados oito indivíduos asmáticos clinicamente estáveis, com idade mediana de 56 anos (21,50-57,50). Todos os participantes completaram o tratamento e, quando houve falta, a sessão de tratamento foi reposta na mesma semana. Os resultados deste estudo estão apresentados em tabe- las, com formatação padronizada no intuito de facilitar a in- terpretação dos dados. A seguir, estão descritas, na tabela 1, as características dos indivíduos asmáticos analisados antes e após terem sido submetidos ao tratamento pelo Método Pilates. Nenhum dos parâmetros avaliados apresentou dife- rença estatística após o tratamento. Tabela 1: Características da amostra. Valores expressos como mediana (1º e 3º quartis) de oito indivíduos com asma, que foram submetidos ao tratamento com o Método Pilates. IMC: índice de massa corpórea; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; FR: frequ- ência respiratória; SpO2: saturação periférica de oxigênio. Antes Após P IMC (kg/m2) 28,90 (25,68-33,75) 28,90 (25,68-33,75) 1,00 PAS (mmHg) 121,00 (118,00-139,00) 121,00 (120,00-132,00) 1,00 PAD (mmHg) 81,00 (77,00-88,00) 80,00 (80,00-84,00) 1,00 FC (bpm) 77,00 (63,50-91,50) 81,50 (66,50-82,50) 1,00 FR (irpm) 17,50 (16,50-19,00) 17,00 (13,50-18,50) 0,62 SpO2 (%) 95,00 (94,00-96,00) 95,00 (94,00-97,00) 0,50 Na análise da função pulmonar, foram avaliados os pa- râmetros de força dos músculos respiratórios e pico de fluxo expiratório antes e após o tratamento. Observou-se que ape- nas a pressão expiratória máxima foi influenciada pelo Mé- todo Pilates, aumentando em 23,88% (p = 0,02). A mobili- dade do tórax foi avaliada através da cirtometria torácica em quatro níveis: linha axilar, apêndice xifoide, últimas costelas e linha umbilical, obtendo-se o índice de amplitude (IA) em cada um desses níveis. Após o tratamento, não foi observa- da diferença estatística em nenhum dos níveis avaliados. A tolerância ao exercício foi analisada através da distância per- corrida no teste de caminhada de seis minutos (DP6M). Ao comparar esses valores antes e após a aplicação do protocolo de tratamento, foi possível observar um aumento de 13,20% nesse último parâmetro (p = 0,00) (tabela 2). Tabela 2: Análise da função pulmonar, cirtometria torácica e teste de caminhada de seis minutos. Dados expressos em média ± desvio padrão de oito indivíduos com asma, que foram submetidos ao tratamento com o Método Pilates. PI- máx: pressão inspiratória máxima; PEmáx: pressão expira- tória máxima; PFE: pico de fluxo expiratório; IA: índice de amplitude, DP6M: distância percorrida em seis minutos. *Estatisticamente diferente dos parâmetros observados antes do protocolo de tratamento. Antes Após P PImáx (cmH2O) -94,00 ± 31,78 -106,50 ± 26,78 0,13 PEmáx (cmH2O) 90,00 ± 22,82 111,50 ± 10,78 0,02* PFE (L/min) 307,50 ± 123,60 335,00 ± 81,59 0,33 IA axilar 2,47 ± 2,52 1,96± 3,08 0,47 IA apêndice xifoide 2,63 ± 1,85 2,85 ± 2,06 0,51 IA últimas costelas 2,44 ± 3,74 2,63 ± 2,54 0,76 IA linha umbilical -1,55 ± 2,81 1,00 ± 1,77 0,07 DP6M 490,25 ± 85,31 555,00 ± 89,61 0,00* A análise postural dos indivíduos envolvidos no estu- do foi realizada no programa ALCimagem. Foram coletadas três imagens de cada indivíduo nas posições anterior, pos- terior e perfil direito. Cada um dos ângulos foi medido três vezes e foi calculada uma média, a fim de minimizar os erros de análise e medição. Na posição anterior, foram calculados quatro ângulos: A1 - ombro esquerdo; A2 - ombro direito, A3 - pelve esquer- da; A4 - pelve direita. Os ângulos A1 e A2 foram obtidos através das marcações: incisura jugular; articulação acrô- mio-clavicular e processo xifoide. Os ângulos A3 e A4 foram obtidos através das marcações: cicatriz onfálica e espinhas ilíacas anterossuperiores. Ao comparar os ângulos A1 e A2, verificou-se que o ombro mais elevado foi o que apresentou menor valor. Ao comparar os ângulos A3 e A4, verificou-se Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 186 que a pelve mais elevada foi a que apresentou maior valor. Após a intervenção, não houve diferença estatisticamente significativa na angulação dos ombros e das pelves. Na posição posterior, foram calculados quatro ângulos: A1 - ombro direito; A2 - ombro esquerdo, A3 - pelve es- querda; A4 - pelve direita. Os ângulos A1 e A2 foram ob- tidos através das marcações: processo espinhoso da sétima vértebra cervical (C7) e ângulos superiores das escápulas. Os ângulos A3 e A4 foram obtidos através das marcações: espinhas ilíacas posterossuperiores e quinta vértebra lom- bar (L5). Ao comparar os ângulos A1 e A2, verificou-se que o ombro e/ou escápula mais elevado foi o que apresentou maior valor. Após a interversão, não houve diferença signifi- cativa na angulação dos ombros e/ou escápulas. Na posição perfil direito, foram calculados dois ângulos: A1 - posição de cabeça; A2 - curvatura torácica. O ângulo A1 foi obtido através das marcações: processo espinhoso de C7; incisura jugular e mento. O ângulo A2 foi obtido através das marcações: processo espinhoso de C7; processo espinhoso da quarta vértebra torácica (T4) ou ponto mais proeminente da cifose e processo espinhoso da décima segunda vértebra torácica (T12). Verificou-se que quanto maior o ângulo A1, maior a anteriorização da cabeça; e quanto menor o ângulo A2, maior a cifose torácica. Após a intervenção, não houve diferença significativa tanto na posição da cabeça quanto na curvatura torácica. Os valores das medianas das angulações obtidas na análise postural estão citados na tabela 3. Tabela 3: Análise postural. Valores expressos como mediana (1º e 3º quartis) de oito indivíduos com asma, que foram sub- metidos ao tratamento com o Método Pilates. AP.A1: angula- ção do ombro direito; AP.A2: angulação do ombro esquerdo; AP.A3: angulação da pelve direita; AP.A4: angulação da pelve esquerda; PA.A1: angulação do ombro direito; PA.A2: angula- ção do ombro esquerdo; PA.A3: angulação do ombro direito; PA.A4: angulação do ombro esquerdo; PERFIL A1: ângulo da posição da cabeça; PERFIL A2: angulação do tórax. Antes Após P AP.A1 45,24 (40,41-49,17) 46,22 (40,87-54,10) 0,07 AP.A2 46,00 (42,23-51,82) 47,33 (44,06-54,00) 0,64 AP.A3 14,48 (9,97-21,08) 16,09 (12,54-22,27) 0,38 AP.A4 14,17 (10,26-24,46) 14,72 (13,71-25,46) 0,31 PA.A1 66,76 (64,46-70,29) 66,69 (63,44-68,71) 0,46 PA.A2 64,84 (59,90-68,54) 65,60 (60,42-69,87) 0.31 PA.A3 14,76 (11,61-16,27) 14,57 (12,58-18,50) 0,29 PA.A4 13,59 (12,17-17,00) 14,62 (13,49-19,14) 0,84 Perfi l.A1 102,34 (98,21-105,33) 103,26 (96,09-106,37) 1,00 Perfi l.A2 199,61 (197,04-205,24) 200,53 (195,84-202,90) 0,25 A qualidade de vida foi avaliada através do Questionário sobre Qualidade de Vida em Asma com Atividades Padroni- zadas (AQLQ (S)). Os valores das medianas do AQLQ (S) nos domínios “global”, “sintomas”, “limitação de atividade”, “função emocional” e “estímulo ambiental” estão dispostos na tabela 4. A pontuação quatro indica grau de comprometimento moderado; valores acima de quatro indicam menor compro- metimento; e valores abaixo de quatro indicam um aumento da gravidade. Ao comparar esses valores antes e após a aplica- ção do protocolo de tratamento, foi possível observar uma me- lhora estatisticamente significativa nos domínios global (p = 0,02), sintomas (p = 0,01) e limitação de atividade (p < 0,00). Tabela 4: Questionário sobre Qualidade de Vida em Asma com Atividades Padronizadas. Valores expressos como me- diana (1º e 3º quartis) de oito indivíduos com asma, que fo- ram submetidos ao tratamento com o Método Pilates. AQLQ (S): Questionário sobre Qualidade de Vida em Asma com Atividades Padronizadas. *Estatisticamente diferente dos parâmetros observados antes do protocolo de tratamento. Domínio AQLQ (S) Antes Após P Global 5,85 (4,75-6,45) 6,55 (6,05-6,75) 0,02* Sintomas 5,30 (4,10-6,55) 6,50 (6,15-6,90) 0,01* Limitação de Atividade 5,00 (4,30-5,55) 6,05 (5,75-6,70) < 0,00* Função Emocional 6,20 (4,70-7,00) 7,00 (6,90-7,00) 0,09 Estímulo Ambiental 5,35 (3,60-6,35) 6,85 (6,10-7,00) 0,07 Discussão O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos do Método Pilates nas alterações pulmonares, posturais e na qualidade de vida de indivíduos asmáticos. O Método Pilates contribui para a melhoria na qualidade de vida, pois, através da prática de exercícios físicos espe- cíficos, promove bem-estar e saúde, proporcionando maior agilidade, mobilidade e equilíbrio21. Durante a realização dos exercícios, são ativados diversos músculos que estão en- volvidos na respiração, principalmente os responsáveis pela expiração, visto que os mesmos se encontram contraídos du- rante as fases de inspiração e expiração22. No presente estudo, foi possível observar uma melho- ra significativa da força muscular expiratória. Essa melhora ocorreu, possivelmente, devido ao trabalho dos músculos respiratórios, especificamente dos músculos abdominais, e dos exercícios de alongamento da musculatura acessória da respiração. Esses resultados se assemelham aos achados de Lima23 e Dourado24, que também mostraram uma melhora da PEmax, através de exercícios que visavam ao fortalecimento direto da musculatura abdominal. A ativação desses múscu- los, durante a realização dos exercícios do Método Pilates, principalmente do músculo reto abdominal, justifica o au- mento da força muscular expiratória. Costa et al.25 realizaram um estudo com 10 indivíduos asmáticos, de ambos os sexos, utilizando como protocolo de tratamento o método kinetic Control, associado ao alonga- mento da musculatura acessória da respiração. Esses autores observaram melhora na força dos músculos respiratórios, tanto inspiratórios quanto expiratórios. Apesar desse estudo utilizar um outro método de tratamento, os autores também mostraram que a melhora da função pulmonar pode ser obti- da pelo tratamento das alterações posturais. De acordo com Fonseca26, o PFE representa o fluxo má- ximo gerado durante uma expiração forçada, realizada com grande intensidade e partindo de um nível elevado de insufla- ção pulmonar, ou seja, da capacidade pulmonar total. Portanto, esse índice é considerado um indicador indireto da obstrução das vias aéreas, sendo influenciado pelo grau de insuflação pul- monar, complacência torácica, musculatura abdominal e força muscular inspiratória gerada pelo paciente. No presente estudo, não foi observado uma modificação no PFE após o tratamento com o Método Pilates. Esse resultado pode ter ocorrido pelo fato de não termos observado uma alteração na PImax. De acor- do com o estudo de Carter27, ao melhorar a força muscular res- piratória (PImáx e PEmáx) é possível diminuir a resistência das 187 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 vias aéreas e melhorar o PFE. O presente estudo mostrou que o protocolo de exercícios proposto influenciou apenas a PEmax. Durante a crise de asma, ocorre estreitamentoda via aérea, levando ao aumento da resistência ao fluxo de ar, re- sultando em uso excessivo da musculatura acessória da ins- piração e um padrão respiratório apical. De acordo com o a evolução da doença e com o aumento das crises, ocorre encurtamento da musculatura acessória da respiração, levan- do a uma alteração postural da caixa torácica. Os pacientes passam a adotar um padrão apical e pode ocorrer uma hipe- rinflação, prejudicando a mecânica do músculo diafragma e o posicionamento da coluna cervical e da cintura escapular, com redução da mobilidade torácica28. No presente estudo, verificou-se que a mobilidade to- rácica não foi influenciada pelos exercícios propostos. Esse resultado contradiz os achados observados no estudo de Kaki- zaki29. Esses autores obtiveram melhora da mobilidade toráci- ca após realizarem exercícios de alongamento da musculatura acessória da respiração. Similarmente, Lozano30, ao utilizarem como protocolo de tratamento o alongamento da musculatura acessória da respiração em indivíduos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica a partir do método de Reeducação Postural Global (RPG), observaram melhora significativa da mobili- dade torácica. Os resultados do presente estudo podem estar relacionados devido ao tempo, sendo insuficiente para que houvesse uma melhora durante o tratamento. O encurtamento muscular observado nos pacientes as- máticos leva à compensação das estruturas envolvidas, pro- movendo alterações posturais e prejudicando ainda mais a mecânica respiratória31. Quadros e Furlanetto8, em seu es- tudo, analisaram quatro mulheres sedentárias e observaram, após 20 sessões de Pilates, uma melhora estatisticamente significativa na postura, o que contradiz os resultados encon- trados no presente estudo, visto que o protocolo de tratamen- to aqui empregado não resultou em modificação na análise postural. Esses resultados possivelmente podem estar rela- cionados com o número de sessões realizadas. Devido ao nível de obstrução das vias aéreas, indivíduos asmáticos tendem a apresentar menor tolerância ao exercício, quando comparados com indivíduos comuns, pois apresentam limitações durante a prática de atividade física. O exercício in- duz a ocorrência de broncoespasmos, gerando diminuição da ca- pacidade ventilatória e aumento da dispneia, o que contribui para que o indivíduo reduza a prática de atividades físicas e adote, consequentemente, um estilo de vida sedentário32. Fonseca33 realizou um estudo com seis pacientes asmáti- cos adultos, que foram submetidos a 12 semanas de tratamen- to através de um programa de exercícios físicos domiciliares. Esses indivíduos realizaram a espirometria e o TC6M antes e após o início do programa. Pode-se observar, através da espi- rometria, a melhora da Capacidade Vital Forçada (CVF) e do Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo (VEF1). Os autores também mostraram, através do TC6M, que cinco dos seis pacientes aumentaram a distância percorrida após 12 semanas de tratamento. Tais pacientes relataram melhora da sensação de dispneia e da fadiga durante a atividade de vida diária. Ao comparar com o presente estudo, também ob- servamos um aumento significativo da distância percorrida após a aplicação do protocolo de tratamento com o Método Pilates, evidenciando que a prática de um programa de exer- cícios beneficia uma melhor tolerância ao exercício. De acordo com Souza34, pacientes com asma apresentam di- minuição da qualidade de vida independentemente da gravidade da asma, nos domínios psicológicos, físicos e sociais, gerando restrições durante a vida. Em nosso estudo, ao comparar a quali- dade de vida antes e após o protocolo de tratamento, observou-se uma melhora significativa nos domínios “Global”, “Sintomas” e “Limitação de Atividade” do questionário aplicado. Conclusão Pode-se dizer que, no presente estudo, apesar de não ter- mos observado uma alteração na avaliação postural, o pro- tocolo de exercícios proposto determinou uma melhora na função pulmonar em relação a força muscular expiratória e tolerância ao exercício. Portanto, o Método Pilates pode ser uma opção para o tratamento de indivíduos asmáticos em função de melhorar as alterações pulmonares, o condicionamento cardiorrespira- tório e a qualidade de vida. Dessa forma, o Pilates pode atuar em conjunto com a Fisioterapia Respiratória Convencional, a fim de fornecer um tratamento mais ampliado para a asma. Referências 1. Diretrizes da sociedade brasileira de pneumologia e tisiologia pra o manejo da asma. Jornal brasileiro de pneumologia 2012; V.38: n.1, p.1- 46. 2. Silva TLP. Efeitos de um programa de treinamento físico em mulheres asmáticas. [dissertação de mestrado] na área de concen- tração: respiratória. Universidade federal de são carlos; São paulo 2006; 21. 3. Furtado NC, Silva DML, Vianna GMM, Fernandes ABS. Função pulmonar e análise postural de pacientes asmáticos atendi- dos na clínica escola de fi sioterapia do unifeso. Movimento & saúde: revista inspirar 2012;4:1-7. 4. Marcelino AMFC, Cunha DA, Cunha RA. Força muscular respiratória em crianças asmáticas. Int arch otorhinolaryngo. São paulo, Dez.2012; p. 492-493. 5. Azevedo VMGO, Rocha PMC, Casaes GPE, Lopes RB, Carneiro RP. Alterações posturais em crianças asmáticas. 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As sequelas pós-cirúrgicas são as aderências na parede torácica, fraqueza do membro superior envolvido, alterações posturais e restrições na mobilidade do ombro, hipostesia do membro acometido, dor e linfedema. O estudo objetiva analisar as consequências da mastectomia com enfoque físico e psicológico. O tipo de estudo é de caráter descritivo, observacional e transversal com estratégia de análise quantitativa dos resultados, a pesquisa foi realizada no Programa de Assistência à Mulher Mastectomizada (PROAMMA) do Centro Universitário Estácio do Ceará. A amostra foi composta por mulheres faixa etária de 40 a 70 anos de idade participantes do projeto. O perfil demográfico das entrevistadas é caracterizado por 55,56% (n= 5) de casadas; 88,89% (n=8) são mães; 88,89% (n=8) foram submetidas à mastectomia radical; 33,33% (n=3) fizeram op- ção pela reconstrução mamária; 100% (n=9) realizou radioterapia; 55,56% (n=5) apresentavam linfedema no braço homolateral ao procedimento; 77,78% (n=7) mantiveram o trofismo normal; 100% (n=9) afirmaram que tiveram o apoio da fa- mília; 22,22% (n=2) mencionaram que sofreram rejeição e 77,78% (n=7) não exerce mais suas funções no trabalho ou em casa. Concluímos nesse estudo que o impacto físico ficou mais evidente nesse estudo que o psicológico, e toda essa repercussão está diretamente associada ao prejuízo apresentado nos resultados da analise de qua- lidade de vida dessas mulheres. É relevante o inicio precoce de tratamento fisioterá- pico na prevenção sequelas e de disfunções relacionadas à retirada da mama, como no tratamento de distúrbios já instalados. Palavras-chave: mastectomia, câncer de mama, aspectos físicos e aspectos psicológicos. 1. Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Estácio do Ceará. 2. Discente do Curso de Fisioterapia do centro Universitário Estácio do Ceará. 3. Fisioterapeuta. Mestre em Farmacologia. 4. Fisioterapeuta. Doutor em Farmacologia. Do- cente do Centro Universitário Estácio do Ceará. Endereço para correspondência: E-mail: vascodiogenes@yahoo.com.br Recebido para publicação em 11/09/2016 e acei- to em 13/11/2016, após revisão. 189 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 Abstract Breast carcinoma manifests as a painless nodule that has the prevalence at upper outer quadrant of the left breast, rea- ching in more severe cases the axillary and supraclavicular lymph nodes, being regarded as one of the most common diseases in women. The postoperative sequelae are adhesions in the chest wall, upper limb weakness involved, postural changes and restrictions on the mobility of the shoulder, hypoesthesia of the affected limb, pain and lymphedema. The study aims to analyze the consequences of mastectomy with physical and psychological approach. The type of study is a descriptive, obser- vational, cross-sectional nature with quantitative analysis of the results strategy, carried out in the Programme of Assistance to Women Mastectomized (PROAMMA) University Center Estácio of Ceará. The sample consisted of women aged 40-70 years of age participating in the project. The demographic profile of respondents is characterized by 55.56% (n=5) married, 88.89% (n=8) mothers, 88.89% (n=8) underwent radical mastectomy, 33.33% (n=3) did opt for breast reconstruction, 100% (n=9) realized radiotherapy, 55.56% (n=5) had lymphedema of the arm ipsilateral to the procedure, 77,78% (n=7) maintained normal tropism, 100% (n=9) said they had family support, 22.22% (n=2) mentioned that suffered rejection and 77.78% (n=7) has no more duties at work or at home. We conclude that the physical impact was most evident in this study that the psycho- logical, and all this effect is directly related to the loss reported in the results of the analysis of quality of life of these women. We also describe the importance of early onset of sequelae in physical therapy and prevention of disorders related to the re- moval of the breast, and the treatment of disorders that are already installed. It is relevant early initiation of physical therapy in preventing sequelae and dysfunctions related to the removal of the breast, asin the treatment of disorders already installed. Keywords: mastectomy, breast cancer, physical aspects and psychological aspects. Introdução O carcinoma mamário manifesta-se por um nódulo in- dolor que tem a prevalência pelo quadrante superior externo do lado esquerdo da mama, podendo atingir em casos mais graves os linfonodos axilares e supraclaviculares, sendo con- siderado como uma das doenças mais comuns nas mulheres1. As células cancerosas apresentam a capacidade de in- vadir o tecido normal e de disseminar para locais distantes. Essa característica é responsável, em última análise, pela morte da paciente, pois o tumor primário é geralmente sus- cetível à extirpação cirúrgica. É uma doença complexa e heterogênea com formas de evolução lenta ou rapidamente progressivas, dependendo do tempo de duplicação celular e outras características biológicas de progressão2. O câncer mamário é o segundo tipo de câncer mais fre- quente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Possui taxas de mortalidade elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estádios avançados. Acima dos 35 anos, sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estima-se 53 mil novos casos de câncer de mama no país3-5. Os fatores de ricos para o câncer de mama começam com a idade. É raro um tumor maligno de mama antes dos 35 anos, mas aos 50 anos o risco é muito grande; aos 65 anos, o risco é 100 vezes maior que aos 30. A mulher branca apresenta um índice global maior de incidência do que as mulheres negras, sendo esta diferença significante somente após a menopausa. Em seguida, vem a história familiar que pode aumentar em 85% o risco de contrair a doença, tendo maior risco de câncer de mama a mulher cuja mãe, tia, irmã ou avó foram acometidos pela doença6-8. É de suma importância a detecção do câncer de mama, como forma de prevenção, através do autoexame, consultas médicas, mamografias periódicas. Esse é um importante fator que tem contribuído para o aumento da sobrevida das mulheres com câncer de mama, além dos avanços da me- dicina. Através da mamografia pode-se detectar lesões não palpáveis, antes mesmo que elas se tornem evidentes9,10. A escolha do tratamento depende da avaliação indivi- dual de cada caso, levando em conta as características do tumor, da paciente e da fase da doença. O retardo no diagnós- tico ocasiona tratamentos mais agressivos e menos efetivos, aumenta o comprometimento físico e emocional da mulher e toda sua família o que, consequentemente, eleva os índices de mortalidade por esse tipo de câncer. A cirurgia constitui uma das fases mais importantes no tratamento do câncer, in- cluindo a remoção do tumor e dos tecidos adjacentes e, quase sempre, o esvaziamento axilar6,11-13. O esclarecimento sobre a natureza e os objetivos dos procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, é um direito do paciente, bem como de ser informado sobre sua invasibilidade, duração do tratamento, seus benefícios e prováveis desconfortos, e dos possíveis riscos físicos, psico- lógicos, econômicos e sociais por que possa vir a passar14. A técnica de tumorectomia consiste na remoção de todo o tumor com margens livres e, após o tratamento da mama, é realizado o esvaziamento axilar. Como em toda cirurgia conservadora, a radioterapia é parte integrante do tratamen- to. Na quadrantectomia, ocorre a retirada do quadrante ma- mário onde se localiza o tumor, com margens de segurança, juntamente com boa parte de pele e fáscia muscular, sendo complementada pelo esvaziamento axilar e radioterapia pós- -operatória. Para eleição do tratamento conservador os tumo- res não devem ultrapassar 3 cm, a menos que a mama seja bastante volumosa, permitindo bom resultado estético12. Dentre outras formas de tratamento destacam-se as mastectomias: • A mastectomia modificada, do tipo Patey é menos radical. São removidas a glândula mamária e o músculo pequeno peitoral de suas inserções na apófise coracóide, terceiro, quarto e quinto espaços intercostais em monobloco com esvaziamento axilar radical, linfonodos interpeitorais, apo- neurose anterior e posterior do músculo grande peitoral2. • A mastectomia radical, do tipo Halsted, consiste na extir- pação da mama, músculo grande e pequeno peitoral, e es- Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 190 vaziamento axilar radical. É indicada em infiltração exten- sa da musculatura peitoral e em caso de câncer localmente avançado tendo como finalidade básica a citorredução15. Ainda como terapia, a radioterapia representa uma arma importante no combate ao câncer por possuir grande capacida- de de destruir células malignas remanescentes no leito tumoral com alta eficácia. O tratamento é feito com aplicação de raios para eliminar qualquer célula que tenha sobrado no local da cirurgia que não tenha sido localizada pelo cirurgião e patolo- gista. E feito em uma máquina com duração e intensidade da terapia a depender das características do tumor e da paciente. Assim não há risco de lesão de órgãos fora do campo de irra- diação. Associada à cirurgia, a irradiação diminui o risco de recidiva e aumenta o tempo livre da doença, embora permane- ça controvertido, o potencial de aumento de sobrevida2. A reconstrução da mama tem por objetivo restabelecer a imagem corporal ou melhorar a autoestima, restaurar o vo- lume perdido, assegurar uma simetria com a mama oposta e recriar a aréola e mamilo. A reconstrução da mama pode ser feita ao mesmo tempo cirúrgico que a mastectomia, sendo denominada imediata ou pode ser feita após a mastectomia, sendo denominada tardia2. As sequelas pós-cirúrgicas são as aderências na parede torácica, fraqueza do membro superior envolvido, alterações posturais e restrições na mobilidade do ombro, hipostesia do membro acometido, dor e linfedema. No entanto, podem ocorrer cicatrizes cirúrgicas restritivas no tecido subjacente a mama na parede torácica, fibrose por radiação ou infecção da ferida. O ato cirúrgico poderá ocasionar diminuição da amplitude máxima de movimento no ombro envolvido, além de alterações posturais, bem como suas consequências1. Entre as possíveis complicações da cirurgia, o edema linfático de membro superior (linfedema) pode ocorrer após esvaziamento axilar e configura-se como condição crônica e incapacitante, o que resulta em alterações físicas, psicológi- cas e sociais. A prevenção é possível por meio de cuidados a serem adotados durante as atividades de vida diária. O sinto- ma inicial é a sensação de peso no braço16. O linfedema pode ser definido como um edema crôni- co devido à deficiência da drenagem do sistema linfático, com o acúmulo anormal de fluido rico em proteína no espa- ço intersticial resultando em desconforto, dores, aumento do risco de infecção, ocasionando uma diminuição importante na qualidade de vida, levando a um decréscimo da ativida- de física, abandono das atividades de lazer, diminuição da capacidade laboral, depressão e ansiedade. Ocorre após a ci- rurgia, imediatamente ou em fase mais tardia e se deve aos traumas da manipulação cirúrgica e a imobilidade antálgica da paciente. Geralmente, regride com o posicionamento do membro e com os exercícios orientados no pós-operatório12. O câncer de mama feminino é uma patologia que para a mulher, além do estigma, se traduz em muito sofrimento psico- físico e normalmente progride para uma cirurgia mutiladora de um órgão que simboliza feminilidade, sexualidade e materni- dade. A evolução dos métodos de detecção precoce proporcio- nam que os tumores passem a ser descoberto em estadiamentos menores, favorecendo o tratamento e a sobrevida da paciente, tornando-se necessária a busca por abordagens cirúrgicas me- nos extensas e a oferta de uma reabilitação estética, física e psi- cológica. A mulher, ao receber o diagnóstico de câncer, vivência a expectativa de um futuro incerto, tratamentos longos e doloro- sos, e também o medo da morte e mutilação13,17,18. A fisioterapia é uma ciênciada Saúde que estuda, previ- ne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, traumas ou doenças adquiridas. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da Biologia, ciências morfológicas, ciências fi- siológicas, patologias, bioquímica, biofísica, biomecânica, si- nergia funcional e as disciplinas comportamentais e sociais19. Dessa forma, a fisioterapia desempenha um papel muito importante no quadro de profissionais que atendem a mu- lher no pós-operatório de câncer de mama. O tratamento do câncer, envolve uma abordagem múltipla desde a cirurgia, em seguida na quimioterapia, na radioterapia ou hormonio- terapia, pode gerar graves consequências físicas. É uma das situações específicas na área da oncologia em que o fisiote- rapeuta pode intervir, desempenhando um papel importante na prevenção de sequelas do tratamento da doença, fazendo parte integrante da equipe multidisciplinar que deve ser com- posta também por médico, enfermeiro, assistente social, psi- cólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional, dentre outros, sendo cada profissional responsável pelas condutas na sua área de competência16. Após a cirurgia, a mulher passa a ter uma nova realidade do esquema corporal, pois ocorrem alterações importantes em nível anatômico, fisiológico e funcional que podem vir acompanhadas de dores, degradação da forma física e mu- dança do esquema corporal. Além das preocupações citadas, encontram-se presentes outras angústias ligadas à feminili- dade, maternidade e sexualidade, já que o seio é um órgão repleto de simbolismo para a mulher. Baseado nestas altera- ções é que a reabilitação física torna-se primordial, por apre- sentar um conjunto de possibilidades terapêuticas suscetíveis de serem empregadas, desde a fase mais precoce da recu- peração funcional do membro superior e cintura escapular até a profilaxia e tratamento de sequelas, como aderências cicatriciais e linfedema12,20,21. O tratamento da mulher mastectomizada começa com a avaliação da postura, amplitude de movimento do pescoço, braço e tronco, força, medida de circunferência do braço, pal- pação da pele, nível de dor, atividades de vida diária e capaci- dades funcionais. Fisioterapeutas que trabalham no pós-opera- tório de cirurgia de mama podem ter um relacionamento com cirurgiões, para que recomende as encaminhem para melhor conhecer suas diretrizes particulares para recuperação22,23. O pós-cirúrgico é vivenciado de várias formas pelas pa- cientes, de acordo com a importância que cada um dá a sua imagem corporal. O fisioterapeuta, ao iniciar a reabilitação funcional da paciente irá, através da palpação e do toque, determinar a presença e a localização da dor, proporcionan- do à paciente um contato manual importante que ajudará na realização dos exercícios2,24. Alem disso, a fisioterapia tem uma relação fundamental com as pacientes, no atendimento não segmentar ou focal, mas sistêmico, ou seja, não apenas com o local afetado, mas 191 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 com a repercussão do problema em todo o organismo da pes- soa, além da sua autoestima e qualidade de vida25. A repercussão do câncer de mama implica muitas conse- quências físicas e psicológicas. O impacto psicológico, por sua vez se estende ao convívio familiar, social e afetivo. A mulher tem de se adaptar a sua nova imagem, lidar com a ideia da perda da feminilidade, com medo de perder o parcei- ro. Esses fatores podem interferir no sucesso da reabilitação e do tratamento da mulher com câncer. Conhecê-los pode ajudar os profissionais a identificar as necessidades e traçar estratégias de tratamento com soluções eficazes, interferindo positivamente na realidade desses pacientes. O objetivo geral desse estudo consiste em analisar as consequências da mastectomia com enfoque físico e psico- lógico. Como objetivos específicos o presente estudo busca determinar as alterações físicas ocorridas após o procedi- mento de mastectomia, analisando os problemas psicológi- cos mais comuns e por fim correlacionar as alterações físicas e psicológicas nas pacientes avaliadas. Metodologia Foi realizado um estudo com caráter descritivo, obser- vacional e transversal com estratégia de análise quantitativa dos resultados, realizado no Programa de Assistência à Mu- lher Mastectomizada (PROAMMA), que presta assistência fisioterápica gratuita a mulheres que realizaram mastecto- mia, do Centro Universitário Estácio, na unidade Via Cor- pvs, localizada na Rua: Eliseu Uchoa Becco, Nº. 600 - Bair- ro: Água Fria, Fortaleza-Ceará. Este programa desenvolve atividades destinadas à atenção direta as pacientes que estão em tratamento pós-operatório. A coleta de dados foi realizada após aprovado pelo Co- mitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Estácio do Ceará (Protocolo nº 487.026/2013). Participaram do es- tudo as mulheres escolhidas de forma aleatória, com faixa etária de 40 e 70 anos de idade, independentemente do es- tado civil, religião, raça, status socioeconômico ou grau de escolaridade, que tenham passado pela primeira cirurgia em decorrência de câncer de mama e que manifestem desejo em participar da pesquisa, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas do estudo mulheres que participem do pro- grama PROAMMA a mais de dois anos. A coleta de dados foi re- alizada através de uma ficha, onde foram obtidos os dados pesso- ais, e informações referentes aos aspectos físicos e psicológicos. Para aquisição dessas informações foi realizada uma reunião com a Coordenadora do Projeto Social PROAMMA para a autoriza- ção da realização da pesquisa com as participantes do programa. O estudo foi pautado nos princípios éticos, adotando a resolução 466/12 do Ministério do Brasil26 a partir da expli- cação de todo o assunto, bem como dos objeitos da investiga- ção. Posteriormente, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido as participantes para que elas pudessem ter maiores esclarecimentos sobre a pesquisa, e, finalmente, foram assinados os termos garantindo a confidencialidade, anonimato e da não utilização das informações obtidas em prejuízo dos indivíduos, preservando os princípios éticos para aqueles que estiverem participando do estudo. A análise quantitativa e interpretação dos dados apura- dos foi realizada através de uma planilha eletrônica, e dispos- ta na forma de tabelas e gráficos, sendo utilizado o software Microsoft Office Excel Versão 2007. Também foi utilizado o questionário SF36 que é um inventário que avalia oito as- pectos distintos dando-se um resultado para cada questão, que foram posteriormente transformados numa escala de 0 a 100, em que zero é considerado o pior e 100 o melhor estado. Resultados A amostra foi composta por um grupo de 13 mulheres, sendo que nove estão participando assiduamente do projeto e foram entrevistadas. A média de idade de 55,89 ± 2,20 anos, e Índice de Massa Corpórea (IMC) médio de 26,70 ± 0,6 o que aponta sobrepeso. O perfil demográfico das entrevistadas é caracterizado por 55,56% (n=5) de casadas e permaneceram com o mesmo estado civil após o diagnóstico de câncer; 88,89% (n=8) são mães; 44,44% (n=4) possuíam o ensino fundamental com- pleto; 55,56% (n=5) informaram como profissão atual dona de casa. Quanto à mudança de profissão após a mastectomia 33,33% (n=3) afirmaram que se tornaram dona de casa, por estarem impossibilitadas de exercer a profissão anterior e apenas 11,11 % (n=1) se aposentou por este mesmo motivo (tabela 1). Tabela 1: Distribuição dos dados de acordo com o perfi l demo- gráfi co das participantes do PROAMMA. Fortaleza\CE, 2013. Dados Entrevistadas % Estado civil antes da mastectomia Solteira 4 44,44 Casada 5 55,56 Estado civil após a mastectomia Solteira 4 44,44 Casada 5 55,56 Imc Normal 2 22,22 Sobrepeso 7 77,78 Escolaridade Fundamental 444,44 Médio 3 33,33 Superior 2 22,22 Ocupação anterior Professora 2 22,22 Industriária 1 11,11 Cozinheira 1 11,11 Comerciante 2 22,22 Dona de casa 2 22,22 Recepcionista 1 11,11 Ocupação atual Artesã 1 11,11 Professora 2 22,22 Dona de casa 5 55,56 Aposentada 1 11,11 Diagnóstico médico Câncer mamário 9 100,00 Queixa principal Dores 4 44,44 Diminuição de adm 1 11,12 Linfedema 4 44,44 Filhos Sim 8 88,89 Não 1 11,11 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 192 Quando questionadas sobre a historia da doença atual (HDA), 88,89% (n=8) foram submetidas à mastectomia radi- cal; 33,33% (n=3) fizeram opção pela reconstrução mamária; 77,78% (n=7) iniciaram o tratamento fisioterápico precoce- mente. Quanto às terapias complementares 77,78% (n=7) re- alizaram quimioterapia; 100% (n=9) realizaram radioterapia; 44,44% (n=4) fez uso de hormonioterapia (tabela 2). Tabela 2: Distribuição dos dados em relação a historia da doença atual das participantes do PROAMMA. Fortaleza\ CE, 2013. Dados Entrevistadas % Tipo de mastectomia Radical 8 88,89 Quandrantectomia 1 11,11 Optou pela reconstrução mamária Sim 3 33,33 Não 6 66,67 Iniciou fi sioterapia precocemente Sim 7 77,78 Não 2 22,22 Realizou quimioterapia Sim 7 77,78 Não 2 22,22 Realizou radioterapia Sim 9 100,00 Não 0 - Realizou hormonioterapia Sim 4 44,44 Não 5 55,56 Na realização do exame físico observamos que 55,56% (n=5) apresentavam linfedema no braço homolateral ao pro- cedimento; 77,78% (n=7) mantiveram o trofismo normal; 100% (n=9) apresentavam a cicatriz da incisão cirúrgica fechada; todas apresentaram algum tipo de desvio postural sendo 66,67% (n=6) elevação do ombro à esquerda e 66,67% (n=6) inclinação da cabeça à esquerda (tabela 3). Tabela 3: Distribuição dos dados do exame físico das parti- cipantes do PROAMMA. Fortaleza\CE, 2013. Dados Entrevistadas % Linfedema Sim 5 55,56 Não 4 44,44 Trofi smo Normal 7 77,78 Hipotrofi a 2 22,22 Condições da cicatriz Aberta 0 - Fechada 9 100,00 Desvios posturais ombro Elevação do ombro à direita 3 33,33 Elevação do ombro à esquerda 6 66,67 Desvios posturais do pescoço Inclinação do pescosço à direita 3 33,33 Inclinação do pescosço à esquerda 6 66,67 No quesito aceitação da cirurgia 55,56% (n=5) afirma- ram não ter aceitado bem a noticia do procedimento, porém 88,89% (n=8) relataram sentir-se bem após o procedimento, 77,78% (n=7) relataram que não possuíam nenhum senti- mento de revolta pelo diagnóstico e 44,44% (n=4) definiram sua saúde atual como boa (tabela 4). Tabela 4: Distribuição dos dados sobre a aceitação da cirur- gia das participantes do PROAMMA. Fortaleza\CE, 2013. Dados Entrevistadas % Aceitou bem a noticia da cirurgia Sim 4 44,44 Não 5 55,56 Sentiu-se bem após o procedimento Sim 8 88,89 Não 1 11,11 Algum sentimento de revolta pelo diagnóstico Sim 1 11,11 Não 8 88,89 Em geral como você define sua saúde hoje Excelente 1 11,11 Muito boa 3 33,33 Boa 4 44,44 Ruim 1 11,11 Em relação ao apoio familiar 100% (n=9) afirmaram que tiveram o apoio da família; 22,22% (n=2) mencionaram que sofreram rejeição e 77,78% (n=7) não exerce mais suas fun- ções no trabalho ou em casa (tabela 5). Tabela 5: Distribuição dos dados em relação ao aspecto fa- miliar das participantes do PROAMMA. Fortaleza\CE, 2013. Dados Entrevistadas % Teve apoio familiar Sim 9 100,00 Não 0 - Sofreu rejeição Sim 2 22,22 Não 7 77,78 Exerce suas funções no trabalho (ou em casa) Sim 7 77,78 Não 2 22,22 Nos itens avaliados pelo SF-36 o resultado obtido, através do cálculo especifico para o questionário, foram posterior- mente transformados numa escala de 0 a 100, em que zero é considerado o pior e 100 o melhor estado. As médias da pon- tuação por domínios do Questionário SF-36 estão demonstra- das no gráfico 1, onde o escore mais evidentes foram o da Limitação por Aspectos Físicos2,78, com menor pontuação e Aspectos Sociais78,83, com a melhor pontuação (gráfico 1). Gráfico 1: Distribuição dos dados de acordo com a pontu- ação por domínios do Questionário SF-36 das participantes do PROAMMA. Fortaleza\CE, 2013. Discussão A média de idade das participantes foi de 55,89 anos, o que evidencia a idade como um dos fatores mais importantes de ris- 193 Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 co para o câncer de mama. Sabbi6 e Zelmanowicz7 citam a idade como um dos fatores de ricos para o câncer de mama. Analisando os resultados da escolaridade 44,44% possu- íam ensino fundamental, 33,33% nível médio e 22,22% nível superior, dessa forma as mulheres apresentavam diferentes níveis socioculturais, o que pode ser atribuído ao rápido pro- cesso de urbanização, que gera desigualdades, e as suas con- sequências serão igualmente desiguais, tornando o grau de escolaridade um indicador socioeconômico, as variáveis que com ele se relacionem assim também o serão5. Para Oliveira, Ribeiro e Leite10 é de suma importância à detecção do câncer de mama, como forma de prevenção, através do autoexame, consultas médicas e mamografias periódicas. Esse é um importante fator que tem contribuído para o aumento da sobrevida das mulheres com câncer de mama, além dos avanços da medicina. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA)5 apontam que o tratamento sistêmico, que pode ser a quimioterapia, hormo- nioterapia e terapia biológica, só serão determinados de acordo com o risco de recorrência (idade do paciente, comprometimen- to linfonodal, tamanho tumoral e grau de diferenciação) assim como das características tumorais que irão ditar a terapia mais apropriada, o que foi verificado no nosso estudo em que 100% das mulheres fizeram uso de algum tipo de terapia complementar. As sequelas pós-cirúrgicas são tanto físicas como psi- cológicas, de acordo com Guirro e Guirro1 o ato cirúrgico poderá ocasionar diminuição da amplitude máxima de movi- mento no ombro envolvido, hipostesia do membro acometi- do, dor e linfedema além de alterações posturais, bem como suas consequências, o que foi detectado nesse estudo, já que 100% apresentaram algum tipo de alteração postural, sendo as mais relatadas 66,67% elevação do ombro à esquerda e 66,67% inclinação do pescoço à esquerda. De acordo com Baracho z12, o linfedema pode ser defini- do como um inchaço crônico devido à deficiência da drena- gem do sistema linfático, com o acúmulo anormal de fluido rico em proteína no espaço intersticial resultando em descon- forto, dores, aumento do risco de infecção, ocasionando uma diminuição importante na qualidade de vida. Nesse estudo, foi encontrada a incidência de linfedema em 55,56% das en- trevistadas, porém o impacto dessa sequela não foi destacado como causador de desconforto, dor ou teve alguma relação com a diminuição da qualidade de vida. Para Pinheiro et al.17 a evolução dos métodos de detec- ção precoce proporcionam que os tumores passem a ser des- coberto em estadiamentos menores, tornando-se necessária a busca por abordagens cirúrgicas menos extensas e a oferta de uma reabilitação estética, física e psicológica. Contudo, em nosso estudo, 88,89% das mulheres foram submetidas à mastectomia radical. De acordo com Camargo, Marx2 a re- construção da mama tem por objetivo restabelecer a imagem corporal ou melhorar a autoestima, restaurar o volume per- dido, assegurar uma simetria com a mama oposta e recriar a aréola e mamilo, podendo ser feita ao mesmo tempo cirúrgi- co que a mastectomia, sendo denominada imediata ou pode ser feita após a mastectomia, sendo denominada tardia. Em nossa pesquisa identificamos poucos casos de reconstrução da mama, apenas 33,33% optaram pelo procedimento. Entre as mulheres que participaram da pesquisa, 77,78% iniciaram a fisioterapia precocemente com o objetivo de evi- tar os comprometimentos mais comuns após a cirurgia, sen- do assim, apenas 22,22% apresentaram hipotrofiado braço homolateral à cirurgia, o que pode ser explicado por Picaro, Pelório21 em seu estudo, destacando que a reabilitação física torna-se primordial, por apresentar um conjunto de possibi- lidades terapêuticas suscetíveis de serem empregadas, desde a fase mais precoce da recuperação funcional do membro superior e cintura escapular até a profilaxia e tratamento de sequelas, como aderências cicatriciais e linfedema. Ao compararmos a ocupação anterior com a ocupação atu- al das entrevistadas, houve um aumento no numero de mulheres que se dizem donas de casa de 22,22% para 55,56% o que con- firma Fernandes, Mamede27 a restrição das suas atividades pela ocorrência da doença faz com que estas se sintam inúteis, e na maioria das vezes chegam até deixarem seus empregos. Silva e Rodrigues28 apontam, em seu estudo que o relacio- namento familiar pode, na maioria das vezes, fortalecer, assim como os laços afetivos e de intimidade com seus familiares quando há o acometimento de uma patologia como o câncer de mama, o que foi verificado no nosso estudo que, 100% das entrevistadas afirmaram que tiveram o apoio da família, não havendo nenhum relato de abandono por parte do companhei- ro, o que fica claro na comparação entre os dados do estado ci- vil, antes e após a mastectomia, onde 55% das mulheres eram casadas e assim permaneceram após o procedimento e 88,89% disseram sentir-se bem após a cirurgia. O estudo de Fernandes, Mamede27 demonstra que o es- tilo de vida atual no qual a individualidade é buscada em detrimento do convívio social deve ser repensado. Dentre as possibilidades de ajuda para enfrentamento das dificuldades temos as associações, os serviços de saúde, os grupos e a família, essa convivência faz com que as mulheres elevem a autoestima e busquem se conscientizar de sua condição e aprender a lidar com ela. O que pode justificar o fato de que entre as entrevistadas do grupo 44,44% definem sua saúde como boa e 33,33% como muito boa; 66,66% optaram por não fazer uso de prótese mamária e 88,89% afirmaram que não tiveram nenhum tipo de sentimento de revolta por terem sido diagnosticadas com o câncer. O câncer de mama e a mastectomia estão associados a sofrimento, mutilação, perda da sexualidade e, a depender do relacionamento existente entre a mulher mastectomizada e seu parceiro, a qualidade de vida de ambos pode sofrer alteração. No presente estudo as pesquisadas permaneceram com seus parceiros após a retirada da mama. Estudo de Conde et al.29, destacam que os companheiros de mulheres com câncer de mama podem ser fontes de estresse ou de suporte emocional e podem interferir ou contribuir na qualidade de vida das mes- mas, pois, segundo pesquisa, mulheres satisfeitas com seus parceiros referem estar bem psicológica e sexualmente. Quanto ao questionário SF-36, se for feito um parale- lo do que foi discutido até então com os resultados obtidos na análise dos domínios do questionário, pode-se verificar que os mais prejudicados foram o Aspecto Físico com escore (2,78) e o Aspecto Emocional pontuando (40,40). Isso por- que uma vez descoberta a doença, realizada a mastectomia e Fisioterapia Ser • vol. 11 - nº 4 • 2016 194 o tratamento complementar, acarreta consequências em sua saúde física e emocional, ocasionadas pela diminuição na quantidade de tempo dedicado ao trabalho e a outras ativida- des, realização de menos tarefas do que gostaria e dificulda- des para fazer seu trabalho anterior, ou mesmo em casa. Nos quesitos Aspectos Sociais (78,83) e Saúde Mental (74,67) observou-se os melhores resultados entre os analisados pelo questionário. Constatou-se através desses dados, que a inter- venção cirúrgica e as suas complicações afetam diretamente na qualidade de vida das mulheres diagnosticadas com cân- cer de mama. Conclusão Concluímos que o impacto físico ficou mais evidente e interfere diretamente na atividade dessas mulheres, que antes exerciam suas profissões e atualmente estão impossibilitadas de realiza-las. É relevante o inicio precoce de tratamento fisio- terápico na prevenção sequelas e de disfunções relacionadas à retirada da mama, como no tratamento de distúrbios já insta- lados bem como a importância de uma abordagem multidis- ciplinar dessas pacientes, considerando não apenas o quadro patológico, mas também a reabilitação física, psicológica, so- cial e profissional. No aspecto psicológico o suporte e apoio familiar, bem como o convívio com um grupo social fazem com que, emocionalmente, elas estejam mais preparadas para lidar com a sua nova realidade. E toda essa repercussão está diretamente associada ao prejuízo apresentado nos resultados na analise de qualidade de vida dessas mulheres. Referências 1. Guirro E, Guirro RI. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos, pato- logias. São Paulo: Manole; 2002. 2. Camargo, M, Marx ÂG. Reabilitação física no câncer de mama. São Paulo: Roca; 2000. 3. 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