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Dermatófit� Características gerais São um grupo de fungos que invadem estruturas queratinizadas, como pele, pêlos e unhas (queratinofílicos). São fungos filamentosos, com hifas finas, septadas e hialinas. São os principais causadores de micoses cutâneas, as dermatofitoses . São conhecidas mais de 30 espécies e são classificadas em 3 gêneros: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Nesse grupo de fungos, os artroconídios são as estruturas infecciosas, que invadem os tecidos. São fragmentos das hifas, que se desprendem delas na estrutura queratinizada. Estas formas resistentes podem permanecer viáveis por mais de 12 meses em ambientes adequados de instalações. Os dermatófitos são aeróbios estritos, a maioria cresce lentamente em ágar dextrose Sabouraud padronizado, mas alguns necessitam de soluções adicionais. Suas colônias são pigmentadas, com crescimento lento de até 25 dias em temperatura de 25ºC. Os dermatófitos podem ser classificados com base nos seus habitats e hospedeiros preferenciais em: ● Geofílicos : vivem no solo, alimentando-se de material queratinoso em decomposição, como pêlos e penas. ● Antropofílicos : não consegue viver no solo e tem afinidade pela espécie humana. ● Zoofílicos : não conseguem viver no solo e tem afinidade por alguma espécie animal. Espécies O gênero Epidermophyton não infecta animais domésticos, apenas seres humanos. No gênero Microsporum, as principais espécies no Brasil são: ● M. canis : cães e gatos ● M. gallinae : aves ● M. nanum : suínos ● M. gypseum : geofílicos, tem como hospedeiro equinos, cães e roedores. Essas espécies produzem mais macroconídios, mas microconídios podem ocorrer isoladamente ao longo das hifas. No gênero Trichophyton, as principais espécies no Brasil são: ● T. verrucosum : ruminantes e o homem ● T. equinum : equinos ● T. simii : aves domésticas, macacos, homens e cães ● T. mentagrophytes : variedade geofílica e a variedade zoofílica tem como reservatório os roedores ( T. mentagrophytes interdigitales ), infectam cães, gatos, humanos, suínos e outros. Essas espécies possuem macroconídios cilíndricos em pequeno número, porém possuem número bem maior de microconídios. Epidemiologia ● Dermatófitos geofílicos ➢ Residem no solo. ➢ Causam infecções esporádicas ➢ Resistem a altas temperaturas. ➢ Infecta os animais por contato direto. ➢ Não são transmitidos entre os animais. ● Dermatófitos zoofílicos ➢ Residem na pele dos animais. ➢ Sobrevivem no solo somente como residentes de escamas de pele, pêlos e unhas. ➢ As infecções são mais comuns em animais jovens e por contato íntimo. ➢ Os conídios sobrevivem no ambiente dependendo das condições ambientais. Patogenia Os dermatófitos invadem estruturas queratinizadas, como estrato córneo da epiderme, folículo piloso, haste do pêlo e penas. O desenvolvimento das lesões é influenciado pela virulência do dermatófito e pela competência imunológica do hospedeiro. Animais jovens, velhos, debilitados e imunossuprimidos são particularmente suscetíveis a infecções, que ocorrem diretamente por contato com um hospedeiro infectado ou indiretamente por restos (debris) de epitélio infectado no meio ambiente. Artrósporos infectivos aderem a estruturas queratinizadas e germinam dentro de seis horas. Traumas menores, como atritos leves da pele ou picadas de artrópodes, podem facilitar a infecção. Superfícies da pele úmidas e calor favorecem a germinação de esporos. Produtos metabólicos do crescimento das hifas podem provocar resposta inflamatória local. Os principais fatores de virulência são enzimas secretoras, como queratinases, proteases e elastases. As hifas crescem centrifugamente a partir de uma lesão inicial em direção à pele normal, produzindo lesões circulares típicas. Alopecia ( fase telogênica - quando o pelo para de crescer, o fungo também para) ), reparação tecidual e hifas inviáveis são encontradas no centro das lesões que eles desenvolvem. O crescimento de hifas pode resultar em hiperplasia epidérmica e hiperqueratose. Às vezes, ocorre infecção bacteriana secundária após foliculite micótica. A inflamação é prejudicial ao crescimento fúngico e é responsável pelo alargamento das lesões. Os dermatófitos não atingem a corrente sanguínea, mas os antígenos sim, generalizando a lesão. Por esse motivo, geralmente apenas a lesão primária contém os dermatófitos e por isso, o clínico deve coletar material de várias regiões do corpo do animal. O desenvolvimento de forte resposta imunológica mediada por células relaciona-se com o início de hipersensibilidade de tipo tardio, que geralmente resulta em eliminação dos dermatófitos, resolução da lesão e resistência local à reinfecção. A imunidade à dermatofitose é transitória, podendo ocorrer reinfecção se a dose inoculatória for grande. Outros mecanismos que podem estar associados à eliminação da infecção incluem uma taxa aumentada de descamação do estrato córneo e aumento na permeabilidade da epiderme, permitindo penetração do fluido inflamatório. Procedimentos diagnósticos A investigação laboratorial é importante, pois a dermatofitose é de difícil diagnóstico na clínica. O método de coleta do material é por raspado de pele , com microscopia e cultivo de amostra, submetendo-o a meios seletivos, microcultivo e testes bioquímicos. Os espécimes adequados para exame laboratorial incluem pêlos arrancados, raspados profundos da pele das bordas das lesões, raspados de unhas afetadas e material de biópsias dos pseudomicetomas. Material adequado de gatos também pode ser coletado em uma folha grande de papel por escovação dos pêlos de cobertura com uma escova limpa. Raspados de pele e pêlos devem ser avaliados no microscópio quanto à presença de artrósporos. Os espécimes são cultivados em ágar dextrose Sabouraud de Emmons (pH 6,9) com adição de 2 a 4% de extrato de levedura, 0,05 g/L de cloranfenicol e 0,4 g/L de cicloheximida . As placas inoculadas são incubadas aerobiamente a 25 a 27°C e examinadas duas vezes por semana por até cinco semanas. Para identificar os isolados deve-se avaliar a morfologia colonial, a aparência microscópica dos macroconídeos e realizar testes suplementares O meio de testede dermatófitos (DTM) é o meio de esporulação rápido . Os dermatófitos geralmente utilizam proteínas e produzem um pH alcalino, causando uma reação de cor visível com o indicador de pH no meio. Alguns precisam de meio de enriquecimento para crescer, como a tiamina, inositol e ácido nicotínico. Em gatos e cães com lesões suspeitas, exame com lâmpada de Wood deve sempre ser realizado. Uma fluorescência característica de cor verde-maçã nos pêlos infectados é evidente em mais de 50% dos cães e dos gatos afetados. A detecção de fluorescência depende de fatores como estágio de infecção e características da linhagem infectante. Em gatos com infecções inaparentes, pêlos fluorescentes devem ser cultivados. Pode ser realizada investigação de outros patógenos que causam lesões na pele ou de infecções mistas. Dermatofitoses em cães e em gatos A maioria das infecções em gatos é causada por M. canis e os sinais clínicos incluem alopecia, etrirema, escamas, costras, pápulas, vesículas, lesões arredondadas de bordas elevadas, entre outros. A doença geralmente apresenta-se como áreas de alopecia, descamação e pêlos quebrados rodeados por zonas inflamatórias. A distribuição de lesões no focinho em gatos está associada com suas atividades comportamentais. Os sinais clínicos variam com a virulência da cepa e do status do sistema imunológico do hospedeiro. Infecções inaparentes têm ocorrência conhecida, e gatos também podem portar artrósporos fisicamente em seus pêlos. Frequentemente são assintomáticos, exceto filhotes e imunossuprimidos. Esses animais podem desenvolver otite externa com descarga ceruminosa. Infecção generalizada em cães é rara, mas quando infectados apresentam lesões musculares. Dermatofitoses em bovinos São atingidos por Trichophyton mentagrophytes e verrucosum . Apresentam cura espontânea das lesões circulares escamosas com alopecia, podendo tornar-se longas, circundadas e crostosas. Não se usa tratamento oral para tratar essas dermatofitoses em grandes animais, apenas tratamento tópico, com uso de iodo e clorexidina. Caprinos e ovinos são acometidos com T. verrucosum. Dermatofitoses em equinos Acometidos principalmente por T. equinum e M. gypseum . A transmissão ocorre por contato direto ou por arreios e utensílios de montaria contaminados. A distribuição das lesões na pele pode indicar a via mais provável da infecção. Infecções causadas por M. gypseum podem ser adquiridas pelo hábito de rolar no solo, com lesões geralmente confinadas no dorso. As lesões são múltiplas, circunscritas, escamosas e acinzentadas. Eqüinos jovens, com menos de quatro anos de idade, são particularmente sensíveis à dermatofitose. Tratamento com preparações tópicas, como cal de enxofre 5% ou natamicina, geralmente é eficaz. Animais afetados devem ser isolados, e arreios e utensílios de montaria contaminados, desinfetados com hipoclorito de sódio 0,5%. Dermatofitoses em suínos A dermatofitose em suínos é rara, sendo geralmente causada por M. nanum , mas podem ser infectados também por M. canis, M gypseum e T. mentagrophytes. Todas as idades são suscetíveis, e as lesões ocorrem em qualquer local da superfície do corpo como crostas espessas amarronzadas. Dermatofitoses em aves Aves galináceas ocasionalmente são infectadas por M. gallinae . Crostas irregulares brancas desenvolvem-se na crista e na barbela. Se a doença é severa, os folículos das penas podem ser invadidos, por sua vez, as aves afetadas podem apresentar sinais clínicos de doença sistêmica. Controle e tratamento Antes de tudo, deve-se determinar a fonte de infecção e a espécie, seguindo para a descontaminação do ambiente e objetos contaminados com hipoclorito de sódio 0,5%. O tratamento tópico consiste no uso de antifúngicos (banhos de enxofre de cal, iodo, povidona e clorexidina). É aconselhável a tosa da região lesada. O tratamento sistemático consiste no uso de griseofulvina, terbinafina, itraconazol e cetoconazol , sendo os dois últimos os mais comuns. Griseofulvina e itraconazol não devem ser usados em fêmeas prenhes e em gatos diagnosticados com FIV, pois causam neutropenia. O controle pode ser feito pela vacinação, incomum em gados. Os animais infectados devem ser isolados e o animais em contato com doentes devem ser examinados com lâmpada de Wood e monitorados rigorosamente para lesões na pele.
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