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Rang & Dale Farmacologia Capítulo 21: Óxido Nítrico e Mediadores Relacionados Óxido nítrico | Síntese, inativação e transporte · O NO é sintetizado a partir de L-arginina e O2 molecular pela NOS · A NOS existe em três isoformas: induzível (NOS2), e as formas constitutivas “endotelial” (NOS3, que não é restrita a células endoteliais) e neuronal (NOS1). As NOSs são flavoproteínas diméricas que contêm tetra-hidrobiopterina e apresentam homologia com o citocromo P450. As enzimas constitutivas são ativadas pela cálcio-calmodulina. A sensibilidade à cálcio-calmodulina é regulada pela fosforilação de resíduos específicos nas enzimas · A NOS2 é induzida em macrófagos e outras células por citocinas inflamatórias, especialmente por γ-interferona · A NOS1 está presente no SNC (ver Capítulos 38 a 41) e em alguns nervos autônomos · Além do endotélio, a NOS3 está presente em plaquetas e outras células · O NO se difunde para locais de ação em células vizinhas. Isso é regulado pelo estado de oxidação-redução da hemoglobina alfa, que está presente nas junções mioendoteliais que atuam como corredores de difusão ao longo da lâmina elástica interna (e em outras células): a sinalização pode ocorrer quando o heme está no estado Fe3+, mas para – como um sinal vermelho – quando o heme está no estado Fe2+ · O NO é inativado pela combinação com o heme da hemoglobina ou por oxidação a nitrito e nitrato, que são eliminados na urina; também está presente no ar exalado, especialmente em pacientes com doenças inflamatórias pulmonares como a bronquite · O NO pode reagir reversivelmente com resíduos de cisteína (p. ex., na globina ou na albumina) para formar nitrosotióis estáveis; em consequência, as hemácias podem atuar como um tipo de fonte de NO regulada por O2. O NO liberado por essa via escapa da inativação pelo heme ao ser exportado via resíduos cisteína na proteína de troca de ânions presente nas membranas das hemácias. Ações do óxido nítrico · O NO atua por meio de: · Combinação com o heme na GC, ativando a enzima, aumentando o GMPc e, em consequência, reduzindo a [Ca2+]i · Combinação com grupos heme em outras proteínas (p. ex., citocromo c oxidase) · Combinação com o ânion superóxido para produzir o ânion peroxinitrito, citotóxico · Nitrosilação de proteínas, lipídios e ácidos nucleicos · Os efeitos do NO incluem: · Vasodilatação, inibição da adesão e agregação de plaquetas e monócitos, inibição da proliferação da musculatura lisa, proteção contra ateroma, remodelação vascular e angiogênese · Efeitos sinápticos no sistema nervoso central e periférico · Defesa do hospedeiro e efeitos citotóxicos sobre patógenos · Citoproteção. Inibição da via L-arginina/óxido nítrico · Os glicocorticoides inibem a biossíntese da óxido nítrico sintase 2 (NOS2) · Os análogos sintéticos da arginina e citrulina (p. ex., L-NMMA, L-NAME) competem com a arginina e são ferramentas experimentais úteis. Os inibidores seletivos de isoformas incluem a S-metil-L-tiocitrulina (seletiva para a NOS1) · A ADMA (dimetilarginina assimétrica) é um inibidor endógeno da NOS. Óxido nítrico em fisiopatologia · O NO é sintetizado em condições fisiológicas e patológicas · A redução ou o aumento da produção de NO podem contribuir para o desenvolvimento de doenças · Ocorre produção deficiente de NO neuronal em lactentes com estenose pilórica hipertrófica. A produção de NO endotelial está reduzida em pacientes com hipercolesterolemia e alguns outros fatores de risco associados à aterosclerose, podendo contribuir para a aterogênese · A produção excessiva de NO pode ser importante em doenças neurodegenerativas (ver Capítulo 41) e no choque séptico (ver Capítulo 23). Usos clínicos de óxido nítrico em terapêutica · Os doadores de NO (p. ex., nitroprussiato e nitrovasodilatadores orgânicos) já estão bem estabelecidos (ver Capítulos 22 e 23) · Os inibidores da fosfodiesterase tipo V (p. ex., sildenafila, tadalafila) potencializam a ação do NO. Eles são usados no tratamento da disfunção erétil (ver Capítulo 36) · Outras possíveis indicações estão sendo investigadas (p. ex., hipertensão pulmonar, estase gástrica) · O NO inalado é usado em cuidados intensivos de adultos e recém-nascidos com síndrome de angústia respiratória · Investiga-se a inibição da biossíntese do NO em distúrbios caracterizados por superprodução de NO (p. ex., inflamações e doenças neurodegenerativas). Lamentavelmente, a NG-monometil-L-arginina (L-NMMA) aumenta a mortalidade em uma dessas condições (sepse). Seção 3: Fármacos que afetam os grandes sistemas de órgãos Capítulo 22: Coração Arritmias cardíacas · As arritmias originam-se em decorrência de: · Retardo da pos-despolarizacao, que desencadeia batimentos ectópicos · Reentrada, decorrente de bloqueio parcial de condução · Atividade ectópica de marca-passo · Bloqueio cardíaco · O retardo da pos-despolarizacao é causado por uma corrente de entrada associada a Ca2+ intracelular anormalmente elevado · A reentrada é facilitada quando partes do miocárdio são despolarizadas em decorrência de uma doença · A atividade ectópica de marca-passo é exacerbada pela atividade simpática · O bloqueio cardíaco advém de doença no sistema de condução, especialmente do nó atrioventricular · Clinicamente, as arritmias estão divididas: · De acordo com seu local de origem (supraventricular e ventricular) · De acordo com aumento ou diminuição da frequência cardíaca (taquicardia ou bradicardia). Contração miocárdica · Os fatores controladores são: · Contratilidade intrínseca do miocárdio · Fatores circulatórios extrínsecos · A contratilidade do miocárdio depende, criticamente, do Ca2+ intracelular e, por isso, de: · Entrada de Ca2+ através da membrana celular · Armazenamento de Ca2+no retículo sarcoplasmático · Os principais fatores que controlam a entrada de Ca2+ são: · Atividade dos canais de cálcio controlados por voltagem · Na+ intracelular, que afeta as trocas Ca2+/Na+ · Catecolaminas, glicosídios cardíacos e outros mediadores e fármacos influenciam esses fatores · O controle extrínseco da contração cardíaca dá-se por intermédio da dependência do trabalho de batimento sobre o volume diastólico final, expresso na lei de Frank-Starling · O trabalho cardíaco é afetado independentemente pela pós-carga (i. e., resistência periférica e complacência arterial) e pela pré-carga (i. e., pressão venosa central). Fluxo coronariano, isquemia e infarto agudo do miocárdio · Em relação ao consumo de oxigênio, o coração tem irrigação menor do que a maioria dos órgãos · O fluxo coronariano é controlado principalmente por: · Fatores físicos, incluindo a pressão transmural durante a sístole · Metabólitos vasodilatadores · A inervação autônoma é de importância menor · A isquemia coronariana geralmente decorre de aterosclerose e causa angina. Isquemia súbita geralmente é causada por trombose e pode resultar em IAM (morte de uma região do miocárdio) · O espasmo coronariano pode causar angina (angina variante) · A isquemia causa sobrecarga celular de Ca2+ e pode ser responsável por: · Morte celular · Arritmias. Controle autônomo do coração · A atividade simpática, atuando por intermédio dos receptores β1-adrenérgicos, aumenta a frequência, a contratilidade e o automatismo cardíacos, mas reduz a eficiência cardíaca (com relação ao consumo de oxigênio) · Os receptores β1-adrenérgicos atuam por aumento da formação de cAMP, o que aumenta as correntes de Ca2+ · A atividade parassimpática, atuando por intermédio dos receptores muscarínicos M2, causa diminuição da frequência cardíaca, diminuição da força de contração (somente dos átrios) e inibição da condução atrioventricular · Os receptores M2 inibem a formação de cAMP e também abrem os canais de potássio, causando hiperpolarização. Usos clínicos dos antiarrítmicos da classe I · Classe Ia (p. ex., disopiramida) · Arritmias ventriculares · Prevenção de FA paroxística recorrente desencadeada por hiperatividade vagal · Classe Ib (p. ex., lidocaína intravenosa) · Agora raramente utilizado · Classe Ic · Prevenção de FA paroxística (flecainida)· Taquiarritmias recorrentes associadas a vias de condução anormais (p. ex., síndrome de Wolff-Parkinson-White). Usos clínicos dos antiarrítmicos da classe II (p. ex., propranolol, timolol) · Reduzir mortalidade após IAM · Impedir a recorrência de taquiarritmias (p. ex., fibrilação atrial paroxística) provocada por aumento da atividade simpática · No controle do hipertireoidismo, enquanto o controle com fármacos antitireoidianos está sendo estabelecido (ver Capítulo 35). Usos clínicos dos antiarrítmicos da classe III · Amiodarona: taquicardia associada à síndrome de Wolff-Parkinson-White. Tem efeito, também, em muitas outras taquiarritmias supraventriculares e ventriculares, mas apresenta graves efeitos adversos · Sotalol (racêmico) combina ações das classes III e II. É usado nas arritmias supraventriculares paroxísticas e suprime extrassístoles ventriculares e períodos breves de taquicardia ventricular. Usos clínicos dos antiarrítmicos da classe IV · O verapamil é o fármaco principal. É usado: · Para prevenir recorrência de TSV paroxística · Para reduzir a frequência ventricular em pacientes com fibrilação atrial, uma vez que não tenham síndrome de Wolff-Parkinson-White ou um distúrbio relacionado · O diltiazem é semelhante · No passado, o verapamil era administrado por via intravenosa para extinguir TSV; atualmente, seu uso para este fim é raro, pois a adenosina é mais segura. (Uma preparação de liberação lenta de verapamil é, por vezes, utilizada para tratar hipertensão e/ou angina, em especial quando se pretende retardar a frequência cardíaca, mas um antagonista dos receptores β-adrenergicos é contraindicado.) Usos clínicos dos glicosídios cardíacos (p. ex., digoxina) · Para reduzir a frequência ventricular em fibrilação atrial rápida persistente · Tratamento de insuficiência cardíaca nos pacientes que continuam sintomáticos apesar do uso ótimo de diuréticos e IECA (ver Capítulo 23). Nitratos orgânicos · Compostos importantes incluem o trinitrato de glicerila e o composto de ação mais prolongada mononitrato de isossorbida · Esses fármacos são potentes vasodilatadores, atuando sobre as veias de modo a reduzir a pre-carga cardíaca, e nas artérias para reduzir a reflexão das ondas arteriais e, consequentemente, a pos-carga · Atuam por meio do NO, ao qual são metabolizados. O NO estimula a formação de GMPc e, assim, ativa a proteinoquinase G, afetando as proteínas contráteis (cadeias leves de miosina) e a regulação do Ca2+ · Experimentalmente ocorre tolerância. Tal fato é de importância clínica com o uso frequente de fármacos de ação prolongada ou preparações de liberação contínua · A eficácia na angina decorre, em parte, da redução da carga cardíaca e, em parte, da dilatação dos vasos coronarianos colaterais, causando uma distribuição mais eficaz do fluxo coronariano. A dilatação desses vasos em constrição é particularmente benéfica na angina variante. · Efeitos indesejáveis graves são incomuns; podem ocorrer inicialmente cefaleia e hipotensão postural. Em raros casos, a superdosagem pode causar metemoglobinemia. Usos clínicos dos nitratos orgânicos · Angina estável: · Prevenção (p. ex., uso diário de mononitrato de isossorbida ou trinitrato de glicerila por via sublingual, imediatamente antes de esforço físico) · Tratamento (trinitrato de glicerila sublingual) · Angina instável: trinitrato de glicerila intravenoso · Insuficiência cardíaca aguda: trinitrato de glicerila intravenoso · Insuficiência cardíaca crônica: mononitrato de isossorbida, com hidralazina em pacientes de origem africana (ver Capítulo 23). Antagonistas do cálcio · Bloqueiam a entrada de Ca2+ por restrição da abertura dos canais de cálcio tipo L operados por voltagem · Há três antagonistas tipo L principais. Os fármacos típicos são: verapamil, diltiazem e di-hidropiridinas (p. ex., nifedipino) · Afetam principalmente o coração e a musculatura lisa, inibindo a entrada de Ca2+ causada por despolarização nesses tecidos · A seletividade entre o coração e a musculatura lisa varia; o verapamil é relativamente cardiosseletivo, o nifedipino é relativamente seletivo para a musculatura lisa, e o diltiazem é intermediário · O efeito vasodilatador (principalmente di-hidropiridinas) ocorre principalmente em vasos de resistência, reduzindo a pós-carga. Os antagonistas do cálcio dilatam os vasos coronários, o que é importante na angina variante · Efeitos sobre o coração (verapamil, diltiazem): ação antiarrítmica (principalmente taquicardias atriais) em virtude do comprometimento da condução atrioventricular; redução da contratilidade · Usos clínicos: · Como antiarrítmica (principalmente verapamil) · Angina (p. ex., diltiazem) · Hipertensão (principalmente di-hidropiridinas) · Os efeitos adversos incluem cefaleia, constipação intestinal (verapamil) e edema pré-tibial (di-hidropiridinas). Há risco de sobrevir insuficiência cardíaca ou bloqueio cardíaco, especialmente com o verapamil. Usos clínicos dos antagonistas do cálcio · Arritmias (verapamil): · Para diminuir a frequência cardíaca na FA rápida · Para impedir a recorrência de TSV (a administração intravenosa de verapamil para extinguir crises de TSV foi substituída pelo uso de adenosina) · Hipertensão: geralmente uma di-hidropiridina (p. ex., anlodipino ou nifedipino de liberação lenta; ver Capítulo 23) · Na prevenção da angina (p. ex., di-hidropiridina ou diltiazem).
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