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ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 4.898/65) PRATICADO CONTRA SERVIDOR PÚBLICO 1. OBJETIVIDADE JURÍDICA DO CRIME (O QUE A NORMA QUER PROTEGER). a) Proteção mediata. A dignidade da função pública e a lisura do exercício da autoridade pelo Estado, ou seja, o funcionamento da administração pública, a partir do exercício regular de seus poderes delegados pelo povo; b) Proteção imediata. Os direitos e garantias fundamentais constitucionalmente consagrados (honra, liberdade, patrimônio). 2. SUJEITO ATIVO (QUEM PODE PRATICAR O CRIME). - A autoridade, considerada como sendo toda e qualquer pessoa que exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente ou sem remuneração (art. 5º), devendo ser esclarecido que a referência a pessoa no exercício de função pública inclui não servidores que estejam no exercício de atividade que visa a fins próprios do Estado. 3. ELEMENTO SUBJETIVO (INTENÇÃO). - Este elemento está presente quando a autoridade, não visando aos interesses públicos ou sociais, age por capricho, vingança ou maldade, perseguindo e/ou praticando injustiça. Visa a lei punir atos de despotismo, tirania, arbitrariedade ou o próprio abuso, como está no nome do crime. 4. CRIMES DE ATENTADO. - Segundo ensinamentos de GUILHERME DE SOUZA NUCCI, em sua obra Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 4ª edição, pág. 38, “os delitos previstos no art. 3º desta Lei ... já são formados pela forma tentada, vale dizer, atentar (tentar importunar, pôr em prática) de algum modo contra a liberdade de locomoção já pode ser delito consumado.”. Naturalmente, o mesmo aplica-se às demais figuras descritas pela conduta de atentado, ou seja, tentar inviabilizar ou dificultar o exercício dos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional, tentar inviabilizar ou dificultar o exercício do direito à liberdade de associação, entre outras. 5. SITUAÇÕES QUE MAIS INTERESSAM AOS SERVIDORES PÚBLICOS E ANÁLISE DE SUA CONFIGURAÇÃO COMO CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE. 5.1. Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional (art. 3º, alínea “j”). Conforme ensinamentos de ALEXANDRE DE MORAES e GIANPAOLO POGGIO SMANIO, em sua obra Legislação Penal Especial, 10ª edição, pág. 15, esta conduta típica visa proteger o livre exercício do trabalho, ofício ou profissão, direito fundamental da pessoa humana garantido no inciso XIII do art. 5º da Constituição Federal. Sendo que esta garantia está numa norma constitucional de eficácia contida, o que significa que o constituinte “previu a possibilidade da edição de lei que estabeleça as qualificações necessárias ao seu exercício”, ou seja, ao exercício livre do trabalho, ofício ou profissão. Nesse sentido, qualquer conduta de autoridade pública em desrespeito às normas que regem o serviço público (Estatutos dos Servidores e outros regulamentos específicos de determinadas profissões atuantes no serviço público) configurará o crime de abuso de autoridade. Um bom exemplo são as transferências arbitrárias, devendo ser comprovado que o ato não foi em razão do interesse público, ou no interesse da Administração Pública, mas sim por perseguição, vingança ou outra motivação que não se enquadre no princípio da moralidade dos atos da administração pública. Também caracterizará esse crime quando o titular do órgão, chefe imediato ou qualquer outra autoridade da administração pública realizar atos de perseguições, retaliações ou outras formas de abuso contra os agentes de fiscalização do Estado (ex: vigilâncias, ação urbana, CBM/GO., SEDEM, CEREST, SESMT), com intenção de pressioná-los a omitir-se, por estarem exercendo suas funções fiscalizatórias (ou seja, sua atividade profissional) em órgãos do próprio Estado, exigindo o cumprimento da lei. Do mesmo modo, qualquer tentativa de obrigar o servidor a executar o que evidentemente não está no âmbito de suas atribuições é considerado um atentado às garantias legais que asseguram o livre exercício do seu trabalho, configurando, portanto, o crime. É importante esclarecer, todavia, que quando há discussões sobre se realizar determinada tarefa está, ou não, no âmbito das atribuições do servidor, dependendo da interpretação que se dê à legislação aplicável, não haverá crime, pela falta do elemento subjetivo do tipo, ou seja, a vontade da autoridade de abusar do poder, pois neste exemplo ela pensava que estava cumprindo a lei. GUILHERME SOUZA NUCCI, na obra citada, pág. 38, oferece um bom exemplo para análise comparativa, ao dizer que “pode ocorrer de alguém permanecer várias horas em uma delegacia (ou no fórum), aguardando para ser ouvido como testemunha, com a liberdade de locomoção prejudicada, sob a ordem da autoridade policial (ou judicial), mas sem que esta tenha a específica vontade de usar mal ou inconvenientemente a autoridade estatal. Não existe forma culposa.” (DESTAQUEI). A partir dos exemplos dados, e pelos mesmos fundamentos, podemos chegar a outras conclusões, tais como : Não há crime de abuso de autoridade quando a estrutura colocada à disposição do chefe imediato ou detentor de poder decisivo limitado não lhe permite garantir ao servidor o exercício do direito fundamental, como por exemplo, a falta eventual de EPI ou o não cumprimento de qualquer outra norma de Saúde e Segurança no Trabalho em razão da burocracia estatal ou de situações imprevisíveis. Em todos esses exemplos, falta o elemento subjetivo do tipo, que é a intenção de abusar por motivo estranho ao interesse público. Independentemente da imputação criminal dos responsáveis e/ou de sua responsabilização no âmbito da improbidade administrativa, caso venha a faltar EPI's ou outras medidas de proteção cuja ausência exponham a saúde ou a segurança dos servidores a risco, há de se garantir, ao servidor submetido ao risco, o direito de recusa ao trabalho inseguro. Sobre esse tema vide estudo específico nesta página da Promotoria de Saúde do Trabalhador – link Textos Doutrinários. b) Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural (no caso, o servidor público), quando praticado com desvio ou abuso de poder; ou sem competência legal (art. 4º, alínea “h”). GUILHERME DE SOUZA NUCCI, na obra citada, pág. 57, ensina sobre a descrição típica dessa alínea “h” que “em lugar de utilizar o verbo 'lesar' (ofender, violar), preferiu o legislador inserir como abuso de autoridade o 'ato lesivo' (conduta ofensiva), tendo por objeto a honra (senso de apreciação que se faz acerca da autoridade moral de uma pessoa, consistente na sua honestidade, no seu bom comportamento, na sua respeitabilidade no seio social (e podemos especificar, no seio profissional) … ou o patrimônio (conjunto de bens materiais de uma pessoa). O exercício do poder estatal pode provocar lesões à reputação ou ao patrimônio de uma pessoa … Entretanto, o que se torna inadmissível, logo, conduta criminosa é a lesão … quando cometida com abuso (excedendo-se aos limites legalmente impostos...) ou desvio de poder. A figura do desvio, corretamente inserida no cenário do crime de abuso de autoridade, significa a violação moral da lei.” Como se infere dos ensinamentos do renomado autor, a expressão “ato lesivo” (conduta ofensiva) ao invés de “lesar”(ofender violar), significa que não há obrigatoriedade da ocorrência dos resultados (efetiva lesão à honra) para a configuração do crime. Basta que o ato (conduta) praticado pela autoridade tenha potencialidade para lesar a honra. Porém, o autor defende, na página seguinte, que no caso do patrimônio exige-se a prova do resultado, ou seja, dependeda prova de prejuízo efetivo para a vítima. Porém, conforme veremos adiante, no caso do patrimônio, mesmo sem o resultado o crime pode subsistir na forma tentada. Analisemos os exemplos mais comuns desse tipo de abuso de autoridade dirigido a subordinados hierárquicos : − Xingamento, insulto ou agressão verbal praticado pelo chefe contra o servidor, principalmente quando ocorre publicamente, ou seja, na frente de outras pessoas, geralmente colegas servidores, até por uma questão de prova. Para configuração do crime, há de se verificar as circunstâncias do caso, como, por exemplo, se o xingamento ou agressão verbal do chefe não foi em resposta a um xingamento ou agressão verbal prévia do subordinado, o que desconfigura o crime, pois neste caso o chefe atuou em sua própria e legítima defesa. Por outro lado, se o xingamento ou agressão verbal do chefe se dá em razão da incompetência, desleixo, descompromisso com o serviço ou pelo simples descumprimento dos deveres legalmente previstos por parte do servidor, o crime estará caracterizado, pois neste caso terá havido o desvio de poder, tendo em vista que os Estatutos dos Servidores Públicos estabelecem a forma para a punição do servidor, não sendo admitido esse tipo de comportamento por parte das chefias. Naturalmente, palavras de repreensão adequadamente colocadas não caracterizam o crime, como por exemplo, dizer ao servidor que ele está com um comportamento descompromissado, que não é assíduo ou pontual etc. Já o comportamento exacerbado ou descompensado por parte das chefias pode caracterizar um tipo de retaliação ou vingança privada, atingindo o servidor em sua moral, o que não é admitido por lei, como por exemplo dizer que o servidor é um “burro”, um “estúpido”, um “imbecil” etc. Pelo mesmo motivo não se admite, por exemplo, o xingamento insultante pelo Promotor de Justiça contra um réu em julgamento. Ou seja, o chefe pode e deve repreender seu subordinado quando necessário. Mas isso deve ocorrer de forma respeitosa, estritamente relacionada à falta de cumprimento dos deveres profissionais, de preferência sem a presença de outros colegas ou de terceiros, e, em casos de reincidência, pode usar dos meios coercitivos legalmente previstos (advertência escrita, suspensão e processo de exoneração a bem do serviço público). O ponto que será analisado pelo julgador do crime de abuso de autoridade, nestes casos, é se houve uma “violação moral da lei”, se as palavras utilizadas pelo superior hierárquico foram meramente repreensivas ou se foram insultantes. Outro ponto a ser analisado é se houve o dolo específico, a vontade de abusar do poder. Porém, mesmo não havendo esse elemento subjetivo poderá ter ocorrido o crime de injúria. Neste caso, porém, de ação penal privada, a ser proposta pela própria vítima, defendida por advogado. − Avaliação negativa do servidor no sistema de pontuação para progressão funcional ou na avaliação do estágio probatório. Naturalmente, refere-se à avaliação negativa desvinculada dos objetivos legais ou normativos, ou seja, motivadas por vingança, arbitrariedade, perseguição etc. Ambos os exemplos são condutas ofensivas, ou seja, são potencialmente lesivos à honra (valoração que se faz sobre a honestidade de uma pessoa, sobre o seu comportamento profissional ou social, sobre sua respeitabilidade ou sobre sua postura calcada nos bons costumes) e ao patrimônio, pois repercutirá na manutenção de seu emprego e/ou na sua remuneração. Detalhando um pouco mais essas situações, podemos citar o exemplo de um chefe imediato que sempre permite que os seus subordinados não cumpram o horário integral de trabalho legalmente previsto. Porém, em razão de um entrevero que teve com um deles, utiliza tal fundamento para fazer uma avaliação negativa desse servidor, afastando-se do parâmetro até então adotado. Neste caso, o chefe imediato deverá responder disciplinarmente e por improbidade administrativa não só por ter deixado todos seus subordinados sem cumprir o horário, mas também responderá pelo crime de abuso de autoridade, pois a mudança no seu comportamento padrão, exclusivamente com um servidor, comprova que a motivação foi vingança ou perseguição, caracterizando o desvio ou abuso de poder. Ou seja, o chefe pode e deve avaliar negativamente o servidor que não cumpre com seus deveres, porém, deve fazer isso de forma padronizada, adotando idênticos critérios, para todos os seus subordinados. É imprescindível a prova, seja por documentos ou testemunhas, de que a avaliação negativa não estava relacionada ao comportamento do servidor no trabalho, mas sim aos motivos abusivos supra referidos. Poderá haver também o crime quando, em razão da precariedade dos recursos materiais e humanos colocados à disposição dos servidores, estes não tenham possibilidade ou seja extremamente difícil realizar a missão do órgão a que pertencem, mas seu chefe imediato, desconsiderando tal inviabilidade, passe a exigir o resultado, produzindo sobre eles estado de permanente e intenso estresse, potencialmente lesivo à sua honra e patrimônio, por impactar negativamente em sua autoestima e produzir danos morais e transtornos mentais geradores de adoecimentos. Além do crime, esse fato também caracteriza assédio moral, que terá a atuação da Promotoria de Saúde do Trabalhador na proteção coletiva dos servidores, no sentido de restabelecer um ambiente de trabalho saudável. Naturalmente, tanto o crime como o assédio moral só ocorrerão em situações extremas, e não nos casos corriqueiros de pequenas necessidades superáveis com um maior esforço por parte dos servidores. Sobre assédio moral vide estudo específico nesta página da Promotoria de Saúde do Trabalhador – link Textos Doutrinários. c) Atentado à liberdade de associação (art. 3º, alínea “f”). A liberdade de associação está garantida como direito fundamental no art. 5º, inciso XVII, da Constituição Federal. Trata-se de um direito que, embora atribuído a cada pessoa, somente poderá ser exercido de forma coletiva, com várias pessoas. Assim, ninguém pode ser obrigado ou impedido de associar-se ou de permanecer associado. Pode o crime de abuso de autoridade, por atentado à liberdade de associação, no serviço público, quando um chefe imediato fica sabendo que um grupo de servidores está se mobilizando para criar uma associação ou sindicato, e, em razão disso, começa a persegui-los com transferências, atribuição de avaliações negativas e outras medidas abusivas. Essa hipótese pode ocorrer principalmente quando o superior hierárquico percebe que a(s) liderança(s) associativas adotam uma posição ideológica ou político-partidária contrária à sua e irão atuar ou já estão atuando numa postura de oposição. d) Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto (art. 3º, alínea “g”). Mais uma vez iremos “beber” na fonte dos ensinamentos de GUILHERME DE SOUZA NUCCI, que faz uma interessante comparação sobre quando ocorre o crime de abuso de autoridade e quando ocorre um crime eleitoral : “ A autoridade que busca impedir, conturbar, prejudicar, compelir, enfim, inibir, de qualquer modo, o exercício livre do direito ao voto responde por abuso... Existem vários crimes eleitorais (arts. 289 a 354, Lei 4.737/65), porém, dentre eles não há previsão tão ampla quanto o abuso de autoridade... Exemplo : se qualquer pessoa, inclusive autoridade, retém o título eleitoral de eleitor, contra a sua vontade, pratica o delito previsto no art. 295 da Lei 4.737/65. No entanto, se a autoridade ameaça prender parentede eleitor, ainda que haja motivo legal para tanto, com o fim de forçá- lo a votar em determinado candidato comete o crime de abuso de autoridade. Outra ilustração: deter o eleitor em certa localidade, de modo a não atingir sua seção eleitoral, pode configurar o crime previsto no art. 298 da Lei 4.737/65. Porém, transferir um funcionário subalterno para local distante de sua residência, com o objetivo de pressioná-lo a aderir a certo partido político representa abuso de autoridade. (...) Mas … há tipos penais da legislação eleitoral que envolvem diretamente abusos cometidos por autoridades... Nessas situações, cabe à Justiça eleitoral processar e julgar a autoridade em face do abuso cometido, por preencher tipo penal da legislação específica...” (obra citada, pág. 44 - destacamos). Em resumo, quando o atentado contra o exercício livre do voto não se enquadrar nos fatos típicos descritos no Código Eleitoral, aplica-se a Lei de Abuso de Autoridade. Portanto, cabe ao Ministério Público analisar os fatos e ofertar a denúncia perante a Justiça competente. Outro exemplo é tentar pressionar o servidor público a fazer campanha político- partidária, pois pois à evidência isso é um ato abusivo do superior hierárquico, que se enquadra tanto na alínea “g” como na alínea “j” do art. 3º da lei em comento. 6. DIFERENÇAS ENTRE CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE E ASSÉDIO MORAL. Antes de destacar as principais diferenças, sugiro a leitura do texto doutrinário sobre assédio moral no link da Promotoria de Saúde do Trabalhador no site do Ministério Público do Estado de Goiás. O assédio moral pode ser definido como qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização durante a jornada de trabalho, contra a dignidade ou integridade psíquica de uma pessoa, expondo-a a situações humilhantes e constrangedoras, de modo que possam afetar a sua auto-estima, causando-lhe insegurança quanto a sua capacidade e valor, ameaçando o seu emprego, bem como deteriorando o ambiente de trabalho. (conceito da Dra. Janilda, Procuradora do Trabalho, construído a partir das definições de Marie-France Hirigoyen, Marie-France Hirigoyen, in in Mal-Estar no Trabalho, redefinindo o assédio moral, Ed.Mal-Estar no Trabalho, redefinindo o assédio moral, Ed. Bertrand do Brasil, e Sônia Mascaro, Bertrand do Brasil, e Sônia Mascaro, in in O assédio moral no ambiente de trabalho, Revista LTr, 68-O assédio moral no ambiente de trabalho, Revista LTr, 68- 08/9220).08/9220). Sobre esse conceito, é importante destacar ou acrescentar um elemento que ficou implícito,Sobre esse conceito, é importante destacar ou acrescentar um elemento que ficou implícito, que é a necessidade de que as ações tenham potencialidade para resultar na alteração daque é a necessidade de que as ações tenham potencialidade para resultar na alteração da personalidade de uma pessoa, ou seja, para causar danos psíquicos duradouros, e, exatamente porpersonalidade de uma pessoa, ou seja, para causar danos psíquicos duradouros, e, exatamente por isso no conceito estão inseridos elementos como “repetição ou sistematização”, isso no conceito estão inseridos elementos como “repetição ou sistematização”, caracterizando-se por uma prática sistemática (caráter processual - importa mais os potenciais efeitos da conduta do que o tempo), para que não haja a interpretação de que um ato isolado, que não seja, para que não haja a interpretação de que um ato isolado, que não seja extremamente grave, seja definido como assédio moral, apesar de poder ser enquadrado como crimeextremamente grave, seja definido como assédio moral, apesar de poder ser enquadrado como crime de abuso de autoridadede abuso de autoridade Já o crime de abuso de autoridade pode ocorrer com um único ato, sendo que o mais importante neste caso é analisar se a conduta da autoridade desviou-se dos princípios morais dos atos da administração pública, ou seja, foi motivada por capricho, vingança, maldade ou qualquer outro motivo não relacionado com o interesse público ou social. Para uma análise mais específica, deve-se ler as situações específicas estudadas nos tópicos anteriores. Porém, seguem algumas perguntas e respostas exemplificativas : Se meu chefe me transferiu ou me colocou à disposição, no meu entender por mera perseguição gratuita, isso é assédio moral ? Resposta: Uma transferência, dentro do mesmo órgão e para atuar no mesmo cargo para qual o servidor foi concursado está dentro do poder discricionário do gestor. Porém, se há provas (documentais e/ou testemunhais) de que a transferência foi por motivos escusos, não relacionados ao interesse público, o ato poderá ser anulado e o chefe imediato processado criminalmente, pois foi praticado com abuso de autoridade. Se a transferência for integrante de um conjunto de atos ou omissões que potencialmente possam causar dano à personalidade do servidor, caracteriza-se o assédio moral, conforme conceitos e elementos já descritos. O assédio moral, assim caracterizado, enseja a atuação da Promotoria de Saúde do Trabalhador no sentido de buscar o ajustamento do sistema para evitar novas práticas como essa. A Promotoria também encaminhará o caso para a área criminal, a fim de atuar em relação ao abuso de autoridade e, dependendo da necessidade do caso, ainda poderá encaminhar para a área de Improbidade Administrativa. Contudo, caso o servidor tenha urgência em resolver sua situação decorrente de um ato isolado de transferência, mesmo que com abuso de autoridade, deverá constituir advogado, pois as investigações das Promotorias são mais abrangentes, complexas, e, por isso mesmo, mais demoradas. Se meu chefe gritou comigo, me disse coisas horríveis, que me fizeram chorar, é assédio moral ? Resposta : Se tudo isso ocorreu num único momento, não irá caracterizar assédio moral, pois, conforme o conceito, um de seus elementos é a repetitividade da conduta de forma que tenha potencialidade para um dano psíquico relativamente duradouro, que possa afetar não momentaneamente a autoestima do trabalhador/vítima, com repercussões no âmbito de sua personalidade. Atitudes de “explosão” isolada de sentimentos não ensejam assédio moral, pois não têm a capacidade potencial de “minar” a autoestima do trabalhador. Porém, este pode constituir advogado e protocolar ação de indenização por danos morais, principalmente se o agravo ocorreu em público (na frente de colegas ou terceiros). Além disso, pode registrar ocorrência policial pelos crimes contra a honra (difamação, calúnia ou injúria) dependendo das palavras utilizadas pelo ofensor, bem como representar junto ao Ministério Público pelo crime de abuso de autoridade, desde que cumpridos seus requisitos conforme supra estudado. Nós temos um chefe imediato que está provocando o maior “terror” entre os servidores, praticando diversos abusos de autoridade. Isso é assédio moral ? Enseja a atuação da Promotoria ? Resposta: Enseja a atuação da Promotoria, que precisará ouvir depoimentos de diversos trabalhadores, para identificar se é caso de assédio moral institucional, conforme o conceito apresentado neste site. O chefe também poderá ser processado pelo crime de abuso de autoridade. 7. ABUSO DE AUTORIDADE VERSUS IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Assim, não haverá o crime se eventualmente faltar EPI (ou o cumprimento de qualquer outra Norma de Saúde e Segurança no Trabalho) em razão da burocracia estatal ou de situações imprevisíveis, não podendo o chefe imediato ou o responsável pelo almoxarifado responder por crime de abuso de autoridade,na forma de atentado à garantia do exercício profissional seguro, se o ato para viabilizar o cumprimento da norma não dependia dele. Neste exemplo, também falta o elemento subjetivo do tipo, que é a intenção de abusar por motivo estranho ao interesse público. Pelo mesmo motivo, falta do elemento subjetivo (intenção de abusar por motivo estranho ao interesse público ), não haverá o crime praticado pelo ordenador de despesas que não incluiu na previsão orçamentária do órgão a aquisição de EPI's ou de quaisquer outros equipamentos cujo fornecimento é obrigatório pelos atos normativos que regulamentam o exercício da atividade profissional do servidor público. Neste aspecto é importante esclarecer que há normas que regulamentam o exercício de determinada atividade profissional (ex: profissionais de saúde, eletricistas, operadores de teleatendimento etc.), esteja o trabalhador no âmbito do setor público ou privado. Entre essas normas estão todas aquelas que regulamentam o exercício saudável e seguro da atividade, pois obrigatoriamente devem ser aplicadas no serviço público, não só por força dos arts. 39, § 3º c/c 7º XXII da Constituição Federal, que foi replicado nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas dos Municípios, mas também por força das Garantias Constitucionais do Direito à saúde, inclusive no trabalho (art. 196 e 200, VIII) e ao trabalho digno (art. 1º, III c/c 6º) c/c o princípio da isonomia quanto ao Direito à vida e à segurança (art. 5º, caput ) . Como se vê, a proteção da vida e a da saúde, na condição de garantia fundamental da pessoa humana, obteve da Constituição Federal tratamento especial, reforçando-a em diversos dispositivos, inclusive afirmando expressamente no § 1º do art. 5º que “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. E o art. 198, inciso II, completa que no atendimento integral à saúde, deve ser dada “prioridade para as atividades preventivas”. Assim sendo, jamais o gestor público poderá alegar que deixou de inserir na previsão orçamentária a aquisição dos equipamentos de proteção individual ou de outras atividades preventivas recomendadas para a proteção da saúde dos servidores, sob o argumento de falta de verba, pois trata-se de garantia fundamental da pessoa humana, de aplicabilidade imediata e prioritária. Conclui-se que a falta de previsão orçamentária de verbas para o cumprimento das normas de saúde e segurança no trabalho previstas na CLT, em regulamentos do Ministério do Trabalho e Emprego ou em qualquer regulamento que dispõe sobre o exercício saudável e seguro de um modo geral ou de determinada atividade profissional, constitui afronta direta às normas que regem o livre exercício do trabalho, iniciando-se pela própria Constituição Federal. Do mesmo modo, haverá o crime praticado por aquele que desviar para outras finalidades o orçamento previsto para as medidas de proteção. Medidas de prevenção Difundir conhecimentos a respeito do assunto dentro da Instituição: a) estabelecer um código de ética – declaração expressa de contrariedade da Instituição quanto ao assédio – normas claras que assegurem o respeito no ambiente de trabalho – fixação das responsabilidades; b) incluir no PPRA e PCMSO a realização de palestras e dinâmicas periódicas e na semana de prevenção de acidentes de trabalho, sobre ética, relações interpessoais e saúde mental no trabalho, com foco no assédio moral; b.1) a organização das palestras podem ficar a cargo do SESMT ou da CIPA; b.2) qualificar a diretoria(**), os gestores e ocupantes de chefia (desenvolver gestão participativa e responsável, identificação e solução de conflitos e de condutas assediantes); c) constituir um órgão ou comissão, composta de empregados eleitos e por representante(s) da Instituição, a qual ficará responsável pela recepção e apuração das denúncias sobre o tema, e ainda participará das decisões a respeito das punições e solução dos problemas, juntamente com o Recursos Humanos; d) se for viável, após a solução do assédio, promover encontro entre a vítima e o assediador, com o objetivo de conseguir a pacificação das mágoas e evitar novos conflitos. Medidas de combate a) criar mecanismos de oitiva da vítima; b) contratar ou designar profissionais capacitados (psicólogos) para auxiliar na resolução dos conflitos; c) promover, depois de apurados os fatos e constatado o assédio, reunião da comissão e do RH com o assediador visando que ele justifique a sua conduta – tal medida poderá fazer com ele reflita a respeito dos seus atos; d) punir o assediador por sua conduta desrespeitosa e ao mesmo tempo conscientizá- lo da necessidade de mudança de comportamento; e) acompanhar a conduta do assediador, de modo a verificar se efetivamente modificou a sua postura; f) caso o ofensor não altere sua conduta, a melhor punição é despedi-lo (esse ato demonstra o comprometimento da empresa com o combate ao assédio); g) incluir nos termos de ajustamento cláusula prevendo a publicação do compromisso. Perguntas e Respostas Obs.: ANTES DE LER AS PERGUNTAS E RESPOSTAS, LEIA O CONCEITO E ELEMENTOS DO ASSÉDIO MORAL INTERPESSOAL E INSTITUCIONAL. 1- Posso fazer uma denúncia anônima de assédio moral ? Resposta: Pode-se ver pelo conceito e pelos elementos caracterizadores do assédio moral, descritos neste site, que trata-se de uma situação complexa, que, para ser comprovada, necessita de uma investigação profunda, com oitiva de testemunhas e vítima(s) que possam descrever detalhes minuciosos do comportamento das pessoas envolvidas (assediador e assediado). Portanto, é inviável instaurar um procedimento sem que testemunhas e/ou vítimas se disponham a prestar tais esclarecimentos. Conclusão : a denúncia pode até ser anônima, mas deve informar quem é/são a(s) pessoa(s) assediada(s) e os nomes de colegas de trabalho que possam dar detalhes sobre os fatos.
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