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Conto Famigerado João Guimarães Rosa

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Discentes: Ester Batista Machado
Componente Curricular: Lit. e Cult. de Ling. Port. III
Docente: Prof. Me. Gilmar Azevedo
Ao ler o conto "Famigerado" (In: Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa) e ao assistir ao curta-metragem  homônimo (Aluizio Salles Jr.), fale sobre: 
a) Os personagens "Doutor" e "Damásio dos Siqueira";
b) A linguagem usada por eles; 
c) O espaço "comum" dos dois;
d) Como se resolveu o conflito e o que isso pode significar para a interação humana de pessoas vistas de maneiras diferenciadas. 
Famigerado
adjetivo
1. 1.
que tem muita fama; célebre, notável, famígero.
2. 2.
PEJORATIVO•PEJORATIVAMENTE
tristemente afamado.
"f. assaltante"
Linguagem popular cafajeste, torpe, indigno
No conto de Guimarães Rosa, o Doutor usa sabiamente o seu conhecimento, para impedir uma desgraça, acalmando o jagunço Damásio e escolhendo a opção certa para traduzir a palavra “famigerado.” 
Os personagens Doutor e Damásio
O Doutor é médico, e como tal, tem um status social e é instruído, um cidadão de paz, inteligente e sagaz. Ele é o narrador (primeira pessoa) e um alter ego de Guimarães Rosa. Sua fraqueza é o medo do jagunço. Conhece em as palavras e gosta de escrever.
O jagunço Damásio é ignorante, sem instrução, truculento, de aparência ameaçadora e ao mesmo tempo constrangido, receoso. No curta, podemos sentir a presença assustadora de sua imagem. Sua fraqueza é a falta de instrução, 
A linguagem usada por eles
Durante o conto, ambos deixam aflorar suas fraquezas, invertendo os papéis, mas o Doutor, por ser mais preparado, usa sua instrução a seu favor, deixando a covardia de lado e contornando a situação. O medo do médico é compreensível, pois os jagunços mandam no sertão e tem má reputação. “O medo é a extrema ignorância” (ROSA, 2001, p. 57) O autor parte da literatura regional e transfigura o mundo regional: “O sertão é o mundo”. As incertezas dos personagens ficam por conta de suas realidades muito diversas. O Doutor não pode sentar com Damásio, para discutir o significado ambíguo da palavra “famigerado”. Ele não tem instrução, não sabe usar as palavras corretamente e não sabe como pronunciá-las. Usa a variedade não padrão da língua.
A linguagem regional de Guimarães Rosa é criativa, cheia de neologismos. Não é reprodução, é uma língua trabalhada. Ele brinca com as palavras, usando aglutinações inventadas, prefixos e sufixos, usa vocábulos arcaicos, metáforas, ritmo e elementos das mitologias grega e oriental. O próprio autor relata que escreve em língua brasileira, que é diferente da Língua Portuguesa, segundo ele, uma língua que já foi nomeada e estacionada. Ele busca o universo de possibilidades. No realismo fantástico é pensado tudo previamente para que haja uma ligação com o leitor.
Como exemplo, temos algumas subversões da sintaxe e semântica do nosso dicionário, nas falas de Damásio, que é uma variante do sertanejo:
-... Fasmigerado...faz-me-gerado...falmigeraldo...familhas-gerado...?
“-Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo – o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias [...]” (ROSA, 2001, p. 59)
“- Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de dia-de-semana?” (ROSA, 2001, p. 60)
“[...] Redigiu seu monologar. O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ao, travando assuntos, insequentes, como dificultação” (ROSA, 2001, p. 59). 
Léxico de Guimarães Rosa (2001), exemplos das palavras utilizadas no conto de forma especial ou que constituam um neologismo:
1 – Equiparado – neologismo ambíguo, como atesta Martins (2001). Composto de EQUI (cavalo) + PARADO, a palavra tanto pode significar “parado sobre o cavalo” como “equiparado e parado”.
 2 – Ingente – significado ‘grande’, ‘notável’ (sentido figurado). Para Martins (2001), há no emprego desta palavra uma ironia, posto que o autor usa um termo culto para caracterizar uma situação na qual Damásio tem dificuldade de pensar. 
3 – farrusca – fisionomia sombria. Palavra formada a partir de enfarruscado, ‘carrancudo’, ‘amuado’. 
4 – Celha – sobrancelha. Quando o personagem-narrador diz que “Damásio 
5 – Ínvios – em sentido denotativo, significa ‘sem caminho’, ‘intransponível’. Ao aplicar o termo a olhos, o autor criou uma metáfora para expressar a ideia de que Damásio apresentava ‘olhos duros’, ‘impenetráveis’.
 6– Antenasal – formado por ANTE ‘diante de, ‘em frente’ + NASAL relativo ao nariz, significando, portanto, à frente do nariz. O autor pode ter formado a palavra a partir da frase feita “a um palmo do nariz”. 
7 – Cabismeditado – junção de CABISBAIXO + MEDITADO: ‘que medita de cabeça baixa’.
 8 – Insequentes – neologismo formado pela junção do prefixo IN (não) + SEQUENCIA: ‘sem sequencia’, incoerente. Processo semelhante ao que ocorre em INCONSEQUENTE. 
9 – Famanasse – granjear fama de valentão, valente. 
10 – Transiu-se-me – expressão formada a partir do verbo TRANSIR (passar através de, ficar imóvel de medo). A presença do SE, a nosso ver, funcionando como partícula apassivadora, reforça a ideia de que o medo atuou sobre a personagem, tomou todo seu corpo, deixando-a imóvel. 
11 – Indúcias – tréguas, armistícios. 
12 – Intugidos – neologismo formado de IN (não, sem) + TURGIR (falar baixo, murmurar). Indica que as personagens sequer murmuravam. 
13 – Murmumudos – absolutamente calados. Triplicação da sílaba inicial da palavra medo, para criar um neologismo que reforça o sentido de intugidos. Com este processo, Guimarães Rosa produz uma espécie de superlativação da palavra mudo. 
14 – Verivérbio – O termo exato, o sentido preciso da palavra. 15 – Desafogaréu – neologismo formado pela junção de DESAFOGO + FOGAREU: ‘grande desafogo’.
O espaço comum
O espaço da construção do enredo é a casa e a frente da casa do Doutor. No filme, podemos desfrutar das imagens que permitem uma observação do interior da casa. O protagonista tem uma máquina de escrever e gosta da escrita, seus objetos relativos à profissão de médico e uma arma enfeitando a parede. Arma essa que ele não ousa usar contra Damásio. O espaço fora da casa é a frente da mesma, aonde o jagunço chega com seus dois capangas. O Doutor fica na porta. Passa-se no interior de Minas gerais. Os signos têm grande relevância no contexto imagético. As imagens são de fácil entendimento, pois elas nos permitem perceber mais símbolos e representações com som e imagens juntos, o figurino e a caracterização dos personagens. Os livros do Doutor, a arma na parede, o gosto pela escrita, as feições de Domásio, seus olhos e seu cinturão com sua arma, além de dois jagunços passa a idéia de que o perigo chegou. Mas o roteiro do curta não é feito pelo escritor, é uma adaptação inspirada no conto. “Famigerado” e seu curta são muito parecidos, a linguagem fílmica melhorou o conto. Notamos a docilidade do jagunço perigoso no final, muito agradecido ao Doutor.
O psicológico para o espaço “comum” é “o lugar de sossego que tem uma paisagem, onde nada fora do comum acontece”, um lugar calmo do interior. Este espaço de calmaria é quebrado por Damásio, que depois do susto que deu, deixa uma “estória” para o Doutor, uma “estória para alto rir”.
 Nossa memória processa várias coisas ao mesmo tempo, o visual, auditivo, espaço consciente, os sentimentos, entre outros. É mais abrangente e emociona mais. Quando se trata do espaço, captamos mais elementos, principalmente pela fotografia e cenários. O texto pode ser lido lentamente, rapidamente ou por capítulos e a imagem é mental, depende de nossa criatividade. O processo é cronológico, mas existe o solilóquio. O filme é assistido do começo ao fim.
Como se resolveu o conflito e o que isso pode significar para a interação humana de pessoas vistas de maneiras diferenciadas.
Graças ao “jogo de cintura” do Doutor, que com sua esperteza, inteligência e instrução pensou antecipadamente em todas as respostas e escolheu a melhor, nada aconteceu. Damásioficou satisfeito com a resposta e ficou calmo e o Doutor aliviado. O conto mostra o poder da instrução. Também podemos avaliar de outro ângulo, Damásio foi enganado pelo médico. A palavra tinha dois sentidos e o pejorativo, possivelmente era o verdadeiro. Fica a questão: Quantos Damásios e quantos Doutores existem por aí? Assim acontece com a maioria das pessoas pouco instruídas, são enganadas e ficam felizes sem saber da enganação. O conto tem como ponto central a importância da linguagem. Seu conhecimento é poder e determina as posições sociais.

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