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Violênci� contr� � mulhe� ➔ É “todo o ato baseado no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como privada” (Brasil, 2005). ➔ Violência sexual: “um evento que ocorre sem o consentimento da vítima, envolve o uso da força ou a sua ameaça, e em que há a tentativa ou a efetiva penetração da vagina, boca ou reto da vítima”. O contato sexual se torna arma de poder ou controle. Toda essa violência demonstra que ainda persiste desigualdade entre sexos. ➔ O estupro é um crime contra uma pessoa e não contra uma parte do corpo. Causando uma crise vital por invasão da parte mais íntima de um ser humano. ➔ As mulheres atingidas ficam mais vulneráveis a outros tipos de violência, à prostituição, ao abuso de drogas, a DSTs, depressão e suicídio, além do risco da gestação indesejada; ➔ Na lei é referida como crime contra a dignidade sexual” (Brasil, 2009). A nova lei englobou os dois artigos (antigo 213 e 214), e o artigo 213 agora define estupro como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou fazer que com ele se pratique outro ato libidinoso (pena: reclusão de 6 a 10 anos). ➔ A violência sexual acomete pessoas de todas as idades, todas as raças e todos os grupos socioeconômicos, mas os mais jovens, os física ou mentalmente deficientes e os mais velhos são particularmente suscetíveis. Mais da ½ dos estupros de mulheres ocorre antes dos 18 anos, e 22% antes dos 12 anos. ➔ As lesões físicas resultantes dessa violência geralmente não são graves, todavia as sequelas psicológicas são sérissímas, podendo trazer risco e de morte e por isso demanda um atendimento multiprofissional (médico, psicológico e social). ➔ Esse tipo de crime é provavelmente subnotificado (em torno de 10-15%), pois muitas vítimas não o denunciam às autoridades por embaraço, medo de represália, sentimentos de culpa, pressuposição de que nada será feito ou falta de conhecimento dos seus direitos. Estima-se que de 33 a 44% das mulheres sejam vítimas de alguma violência sexual ao longo de suas vidas, e 50% delas conheciam seus agressores (todavia na prática ocorre o contrário, tvlz pelo fato das vitimas que conhecem seus agressores apresentar mais medo de delatá-los). A agressão por um conhecido é emocionalmente mais devastadora porque envolve a violação de confiança e geralmente inclui vitimização repetida. ➔ Consequências físicas de longo prazo: dor pélvica crônica, síndrome pré-menstrual, distúrbios gastrintestinais, complicações ginecológicas e gestacionais, enxaquecas e outras cefaleias frequentes, dores nas costas, dores faciais e incapacidades ocupacionais. ➔ Consequências psicológicas agudas: choque, despersonalização, negação, medo, ansiedade, isolamento, culpa, desconfiança dos outros e sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT – 80% dos casos = estados de anestesiamento emocional, alterações do sono, revivências do evento traumático e hiperexcitabilidade autonômica). ➔ Transtornos psicológicos crônicos: TEPT crônico, depressão maior, suicídio. ➔ Transtornos sociais: deterioração do relacionamentos que levam a perda de apoio emocional tão necessária, menos contatos interpessoais e diminuição da probabilidade de casamento no futuro. ➔ Mudanças comportamentais em vítimas de violência sexual: têm sido cadavezmais observadas e tornam se preocupantes, pois podem gerar situações que favoreçam novos abusos→ adoção de condutas sexuais de alto risco (sexo desprotegido, iniciação sexual precoce, múltiplos parceiros sexuais, prostituição), abuso de substâncias (álcool, drogas) e condutas alimentares problemáticas (jejuns exagerados, vômitos provocados, abuso de anorexígenos, bulimia). ➔ São de notificação compulsória os casos de violência contra a mulher, atendidos em serviços públicos ou privados de saúde. Se menor de 18 deve ser enviado ao Conselho Tutelar ou à Vara da Infância e da Juventude. ➔ A assistência à saúde é prioritária, e a recusa infundada e injustificada do atendimento pode ser caracterizada, ética e legalmente, como omissão. O boletim de ocorrência policial registra a violência para o conhecimento da autoridade ➔ policial, que determina a instauração do inquérito e da investigação. O laudo do DML é documento elaborado para fazer prova criminal. A exigência de apresentação desses documentos para atendimento nos serviços de saúde é incorreta e ilegal ➔ Mesmo que não ocorra uso de força ou ameaça se a “vítima é menor de 14 anos; é alienada ou débil mental e o agressor conhece essa circunstância é considerado crime”. PRIMEIRO ATENDIMENTO ➔ Envolve: ◆ acolhimento (suporte psicológico); ◆ reconhecimento e tratamento das lesões; ◆ prevenção da gestação; ◆ avaliação, tratamento/prevenção das DSTs; ◆ encaminhamento para acompanhamento ambulatorial com ginecologia e psiquiatria. ➔ CUIDADO PARA NÃO CRIAR UMA VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA POR SEUS JULGAMENTOS ◆ Ninguém merece ser estuprado (esse tipo de pensamento faz muitas vítimas acharem-se envergonhadas e culpadas) ◆ A vítima fez o que achou ser as melhores escolhas possíveis para sobreviver sob aquelas circunstâncias HISTÓRIA ➔ Dados sobre o incidente devem ser pesquisados, mas cuidado com perguntas desnecessárias que aumentem ainda mais a dor da paciente: ◆ avaliar o risco de gestação: história menstrual, anticoncepção; ◆ circunstâncias da violência: data, hora, local, armas, uso de força, ameaças; ◆ tipo de violência: contato ou penetração oral, vaginal, anorretal, ejaculação, número de agressores; existência de sangramento na vítima ou no agressor (risco de DST); ◆ atividade sexual consensual recente, antes ou após a violência (tipo, preservativo) (saber se recuperou do ocorrido); ◆ identidade do agressor (familiar, conhecido, estranho); ◆ ocorrência de situações de violência anteriores (revitimização); ◆ existência de rede de apoio social e familiar disponível para acolher a paciente; necessidade de, além do atendimento médico e psicológico da vítima, assegurar que ela seja protegida de nova agressão (p. ex., mora, convive ou é vizinha do agressor?). EXAMES ➔ Há quem diga que não são necessárias ao atendimento e poderiam ser usados pela defesa do agressor que a vítima teria uma vida proíscua. Geralmente são feitos: ◆ VDRL para sífilis, ◆ anti-HIV ◆ pesquisa de hepatite B e C. ◆ Se possível, colher material vaginal e anal para pesquisa de clamídia, ureaplasma, micoplasma e gonococo. O PSIQUIATRA DEVE ➔ enfatizar a importância de não ter reagido (e não se culpar por isso) e, assim, tentado preservar sua vida. ➔ deixar a paciente confortavel para relatar o caso quantas vezes forem necessárias. ➔ frisar que a vítima é sempre a paciente, e o culpado é sempre o agressor; ➔ explicar a importância de passar no psiquiatra e os possíveis danos de não se fazer isso. ➔ Por incrível que pareça, falar é a melhor escolha. ➔ Se estabelece um programa de apoio com 4 a 6 consultas semanais, individuais, e após consultas de seguimento (mensais e semestrais); além disso, há consultas para os familiares com a equipe do serviço social e encaminhamento para tratamento em grupo, quando houver indicação. ➔ As técnicas utilizadas são do tipo psicoeducativo (natureza e consequências do TEPT), cognitivo-comportamental (fobias) e psicodinâmico (con�litos e culpas associadas ao trauma). PROFILAXIAS ➔ Como a maioria dos estupros ocorrem durante a fase da vida reprodutiva da mulher o risco de gravidez é de 1 a 5%. ➔ A anticoncepção de emergência deve ser oferecida o mais rápido posível, mesmo em local onde não será dada continuidade ao tratamento (exct. se a mulher já estivesse fazendo uso de método contraceptivo seguro durante o ocorrido). ➔ Métodos usados: ◆ levonorgestrel, 1,5 mg, VO, dose única, em até 72 horas. É o método melhor tolerado, mais eficaz e sem interferência farmacocinética com antirretrovirais. ◆ método de Yuzpe: 200 μg de etinilestradiol 1 mg de levonorgestrel, divididos em 2 tomadas 12/12 h. ◆ Diu não deve ser colocado,pois dada a exposição de risco a DSTs pode favorecer infecções, e mais uma manipulação genital desnecessária. ➔ Entre as mulheres que sofrem violência sexual, 16 a 58% são infectadas por pelo menos uma DST. O risco é maior para gestantes e crianças. A profilaxia está indicada independentemente da presença ou gravidade das lesões. ➔ O mais fácil de ser pego é a clamydia. ➔ O esquema profilático recomendado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2005) para mulheres adultas e adolescentes com mais de 45 kg, e não gestantes: ◆ profilaxia da sífilis: PENICILINA G BENZATINA, 2,4 mg IM, dose única; ◆ profilaxia da gonorreia: CIPROFLOXACINO, 500 mg, VO, dose única; ◆ profilaxia da clamídia e do cancro mole: AZITROMICINA, 1 g, VO, dose única; ◆ profilaxia da tricomoníase: METRONIDAZOL, 2 g, VO, dose única. ◆ não existe profilaxia para a hepatite C. ◆ profilaxia para hep. B das não imunizadas: primeira dose em até 48 h da violência, e as subsequentes em 30 e 180 dias) e dose única de imunoglobulina IGHAHB, 0,06 mL/ kg de peso IM, em até 14 dias após a violência. ◆ profilaxia do HIV: ainda controvérsia, mas sabe que a mais chance de contrair o vírus, pois como é feito por meio do uso de força o sangramento é mais comum, há mais soropositivos na população de estupradores. Em situações de sexo oral exclusivo, não existem evidências conclusivas que indiquem o uso do antirretroviral, mesmo com ejaculação na cavidade oral. A profilaxia deve iniciar 4h após o ato e persistir por 4 semanas ininterruptas. - zidovudina, 300 mg, VO, de 12/12 h - lamivudina, 150 mg, VO, de 12/12h - nelfinavir, 750 mg, VO, de 8/8 h, ou indinavir, 800 mg, VO, de 8/ 8h. As pacientes devem ser orientadas à abstinência sexual até o final das profilaxias e ao uso de preservativo em todas as relações sexuais, por no mínimo seis meses a partir da violência, até os resultados finais das sorologias. As reações adversas em geral são autolimitadas, como efeitos gastrintestinais, cefaleia e fadiga, que na maioria das vezes são controladas com medicação sintomática. ABORTO ➔ A gravidez indesejada é encarada como uma segunda violência. ➔ Para realizar o aborto é necessário: ◆ autorização da grávida, ou de seu representante legal, para realização do abortamento; ◆ informação à mulher, ou ao seu representante legal, de que ela poderá ser indiciada criminalmente caso as declarações constantes no prontuário sejam falsas; ◆ registro em prontuário médico, e de forma separada, das consultas da equipe multidisciplinar e da decisão por ela tomada, assim como dos resultados dos exames clínicos ou laboratoriais; ◆ Não é necessário levar BO. ➔ No segundo trimestre, o abortamento farmacológico é o método de eleição. No HCPA, entre a 12a e a 20a semana, usamos o misoprostol, 400 μg, de 4/4 h, via vaginal, até a expulsão ovular. Após, se necessário, é realizada a AMIU(como é feito na primeira semana com misoprostol, 200 μg via vaginal, de 4 a 6 horas antes do procedimento para preparar o colo uterino a dilaação) ou a curetagem uterina. ➔ Mais de 20 sem. nao se faz aborto, encaminha adoção ou ajuda na inserção na família. ACOMPANHAMENTO Exames recomendados: ● em 15 dias: transaminases e hemograma; ● em 45 dias: conteúdo vaginal, VDRL, anti-HIV; ● em 3 meses: colposcopia, citopatológico de colo uterino, VDRL, anti-HIV, exames para hepatit B e C; ● em 6 meses: anti-HIV, exames para hepatite B e C.
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