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Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre INFLAMAÇÃO CRÔNICA Resposta de longa duração (semanas a meses, ou anos), sendo um quadro de lesão tecidual (aumento do infiltrado de células/graus de celularidade – o processo inflamatório, ao tentar destruir o agente agressor, passa a lesar o tecido por meio de suas enzimas) e tentativa de reparo tecidual simultâneos. ▪ Essa inflamação pode ser posterior à inflamação aguda ou ter um início insidioso (de baixo grau, com uma resposta latente sem manifestação de uma inflamação aguda anterior); A inflamação aguda pode progredir para inflamação crônica. Essa transição ocorre quando a resposta aguda não pode ser resolvida ou devido à persistência do agente lesivo ou por causa da interferência com o processo normal de cicatrização. ▪ Causas: Permanência do estímulo agressor, por isso que a inflamação não cessa, enquanto, simultaneamente, há uma tentativa de reparo da lesão: o Infecções persistentes por microrganismos difíceis de erradicar, ex.: vírus, fungos, parasitas – tendem ao estabelecimento de infecções persistentes e a suscitar resposta imune mediada por linfócitos T; o Distúrbios de hipersensibilidade/ Doenças inflamatórias imunomediadas: Nas doenças que são causadas por ativação excessiva e inapropriada do sistema imune, os autoantígenos desencadeiam uma reação imune autoperpetuadora que resultam em lesão e inflamação tecidual crônica (ex.: artrite reumatóide); o Exposição prolongada a agentes tóxicos: Incluem materiais exógenos não degradáveis, como a sílica (silicose), e a agentes endógenos, como os cristais do colesterol (aterosclerose). CLASSIF ICAÇÃO HISTOLÓGICA A inflamação crônica é separada de acordo com o aspecto: ▪ Crônica: Predominam fenômenos proliferativos: Proliferação fibroblástica (células que produzem colágenos, responsáveis pelo reparo e situações de fibrose) e angioblástica (células que compõe os novos vasos). Basicamente infiltrado de células mononucleares, principalmente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos; ▪ Crônica ativa: Trata-se da inflamação crônica re-agudizada, ou seja, há um quadro de inflamação crônica e suas características, porém seja por um agente persistente ou pela chegada de um novo agente, causa uma reinfecção ou infecção secundária que reativa os fenômenos vasculares exsudativos (característica da inflamação aguda) em área inflamada cronicamente. MORFOLOGIA ▪ Infiltração de células mononucleares – macrófagos, linfócitos e plasmócitos – chegam com cerca de 24/48h; Lembrando: Porque o nome infiltrado celular? Porque as células saem da circulação sanguínea, e vão infiltrando pelo tecido até chegar no local da lesão. ▪ Destruição tecidual induzida pelo agente indutor da inflamação ou pelas próprias células inflamatórias; ▪ Tentativa de reparo: Substituição do tecido afetado por tecido conjuntivo – pela deposição de reparo –, angiogênese (surgimento de novos vasos), e frequentemente a fibrose. FIBRINA X FIBROSE: ▪ Fibrina: É um composto proteico que resulta da clivagem do fibrinogênio; é comumente depositada na inflamação aguda pois há aumento de permeabilidade vascular fazendo com que o fibrinogênio, ao sair do vaso e ser clivado pela trombina, torna-se filamentos de fibrina insolúveis, que atinge o local da lesão juntamente com o fator plaquetário, pois ambos participam do processo de coagulação, agindo como sinalizador; o Aspecto de gelatina (aderência) e lesão com aparência áspera. ▪ Fibrose: Processo ativo de deposição de colágeno por parte do fibroblasto, ou seja, quando começa o estímulo para fibrose no processo de cicatrização na inflamação crônica, ocorre o recrutamento e ativação do fibroblasto que chega no tecido e sintetiza ativamente o colágeno; o A fibrina pode induzir a fibrose pois é componente do tampão plaquetário e serve de sinalização de uma região que perdeu tecido, ou seja, caso a fibrina não seja removida, os fibroblastos podem entender como sinalização para depositar colágeno, formando a fibrose; Patologia Patologia Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre o Diferente da fibrina, a fibrose não é removida, pois é um tecido cicatricial. Não é sempre que a fibrina vira fibrose e a fibrose não depende da fibrina para acontecer. Imagem macroscópica: Na primeira imagem há uma pleurite fibrinosa, com a fibrina de aspecto rígido, insolúvel e gelatinoso; já na segunda uma fibrose plural pós inflamação fibrinosa. Imagem microscópica. COMPONENTES CELULARES DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA MASTÓCITOS E NEUTRÓFILOS As principais células são as mononucleares, mas os mastócitos e neutrófilos podem aparecer em condições específicas. ▪ Mastócitos: (Participam de inflamações agudas e crônicas) Expressam na superfície receptores que reconhecem anticorpos (predominantemente o IgE), e quando reconhecidos, os anticorpos liberam histamina e prostaglandinas; o Principalmente observados em quadro de reação alérgica, estando associada com vasodilatação e vasoconstricção, broncodilatação e broncoconstricção. ▪ Neutrófilos: São a primeira linha de defesa contra agentes patógenos no organismo, por isso são mais característicos da inflamação aguda, mas podem permanecer também na inflamação crônica. principalmente em casos de reagudização e inflamação bacteriana. CÉLULAS MONONUCLEARES Principais células do nosso organismo, associadas tanto com a destruição tecidual quanto com a tentativa de reparo do tecido lesionado. LINFÓCITOS Célula dominante da inflamação crônica autoimune, porém também são mobilizados nas não-imunológicas. São os “administradores” do processo da inflamação, secretando citocinas, mediadores, ativando e recrutando outras células. ▪ São recrutados para o local de inflamação pelas citocinas produzidas pelos macrófagos ativados; ▪ Amplificam o processo da inflamação tornando-a mais duradoura e mais grave. Tipos de linfócitos: ➢ Linfócitos TCD4+: o Se diferenciam em diferentes tipos, produzindo diferentes citocinas induzindo diferentes tipos de inflamação; o Em virtude de sua capacidade de secretar citocinas, os linfócitos TCD4 + promovem inflamação e influenciam a natureza da reação inflamatória: ✓ TH1: Produzem IFNγ, que ativam os macrófagos pela via clássica; ✓ TH2: Secretam IL4, IL5 e IL13, que recrutam e ativam eosinófilos e são responsáveis pela via alternativa de ativação de macrófagos (via de reparo). Resposta anti- inflamatória, sendo necessária para reter/conter o processo; ✓ TH17: Secretam IL17 e outras citocinas, que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos (e monócitos) na reação. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre TH1 e TH17 estão envolvidas na defesa contra muitos tipos de bactérias e vírus e em doenças autoimunes; já as TH2 são importantes na defesa contra parasitas helmínticos e na inflamação alérgica. Qual o padrão ideal de inflamação? O de equilíbrio, quando se tem um leve predomínio para um tipo – a depender do agente causador. Ex.: Quando se tem TH1 em excesso, existirá uma resposta celular exacerbada – inflamação crônica mais densa, muita célula ativada levando a grande lesão tecidual –; quando se tem excesso de TH2, haverá muitos anticorpos, ou seja, resposta humoral – lesão imunomediada, de causa secundária. ➢ Linfócitos TCD8+: São ativados através da apresentação de antígeno e são citotóxicos, logo, uma vez ativados, induzem a morte da célula e, por isso, estão muito envolvidos com o processo de lesão tecidual; ➢ Linfócitos B: Quando ativados, são diferenciados em plasmócitos que produziram anticorpos específicos para a causa da lesão e vão desempenhar função de opsonização; o Os anticorpos podem ser específicos para antígenos estranhos ou autopersistentes/autoantígenosno local inflamatório ou contra componentes teciduais alterados: • No entanto, a especificidade e até́ a importância dos anticorpos na maioria dos distúrbios inflamatórios crônicos não são claras, por serem muitos variáveis e estarem envolvidos em muitos tipos de doenças. o Formação de órgãos linfoides terciários que possuem estrutura semelhante à de folículos de linfonodos e servem para fazer a ativação e diferenciação de linfócitos. Acontecem em: • Em algumas reações inflamatórias crônicas, os linfócitos acumulados, as células apresentadoras de antígenos e as células plasmáticas se agrupam para formar tecidos linfoides. MACRÓFAGOS ▪ Célula dominante na inflamação crônica; ▪ Na circulação são chamados de monócitos e sofrem a diferenciação em macrófagos quando chegam aos tecidos (sistema de fagócitos MNCs ou reticuloendotelial); o Existem órgãos que possuem seus macrófagos específicos, ex.: Célula de Kupffer, no fígado; ▪ São fagócitos profissionais: Ingerem e eliminam microrganismos, partículas e células mortas; ▪ Quando são ativados participam da secreção de citocinas (TNF, IL1, quimiocinas) com a sinalização para inflamação, e da secreção de fatores de crescimento para o processo de reparo; o Atuam em diferentes células, destruindo microrganismos, ativando outras células (linfócitos T); ▪ Estão envolvidos na formação de cicatrizes e fibrose; ▪ Exibem antígenos aos linfócitos T e respondem aos sinais das células T, criando assim um loop de feedback que é essencial para a defesa contra muitos patógenos por respostas imunes mediadas por células. Ativação de macrófagos: São ativados por diversos estímulos (ex.: contato com tecido necrótico e micróbios), descrito em duas vias de ativação de macrófagos: ▪ Via clássica (M1): Via associada a inflamação, pró- inflamatória. Indução a partir de citocinas de LTH1 (IFN-γ) e substâncias estranhas (cristais e partículas) e produção de enzimas lisossomais, NO e EROs em prol da ação microbicida, e citocinas inflamatórias; ▪ Via alternativa (M2): Via associada ao reparo. Induzida por citocinas de LT, mastócitos e eosinófilos (ex. IL-4 e IL-13) e então “deixam de ser” fagocitários e assumem papel no reparo e fibrose, induzindo TGF-β, fatores de crescimento (angiogênese e ativação de fibroblastos), além de possuírem efeitos anti-inflamatórios. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre Qual via se tem na inflamação? As duas respostas em uma mesma situação, porém pode haver um predomínio de uma resposta sobre a outra. Qual seria a situação ideal das vias? Predomínio de M1, para haver limpeza da destruição das células mortas, e depois predomínio de M2 para haver um reparo tecidual. Porém nem sempre acontece dessa maneira, ex.: Inflamação crônica é simultânea a ação de agressão e reparo tecidual. EOSINÓFILOS Aparecem em situações especificas como em inflamações mediadas por IgE (alergias) e infecções parasitárias. ▪ Possuem grânulos que contém proteínas catiônicas, tóxicas para parasitas e células de mamíferos (alergia). INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA Padrão de inflamação crônica com ligação direta a reações imunológicas causadas por estímulos infecciosos ou não infecciosos, sendo um esforço do organismo para conter um agente difícil de eliminar (ex.: Tuberculose, hanseníase, doenças autoimunes – doenças de Crohn –, e corpos estranhos). ▪ Um patógeno ao entrar no organismo, o ideal seria que o organismo e suas linhas de defesa conseguissem destruir, eliminar e criar imunidade ao patógeno. Porém, nem sempre é possível, e, nesses casos, o sistema imunológico “prende” o agente agressor tentando contê-lo. GRANULOMA Uma reação do sistema imunológico, que consiste em uma área central (com ou sem necrose – do tipo caseosa) que contém o antígeno (agente estranho) rodeado por macrófagos epitelióides (macrófagos que sofreram diferenciação), e um segundo rodeado por linfócitos, para fazer a manutenção do processo. Podem ser do tipo: Granuloma imune (Langhans) e de corpo estranho. São tridimensionais (morfologicamente) e dinâmico – células vivas (funcionalmente). ▪ Não há diferença funcional entre os tipos de células, apenas morfológica. Células epilióides: São macrófagos diferenciados pela ação das citocinas (principalmente IL-12 e interferon-gama). ▪ Morfologia tridimensional: Citoplasma rosa claro, limites não definidos e são capazes de se fundir, núcleo menos denso, oval e alongado, podendo ter chanfraduras na membrana celular - permite a formação de uma parede em torno do patógeno mais coesa, diminuindo a chance de passagem por entre as membranas das células. Células gigantes/Gigantócitos: Fusão de macrófagos epitelióides, sendo uma grande massa de citoplasma com quantidade variável de pequenos núcleos - 40/50 núcleos. Respectivamente, célula gigante de Langhans - núcleos arranjados perifericamente para atacar o agente estranho, e na segunda imagem, célula gigante de corpo estranho – núcleos arranjados irregularmente. TIPOS DE GRANULOMA 1. Granuloma de corpo estranho: As células gigantes e epitelióides se depositam (englobam) na superfícies de materiais grandes demais para fagocitose (ex. talco, farpa, restos de vidro, sutura sílica), sem a presença de resposta imune sistêmica. Na figura ao lado: A formação de um granuloma de corpo estranho e uma célula gigante tentando englobar para proteger do resto do corpo. Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre A figura ao lado mostra evolução das células epitelióides e das células gigantes no granuloma de corpos estranhos. 2. Granuloma Imune: Quando há um agente infeccioso – que se multiplica – e esse, induz a reposta celular imune, mesmo sendo fracamente degradável ou particulado: Ex.: Tuberculose: ▪ Possui uma área central de núcleo com o antígeno; uma área com células epitelióides, células gigantes, células dendríticas; e um halo de linfócitos rodeando essas células. o Epitelioides e gigantes são responsáveis pelo isolamento e as dendríticas são responsáveis pela sinalização, apresentando para os linfócitos que iram produzir as citocinas. Exemplo de importância clínica: o Paciente vacinado (BCG) e teve contato com tuberculose → Patógenos ficam presos dentro do granuloma e permanecem; o Ao contrair o HIV, o vírus destrói as células TCD4, que leva a destruição do halo de linfócitos do granuloma e, sem a sinalização, perde sua estrutura permitindo a saída do patógeno. Granuloma de tuberculose: A parte avermelhada é a necrose caseosa, rodeada de macrófagos epitelióides e células gigantes e em roxo é o cinturão de linfócitos. As células gigantes possuem aspecto bagunçado pela fusão das células epitelióides. Macroscopicamente podem ser focais (primeira imagem) ou difusos (segunda imagem), conforme se distribuam pelos limites agredidos. Schistossomose causa granuloma: No centro possui o “ovo”; a macha vermelha são eosinófilos (que liberam enzimas que digerem o parasita); a parte mais clara são células epitelióides e gigantes; e por fora, o halo de linfócitos. Se o processo do granuloma der certo, deve acontecer: a casca do ovo é dissolvida; as células epitelióides e gigantes mudam a sinalização para M2 (reparo) e depois entram em apoptose, assim como os linfócitos; os fibroblastos que foram sinalizados, iniciam a síntese e deposição de colágeno, formando uma cicatriz/nódulo fibrótico, podendo calcificar (raro).
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