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uma reflexão sobre a forma agressiva com que a atividade vinha sendo de- senvolvida, aliada ao desmatamento, destruição de manguezais, salinização Mugilídeos – família de peixes, conhecidos no Brasil como tainha. de áreas antes agricultáveis e poluição orgânica de estuários (modificado de ANDREATTA & BELTRAME, 2004). Após a euforia inicial causada pelo grande lucro obtido num primeiro mo- mento e as desilusões causadas pelas doenças e problemas econômicos en- frentados, vislumbra-se que a carcinocultura se desenvolva cada vez mais de forma consciente visando a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade. Atualmente, mais de 50 países exploram a carcinocultura, sendo que o maior produtor mundial é Tailândia. E o maior produtor da América Sul é o Equador. Os mercados consumidores são representados pelos EUA, Japão e Europa Ocidental conforme já mencionado e demonstrado na aula 01. Você sabia? O grande avanço tecnológico da engenharia mecânica ocorrido princi- palmente na segunda metade do século XX foi um dos grandes respon- sáveis pelo desenvolvimento da carcinicultura mundial. As bombas hidráulicas possibilitaram o bombeamento de grande quan- tidade de água para cultivo em níveis acima do mar, o que ampliou as áreas de cultivo. Outro fator de enorme contribuição para o aumento dos cultivos foi a popularização dos sistemas de frio e de congelamento que propiciaram a ampliação dos mercados consumidores, permitindo o comércio entre continentes, derrubando fronteiras e diminuindo distân- cias entre as áreas produtoras e consumidoras. 2.2 Carcinicultura Brasileira No Brasil, a atividade comercial teve início na década de 70 no Rio Grande do Norte, quando o Governo Estadual lançou o “Projeto Camarão” visando a substituição de parte das salinas (extração de sal) na tentativa de amenizar os efeitos da crise que a tradicional atividade do estado passava naquele momento. Entre 1978 e 1984 foram importadas larvas de Marsupenaeus japonicus, fazendo-se necessário então a criação da Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Norte (EMPARN), que passou a sistematizar e desenvolver trabalhos de adaptação da espécie exótica às condições locais. Nos primeiros três anos, devido a uma seca incomum, o cultivo apresentou resultados favoráveis, incentivando a atividade. Esse período caracteriza a primeira fase do camarão cultivado no Brasil, onde predominaram cultivos extensivos de baixa densidade de estocagem, reduzida renovação da água e Estuário – foz dos rios, complexos lagunares. Servem de berçário para diversas espécies. Carciniculturae-Tec Brasil 338 e-Tec Brasil339Aula 2 - Histórico da Carcinicultura uso da alimentação natural produzida no próprio viveiro, tais como polique- tas, zooplânctons e microalgas. Na primeira metade da década de 80, muitas empresas camaroneiras rece- beram subsídio somando 22 milhões de dólares. No entanto, devido a entra- ves políticos e econômicos, à falta de tecnologia e a fragilidade das espécies cultivadas dificultaram, o crescimento desse setor num primeiro momento. Na região Sul, logo no início da década de 80, a ACARPESC, empresa pública de apoio à pesca em Santa Catarina desenvolveu os primeiros estudos para o cultivo consorciado de tainha e camarões, sendo que o último apresentou melhores resultados. Como a coleta de larvas do ambiente não era suficiente para povoar as fa- zendas, idealizou-se o LCM – Laboratório de Camarões Marinhos, da UFSC. Em 1984 a Universidade Federal de Santa Catarina iniciou os trabalhos de pesquisa da reprodução e cultivo de espécies nativas, sendo o primeiro la- boratório a conseguir produzir pós-larvas em laboratório na América Latina. A partir da segunda metade da década de 80, houve uma profissionalização e planejamento estratégico do setor, passando a adquirir características téc- nico-empresariais fundamentadas em novas tecnologias, fatores que carac- terizam o segundo período da carcinocultura marinha em nosso país. Neste momento foram feitos esforços para a domesticação de espécies nativas (Penaeus subtilis, Penaeus schimitti e Farfantepenaeus paulensis), para a sua reprodução em laboratório e para o desenvolvimento de tecnologias de cultivo, incluindo a preparação do solo, qualidade de água, adensamento populacional, introdução de alimento inerte (ração), etc. Embora se tenha alcançado o domínio total da reprodução em laboratório, as espécies nativas, tanto o Penaeus schimitti (camarão branco) quanto o Farfantepenaeus paulensis (camarão rosa) apresentaram sérias dificuldades de adaptação ao confinamento, ao adensamento e a outros fatores de stress ambiental inevitavelmente presentes nas fazendas de engorda, tornando-o não competitivo comercialmente. A tecnologia desenvolvida hoje é utiliza- da em programas de repoavoamento de Lagoas Costeiras e em programas sociais no sul do Brasil (especialmente Lagoa dos Patos) para o aumento da renda familiar de pescadores através do cultivo principalmente do F. paulen- sis (camarão rosa) em cercados e em gaiolas. Na década de 90, as empresas camaroneiras do nordeste, devido aos obs- Cultivo consorciado – cultivo de mais de uma espécie dentro de um mesmo local. Adensamento populacional – tornar mais denso, aumentar o número de indivíduos/m² táculos no cultivo das espécies nativas, e observando o bom desempenho no cultivo da espécie Litopenaeus vannamei no Equador e Panamá e a já comprovada capacidade de adaptação aos vários ecossistemas, o Brasil pas- sou a importar náuplios, pós-larvas e reprodutores do Equador, México, Ve- nezuela, Panamá e EUA. Devido à validação dos conhecimentos adquiridos na segunda fase da carcinicultura brasileira e à adaptação do L. vannamei às condições de cultivo conseguiu-se provar já em 1995/1996 a viabilidade comercial da produção em escala. A partir de 1998 também o LCM (em Florianópolis/SC) passou a produzir pós-larvas de camarão branco do Pacífico, assim como vários outros labo- ratórios em todo Brasil. Devido às excelentes características zootécnicas e adaptação da espécie que conseguiram superar os problemas tidos com as espécies nativas, a isto se soma também o desenvolvimento de novas tec- nologias, extensão agropecuária atuante e mercado consumidor favorável levaram a um boom da atividade conforme se observa na figura abaixo: Náuplio – primeira fase larval dos crustáceos decápodes, incluindo o camarão. Características zootécnicas – características de cultivo Gráfico 2.1 – Evolução do Desempenho da Carcinicultura Brasileira (1998 – 2007) Fonte: http://www.abccam.com.br O camarão branco do Pacífico tornou-se a única espécie cultivada comercial- mente no Brasil. A sua domesticação convergiu para a adoção de um sistema semi-intensivo que se consolidou como sistema próprio para as condições dos estuários brasileiros. Atividade de aprendizagem 1. Entre no site da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) (http://www.abccam.com.br) e pesquise sobre a história da carcinicultura e seu desenvolvimento no Brasil. Carciniculturae-Tec Brasil 340 e-Tec Brasil341Aula 2 - Histórico da Carcinicultura 2. Pesquise em outros sites e confira como se deu o desenvolvimento da carcinocultura na Tailândia, Vietnam, Equador e México. Pesquise também como é realizado o cultivo hoje nesses países, bem como as taxas de povo- amento e produtividade. Resumo • O cultivo de camarões é uma atividade bastante antiga, mas a forma com que é realizada tem se desenvolvido muito através do maior conhe- cimento da biologia do animal, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias de cultivo e da própria engenharia que hoje permite o uso de muitos equipamentos essenciais para o desenvolvimento da atividade. • Embora tivessem tido diversas tentativas de desenvolvimento da carcini- cultura com as espécies nativas, estas foram frustradas devido a vários problemas que levaram o Brasil