Buscar

Resenha Bicho de 7 cabeças

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Curso: Psicologia
Disciplina: Abordagem Sócio Histórica
Filme “O bicho de Sete Cabeças”
O filme, “Bicho de Sete Cabeças” retrata muito bem o dia-a-dia vivenciado nos hospícios ou manicômios, ele mergulha em uma viagem a respeito da forma de tratamento manicomial encarcerado. Este filme retrata a vida de Neto, um jovem de classe média baixa, com 16 anos de idade, anda frequentemente de skate e realiza algumas rebeldias comuns da adolescência, como pichar muro e usar drogas.
  O fato é que Neto buscava ter mais liberdade, emoções, aventuras, enfim, descobrir o seu mundo ou grupo de inserção social, de acordo com suas identificações pessoais. Enquanto isso, sua família, tomada pelo desvencilhamento e desentendimento da descoberta súbita da determinada situação, infligem de medo e “cuidado”. Medo esse, é causa de exagero no modo de relacionamento da sua família para com Neto – o medo de seus pais é de perderem o controle sobre ele, e chegando a ponto de interná-lo em um hospital psiquiátrico, um manicômio. Naturalmente, a família de Neto, em especial seus pais, não procurou conhecer a situação dele, mas dominá-lo antes que tarde. Nem antes de seus pais ficarem sabendo, nem depois, em momento algum tiveram um diálogo satisfatório entre si, que pudessem esclarecer suas realidades individuais para ser possível uma compreensão maior e uma boa relação e, talvez, tentar melhorar. Entretanto, sua família foi bem objetiva após a descoberta, não houve dúvida em mandar Neto para um hospício com intenção de mudar seu comportamento ou “estado doentio”. No hospício ou manicômio há uma outra realidade por detrás de uma imagem utópica. Um tratamento absurdamente desumano, mas que fazia parte do regime interno, tomado por um sistema de corrupção e crueldade.
A presença do poder de maneira plural nas esferas das relações sociais, mostra-se observável, ao menos através da ótica que nossa atualidade permite que tenhamos das organizações sociais. Assim se exprime de forma temporalmente local e não apenas piramidal-hierárquica. A complexidade desse discurso é sublimada com a ideia de relações de poder levantada por Foucault, segundo FOUCAULT (2002, p. 154) “Essas relações de poder são sutis, múltiplas, em diversos níveis, e não podemos falar de um poder, mas sim descrever as relações de poder, tarefa longa e difícil e que acarretaria longo processo. ”
Direitos de Personalidade (intimidade, nome, honra objetiva e subjetiva), tudo isso é ignorado: o garoto teve a chance de se enquadrar nos parâmetros sociais, desperdiçou-a, e no seio do claustro manicomial ou prisional, o Direito positivo faz tanto sentido como citar passagens do Alcorão para o Ku-Klux-Klan. 
Interna-se num mundo onde o que está em jogo é o mal e a punição, a libertinagem e a imoralidade, a penitência e a correção. Todo um mundo onde, sob essas sombras, ronda a liberdade (...) jogos perigosos da liberdade, onde a razão se arrisca na loucura (...) liberdade obstinada e precária, simultaneamente. Ela permanece sempre no horizonte da loucura, mas quando se quer delimitá-la, desaparece. Só é possível e só está presente na forma de uma abolição iminente. ” (FOUCAULT, 2002, p.506)
            Os maus-tratos e a violência eram frequentes. Neto estava submetido à aplicação e/ou ingestão de remédios e medicamentos, e pior, sem nenhuma avaliação ou exame médico referente. Os apelos de Neto à sua família para que o tirem do manicômio são vistos com “maus-olhos”, como se fosse prova clara de loucura ou psicopatologia, e quando por ventura consegue sair, sofre preconceitos, sem falar nas dificuldades de voltar a viver naquele padrão cotidiano que havia antes, o que complicou a readaptação e contribuíram, em suma, para o retorno ao hospital psiquiátrico e, consequentemente, ao convívio com doentes mentais em estágios avançados de psicopatologia ou enfermidade. O psiquiatra que tratava Neto e os outros membros da instituição agredia os doentes e tomava até “uísque com bolinha”2. Então, eu me pergunto como um profissional deste gênero exacerbado pode exercer determinada profissão ativamente? Há vigilância no local? Se existe, cadê o órgão ou federação responsável pela referida profissão e/ou instituição? (“eu fico sem resposta”).
Segundo a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 a pessoa com transtornos mentais deve ter atendimento digno e proteção de seus direitos, sendo a internação usada como último recurso, coisa que não foi respeitada no caso de Neto, ele foi negligenciado em diversos aspectos, sofrendo agressões físicas e psicológicas desde o momento em que entra na instituição. (BRASIL, 2001) 
 Atualmente, as internações de jovens em hospícios ou hospitais psiquiátricos por serem usuários de drogas continuam acontecendo e, comumente, são dopados de medicamentos, não creio que isso deveria ocorrer dessa forma. Outro ponto importantíssimo é o uso de cigarro pelos doentes mentais... “Então o cigarro não é droga? ”. Ou melhor falando, os manicômios ou hospícios estão para tratar ou para entorpecer os doentes? O ponto-chave, como disse Laís Bodanzky diretora do filme, é “entender o outro, aceitar o outro, compreender as diferenças”. Assim, neste sentido, as relações estabelecidas, e principalmente o diálogo e o bom relacionamento, podem fazer grandes diferenças e evitar consequências trágicas em nossa vida. Ou então, queremos passar por experiências parecidas ou semelhantes às de Neto?
Ao tratar dos abusos do sistema manicomial no filme, Laís Bodansky afirma:
 Não queria fazer uma ficção. Eu tinha medo de fazer um filme que se passasse nos anos 70 e que as pessoas fossem para casa felizes da vida imaginando que isso não acontece mais. Por isso, resolvi trazer o personagem para os anos 90, para cutucar o espectador, dar um alerta. Minha preocupação foi fazer com que o espectador saísse do cinema com vontade de mudar a realidade
A experiência de assistir a Bicho de Sete Cabeças é intensa e realista. A câmera tremida nos coloca dentro das situações e muitas vezes chegamos a compartilhar as angústias de Neto. Os atores que interpretam os doentes mentais possuem muito talento, pois às vezes esquecemos que são atuações. O tom documental é tão forte nas sequências do manicômio que sentimos verdadeiro alívio quando vemos cenas que se passam fora de lá.
O filme busca o tempo todo uma reflexão e a atenção do telespectador, para que possamos ver os lados positivos e negativos em tudo. O protagonista e sua família, em geral, foram bem trabalhados, porém o filme fica devendo uma maior exploração da história de Neto e seus amigos, que tiveram grande influência nas decisões, e no fim que o personagem levou, apesar de não interferir diretamente no desenrolar do filme.
Bodanzky, Laís; Bolognesi, Luiz. 2002. Bicho de Sete Cabeças. Editora 34. 143 páginas.
BODANZKY, Laís (diretora) (2001). Bicho de Sete Cabeças (DVD). Brasil: Columbia TriStar, RioFilme
CARDOSO, João Batista Freitas; SANTOS, Roberto Elísio dos  and  VARGAS, Herom. A personagem adolescente como protagonista em quatro filmes brasileiros contemporâneos. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun. 2014, vol.37, n.2, pp.263-283.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3. ed. Rio de Janeiro: NAU,2003.
FOUCAULT, M. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 2002.
FOUCAULT, M. História da sexualidade. Vol I: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 2012.
LACAN, J. Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 807-842. 
SANTORO, Rodrigo; BODANZKY, Laís; BOLOGNESI, Luiz. Entrevistas: “Qual é o barato”, por Paloma Klisys. [S.L.], “Bicho de Sete Cabeças”. Disponível em: https://www.educacional.com.br/reportagens/drogas/bicho.asp. Acesso em: 15 de nov./ 2019.

Outros materiais