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Conceitos Sociológicos Fundamentais - Max Weber (fichamento)

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FICHAMENTO:
- Weber, Max, Economia e Sociedade, Editora UNB, Capítulo 1 – “Conceitos
sociológicos fundamentais”
No Capítulo I – CONCEITOS SOCIOLÓGICOS FUNDAMENTAIS da obra Economia e
Sociedade, Max Weber se preocupa, como já diz o título, em apresentar os conceitos
chave para o entendimento da sociologia e da sua metodologia.
1. Conceito de Sociologia/ Ação/Introdução ao conceito de Ação Social
O autor dá início ao capítulo atentando à definição de Sociologia como “uma ciência
que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explica-la
causalmente em seu curso e em seus efeitos.” (pág. 3 par. 3.), ação é entendida como
um comportamento humano ao qual os agentes atribuem um sentido subjetivo, já a
ação “social” é uma ação realizada pelo sujeito baseado no comportamento do outro.
a. Significado de compreensão
O conceito de compreensão está diretamente ligado ao objetivo da Sociologia,
segundo Weber a compreensão pode ocorrer de formas diferentes:
● Compreensão Atual é aquela que assim que vemos a ação “compreendemos”
imediatamente. Weber diz:
 É neste sentido que "compreendemos" (isto é, diretamente) o significado da
proposição de que 2x2=4, quando o ouvimos ou lemos. Experimentamos aqui a
compreensão direta, racional de uma idéia. Da mesma maneira,
compreendemos um acesso de raiva expressada por reclamações, expressão
facial ou movimentos irracionais. Trata-se de compreensão direta empírica de
reações emocionais irracionais e pertence à mesma categoria que a observação
da ação de um cortador de madeira, ou alguém que estende a mão para fechar
a porta, ou que aponta uma arma a um animal. Trata-se de observação
empírica racional do comportamento. (WEBER, 2008a, p. 17).
● Compreensão Explicativa
Somos capazes de entender os motivos de qualquer um que afirma que 2x2=4
(oralmente ou por escrito) precisamente num momento particular e sob uma
série determinada de circunstâncias. Tal compreensão pode ser obtida se a
pessoa sob observação está empenhada em alguma tarefa de contabilidade ou
alguma demonstração científica ou algum outro projeto do qual esta tarefa é
uma parte essencial. Trata-se da compreensão racionalmente baseada da
motivação, isto é, o ato visto como parte de uma situação inteligível. (WEBER,
2008a, p. 17).
● “Compreensão” significa em todos esses casos apreensão interpretativa do
sentido ou da conexão do sentido: a) efetivamente visado no caso individual (na
consideração histórica), ou b) visado em média e aproximadamente (na
consideração sociológica em massa), ou c) o sentido ou conexão de sentido a ser
construído cientificamente (como ideal-típico) para o tipo puro (tipo ideal) de
um fenômeno frequente.
2. Sentido
● “Sentido” é o sentido subjetivo visado: a) na realidade a, num caso
historicamente dado, por um agente, ou b, em média e aproximadamente,
numa quantidade dada de casos, pelos agentes, ou b) num tipo puro
conceitualmente, construído pelo agente ou pelos agentes concebidos como
típicos. Não se trata, de modo algum, de um sentido objetivamente “correto” ou
de um sentido “verdadeiro” obtido por indagação metafísica.”
3. Tipos Ideais/Sociologia Compreensiva
O tipo ideal é uma espécie de metodologia de pesquisa que visa facilitar o estudo,
apontando um caminho a ser seguido pelo pesquisador, porém é incapaz de abranger a
complexidade do mundo. Para Weber é importante para consideração científica se
determinar um método de análise da ação social e de suas causas e efeitos, como por
exemplo em uma ação política seria importante verificar como se teria desenrolado a
ação caso se tivesse conhecimento prévio de todas as circunstâncias e de todas as
intenções dos protagonistas e a escolha dos meios ocorresse de maneira estritamente
racional orientada pelo fim, conforme a experiência que consideramos válida(p.5).
Esse procedimento permite à sociologia compreender a ação real, influenciada por
irracionalidades de todas as espécies como desvio do desenrolar esperado no caso de
um comportamento puramente racional. Por motivo de metodologia, a Sociologia
Compreensiva é racionalista e o tipo ideal para guiar um pesquisador.
A Sociologia compreensiva é, nesse sentido, a ciência que busca compreender e
interpretar a ação social levando em consideração ações históricas de causa e efeito,
tendo por base fatos individuais que ocorrem na realidade social. Observar as ações e
compreender o seu sentido.
4. Ação Social/Modos de Ação Social
● 1.A ação social (incluindo omissão ou tolerância) orienta-se pelo
comportamento de outros, seja este passado, presente ou esperado como
futuro (vingança por ataques anteriores, defesa contra ataques presentes ou
medidas de defesa para enfrentar ataques futuros). Os “outros” podem ser
indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade indeterminada de pessoas
completamente desconhecidas (“dinheiro”, por exemplo, significa um bem
destinado à troca, que o agente aceita no ato de troca, porque sua ação está
orientada pela expectativa de que muitos outros, porém desconhecidos e em
número indeterminado, estarão dispostos a aceita-lo também, por sua parte,
num ato de troca futuro).(p.14)
● 2.Nem todo tipo de ação – também de ação externa – é “ação social” no sentido
aqui adotado. A ação externa, por exemplo, não o é, quando se orienta
exclusivamente pela expectativa de determinado comportamento de objetos
materiais. O comportamento interno só é ação social quando se orienta pelas
ações de outros. Não o é, por exemplo, o comportamento religioso, quando
nada mais é do que contemplação, oração solitária etc.(p.14)
● 4.A ação social não é idêntica a) nem a uma ação homogênea de várias
pessoas, b) nem a qualquer ação influenciada pelo comportamento de outras.
a) Quando na rua, ao começar uma chuva, muitas pessoas abrem ao mesmo
tempo os guarda-chuvas, a ação de cada um (normalmente) não está orientada
pela ação dos outros, mas a ação de todos orienta-se, de maneira homogênea,
pela necessidade de proteção contra a água. (p.14)
● 2.A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional
referente a fins: por expectativas quanto ao comportamento de objetos do
mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como
“condições” ou “meios” para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos
racionalmente, como sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela
crença consciente no valor – ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua
interpretação – absoluto e inerente a determinado comportamento como tal,
independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente
emocional: por afetos ou estados emocionais atuais; 4) de modo tradicional:
por costume arraigado.
5. Relação Social
● Relação social: comportamento "reciprocamente referido quanto a seu
conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa
referência (...) completa e exclusivamente na probabilidade de que se aja
socialmente numa forma indicável (pelo sentido)" (p.16).
● Tem como uma de suas características conceituais a necessidade de um mínimo
relacionamento recíproco entre ambas as partes, mas não se trata de uma
solidariedade.
● Weber fala aqui no sentido empírico visado pelos participantes no caso
concreto, no tipo puro (jamais tipo certo, correto etc.)
● Uma relação social pode ter um caráter inteiramente transitório, bem como
implicar permanência, isto é, que exista a probabilidade da repetição contínua
de um comportamento correspondente ao sentido (considerado como tal e, por
isso, esperado. A existência de uma relação social nada mais significa do que a
presença dessa probabilidade, maior ou menor, de que ocorra uma ação
correspondente ao sentido, o que sempre se deve ter em conta para evitar
ideias falsas. (p.17)
O conteúdo de uma relação social pode ser combinado reciprocamente, e cada um
orienta sua ação a promessa feita ao outro.
Podemos observar regularidades na ação social, com estes tipos de recursos, repetição
em um agente ou entre muitos agentes. Costume: exercício baseado em habito
inveterado;diferente da regularidade condicionada pela "situação de interesses"
dependente da probabilidade de que os indivíduos orientem por expectativas suas
ações puramente racionais referentes a fins.
● Relação social chama-se "relação comunitária" "quando e na medida em que a
atitude na ação social – no caso particular ou em media ou no tipo puro –
repousa no sentimento subjetivo dos participantes de pertencer (afetiva ou
tradicionalmente) ao mesmo grupo" (WEBER, 2009, p. 25).
● Trata-se de "relação associativa" (societária) "atitude na ação social repousa
num ajuste ou numa união de interesses racionalmente motivados (com
referência a valores ou fins) (...) pode repousar (...) num acordo racional por
declaração reciproca" (WEBER, 2009, p. 25). Ação correspondente está
racionalmente orientada: a) de maneira racional com relação a valores, crença
no compromisso próprio; b) de maneira racional referente a fins pela
expectativa de lealdade da outra parte.
6. Legitimidade ou Ordem Legítima
● §5 Toda ação, em especial a social, e particularmente a relação social, podem
ser orientadas pelos participantes pela representação de uma ordem legitima.
Probabilidade desta ocorrência chamamos de "vigência"(p.19)
● §6 A legitimidade de uma ordem pode estar garantida em uma atitude interna
(modo afetivo: por entrega emocional, modo racional referente a valores
morais, estéticos etc.), e/ou pelas expectativas de determinadas atitudes
externas (pelas situações de interesse). Uma ordem pode ser uma convenção
(probabilidade de um discordante ser visto com reprovação) e direito (garantia
externa pela probabilidade de coação exercido por um quadro de pessoas com
função especifica para castigar a violação da ordem e forçar sua observação).
7. Associação
Na associação encontra-se um caráter ordenado que serve de referência para os
agentes individuais dela participantes. Semelhante à ação social, as associações
executam atividades sociais orientadas no sentido dos fins determinados pela ordem
em que têm existência. 
● Chamamos de “associação” uma relação social fechada para fora ou cujo
regulamento limita a participação quando a observação de sua ordem está
garantida pelo comportamento de determinadas pessoas, destinado
particularmente a esse propósito: de um dirigente e, eventualmente, um quadro
administrativo que, dado o caso, têm também condições normais, o poder de
representação. (p.30)
A existência de uma associação é completamente dependente da presença de um
dirigente e, eventualmente, de um quadro administrativo, ou seja, de existir a
probabilidade de haver uma ação de pessoas indicáveis para pôr em prática a ordem da
associação (de sua existência).
Uma associação pode ser:
- Autônoma ou heterônoma: autonomia significa que a ordem da associação é
estatuída pelos seus próprios membros, e a heterônoma é exatamente o oposto desta.
-Autocéfala ou heterocéfala: autocefalia significa que o dirigente e o quadro
administrativo da associação são nomeados segundo ordem da associação e não por
estranhos, como no caso da heterocefalia.
8. Poder, dominação e disciplina
● Poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação
social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa
probabilidade.
Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de
determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis; disciplina é a
probabilidade de encontrar obediência pronta, automática e esquemática a
uma ordem, entre uma pluralidade indicável de pessoas, em virtude de
atividades treinadas.
O conceito de poder é sociologicamente impreciso, todas as qualidades podem levar
alguém a impor sua vontade numa dada situação. Por isso o conceito sociológico de
dominação é mais preciso e só pode significar a probabilidade de encontrar obediência
a uma ordem. O conceito de disciplina está relacionado a um treino na obediência,
sem crítica nem resistência.

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