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1 APOSTILA PSICOFARMACOLOGIA RESUMO DAS AULAS Profa. Dra. Caroline Mendes Principal referência: Rang & Dale; Farmacologia. 2 ORDEM DAS AULAS Aula 1 Conceitos em farmacologia Aula 2 Farmacodinâmica e farmacocinética Aula 3 Neurofarmacologia Aula 4 Fármacos antidepressivos Aula 5 Ansiolíticos e hipnóticos Aula 6 Fármacos antipsicóticos Aula 7 Fármacos antiepiléticos Aula 8 Abuso de substâncias Aula 9 Transtorno bipolar 3 AULA 1 Conceitos em farmacologia • Fármaco: substância química de estrutura conhecida, que não seja um nutriente ou ingrediente essencial da dieta, o qual, quando administrado a um organismo vivo, produz um efeito biológico; • Farmacologia: estudo dos efeitos dos fármacos no funcionamento dos sistemas vivos; entender o que os fármacos fazem nos organismos vivos; Como agem os fármacos • As moléculas dos fármacos precisam exercer alguma influência química sobre a célula, para produzir uma resposta; • Alvo farmacológico: a interação do fármaco com a célula deve ser específica; • Receptores farmacológicos: molécula alvo com a qual uma molécula de um fármaco tem que se combinar para desencadear um feito específico; • Quanto menor a potência de um fármaco, e maior a dose necessária, maior a probabilidade de que outros tipos de ação, diferentes do sítio primário, também sejam ativados; efeitos colaterais; • Fármacos precisam exibir um alto grau de especificidade pelo sítio de ligação; Interações fármaco-receptor • Fármacos agonistas: ativam os receptores; afinidade – capacidade de se ligar ao receptor; eficácia – capacidade de ativar o receptor; • Fármacos agonistas parciais: menor eficácia; diferentemente dos agonistas plenos, que produzem respostas máximas; • Fármacos agonistas inversos: agente capaz de se ligar ao mesmo receptor que um agonista, mas induzindo uma resposta farmacológica oposta. • Fármacos antagonistas: combinam-se com o mesmo sítio sem causar ativação e bloqueiam o efeito dos neurotransmissores sobre aquele receptor; Dessensibilização e tolerância • Dessensibilização: o efeito do fármaco diminui gradualmente quando ele é utilizado de maneira contínua; • Tolerância: redução da responsividade de um fármaco; Podem ser devido: https://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_(bioqu%C3%ADmica) https://pt.wikipedia.org/wiki/Agonista 4 • Alteração em receptores, que induzem menores respostas ou redução da quantidade destes receptores (exposição prolongada a agonistas); • Alteração no metabolismo dos fármacos: maior degradação metabólica → redução da concentração plasmática; • Adaptação fisiológica; Respostas imediatas e tardias • Muitos fármacos agem diretamente sobre seus alvos produzindo uma resposta fisiológica imediata. Se essa situação se mantiver, provavelmente causará alterações na expressão de genes que darão origem a efeitos tardios; • Alguns fármacos agem primariamente sobre a expressão de genes produzindo respostas fisiológicas tardias; • Fármacos podem agir pelas duas vias. AULA 2 Farmacodinâmica e farmacocinética • Farmacodinâmica: efeitos de um fármaco; diz respeito às ações farmacológicas e aos mecanismos pelos quais os fármacos atuam (ou seja, aquilo que os fármacos fazem ao organismo); ação dos fármacos. • Farmacocinética: diz respeito aos processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação dos fármacos (ou seja, o que o organismo faz aos fármacos). Consiste nas etapas de absorção, distribuição, metabolismo e eliminação dos fármacos. Farmacocinética – Absorção e vias de administração • Absorção: passagem de um fármaco do seu local de administração para o sangue; • Biodisponibilidade: percentual de aproveitamento, pelo organismo, de um fármaco; • Meia vida: tempo gasto para que a concentração plasmática ou a quantidade original de um fármaco no organismo se reduza à metade; cada intervalo de tempo correspondente a uma meia-vida, a concentração decresce em 50% do valor que tinha no início do período; Administração oral 5 • Maioria; • Mediado por transportadores ou difusão simples; • Cerca de 75% do fármaco é absorvido em 1 a 3 horas; Pode ser influenciado por: • Motilidade do TGI; movimento excessivamente rápido pode comprometer a absorção; • Alterações no fluxo sanguíneo (estado alimentado ou hipovolemia); • Interações medicamentosas podem afetar absorção; • Biodisponibilidade: metabolismo de primeira passagem ou eliminação pré sistêmica; Sublingual • Sabor do fármaco; efeito rápido principalmente se o fármaco for instável no pH gástrico ou se for rapidamente metabolizado pelo fígado; • Passam diretamente para circulação sistêmica sem entrar no sistema porta; Administração retal • Fármacos que devem produzir um efeito local ou sistêmicos; absorção pouco confiável; Cutânea • Efeito local na pele; pode ter absorção e efeito sistêmico; adesivos de nicotina e de hormônios; não tem metabolismo de primeira passagem; Administração por injeção • Via mais rápida e confiável; • Via cutânea ou via intramuscular; absorção depende do local de injeção e do fluxo sanguíneo local; • Biodisponibilidade geralmente de 100%; • Injeção intratecal: espaço subaracnóide; agulha de punção lombar; tratamento de alguns tipos de leucemia, anestesia, analgésicos, fármacos que atravessam a BHE muito lentamente; Metabolismo e eliminação dos fármacos 6 • Metabolismo: biotransformação do fármaco em outra substância; metabólito; pode ou não ter atividade biológica; • Eliminação: saída dos metabólitos do organismo, principalmente pela urina; • Metabolismo de segunda passagem (biotransformação) é importante para que o fármaco seja eliminado do corpo, e está associado ao aumento da hidrossolubilidade, para que este possa ser excretado pelo rim; metabólitos polares; enzimas hepáticas; citocromo P450; • Substâncias lipofílicas não são eficientemente eliminadas pelos rins; são metabolizados em produtos polares. AULA 3 Neurofarmacologia Sistema nervoso central • SNC: dentro do crânio e da coluna vertebral; apresenta a grande maioria das células nervosas (neurônios); SNP: Distribuído por todo nosso corpo; apresenta principalmente o prolongamento dos neurônios (axônios), chamados fibras nervosas, agrupados em nervos; • Córtex cerebral: principal diferença entre humanos e outras espécies; • Substâncias que atuam centralmente são as mais comumente administradas por motivos não médicos (ex.: álcool, chá, café e maconha); • Bases biológicas das alterações psiquiátricas; abismo entre compreensão da ação do fármaco ao nível celular e nível comportamental; Sinalização química no SNC • Neurotransmissão: substância liberada por um neurônio que atua na membrana de um outro neurônio, causando excitação ou inibição; • Duas células principais no SNC: neurônio e glia; • Unidade funcional do SNC; operam em conjunto, formando os circuitos ou redes neuronais; • Neurônios mielinizados apresentam bainha de mielina, que acelera a velocidade de condução do impulso nervoso; • Glia: mais numerosas; células de apoio, que mantém a estrutura nutrem os neurônios; menor que os neurônios; não apresentam axônio; regulam concentração de íons e neurotransmissores; formam as bainhas de mielina; fazem parte do sistema imunitário do SNC. 7 • BHE: Barreira hematoencefálica: Barreira de vasos sanguíneos ao redor do SNC; protege o SNC, impedindo a entrada de algumas substânicas; • Fármacos psicotrópicos: aqueles que afetam o humor e o comportamento; Potenciais de ação • Lei do tudo ou nada: ou tem potencial, ou não tem potencial; • Todos os potenciais de ação são iguais; não diminuem seu poder enquanto viajam pelo neurônio; transmissão de sinais a longas distâncias; • Potencial de repouso ou de membrana:-70 mV; • Despolarização de todos é por volta de +30 mV de amplitude; intensidade do estímulo é interpretada pela frequência de disparos; • Quanto maior a frequência, maior a liberação de neurotransmissores; Origem do potencial de ação • Um estímulo despolariza do proeminênica axônica ao seu limiar (-55 mV); • Canais de Sódio se abrem e o Na fui para o meio intracelular; • Conforma o Na vai entrando, a membrana celular vai ficando progressivamente mais positiva e ocorre a passagem fora dos limites (potencial acima de 0 mV, ou seja, sua polaridade foi revertida); • Pico da despolarização: +30 mV. Neste ponto, os canais de Na começam a se fechar e os canais de K, que são mais lentos, se abrem; • O potássio, a favor do seu gradiente de concentração, começa a sair do citoplasma (meio intracelular) e o potencial de membrana vai se tonando mais negativo; • Os canais de potássio se fecham mais lentamente, criando uma hiperpolarização (aproximadamente -90 mV); pós hiperpolarização; • Conforme os canais de potássio vão se fechando, o potencial vai voltando ao seu estado de repouso (-70 mV); • O movimento de um potencial de ação através do axônio é denominado condução; o fluxo de corrente elétrica é sempre para frente. A informação passa de célula a célula através da sinapse • Uma sinapse é o ponto no qual um neurônio encontra sua célula alvo; • Possui 3 partes: terminal axônico da célula pré sináptica, fenda sináptica (espaço entre as células) e a membrana da célula pós sináptica; 8 • Células com muitos dendritos fazem muitas sinapses (10.00 a 150.000); • Podem ser elétricas ou químicas; Sinapses elétricas • O sinal elétrico de uma célula passa para outra célula por meio de junções comunicantes; condução mais rápida do sinal; Sinapses químicas • Grande maioria; • Utilizam neurotransmissores para carregar a informação de uma célula para outra; • Síntese: corpo celular; o corpo celular sintetiza o material necessário e leva ao axônio por meio do transporte axônico; • Vesículas sinápticas estão presentes no terminal axônico; armazenam neurotransmissores, que são liberados quando há um sinal; Cálcio é o sinal para a liberação de neurotransmissores • Ocorre por exocitose; • Etapas: chega uma onda de despolarização no terminal axônico que possui canais de cálcio que se abrem; • O Ca do meio extracelular, fui para o meio intracelular a favor do seu gradiente de concentração; • Os íons de Ca ligam-se a proteínas regulatórias e iniciam a exocitose; Ocorre a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica; estes se ligam aos seus receptores presentes na membrana da célula pós sináptica. A atividade dos neurotransmissores é rapidamente finalizada • Remoção ou inativação rápida do neurotransmissor na fenda sináptica; • Várias vias: o neurotransmissor simplesmente se difunde ou é removido por células gliais e sai da fenda sináptica; • Podem ser inativados por enzimas; • Pode ser devolvido para a célula pré sináptica (recaptação). 9 AULA 4 Fármacos antidepressivos Depressão • Tipo mais comum de distúrbio afetivo; • Varia desde alterações leves (beirando a normalidade) até depressão grave; • Está associada a outras condições psiquiátricas, como ansiedade, distúrbios alimentares e dependências químicas; Principais sintomas emocionais: • Humor depressivo, pessimismo, apatia; • Autoestima baixa; • Indecisão, perda de motivação; • Anedonia; Principais sintomas biológicos: • Retardo do pensamento e da ação; • Perda de libido; • Distúrbios do sono e perda do apetite; Depressão Unipolar • 75% dos casos: depressão reativa; • 25% dos casos: depressão endógena; Regiões encefálicas envolvidas • Córtex pré frontal, amídala e hipocampo. Teorias sobre depressão • Teoria das monoaminas: principal; depressão pode ser causada por um défcit de neurotransmissores de monoaminas (noradrenalina e serotonina); • Inibidores da captura de noradrenalina e serotonina são igualmente eficazes como antidepressivos; 10 • Efeito bioquímico é diferente de efeito antidepressivo; o primeiro, aparece muito rapidamente (minutos ou horas), enquanto o segundo, leva semanas; • Isso sugere que adaptações secundárias adaptativas do cérebro, e não o efeito primário do fármaco, são os responsáveis pela melhora clínica; • libera CRH (hormônio liberador de corticotrofina) e estimula a hipófise a liberar ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), induzindo, finalmente a secreção de cortisol; • Cortisol é mais elevado em pacientes depressivos; • Teste clínico: teste da supressão de dexametasona: cortisol sintético; em pacientes depressivos, apresenta maior tempo na queda; • Monoaminas controlam a descarga de CRH no hipotálamo; • Hipofunção das monoaminas e hiperfunção do CRH; • Efeitos tróficos e neuroplasticidade: comportamento depressivo está associado à redução de BDNF; antidepressivo eleva os níveis desta proteína; • Elevados níveis corticais de glutamato; • Depressão está associada à perda neuronal no hipocampo e córtex pré frontal; Tipos de Fármacos antidepressivos Inibidores as captura de monoaminas • Inibidores da captura de noradrenalina. Inibe também a captação da dopamina. Ex.: Bupropiona e reboxetina; • Erva de São João, que contém hiperforina, que é um inibidor fraco da recaptação de serotonina; • ISCSs: inibidores seletivos da captura de serotonina. Ex.: fluoxetina, paroxetina, sertralina; • Alterações adaptativas crônicas: downregulation de alguns receptores de monoaminas (principalmente beta1 e alfa2 adrenérgico); • Níveis elevados de serotonina na fenda sináptica induzem menor inibição da recaptação; • ISCSs: grupo de fármacos mais comumentes prescritos; não causam a reação do queijo; tratamento de depressão de grau moderado; • Meia vida plasmática de 18-24 horas; • Efeitos adversos: náusea, anorexia, insônia, libido e frigidez; 11 • ADTs: antidepressivos tricíclicos. Variam em sua capacidade de inibir a recaptação da serotonina e da noradrenalina. Ex.: imipramina e desipramina. • Sugere-se que a melhora dos sintomas emocionais reflita ao aumento da transmissão da serotonina e a melhora dos sintomas biológicos reflita ao aumento da transmissão noradrenérgica; • Metabólitos do ADTs também apresentam atividade farmacológica • Efeitos adversos: sedação, confusão e falta de coordenação motora (primeiras semanas). Boca seca, visão embaçada, constipação e retenção de líquido; • Meia vida: 10-80 horas, sendo mais longo em idosos. Inibidores da MAO (monoamino-oxidase) • Inibem a MAO cerebral, aumentando assim os níveis de serotonina e noradrenalina nas terminações nervosas. Ex.: fenelzina e maclobemida. • MAO-A: degrada principalmente serotonina; • MAO-B: degradada principalmente dopamina (usada no tratamento contra doença de Parkinson); • Efeitos adversos: ganho de peso, insônia, hepatoxicidade e reação do queijo (resposta hipertensiva intensa a alimentos contendo tiramina); Terapias de estimulação cerebral • Os tratamentos de estimulação cerebral podem ser utilizados como auxílio terapêutico de última escolha no caso de pacientes que não responderam ao tratamento com fármacos antidepressivos; • ECT: eletroconvulsoterapia; eletrodos colocados em cada lado da cabeça; respostas rápidas; pode causar perda de memória por algumas semanas; envia impulsos elétricos a regiões específicas do cérebro, alterando a atividade cerebral; TMS: estimulação magnética transcraniana; não causa dano cognitivo; ativa ou inibe determinadas regiões no cérebro, de acordo com o objetivo terapêutico. 12 • De maneira geral, estas terapias reestabelecem a função das áreas envolvidas na depressão. Eficácia clínica • Antidepressivos produzem benefícios significativos em pacientes com depressão moderada a grave, sua eficácianão está clara nos casos de depressão leve; • Depressão leve: melhor tratada com medidas que não envolvam fármacos; • A eficácia e o tipo de fármaco variam entre indivíduos; • Polimorfismos genéticos induzem melhor ou pior adaptação a um determinado tipo de fármaco; • Substâncias placebo; Suicídio • Relatos de antidepressivos de que antidepressivos aumentariam o risco de suicídio principalmente em crianças e adolescentes; • Potencial suicida: pensamentos e planejamentos suicidas, mas com tentativas falhas; • Aumenta apenas durante as primeiras semanas de tratamento; • Risco é menor em adultos; • Suicídio real muito mais raro. AULA 5 Ansiolíticos e hipnóticos • Ansiolíticos: fármacos para tratar ansiedade; • Hipnóticos: fármacos para tratar a insônia; Ansiedade 13 • Respostas normais ao medo: comportamentos defensivos, reflexos autonômicos (aumento da FC), despertar e alerta, secreção de corticosteroides, emoções negativas, etc. • Estados ansiosos: ocorrem as respostas ao medo, sem um estímulo específico; Ansiedade patológica: tais sintomas interferem muito na vida do paciente; Tipos de transtornos de ansiedade • Transtorno de ansiedade generalizada: estado constante de ansiedade sem uma razão clara; • Transtorno de ansiedade social; • Transtorno do pânico: crise súbita de um medo incontrolável; parece ter um componente genético; • Fobias: medos intensos a coisas específicas; • Transtorno de estresse pós-traumático: ansiedade desencadeada por lembranças de experiências estressantes; • Transtorno obsessivo compulsivo: rituais compulsivos devido a um medo irracional; • Ansiolíticos: afetam o nível de inibição comportamental produzida por uma situação de conflito; Fármacos para tratamento da ansiedade • Antidepressivos: ISRS (fluoxetina, paroxetina, sertralina) e inbidores da recaptura de serotonina e noradrenalina; usados na ansiedade generalizada, fobias, transtorno de estresse social e pós traumático; • Em alguns pacientes pode ser necessário o uso de Inibidores da monoaminoxidase (iMAO), estes pacientes devem ser orientados quanto à restrição de alguns alimentos que se ingeridos podem causar grave crise hipertensiva; • Benzodiazepínicos: ansiedade aguda, pode ser combinado com um ISRS; 14 • Buspirona: Agonista do receptor de 5HT1a; eficaz no caso de ansiedade generalizada; Dias ou semanas para produzir seus efeitos (assim como os ISRSs); não causa sedação ou falta de coordenação motora, nem tolerância ou abstinência; • Fármacos antiepilépticos e antipsicóticos; • Antagonistas dos receptores beta adrenérgicos (propranolol): bloqueio de respostas simpáticas periféricas, sem ação central; Fármacos Hipnóticos • Benzodiazepínicos; • Anti-histamínicos; Benzodiazepínicos (BZD) • Clordiazepóxido – primeiro benzodiazepínico, sintetizado em1961; • Estrutura química específica; alguns fármacos não apresentam tal estrutura química, no entanto, atuam da mesma maneira; • Diferenças no comportamento farmacocinético entre os benzodiazepínicos são mais importantes que o perfil de atividade; • Mecanismos de ação: Atuam em receptores GABAa; (ácido gama aminobutírico); • Aumentam a atividade de GABA ao seu receptor; • GABAa são receptores que apresentam 3 subunidades (alfa, beta e gama); os BZD ligam-se entre as subunidades alfa e gama; • BZD ligam-se somente em receptores que apresentam as subunidades gama2, alfa1, 2, 3 ou 5) Principais efeitos • Redução da ansiedade e agressividade; 15 • Indução de sono e sedação: diminui latência e aumenta duração do sono; redução de sono REM; indicados para tratamento de insônia a curto prazo, pois ocorre tolerância após 2 semanas de uso contínuo; • Redução do tônus muscular: ação inibitória na medula espinhal graças suas ações nos receptores GABAa; efeito relaxante; • Efeitos anticonvulsivos: clonazepam também pode ser usado para tratar epilepsia; • Amnésia: rohipnol – droga de estupro; vítimas não conseguem lembrar exatamente do que aconteceu; BZD que se ligam aos receptores GABAa com subunidade alfa 5; • A terapêutica adequada é limitada a 4 semanas de uso. Farmacocinética • Por via oral: pico de concentração plasmática em 1h; • Variam na duração da ação; • Ação curta: hipnóticos; ação longa: ansiolíticos a anticonvulsivos; • Metabólitos ativos: efeitos cumulativos; Efeitos adversos • Toxicidade aguda: BZD não são tão perigosos em superdosagem; na presença do álcool (depressor do SNC) pode causar depressão respiratória grave; • Efeitos colaterais durante o uso: sonolência, confusão. Amnésia e comprometimento da coordenação; • Tolerância: está relacionado ao número de receptores ocupados (dose) e pela duração da ocupação do receptor (tipo de BZD); relacionado com o uso contínuo; • Dependência: suspender abruptamente após semanas ou meses, induz ansiedade, tonturas e sono perturbado devido ao aprofundamento do sono REM (sonhos); Antagonistas e agonistas inversos dos BZD 16 • Flumazenil: antagonista competitivo; usado para reverter o efeito de superdosagem; • Agonistas inversos: ligam-se a receptores de benzodiazepínicos e exercem o efeito oposto, produzindo aumento de ansiedade e convulsões; AULA 6 Fármacos antipsicóticos • Transtornos psicóticos: incapacidade de distinguir entre a experiência subjetiva e a realidade externa; • Exemplos de transtornos psicóticos: Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Esquizoafetivo, Transtorno Delirante e Transtorno Psicótico Breve; • De uma forma geral, a pessoa com crise psicótica pode ter alucinações, delírios, mudanças comportamentais e pensamento confuso como na esquizofrenia; • Fármacos utilizados para tratar esquizofrenia (doença mais comum e debilitante das doenças mentais); • Também podem ser usados para tratar mania e outras alterações agudas do comportamento; • De maneira geral, são antagonistas dos receptores de dopamina; Natureza da esquizofrenia • Incidência: 1% da população; • Indivíduos jovens na maioria dos casos, crônica, e apresenta um fator hereditário; Principais sintomas: • Sintomas positivos: delírios, alucinações, alterações do pensamento, comportamentos anormais e desorganizados, catatonia; • Sintomas negativos: redução de sociabilidade, nivelamento das respostas emocionais e anedonia (incapacidade de sentir prazer), déficit de função cognitiva, ansiedade, culpa e depressão; • Tentativas de suicídios em 50% dos casos; suicídio de fato, 10% dos casos; 17 • Geralmente jovens apresentam mais os sintomas positivos, e idosos mais os sintomas negativos; • Pode ser recidiva e remissiva, ou crônica e progressiva (inicio mais tardio); • Dificuldade na atenção seletiva; não são capazes de selecionar quais estímulos são importantes e merecem atenção; Etiologia • Fatores genéticos e ambientais: diversos genes que predispõem à esquizofrenia, mas pode ser necessária a exposição a fatores ambientais para que ocorra o desenvolvimento da doença; Forte tendência hereditária; • Genes relacionados com o desenvolvimento neural, conectividade sináptica e neurotransmissão glutamatérgica; • Fatores químicos e anatômicos: mau funcionamento de alguns circuitos cerebrais; alterações na via mesolímbica estão associados aos sintomas positivos (superatividade da via mesolímbica dopaminérgica - receptores D2) e alterações na via mesocortical estão associadas aos sintomas negativos (redução da atividade na via mesocortical dopaminérgica – receptores D1); • Principais neurotransmissores: dopamina e glutamato; Dopamina • Anfetamina: aumenta a liberação de dopamina e induz comportamento típico esquizofrênico; • Doença de Parkinson (L-Dopa): induz alucinações; • Em animais: liberação de dopamina induz o aparecimento de comportamentos estereotipados;• Agonistas de receptores D2: efeitos semelhantes à anfetamina; • Antagonistas: eficazes no controle de sintomas positivos e prevenção na alteração comportamental; Glutamato • Antagonistas do receptor NMDA: podem gerar sintomas positivos e negativos; • Esquizofrenia: redução da neurotransmissão glutamatérgica; • Animais transgênicos com redução de NMDA: comportamento estereotipado e redução da interação social; 18 • Redução da atividade do receptor NMDA na via mesocortical: redução da atividade de neurônios dopaminérgicos (sintomas negativos); • Redução da atividade do receptor NMDA na via mesolímbica: induz maior atividade de neurônios dopaminérgicos (sintomas positivos); • Alvo terapêutico: fármacos que melhorem a função de NMDA, porém não em nível neurotóxico; Classificação dos fármacos antipsicóticos 2 grupos: • Antipsicóticos de primeira geração (típicos ou convencionais): os que foram inicialmente desenvolvidos. Ex.: clorpromazina e haloperidol; • Antipsicóticos atípicos: desenvolvidos mais recentemente. Ex.: clozapina e risperidona. Causam menos efeitos motores adversos; seu uso pode beneficiar muitos pacientes que não respondem ao tratamento com antipsicóticos típicos; atuam principalmente nos sintomas positivos; Propriedades farmacológicas Receptores de dopamina • Antipsicóticos que bloqueiam o receptor D2 (via mesolímbica); cerca de 80% de receptores bloqueados; • Fármacos bloqueiam também receptores D2 de outras áreas cerebrais (via dopaminérgica nigorestriada), induzindo efeitos motores adversos; redução do prazer; • Novos fármacos também apresentam agonistas parciais de D2 = redução de efeitos motores adverosos; • Podem piorar sintomas negativos graças ao bloqueio de D2 na via mesocortical; • Fármacos antipsicóticos apresentam atraso no início de sua ação terapêutica, porém o efeito sedativo costuma ser rápido; Efeitos comportamentais • Produz estado de apatia, redução de iniciativa, poucas emoções, lentidão a responder estímulos externos e inibição das tendências agressivas. Efeitos adversos • Alterações motoras: bloqueio do receptor D2 na via nigroestriatal; principalmente psicóticos de primeira geração; podem ser de 2 tipos: 19 • 1) Distonias agudas: movimentos involuntários muitas vezes acompanhados por sintomas de mal de Parkinson; principalmente nas primeiras semanas; • 2) Discinesia tardia: desenvolve-se depois de meses ou anos; 20-40% dos pacientes tratados com antipsicóticos de primeira geração; movimentos involuntários principalmente na face e na língua, mas também no tronco e nas extremidades, podendo ser intensamente incapacitantes; • Efeitos endócrinos: o bloqueio de receptores D2 pode aumentar a concentração plasmática de prolactina: edema nas mamas, dor e lactação, tanto em homens quanto em mulheres; • Outros efeitos adversos: sedação, hipotensão e ganho de peso; Farmacocinética • Concentração plasmática e efeito clínico é variável; dose ajustada na tentativa e erro; • Não há grande toxicidade aguda; • Meia vida plasmática: 15-30 horas; • Maioria via oral, e em situações urgentes, via intramuscular (meia vida de 2 a 4 semanas); minimiza problemas na aderência do tratamento; Uso e eficácia clínica • Uso: esquizofrenia, tiques motores, emergências comportamentais agudas e soluço intravável; • Eficácia: possibilita aos esquizofrênicos vida social mais normal; 2 inconvenientes principais: • 1) Nem todos pacientes respondem à terapia medicamentosa, provavelmente graças a polimorfismos em receptores de dopamina e serotonina; • 2) Eficiente em relação aos sintomas positivos, porém ineficientes em relação aos sintomas negativos; AULA 7 Fármacos antiepiléticos Natureza da epilepsia 20 • Epilepsia: grupo de alterações neurológicas, caracterizadas por convulsões periódicas (despolarizações neuronais episódicas); • Despolarização de alta frequência por um grupo específico de neurônios (foco); pode propagar-se para outras áreas do cérebro; • Epileptogênese: transmissão excitatória facilitada e transmissão inibitória inibida; • Nem todas as crises envolvem convulsões; • Local da despolarização primária e o grau de sua propagação determinam os sintomas que irão ocorrer: breve lapso de atenção, crise de ausência ou uma convulsão completa; • Os sintomas dependem da região do cérebro afetada; • Incidência: 0,5 – 1% da população; • Causas: idiopática, trauma, AVE, infecção, tumor, outras doenças neurológicas, mutações genéticas (genes envolvidos no controle de potenciais de ação); • Antiepilépticos: usados para tratar ou impedir convulsões; Tipos de epilepsia • Podem ser parciais ou generalizadas; Crises parciais • Podem ser classificadas como simples (se não houver perda da consciência) ou complexa (quando ocorre perda da consciência); • Despolarização local; • Durante a crise, pode transformar-se em convulsão generalizada: crise parcial com generalização secundária; • Sintomas: depende da região cerebral envolvida; • Se atingir o tronco cerebral, a crise parcial será complexa; • Epilepsia psicomotoras: efeitos sobre humor e comportamento; despolarização anômala geralmente em um único hemisfério; geralmente do tipo complexa • Epilepsia jacksoniana: perda do controle motor, mas não da consciência; geralmente do tipo simples; Crises generalizadas 21 • Envolvem todo o encéfalo, inclusive sistema reticular (perda da consciência); • Atividade elétrica anômala em ambos hemisférios; Podem ser principalmente: • Tônico clônica (grande mal): Perda da consciência seguida de contrações sustentadas (tônica) dos músculos seguida de períodos de contrações musculares alternadas com relaxamento (clônica). Forte contração da musculatura como um todo; grito involuntário; respiração cessa (cianose); defecção, micção e salivação involuntariamente, inconsciência; • Crises de ausência (pequeno mal): crianças; mais frequentes; o paciente cessa o que está fazendo (podendo parar de falar abruptamente), fixa o olhar em um ponto com pouca ou nenhuma alteração motora; ficam inconscientes, mas depois recuperam-se rapidamente, sem efeitos posteriores; • Grande mal: fármacos atuam principalmente bloqueando canais de Na ou potencialização de GABA; • Pequeno mal: fármacos atuam bloqueando canais de cálcio tipo T; Antiepilépticos (anticonvulsivos) • Usados para tratar epilepsia e crises convulsivas não epilépticas; • Geralmente controlam completamente a epilepsia (75% dos casos); • Uso contínuo por muitos anos; • Mecanismos de ação: objetivo - inibir a despolarização neuronal anômala; potencialização de GABA, inibição da função de canais de sódio e inibição da função de canais de cálcio; • Potencialização da ação de GABA: fenobarbital e benzodiazepínicos - potencializam a ativação de receptores GABAa, facilitando a abertura de canais de cloro; vigabatrina – inibe a enzima GABA transaminase, que inativa o neurotransmissor; tiagabina – aumenta a concentração do neurotransmissor na fenda sináptica (inibe recaptação e destruição por células gilais); • Inibição da função dos canais de sódio: afeta a excitabilidade da membrana inibindo a abertura de canais de sódio (que induzem o potencial de ação); quanto maior a frequência do disparo, maior o bloqueio; • Inibição dos canais de cálcio: crises de ausência; bloqueiam canais de cálcio do tipo T; este canal do tipo T induz a despolarização rítmica de neurônios talâmicos; Principais Fármacos 22 • Carbamezapina: bloqueio de canais de Na; crises parciais complexas (epilepsia psicomota); também usada para tratar dor neuropática e depressão bipolar; meia vida de 15 a 30 horas e metabólitos ativos; indutor de enzimas hepáticas e por isso acelera o metabolismo de outros fármacos (contraceptivos e corticosteroides); poucos efeitos adversos; • Fenitoína:bloqueio de canais de Na; eficaz em muitas formas de epilpsia, mas não nas crises de ausência (podem até piorar); liga-se à albumina, porém outros fármacos podem influenciar nesta ligação, aumentando a sua quantidade livre; efeitos adversos: confusão, hiperplasia gengival (crescimento excessivo da gengiva), erupções cutâneas, anemia e teratogênese (anomalias uterinas); • Valproato: baixa toxicidade e baixa ação sedativa; epilepsia infantil; eficaz em muitas formas de epilepsia, inclusive crises de ausência; múltiplos mecanismos de ação: inibidor fraco das enzimas que destroem o neurotransmissor GABA, efeito sobre os canais de Na e de cálcio; principal efeito adverso: teratogênico, causando espinha bífida e outros defeitos no tubo neural; • Etossuximida: principal fármaco usado para tratar crises de ausência; bloqueia canais de cálcio; poucos efeitos adversos (náuseas e anorexia); • Benzodiazepínicos: convulsões agudas (estado de mal epiléptico – crises contínuas); atua muito rapidamente; efeito sedativo; clonazepam – além de de atuar sobre o receptor GABAa, também inibe canais de cálcio do tipo T; síndrome de abstinência: exacerbação das crises convulsivas se o fármaco for retirado abruptamente; AULA 8 Abuso de substâncias • Substâncias escolhidos, não prescritos; • Fármacos medicinais, não terapêuticos (nicotina e etanol) e substâncias consideradas ilegais; • Alteram humor e percepção; • Varia entre as sociedades e entre indivíduos; • Geralmente, o abuso envolve mais de um tipo de fármaco concomitantes; • Principais efeitos: euforia intensa, melhora do humor, alucinações, estimulação, sedação ou calma; • Efeitos cerebrais agudos e crônicos; 23 • Agudo: alteração imediata no humor; • Crônicos: fase negativa subsequente, dependência psicológica e fisiológica, desenvolvimento de tolerância; • Administração: injetar ou fumar, maior absorção; Principais danos • Todas causam danos em diferentes extensões; • Danos em outros tecidos que não o cérebro (necrose do septo nasal); • HIV devido via de administração; • Flunitrazepam: droga do estupro (boa noite cinderela); • Dependência e maior suscetibilidade a algumas doenças; • Nutt et al., 2010: etanol, heroína e cocaína são as mais danosas; cannabis, LSD e ecstasy, menos lesivas; Dependência • Quando a utilização da droga se torna compulsiva, tendo prioridade em relação a qualquer outra necessidade; • Desejo altera o estilo de vida; • Prejuízos: incapacidade mental, lesão hepática (etanol), doenças associadas (tabagismo), infecções (HIV), superdosagem e comportamento criminoso; • Suscetibilidade à dependência apresenta componente hereditário; • Induzem experiências gratificantes e reforço positivo; • Reforço positivo: relacionado com uma recompensa; aumento da probabilidade de um comportamento que esteja associado com a droga; • Testes com animais: alguns ratos mostram-se mais impulsivos que outros; apresentam menor taxa de expressão de receptores de dopamina no núcleo accumbens; • Todas as substâncias relatadas ativam a via de recompensa; • Via de recompensa: circuito neuronal que induz sensações prazerosas; aumento de dopamina com estímulos prazerosos, causados muitas vezes por alguns alimentos, pela atividade sexual e por estímulos ambientais agradáveis; drogas de abuso agem no neurônio dopaminérgico, induzindo um aumento brusco e exacerbado de dopamina no núcleo accumbens, mecanismo comum para praticamente todas as drogas de abuso. 24 Esse sinal é reforçador, associado a sensações de prazer, fazendo com que a busca pela droga se torne cada vez mais provável; • Sistemas mesolímbico e mesocortical funcionam paralelamente entre si e com as demais estruturas cerebrais configurando o sistema de recompensa cerebral; dopamina é o principal neurotransmissor presente nesse sistema; • Drogas aumentam o nível de dopamina no núcleo accumbens; • Opioides: redução de GABA na área tegmentar ventral → desinibição de neurônios dopaminérgicos; • Anfetamina e cocaína: atuam nos terminais dos neurônios dopaminérgicos do accumbens aumentando a liberação de dopamina ou impedindo sua recaptação; • Antagonistas de D3 (antagonistas de D2 – antipsicóticos- não induziram efeito sobre abuso das drogas); • Dependência psicológica: vivenciar de novo aquela experiência gratificante; memórias de tais experiências induzem a recaída; • Alterações na plasticidade sináptica: drogas alteram a formação da memória para intensificar a lembrança da experiência; • Dependência física: síndrome de abstinência; intervenção farmacológica; varia em tipo e intensidade; • Tolerância: queda no efeito; desenvolve-se ao longo do tempo; NICOTINA E TABACO • Cigarros: responsáveis por 98% do consumo de tabaco; • 18% da população fuma (1,1 bilhão de pessoas); • Nicotina: principal substância farmacologicamente ativa; atua nos receptores nicotínicos para acetilcolina (ACh); principalmente córtex, hipocampo (função cognitova) e ATV (via de recompensa) • Induz redução da sensibilidade a estes receptores e cronicamente induz o aumento do número de receptores; • Pequenas doses: causa o despertar; grandes doses: induz relaxamento; • Efeitos periféricos: estímulo de gânglios autônomos e receptores sensitivos periféricos no coração (aumenta liberação de adrenalina e noradrenalina) e no pulmão; 25 taquicardia; aumento da PA, sudorese, aumento da motilidade do TGI, sudorese; aumento de ADH e redução do fluxo urinário, aumento da concentração plasmática de ácidos graxos; aterosclerose; • Grandes doses: bloqueio da transmissão ganglionar, e não estimulação; • Hábito de fumar envolve rituais e fatores sociais; 2 ou 3 semanas, embora desejo compulsivo persista por mais tempo; • Abstinência física: aumento da irritabilidade, comprometimento do desempenho em tarefas psicomotoras, agressividade e alterações do sono; Farmacocinética • Fumaça do cigarro: absorvida principalmente pelos pulmões; induz aumento da concentração plasmática de nicotina; • 10 minutos fumando cigarro comum: concentração de nicotina aumenta (15-30 ng por ml); cai pela metade em 10 minutos (redistribuída pelo sangue e outros tecidos) e mais lentamente nas 2 horas seguidas (metabolismo hepático); Tratamento • Terapia de reposição de nicotina: goma de mascar ou adesivo de nicotina; acompanhado com terapia duplicam a possibilidade de sucesso; • Agonistas de α4β2 nAChR; substitui a nicotina com efeitos adversos menores; • Bupropiona: antidepressivo que inibe a recaptação de dopamina no accumbens; ETANOL • Consumo de etanol excede o que qualquer outra substância; • Depressor do SNC, apesar de induzir aumento da atividade da via mesolímbica; • Aumento da inibição mediada por GABA; • Inibição da entrada de cálcio; • Inibição da função do receptor de glutamato (NMDA); • Aumento da liberação de glicina e da atividade de seu receptor) (glicina: neurotransmissor inibitório); • Efeitos comportamentais: fala arrastada, falta de coordenação motora, aumento da autoconfiança e euforia; efeitos sobre o humor varia entre indivíduos; 26 • Metabólitos do etanol: neurotoxicidade; uso crônico; dano neurológico irreversível; • Inibe ADH e ocitocina (neurohipófise); • Lesão hepática: toxicidade celular; aumento de gordura (esteatose) que pode evoluir para hepatite (inflamação) e necrose; cirrose é o estágio final (fibrose); • 2-3 unidades por dia: aumento de HDL; redução de placas de ateromas; • Farmacocinética: rapidamente absorvido; grande fração removida no metabolismo hepático de primeira passagem; • 90% metabolizado pelo fígado; • Tolerância: uso crônico induz no SNC alterações opostas aos efeitos agudos; redução da densidade de receptores GABA, aumento de canais de cálcio e receptores de glutamato; • Abstinência física pode se desenvolver após8 horas sem o consumo; tremor, náusea, sudorese, febre e alucinações, crises convulsivas; Tratamento • BZD: abstinência aguda; • Antagonistas de NMDA; • Antiepiléticos; LEITURA COMPELEMNATAR: AÇÃO DAS DROGAS NO SNC Droga é toda e qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo, modifica suas funções. Drogas psicotrópicas são, portanto, aquelas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando nossa maneira de pensar, sentir ou agir. A princípio podemos entender que todas as drogas recreativas conhecidas incluindo o álcool, tem por essência esta definição. As alterações provocadas pelas drogas no nosso psiquismo não são sempre no mesmo sentido e direção, mas dependem do tipo de substância consumida. Dependendo da ação no cérebro, as drogas psicotrópicas podem ser divididas em três grandes grupos: as depressoras, as estimulantes e as perturbadoras. As depressoras diminuem a atividade cerebral, ou seja, deprimem seu funcionamento e, por essa razão, são chamadas de "depressoras da atividade do sistema nervoso central" (SNC). A pessoa que faz uso desse tipo de droga fica "desligada", "devagar", "flutuando". São exemplos delas o álcool, os soníferos ou hipnóticos, os ansiolíticos, os opiáceos ou narcóticos e os inalantes ou solventes. As drogas estimulantes aumentam a atividade do cérebro e recebem o nome técnico de "estimulantes da atividade do SNC". O usuário fica "ligado", "elétrico". Entre as drogas deste tipo encontram-se a cocaína, o crack, a nicotina (presente no cigarro), a cafeína e 27 as anfetaminas. As drogas perturbadoras não produzem mudanças do tipo quantitativo, como aumentar ou diminuir a atividade do cérebro. Elas fazem com que esse órgão passe a funcionar fora de seu normal, ou seja, a pessoa fica com a mente perturbada. São também chamadas de alucinógenas. Por essa razão, esse terceiro grupo de drogas recebe o nome técnico de "perturbadoras da atividade do SNC". Algumas drogas deste tipo são de origem vegetal como o THC (contido na maconha), a mescalina, certos tipos de cogumelos, lírio, trombeteira, e outras são de origem sintética como o LSD-25, o Êxtase (ecstasy) e os anticolinérgicos. O cérebro possui bilhões de células (neurônios) se interligando das mais variadas formas, promovendo a passagem de "informação" entre as diferentes regiões do sistema. Quem possibilita que esses sinais sejam enviados de um neurônio para outro são moléculas químicas, chamadas neurotransmissores. As drogas psicotrópicas, por serem também moléculas químicas, chegando ao cérebro, atuam interferindo na engrenagem da química cerebral, aumentando, diminuindo ou alterando a forma de atuação dos neurotransmissores. Álcool O álcool difere da maioria das outras drogas psicoativas por não possuir receptores específicos. Ele inibe os receptores NMDA do glutamato, conseqüentemente reduzindo a sua ação excitadora. Ao mesmo tempo ele ativa os receptores GABA(O ácido gama- aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório do nosso cérebro e um dos mais afetados com a ingestão de álcool.) os quais,abrindo os canais de cloro, diminuem o ritmo dos pulsos elétricos chamados potenciais de ação, deprimindo o funcionamento do neurônio e causando, desde um efeito sedativo, até um estado de embriaguez, com redução do nível de consciência. O álcool também bloqueia a ação dos íons cálcio na liberação de neurotransmissores estimulantes. O seu efeito sedativo manifesta-se, inicialmente, por relaxamento e desinibição, diminuindo também a sensação de medo e punição.A sensação de euforia proporcionada pelo álcool provém da sua ação ativadora sobre os receptores dopamínicos existentes no nucleus accumbens. O etanol, principal agente dessa droga, é capaz de afetar todas as células do organismo, mas grande parte de suas ações ocorrem em neurônios. Muitos estudos contemplam a influência do álcool na liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina, noradrenalina e peptídeos opióides. Uma das propriedades do álcool é de interagir com os lipídios da membrana neuronal, alterando sua permeabilidade, sua fluidez e a função de suas proteínas. Essas alterações podem prejudicar o funcionamento das bombas de Na⁺/K⁺ e das ATPases, o que compromete a condução elétrica. O uso abusivo de álcool também pode reduzir os níveis de serotonina no SNC, e esta redução tem dado margem a numerosos trabalhos relacionados às depressões clínicas e também a atos de violência ocasionalmente verificados sob seu efeito. Com a continuidade do uso começarão a surgir mudanças na emotividade e personalidade do alcoolista, tanto quanto prejuízos na percepção, aprendizado e memória. O alcoólico terá necessidade de uma observação visual mais prolongada para a compreensão do que se passa ao seu derredor, tendo também diminuída a sua capacidade de percepção espacial, isto é, da sua própria dimensão no espaço que ocupa, esbarrando com frequência em objetos ou outras pessoas. Tem dificuldade de abstração e resolução de problemas. O estado de dependência leva a uma desmotivação para 28 atividades relacionadas ao sexo que, somada a alterações hormonais e nervosas, afeta de forma importante o relacionamento sexual, tanto nos homens quanto nas mulheres. Essa é provavelmente uma das causas do ciúme patológico. O alcoólico sente que o seu desempenho sexual fica aquém do desejável pela sua parceira, considerando-a vulnerável a uma infidelidade ocasional. Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos (medicamentos ansiolíticos) possuem local próprio nos receptores GABAA onde agem e produzem um efeito sedativo. O álcool aproveita estes mesmos receptores benzodiazepínicos do GABA, por não dispor de receptores próprios. Esta condição de similaridade faz com que os benzodiazepínicos sejam usados para minorar o sofrimento da abstinência quando se interrompe o hábito de beber. Os vários benzodiazepínicos existentes no comércio são classificados quanto ao seu tempo de ação em longo, médio e curto prazo. Os benzodiazepínicos de curto prazo possuem uma ação sobre a estrutura do sono e são comercializados como medicamentos hipnóticos ou soníferos, sendo freqüente o seu uso por alcoolistas, cujo sono é prejudicado pela ação inibidora do álcool sobre a serotonina. Inalantes Agentes anestésicos, lança-perfumes, solventes, cola de sapateiro, combustíveis e outras substâncias voláteis de uso industrial. Ativam os receptores GABAA e desativam os receptores NMDA do glutamato, donde o seu efeito depressor. Possuem efeitos indiretos que ativam a dopamina.Produzem inicialmente euforia com rebaixamento das inibições, seguindo-se de excitação e perda da coordenação motora, desorientação, visão turva com alterações na percepção de cores, distorção no sentido de espaço- tempo, vertigens, enjoos, inquietação, apagamentos. Os inalantes possuem potencial de dependência, gerando tolerância e sofrimentos de abstinência. Opiácios Ópio, morfina, semi-sintéticos (heroína, Dolantina). Produzem uma sensação oceânica de prazer e bem-estar, além de ter um poderoso efeito analgésico. Os seus efeitos resultam da interação da substância com os receptores opiácios que existem em várias áreas do SNC, incluindo a área tegmentar ventral, no Circuito de Recompensa. O organismo sintetiza os seus próprios opiácios, como as encefalinas e as endorfinas. Os neurotransmissores podem ter mensageiros intermediários para o desempenho das suas funções, e os opiácios interferem no desempenho de alguns desses mensageiros. Assim como o álcool, eles limitam bastante a entrada de cálcio nos neurônios, impedindo uma transmissão satisfatória de sinais pelos neurotransmissores. Os opiácios possuem elevado poder de dependência, com dois ou três meses de uso. A tolerância desenvolvida pode alcançar níveis de até cinqüenta ou cem vezes a dosageminicial do uso. O uso continuado torna o seu usuário passivo e apático, até mesmo letárgico, com seus membros pesados, de difícil movimentação 29 Anfetaminas e derivados Estas drogas estimulantes do SNC são sintéticas e constituem o elemento básico dos medicamentos chamados "moderadores do apetite" mas, além do seu uso pelas pessoas que desejam perder peso, têm sido procuradas, com o nome de "bolinha" ou "rebite", por motoristas de caminhão, vigilantes noturnos, universitários, etc., por apresentar também efeitos como redução do sono e da fadiga, bem como aumento da capacidade de trabalho. A pessoa fala mais depressa, e como dizem, fica "ligada", com sentimentos de confiança e presunção. As anfetaminas estão relacionadas entre as substâncias de "doping" esportivo. Nos Estados Unidos encontra-se no mercado ilícito uma metanfetamina que chamam de "Ice", derivada da anfetamina, para ser usada em cachimbos.O "Extase", atual droga da moda nas noitadas de "embalo", é outro derivado da anfetamina, chamado MDMA, que provoca euforia e um bem-estar intenso, juntamente a um desejo de intimidade, de conversar e de manter proximidade física (não sexual) com as pessoas. Pode elevar a pressão arterial e produzir hipertermia com muita transpiração e conseqüente desidratação. As anfetaminas bloqueiam a recaptação da dopamina proporcionando, como a cocaina, um aumento da concentração desses neurotransmissor na fenda sinática. Uma dosagem maior pode levar ao bloqueio dos receptores, produzindo distúrbios da locomoção. Também ativam os receptores da serotonina aumentando a sua liberação, da mesma forma em que fazem aumentar a liberação de noradrenalina, causadora da sintomatologia clínica referida. Cocaina É uma das drogas de maior sustento para o tráfico ilícito, em virtude do grande número de consumidores e da avidez com que estes buscam a droga. O cloreto de cocaina é um pó branco ("farinha"), usado por aspiração nasal. Ele também pode ser diluído em água e injetado na veia. Quando a cocaina é tratada por reativos alcalinos ela se empedra produzindo o cracke, que é fumado. A cocaína possui um elevado poder de dependência porque disponibiliza diretamente a dopamina na fenda sinática por impedir o retorno desse neurotransmissor à sua célula de origem. Após o neurotransmissor ter cumprido a sua missão junto ao receptor do neurônio pós-sinático e, impedido de retornar à sua célula mãe, ele fica na fenda repetindo a neurotransmissão, dando ao usuário o efeito imediato da droga. Nós dizemos que a cocaina impede a recaptação da dopamina. A recaptação é um mecanismo extremamente importante para o funcionamento equilibrado do SNC, porque o neurotransmissor tem que ser reciclado a cada uso para reagir eficientemente a novas exigências. Para agravar mais ainda os malefícios produzidos pela cocaína, esta droga ainda impede, da mesma forma, as recaptações de mais outros dois neurotransmissores: a noradrenalina e a serotonina. Em virtude dessa ação farmacológica a cocaína produz as sensações psicológicas de magnificência, euforia, prazer e excitação sexual. A engrenagem da dependência, no uso continuado de cocaina, estabelece-se com a desativação de um número de receptores pós-sináticos da dopamina, estendendo-se a outros receptores, como os da noradrenalina e serotonina. Essa adaptação traz sérias conseqüências para o funcionamento cerebral, como o surgimento de estados paranóicos que podem atingir níveis psicóticos bem como 30 depressões graves que podem levar ao suicídio. A ação da cocaina sobre vários neurotransmissores pode gerar conseqüências simultâneas em vários sistemas orgânicos, entre as quais destacamos a mais comum, a falta de apetite, e a mais grave, o derrame cerebral, ao lado de respiração ofegante, aumento da pressão e até aumento da temperatura. Maconha Por conter substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central, a maconha tem um grande potencial para o bem e para o mal. Ela é composta de diversos tipos de canabinoides – os mais conhecidos são o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD). O THC se destaca para o mal: é responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos. Já o CBD funciona para o bem: possui diversas possibilidades terapêuticas e até efeitos protetores contra os danos do próprio THC, incluindo efeitos antipsicóticos. O problema é que os efeitos benéficos do CBD não compensam os maléficos do THC quando a maconha é fumada. Além disso, nas últimas décadas, tem se observado aumento nos níveis de THC e diminuição nos níveis de CBD nas variedades de maconha consumidas. As consequências são desastrosas para os usuários, principalmente na esfera mental. Especificamente, usuários de variedades ricas em THC e pobres em CBD estão sob risco maior de quadros psicóticos, de diminuição volumétrica de áreas cerebrais responsáveis pela memória, planejamento e execução de tarefas e de diversos tipos de prejuízos cognitivos. Já o modo pelo qual o CBD protege os neurônios da degeneração induzida por THC permanece incerto, mas esse potencial tem despertado interesse em estudar o CBD para tratamento de várias doenças. Sobre o THC, acumulam-se evidências de que é o responsável não apenas pela dependência, mas por todos aqueles diversos outros efeitos maléficos. Um estudo de revisão publicado em abril de 2016 na Biological Psyhicatry, uma das mais conceituadas revistas de Psiquiatria, ressaltou as principais alterações cerebrais encontradas em estudos com usuários de longo prazo de maconha. A maioria deles iniciou o uso entre 15 e 17 anos de idade, por períodos que variam entre 2 e 23 anos. As áreas cerebrais mais afetadas são aquelas também com maior densidade de receptores canabinoides CB1: ocorrem diminuições volumétricas e de densidade de matéria cinzenta no hipocampo (associado à memória), nas amígdalas, no estriado ( região cerebral ligada ao sistema motor e comportamento), no córtex orbitofrontal, no córtex insular e no cerebelo. São regiões cerebrais relacionadas à memória, à emoção, à tomada de decisão e ao equilíbrio motor. Pode-se concluir que não é possível fumar maconha para obter os efeitos benéficos do CBD. É preciso separá-lo do THC. Exatamente por isso que a maconha não deve ser considerada remédio. O potencial efeito terapêutico está apenas no CBD . O canabidiol (CBD) é uma das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na Cannabis sativa, e que constitui grande parte da planta, chegando a representar mais de 40% de seus extratos. Diferente do principal canabinoide psicoativo na maconha, o delta-9- tetrahidrocanabinol (THC), o canabidiol não produz euforia nem intoxicação. Canabinoides têm seu efeito principalmente ao interagir com receptores específicos nas células do cérebro e do corpo: o receptor CB1, encontrado principalmente nos neurônios e células gliais em várias partes do cérebro, e o receptor https://pt.wikipedia.org/wiki/Subst%C3%A2ncia_qu%C3%ADmica https://pt.wikipedia.org/wiki/Canabinoide https://pt.wikipedia.org/wiki/Cannabis https://pt.wikipedia.org/wiki/Planta https://pt.wikipedia.org/wiki/Extrato_herbal https://pt.wikipedia.org/wiki/Droga_psicoativa https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tetrahidrocanabinol&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_canabinoide https://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_canabinoide 31 CB2, encontrado principalmente no sistema imune. Os efeitos eufóricos do THC são causados pela sua ativação dos receptores CB1. O CBD tem uma afinidade muito baixa por esses receptores (100 vezes menos que o THC) e quando se liga a ele produz pouco ou nenhum efeito. Há evidência crescente que o canabidiol age em outros sistemas de sinalização cerebral, e que isso pode ser importante para seus efeitos terapêuticos. LSD Dietilamida do ácido lisérgico. É uma droga sintética que faz efeito comdoses minúsculas, fato que dá margem à sua comercialização dissimulada em cartões, selos etc. Pode ser servida até na forma de gotas. A ação alucinogênica do LSD se faz principalmente pela sua atuação nos receptores pré-sináticos 5HT2, diminuindo a liberação de serotonina e aumentando, indiretamente, a liberação de dopamina, dando a sensação de euforia com conseqüente reforço psicológico. Descreveremos a sua ação como protótipo de outros alucinógenos sintéticos. As alterações sensoriais causadas por essas drogas variam desde simples aberrações da percepção até a degradação da personalidade. Os seus efeitos têm dado margem a interpretações fantasiosas dos seus experimentadores que, em geral os descrevem como viagens, de bom ou de mau curso. Em meados do século passado o grande pensador americano Aldous Huxley, entusiasmado com os efeitos do LSD, e acreditando na possibilidade de aproveitá-los para promover uma ascese espiritual, chegou a constituir uma associação de experimentadores da droga. Essa associação, entretanto, logo se desvaneceu em virtude de terem surgido efeitos neurológicos negativos da droga em alguns dos seus membros. Durante uma experiência o usuário pode permanecer calmo, lúcido e bem orientado, assim como pode apresentar ansiedade, desorientação e pânico, mas sempre estará consciente de que a irrealidade vivida corre por conta da droga. Têm sido relatados casos de violências relacionadas ao uso de LSD. Um efeito retardado e indesejado do uso desses alucinógenos é o aparecimento de "flashbacks", que são súbitas e incontroláveis recorrências de distorções da percepção, posteriores ao uso, como as que se apresentaram nos seus efeitos imediatos. AULA 9 Psicofarmacologia no transtorno bipolar https://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_canabinoide 32 • Depressão bipolar: menos comum que a unipolar; oscilação entre depressão e mania; • Episódios de mania bipolar podem ser confundidos com episódios de psicose; • Forte tendência hereditária; • Vários fármacos são usados para controlar oscilações de humor características da doença maníaco depressiva: • Lítio; • Vários antiepilépticos; Ex.: valproato • Alguns fármacos antipsicóticos atípicos; Ex.: risperidona; • Podem ser chamados de fármacos de estabilização do humor; • BZD: também podem ser usados para acalmar, induzir sonolência e reduzir ansiedade; • Latência: efeitos demoram de 3 a 4 semanas para aparecer; Lítio 33 • Controle profilático da doença maníaco depressiva; • Monitoração constante da concentração plasmática e potencial para problemas no caso de paciente com lesão renal e de interações medicamentosas; Efeitos farmacológicos e mecanismos de ação: • Concentração acima de 1,5 mm/l produz vários efeitos tóxicos; abaixo de 0,5 mm/l não tem efeito; • Ainda não está claro como as alterações bioquímicas deste fármaco estão associadas com seu efeito terapêutico; • Lítio se liga aos canais de sódio nos neurônios; no entanto, não é bombeado para fora pelas bombas de Na e K, acumulando-se, portanto, no meio intracelular; • Altera as concentrações de neurotransmissores; • Induz a alteração de diversas enzimas, o que resulta em: aumento dos níveis de serotonina, diminuição dos níveis de norepinefrina, alterações nas concentrações de dopamina, glutamato, GABA e de acetilcolina; • Aspectos favoráveis: estabilização do humor (eutmia); melhora da função cognitiva; aumento da neuroproteção: diminui redução da substância cinza, amígdala, hipocampo e córtex pré frontal; diminui ação excitatória do glutamato e da dopamina, aumento de GABA; aumento de ação antioxidante (grande estresse oxidativo durante a crise de mania), aumento de BDNF (neuroproteção)ç modula enzimas pró-apoptóticas (previne apoptose); neuroplasticidade. Aspectos farmacocinéticos e toxicidade: • Via oral; • Metade de uma dose oral: eliminado em 12 horas; • Restante: lítio captado pelas células: eliminado durante os próximos 7-14 dias; • Lítio acumula-se lentamente durante 2 semanas (ou mais), antes do estado de equilíbrio ser alcançado; 34 • Principais efeitos adversos: insuficiência renal, tremor, náuseas, vômitos, diarreia, hipotireoidismo, inibição dos efeitos do ADH no rim (atua em enzimas que bloqueiam receptores celulares), ganho de peso e perda de cabelo; • Toxicidade aguda: diversos efeitos neurológicos, como confusão, comprometimento motor, coma, convulsões e morte (3-5 mm/l). Fármacos antiepilépticos • Menos efeitos adversos que o Lítio; • Bloqueio de canais de Na; • Volproato e carbamazepina: crises agudas de mania e tratamento a longo prazo; carbamazepina ineficaz na fase depressiva; • Iamotrigina: prevenção de mania e depressão; Fármacos antipsicóticos atípicos • Fármacos de segunda geração desenvolvidos para o tratamento da esquizofrenia; • Antagonistas de D2; eficazes principalmente sobre a mania; • Usados em combinação com lítio e valproato. ARTIGO Depressão Unipolar e Transtorno Bipolar: um espectro da doença depressiva? A Depressão é a epidemia da atualidade. A prevalência do Distúrbio Depressivo Maior é de 10 a 30% e a Depressão inserida na Doença Bipolar tem vindo a aumentar a sua incidência. Ambos os distúrbios acarretam sérias implicações na morbilidade e na mortalidade. Os distúrbios do humor são atualmente diferenciados entre Depressão Unipolar e Distúrbio Bipolar dependendo do tipo de alteração do humor, severidade e evolução clínica. O maior fator de distinção entre os dois é a presença de mania ou hipomania em alguma altura do seu curso clínico. Pacientes com doença bipolar geralmente apresentam-se inicialmente com depressão e no curso da sua doença podem estar neste estado cerca de 3 vezes mais do que no estado de Mania/Hipomania. Na ausência dos sintomas de mania, é difícil de diferenciar entre doença 35 bipolar ou depressão unipolar. Este trabalho tem por objetivo perceber as duas depressões, estabelecendo as semelhanças e as diferenças entre elas na tentativa de inferir a sua proximidade como pertencentes a um espectro da mesma doença ou confirmando os conceitos atuais de duas doenças distintas (Depressão Unipolar e Doença Bipolar). Podemos então conceptualizar duas teorias: Depressão Bipolar e Depressão Unipolar como diferentes distúrbios ou Depressão Bipolar e Depressão Unipolar como pertencentes ao mesmo distúrbio sendo a Mania um distúrbio paralelo. A classificação atual definida pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4ª edição (DSM-IV) considera que a Depressão Unipolar e a Doença Bipolar são distúrbios qualitativamente diferentes no que concerne à sua etiologia e à sintomatologia. Será importante esclarecer os conceitos de Episódio Depressivo Maior, Mania e Hipomania que ajudarão posteriormente a estabelecer os vários diagnósticos das perturbações do humor. O Episódio de Depressão Maior exige um período de pelo menos duas semanas, durante a maior parte do dia, quase todos os dias, de humor depressivo ou perda de interesse (ou irritável em crianças e adolescentes). Tipicamente, se não for tratado, tem uma duração de quatro meses ou mais. O Episódio de Mania é definido pela elevação anormal e persistente do humor, expansivo e irritável durante pelo menos uma semana, a menos que exista hospitalização. A Hipomania tem uma apresentação clínica menos severa que a Mania, duração inferior (quatro dias) e geralmente não acarreta distúrbios sociais significativos nem necessita de hospitalização. Não são vistos como negativos pelo doente pois a atividade, energia e produtividade estão até acrescidas. Depressão Unipolar: De acordo com o DSM-IV a classificação de Depressão Unipolar inclui o Distúrbio Depressívo Maior (MDD) e o Distúrbio Distímico. O MDD é caracterizado pela presença de um ou mais Episódiosde Depressão Maior, sem história de mania ou hipomania. O episódio termina quando deixam de se verificar os critérios completos para Episódio Depressivo Maior durante pelo menos dois meses. Se durante este período ainda existirem alguns sintomas, mas não os suficientes para classificar como Episódio Depressivo Maior, então entende-se que o doente está em Remissão Parcial (vs Remissão total na sua ausência). Por vezes a MDD é precedida pelo Distúrbio Distimico (10 a 25% dos casos). A prevalência do DDM é de 5 a 9% para as mulheres e 2 a 3% para os homens. É mais comum nos familiares de primeiro grau com este distúrbio. O Distúrbio Distimico é diferenciado do MDD pela cronicidade, severidade e persistência dos sintomas. Os sintomas vegetativos são menos comuns que na MDD. Dado o seu sentimento de autodesvalorização, o doente considera- se uma pessoa desinteressante. Quando o primeiro episódio ocorre antes dos 21 anos, existe 36 uma maior probabilidade de vir a desenvolver Episódios Depressívos Maior. A sua prevalência é de 6% sendo que, na idade adulta, as mulheres têm 2 a 3 vezes mais probabilidades de desenvolverem a doença. A incidência é superior em individuos com história familiar (em primeiro grau) deste distúrbio. A Doença Bipolar foi dividido em Bipolar I, Bipolar II e Ciclotimia. A Doença Bipolar I é caracterizado pela presença de história de Episódios de Mania, com ou sem história de episódios depressivos maior. A recorrência é indicada por uma alteração na polaridade do episódio ou por intervalo de dois meses livre de sintomas maníacos. A taxa de suicídio é de cerca de 10 a 15% nesta doença, mas a ideação suicida é mais prevalente nas fases depressivas. Está associada em muitos doentes a história de problemas pelo uso de álcool ou de outras substâncias, essencialmente naqueles com início precoce de Disturbio Bipolar I. Estima-se que 10 a 15% dos adolescentes com Episódios Depressivos Maior recorrentes irão desenvolver Doença Bipolar I. A incidência é aproximadamente igual nos homens e nas mulheres, contudo nos homens é mais provável que o primeiro episódio seja maníaco enquanto nas mulheres será um episódio depressivo maior e estes episódios ocorrem em maior frequência que os episódios de mania (no homem a frequência é semelhante). A sua prevalência é de 0,4 a 1,6%. Uma frequência de 4 ou mais episódios de alteração de humor por ano, ciclos rápidos, está associada a um pior prognóstico. A existência de perturbações de humor em familiares biológicos em primeiro e segundo grau está associada a uma maior incidência de doença bipolar assim como numa idade de início mais precoce. A Doença Bipolar II exige um ou mais Episódios de Depressão Maior e pelo menos um Episódio de Hipomania. A presença de um episódio maníaco exclui o diagnóstico de Doença Bipolar II. Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou deficiência no funcionamento social, ocupacional ou em qualquer outra área importante. A informação de pessoas próximas do doente é importante pois estes não se consideram afetados nem se recordam de outros episódios de hipomania. O suicídio ocorre na fase de Depressão Major e atinge uma taxa de 10 a 15%. A prevalência é de 0,5%. Parece ser mais prevalente em mulheres e nestas verifica-se um maior número de ciclos rápidos e de episódios de Depressão Major comparativamente com os episódios de Hipomania; já nos homens, estes episódios igualam-se. Se houver referência de episódios maníacos, o diagnóstico deverá ser alterado para Doença Bipolar I, o que se verifica em 5 a 15% dos doentes num período de 5 anos. Tal como na doença Bipolar I, a história de perturbações de humor na família, está associada a uma maior incidência de Doença Bipolar II. Aqui há também a Doença Bipolar sem outra especificação que inclui as perturbações com características bipolares que não preenchem os critérios para nenhuma das Perturbações Bipolares. Existe uma alternância muito rápida entre os sintomas maniacos e os 37 sintomas depressivos (apenas dias) que não podem ser classificados como Episódio Maníaco ou Episódio Depressivo Maior. A Ciclotímia é caracterizada por pelo menos dois anos com numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não preenchem critérios para Episódio Maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não preenchem critérios para Disturbio Depressívo Maior. Dada a sua evolução crônica e flutuante, não há períodos ausentes de sintomas superiores a dois meses. Durante os dois primeiros anos da doença, não poderá verificar-se Episódios de Depressão Major, Mania ou Mistos. Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou deficiência no funcionamento social, ocupacional ou qualquer outra área importante, sendo o doente considerado imprevisível, inconsciente ou não merecedor de confiança. A sua incidência é semelhante em ambos os sexos e a prevalência é estimada em 0,4 a 1%. É mais comum quando se verifica uma história de Doença Bipolar I ou II nos parentes de primeiro grau. De referir que todas as perturbações são distintas daquelas com os mesmos sintomas induzidas por outros estados patológicos ou por substâncias. Quando o início das perturbações ocorrem na idade adulta, dever-se-á suspeitar desta relação. É importante realçar que o diagnóstico de doença bipolar não implica necessariamente uma história de depressão. Os critérios de diagnóstico para a doença bipolar I requerem apenas um Episódio de Mania. De fato, algumas investigações suportam a existência de Mania Unipolar. Karkowski & Kendler demonstram que 33% de uma amostra de doentes com doença bipolar sem tratamento não apresentaram alguma vez Episódios de Depressão Major. Adicionalmente, Solomon et al, 2003, demonstrou sete casos de doentes com mania sem episódios depressivos durante 20 anos de follow-up. Devemos ainda ter em conta que pelo fato dos doentes deprimidos procurarem tratamento mais facilmente que os doentes maníacos, a prevalência da Mania Unipolar está subdiagnosticada. A fisiopatologia da Depressão Unipolar e da Depressão Bipolar tem como chave a regulação do circuito emocional que envolve o córtex pré-frontal e suas ligações com a amigdala cerebral, hipocampo e núcleos da base. A obtenção e estudo de imagens neurológicas permetirá portanto estabelecer alguma relação entre estes dois distúrbios depressívos. Investigações da função cerebral através do PET (positron emission tomography) revelam que em ambas as depressões ocorre uma diminuição do fluxo sanguineo, do metabolismo e do volume do córtex cerebral pré-frontal (Cuellar, 2005). Este achado verifica-se mais frequentemente em doentes com história familar de Depressão. De referir que, num estudo de doentes com Depressão Unipolar vs Controle, o volume do cortex pré-frontal e o seu hipometabolismo demonstraram responsividade ao tratamento com antidepressívos (Yucel, et al; 2009). Além disso, Dreverts, utilizando imagens de Ressonancias Magnéticas, demonstrou 38 uma redução da massa cinzenta nestas regiões em 48% de doentes com Depressão Unipolar e 39% de doentes com Depressão Bipolar. Os núcleos basais (corpo estriado, globos pálidos, núcleo subtalâmico e substância negra) têm funções no controle motor, cognição, emoções e aprendizagem. Foram descritas, nas duas depressões, perdas de volume nos núcleos basais, associadas mais frequentemente às depressões de aparecimento tardio e com maior cronicidade e severidade (Videbech, 2000). A amigdala cerebral é a responsável pela expressão do medo, raiva e tristeza. A sua atividade metabólica apresenta-se aumentada apenas nos estados depressivos da Doença Bipolar e na Unipolar o que sugere ser característico deste estado (Drevert, 1999). O hipocampo é importante na conversão a memória a curto prazo em memória a longo prazo e atua, em interação com a amígdala, estando envolvido no registro dos padrões perceptuaise nas reações emocionais. A Depressão Unipolar tem sido associada a uma atrofia desta estrutura num grau de 8 a 19% e ainda a uma perda de células da glia no hipocampo e na amigdala cerebral (Sheline, 2002). Na Depressão Bipolar, estes dados são ainda controversos sendo que alguns estudos apontam para uma atrofia enquanto outros afirmam a preservação do hipocampo (Savitz, 2009). Assim, tanto a Depressão Unipolar como a Depressão Bipolar parecem semelhantes na diminuição da atividade do córtex pré-frontal e nas alterações da atividade límbica. Neurotransmissores: Sabendo a importância de alguns neurotransmissores na regulação do humor e comportamento e havendo evidência sobre o seu papel no desenvolvimento dos distúrbios afetivos, é importante estudar aqui a sua contribuição para o desenvolvimento da Depressão Unipolar e Bipolar. Várias observações apontam para a importância do déficit de regulação da dopamina e da norepinefrina no processo patológico da depressão, nomeadamente na perda de prazer e interesse. A Dopamina é um neurotransmissor sintetizado por células nervosas que age no Sistema Nervoso Periférico e Central (encontrada em alta concentração nos núcleos da base) promovendo, entre outros efeitos, o controle do movimento, a produção de prolactina e a estabilização do humor e da cognição por via dos neurônios dopaminérgicos. Estudos farmacológicos realizados em doentes com Depressão Bipolar afirmam uma desregulação dopaminérgica ao mostrar que a bromocriptina, estimulante dos receptores dopaminérgicos, melhora os sintomas depressívos. Este efeito não foi encontrado em doentes com Depressão Unipolar. A norepinefrina é encontrada, essencialmente, no tronco cerebral e no hipotálamo. Encontra-se envolvida na regulação do humor e na resposta de ansiedade. O estudo da atividade da norepinefrina tem sido conturbado pela sua variabilidade de acordo com os estresses externos, resultando estes estudos em conclusões controversas. Contudo, quando equiparadas estas circunstancias, este neurotransmissor parece apresentar níveis semelhantes na Depressão Bipolar e Unipolar (Altshuler et al., 1995). A serotonina é formada a partir de um aminoácido 39 precursor, o triptofano, proveniente de alimentos que apresentam um alto conteúdo de proteínas. Este neurotrasmissor tem um papel importante na regulação do humor, do sono, da atividade sexual, do apetite, do ritmo circadiano, das funções neuroendócrinas e da temperatura corporal, na sensibilidade à dor, na atividade motora e nas funções cognitivas. Há evidências substanciais de um decréscimo na concentração da serotonina em ambas as depressões. Avaliações pós- morte das zonas de recaptação da serotonina no cortex pré- frontal, revelam uma diminuição significativa dos mesmos em doentes com Depressão Unipolar e Bipolar (Cuellar et al; 2005). A medição dos metabolitos da serotonina no líquido cefaloraquidiano mostra níveis inferiores nos doentes com Depressão Unipolar e Bipolar quando comparados com controle (Asberg et al, 1984). Antecedentes psicossociais: Inicialmente era considerado que a Depressão Unipolar seria uma reação a eventos vivenciados (Life Events) enquanto que a Depressão Bipolar seria um resultado de alterações nos processos biológicos. Contudo, estudos recentes têm demonstrado a influência do meio também na Doença Bipolar. Life events parecem ser desencadeadores comuns de ambas as depressões sem prevalência em qualquer uma delas (Hirschfeld et Cross, 1982). Isometsa et al., 1995, mostrou ainda que doentes com Doença Unipolar ou Bipolar experimentavam o mesmo nível de stress antes de cometerem o suicídio. O baixo apoio social é também associado a uma maior frequência de episódios de depressão em ambas as doenças (Johnson et al., 1999). No que concerne aos fatores psicológicos, nas duas depressões, a personalidade neurótica parece estar associada a um aumento dos sintomas depressivos (Cuellar, 2005). Adicionalmente, há uma ligação destes distúrbios com uma baixa auto-estima. Contudo, após remissão do estado depressivo, doentes com Depressão Bipolar apresentam maior autoestima que os doentes com Depressão Unipolar (Ashworth et al, 1985). Durante os episódios, ambos os doentes tem iguais interpretações negativas sobre acontecimentos da vida. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma terapia breve e estruturada, orientada para a resolução de problemas, que envolve a colaboração ativa entre o paciente e o terapeuta para atingir os objetivos estabelecidos. A terapia é geralmente utilizada no formato individual, embora técnicas de grupo tenham sido desenvolvidas e testadas. Os objetivos da TCC são educar pacientes e familiares sobre a doença, o seu tratamento e as suas dificuldades associadas; ensinar os métodos para prever a sua ocorrência, a gravidade e o curso dos sintomas; facilitar a aceitação e a cooperação no tratamento; oferecer técnicas não farmacológicas para lidar com sintomas e problemas; ajudar o paciente a enfrentar os fatores stressantes que interfiram no tratamento; estimular a aceitação da doença; aumentar o efeito protetor da família e diminuir o trauma e o estigma associado à doença. 40 A TCC tem sido a abordagem mais amplamente estudada na Doença Bipolar. Vários estudos evidenciam a eficácia desta técnica no tratamento destes doentes. Zaretsky et al. (1999) compararam 11 doentes em tratamento com estabilizadores do humor com 11 doentes que recebiam TCC padrão. Houve diminuição significativa dos sintomas depressivos em ambos os grupos. Fava et al. (2001) avaliaram a TCC em 15 doentes que recaíram apesar de estarem sob medicação. O tratamento consistiu em dez sessões de 30 minutos por semana, que focavam no tratamento dos sintomas residuais e incluía psicoeducação, reestruturação cognitiva para os sintomas depressivos, ansiosos e para a irritabilidade. Este tratamento mostrou-se eficaz no tratamento de sintomas residuais e aumentou o tempo de remissão da doença. Um estudo controlado, desenvolvido por Scott et al. (2001), avaliou 42 doentes com Doença Bipolar tipo I e tipo II e demonstrou que a TCC diminuía, significativamente, os sintomas depressivos mas não tanto os sintomas maníacos. Nesse estudo também se verificaram aumento da adesão, redução no número de hospitalizações e melhoria no funcionamento global. Portanto, os estudos têm demonstrado a eficácia da TCC no tratamento da Doença Bipolar, tanto na configuração individual como em grupo. Estudos apontam para a mesma eficácia na Depressão Unipolar. Blackburn et Moore investigaram por dois anos doentes com pelo menos um episódio prévio de Depressão unipolar, divididos em três tratamentos: manutenção com antidepressivos, terapia cognitivo comportamental na fase aguda e mensalmente como manutenção e o último grupo recebeu antidepressivos na fase aguda e terapia cognitivo-comportamental de manutenção. Eram doentes que, na sua maioria, apresentavam depressão moderada a grave e estavam em média no seu terceiro episódio. Não houve diferença estatisticamente significativa na taxa de recaídas entre os três grupos ao fim de 24 meses (31% para manutenção com AD, 36% para AD na fase aguda e TCC de manutenção e 24% para TCC aguda e de manutenção). Evans et al descreveram uma avaliação de doentes em terapia cognitivo-comportamental em comparação com doentes em tratamento com Imipramina (antidepressivo tricíclico). Foram excluídos os doentes que não apresentaram resposta inicial a qualquer um dos tratamentos. Dos doentes que realizaram TCC por 3 meses, 18% recaíram, contra 50% dos que receberam Imipramina durante o mesmo período e 32% dos que a receberam por 12 meses. A observação de que muitos doentes bipolares apresentam menos oscilações de humor quando mantêm um modo regular nas suas atividades diárias (sono, alimentação, atividade física) levou ao desenvolvimento de uma psicoterapia chamada
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