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JOSÉ SANTANA FARIAS NETO - UESB 1 PIESC III Teorização 3 PLANEJAMENTO FAMILIAR: OBJETIVOS E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS (CLASSIFICAÇÃO E INDICAÇÕES) O planejamento familiar é um direito de mulheres, homens e casais e está amparado pela Constituição Federal, em seu artigo 226, parágrafo 7º, e pela Lei 9.263, de 1996, que o regulamenta. Cabe ao Estado prover recursos educacionais e tecnológicos para o exercício desse direito, bem como profissionais de saúde capacitados para desenvolverem ações que contemplem a concepção e a anticoncepção. • É o direito à informação, à assistência especializada e acesso aos recursos que permitam optar livre e conscientemente por ter ou não filhos, o número, o espaçamento entre eles e a escolha do método anticoncepcional mais adequado, sem coação. Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e, em 2008, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que recomendam aos serviços de saúde a implantação da atividade de planejamento familiar oferecendo todos os meios de evitar ou de ter filhos garantindo que o casal possa fazer uma opção livre e consciente, escolhendo o método que melhor responde às suas necessidades. Neste sentido, o Planejamento Familiar deve ser tratado dentro do contexto dos direitos reprodutivos, tendo, portanto, como PRINCIPAL OBJETIVO garantir às mulheres e aos homens um direito básico de cidadania, previsto na Constituição Brasileira: o direito de ter ou não filhos/as. Entretanto, dentro dos princípios que regem esta política, os serviços devem garantir o acesso aos meios para evitar a gravidez indesejada, o acompanhamento clinico-ginecológico e ações educativas para que as escolhas sejam conscientes. Os profissionais de saúde devem empenhar-se em bem informar aos usuários para que conheçam todas as alternativas de anticoncepção e possam participar ativamente da escolha do método. # ESCOLHA DO MÉTODO ANTICONCEPCIONAL A assistência em anticoncepção pressupõe a oferta de todas as alternativas de métodos anticoncepcionais aprovadas pelo Ministério da Saúde, bem como o conhecimento de suas indicações, contra-indicações e implicações de uso, garantindo à mulher, ao homem ou ao casal os elementos necessários para a opção livre e consciente do método que a eles melhor se adapte. Pressupõe, ainda, o devido acompanhamento clínico-ginecológico à usuária, independentemente do método escolhido. Dupla proteção é a melhor solução → A prevenção simultânea das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e gravidez foi definida pela Organização Mundial de Saúde como dupla proteção. Esse conceito surgiu na década de 70 e consiste no uso combinado da camisinha masculina ou feminina com outro método anticoncepcional, tendo como finalidade promover, ao mesmo tempo, a prevenção da gravidez e a prevenção da infecção pelo HIV/Aids e por outras DST. MÉTODOS DE PLANEJAMENTO FAMILIAR → São as formas utilizadas pelas mulheres/homens/casais para evitar ou promover uma gravidez. Alguns métodos servem somente para evitar filhos, outros sevem para ajudar a mulher a engravidar. • MÉTODOS NATURAIS → São aqueles que o casal ou a pessoa pode utilizar para evitar ou obter uma gravidez, identificando o período fértil da mulher. o Muco → O muco varia de aparência em cada período do ciclo menstrual. Aprendendo essas diferenças, é possível saber qual é o período fértil. O aspecto do muco é mais importante do que a quantidade. O que interessa é se ele é pastoso, líquido, elástico, ou se não aparece. o Tabela → Descobrir a época do mês em que está no período fértil. Tabelas prontas não são seguras. A tabela de uma mulher não serve para outra, pois cada uma tem um ciclo menstrual diferente. o Temperatura → Ajuda a conhecer a época do ciclo menstrual em que a mulher pode ficar grávida (período da ovulação). Ele é feito através da tomada da temperatura do corpo. O corpo feminino sofre uma alteração de temperatura no período da ovulação, ou seja, no período fértil. • MÉTODOS DE BARREIRA → São aqueles que evitam a gravidez impedindo a penetração dos espermatozoides no útero. o Camisinha → Proteção dupla (gravidez e IST) o Diafragma → Capa de borracha ou silicone, que a mulher coloca, na vagina, antes da relação sexual, tapando, assim, o cólo do útero. o Espermaticida → Produtos para serem colocados na vagina antes da relação sexual. Podem ser usados sozinhos, porém são mais seguros quando usados juntos com outros métodos. • MÉTODOS HORMONAIS o Pílula → Podem ter uma composição combinada (estrógeno + progestógeno) ou simples (apenas progestógeno). Elas impedem a ovulação, evitando assim a gravidez. As pílulas anticoncepcionais de emergência podem ser tomadas a qualquer momento até cinco dias após o sexo desprotegido. o Injetáveis → Os injetáveis mensais contêm dois hormônios - um progestógeno e um estrógeno – semelhantes aos hormônios naturais progesterona e estrógeno. Os anticoncepcionais injetáveis de “acetato de JOSÉ SANTANA FARIAS NETO - UESB 2 PIESC III Teorização 3 medroxiprogesterona de depósito” (AMPD – aplicação trimestral) e “enantato de noretisterona” (NET-EM aplicação mensal) contêm, cada um, um progestógeno similar ao hormônio natural progesterona. Não contêm estrógeno e, por isso, podem ser usados durante toda a amamentação e por mulheres que não podem utilizar métodos com estrógeno. o Adesivo Combinado → Um pequeno e fino quadrado de plástico flexível que é usado em contato com o corpo libera continuamente dois hormônios - um progestógeno e um estrógeno - diretamente através da pele para a corrente sanguínea. Usa-se um novo adesivo a cada semana, durante três semanas, e a seguir não se usa nenhum adesivo na quarta semana. Ao longo desta quarta semana, a mulher ficará menstruada. o Anel Vaginal Combinado → Anel flexível que é inserido na vagina, liberando continuamente dois hormônios, um progestógeno e um estrógeno, de dentro do anel. Os hormônios são absorvidos através da parede da vagina indo diretamente para a corrente sanguínea. O anel é mantido no lugar por três semanas, depois é retirado durante a quarta semana. Na quarta semana, a mulher habitualmente ficará menstruada. o Implantes → São pequenas cápsulas ou hastes plásticas, cada uma do tamanho aproximado de um palito de fósforo, que liberam um progestógeno. Um profissional devidamente treinado para este fim realiza um pequeno procedimento cirúrgico para inserir os implantes sob a pele no lado de dentro do antebraço da mulher. Não contêm estrógeno e, por isso, podem ser utilizados durante toda a amamentação e por mulheres que não podem utilizar métodos com estrógeno. Sua duração pode variar de três a cinco anos, dependendo de sua formulação. • MÉTODO MECÂNICO o DIU → Dispositivo feito de um plástico especial, que vem enrolado por um fio de cobre bem fino. Este aparelho é colocado através da vagina dentro do útero da mulher. Apenas o médico pode colocar o DIU. A época ideal para a colocação do DIU é durante ou logo após a menstruação. O DIU tem um tempo de validade (cerca de seis a dez anos), dependendo do tipo. Depois desse tempo, ele deve ser retirado ou trocado. • ESTERILIZAÇÃO → No homem chama-se vasectomia e na mulher laqueadura. Segundo Aldrighi, Sauerbronn e Petta (2005), podem ser classificados da seguinte forma: TEMPORÁRIOS (REVERSÍVEIS) • Hormonais o Orais ▪ Combinados • Monofásicos • Bifásicos • Trifásicos ▪ Minipílulas o Injetáveis ▪ Mensais ▪ Trimestrais o Implantes subcutâneos o Percutâneos ▪ Adesivos o Vaginais ▪ Comprimidos ▪ Anel o Sistema liberador de levonorgestrel (SIU) • Barreira o Feminino ▪ Diafragma ▪ Espermaticida ▪ Esponjas ▪ Capuz cervical ▪ Preservativo feminino o Masculino ▪ Preservativo masculino • Intrauterinos o Medicados ▪ DIU de cobre ▪ Diu com levonorgestrel o Não medicados• Comportamentais ou naturais o Tabela ou calendário (Ogino-Knaus) o Curva térmica basal ou de temperatura o Sintotérmico o Billings (mucocervical) o Coito interrompido • Duchas vaginais DEFINITIVOS (ESTERILIZAÇÃO) • Feminino (ligadura tubária) • Masculino (vasectomia) ANTICONCEPCIONAL HORMONAL COMBINADO ORAL → consiste na utilização por via oral de estrogênio associado ao progestogênio com a finalidade de impedir a concepção. Existem, na atualidade, três formas de combinação do estrogênio com o progestogênio. A primeira, mais usada, denominada monofásico é a associação contínua e na mesma dosagem em todas as pílulas produto. As outras, combinadas bifásica e trifásica, apresentam varrições na dosagem dos esteróides ao longo do ciclo, tentando assim mimetizar a esteroidogênese ovariana. • Mecanismo de Ação → inibem ovulação através do bloqueio da liberação de gonadotrofinas pela hipófise. Além disso, modificam o muco cervical tornando-o hostil à espermomigração, altera o endométrio, modifica a contratilidade das tubas interferindo no transporte ovular e altera a resposta ovariana às gonadotrofinas. JOSÉ SANTANA FARIAS NETO - UESB 3 PIESC III Teorização 3 ANTICONCEPCIONAL HORMONAL ORAL APENAS DE PROGESTOGÊNIO OU MINIPÍLULA → comprimidos que contêm uma dose muito baixa de progestogênio, que promove o espessamento do muco cervical, dificultando a penetração dos espermatozóides, e inibe a ovulação em aproximadamente metade dos ciclos menstruais. ANTICONCEPCIONAIS HORMONAIS INJETÁVEIS COM PROGESTOGÊNIO ISOLADO (TRIMESTRAL) → a anticoncepção injetável trimestral é realizada com o uso do acetato de medroxiprogesterona de depósito (AMP-D). Seu uso é simples e independente do coito. Por conter apenas o componente progestogênico, o método não tem várias das contra-indicações atribuídas ao estrogênio sintético. • Mecanismo de Ação → potente anovulatório, suprimindo o pico de LH; torna o muco cervical espesso, dificultando a ascensão dos espermatozóides; torna o endométrio hipotrófico pela redução da vascularização. ANTICONCEPCIONAIS HORMONAIS INJETÁVEIS COMBINADOS (MENSAL) → as diferentes formulações dos anticoncepcionais hormonais injetáveis combinados contêm um éster de estrogênio natural, o estradiol, e um progestogênio sintético. • Mecanismo de Ação → a ação anticonceptiva reside, fundamentalmente, no efeito do progestogênio sobre o eixo neuroendócrino inibindo a ovulação, pelo bloqueio do pico do LH, que permanece em seus níveis basais. Secundariamente são observadas também, atividades sobre o muco cervical, o endométrico e a peristalse tubária, ampliando seu potencial anticonceptivo. IMPLANTES → são constituídos de silicone polimerizado com um hormônio no seu interior, que é liberado continuamente para a corrente sangüínea, proporcionando o efeito contraceptivo. O mais popular de todos contém o progestogênio levonorgestrel e a elcometrina. Outros implantes contêm o desogestrel, o nomegestrol e a elcometrina. DIU → são artefatos de polietileno aos quais podem ser adicionados cobre ou hormônios que, inseridos na cavidade uterina, exercem sua função contraceptiva. Atuam impedindo a fecundação porque tornam mais difícil a passagem do espermatozóide pelo trato reprodutivo feminino, reduzindo a possibilidade de fertilização do óvulo. Para a Organização Mundial da Saúde, o DIU interfere nas diferentes etapas do processo reprodutivo que ocorrem previamente à fertilização. O DIU com levonorgestrel causa supressão dos receptores de estradiol no endométrio, atrofia endometrial e inibição da passagem do espermatozóide através da cavidade uterina. A taxa de falha do MLCu 375 é de 1.4%, no primeiro ano de uso. Possivelmente pela melhor distribuição do cobre na cavidade uterina esta taxa com o DIU Tcu-380 é cerca de 0,6 a 0,8% no primeiro ano de uso. A taxa de gravidez do DIU com levonorgestrel é de 0,1% no primeiro ano de uso. O índice de gestações, expulsão e remoção por motivos médicos diminui a cada ano de uso. As concentrações de cobre e de levonorgestrel no trato genital superior caem rapidamente após a remoção do DIU e a recuperação da fertilidade é imediata. • Tipos e Modelos o DIU com Cobre → feito de polietileno e revestido com filamentos e/ou anéis de cobre. Atualmente os modelos TCu-380 A e MLCu-375 são os mais usados. o DIU que libera hormônio → feito de polietileno e libera, continuamente, pequenas quantidades de levonorgestrel. o DIU inerte ou não medicado → feito de polietileno. A "alga de Lippes", por exemplo, é toda de plástico. Esse modelo de DIU não se usa na atualidade; entretanto, mulheres que já são usuárias podem continuar usando até 6 meses após a menopausa, quando deverá ser removido. ANTICONCEPÇÃO CIRÚRGICA (ESTERILIZAÇÃO) → segundo a resolução presente na Lei nº 9.263/96 de 12 de Janeiro de 1996, como exposto no Art. 10. – Somente é permitida a esterilização em: • Homens e mulheres com capacidade civil plena; • Maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos; • Prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce; • Situação de risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA → é um método anticonceptivo que pode evitar a gravidez após a relação sexual. O método, também conhecido por “pílula do dia seguinte”, utiliza compostos hormonais concentrados e por curto período de tempo, nos dias seguintes da relação sexual. Diferente de outros métodos anticonceptivos, a AE tem indicação reservada a situações especiais ou de exceção, com o objetivo de prevenir gravidez inoportuna ou indesejada As indicações principais da anticoncepção de JOSÉ SANTANA FARIAS NETO - UESB 4 PIESC III Teorização 3 emergência são: Relação sexual não planejada e desprotegida (comuns em adolescentes); Uso inadequado de métodos anticoncepcionais; Falha anticonceptiva presumida; Violência sexual (estupro). • Mecanismo de Ação → a anticoncepção de emergência envolve uma ou mais fases do processo reprodutivo, interferindo na ovulação, na espermomigração, no transporte e nutrição do ovo, na fertilização, na função lútea e na implantação. • Procedimentos → há duas formas de oferecer a AE: o A primeira, conhecida como regime ou MÉTODO DE YUZPE, utiliza anticonceptivos hormonais orais combinados (AHOC) de uso rotineiro em planejamento familiar e conhecidos como “pílulas anticoncepcionais”. O método de Yuzpe consiste na administração combinada de um estrogênio e um progestágeno sintético, administrados até cinco dias após a relação sexual desprotegida. A associação mais estudada, recomendada pela Organização Mundial de Saúde, é a que contém etinil-estradiol e levonorgestrel. Para finalidade de AE, é necessária a dose total de 200g de etinil-estradiol e 1mg de levonorgestrel, divididas em duas doses iguais, a cada 12 horas, ou administradas em dose única. Existem no mercado AHOC com 50g de etinil-estradiol e 250g de levonorgestrel por comprimido. Nesse caso, utilizam-se 2 comprimidos a cada 12 horas ou 4 comprimidos em dose única. o A segunda forma de realizar a AE é com o uso de progestágeno isolado, o levonorgestrel, na dose total de 1,5mg, dividida em 2 comprimidos iguais de 0,75mg, a cada 12 horas, ou 2 comprimidos de 0,75mg juntos, em dose única. Da mesma forma que o método de Yuzpe, o levonorgestrel pode ser utilizado até cinco dias da relação sexual desprotegida. • Obs.: É importante ressaltar que a administração da AE classicamente é descrita dividindo-se a dose total em duas doses iguais, em intervalos de 12 horas, com a primeira dose iniciada, no máximo, em 72horas. Contudo, os recentes estudos da Organização Mundial de Saúde oferecem claras evidências de que a dose única de 1,5mg de levonorgestrel é tão eficaz como duas doses de 0,75mg separadas em intervalos de 12 horas. Também evidenciam efeitos protetores até cinco dias após a relação sexual desprotegida, embora com taxas de falha maiores.
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