Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 LAIANE SOUSA-PATOLOGIA MÉDICA INTRODUÇÃO A pancreatite aguda é definida como uma condição inflamatória do pâncreas. Esse processo de inflamação depende da autodigestão tecidual do pâncreas, devido a própria secreção das enzimas pancreáticas. A pancreatite aguda deflagra um qua- dro de abdômen agudo inflamatório, com um processo inflamatório intenso. EPIDEMIOLOGIA A incidência da pancreatite aguda varia em diferentes países e depende da ex- posição aos hábitos e comorbidades que estão associados à pancreatite (por exemplo, álcool, cálculos biliares, fatores metabólicos, drogas). A incidência anual varia de 5 a 80 casos para cada 100.000 pessoas e resulta em mais de 250.000 hospitalizações por ano nos Estados Unidos, com duração média da internação de 4 dias e custo médio de $6096. A mortalidade varia muito entre os tipos de pancreatite. Enquanto casos de pancreatite aguda edematosa apre- sentam mortalidade de cerca de 3%, a mortalidade passa dos 17% em casos de pancreatite necrotizante. ETIOLOGIA • Cálculos biliares (60%) litíase <5mm aumenta em 4x o risco. • Alcoolismo (30% dos casos) • CPRE (10% pós) • Hiperglicemia (>1000mg/dl) • 10% dos casos, pós operatório, fármacos, traumatismo, etc . Principais causa: Cálculo biliar e álcool Os fatores de risco para pancreatire pós-CPRE incluem esficterotomia da papila menor, disfunção do esfíncter de Oddi, história pregressa de pancreatite pós-CPRE, idade 2 injeções de contraste no ducto pancreático e participação de estagiários em endoscopia. PATOGÊNESE Patologicamente, a pancreatite aguda varia desde pancreatite intersticial (su- primento sanguínea doo pâncreas man- tido), a qual costuma ser auto litada, até pancreatite necrosante (suprimento sanguíneo do pâncreas interrompido). No caso da pancreatite biliar, a teoria 2 LAIANE SOUSA-PATOLOGIA MÉDICA mais aceita é a de que a passagem do cálculo pela via biliar causa lesão, infla- mação e edema no ducto, o que pode causar obstrução dos ductos pancreáti- cos, e em algumas situações o cálculo fica impactado na porção distal do ducto colédoco, também obstruindo o ducto de Wirsung. Essa obstrução da saída dos ductos pancreáticos, provocaria lesão dos ácinos por estase dos fluidos, e contribuiria para a ativação das enzimas pancreáticas, dando início ao processo de auto-digestão que causa a lesão e inflamação característicos da pancrea- tite aguda. Quando ocorre lesão dos ácinos, enzimas lisossômicas podem se fundir às vesí- culas que contém as pró-enzimas pan- creáticas. Com a presença da tripsina na sua forma ativa no pâncreas, e ati- vação de outras pró-enzimas, é iniciado um processo de quebra de proteínas das próprias células pancreáticas, per- petuando o processo de lesão do órgão, o que causa intense resposta inflama- tória, através da ativação do Sistema do complemento, cascata de coagulação e liberação de citocinas como IL-1, IL-6 e TNF-alfa. CLÍNICA A maioria dos pacientes com pancrea- tite aguda começa o quadro com uma dor persistente e intensa na região epi- gástrica, em alguns pacientes a dor pode estar localizada em hipocôndrio di- reito e, mais raramente, no hipocôndrio esquerdo. Na semiologia, o quadro mais típico de pancreatite aguda é retratado com dor constante e intensa, em faixa, abrangendo desde a região epigástrica, aos hipocôndrios e podendo irradiar para o dorso. Em pacientes com litíase biliar, a dor é bem localizada e o início da dor é rápido, atingindo o pico da dor em 10 a 20 mi- nutos após o início dos sintomas. Ao contrário, em pacientes com pancrea- tite aguda causada por alguma doença metabólica ou abuso de álcool, a dor pode ser menos abrupta e mais difícil de localizar. Em aproximadamente me- tade dos pacientes, a dor irradia para as costas (dor em faixa). A dor pode durar desde algumas horas até alguns dias e pode aliviar quando o paciente se senta ou se inclina para frente. Aproximada- mente 90% dos pacientes têm náuseas e vômitos associados, os quais podem persistir por várias horas. 3 LAIANE SOUSA-PATOLOGIA MÉDICA Uma apresentação mais rara da doença que pode ser observada em casos de pancreatite grave é de sintomas respi- ratórios como dispneia em decorrência da inflamação do diafragma secundária à pancreatite. Esse processo pode ter como consequência o desenvolvimento de derrames pleurais e até mesmo síndrome da angústia respiratória aguda. Existem relatos de pacientes com pan- creatite aguda grave que abrem o qua- dro sem dor abdominal, apresentando como principal sintoma uma hipotensão sem causa aparente, principalmente em pacientes no pós- -operatório, pacien- tes em diálise, pacientes que sofreram envenenamento por organofosforados e Legionelose. EXAME FÍSICO Os achados do exame físico podem va- riar dependo da gravidade da pancrea- tite. Em pacientes com pancreatite aguda moderada, o epigástrio pode es- tar minimamente sensível à palpação, mas também é possível que pacientes com pancreatite leve se apresentem com dor abdominal intense à palpação. Em contraste, pacientes com pancrea- tite aguda grave podem ter uma sensi- bilidade muito aumentada à palpação do epigástrio e/ou difusamente em todo o abdome. Alguns pacientes podem apre- sentar distensão abdominal e ruídos hi- droaéreos diminuídos devido à um íleo paralítico secundário à inflamação, que se correlaciona com a intolerância à di- eta por via oral, sintoma comum em pesos com pancreatite. Outro sinal pre- sente em alguns casos é o de escleras ictéricas (olhos amarelados) devido à coledocolitíase ou edema na cabeça do pâncreas, que causa processo colestá- tico e elevação dos níveis séricos de bi- lirrubina. A presença de equimose periumbilical (sinal de Cullen) e equimose em flancos (sinal de Grey Turner), é rara, porém em pacientes com pancreatite aguda sugere a presença de hemorragia re- troperitoneal, indicando provável pre- sença da forma necrotizante da doença. Há também risco de desenvolvimento de taquipneia e hipoxemia em pacientes graves. 4 LAIANE SOUSA-PATOLOGIA MÉDICA EXAMES LABORATORIAIS • Lipase • Hiperglicemia • Amilase • Leucocitose • Aumenta da proteínas C reativa • Azotemia • Hipocalcemia • Lipase • Hemoconcentração DIAGNÓSTICO . . TRATAMENTO O tratamento depende da gravidade do quadro. As medidas iniciais, independen- temente da gravidade do quadro, de- vem ser: reposição volêmica, analgesia e dieta zero. Após isso, é feita a avaliação de risco (após 48h, utilizado o critério de RANSON). A abordagem inicial do paci- ente com pancreatite aguda (PA) con- siste em quatro pilares básicos, que se- rão discutidos separadamente adiante: a reposição volêmica, o controle da dor, a monitorização, e o suporte nutricional.
Compartilhar