Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
– 1 • Conceito Eritrograma é a denominação dada ao EXAME que avalia o ERITRÔNIO, termo que é correspondente ao “ÓRGÃO DIFUSO’’ composto por 25 a 30 trilhões de eritrócitos circulantes e pelo tecido eritroblástico da medula!! O eritrograma tem como objetivo NOTAR, QUANTIFICAR e AJUDAR no diagnóstico causal das anemias e poliglobulias! A principal função desse órgão é o TRANSPORTE DE OXIGÊNIO DO PULMÃO → TECIDOS, que é exercida pela HEMOGLOBINA contida na massa eritroide. • Anemia É a insuficiência FUNCIONAL do eritrônio definida pela diminuição da hemoglobina sanguínea – geralmente, essa diminuição está acompanhada de ERITROCITOPENIA, que é a baixa quantidade de eritrócito, MAS NEM SEMPRE isso ocorre! Em alguns casos a anemia não acontece junto à eritrocitopenia, que são os casos em que há ligação entre hemoglobina + eritrócitos, mas eles estão incapacitados de carregar o oxigênio, como na INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO DE CARBONO ou após uma transfusão sanguínea em que a afinidade pelo oxigênio está diminuída pela falta de 2-3- DIFOSFOGLICERATO (2,3-DFG)! Esta última enzima é capaz de deslocar a afinidade da ligação entre oxigênio e hemoglobina, então quanto maior a quantidade de 2,3-DFGT, menor a afinidade entre oxigênio e hemoglobina – isto é percebido por um desvio do gráfico de afinidade Hg-O2 para a direita. • Poliglobulia Aumento da parte circulante (massa eritroide/hemoglobínnica) do eritrônio, geralmente decorrente do AUMENTO DA ERITROPOESE. Na imagem ao lado, há uma exemplificação do aumento da massa eritroide (nesse caso, Policitemia vera [PCV]) na análise de uma quantidade de sangue, sendo a coloração amarela representativa do plasma. Pode ocorrer devido a uma exagerada atividade da medula óssea, que produz uma quantidade de glóbulos vermelhos superior ao normal. – 2 ➔ Poliglobulia primária: Quando o problema está nos próprios mecanismos de regulação da produção de hemácias. ➔ Policitemia vera: Doença genética que aumenta a sensibilidade da medula óssea à eritropoietina. ➔ Poliglobulia secundária: A grande maioria dos casos. A exagerada produção de glóbulos vermelhos é consequência de outras doenças, a fator ambiental ou drogas. Por exemplo, pode ser consequência de doenças respiratórias (como DPOC), resposta fisiológica por passar dias em GRANDES ALTITUDES ou induzida por uso de esteroides anabolizantes. O aumento de hemácias pode ser uma resposta necessária para levar oxigênio aos tecidos. ➔ Poliglobulia relativa: O nível de hemácias aparece aumentado porque o de PLASMA ESTÁ REDUZIDO, seja por desidratação, hemorragia ou alguma outra perda de fluídos. Nesse caso a poliglobulia é resolvida assim que o paciente é reidratado. Atenção!!!! A ERITROCITOSE é o aumento da CONTAGEM DE ERITRÓCITOS nem sempre acompanhado do aumento da massa eritroide-hemoglobínica!!! Então eritrocitose ≠ poliglobulia. • Determinação Direta e Parâmetros Derivados 1. Contagem de Eritrócitos No início do desenvolvimento da técnica (1950-1960), era um parâmetro de ACURÁCIA e REPRODUTIBILIDADE insatisfatória, pois era feita ao microscópio em uma câmara de contagem – nessa época, a avaliação era feita obrigatoriamente em conjunto com o HEMATÓCRITO. Em 1970-1980, foram desenvolvidas técnicas que tornaram esse parâmetro mais EXATO e REPRODUTÍVEL. Atualmente, a contagem é feita pelo PRINCÍPIO DE COULTER (contagem de pulsos de impedância), variando em até 1,5% o valor total em contagens diferentes (ou seja, é um método reprodutível com poucas diferenças caso repetido!). A contagem de eritrócitos deve ser interpretada no contexto do ERITROGRAMA, então nunca determinar anemia somente pela contagem!! Na imagem seguinte: a primeira mostra um AUMENTO de eritrócitos em um paciente ANÊMICO e com MICROCITOSE; a segunda mostra uma DIMINUIÇÃO dos eritrócitos em paciente NÃO-ANÊMICO e com MACROCITOSE!! Em termos simples: o aumento de eritrócitos é “falso”, pois, na verdade, o que está acontecendo é que os eritrócitos estão menores (microcitose) e isso faz parecer que existem mais eritrócitos que o normal! Imagine que o campo de análise da máquina é um círculo, então quanto menores os eritrócitos, mais destas células irão se acomodar no campo de visão da máquina e, consequentemente, mais eritrócitos serão contabilizados, o que causará uma FALSA ERITROCITOSE! Dito tudo isso, lembre-se sempre: AVALIAR O ERITROGRAMA COMO UM TODO! – 3 Fatores que induzem ao erro: ➔ Leucocitose Acentuada – como os leucócitos também são contados no canal de impedância, condições em que há o aumento destes pode alterar a contagem dos eritrócitos. Na LEUCOCITOSE LEUCÊMICA, o aumento de leucócitos é MUITO GRANDE e geralmente está associado a uma leucemia! Fazer a dupla contagem por impedância e óptica diminui essa margem de erro. ➔ Plaquetas Gigantes – podem ser visualmente confundidas com os eritrócitos pelo TAMANHO! ➔ Microcitose Extrema – é a diminuição do tamanho dos eritrócitos, que pode causar o confundimento com plaquetas e, consequentemente, a contagem abaixo do real. Figura 1 - Visão da máquina de impedância em um sangue com elementos sanguíneos em quantidades normais. Figura 2 - Visão da máquina quando há um aumento de leucócitos (leucocitose). Perceba que os leucócitos "tomam o lugar" das hemácias, podendo parecer que há eritrocitopenia. Figura 3 - Quando as plaquetas estão aumentadas, a máquina de impedância pode confundir quando for diferenciar dos eritrócitos, podendo causar um falso aumento no número de eritrócitos! Figura 4 - Visão da máquina de impedância em um sangue com elementos sanguíneos em quantidades normais. Figura 5 - Visão da máquina quando há aumento do tamanho dos eritrócitos (macrocitose). Devido a isso, uma menor quantidade de eritrócitos se acomoda no campo de visão da máquina, podendo haver a impressão de que há diminuição da quantidade deles! – 4 Valores de Referência: Variam de acordo com os GRUPOS ETÁRIOS, sendo, para os homens, entre 5,3 a 0,6 M/µL, e para as mulheres 4,7 a 0,5 M/µL ➔ Populações Negras – costumam ter HEMOGLOBINA e HEMATÓCRITO inferiores, assim como o VOLUME CORPUSCULAR MÉDIO, por isso a diferença não se expressa na contagem de eritrócitos. A contagem de eritrócitos guarda uma CORRELAÇÃO INVERSA com o VOLUME CORPUSCULAR MÉDIO, ou seja, pessoas com ERITRÓCITOS PEQUENOS tem contagem mais alta (VCM) do que pessoas com eritrócitos grandes. ➔ Altas Altitudes – Por o ar ser rarefeito, há um estímulo à síntese de ERITROPOIETINA, que estimula a produção medular da linhagem mieloide – a elevação dos níveis de eritrócitos ocorre na ordem de 0,15 a 0,25 M/µL por KM. ➔ Sexo – há uma diferença de CAUSA HORMONAL pelos andrógenos, que aumentam a sensibilidade do TECIDO ERITROBLÁSTICO à ERITROPOIETINA → a castração masculina causa ANEMIA! Já os ESTRÓGENOS inibem a ERITROPOESE e, na menopausa, percebe-se esse fenômeno pela ELEVAÇÃO da contagem de eritrócitos a níveis quase masculinos!!! Além disso, mulheres na menacme (idade reprodutiva) que menstruam possuem a PERDA SANGUÍNEA mensal, o que pode diminuir a contagem dos eritrócitos. 2. Dosagem de Hemoglobina (Hb) A hemoglobina (Hb) é um componente dos glóbulos vermelhos do sangue e tem como principal função transportar oxigênio para os tecidos. É contada em um contador eletrônico juntamente aos leucócitos!! Causas de Erro: ➔ Lipemia – como o aumento da fração lipídica no sangue está associado ao aumento da DENSIDADE ÓPTICA, a Hb é contada para MAIS. Então, qualquer fator que aumente a densidade irá interferir na contagem de Hb. ➔ Leucocitose – também aumenta a densidade óptica do hemolisado – contagens > 100.00 leucócitos/µL podem aumentar a Hb em mais de 1g/dL. ➔ Sujeira na parede da câmara de leitura do contador – os valores de Hb estarão aumentados duranteTODAS AS LEITURAS DO DIA! Figura 6 - Exemplo real: À esquerda, mulher de 22 anos na menacme. À direta, mulher de 58 anos na menopausa. Perceba a diferença (mesmo que pequena) da contagem de eritrócitos. – 5 Valores de Referência: Para HOMENS entre 20 e 60 anos = 13,7 a 16,8 g/dL; para MULHERES de 20 a 50 anos = 12,2 a 15 g/dL. ➔ Diferenças Raciais – elevada incidência de alfa-talassemia e da carência de ferro em mulheres. Homens 20 e 60 anos = 12,9 a 16,3 g/dL; Mulheres de 20 a 50 anos = 11,5 a 14,3 g/dL A dosagem de Hb é o DADO BÁSICO do eritrograma. Há ANEMIA quando a Hb está abaixo dos valores de referência. Em pacientes em que se dispões de DADOS ANTERIORES é recomendável uma interpretação de anemia uma HGB SIGNIFICATIVAMENTE INFERIOR que as precedentes! Lembrar a relação de Hb e Eritrócitos: NÃO SÃO NECESSARIAMENTE PARALELOS – quando há MACROCITOSE, a Hb costuma ser muito alta; quando há MICROCITOSE, Hb costuma ser muito baixa. 3. Hematócrito (Ht) Equivale ao VOLUME DA MASSA ERITROIDE EM UMA AMOSTRA DE SANGUE – expresso em porcentagem ou fração decimal do volume da amostra. Era muito utilizado em conjunto com a contagem de eritrócitos no passado. Quando houve o “boom” de HIV, teve-se muito medo de técnicas de análise sanguínea de poderiam causar o contato com o sangue humano, como a centrifugação para cálculo do hematócrito. Atualmente, contadores ELETRÔNICOS calculam o Hct como um PARÂMETRO DERIVADO do VCM e dos ERITRÓCITOS (Hct = VCM x E). Valores de Referência – Em homens = 47 a 54%; em mulheres = 42 a 48% 4. Correlação entre Eritrócitos, Hemoglobina, Hematócrito e Volemia É importante lembrar que esses valores avaliam a concentração e proporção dos componentes eritroides na AMOSTRA ANALISADA, não necessariamente refletindo as quantidades totais do sistema vascular. Diante disso, existem situações específicas em que E, Hb e Ht não refletem com fidelidade o correspondente circulante. ➔ Aumento isolado da volemia plasmática – Nessas condições há uma PSEUDOANEMIA devido a uma HEMODILUIÇÃO e não a uma diminuição da massa eritro/hemoglobínica. Esse aumento de volemia é FISIOLÓGICO na gestação e nos atletas com treinamento intensivo; pode ocorrer na retenção de líquidos por IC ou IR. ➔ Diminuição isolada da volemia plasmática – aqui ocorre a HEMOCONCENTRAÇÃO, sendo expressa no eritrograma como PSEUDOPOLIGLOBULIA. Ocorre na DESIDRATAÇÃO. ➔ Diminuição harmônica e não compensada da volemia total – Ocorre nas primeiras horas após hemorragia, há uma falta de eritrócitos e hemoglobinas, mas, na mesma proporção, há uma falta de plasma, então o eritrograma fica inalterado. 5. Volume Corpuscular Médio (VCM) A descoberta do VCM em 1934 permitiu a divisão das anemias em MICRO, NORMO ou MACROCÍTICAS de acordo com o seu volume.Atualmente, os contadores (de VCM) CONTAM e MEDEM simultaneamente os eritrócitos um a um, sendo o VCM, como o nome já diz, uma MÉDIA DOS RESULTADOS – 6 Fatores de interferência ➔ Conversão – como o VCM é calculado por impedância, não existe lei física que converta PULSOS DE IMPEDÂNCIA em FENTOLITROS. ➔ Crioaglutinação – eritrócitos aglutinados por solvente. ➔ Conservação sangue – a conservação mais longa a temperatura ambiente torna-o túrgido, enquanto a 5°C retarda esse aumento de volume. ➔ Hiperosmolaridade do sangue – hipernatremia e hiponatremia, quando acentuadas, causam MACRO e MICROCITOSE. A hiperglicemia diabética pouco interfere no VCM. Correlação VCM e Eritrócitos – como foi visto, se relaciona INVERSAMENTE a contagem Valores de Referência – iguais em homens e mulheres: VCM = 88-90 fL Com a medida um a um dos eritrócitos, o VCM deixou de ser um QUOCIENTE (Hct/E) e tornou-se a média de todos os valores obtidos, o que pode gerar uma CURVA DE FREQUÊNCIA = HISTOGRAMA! 6. RDW RDW é a sigla para Red Cell Distribution Width, o que em português significa Amplitude de Distribuição dos Glóbulos Vermelhos, e que avalia A VARIAÇÃO DE TAMANHO ENTRE AS HEMÁCIAS, sendo essa variação denominada anisocitose. Dessa forma, quando o valor está elevado no hemograma significa que os glóbulos vermelhos têm um tamanho superior ao normal, podendo ser visto no esfregaço sanguíneo hemácias muito grandes e muito pequenas. Quando o valor é abaixo do valor de referência, normalmente não apresenta significado clínico, somente se além do RDW outros índices estiverem também abaixo do valor normal, como o VCM, por exemplo. ANISOCITOSE é o termo que se dá quando o RDW se encontra aumentado, podendo ser visto no esfregaço sanguíneo uma grande variação de tamanho entre as hemácias. O RDW pode estar aumentado em algumas situações, como: ➔ Anemia por deficiência de ferro; ➔ Anemia megaloblástica; ➔ Talassemia; ➔ Doenças do fígado. – 7 7. Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) É a quantidade média de hemoglobina (hb) presente nas hemácias. É parte de um exame das células sanguíneas e serve para identificar o tipo e causa da anemia. Em humanos o valor normal é entre 27 e 31 picogramos por glóbulo vermelho. Dependendo do valor encontrado a anemia pode ser classificada em: ➔ Anemia hipercrômica: Valor maior a 31 picogramos, pode ser causada por deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico. Também pode ser causado por doença hepática e após quimioterapia. ➔ Anemia normocrômica: Valores entre 27 e 31 picogramos, indica que a causa da anemia é perda de sangue. Pode ser causado por hemorragia, sangue nas fezes, hematêmese, linfomas, sepse e síndrome nefrítica. ➔ Anemia hipocrômica: Valor menor a 27picogramos, pode ser causada por deficiência de ferro. – 8 8. Reticulócitos Reticulócitos são hemácias imaturas. São produzidos pela medula óssea quando as células tronco se diferenciam para formar hemácias. As células tronco inicialmente produzem eritroblastos, que começam a fabricar hemoglobina e acabam perdendo o núcleo. Os reticulócitos são um estágio intermediário de maturação, entre os eritroblastos e as hemácias, já sem núcleo mas ainda com um certo conteúdo de ácidos nucleicos no citoplasma. A contagem de reticulócitos determina seu percentual entre as hemácias no sangue, e indica a VELOCIDADE DE PRODUÇÃO DE HEMÁCIAS NA MEDULA ÓSSEA. – 9 Referências • WILLIAMSON, M. A.; SNYDER, L. M. Wallach - Interpretação De Exames Laboratoriais. [s.l.] GUANABARA KOOGAN, 2015. • CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica. [s.l.] Editora Rubio, 2012.
Compartilhar