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Aborto espontâneo em cadelas PERDA GESTACIONAL PRECOCE Perda de feto em virtude de reabsorção nas fases precoces ou expulsão nas fases tardias da gestação. FISIOPATOLOGIA • Causas diretas — anormalidade congênita, doença infecciosa, traumatismo. • Causas indiretas — placentite infecciosa, função ovariana anormal, ambiente uterino anormal. SINAIS CLÍNICOS Achados Anamnésicos • Falha em dar à luz na hora certa. • Expulsão de fetos ou tecidos placentários identificáveis. • Redução do volume abdominal; perda de peso. • Anorexia. • Vômito, diarreia • Mudanças comportamentais. Achados do Exame Físico • Corrimento vulvar sanguinolento ou purulento. • Desaparecimento de vesículas ou fetos previamente confirmados por meio de palpação, ultrassonografia ou radiografia. • Esforço abdominal, desconforto. • Depressão. • Desidratação. • Febre em algumas pacientes. CAUSAS Infecciosas • Brucella canis. • Herpes-vírus canino. • Toxoplasma gondii, Neospora caninum. • Mycoplasma e Ureaplasma. • Diversas bactérias — E. coli, Streptococcus, Campylobacter, Salmonella. • Diversos vírus — vírus da cinomose, parvovírus, Adenovírus Uterinas • Hiperplasia endometrial cística e piometra. • Traumatismo — agudo e crônico. • Neoplasia. • Medicamentos embriotóxicos. • Agentes quimioterápicos. • Estrogênios. • Glicocorticoides — altas dosagens. Ovarianas • Prostaglandinas — lise de corpos lúteos. • Agonistas dopaminérgicos — lise de corpos lúteos via supressão da prolactina; bromocriptina, cabergolina. • Hipoluteoidismo — anormalidade da função luteal na ausência de doença fetal, uterina ou placentária; concentrações de progesterona <1-2 ng/mL, observadas com maior frequência em gestação de 40-45 dias. Disfunção Hormonal • Hipotireoidismo; dados recentes revelam que isso é menos comum do que se acreditava. • Hiperadrenocorticismo. • Fatores ambientais — contaminantes que atacam o sistema endócrino foram relatados em casos de perda fetal em seres humanos e animais silvestres. Defeitos Fetais • Anormalidade cromossômica letal. • Defeitos orgânicos letais. FATORES DE RISCO • Exposição da cadela reprodutora a animais portadores. • Idade avançada. • Fatores hereditários. DIAGNÓSTICO Diagnóstico diferencial • Diferenciar causas infecciosas de não infecciosas — a B. canis é de preocupação zoonótica e imediata. • Diferenciar reabsorção de infertilidade — auxiliada pelo diagnóstico precoce de gestação. • Histórico de uso de medicamentos durante a gestação — particularmente durante o primeiro trimestre ou uso de medicamentos (p. ex., dexametasona, prostaglandinas, cetoconazol, griseofulvina, doxiciclina, tetraciclina, dantroleno, entre outros) sabidamente causadores de morte fetal. • Corrimentos vulvares durante o diestro — podem mimetizar o abortamento; avaliar o corrimento e a origem para diferenciar uteropatias de doença do trato reprodutivo distal. • Necropsia de fetos abortados, filhotes caninos natimortos e placenta — aumenta as chances de obtenção do diagnóstico definitivo; refrigerar, mas não congelar antes do envio. • Histórico de doença sistêmica ou endócrina — pode indicar problemas com o ambiente materno. Hemograma/Bioquímica/Urinálise • Geralmente normais. • Doença sistêmica, infecção uterina, infecção viral ou anormalidades endócrinas — podem produzir alterações nos exames de hemograma completo, bioquímica ou urinálise. Outros testes laboratoriais • Teste sorológico — para detecção de B. canis, herpes-vírus canino, Toxoplasma, neospora; coletar o soro o mais rápido possível após a ocorrência do abortamento; repetir o teste em busca de títulos crescentes. • Teste em lâmina para a B. canis — bastante sensível; os resultados negativos são confiáveis. • Teste de aglutinação em tubo para a B. canis — fornece os títulos. • Teste de imunodifusão em ágar-gel para a B. canis — diferencia com eficácia resultados falso-positivos e positivos verdadeiros nos testes de aglutinação; detecta antígenos de superfície citoplasmática e celular. • Concentração sérica basal do T4 (quando nenhum agente infeccioso é identificado) — o hipotireoidismo é uma endocrinopatia comum e foi sugerido como uma causa de perda fetal; no entanto, desempenha papel incerto na perda gestacional; concentrações de T4 abaixo do normal indicam a necessidade de testes adicionais. • Concentração sérica da progesterona (quando nenhum agente infeccioso é identificado) — o hipoluteoidismo pode causar perda fetal; as cadelas dependem da produção ovariana de progesterona durante toda a gestação (são necessários, no mínimo, 2 ng/mL para a manutenção da gestação); coletar amostra e determinar a concentração o mais rápido possível após o abortamento; nas gestações subsequentes, é preciso iniciar a monitorização na 3a semana, ou seja, possivelmente antes que a gestação possa ser revelada pela ultrassonografia; iniciar a amostragem quinzenal perto da idade gestacional da última perda. A perda gestacional tipicamente ocorre durante a 7a semana de gestação. • Cultura vaginal — para B. canis com teste sorológico positivo; Mycoplasma, Ureaplasma, outros agentes bacterianos; todos, exceto a B. canis, podem pertencer à flora bacteriana normal; portanto, o diagnóstico a partir de culturas vaginais isoladas é uma tarefa difícil; Salmonella associada à doença sistêmica na cadela. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM • Radiografia — identificar estruturas fetais após 45 dias da gestação; em uma fase mais precoce, esse exame é capaz de determinar o aumento de volume uterino, mas não consegue avaliar o seu conteúdo. • Ultrassonografia — identifica o volume e o conteúdo uterinos; avalia a presença de líquido e sua consistência; examina os resquícios fetais ou a viabilidade fetal pela observação dos batimentos cardíacos (normal, >200 bpm; estresse, <150 ou >280 bpm). MÉTODOS DIAGNÓSTICOS • Vaginoscopia — identifica a origem de corrimentos vulvares e lesões vaginais. • Exame citológico e cultura bacteriana — a vagina pode revelar a presença de processo inflamatório (p. ex., infecção uterina); técnica para cultura: utilizar um swab protegido afim de garantir a obtenção de amostra anterior (o trato reprodutivo distal costuma se apresentar intensamente contaminado por bactérias) ou coleta de secreções via cateterização transcervical. ACHADOS PATOLÓGICOS Exame histológico e cultura de tecido fetal e placentário — podem revelar a presença de microrganismos infecciosos; cultura tecidual, particularmente de conteúdo gástrico, para identificar microrganismos bacterianos infecciosos. TRATAMENTO Cuidado(s) de saúde adequados(s) • A maioria das cadelas deve ficar confinada e isolada até o estabelecimento do diagnóstico. • É preferível a hospitalização de pacientes com infecção. • B. canis — agente altamente infeccioso para os cães; eliminado em grande quantidade durante o abortamento; os casos sob suspeita devem ser isolados. • Tratamento clínico em esquema ambulatorial — recomendado para pacientes clinicamente estáveis com causas não infecciosas de perda gestacional, endocrinopatias ou doença endometrial. • Abortamento parcial — na possível tentativa de salvar os fetos vivos; administrar antibióticos mediante identificação de componente bacteriano. Cuidado(s) de enfermagem Desidratação — utilizar fluidos de reposição suplementados com eletrólitos, caso sejam identificados desequilíbrios por meio de análises bioquímicas séricas. ORIENTAÇÃO AO PROPRIETÁRIO • Em caso de B. canis — se confirmada, recomenda-se a eutanásia pela falta de tratamento bem-sucedido e como medida de segurança para evitar a disseminação da infecção; a ováriohisterectomia e a antibioticoterapia a longo prazo. • Doença uterina primária — a ovário- histerectomia é indicada em pacientessem valor reprodutivo; a hiperplasia endometrial cística é uma alteração irreversível. • Infertilidade ou perda gestacional — podem apresentar recidiva nos ciclos estrais subsequentes, apesar da instituição de tratamento imediato bem- sucedido. • Tratamento com prostaglandina — debater os efeitos colaterais. • Doenças infecciosas — estabelecer medidas de vigilância e controle. CONSIDERAÇÕES CIRÚRGICAS A ovário-histerectomia é preferencialmente recomendada para pacientes estáveis sem valor reprodutivo. MEDICAÇÕES Medicamento(s) de escolha • PGF2α (Lutalyse®, trometamina de dinoprosta) — para a remoção do conteúdo uterino após o abortamento. • Antibióticos — em caso de doenças bacterianas; instituir inicialmente um agente de amplo espectro; a escolha do agente específico depende da cultura e do antibiograma do tecido vaginal ou da necropsia fetal. Contraindicações Suplementação de progesterona — contraindicada em cadelas com afecção do endométrio ou das glândulas mamárias. Precauções PGF2α — metabolizada no pulmão; os efeitos colaterais, que diminuem a cada injeção, estão relacionados à contração da musculatura lisa e à dose; respiração ofegante, salivação, vômito e defecação são comuns. Medicamento(s) alternativo(s) Ocitocina —1 U/5 kg SC a cada 6-24 h para remoção do conteúdo uterino; mais eficaz nas primeiras 24-48 h após o abortamento. MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE • Abortamento parcial — monitorizar a viabilidade dos fetos remanescentes por meio da ultrassonografia; monitorizar a saúde sistêmica da fêmea durante o resto da gestação. • Corrimentos vulvares — monitorizar diariamente quanto à redução na quantidade, no odor e no componente infl amatório, bem como quanto à consistência (o aumento do conteúdo mucoide tem prognóstico bom) • PGF2α — deve ser mantida por 5 dias ou até a interrupção de grande parte do corrimento (3-15 dias). • B. canis — monitorizar após a castração e a antibioticoterapia; efetuar testes sorológicos anuais para identificar a ocorrência de recidiva. • Hipotireoidismo — tratar de forma adequada; a castração é recomendável. PREVENÇÃO • Brucelose e outros agentes infecciosos — programas de vigilância para evitar a introdução em canis. • Ovário-histerectomia — para cadelas sem valor reprodutivo. • Uso de vacinas vivas modificadas (p. ex., algumas vacinas contra cinomose, parvovírus, etc.). COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS • Piometra não tratada — septicemia, toxemia, morte. • Brucelose — discospondilite, endoftalmite, uveíte recidivante. EVOLUÇÃO ESPERADA E PROGNÓSTICO • Piometra — a taxa de recidiva durante o ciclo subsequente é alta (até 70%) a menos que a gestação esteja estabelecida. • HEC — a recuperação da fertilidade é improvável; a piometra é uma complicação comum. • Disfunção hormonal — frequentemente tratável; os aspectos familiares devem ser levados em consideração. • Brucelose — prognóstico reservado; é extremamente difícil eliminar a infecção de forma bem-sucedida mesmo se associada à castração.
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