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1 SUMÁRIO 1 GRUPO SOCIAL E FAMILIAR ........................................................... 2 2 AS INTER- RELAÇÕES FAMILIARES............................................... 5 3 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......... 14 4 A FAMÍLIA E AS ORIGENS DO SINTOMA ..................................... 20 5 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NO SISTEMA FAMILIAR ...... 24 6 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA ........................................................... 27 7 A CRIANÇA E A SEPARAÇÃO DOS PAIS ...................................... 33 8 PARENTALIDADE PÓS – DIVÓRCIO ............................................. 37 9 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO FAMILIAR ............................. 40 9.1 Entrevista Circular ............................................................................... 41 9.2 Entrevista Familiar............................................................................... 41 9.3 Avaliação da Rede de Apoio ............................................................... 44 10 TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL ............................................... 45 11 BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 48 2 1 GRUPO SOCIAL E FAMILIAR1 Fonte:pleno.news/opiniao/ellen-sarmento/viver-e-conviver-em-familia.html Podemos afirmar que a necessidade de interação social é própria do homem. Nesta perspectiva, a vida humana é grupal. Estamos o tempo inteiro em relação com grupos e, de tão habituados a isso, não nos damos conta da sua importância ou influência no nosso comportamento ou nas nossas decisões (Gouveia e Pinheiro, 2014). A subjetividade é constituída na relação com o ambiente, com as outras pessoas, com os grupos dos quais fazemos parte, com a cultura. Esta constante interação é o que nos constitui enquanto seres humanos (Gouveia e Pinheiro, 2014). Durante nossa vida nos integramos a grupos que se tornam referência para nós e que passam a exercer influência sobre nossas percepções, ações e sentimentos. Pense, por exemplo, no quanto suas formas de pensar e agir foram influenciadas pelos comportamentos e valores compartilhados por seu grupo familiar. Ou mesmo no quanto você e seus amigos de colégio se assemelhavam na maneira de se vestir ou falar (Gouveia e Pinheiro, 2014). Pode-se compreender o grupo como o (Gouveia e Pinheiro, 2014): 1 Texto extraído do link: https://cdn.awsli.com.br/362/362352/arquivos/amostra%20- %20PSICOLOGIA%20&%20FAMILIA.pdf 3 “ Sistema organizado de dois ou mais indivíduos inter-relacionados, de modo que o sistema cumpra alguma função e que haja um conjunto de relações de papeis padrão entre os membros e um conjunto de normas que regule sua função e a função de cada um dos seus membros” (Chiavenato, apud Gouveia e Pinheiro, 2014). Indivíduos e grupos se constroem e se modificam mutuamente de forma que a modificação em um gera mudança correspondente no outro. Nesse sentido, se deve compreender o indivíduo como reflexo do grupo a que pertence, e o grupo mediante os indivíduos que o constituem (Gouveia e Pinheiro, 2014). Alguns teóricos em psicologia e sociologia consideram que esta interação que acontece no grupo pode gerar resultados maiores que os resultados gerados por indivíduos isolados. É por este motivo que afirmam que o grupo é maior que a soma dos indivíduos, embora seja por eles constituído. Ainda sobre o conceito de grupo, Hampton (Gouveia e Pinheiro, 2014) destaca três elementos básicos que se fazem presentes em qualquer grupo: Interação - Refere-se ao comportamento interpessoal, que pode variar de grupo para grupo. A relação social de interação não implica, necessariamente, no estabelecimento de uma conversa ou de um contato pessoal muito próximo. Quando os atos de duas ou mais pessoas que se encontram estão intimamente relacionados é possível reconhecer e se falar em interação. Atividade- referente às tarefas das pessoas que compõem o grupo. Sentimento- inclui os processos mentais e emocionais que estão dentro das pessoas e que não podem ser vistos, mas cuja presença é inferida a partir das atividades e interações das pessoas. De tal modo, um sorriso sugere um determinado sentimento, um punho ameaçador sugere outro. Um conceito importante no estudo dos grupos é o de grupo de referência, que pode ser entendido como aquele no qual o indivíduo é motivado a manter relações. Quando um grupo de relações se torna um grupo de referência, ele passa a exercer papel normativo no comportamento das pessoas. A família e os colegas de trabalho são alguns exemplos de grupos de referência (Gouveia e Pinheiro, 2014). A família se constitui como a primeira instituição com a qual os indivíduos mantêm contato e estabelecem relações, sendo a responsável pela educação e 4 socialização de seus membros, sendo por isso fundamental para a análise da relação entre a construção do sujeito e o meio sociocultural (Baptista, Cardoso, Gomes, 2012; Féres-Carneiro e Diniz Neto, 2012). Segundo Pichon-Rivière (Osório, 2013): “ a família proporciona o marco adequado para a definição e a conservação das diferenças humanas, dando forma objetiva aos papeis distintos, mas mutuamente vinculados, do pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papeis básicos em todas as culturas”. A definição de família mais utilizada na literatura continua sendo a chamada família nuclear, que geralmente é composta por marido, esposa e filho (s), e tem como função básica promover socialização e educação, prover financeiramente seus membros, gerar proteção e afeto (Teodoro, 2012; Baptista, Cardoso, Gomes, 2012). Mesmo com diversas mudanças em sua constituição, a concepção ocidental tradicional de família limita-se ao entendimento das relações estabelecidas entre os pais, destes com as crianças e destas com os irmãos, estando associada à ideia de que os pais são um casal heterossexual e estão no primeiro casamento (Teodoro, 2012; Baptista, Cardoso, Gomes, 2012). Fonte: www.dvf.com.br 5 2 AS INTER- RELAÇÕES FAMILIARES2 Fonte: encenasaudemental.net Doron e Parot (2001) definem Família como um grupo de indivíduos unidos por laços transgeracionais e interdependentes quanto aos elementos fundamentais da vida. Pichon Rivière (1986) define a família como a estrutura social básica que se configura pelo entrejogo de papéis diferenciados (pai-mãe- filho) e depositado e depositário: afetos, fantasias e imagens (depositado), que cada pessoa (depositante), coloca sobre o outro (depositário). A família, enquanto unidade, é formada por um conjunto de pessoas, cada uma com sua dinâmica interna, configurando uma rede de relações, ou seja, um sistema familiar. Há a dinâmica interna das pessoas e a dinâmica da família, numa interdependência contínua. Em sua dinâmica como um todo, a família sofre influência direta do econômico e do cultural. Sabemos que não há uma definição única de família, não há um "modelo ideal", pois cada família tem sua especificidade e estabelece um código próprio (constituído de normas e regras). Cada indivíduo se apropria deste código e o usa. 2 Texto extraído do link: http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/904/1/tese.pdf 6 Cada um tem sua identidade, mas há uma organização interna à família. Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPS/OMS), a família desempenha as seguintes funções: Reprodução e regulação sexual - garantindo a perpetuação da espécie; Socialização e função educativa - transmitindo a cultura, valores e costumes através das gerações; Manutenção e produção de recursos de subsistência - determinando a divisão do trabalho de seus membros e condicionando a contribuição para a vida econômica da sociedade. Soifer (1982) considera que as funçõesbásicas da família podem ser cabem totalmente aos pais ao passo que corresponde às crianças a função de aprender. A aprendizagem se inicia no lar com atividades básicas nas quais a família ensina o respeito, o amor e a solidariedade, o essencial para a convivência humana, e social e para o equilíbrio dos impulsos de destruição internos e infantis (Soifer, 1982; Baltazar, 2004). A partir da entrada na escola fundamental, os filhos começam a trazer ensinamentos obtidos na escola, que transmitem aos pais. A partir da primeira juventude, a relação ensino-aprendizagem se equilibra entre pais e filhos, por partes iguais como é de praxe em todo relacionamento humano (Baltazar, 2004). A instituição família vem se modificando e se reestruturando de acordo com cada contexto histórico e apresentando até formas variadas numa mesma época e lugar, de acordo com o grupo social que está sendo advertido (Paiva, 2008). As relações dentro de uma família foram se modificando através do tempo. O ponto mais emblemático da família está ligado, sem dúvida, ao questionamento da posição das crianças como "propriedade" dos pais e a posição econômica das mulheres dentro da família. Faz parte também da discussão o questionamento da distribuição dos papéis ditos especificamente masculinos ou femininos (Paiva, 2008). A organização da família nuclear em 7 torno da criança, tendo a afeição como necessária entre os seus membros, tem o seu nascimento historicamente datado, na Europa, final do século XVII e início do XVIII (Ariès, 1986; Ponciano, 2002). A ideia de família nuclear, na sociedade ocidental moderna, passou a ter como principal característica a vida doméstica, refúgio emocional em uma sociedade competitiva e fria (Lasch, 1991; Ponciano, 2002). FAMÍLIA NUCLEAR Uma família tradicional é normalmente formada pelo pai e mãe, unidos por matrimônio ou união de fato, e por um ou mais filhos, compondo uma família nuclear ou elementar. FAMÍLIA AMPLIADA também chamada extensa ou consanguínea. É uma estrutura mais ampla, que consiste na família nuclear, mais os parentes diretos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. A família moderna nasce como o lugar privilegiado para o domínio da intimidade, sendo também o agente a quem a sociedade confia a tarefa da transmissão da cultura, consolidando-a na personalidade. Para Lasch (1991, p.25), fecha-se o círculo privado e psicológico na família nuclear (Ponciano, 2002). Um novo sentimento surgido entre os membros da família, principalmente inseparável daquele (Ponciano, 2002). Fonte: www.erasmobraga.com.br 8 As famílias contemporâneas guardam muitas nuances do que se pode caracterizar como modelo burguês de família: patriarcal, autoritário, monogâmico, primando pela privacidade, a domesticidade e os conflitos entre sexo e idade. Os modos de vida nas famílias contemporâneas vêm se modificando, ocorrendo novas configurações de gênero e gerações, onde se elaboram novos códigos, mas mantém-se certo substrato básico de gerações anteriores (Motta, 1998). Estas mudanças guardam relação com algumas tendências que emergiram na década de 1960 (Castells, 2006): (1) O crescimento de uma economia informacional global, (2) Mudanças tecnológicas no processo de reprodução da espécie e (3) O impulso promovido pelas lutas da mulher e pelo movimento feminista. Destacam-se ainda algumas tendências globais recentes, que refletem significativas transformações no âmbito familiar (Rizzini, 2001): As famílias tendem a ser menores; Fonte: www.dvf.com.br 9 Há menos mobilidade para as crianças, com redução do espaço de autonomia das crianças em locais urbanos; as famílias ficam menos tempo juntas, fato associado ao aumento significativo do número de integrantes da família que trabalham; as famílias tendem a ser menos estáveis socialmente, como exemplo temos o declínio das uniões formais, o aumento dos índices de divórcios e separações, assim como de novas uniões; A dinâmica dos papéis parentais e das relações de gênero está mudando intensamente. Homens e mulheres são chamados a desempenhar, cada vez mais, papéis e funções que sempre foram fortemente delimitados como sendo “dos pais” ou “das mães”. A tendência atual da família moderna é ser cada vez mais simétrica na distribuição dos papéis e obrigações, sujeita a transformações constantes, devendo ser, portanto, flexível para poder enfrentar e se adaptar às rápidas mudanças sociais inerentes ao momento histórico em que vivemos (Amazonas & cols., 2003; Pratta & Santos, 2007). A família possui um papel primordial no amadurecimento e desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos, apresentando algumas funções primordiais, as quais podem ser agrupadas em três categorias que estão intimamente relacionadas (Osório, 1996): Biológicas A função biológica principal da família é garantir a sobrevivência da espécie humana, fornecendo os cuidados necessários para que o bebê humano possa se desenvolver adequadamente (Pratta e Santos, 2007). Psicológicas Em relação às funções psicológicas, podem-se citar três grupos centrais (Osório, 1996; Pratta e Santos, 2007): 1. Proporcionar afeto, aspecto fundamental para garantira sobrevivência emocional do indivíduo; 10 2. Servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos seres humanos durante o seu desenvolvimento, auxiliando-os na superação das “crises vitais” pelas quais todos os seres humanos passam no decorrer do seu ciclo (exemplo: adolescência); 3- Criar um ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica que sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Sociais O cerne da função social da família está na transmissão da cultura de uma dada sociedade aos indivíduos (Osório, 1996), bem como na preparação dos seus membros para o exercício da cidadania (Amazonas e cols., 2003). É a partir do processo socializador que o indivíduo elabora sua identidade e sua subjetividade, adquirindo, no interior da família, os valores, as normas, as crenças, as ideias, os modelos e os padrões de comportamento necessários para a sua atuação na sociedade. As normas e os valores que introjetamos no interior da família permanecem conosco durante toda a vida, atuando como base para a tomada de decisões e atitudes que apresentamos no decorrer da fase adulta. Além disso, a família continua, mesmo na etapa adulta, a dar sentido às relações entre os indivíduos, funcionando como um espaço no qual as experiências vividas são elaboradas. As mudanças que ocorrem no mundo globalizado afetam a dinâmica familiar como um todo e, de forma particular, em cada família, considerando seus valores, história composição, cultura e pertencimento social. A partir da constituição da família como grupo social são estabelecidas as relações com a sociedade a que ela pertence. Os modos de vida das famílias contemporâneas vão se transformando, são criadas novas articulações de gênero e geracional, elaborando novos códigos e, ao mesmo tempo mantendo certo substrato básico de tradição. Como cada sociedade tem sua história e sua cultura, são diversas as formas de ser família, de criar os filhos, como também são diversos os costumes relativos ao matrimônio e aos papeis do homem e da mulher. 11 Kaslow (2001) cita nove tipos de composição familiar que podem ser consideradas “família”: 1- Família nuclear, incluindo duas gerações (pais–filhos), com filhos biológicos; 2- Famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações (pais – filhos – avós); 3- Famílias adotivas temporárias; 4- Famílias adotivas que podem ser bi raciais ou multiculturais; 5- Casais heterossexuais, 6- Famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7- Casais homossexuais com ou sem crianças;8- Famílias reconstituídas depois do divórcio; 9- Várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo. Os papeis familiares nem sempre cabem aos indivíduos que convencionalmente designamos como seus depositários. Desta forma, a figura materna poderá ser representada pela avó, tia e ou pai da criança; o que importa é que a criança sempre seja cuidada por alguém muito afetuoso, disposto e disponível. As relações nucleares relativizam-se diante das histórias das gerações anteriores. Quando falamos de família não podemos no limitar a pensarmos em termos de genitores e filhos, devemos sempre ter uma visão mais ampla que leve em consideração as gerações anteriores e as regras sociais próprias de cada época. O modelo nuclear continua presente, marcando, por exemplo, o desejo de casais homossexuais em terem filhos, assumindo papeis parentais e dividindo tarefas à semelhança de uma família conjugal. No que diz respeito às relações entre pais e filhos, esse padrão também se modificou, não sendo mais baseado na imposição da autoridade e sim na valorização de um relacionamento aberto dentro do contexto familiar, principalmente, no que se refere à convivência entre os membros da família. A família exerce o seu lugar de matriz de identidade. 12 Fonte: www.psicologiasdobrasil.com.br A funcionalidade familiar está intimamente relacionada com o processo saúde/doença. Uma família que funciona adequada ou inadequadamente pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde ou resistir ao seu efeito. Ao mesmo tempo, uma enfermidade ou problema de saúde pode afetar o funcionamento da família. A família é o primeiro espaço vital e arcabouço das produções humanas. Com sua genialidade alguns homens a notabiliza através de suas obras e produções, mas a família só efetua sua transcendência ao longo de sucessivas gerações, por sua encarnação mesma e suas repercussões no ciclo vital: acasalando-se, reproduzindo-se e quem sabe seguindo o seu destino com determinação e amor. A família é um organismo vivo que opera através de padrões transacionais (que passam de geração a geração), os quais, ao se repetirem, estabelecem como, quando e com quem entrar em relação. Todo sistema familiar possui regras que o determinam, definindo o que dela faz parte ou não, bem como definindo subsistemas tais como: subsistema conjugal, parental, fraterno ou dos irmãos, dos avós, tios e assim por diante. Esses limites ou fronteiras devem ser claros para que cada um saiba qual o seu papel ou função dentro da família, não interferindo indevidamente no papel do outro e tendo flexibilidade, para permitir o contato entre os membros do subsistema e os demais. 13 Autores de abordagem psicanalítica, tais como Freud, Soifer e Küpfer entre outros, salientam a importância em se perceber de que quando essas fronteiras de papéis não são respeitadas a família se torna disfuncional. A clareza dos limites ou fronteiras no interior de uma família é fator importantíssimo para o seu bom funcionamento. Nas famílias desligadas, os limites são muito rígidos, tornando a comunicação entre seus membros difícil. É como se predominasse um excesso de individualismo, no qual o comportamento dos membros não afetasse o comportamento dos demais. Como resultante frequente dessa disfuncionalidade, filhos adolescentes, carecendo de cuidados, começam a apresentar problemas em casa, na escola, uso abusivo de álcool, drogas e, se a família não responde, ajudando a corrigir o curso de sua vida, acabam por adotar uma vida sexual promíscua podendo, no caso das meninas, chegar a gravidez precoce. Outra situação de funcionamento problemático, devido à falta de clareza nas fronteiras familiares, acontece nas chamadas famílias aglutinadas. Estas famílias, ao contrário das anteriores, caracterizam-se por um emaranhamento, onde não existem diferenciações claras entre seus membros e onde o comportamento de um contagia e interfere de modo problemático na vida dos demais. Nessas famílias, qualquer movimento de diferenciação ou distanciamento do sistema familiar (casamento do filho, escolha de profissão, morar em outro lugar, grupo de amigos etc.) é vivenciado como extrema dificuldade, ou como uma traição geradora de chantagens e sentimentos de abandono e culpa. Fonte: psicologado.com.br 14 Diante de tantas influências, é natural que a família adoeça e, então, entre no chamado estado "disfuncional". Uma família disfuncional é aquela que responde às exigências internas e externas de mudança, padronizando seu funcionamento. Relaciona-se sempre da mesma maneira de forma rígida não permitindo possibilidade de alternativas. Podemos dizer que ocorre um bloqueio no processo de comunicação familiar. Por mais doentio que possa parecer, este comportamento tem que ser mantido nem que para isso seja eleito um membro para "ser" ou "ter" o problema. Os sintomas identificados no paciente constituem a expressão de uma disfunção familiar e tratar apenas do paciente identificado somente iria desfocar o problema, sem considerar as inter-relações que se estabelecem no grupo. 3 O PAPEL DA FAMÍLIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Fonte: pedagogiaaopedaletra.com 15 A Psicologia do Desenvolvimento Infantil está alicerçada na concepção filosófica acerca da necessidade imprescindível da família como organismo no qual nasce, cresce, evolui, amadurece e morre o ser humano. Para Soifer (1982, pág. 23); Família pode ser definida, como estrutura social básica, com entrejogo diferenciado de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado, em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual se vai desenvolvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a situação narcísica e transformar- se em um adulto capaz, a DEFESA DA VIDA é seu objetivo primordial. Para esta autora, as funções básicas da família podem ser sintetizadas em duas: ”ensino e aprendizagem”. Ainda, relata: Os primeiros anos de vida de ensino cabem totalmente aos pais, ao passo que corresponde às crianças a função de aprender. A partir da entrada na escola fundamental, os filhos começam a trazer ensinamentos obtidos na escola, que transmitem aos pais. Tal situação começa a se ampliar na escola secundária e através da frequência a outros ambientes, nos quais os adolescentes vão aprendendo noções relacionadas com o progresso científico. A partir da primeira juventude, a relação ensino-aprendizagem se equilibra entre pais e filhos, por partes iguais, como é de praxe em todo relacionamento humano. A aprendizagem se inicia no lar com atividades básicas nas quais a família ensina o respeito, o amor e a solidariedade, o básico para a convivência humana, e social e para o equilíbrio dos impulsos de destruição internos e infantis. Knobel (1992, págs. 20-21) descreve: No presente momento estamos assistindo a profundas mudanças na estrutura familiar e suas correlações internas e externas. Configura-se assim um “complexo” social, psicológico e biológico com variados e também complexos “subsistemas”. Na história da família observa-se que da família do tipo “tribal” (onde praticamente todos os parentes configuravam a família e que ainda se observa em alguns grupos culturais,) passou-se à família “extensa”, com os consanguíneos mais diretos. Depois passamos ao que se pode chamar de famílias “nucleares”, formadas só pelos pais, filhos e algum avô ou um outro familiar, até chegar atualmente à família “reduzida”, com uma precoce desvinculação dos filhos e a estruturação complementar do casal. 16 Knobel (1992) ressalta: Diversos problemas de saúde infanto-juvenil, de relacionamento conjugal, de vida sexual (impotência, frigidez etc.), de desavenças entre os pais e filhos e não poucos tipos de neuroses, condutasagressivas e até violentas, podem ter parte de sua origem nos conflitos dessa modalidade de vida familiar problemática Para Capelatto (1999), a família pode ser de extrema importância e suficiência para uma pessoa se realizar da maneira mais profunda, como pode também ser um foco destrutivo e mórbido de sua vida. Entendendo melhor: é no seio da relação com os pais (ou pelo menos com alguém que os represente) que uma criança nasce, cresce, vê o mundo e aprende a ser ela mesma, tendo, para isso, chances de ser cuidada por pessoas que deverão seguir algum caminho, instintivo, aprendido ou orientado, para ter sucesso na criação dessa criança. Sendo a única instituição afetiva que existe, e vivendo sem regras claras, a família sempre corre o risco de trazer para dentro de seu seio a mais rica e gostosa das relações, assim como pode trazer a relação mais triste e agressiva, pois é uma instituição puramente afetiva. Na ânsia de acertar, e recebendo informações de todos os tipos, às vezes contraditórios, os pais podem acabar errando no cuidado com seus queridos filhos, sem terem nenhuma intenção de errar. Revistas não especializadas, jornais, programas de TV não controlados e outros meios de comunicação podem levar informações desastrosas para pais e filhos. É comum ouvirmos falar do “egoísmo dos pais” em relação aos filhos, quando, na verdade, esses pais querem apenas impor limites aos filhos. Por isso, a família é o “lugar” de brigas de seus membros, de seus gritos e dos seus amores. Uma família sadia sempre tem momentos de grata e prazerosa emoção alternados com momentos de tristeza, discussões e desentendimentos. Mas, é na própria família que essas reparações podem ser feitas, através do entendimento, do perdão tão necessário e da aprendizagem de como todos devem se preparar adequadamente para cuidar dos próprios filhos, os quais serão frutos de uma união baseada na escolha afetiva de cada um dos cônjuges. Entretanto, como a família é uma instituição afetiva e não uma instituição empresarial, as divergências imediatamente surgem; as diferenças de 17 personalidade promovem atritos e discussões entre os parceiros, pois nem sempre o desejo de um é necessariamente o desejo do outro. A esse conflito vamos chamar de “crise”. Uma crise é um conflito de poder, no qual os envolvidos disputam, de uma maneira desgastante e muitas vezes agressiva, uma espécie de jogo de “quem pode-mais”. Nesse jogo, as individualidades são maiores do que o próprio problema que gerou a crise. Por mais que os pais se esforcem, seus filhos terão sua própria personalidade, temperada com elementos da genética, da criação e das relações com as outras pessoas que passarão por suas vidas. Por mais que que os pais queiram ser idênticos, histórias de criação e de valores diferentes acompanham o marido e a mulher o tempo todo. Assim, uma parceria deve ser um conjunto de paciência, de desejos de fazer sempre o melhor, e um esforço consciente bastante elevado para aceitar a condição que rege as crises na humanidade: a diferença que existe entre as pessoas. Mas, apesar das diferenças que existem entre os indivíduos, as parcerias sempre deverão existir entre pessoas que cuidam de um terceiro, pois só assim o cuidado poderá ser feito com um ingrediente fundamental: o limite. Sempre que um casal deseja ter filhos, pensa na possibilidade dessa criança ser feliz, ter uma boa infância, crescer e estudar e, no futuro, ter um bom emprego, um bom salário e uma vida sem dificuldades. Esse é também o desejo dos pais de hoje, que não sabem como realizá-lo em face dos números e desgastantes problemas que temos enfrentado no dia-a-dia. Um filho é um ser que nasce de um desejo (o desejo de ter um filho) e esse desejo tem que ser constantemente lembrado pelos pais. É como pensar: ”esse sujeito é meu filho, pertence e sempre vai pertencer ao meu desejo, e só vai se libertar dessa algema quando ele tiver construído seu próprio desejo” (CAPELATTO, 1999). Winnicott (1989), nos fala da importância dos pais no desenvolvimento salutar do bebê, enfatizando principalmente a mãe, como primeira cuidadora, que, por sua vez, também precisa ser cuidada, ou seja, ter condições adequadas para dar suporte ao filho. Holding é o termo empregado por Winnicott (1993) para descrever uma conduta emocional da mãe a respeito de seu filho. Ao redor dos êxitos e fracassos deste holding situam-se os diferentes graus de perturbação psíquica. Este entender é reiterado por Soifer (1983) que, ao estudar a família, 18 ressalta a importância da correta função dos genitores, principalmente no que se refere ao seu papel de autoridade; que está presente impondo limites, dando noção de realidade, ajudando na contenção dos impulsos destrutivos e da discriminação entre fantasia e realidade. Este entender é reiterado por Soifer (1983) que, ao estudar a família, ressalta a importância da correta função dos genitores, principalmente no que se refere ao seu papel de autoridade; que está presente impondo limites, dando noção de realidade, ajudando na contenção dos impulsos destrutivos e da discriminação entre fantasia e realidade. Fonte: https://www.crepuit.xyz Knobel (1992), fala sobre a responsabilidade dos pais: não é possível substituir ou delegar papéis familiares. É necessário lutar para que eles sejam mais adequados e assumam as responsabilidades tanto familiares como sociais. A criança necessita de seu grupo familiar para sobreviver, desenvolver todas as etapas de crescimento e adquirir diversas habilidades. A coexistência psíquica dos instintos de vida e de morte, e o fato de que ambos se expressam através da fantasia, enquanto os atos vão explorando a realidade e delineando entre aquilo que leva à morte e aquilo que mantém a vida. 19 A criança em desenvolvimento tem a necessidade através de suas relações com seus genitores, de se ver confirmada pelo que faz, pelo seu desempenho e suas aquisições, em seu cotidiano. No que se refere à função dos genitores, Soifer relata e enfatiza a coexistência de duas imagos, a paterna e a materna. Cabe a eles a função de ensinar os filhos, ambos demonstrando certa autoridade, impondo limites para que estes possam crescer de forma salutar e saber que podem contar com estas figuras parentais (ibid., pág. 28). Estudiosos, como Sptiz (1970) e Bowlby (1981), salientam a importância dos cuidados maternos para o desenvolvimento psicológico pleno dos filhos. Os cuidados maternos se referem a um “cuidador”, e não apenas, aos cuidados de uma mãe. Klein (1973) aborda a questão do planejamento para a estabilidade emocional da criança, enfatizando os cuidados necessários da mãe e da família no desenvolvimento da criança. Em famílias nas quais onde o processo de desenvolvimento é vivenciado como ameaçador, os padrões de interação e as funções individuais tornam-se, aos poucos, enrijecidos até que, finalmente, a patologia da criança se instala (ANDOLFI et alii, 1984). Reitera Phillipi (1994, pág. 3), parafraseando Freud em Inibição, Sintoma e Angústia: O desamparo dos primeiros momentos da existência humana é elaborado com referência de figuras protetoras que suprem por assim dizer, carências instintuais do sujeito. Esses objetos amorosos “barrados” pela interposição da Lei subsistem, contudo, no imaginário individual, orientando a procura 29 impossível de algo irremediavelmente perdido (in BARROS, 2001, vol.2, pág. 44) Os papéis familiares nem sempre cabem aos indivíduos que convencionalmente designamos como seus depositários. Desta forma, a figura materna poderá ser representada pela avó, tia e ou o pai da criança; o que importa é que a criança sempre seja cuidada por alguém muito afetuoso, disposto e disponível. 20 4 A FAMÍLIA E AS ORIGENS DO SINTOMA Fonte: www.boavontade.com O estudo da família e sua importânciana estruturação de sintomas em seus membros têm sido abordados por vários estudiosos que acreditam que as condições nas quais ocorre o desenvolvimento da criança determinam uma intrincada série de relações intersubjetivas, estruturadoras de redes de fantasias e de significados que só podem ser corretamente avaliadas se incluídas em uma psicodinâmica familiar. Os pais transmitem a seus filhos seus conhecimentos, de acordo com as possibilidades psicológicas reais que possuem, determinadas pelos respectivos traços de caráter, e estes por sua vez configuram a cultura e a ideologia da família. Os filhos incorporam esses ensinamentos também segundo as variantes impressas em sua personalidade pelos acontecimentos que lhes cabe vivenciar e de conformidade com os mecanismos de defesa que vão elaborando a partir das séries complementares, em que tem um peso considerável o modelo recebido de seus progenitores neste sentido. Pensarmos que também a família pode então tornar-se o núcleo das enfermidades e sintomas em crianças e adolescentes, Soifer (1992) relata que a enfermidade da criança, ou seja, seu papel de “bode expiatório” representa uma aprendizagem, que seus progenitores não puderam completar no momento evolutivo correspondente. http://www.boavontade.com/ 21 Fonte: amenteemaravilhosa.com.br Pichon – Rivière (1986) define a família como a estrutura social básica que se configura pelo entrejogo de papéis diferenciados (pai-mãe-filho) e explica o mecanismo de “depositação” do entrejogo entre depositante, depositado e depositário: afetos, fantasias e imagens (depositado), que cada pessoa (depositante), coloca sobre o outro (depositário). Soifer (1983) aponta a incidência do papel da família na enfermidade da criança, concluindo que é difícil classificar um único membro como doente em uma família e propondo-se a estudar o entrejogo das relações familiares e sua significação para o aparecimento da “doença” em um paciente identificado. Na complexa relação do indivíduo e sua família, nesta extensa identificação, relação de aprendizagem afetiva, o indivíduo irá registrar uma gama de sentimentos inconscientes e desconhecidos que podem ter efeitos prejudiciais e inibidores, que guardam segredos e mitos de família. Para Pincus & Dare (1987): Os segredos podem pertencer a um membro da família; ou, tacitamente, compartilhados com outros, ou, inconscientemente, endossados por todos os membros da família, frequentemente de geração para geração, até se tornarem um mito. Os referidos autores acima ainda descrevem: 22 Quando falamos de segredos de família, fazemos uma distinção entre aqueles que são reconhecidos como fatos reais por um membro da família que os esconde dos demais, e aqueles que não tem base real, mas surgem de fantasias. Pois mesmo sem a presença dos fatos reais guardados em segredo, os sentimentos provenientes do tempo em que ciúme, rivalidade, amor e ódio tinham que ser encarados na família podem produzir fantasias, as quais, por não poderem ser expressas, tornam-se segredos. Tais segredos podem ser inconscientemente partilhados por pais e filhos através de gerações e muitas vezes não são facilmente distinguidos do mito familiar. Destes conceitos, desenvolveu-se a ideia do “bode expiatório" como a pessoa sobre a qual convergem as "depositasses“ da família. Este ”bode expiatório” constitui-se o porta-voz da enfermidade familiar. Sob este prisma, a necessidade de realizar um diagnóstico familiar torna-se proeminente. Para entendermos uma dinâmica familiar e a rede de fantasias que nela se estrutura, é preciso ter em mente quais são as dificuldades internas que um indivíduo terá que vivenciar ao constituir uma família, conceber uma criança e cuidar do seu desenvolvimento. Em Análise da Fobia de um Menino de Cinco Anos (1909), Freud nos mostra a importância e nos orientou que as atitudes dos pais, conscientes ou inconscientes, podem significar na formação de um sintoma na criança. A análise deste caso nos ensina como os sintomas do pequeno Hans foram interpretados como resultante de conflitos edípicos não resolvidos de seus pais. Além de sua própria situação edípica, ele deveria estruturar-se defensivamente também em relação aos conflitos parentais sobre ele projetados (FREUD, 1969). Zorning (2001) aborda o fato de como o entrelaçamento do sintoma da criança as fantasias parentais coloca o psicanalista e/ou psicólogo em uma posição de ouvir diferentes demandas e discursos sobre a criança para poder intervir como um elemento separador, permitindo um deslocamento entre a demanda dos pais e o sintoma da criança. Poderíamos dizer que esta prática é marcada pela posição de dependência estrutural da criança diante de seus cuidadores fundamentais, fazendo com que a desconsideração deste “nó sintomático” possa inviabilizar o tratamento da criança. 23 Para Manonni (1967), Dolto (1989) e Vanier (1993), a neurose dos pais tem um papel fundamental na eclosão dos sintomas da criança, pois esta fixa sua existência num lugar determinado pelos pais em seu sistema de fantasias e desejos. A criança procura responder ao enigma dos significantes obscuros propostos pelos adultos identifica-se ao que julga ser objeto do desejo materno, tentando preencher a falta estrutural do Outro e evitar a angústia de castração (ZORNING, 2001). Fonte: santuariosenhorbomjesus.com.br Freud (1909), na Análise de uma fobia de um menino de 5 anos (Caso do Pequeno Hans), pós-escrito em 1922, reforça a ideia de que, ao indicar que, em função da especificidade da criança, ou seja, do fato de os pais, na realidade exercerem uma forte influência sobre ela, é necessário combinar o tratamento psicanalítico da criança com algum trabalho efetuado com os pais, sob o risco de a análise se tornar inviável pela resistência exercida pelos pais (FREUD, 1969). 24 5 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NO SISTEMA FAMILIAR Fonte: esperanca.com.br Neste último ponto pretende-se evidenciar a importância da comunicação como expressão caracterizadora do sistema familiar e como fator determinante das relações familiares subjacentes no processo. É fundamental considerar o mecanismo de feedback, isto é, mecanismo de retorno ao ponto de origem da resposta do destinatário da informação, o que tem como consequência manter ou alterar o conteúdo da comunicação por parte do emissor (Amado, 2006: 35). Neste sistema de comunicação podemos admitir que pode não haver coincidência entre o conteúdo da comunicação (mensagem) emitido pela fonte da comunicação e a mensagem percepcionada pelo destinatário da comunicação. Isto deve-se a barreiras e obstáculos à comunicação, dificultando a compreensão do processo familiar, contribuindo por vezes para a instabilidade e o desequilíbrio do sistema. A comunicação entre todos os membros é importante entre todos os membros da família, torna-se ainda mais relevante na relação progenitor filho porque a influência principal na vida moral dos filhos é essencialmente exercida pelos pais, sobretudo das crianças mais novas (Weissbourd, 2010). Estes bloqueios podem ser provenientes das competências comunicadoras do emissor e do receptor, no que se refere à forma como 25 codificam e descodificam as mensagens, bem como à sua capacidade de raciocinar sobre os conteúdos das mesmas. A família é, então, um espaço privilegiado para a elaboração e aprendizagens de dimensões significativas de interação e comunicação onde as emoções e afetos positivos ou negativos vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de pertencermos àquela e não a outra família. Assim, o processo de comunicação na família sendo um sistema interativo onde o comportamento de cada indivíduo é fator e produto do comportamento dos outros, os resultados finais dependem menos das condições iniciais e mais do processocomunicativo. A família passa por um processo de desenvolvimento, o qual engloba a diferenciação estrutural – mudanças na organização relacional – e a co - evolução – transformações relacionadas com a comunicação. Ora durante este processo comunicativo há elementos que continuam e que dão consistência às relações, mas há também elementos que se transformam e dão origem a mudanças, sendo que no decurso das interações não há processos unilaterais, as relações são sempre bilaterais ou múltiplas. A comunicação apresenta-se como fator determinante para facilitar as relações entre os membros da família e o meio social. Fonte: porvir.org 26 Este exercício de comunicar estabelece uma relação, e, nesse sentido exige treino, reflexão, aprendizagem, prática e sobretudo uma série de atitudes e comportamentos que envolvem as palavras, o sentido compreensivo e lógico da estrutura, mas também os gestos, toda a linguagem do corpo. Estamos perante um conceito transdisciplinar que traz valor acrescentado essencialmente às Ciências Sociais e Humanas. Neste contexto, depreendemos que comunicar subentende relação, promove capacidade de expressão que, para além de quebrar a solidão, é ligação a outrem, é satisfação das necessidades de ordem intelectual, afetiva, moral e social, constituindo uma componente essencial da vida de cada um em particular e em geral de todo o sistema familiar. Se considerarmos o indivíduo como um sistema individual auto organizado, o mesmo é dizer que se constrói na relação que estabelece com os outros. Visto que a relação caracteriza e expressa o sistema familiar, os sujeitos que dele fazem parte encontram-se num processo de comunicação constante, ao qual não podem subtrair-se. Com efeito, podemos dizer que na relação familiar, os membros que interagem se situam num plano sistêmico e interativo de comunicação o indivíduo está permanentemente a fazer trocas entre o sistema familiar e o meio que o envolve cultural e socialmente, neste caso a família e a sociedade. Desta forma, o processo de comunicação no sistema familiar conduz o indivíduo à adaptação social, caso contrário a relação familiar torna-se insustentável e a possibilidade do fracasso da sua integração no sistema familiar e no sistema social pode acontecer. O sistema familiar pode facilitar as trocas adaptativas ajustando as mudanças que se dão no meio ambiente. A comunicação torna-se assim parte integrante do indivíduo na família e na sociedade. Como a família é a primeira instituição a facultar as relações o modo como nela se desenvolve os processos de comunicação determinará o maior ou menor sucesso do desenvolvimento pessoal e social dos seus membros e, consequentemente, a integração na sociedade. 27 6 ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA Fonte: blogdovalterdesiderio.blogspot.com A adolescência se constitui como sendo uma fase de transição do indivíduo, da infância para a fase adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma condição de autonomia pessoal e de uma condição de necessidade de controle externo para o autocontrole, sendo marcado por mudanças evolutivas rápidas e intensas nos sistemas biológicos, psicológicos e sociais. Nesse período evolutivo, crucial para o desenvolvimento do indivíduo, culmina todo o seu processo de maturação biopsicossocial, ocorrendo a aquisição da imagem corporal definitiva, bem como a estruturação final da personalidade. Em nossa sociedade no geral, adolescência se caracteriza por uma condição que não é mais a de criança, mas nem deve ser ainda a do adulto. É a condição de adolescente, selada pela provisoriedade. A construção psicológica do adolescente tem em conta a sua história pessoal, bem como suas novas competências sexuais, cognitivas e sociais. A 28 história familiar do adolescente não se inicia na adolescência, estando presente mesmo antes da infância, durante a gravidez planejada ou não. Na dependência das características da família é que vão surgir determinadas características do adolescente, considerando – se estas não só no nível interno do adolescente, mas também no nível de seu relacionamento com o meio externo. Em uma perspectiva sistêmica, a adolescência é compreendida como uma fase do ciclo de vida familiar, um evento previsível que apresenta grande impacto na vida familiar e apresenta tarefas particulares que envolvem todos os membros da família. É importante compreender o conjunto familiar, o que acontece com as unidades inter-relacionadas e facilitar a construção de um pensado pessoal crítico, que implique numa responsabilidade pessoal pela escolha dos rumos vividos. A adolescência favorece as condições necessárias para a emergência de uma série de problemas e conflitos dentro do contexto familiar, acentuando –se a frequência das brigas disputas entre pais e filhos durante este período, uma vez que a necessidade de negociação constante, inerente a esta etapa, aumenta o potencial de conflitos entre as gerações. Esse período tem sido descrito desde Anna Freud como conflitivo; como crise de identidade por Erickson e tem a denominação universal de tempestade e estresse. As características do desenvolvimento psicossocial que ocorrem paralelamente às modificações do corpo são agrupadas no que Maurício Knobel denominou síndrome normal da adolescência. A adolescência é assim um conceito relativo a um processo e o adolescente é o sujeito que está vivenciando esse processo. Denomina-se síndrome normal da adolescência o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam esta fase da vida que são: Busca de si e da identidade Tendência grupal Necessidade de fantasiar e intelectualizar Crises religiosas 29 Deslocamento temporal Evolução sexual do autoerotismo até a heterossexualidade Atitude social reivindicatória Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta Separação progressiva dos pais Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo; Como consequência, a adolescência afeta o ciclo vital familiar e seu estilo de vida mais do que qualquer outra fase da vida, pois desestabiliza o sistema e provoca novos ajustes para manter as relações e a saúde mental de seus membros. Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um todo parece adolescer. Os pais vivenciam sentimentos variados em decorrência da adolescência de seus filhos e as respostas que são capazes de dar aos adolescentes estão condicionadas à forma pela qual os mesmos resolveram o seu processo adolescente, ao nível de integração que têm como casal e a sua capacidade de adaptação às redefinições que esta situação implica. O estresse e a tensão normais provocados na família por um adolescente são exacerbados quando os pais sentem uma profunda insatisfação e são compelidos a fazer mudança em si mesmos. O que muitas vezes se cria é um campo de demandas conflitantes, em que o estresse parece ser transmitido para cima e para baixo entre as gerações. Por serem tão intensas, as demandas adolescentes por maior autonomia e independência frequentemente precipitam mudanças no relacionamento entre as gerações, fazendo aflorar conflitos não resolvidos entre pais e avós (dos adolescentes), em sua infância ou adolescência. O conflito entre os pais e os avós pode ter efeito negativo sobre o relacionamento entre os pais e os adolescentes. O impasse também pode ocorrer em direção oposta: um conflito entre os pais e o adolescente pode afetar o relacionamento conjugal, o que acaba prejudicando o relacionamento entre os pais e os avós. Os pais além de reavaliar e analisar a própria adolescência, bem como os pais de seu período adolescente, enfrentam novos estágios de seu ciclo vital, 30 aparecendo então novas preocupações: a perda do corpo jovem e a aproximação da aposentadoria e velhice. Duranteesse período, as famílias também estão se ajustando a novas demandas de seus membros, que estão entrando em novos estágios do ciclo de vida. Os pais enfrentam questões maiores, como a “crise do meio da vida” de um ou ambos os cônjuges, com exploração das satisfações e insatisfações pessoais, profissionais e conjugais, ao mesmo tempo em que os avós passam pelas experiências da aposentadoria e possíveis mudanças, como doença e morte. Os pais podem ter de se transformar em cuidadores de seus próprios pais ou ajudá-los a integrar as perdas da velhice. Com o rápido crescimento físico e a maturação sexual durante a puberdade são acelerados os movimentos que buscam solidificar uma identidade e estabelecer a autonomia em relação à família. Para muitos pais, a percepção de que o filho está se tornando adolescente só acontece ao se darem conta das modificações corporais ocorridas com o filho. O desenvolvimento psicossocial não é considerado. Há muitas queixas associadas aos comportamentos dos filhos porque estes não são entendidos como característicos da adolescência, mas sim percebidos como má criação dos filhos (comportamentos não aprovados). Muito frequentes são as queixas quanto à instabilidade de comportamento, indisciplina, rebeldia dos filhos. O adolescente tentando descobrir novas direções e formas de vida, desafia e questiona a ordem familiar até então estabelecida. A ambivalência independência / dependência vivenciada por ele cria tensão e instabilidade nas relações familiares, o que frequentemente leva a conflitos intensos que podem tornar-se crônicos. Os filhos lutam pela independência de modo ambivalente, pois ao exigirem a independência de seus filhos com relação a eles mesmos, também o fazem de modo ambíguo, comportando – se como bloqueadores da independência dos filhos. Os pais muitas vezes tentam puxar as rédeas ou retrair-se emocionalmente para evitar novos conflitos. Os adolescentes, por outro lado, no esforço para abrir seu próprio caminho, recorrem a ataques de raiva, se retraem 31 emocionalmente por trás de portas fechadas, buscam apoio nos avós e/ou apresentam intermináveis exemplos de amigos que têm mais liberdade. O adolescente quer independência, mas também quer e precisa de limites. Por outro lado, há muitos pais que compreendem a adolescência como um processo na vida do filho, agindo como facilitadores da vivência deste processo, ou seja, mantendo postura de diálogo, de abertura para com o filho. Muitos pais atuam com rigidez intensa frente a seus filhos, gerando conflitos. Outros atuam com permissividade extrema, deixando de orientar o filho num momento tão importante de estruturação da personalidade. Na adolescência, a evolução da dependência absoluta da infância à autonomia adulta pode ser um momento doloroso para pais e filhos. Muitas vezes, os pais sentem um vazio quando os adolescentes se tornam mais independentes, pois percebem que não são mais necessários como antes, e dessa forma, sentimento de perda (perda da criança) e medo de abandono podem ocorrer. Às vezes os pais, incapazes em lidar com a perda da dependência do filho, podem apresentar – se depressivos. Da mesma maneira, o adolescente precisa lidar com a perda do eu infantil e da família como fonte primária de afeto. A perda desse primeiro vínculo romântico também pode desencadear a depressão no adolescente. Esse duplo movimento de luto do qual participam pais e filhos foi denominado por Stone e Church como síndrome da ambivalência dual. A adolescência exige mudanças estruturais e renegociação de papeis na família. De unidades que protegem e nutrem os filhos, as famílias passam a ser o centro de preparação para a entrada do adolescente no universo das responsabilidades e dos compromissos do mundo adulto. A família constitui fronteiras mais flexíveis, permitindo aos adolescentes se aproximarem e serem dependentes nos momentos em que não conseguem manejar suas vidas sozinhos, e se afastarem e experimentaremos desafios, com graus crescentes da independência, quando estão prontos, exigindo esforços especiais de todos os membros da família. Para viver satisfatoriamente essa etapa da vida o adolescente deve cumprir aquilo que Erickson chama de tarefas do desenvolvimento: 32 Conhecer a si mesmo; Adotar um papel sexual; Conseguir autonomia diante da família; Definir- se vocacionalmente; Atingir relações interpessoais autônomas para consolidar sua identidade. Na tentativa de diminuir os conflitos gerados nesse período, muitas famílias continuam em busca de soluções que costumavam funcionar em estágios anteriores, entretanto, a flexibilidade é a chave do sucesso paras as famílias nesse estágio. Por exemplo, flexibilizar mais as fronteiras familiares e modular a autoridade parental permite maior independência e desenvolvimento aos adolescentes. Fonte: mdemulher.abril.com.br 33 7 A CRIANÇA E A SEPARAÇÃO DOS PAIS Fonte: soumamae.com.br Separações afetam a todos. A perda de uma vida compartilhada e ter que desistir da ideia de um futuro em conjunto para a família é na maior parte das vezes doloroso. A maioria das pessoas consegue se ajustar à nova condição, mas este pode ser um longo caminho, com momentos em que não se consegue ver como as coisas ficarão. Françoise Dolto, psicanalista e pediatra francesa, propôs que o método de trabalho usado com crianças deveria consistir em praticar uma escuta capaz de traduzir a linguagem infantil. Segundo Dolto, o psicanalista deveria usar as mesmas palavras que a criança e comunicar-lhe seus próprios pensamentos sob o aspecto real. A obra “Quando os pais se separam”, trata-se de uma entrevista com Dolto. Ela revela o que ocorre com pais/filhos antes, durante e após a separação na realidade da França. Mostra que os pais devem explicar aos filhos o motivo da separação e que os conflitos existentes não mudam a maternidade/ paternidade. O divórcio para Dolto traz libertação da atmosfera de discórdia e parece trazer solução para os filhos independentemente da idade. 34 Dolto utiliza o termo Díade (mãe/filho) e não descarta a triangulação pai- mãe-filho. A mãe tem capacidade de ser bivocal e bicefálica, mas precisa ser estruturada pelo pai enquanto mãe/bebê, devido à possibilidade de regressão. O pai tem lugar marcante e deve ser valorizado pela mãe diante do filho. Em caso de separação, há muita dor que precisa ser elaborada seja pelos pais, avós, professores e psicólogos. Cada criança vai viver a ruptura propiciada de três formas: no corpo (psicossomática, na afetividade e no social. A criança menor que 5 anos pode sofrer indiferenciação nessas três áreas, pior será com a separação dos irmãos. Ex de psicossoma: na hora de sair com o visitante (pai) a criança poderá ter dor de barriga. A mãe poderá interpretar que ela não gosta de sair com o pai, mas a criança está sofrendo com a trama familiar. Dolto chama de genitor contínuo aquele que se encarrega da guarda, genitor descontínuo aquele que visita e supre. De qualquer forma, é importante para a criança a valorização dos dois genitores. Evitar julgamentos ou levar a criança a julgar para não interferir na sua construção. Os pais ambivalentes: ama/não amam; querem não querem, levam a dissociação de sentimentos. Dolto faz a seguinte consideração acerca de filhos de pais separados: “A verdadeira solução é os pais, responsáveis pela vida de uma criança, continuarem a entender-se para que essa criança viva a fase entre esses dois progenitores, se possível, e possa estar a par da sua situação; para que saiba que seus pais embora divorciados, se sentem ambos responsáveis por ela”. Dolto considera ser essencial que os filhos sejam avisados a respeito do divórcio. A criança deve ouvir palavras claras acerca das decisões tomadas por seus pais e homologadas pelojuiz ou por este imposta aos pais”. Quando isso não acontece, o silêncio em torno do divórcio pode provocar o sofrimento psíquico, uma vez que muitas crianças e adolescentes sentem –se culpados pelo divórcio dos pais, em razão das complicações de encargos e responsabilidades que sua existência faz pesar sobre ambos os pais. É importante que a criança tenha a certeza de que os pais estão anulando apenas o vínculo que existia enquanto casal e que não deixaram de amá-la, uma vez que ela tem a necessidade de ser protegida e amada por ambos os pais. 35 Quando pequena a criança não consegue suportar a guarda alternada sem ficar solta na sua estrutura, até eventualmente dissociar –se, conforme a sensibilidade de cada um. Dolto costumava nomear estas crianças de “filhos- joguetes” e relata que ao longo de alguns anos foram sendo constatados inúmeros casos de incidentes graves e tentativas de suicídio entre crianças e adolescentes e por isso a guarda alternada foi proibida na França, nos anos 80. A mais utilizada até hoje, tanto na França como nos Estados Unidos é a guarda compartilhada. Para a psicanalista é importante que os pais preparem a criança para a separação, falando sobre as dificuldades de relacionamento e a forma em que estão pensando para resolver estes conflitos. A criança possui radares ultrassensíveis para detectar os estados emocionais dos pais, quando estes não são verbalizados, a angústia e a insegurança geradas na criança podem ser desorganizadores. Muitos pais não conseguem falar claramente com a criança acerca desses assuntos e inventam mentiras. Sobre este assunto, Dolto relata que o problema não está em a criança saber a verdade, mas da “mentira” que o adulto inventa para ela; aparecendo a “mentira” no sintoma, de forma presente. Portanto, o que lhe faz mal não é tanto a situação real quanto aquilo que, não foi claramente verbalizado. É o não-dito que assume aqui um relevo. (Dolto,2011). A separação dos pais pode ser causadora de angústia na criança, porém esta pode ser acentuada se os pais hesitarem em falar a verdade. Porém, a separação pode ser elaborada pela criança se ela tiver uma boa identificação narcísica. Isto é, quando ela consegue existir além do olhar do Outro. Sendo esta identificação narcísica a imagem que o sujeito fez de si mesmo baseado no modelo de outro sujeito, e que consiste na formação de sua subjetividade. Inicialmente os pais, ou as pessoas que representam essa função, são os primeiros e principais referenciais da criança e tudo que se refere a eles atinge-a efetivamente. Uma criança quer se identificar com o adulto porque este representa na sua idade adulta. Não é o adulto que ela imita; ela corre atrás de uma imagem acabada de si mesma, sob a forma daquele modelo e, felizmente, muda de modelo ao longo da vida, mas no começo são os pais”. (Dolto, 1999, p.47-48) 36 A criança é marcada pelo desejo do Outro antes mesmo de nascer, pois as representações e as fantasias dos pais refletem na vida da criança. Diz Dolto: “ Cada ser humano é marcado pela relação real que tem com o pai e a mãe, do a priori simbólico que herda no instante do seu nascimento, antes mesmo de ter aberto os olhos” (Dolto in Mannoni, 2004). Os pais são as primeiras referências da criança e tudo que fazem, reflete na vida da criança e isso não é necessariamente bom ou ruim, é estruturante. Portanto, não são os pais que tornam uma criança “boa” ou “má”, são as percepções dela acerca das pessoas que exercem a função de mãe e/ou pai, e por meio de sua realidade psíquica que ela vai desenvolver seus conceitos, seus desejos e seus sintomas de maneira única. Fonte: 4daddy.com.br 37 8 PARENTALIDADE PÓS – DIVÓRCIO Fonte:casadospoetasedapoesia.ning.com Sabemos que atualmente o vínculo conjugal não é mais indissolúvel, no entanto, o vínculo parental é para sempre. Assim, por mais que existam ex- maridos e ex - esposas, jamais existirão ex – pai e ex –mãe. Observa –se que uma das grandes dificuldades no divórcio é a diferenciação entre a conjugalidade (ser marido e mulher) e a parentalidade (ser pai e mãe). Nesse caso, a parentalidade, que implica numa série de responsabilidades essenciais para os filhos, precisa ser remodelada e adequada ao contexto de separação conjugal. Em geral a redefinição do envolvimento emocional pós – divórcio entre os dois indivíduos que compunham o casal é um processo longo, permeado por falhas nas fronteiras do relacionamento marido/ mulher – pai / mãe e também por conflitos que surgem no contexto da separação. Na década de 1970 surgiu na literatura o termo “coparentalidade” para designar, inicialmente, os aspectos de cuidado dos filhos na situação de divórcio, incluindo o nível de interação que os ex-cônjuges relatam ter um com o outro nas decisões relativas à vida dos seus filhos. A coparentalidade diz respeito ao interjogo de papeis relativos ao cuidado global da criança, incluindo valores, ideais e expectativas que são dirigidas a ela, numa responsabilidade conjunta pelo seu bem-estar. 38 O exercício da coparentalidade exige a presença de dois adultos envolvidos, com senso de responsabilidade por seus filhos de forma equitativa. A classificação sobre o relacionamento coparental pode ser agrupada em três padrões: Padrão desengajado – os pais raramente conversam, não procuram manter uma combinação de regras ou atividades, educando os filhos de forma paralela. Eles têm pouco ou nenhum contato e o nível de conflito é baixo, pois cada um educa conforme seu estilo. Padrão cooperativo – os pais procuram isolar seus conflitos conjugais ou interpessoais de suas funções parentais. Discutem planos para os filhos ou problemas que eles possam estar enfrentando, procurando cooperar e apoiar um ao outro. Padrão conflitante – o nível de conflito é alto e ativo, existem baixos níveis de cooperação e prejuízos no domínio parental. Os pais discutem e utilizam –se de ameaças e boicotes envolvendo os filhos. Observa-se a existência de quatro dimensões gerais da coparentalidade, que aparecem frequentemente nas pesquisas da área: Quantidade ou nível de conflito em relação às questões conjugais- alto, médio, baixo; Cooperação em relação ao outro progenitor – afirmação, respeito, apoio às decisões e à autoridade parental, valorização, divisão de deveres, tarefas e responsabilidades; Triangulação- aliança com os filhos para boicotar ou excluir o outro progenitor; Divergências em questões e valores concernentes à criação da criança – valores morais, prioridades, padrões educacionais. Frequentemente, pais e mães, divorciados ou não, encontram dificuldades em manter a cooperação e a coerência no relacionamento coparental. Essa dificuldade é inerente à tarefa educativa, pois cada membro do casal traz sua própria herança e princípios de educação, que nem sempre são compatíveis com a do seu cônjuge ou ex-cônjuge. 39 Compartilhar o cuidado dos filhos após o divórcio não é algo de simples execução; no entanto, tal empreendimento tem maiores chances de dar certo quando os envolvidos na situação conseguem manter fronteiras nítidas entre os vínculos conjugais e os parentais. A família é um sistema que opera através de padrões transacionais, isto é, padrões de funcionamento que são constantemente ativados quando algum membro do sistema está em interação com outro. A partir dessas interações são estabelecidos padrões, determinados papéis e é instaurada a previsibilidade. De acordo com a teoria da aprendizagem social, que se baseia no princípio da modelação, o contato social é por si só produtor de conhecimentos e aprendizagem, uma vez que a criança tende a imitar o comportamento do adulto que ela toma como modelo. Cabe aos pais ensinar seus filhos os valores éticos e culturais, regras,papéis, crenças que um dia eles mesmos aprenderam de seus respectivos pais, transmitindo uma herança familiar que perpassa gerações. A esse ensinamento de pais para filhos dá se o nome de transmissão geracional, transgeracionalidade ou intergeracionalidade. A maneira como os pais ensinam seus filhos a passar por momentos de crise, por exemplo, não depende somente da família nuclear, mas dos legados familiares deixados pelas gerações passadas. A partir da dinâmica intergeracional, ou seja da transmissão não formal de padrões de comportamento entre gerações, a família proporciona aos seus membros, tal como os pais proporcionam aos filhos, tanto conhecimentos individuais quanto diversas possibilidades de socialização coletiva. A transmissão geracional é percebida de acordo com a repetição de padrões de comportamento entre uma geração e outra, incluindo as heranças não materiais, como valores, mitos, expectativas e modos de relacionamento. No entanto, o papel dos pais não se restringe somente a essas questões, pois na dinâmica familiar as pautas, regras, os papeis e as obrigações são assimilados por seus membros e, com o tempo, são também transmitidos valores éticos e culturais, crenças, sentimentos, condutas e afetividade. 40 9 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO FAMILIAR Fonte: www.clinicacoutinho.com.br A avaliação psicológica da família deve ser baseada, como qualquer outro processo de avaliação psicológica, em hipóteses desenvolvidas pelo profissional sobre o funcionamento do sistema familiar. Os métodos de avaliação e entrevista familiar foram desenvolvidos à medida que diversas teorias sobre a família surgiram em diferentes paradigmas psicológicos, embora todos se fundamentem na hipótese da influência dos grupos sociais na construção do sujeito e no agenciamento de seu comportamento (Féres-Carneiro e Diniz Neto, 2012). Segundo Féres-Carneiro e Diniz Neto (2012), a entrevista psicológica é a técnica mais antiga e a mais valiosa no contexto de investigação, avaliação e intervenção clínica. A abordagem psicodinâmica foi a primeira a desenvolver e aplicar o olhar clínico psicológico em uma situação de entrevistas. Autores como Freud, Adler e Jung apontaram para a importância do ambiente e do relacionamento familiar para a constituição psicológica do indivíduo. A terapia de família surgiu orientando – se inicialmente por dois paradigmas: a abordagem psicanalítica e a abordagem sistêmica. 41 9.1 Entrevista Circular A abordagem sistêmica nos trouxe a entrevista circular, técnica que permite interagir com a família, revelando aspectos do seu funcionamento ao focar seus aspectos ecossistêmicos. A entrevista circular refere – se a um modo específico de desenvolver um padrão de interação entre o terapeuta e a família. Nessa técnica, as questões são formuladas com o objetivo de revelar as conexões recorrentes, levando tanto a família quanto o terapeuta a desenvolver uma compreensão da situação problema em uma visão sistêmica. Segundo Féres – Carneiro e Diniz Neto (2012), os terapeutas sistêmicos do grupo de Milão esboçaram três princípios para orientar a conduta do terapeuta: Neutralidade- refere –se à atitude do terapeuta de família que não se alia a nenhum membro específico, procurando manter –se curioso e aberto sobre os padrões de funcionamento. Circularidade – denota a busca de compreensão do enlaçamento dos diversos aspectos de funcionamento da família que revelam a multiplicidade de olhares e vivências. Hipotetização – refere-se à construção constante de hipóteses centradas na circularidade, mantendo uma atitude de curiosidade e abertura, apoiando a neutralidade. 9.2 Entrevista Familiar O processo de avaliação e diagnóstico da entrevista familiar é guiado pela orientação teórica do clínico. Os objetivos de uma entrevista familiar inicial incluem: Identificar as variáveis familiares e individuais que podem ter influência decisiva na situação familiar problemática; Abordar o funcionamento da família, assim como sua dinâmica e de seus membros; 42 Conduzir a sessão de tratamento inicial, quando necessário. A entrevista diagnóstica é dividida em três momentos: Estágio social – o profissional age criando um setting social e culturalmente adequado à família, possibilitando a investigação e a intervenção psicoterapêutica inicial. Os aspectos de interação e enquadre são tão importantes quanto o ambiente físico, que pode ter o aspecto de uma sala de visita, com material de brinquedos, mesa e cadeiras para crianças pequenas caso seja necessário. O rapport inicial pode incluir um tempo de conversação informal e o estabelecimento de relacionamento através de comunicação verbal e não verbal amistosa. Estágio de questionamento multidimensional – o profissional investiga o motivo da consulta tanto quanto o modo como a família o descreve. A apresentação da problemática inicial é frequentemente um estágio confortável para a família que tenderá a descrever a imagem oficial do problema. A exploração de visões alternativas dos outros membros da família deve ser feita respeitosamente, buscando –se a neutralidade sistêmica. Áreas potencialmente problemáticas não reportadas devem ser investigadas pois podem relacionar –se retroativamente com as dificuldades da família na área da queixa. A resistência em explorar outras áreas talvez esteja presente e surja na forma de convite à aliança com o terapeuta ou com a injunção para que ele aplique soluções preestabelecidas para o problema. É importante evitar confronto, já que a resistência pode ser compreendida como a comunicação silenciosa de áreas problemáticas de tensão que estão acima da possibilidade de manejo da família. A abordagem de áreas problemáticas deve ser realizada com cuidado e respeito, apontando –se a necessidade de compreender amplamente o problema e de demonstrar que o ponto de vista de todos é importante. 43 Desenvolvimento – diversas técnicas podem ser utilizadas para explorar a estrutura, o desenvolvimento e as questões emergentes do ciclo familiar. Elas correspondem às condições nas quais se realiza a entrevista, bem como à orientação teórica e à habilidade técnica do entrevistador. Féres – Carneiro e Diniz Neto (2012), ao estudar os métodos de avaliação familiar, propõe a classificação em métodos objetivos, subjetivos e mistos, apontando, ainda, a possibilidade de utilização de testes psicológicos que por sua constituição, poderiam ser adequadamente utilizados em processos de atendimento familiar. Os métodos objetivos classificam –se em dois grupos: 1- Métodos que utilizam questionários, 2- Métodos que utilizam jogos, Os métodos subjetivos, por sua vez, classificam – se em três grupos: 1-Métodos que utilizam técnicas de desenhos, 2-Métodos que se baseiam em técnicas psicodramáticas, 3- Métodos que utilizam testes projetivos. Entre as técnicas mistas, estão: A tarefa familiar; A entrevista estruturada de Watzlawick, A primeira entrevista de Satir, A entrevista diagnóstica conjunta A entrevista familiar estruturada A atuação terapêutica apropriada deriva –se de um diagnóstico compreendido como um conjunto de hipóteses úteis e produtivas. Á medida que um diagnóstico familiar emerge distinções de condições permitem ao terapeuta realizar indicações gerais de tratamento conforme o universo possível. A avaliação é, contudo, um processo contínuo que orienta a atuação do clínico em cada sessão. Cabe ressaltar que a construção de hipóteses na prática clínica é sempre um processo de reavaliação, já que as hipóteses 44 podem sempre se alterar, por não refletirem a especificidade da família ou por serem transformadoras, levando a novas dinâmicas e reestruturações. 9.3 Avaliação da Rede de Apoio A rede de apoio social e afetivo temsido avaliada através de diferentes instrumentos, questionários, entrevistas. Destacam – se entre esses o mapa dos cinco campos. O mapa dos cinco campos é um instrumento lúdico. Em sua aplicação, é utilizada a colocação livre de figuras, que representam crianças, jovens e adultos de ambos os sexos, em um quadro com círculos concêntricos. Tem por objetivo avaliar a estrutura e a funcionalidade da rede de apoio socioafetivo, a partir dos cinco campos: Família; Escola; Amigos; Parentes; Contatos formais; Esse instrumento é composto por um pano de feltro e por imagens que podem ser fixadas com velcro. Permite que pessoas já falecidas sejam consideradas parte da rede de apoio, em função da consideração subjetiva da percepção da rede. O círculo central corresponde ao participante e cada círculo adjacente mede a qualidade do vínculo, ou seja, quanto mais perto do círculo central, maior é a percepção de proximidade do participante com a pessoa representada: O primeiro e o segundo círculos correspondem às relações mais próximas (maior vínculo); O terceiro e o quarto círculos correspondem às relações mais distantes (menos vínculo); O último círculo, na periferia do mapa, corresponde aos contatos insatisfatórios. 45 10 TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL Fonte: irresistivel.com.br A terapia de família tem seus fundamentos na teoria geral dos sistemas, proposta pelo biólogo alemão Bertallanffy, na teoria da comunicação, dos pequenos grupos, na teoria psicodinâmica (relações de objeto) e na teoria cognitivo – comportamental, entre outras. Bowen introduziu conceitos da teoria dos sistemas em seu trabalho com famílias. Por sistemas compreende –se um conjunto de elementos, direta ou indiretamente relacionados, que funcionam como uma unidade que determina o ambiente. Dentro desse enfoque uma família pode ser considerada um sistema parcialmente aberto que interage com seus ambientes biológicos e sociocultural. Diversos enfoques teóricos embasam a terapia de família. Ackerman foi quem cunhou o termo terapia familiar, na década de 1950, e introduziu a ideia de trabalhar com a família nuclear, utilizando métodos psicodinâmicos. O enfoque proposto por Ackerman era predominantemente psicodinâmico, com ênfase nos mecanismos de defesa grupais (projeção, identificação projetiva, dissociação) e nos conceitos da teoria das relações objetais. O objetivo desta abordagem era a obtenção de insight, ou a abordagem dos conflitos transgeracionais (Bowen): diferenciação, triangulação, rupturas, ou 46 experiencial com a proposição de envolver duas ou mais gerações na terapia. Ao longo do tempo, diversos outros enfoques foram sendo propostos: Estrutural / sistêmico (Minuchin) - a partir do estudo de jovens delinquentes provenientes de famílias hierarquicamente desorganizadas e com problemas de limites generacionais entre os vários subistemas, Estratégico (Harley; Ackerman) – para os problemas decorrentes de arranjos hierárquicos e de papéis, bem como as reações em suas mudanças; Comportamental ( Patterson; Margolin) – para problema que podem ser mantidos ou estimulados pelas atitudes da família, em padrões de relações simétricas ou complementares e nas funções de comunicação. Psicoeducacional ( Anderson, Goldstein) – informativo, envolvendo o manejo de doenças crônicas, redução do estresse e manejo de crises; Periodicidade As sessões de terapia familiar ocorrem semanalmente, com todos ou parte dos membros presentes, podendo, posteriormente, passarem a ser quinzenais ou mensais (subsistema). Objetivos: 1- Melhorar a comunicação entre os membros da família; 2- Desenvolver a autonomia e a individualização dos diferentes indivíduos membros da família; 3- Descentralizar e tornar mais flexíveis os padrões de liderança e de tomada de decisões; 4- Reduzir os conflitos interpessoais e os sintomas; 5- Melhorar o desempenho individual. A terapia de casal, da mesma forma que a terapia familiar, considera que existem possibilidades e vantagens de resolver os conflitos que surgem na vida de um casal na abordagem conjunta de forma mais rápida do que na abordagem individual. Baseia – se na teoria psicodinâmica (relações de objeto), na teoria da comunicação e na teoria dos contratos conjugais. 47 Indicações da Terapia Familiar Quando é solicitada terapia de casal ou familiar: Doença física ou mental grave em adultos, gerando alto grau de disfunção familiar (esquizofrenia, transtorno bipolar,TOC, transtorno de pânico ou agorafobia, dependência a drogas ou álcool, transtornos alimentares,etc.) Quando o problema atual envolve dois ou mais membros da família; A família enfrenta uma crise de transição que pode levá – la à ruptura (mudança de papéis) Uma criança ou adolescente é o problema presente (autismo, TDAH, abuso de drogas, transtorno alimentar, obesidade, transtornos de impulsos, depressão); Ruptura da harmonia familiar em razão de conflitos interpessoais. 48 11 BIBLIOGRAFIA BRITO, Leila Maria Torraca de. Família pós-divórcio: a visão dos filhos. Psicol. cienc. prof. vol.27 n.1 Brasília: Mar. 2007. Dispon. Acesso em: Abril de 2013. CAHALI, Yussef Said. 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