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Resumo - Negros Estrangeiros - Os escravos Libertos e sua volta à África - Cap 3

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Resumo: “Negros, estrangeiros: os escravos 
libertos e sua volta à África; cap.3 Brasileiros 
em Lagos”. 
Manuela Carneiro da Cunha. 
 
 
O objeto principal tratado pela autora em "Brasileiros em Lagos" é sobretudo as 
questões que envolvem os libertos africanos e crioulos que retornam à África na "costa 
dos escravos". Os chamados saros foram iorubás escravizados e resgatados pelo 
esquadrão britânico e levados para a Serra Leoa, estando a maioria deles concentrados na 
região da Bahia e retornando à costa africana no período de 1830 em diante. 
 
A autora primeiro faz um breve, porém não menos aprofundado apanhado 
sobre as origens étnicas dos brasileiros de Lagos, ainda que suas fontes sejam escassas, 
os estudos que se sobressaem são os estudos de Koelle, missionário anglicano cujo 
trabalho consistiu na entrevista de dezenas de libertos em Freetown, contribuindo com 
uma amostragem representativa dos escravos da África ao Brasil (que não deve, contudo, 
generalizar a população escrava como um todo), fazendo distinção também de seus 
diversos grupos linguísticos. As razões de sua escravidão são diversas e nem todos 
entravam no comércio atlântico. A maioria dos iorubás retornados provinha das cidades-
estado do interior. Os brasileiros se espalharam amplamente pela costa e alguns voltaram 
para o interior, ainda que se soubesse que era na costa onde o comércio se destacava. A 
escravidão que se seguia do reinado de Daomé estaria ameaçada mais tarde em 1851 no 
bombardeio inglês que restaurou Akitoye na promessa de cessar o tráfico negreiro. Aos 
poucos a região de Lagos ia se tornando cada vez mais atrativa na medida em que havia 
intervenções do consulado inglês. 
 
A autora se detém boa parte do texto para abordar as relações de comércio entre 
o Brasil e esta região litorânea da África Ocidental. Em grande parte, o comércio consistia 
na importação de fumo e aguardente e na exportação de escravos. Muitos escravos 
libertos no Brasil também comerciavam em escravos. O crescimento do comércio do 
azeite de dendê vai se avolumando a partir de 1830, estabelecendo-se durante algumas 
décadas e decaindo novamente no futuro. O comércio de escravos constituiu boa parte 
dos lucros, o estímulo do comércio do dendê surge como uma tentativa de impedir um 
colapso na economia local pela venda de escravos. Muitos negreiros vão à falência em 
1850, porém, o comércio com a África não acaba, a exportação do fumo e da aguardente 
e de uma variedade de produtos para a Bahia se fez bastante estável e configurava grande 
importância cultural e de valores étnicos aos negros brasileiros. A religião dos orixás 
configurou-se como o grande eixo na construção da identidade nagô e africana. Os 
brasileiros africanos resistiram e insistiram pela sua identidade brasileira, e os negros 
brasileiros lutaram por suas identidades africanas. A autora também evidencia o sistema 
de circulação dos lucros que se mantinha sem qualquer intervenção de bancos e baseado 
no crédito e na confiança pessoal. Além de valorizarem o comércio nos mercados de 
laguna, também havia os donos de barracão que compravam e preparavam o produto para 
exportação. No geral, o comércio entre Lagos e Bahia foi controlado por bastante tempo 
ainda que a problemática do transporte fosse uma discussão atual naquele momento, 
decorrentes das limitações do comércio. 
 
Os brasileiros retornados valorizaram muito o comércio interno, o artesanato e 
outras funções que não fossem necessariamente ligadas à agricultura, alcançando grande 
reputação na arquitetura e deixando grandes marcos nas suas tradições culturais 
culinárias, musicais e literárias. Haviam duas fortes facções brasileiras que dividiram seu 
apoio entre os britânicos e o reinado de Docemo e se beneficiaram de grande influência 
política. Os rastros culturais do Brasil colocados nos retornados em Lagos também se 
destacou por grande conservadorismo e severidade, também provindas da cultura 
religiosa cristã. A comunidade brasileira em Lagos passa posteriormente por uma reforma 
cultural destacada pela reintrodução da língua iorubá e forte campanha nacionalista em 
contraponto aos moldes ingleses que se estabeleceram e influenciaram a dimensão 
cultural dos brasileiros.

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