O Cérebro que se transforma - Capítulo 8

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-------CAPÍTULO 8: A IMAGINAÇÃO – COMO FUNCIONA O PENSAMENTO-----------
Ao longo do capítulo, Alvaro Pascual-Leone, um Professor de Neurologia e Diretor
Associado de Pesquisa Clínica e Translacional da Harvard Medical School, que atua como
Chefe da Divisão de Neurologia Cognitiva e Diretor do Centro Berenson-Allen para
Estimulação Cerebral Não-invasiva no Beth Israel Deaconess Medical Center, tem como
objeto de estudo entender como acontece e quais os mecanismos responsáveis por
controlar a plasticidade dos cérebros com o passar dos tempos, para poder atuar
pontualmente e poder alterar o resultado do paciente, com o propósito direcionado a
prevenção da baixa atividade cognitiva que muito afeta idosos, diminuir o número de casos
de demência e reduzir significativamente os impactos causados pelas falhas do
neurodesenvolvimento. E por meio de seus experimentos demonstrou que a anatomia do
cérebro é suscetível a mudanças através do uso da imaginação. Utilizando o
TMS(transcranial magnetic stimulation), que é uma aparelho estimulador que cria um campo
magnético variável no tempo, aplicado sobre o crânio através de uma bobina de
estimulação. Esse aparelho é usado por Pascual-Leone para disparar alguns pulsos de
TMS para que em um certo período de tempo, a atividade da região cerebral seja impedida
de ser efetuada, e assim, posteriormente, verificaria qual função mental desapareceria.
Também utilizou a TMS de alta frequência, que tem o papel de ativar os neurônios até um
estágio em que um ativa o outro, fazendo com que os disparos continuem, mesmo que a
carga inicial de TMS tenha sido suspensa.
A utilização da TMS em terapias podem gerar novidades eficazes em tratamentos, como
algumas descritas ao longo do capítulo:
- O rTMS é de extrema eficiência para o tratamento de pacientes com depressão,
uma vez que essa técnica ativa temporariamente uma parte do cérebro e em
algumas depressões, o córtex pré-frontal é parcialmente inativado e subfuncional. E
segundo o capítulo, 70% das pessoas que não tiveram resultado com nenhum
tratamento anterior melhoraram com rTMS e tiveram uma quantidade muito inferior
de efeitos colaterais do que com a medicação.
- Pascual-Leone fez o uso do TMS para mapear o córtex motor de pessoas cegas que
aprendiam Braile, e conseguiu observar que o córtex motor aumentava de tamanho
conforme as pessoas aprendiam ler novas palavras, e com isso ele descobriu como
eram adquiridas quais quer novas habilidades, era a maneira como acontecia a
mudança plástica no curso de cada semana. Uma vez que os participantes do
estudo eram mapeados com umas TMS às sextas(no final da semana de
treinamento) e às segundas (depois do descanso do fim de semana). Os mapas da
sexta-feira cresceram por seis meses — voltando ao inicial a cada segunda-feira.
Depois de cerca de seis meses, os mapas das sextas feiras ainda aumentavam,
mas não tanto como nos primeiros seis meses.Já os da segunda-feira começaram a
crescer com um padrão oposto, isto é, após os seis meses de treinamento. Portanto,
Pascual-Leone considerava que as mudanças das sextas-feiras fortalecem
conexões neurais existentes e desmascaram vias sepultadas, ao passo que, as
mudanças mais tardias e mais duradouras das segundas sugerem a formação de
estruturas mais recentes, como novas conexões neurais e sinapses.
- Em um experimento seguinte, Pascual-Leone demonstrou o grau da plasticidade
cerebral,verificaram o reforço da região de representação cortical motora da mão em
pessoas inexperientes que praticavam tocar piano no laboratório; a imagem cortical
voltava ao tamanho original quando os exercícios eram abandonados. No entanto,
ele demonstrou um aumento da área da mão mesmo com exercícios de piano
apenas imaginados pelos voluntários, sem execução da atividade realmente.
- Sua maior descoberta, com implicações extremamente significativas, para o
aprendizado de qualquer habilidade, era a forma como ocorria as alterações
plásticas no passar dos dias. Como também, apresentados por ele, que a
imaginação e a efetiva ação são integradas, já que ambas são produtos do mesmo
programa motor cerebral.
O capítulo 8 ressalta o quanto a imaginação e a ação andam juntas e o quanto isso
é bom para o tratamento de pacientes. De acordo com muitos estudos, acredita-se que a
imaginação e a ação sejam produtos do mesmo programa motor cerebral, isso nos dá a
esperança de uma pessoa com paralisia controlar um braço ou outro membro robótico
apenas com o pensamento. Nesse âmbito, muitas pesquisas foram em busca do
desenvolvimento de aparelhos que "lêem" o pensamento das pessoas a partir de uma série
de microeletrodos implantados no córtex motor com baterias e um pequeno transmissor.
Todavia, alguns cientistas ainda procuram estudar mais a fim de desenvolver uma técnica
menos invasiva que essa por meio da variação da TMS para detectar mudanças nas ondas
cerebrais.
Cabe salientar que essas técnicas de estudo com aparelhos apenas são possíveis
porque o cérebro é plástico e muda fisicamente seu estado e estrutura enquanto o paciente
pensa, podendo ser acompanhado por medições eletrônicas, em outras palavras, esse
estudo ocorre devido à neuroplasticidade neural. A Neuroplasticidade ou plasticidade neural
é definida como a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em
decorrência dos padrões de experiência, e a mesma, podem ser concebidas e avaliadas a
partir de uma perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou funcional (modificação do
comportamento). Todo o processo de reabilitação neuropsicológica, assim como as
psicoterapias de um modo geral, se baseiam na convicção de que o cérebro humano é um
órgão dinâmico e adaptativo, capaz de se reestruturar em função de novas exigências
ambientais ou das limitações funcionais impostas por lesões cerebrais.
A relação da TMS e tratamento de disfunções
A Estimulação Magnética Transcraniana (no original, TMS,
Transcranial Magnetic Stimulation) é uma nova técnica que tem sido
utilizada para o tratamento de transtornos neuropsiquiátricos,
principalmente depressão. Ela pode ser de dois tipos: de pulso único
(ou pulso simples) ou de repetição. A estimulação de pulso simples é
geralmente utilizada em neurologia e neurofisiologia, principalmente
para o estudo das funções motoras. Já em psiquiatria, é mais relevante
a utilização da TMS de repetição (repetitive TMS, ou rTMS). Nesta, os
pulsos são administrados de forma repetitiva com freqüências variáveis até o ponto que eles
excitam um ao outro e continuam disparando mesmo depois que a carga original do rTMS
pare.
A TMS pode ser usada tanto para reativar estruturas hipoativas quanto para inibir
estruturas hiperativas, além de ser ferramenta útil para melhorar o processo natural de
reorganização cortical. Vale ressaltar que as mudanças resultantes da terapia com TMS
podem durar além do tempo de estimulação, devido aos processos de plasticidade
sináptica, fornecendo grandes perspectivas à reabilitação em doenças crônicas, sobretudo
em condições como AVC, dor crônica, Doença de Parkinson e depressão.
A equipe de Pascual-Leone foi a primeira a mostrar que a rTMS é eficaz no
tratamento de pacientes gravemente deprimidos. Isso aconteceu porque
em algumas depressões o córtex pré-frontal é parcialmente inativado e
subfuncional. Embora a frequência dos pulsos magnéticos seja
fundamental para os efeitos da EMTr, o fator determinante principal para
essa técnica é o local que será estimulado. Assim, o posicionamento da
bobina é fundamental para a eficiência do tratamento.
Nesse caso, para se encontrar o córtex pré-frontal dorsolateral
deve-se encontrar o córtex motor para, após, posicionar a bobina a
determinada distância deste, sobre o córtex desejado. A dependência da
posição de outras regiões cerebrais diminui a acurácia dessa técnica
que, em casos de variações anatômicas, pode levar ao posicionamento
incorreto da bobina. A eficácia do tratamento pode ser ampliada, então,
pela utilizaçãode equipamentos de neuronavegação. Essa utilização permite o
posicionamento preciso da bobina, levando, assim, a estimulação adequada do córtex
pré-frontal.
Já a doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa, crônica e progressiva,
que acomete em geral pessoas idosas. Ela ocorre pela perda de neurônios do SNC na
substância negra com redução de dopamina, causando uma ativação anormal dos gânglios
da base e áreas corticais, incluindo o córtex motor primário, o córtex pré motor e córtex
prefrontal.
Em linhas gerais estudos que utilizaram-se do córtex motor primário para a
estimulação e a bobina em forma de oito, obtiveram redução da rigidez e bradicinesia
contralateral a estimulação e melhora da fala. Quando a estimulação ocorre em córtex
pré-motor, houve, em geral, normalização do potencial motor evocado em pacientes com
uso de medicamentos como L-Dopa, mas não houve efeito em pacientes sem medicação.
Além disso, o tratamento melhora o humor dos pacientes, assim como em pacientes com
depressões maiores.
Ademais, é relatado no capítulo sobre um paciente com os quatro membros
paralisados que conseguiu voltar às suas atividades normais como jogar no computador,
abrir e-mails e controlar um braço robótico através do pensamento. Isso foi possível devido
um minúsculo e indolor chip de silicone com cem eletrodos implantados no cérebro do
paciente e no computador. Todavia, ainda é buscado uma teoria menos invasiva do que os
microeletrodos para detectar a ativação neuronal.
Paciente Matthew Nagle comandando cursores e jogando pong em um computador
Técnicas Clássicas de estudo das habilidades
O grande neuroanatomista espanhol e prêmio Nobel Santiago Ramóm y
Cajal propôs que “O órgão do pensamento é maleável, dentro de certos limites, e
pode ser aperfeiçoado pelo exercício mental bem orientado”. Vale salientar que o
exercício mental pode evitar a deterioração mental.
A presença de doenças como a depressão, distúrbios do sono, Alzheimer e
até a idade podem causar essa deterioração mental. Dessa forma, é necessário
levar em conta o princípio use-o ou perca-o, em outras palavras, quanto mais ativas
as diferentes áreas do cérebro as suas conexões ficam mais fortes e saudáveis. O
neurobiólogo estadunidense Lawrence C. Katz explica em seu livro, Mantenha seu
Cérebro Vivo, que o declínio das funções mentais pode não resultar da morte de
células nervosas, o que ocorre inevitavelmente com a idade, mas sim da redução do
número de conexões entre elas. Os exercícios, portanto, servem para estimular a
formação de sinapses e de regiões dos neurônios responsáveis pela transmissão
dos impulsos nervosos entre as células.
No capítulo 8 ressalta que uma das maneiras mais avançadas do exercício
mental é o “xadrez mental” e devido a essa atividade muitos prisioneiros políticos em
isolamento total deixaram de ter colapsos mentais, pois os prisioneiros jogavam sem
tabuleiro e com as peças pretas e brancas, ou seja, um grande desafio para o
cérebro.
A memória a longo prazo é uma outra habilidade citada no capítulo, enquanto
muitas pessoas dependem da memória a curto prazo, os gênios utilizam a memória
a longo prazo e chegam a respostas tão rápidas como se estivessem na memória a
curto prazo. Um exemplo disso é o Rudiger Gamm que começou a fazer exercícios
de cálculo quatro horas por dia e se transformou em um gênio da
matemática 6 anos depois. O alemão Rüdiger Gamm é
considerado um prodígio de memória que em questão de
segundos consegue resolver operações aritméticas ultra
complexas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] ARAÚJO, H.; IGLESIO, R. F. Estimulação magnética
transcraniana e aplicabilidade clínica: perspectivas na conduta terapêutica
neuropsiquiátrica. Rev Med (São Paulo). 2011 jan.-mar.;90(1):3-14.