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Doença do refluxo gastro esofágico A DRGE é o distúrbio mais comum do TGI alto no mundo ocidental, respondendo por cerca de 75% das esofagoplastias. A DRGE pode aparecer em qualquer faixa etária (inclusive em crianças), porém, sua prevalência aumenta com a idade. Não há preferência por sexo, mas os sintomas tendem a ser mais frequentes e intensos na vigência de obesidade, bem como durante a gestação. Na criança, a DRGE predomina em lactentes, desaparecendo em 60% dos casos até a idade de 2 anos, e em quase todo o restante após a idade de 4 anos. Fisiopatologia da DRGE A DRGE inicia com a quebra do equilíbrio entre os fatores de proteção e de agressão, em associação à falha dos mecanismos de contenção do refluxo. A lesão da mucosa em indivíduos normais reflete um balanço entre os fatores agressores (refluxo ácido, potência do refluxo) e os fatores de proteção (clareamento ácido esofágico, integridade da mucosa). A incompetência da junção esofagogástrica (JEG) ocorre por três fatores: relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior (EEI), hipotonia deste esfíncter e fatores anatômicos no JEG. Relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior: É responsável por grande parte dos episódios de refluxo gastresofágico. No relaxamento transitório, há duração maior do relaxamento do EEI, bem como da sua frequência, e este não é acompanhado por movimento peristáltico do corpo esofágico. Além disso, o mecanismo desencadeante parece ser a distensão gástrica em posição ortostática, que é a posição em que mais ocorrem os eventos de refluxo. Esse relaxamento é uma resposta motora integrada envolvendo não somente o relaxamento do EEI, como também a inibição da crura diafragmática, o encurtamento do esôfago pela contração da sua musculatura longitudinale a contração do diafragma costal. Hipotonia do EEI: EEI é um segmento de musculatura lisa tonicamente contraída de 2 a 3 cm de extensão no esôfago distal. A pressão normal de repouso varia de 10 a 30 mmHg, sendo menor no período pós-prandial e maior à noite. Apenas a minoria dos indivíduos com doença do refluxo tem hipotensão severa do EEI (abaixo de 10 mmHg) Fatores que podem reduzir a pressão do EEl: distensão gástrica, colecistocinina, alimentos (gordurosos, cafeína, chocolate, álcool), tabagismo e drogas. Fatores anatômicos: As alterações anatômicas da transição esofagogástrica, como a hérnia de hiato, podem comprometer os mecanismos antirrefluxo na medida em que o EEl passa a não contar mais com a ajuda da musculatura diafragmática como reforço mecânico à sua função de barreira. Quadro clínico (sintomas clássicos, sintomas atípicos e complicações) Sintomas típicos: pirose sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço) e regurgitação (retorno de conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até a faringe). Sintomas atípicos: dor torácica de origem esofágica, tosse, pigarro, erosões dentárias, rouquidão e roncos. Complicações: estenose péptica do esôfago, úlcera esofágica, asma relacionada à DRGE e esôfago de Barret. Diagnóstico Pela clínica: paciente refere pirose pelo menos uma vez por semana, por um período mínimo de 4 a 8 semanas Prova terapêutica (Redução sintomática > 50% após 1-2 semanas de uso de IBP) é considerada o principal teste confirmatório. A realização de exames está indicada em certas situações específicas. Os principais métodos utilizados são: Endoscopia digestiva alta Principal finalidade: identificar as complicações da DRGE, como esofagite, estenose péptica, esôfago de Barrett e adenocarcinoma. Endoscopia deve preceder a pHmetria e o esofagomanometria. PHmetria de 24h (com ou sem impedanciometria) Trata-se do método padrão-ouro para confirmação diagnóstica de DRGE (sensibilidade e especificidade acima de 90%). Não é considerado um exame de rotina. Esofagomanometria Este exame não serve para diagnosticar a DRGE, já que não confirma a ocorrência de refluxo em si, contudo, tem o importante papel de auxiliar no planejamento cirúrgico, ajudando a selecionar o tipo de fundoplicatura que deverá ser realizada. Esofagogratia Baritada Paciente deglute contraste baritado e são obtidas imagens radiológicas que revelam a anatomia do esôfago. O principal papel da esofagografia é na caracterização das hérnias de hiato. Manometria esofágica Não é utilizada para fins diagnósticos Avaliar o tônus pressórico dos esfíncteres esofágicos e a atividade motora do corpo Valor preditivo na evolução da doença Hipotonia acentuada do EIE (menor que 10 mmHg) sinaliza para o tratamento clínico de manutenção Análise de atividade motora no pré operatório de fundoplicatura, tendo como objetivo assegurar-se das condições funcionais do esôfago em se adaptar a Válvula antirrefluxo gastresofágico Rx Rx EED Rx Contrastado Esófago Parão Exame radiológico contrastado do esôfago Baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da DRGE Solicitado quando o paciente refere à disfagia e/ou odinofagia Avalia a morfologia do esôfago: demonstrando estenose, hérnia hiatal por deslizamento e ângulo gástrico anormal Diagnósticos diferenciais da DRGE (pirose funcional, hipersensibilidade ao refluxo e esofagite eosinofílica). Pirose funcional - segundo os critérios conhecidos como Roma Ill, é a pirose com todos os parâmetros pH métricos normais e ausência de resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons. Corresponde a 10% dos portadores de pirose. Hipersensibilidade ao refluxo - refluxo ácido gastresofágico normal, porém com associação positiva entre episódios de refluxo ácido e sintomas referidos pelo paciente. Esofagite eosinofílica - trata-se de uma doença crônica imunomediada, caracterizada pela infiltração de eosinófilos na mucosa do esôfago e associada a sintomas semelhantes à doença do refluxo gastresofágico, refratários às medidas antirrefluxo. Diagnóstico através da biópsia do esôfago. Aspecto de traqueização esofágica, parecendo uma traqueia. Estrias longitudinais. Outros Acalasia esofágica Tumor esofágico - Disfagia esofágica (não orofaríngea) Colelitíase Gastrite Úlcera péptica gástrica/duodenal Doença arterial coronariana TRATAMENTO 1) Medidas comportamentais: Elevação da cabeceira da cama Moderar ingestão de alimentos gordurosos, cítricos, café, bebidas alcoólicas e/ou gasosas, menta, hortelã, produtos de tomate Cuidados especiais com os medicamentos anticolinérgicos, teofilina, tricíclicos, bcc, beta-2-agonista, adrenérgicos Evitar deitar-se nas 2h após refeições Evitar refeições copiosas Redução ou cessação do tabagismo Perda de peso 2) Farmacológico: por 8 semanas, associados a medidas comportamentais (1) Bloqueadores do receptor H2 de histamina (2) Inibidores da bomba de prótons (IBP) (3) Antiácidos Bloqueadores do receptor H2 de histamina: Bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas, inibindo, desse modo, uma das três vias de estímulo neuroendocrino è secreção ácida. São comprovadamente menos eficazes que os BP, não sendo indicados na vigência de esofagite grave ou outras complicações. Inibidores da bomba de prótons: Tratamento de escolha de pacientes com DRGE e sintomas típicos, por período de 4 a 8 semanas. Agem inibindo a bomba de prótons bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais do estômago. Em casos graves, atípicos e de resposta parcial, pode-se administrar dose dobrada pelo menor período. São mais efetivos quando administrados 30 minutos antes da primeira refeição do dia. Antiácidos: Neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais. Logo, não são úteis no tratamento prolongado da DRGE, pois seu efeito é de curta duração(cerca de 2h). Podem ser utilizados para alivio imediato. 3) Cirúrgico Cirurgia - qualquer que seja a técnica utilizada, visa restabelecer a competência do EEI, circundando a extremidade inferior do esôfago com um manguito (ou válvula) formado pelo fundo gástrico -a chamada fundoplicatura. Indicada quando: Refratariedade ao tratamento clínico (principalmente quando existe persistência da regurgitação e/ou hérnia de hiato associada). Pacientes impossibilitados de utilizar IBO em longo prazo (por problemas financeiros, alergia medicamentosa ou opção pessoal). 4) Endoscópico: choques de alta frequência no esôfago para hipertrofia da musculatura no EEI COMPLICAÇÕES Estenose, pelo processo inflamatório Perfuração Úlcera Hemorragias Esôfago de Barrett: metaplasia intestinal. Deve ser graduada: Sem displasia Displasia de baixo grau Displasia de alto grau Adenocarcinoma esofágico
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