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A história da administração pública Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 SST Becker, Victória A história da administração pública / Victória Becker Ano: 2020 nº de p.: Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. 10 Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 3 A história da administração pública Apresentação Vamos conceituar o que é Administração Pública e quais são os modelos de atuação da máquina pública. Estudaremos também as características dos modelos da Administração Pública, para isso, partiremos do seu contexto histórico. Além disso, conheceremos os princípios do modelo burocrático de Gestão Pública, além de analisarmos o que desencadeou cada tipo de modelo, apontando o início e o período que predominou, assim como os principais problemas identificados. Vamos lá! O conceito de administração pública e o modelo patrimonialista de gestão pública Segundo Costin (2010), podemos definir a Administração Pública como um conjunto de órgãos, funcionários e procedimentos que o Estado usa para executar suas funções econômicas e os papéis que a sociedade lhe atribuiu em dado momento histórico. E é com base nesse contexto histórico que podemos dividir a Administração Pública em três modelos:Patrimonialista, Burocrático e Gerencial. Conforme Vieira (2016), a Administração Pública Patrimonialista é derivada do modelo absolutista do século XVIII. O patrimonialismo, como o nome sugere, está relacionado ao patrimônio: esse modelo não prevê a separação do patrimônio do Estado do patrimônio do governante. Ou seja, o Estado era considerado uma propriedade do monarca e a população estava ali para servi-lo. Quem assumia um cargo público era considerado parte da nobreza real, portanto essas posições eram muito cobiçadas, gerando corrupção e nepotismo, que marcaram esse período (VIEIRA, 2016). Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 4 Outra característica desse modelo era a influência da religião na política, que dava ao monarca, além da autoridade real, o poder divino. Sendo assim, o povo devia lealdade a ele, não à nação, e qualquer tipo de ameaça ao governante era considerada, antes de tudo, um pecado (COSTIN, 2010). A Administração Pública, inserida nesse contexto, era inexistente e, obviamente, não representava os interesses e a segurança da sociedade. Logo, tornou-se um modelo de gestão ineficiente e incabível. Essa forma de governar não suportou a evolução da sociedade, as mudanças da economia e a industrialização. À medida que o capitalismo avança, nasce, na metade do século XIX, o modelo burocrático, com o intuito de combater os males do patrimonialismo (VIEIRA, 2016). Modelo burocrático de gestão pública O modelo burocrático surgiu no século XIX com o intuito de acabar com a corrupção e o nepotismo, trazendo um formato mais racional, rígido e autoritário na gerência dos processos que envolvem a Administração Pública. Para atingir essa eficiência, esse modelo se utiliza de alguns princípios, como desenvolvimento, profissionalização, hierarquia funcional, impessoalidade e formalismo, que serão descritos a seguir. A profissionalização é baseada na meritocracia. Ou seja, os profissionais são contratados de forma justa e promovidos por mérito. Em oposição ao nepotismo, a valorização e o crescimento do profissional estão atrelados ao bom desempenho (VIEIRA, 2016). Relacionado à profissionalização está outro princípio, a impessoalidade, em que “[...] os cargos pertencem à organização e não às pessoas, o que possibilita evitar a apropriação individual do poder” (VIEIRA, 2016, p. 34). Já o princípio da formalidade, nesse contexto, está atrelado aos deveres, às responsabilidades e à hierarquia administrativa. A seguir, pode-se ver, no quadro, mais detalhes sobre os princípios básicos da Administração Burocrática. Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 5 Quadro: Princípios da Administração Burocrática Princípio Características Formalismo Atividades, estruturas e procedimentos estão codificados em regras exaustivas para evitar a imprevisibilidade e instituir maior segurança jurídica nas decisões administrativas. Impessoalidade Interessam o cargo e a norma, e não a pessoa em sua subjetividade. Por isso, carreiras bem estruturadas em que a evolução do funcionário possa ser prevista em bases objetivas, dessa forma, de administração. Hierarquização A burocracia contém uma cadeia de comando longa e clara, em que as decisões obedecem a uma lógica de hierarquia administrativa, prescrita em regulamentos expressos, com reduzida autonomia do administrador. Rígido controle de meios Para evitar a imprevisibilidade e introduzir ações corretivas a tempo, é necessário um constante monitoramento dos meios, especialmente dos procedimentos adotados pelos membros da administração no cotidiano das suas atividades. Fonte: Adaptado de Costin (2010). Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 6 O modelo burocrático pareceu ser a melhor solução após o surgimento do Estado social, que trouxe consigo uma infinidade de tarefas e atribuições que, até então, não eram papel do governo, e algumas sequer existiam. Se antes o Estado cuidava basicamente da proteção dos territórios e da administração de seus próprios bens, agora estava incumbido de prestar serviços como educação, saúde, vigilância sanitária, políticas sociais para combater desigualdades, entre outros. Para dar conta de tudo isso, os seus princípios de comando, controle e rigidez nos processos pareciam a melhor saída para manter a eficiência da Administração Pública, controlando possíveis abusos e atitudes corruptas (COSTIN, 2010). No entanto, esses princípios tão utilizados pelo modelo burocrático trouxeram também alguns problemas. Preocupados em seguir os processos à risca, o excesso de regras e as extensas hierarquias desvirtuaram os funcionários de sua real função: servir os cidadãos com rapidez e eficiência. Eles estavam tão ensimesmados e focados em garantir o poder do Estado que acabaram afetando negativamente a população com processos morosos e inflexíveis (VIEIRA,2016). Apesar dessas falhas, o modelo burocrático perdurou ao longo dos Trinta Anos Gloriosos (1945-1973) e em parte dos anos 1980. Na segunda metade do século XX, porém, esse modelo entrou em crise por causa de vários fatores: a globalização econômica e suas transformações tecnológicas, que trouxeram mais competitividade e dinamismo ao mercado; a recessão econômica, decorrente das crises do petróleo em 1973 e 1979; e a crise fiscal do Estado, que não conseguia mais financiar seus deficit. Enfim, diversas mudanças que tornaram o Estado incapaz de resolver os problemas sociais decorrentes desses colapsos (VIEIRA, 2016). Esses fatores foram essenciais para que o Estado burocrático, aos poucos, fosse dando espaço ao modelo gerencial, que veremos a seguir. O modelo burocrático, aos poucos, foi substituído pelo modelo gerencial. Você acha que, na prática, isso acontece? Que características do modelo burocrático são vistas ainda hoje no Brasil? Curiosidade Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 7 Modelo gerencial de gestão pública O modelo gerencial surgiu, conforme vimos, em consequência de diversos fatores socioeconômicos mundiais, como apresentado no quadro que segue. Quadro: Fatores socioeconômicos que contribuíram para o avanço do modelo gerencial Fatores socioeconômicos que contribuíram para o avanço do mode- lo gerencial Crise do petróleo 1ª em 1973 2ª em 1979 Crise fiscal e aumento dos tributos Não governabilidade frente aos problemas sociais Globalização e avanços tecnológicos Fonte: Vieira (2016, p. 48). O modelo gerencial, nas palavras de Vieira (2016, p. 35), é baseado na“[...] descentralização das decisões e das funções do Estado, a autonomia na gestão dos recursos humanos,materiais e financeiros e a ênfase na qualidade e na produtividade do serviço público [...]”, com o objetivo de cortar custos e tornar o serviço público mais eficiente. Com esse conceito esclarecido, ficará mais fácil entender como e por que esse modelo surgiu. Iniciado na Inglaterra, em 1979, com a Primeira Ministra Margaret Thatcher, esse modelo pode ser chamado também de Nova Gestão Pública. A aprovação do partido conservador significou uma conquista daqueles avessos ao welfare state, isto é, o Estado de bem-estar social, cujo principal objetivo era a inserção de políticas públicas para assegurar as necessidades básicas do povo por meio de projetos sociais nas áreas da educação, saúde, habitação etc. O welfare state já estava em crise, com poucos recursos e poderes políticos enfraquecidos, portanto a vitória de Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 8 Tatcher serviu como um catalisador para difundir o pensamento liberal contrário ao Estado Burocrático. Tatcher iniciou seu mandato defendendo o Estado mínimo, com planos liberalistas de reformular o serviço público e a economia por meio de privatizações e da redução de programas sociais, entre outras medidas. Nesse período, porém, o prestígio do funcionalismo público inglês ressurgiu e a proposta inicial da Primeira Ministra acabou seguindo um rumo mais voltado para a modernização do Estado, que não diminuiu seu espaço na renda nacional. Mesmo assim, o processo de mudança que ocorreu foi bastante significativo, pois também reestruturou departamentos, passou a treinar funcionários e avaliar desempenhos e resultados, além de outras medidas que contribuíram para aliviar a crise econômica britânica. A Nova Zelândia também foi precursora na administração gerencial. Em 1984, houve a troca de governo em meio a uma grave crise econômica, e o governo trabalhista que assumiu realizou uma profunda reforma no Estado, com redução de gastos públicos, privatizações, mudanças gerenciais com base em autonomia e mensuração de resultados, entre outros. Esses dois casos serviram como inspiração para outros países, que adotaram o modelo de administração gerencial, embora cada um tenha instaurado essa reforma de maneiras distintas e com diversos percalços. No Brasil, por exemplo, houve conflito entre correntes mais conservadoras, que temiam o que a menor rigidez poderia causar contra as correntes modernas, a favor do modelo gerencial (COSTIN, 2010). De acordo com Vieira (2016), a Administração Gerencial surgiu da necessidade de um modelo com foco nas necessidades do cidadão, com mais qualidade e rapidez na prestação de serviços e que, ao mesmo tempo, reduzisse custos da máquina pública. Para atingir esse objetivo, o autor ressalta que uma das maneiras é “[...] a descentralização dos serviços por meio da delegação de autoridade e da definição clara dos setores de atuação do Estado e das competências adequadas a cada setor” (VIEIRA, 2016, p. 36). Dessa forma, após uma avaliação, as atividades que podem ser assumidas pelo setor privado são transferidas, dando um novo sentido ao papel do Estado. Apesar disso, muitos países mantiveram características significativas da administração burocrática, como os concursos públicos e os planos de carreira, as licitações e as tomadas de preços para compras e contratações, os processos que envolvem documentações oficiais, entre outros (COSTIN,2010). Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 9 Para concluir, o modelo Gerencial parece se espelhar bastante no modelo de gestão das empresas privadas, enfatizando a importância de reduzir o tamanho do Estado e modernizar a gestão do serviço público. Fechamento Conhecemos um pouco da história da Administração Pública, iniciando pela definição a qual conhecemos como sendo a junção de órgãos,funcionários e ações, geridos pelo Estado, para realizar atribuições,exercendo, assim, seu papel. Vimos que a Administração Pública é dividida em três modelos: o Patrimonialista, o Burocrático e o Gerencial. Aprendemos, ainda, que o modelo Patrimonialista, predominante no século XVIII, foi decorrente do Absolutismo, e que havia influência da religião na política, sendo, mais tarde, considerado um modelo ineficaz. Ao abordarmos o modelo burocrático, observamos que seu início ocorreu no século XIX e que os princípios da Administração Pública tinham como finalidade contribuir com a eficiência, sendo esses princípios do desenvolvimento, profissionalização, hierarquia funcional, impessoalidade e formalismo. E, por fim, tratamos do modelo Gerencial de Gestão Pública e vimos que sua origem foi resultante de vários fatores socioeconômicos mundiais, como as crises do petróleo, em 1973 e 1979. Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33 10 Referências COSTIN, C. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. VIEIRA, L. N. Administração pública: modelos, conceitos, reformas eavançospara uma nova gestão. Curitiba: InterSaberes, 2016. Licensed to Rafael Cespedi - cespedi@hotmail.com - 100.245.717-33
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