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Leonan José e Benhur Almeida – T5 CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO (OU CICLO DE KREBS) – RESUMO LEHNINGER PRODUÇÃO DE ACETIL-COA O principal produto da glicólise é o piruvato, que é oxidado em acetil-CoA e CO2 pelo complexo da piruvato-desidrogenase (PDH), um grupo de 3 enzimas nas mitocôndrias. O complexo da PDH é o protótipo para dois outros importantes complexos enzimáticos: a cetoglutarato-desidrogenase, do ciclo do ácido cítrico, e a-cetoácido-desidrogenase de cadeia ramificada, das vias de oxidação de alguns aminoácidos. O PIRUVATO É OXIDADO A ACETIL-COA E CO2 O piruvato passa por uma descarboxilação oxidativa, ou seja, ele perde um CO2 e os dois carbonos que sobraram viram o grupo acetil da acetil-CoA. O COMPLEXO DA PIRUVATO-DESIDROGENASE REQUER CINCO COENZIMAS 1. TPP – pirofosfato de tiamina 2. FAD – dinucleotídeo de flavina-adenina 3. CoA – coenzima A 4. NAD – dinucleotídeo de nicotinamida-adenina 5. Lipoato Essas coenzimas são derivadas de vitaminas hidrossolúveis que, em sua ausência, o indivíduo terá produção ineficiente de energia pelo ciclo de Krebs O COMPLEXO DA PIRUVATO-DESIDROGENASE CONSISTE EM TRÊS ENZIMAS DISTINTAS E1 – piruvato desidrogenase E2 – di-hidrolipoil-transacetilase E3 – di-hidrolipoil-desidrogenase Cada uma está presente em várias cópias. E2 tem três domínios funcionalmente distintos. → E1 faz piruvato virar um grupo acetil → E2 transfere esse grupo acetil para a coenzima A, formando acetil-CoA → E3 coloca elétrons no FAD e no NAD Para que E2 funcione, ele precisa da coenzima Lipoato. Lipoato possui longos braços lipídicos que podem se movimentar entre os sítios ativos das enzimas. Lipoato está oxidado e vai se reduzir para que possa receber aquele grupo acetil produzido pela E1. O objetivo da E2 é transferir o grupo acetil para a coenzima A, formando acetil-CoA. No entanto, o lipoato continua reduzido, ele precisa ser reoxidado para formar um novo acetil e, para isso, precisa da coenzima FAD, que está ligado a E3. E3 transfere os elétrons do lipoato para o FAD, tornando-o reduzido (FADH2) e reoxidando o lipoato. Mas o FADH2 não pode ficar assim precisa voltar a ser FAD. Quem faz isso é a E3, tirando o H2 do FAD e passando para o NAD+, tornando-o NADH + H. Esses irão para a cadeia transportadora de elétrons. DOENÇA BERI-BERI Deficiência de B1 (tiamina) causa deficiência de TPP, causando inibição da primeira fase de descarboxilação do ácido pirúvico (fase em que E1 retira CO2 e, com a ajuda do TPP, forme acetil). População de risco: alto consumo de arroz branco (polido) sem casca, alto consumo de álcool. REAÇÕES DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO Acetil-CoA doa seu grupo acetil ao oxaloacetato (4C), formando o citrato (6C). O citrato é transformado em isocitrato (6C), o qual é desidrogenado com a perda de CO2 para produzir o alfa-cetoglutarato (5C). Esse último perde outro CO2, originando o succinato (4C), que sofre 4 etapas enzimáticas para se transformar novamente em oxaloacetato (4C) pronto para reagir com acetil novamente. Em cada rodada do ciclo entra um grupo acetil (2C) na forma de acetil-CoA, e são removidas duas moléculas de CO2; uma molécula de oxaloacetato é utilizada para a formação do citrato e uma molécula de oxaloacetato é regenerada. Não ocorre nenhuma remoção líquida de oxaloacetato; teoricamente, uma molécula de oxaloacetato pode participar da oxidação de um número infinito de grupos acetil. CURIOSIDADE: Eugene Kennedy e Albert Lehninger mostraram em 1948 que, em eucariotos, o conjunto inteiro das reações do ciclo do ácido cítrico acontece na mitocôndria. O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO TEM OITO ETAPAS 1- Formação do citrato: condensação de acetil-CoA e oxaloacetato para a formação de citrato, catalisada pela citrato-sintase. A CoA liberada nessa reação é reciclada para participar da descarboxilação oxidativa de outra molécula de piruvato. 2- Formação de isocitrato via cis-aconitato: a enzima aconitase transforma citrato em isocitrato, passando por um intermediário chamado cis-aconitato. A aconitase contém um centro de ferro-enxofre, que atua tanto na ligação do substrato ao sítio ativo quanto na adição ou na remoção catalítica de H2O. Ela é uma “moonlighting” = enzima com mais de uma função. 3- Oxidação do isocitrato e alfa-cetoglutarato e CO2: isocitrato vira alfa-cetoglutarato por meio da enzima isocitrato-desidrogenase. Essa enzima possui manganês no sitio ativo, que interage com um intermediário da reação. Esse intermediário fica o tempo todo no sítio ativo, saindo apenas quando Leonan José e Benhur Almeida – T5 convertido em alfa-cetoglutarato. O magnésio também ajuda a estabilizar o enol. 4- Oxidação do alfa-cetoglutarato a succinil-CoA e CO2: alfa-cetoglutarato é convertido em succinil-CoA e CO2 pela ação do complexo da alfa-cetoglutarato- desidrogenase. Esse complexo é análogo ao complexo da PDH (em estrutura e função), pois também possui três enzimas homólogas à E1, E2 e E3, também contém TPP e lipoato ligado à enzima, FAD, NAD e coenzima A. E1 do PDH – liga-se ao piruvato E1 do ALFA – liga-se ao alfa-cetoglutarato E2 de ambos – contém lipoil ligado covalentemente E3 de ambos – idênticos. Ambas as reações utilizam os cinco cofatores. 5- Conversão de succinil-CoA a succinato: análogo à acetil-Coa, a succinil-CoA tem uma ligação tio éster, a qual possui grande e negativa energia livre padrão. O rompimento dessa ligação favorecerá a formação do succinil, catalisada pela succinil-CoA-sintetase. 6- Oxidação do succinato a fumarato: O succinato formado a partir da succinil-CoA é oxidado a fumarato pela flavoproteína succinato- desidrogenase. A enzima contém três grupos ferro-enxofre diferentes e uma molécula de FAD. Os elétrons do succinato passam pelo FAD e pelos centros de ferro-enxofre antes de entrarem na cadeia transportadora de elétrons e todo esse transito gera 1,5 molécula de ATP por par de elétrons. OBS: Malonato é inibidor competitivo do succinato e bloqueia o ciclo de Krebs. 7- Hidratação do fumarato a malato: a hidratação reversível do fumarato a malato é catalisada pela fumarase. Ela é altamente estéreo especifica, pois ela catalisa a hidratação da ligação dupla trans do fumarato, mas não a dupla cis do maleto (isômero cis do fumarato). 8- Oxidação do malato a oxaloacetato: a enzima L- malato-desidrogenase ligada ao NAD catalisa a transformação de L-malato em oxaloacetato. Em condições padrão, a tendência é continuar malato (reação deslocada para a esquerda). Porém, nas células, a concentração de oxaloacetato é sempre baixa pela presença da citrato-sintase (enzima altamente exergônica do passo 1). Isso desloca a reação para a direita, ou seja, no sentido da formação do oxaloacetato. Logo, o ciclo pode se reiniciar. RESUMO: Reações do ciclo do ácido cítrico → O ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs, ciclo do ácido tricarboxílico [TCA]) é uma via catabólica central e praticamente universal por meio da qual os compostos derivados da degradação de carboidratos, gorduras e proteínas são oxidados a CO2, com a maior parte da energia da oxidação temporariamente armazenada nos transportadores de elétrons FADH2 e NADH. Durante o metabolismo aeróbio, esses elétrons são transferidos ao O2, e a energia do fluxo de elétrons é capturada na forma de ATP. → A acetil-CoA entra no ciclo do ácido cítrico (na mitocôndria de eucariotos, no citosol em bactérias) quando a citrato-sintase catalisa sua condensação com o oxaloacetato para a formação de citrato. → Em sete reações sequenciais, incluindo duas descarboxilações, o ciclo do ácido cítrico converte citrato a oxaloacetato e libera dois CO2. A via é cíclica, de modo que os intermediários não são exauridos; para cada oxaloacetato consumido na via, um é produzido. → Para cada acetil-CoA oxidada pelo ciclo do ácido cítrico, o ganho de energia consiste em três moléculas de NADH, umade FADH2 e um nucleosídeo trifosfatado (ATP ou GTP). → Além da acetil-CoA, qualquer composto que origine um intermediário do ciclo do ácido cítrico com quatro ou cinco carbonos – por exemplo, os produtos da degradação de muitos aminoácidos – podem ser oxidados pelo ciclo. → O ciclo do ácido cítrico é anfibólico, servindo ao catabolismo e ao anabolismo; os intermediários do ciclo podem ser desviados e utilizados como material de partida para diversos produtos da biossíntese. → Quando os intermediários são desviados do ciclo do ácido cítrico para outras vias, eles são repostos por algumas reações anapleróticas, que produzem intermediários de quatro carbonos por meio da carboxilação de compostos de três carbonos; essas reações são catalisadas por piruvato-carboxilase, PEP-carboxicinase, PEP- -carboxilase e enzima málica. Enzimas que catalisam carboxilações comumente utilizam a biotina para ativar o CO2 e transportá-lo a aceptores, como piruvato ou fosfoenolpiruvato. REGULAÇÃO DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO RESUMO: A regulação de enzimas--chave em vias metabólicas, por meio de efetores alostéricos e modificação covalente, garante a produção dos intermediários nas taxas necessárias para manter a célula em um estado de equilíbrio estável enquanto evita o desperdício de uma superprodução. O fluxo de átomos de carbono que entram no ciclo do ácido cítrico a partir Leonan José e Benhur Almeida – T5 do piruvato, e também durante o curso do ciclo, está sob constante regulação em dois níveis: a conversão de piruvato a acetil-CoA, o material de partida do ciclo (a reação da piruvato-desidrogenase), e a entrada da acetil- CoA no ciclo (a reação da citrato-sintase). A acetil-CoA também é produzida por outras vias que não a reação do complexo da PDH – a maioria das células produz acetil- CoA pela oxidação de ácidos graxos e certos aminoácidos – e a disponibilidade de intermediários a partir dessas vias é importante para a regulação da oxidação do piruvato e do ciclo do ácido cítrico. O ciclo também é regulado nas reações da isocitrato desidrogenase e da alfa-cetoglutarato-desidrogenase. A PRODUÇÃO DE ACETIL-COA PELO COMPLEXO PIRUVATO-DESIDROGENASE É REGULADA POR MECANISMOS ALOSTÉRICOS E COVALENTES. O complexo PDH é fortemente inibido pelos produtos da reação que ele mesmo catalisa. O ciclo é barrado (por inibição alostérica) quando ácidos graxos de cadeia longa estão presentes. AMP, CoA e NAD+ são substâncias que são modificadas pelo ciclo, que se acumulam quando pouco acetato (produto do piruvato) flui para dentro do ciclo. Isso causa a ativação alostérica do complexo PDH. Essa enzima de ativação alostérica é desativada quando o combustível está disponível em grande quantidade (na forma de ácidos graxos e acetil- CoA), e quando a célula possui altas concentrações de ATP e de NADH. Além disso, ela pode ser ativada novamente quando a demanda de energia está alta e a célula está precisando de um maior fluxo de acetil-CoA para o ciclo. Esse mecanismo é complementado por um segundo nível de regulação, que causa modificação covalente nas proteínas, podendo ativa-las ou inativa- las. O sitio em que isso ocorre é um sítio de serina de uma das subunidades da E1. O complexo de PDH é inibido pela fosforilação reversível desse sítio. Quem fosforila, ou seja, inibe PDH, é a piruvato-desidrogenase-cinase, alostericamente ativada pela alta concentração de ATP. O complexo PDH é ativado pela fosfoproteína- fosfatase, que, por meio da hidrólise, remove o fosfato. Isso ocorre em situações de baixo suprimento de energia, ou seja, baixa concentração de ATP. O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO É REGULADO NAS TRÊS ETAPAS EXERGÔNICAS Três fatores controlam a velocidade do fluxo no ciclo: 1. Disponibilidade de substrato, 2. Inibição pelos produtos acumulados e 3. Inibição alostérica por retroalimentação das enzimas que catalisam as etapas iniciais do ciclo. A velocidade da glicólise é vinculada à velocidade do ciclo do ácido cítrico não apenas por meio da inibição pelos altos níveis de ATP e NADH, mas também é regulada pela concentração de citrato. O citrato é o primeiro produto do ciclo de Krebs e é um forte inibidor alostérico da glicólise. A CANALIZAÇÃO DO SUBSTRATO EM COMPLEXOS MULTIENZIMÁTICOS PODE OCORRER DURANTE O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO Normalmente, pensa-se que as enzimas do ciclo estão solúveis na matriz mitocondrial (exceção: succinato-desidrogenase é ligada à membrana). Porém, existem provas de que elas são complexos multienzimáticos. Esses complexos asseguram a passagem eficiente do produto de uma etapa para a etapa seguinte. Os complexos que fazem isso são chamados de metabolons. ALGUMAS MUTAÇÕES EM ENZIMAS DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO LEVAM AO DESENVOLVIMENTO DE CÂNCER Quando os mecanismos de regulação são desequilibrados, o resultado pode ser grave. As mutações são raras, mas devastadoras. EX: Defeitos no gene da fumarase levam a tumores no músculo liso (leiomas) e nos rins; mutações na succinato-desidrogenase levam a tumores da glândula suprarrenal (feocromocitomas). O acúmulo de fumarato e succinato mutados induz a expressão do fato de transcrição induzível por hipóxia, HIF-1α. O mecanismo que leva à formação do tumor pode ser a geração de um estado de pseudo-hipoxia = pseudo-hipóxia refere-se ao aumento da razão citosólica de NAD livre em comparação com NADH, causada por hiperglicemia. Nas células com essas mutações, ocorre maior expressão dos genes normalmente regulados por HIF-1α. Esses efeitos das mutações nos genes da fumarase e da succinato-desidrogenase os definem como genes supressores de tumor. Outra conexão marcante entre os intermediários do ciclo do ácido cítrico e câncer é a descoberta que uma isocitrato-desidrogenase mutante adquire uma nova função. A isocitrato-desidrogenase do tipo selvagem catalisa a conversão de isocitrato a α-cetoglutarato, porém mutações que alteram o sítio de ligação do isocitrato levam a perda da função da atividade enzimática normal e ao ganho de uma nova atividade: conversão de a-cetoglutarato a 2-hidroxiglutarato. O acúmulo deste produto inibe a histona-desmetilase, alterando a regulação gênica e levando a tumores das células gliares no cérebro.
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