Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE OBRAS LITERÁRIAS: NA PERSPECTIVA DE CADA PERÍODO Andrielly Caroliny Oliveira de Souza - Unemat Andriellyc28@gmail.com Curso de Letras RESUMO O presente artigo tem por finalidade destacar as principais obras literárias mostrando na perspectiva da época de cada obra literária, com o propósito de análise dos livros O Guarani (1857), Iracema (1865), Lucíola de José de Alencar e a obra de Dom Casmurro de Machado de Assis (1899), tendo como objetivo a análise da imagem da mulher na passagem da Monarquia para a República, e a obra O Primo Basílio (1878) que pertence ao Realismo. O romance, escrito por Eça de Queiroz, conta a história do triângulo amoroso composto por Jorge, Luísa e Basílio. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, realismo, naturalismo, romantismo, contexto histórico. 1- INTRODUÇÃO Em O Guarani – assim como em Iracema – Alencar busca adaptar o modelo literário que o inspira à realidade nacional. Esse era um dos fundamentos mais importantes do Romantismo como ele se manifestou entre nós. Já em Lucíola é o primeiro romance de José de Alencar em que o homem e mulher se confrontam num plano de igualdade, dotados de peso específicos e capazes dum amadurecimento interior inexistente em seus outros personagens. Na obra Dom casmurro Narrado em primeira pessoa, o protagonista Bento revela sua história de amor e o drama de sua vida ao se apaixonar por sua vizinha, Capitu. O romance tem esse nome pois o narrador recebe o apelido de “Dom Casmurro”. Nota-se, em muitas passagens, a ironia do autor e a crítica à sociedade brasileira da época. Temas como o amor, o ciúme, o caráter e a traição são destacados na obra de Machado. Em O Primo Basílio é um dos mais conhecidos e importantes romances do escritor português Queiroz, foi escrito em Portugal, numa época de forte tendência realista na literatura. Sua leitura reporta a um tema sempre presente na estética realista. O Primo mailto:Andriellyc28@gmail.com https://www.infoescola.com/escritores/jose-de-alencar/ Basílio compõe a ação principal e focaliza o casamento, instituição básica da burguesia atingida severamente pelo adultério. 2- CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO Fase inicial da literatura brasileira, foi no início da colonização, vemos o primeiro registro literário em terras brasileiras é a carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Além das cartas, há os diários onde o autor elabora uma literatura informativa, algo próximo às narrativas de viagens, sobre o Brasil. Seu objetivo era informar o rei de Portugal sobre as características geográficas e sociais da nova terra. Assim, Romantismo foi um movimento artístico que surgiu na Europa no século XVIII e durou até meados do século XIX. Ele influenciou a literatura, a pintura, a música e a arquitetura. O Romantismo no Brasil possui três fases: a primeira mostra a face nacionalista; a segunda a face do exagero sentimental; a terceira a face de cunho social- liberal. Foi uma fase de consciência nacional, o desejo de individualização nacional. O índio representa a independência estética do romantismo brasileiro, é a peça- chave do nacionalismo. Há, nesse período, a inserção de termos indígenas nos textos como busca da identidade brasileira. José de Alencar é um dos principais escritores a fazer isso. Com base nas informações, partiremos para análise do corpus colhido, a obra O Guarani e Iracema, de José de Alencar. Na primeira fase do Romantismo, a representação do índio possui algumas características significativas que serviram para caracterizar esse período literário. A história da obra em análise passa-se no século XVII, às margens do rio Paraíba e tem por protagonista o índio Peri, portanto, uma época, uma cena, um herói. O protagonista Peri é descrito como um guerreiro, o herói das matas, um corajoso e bom selvagem, um líder. José de Alencar retrata na figura do índio as características marcantes do povo brasileiro, seu caráter e paixão pela natureza. Ele é detalhista em suas descrições e valoriza os traços do índio, acentuando-os, como podemos observar nesse trecho onde o autor destaca as características de Peri: “Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até o meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele cor do cobre, brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte: a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte, mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da https://www.infoescola.com/historia/carta-de-pero-vaz-de-caminha/ https://www.infoescola.com/biografias/pedro-alvares-cabral/ força e da inteligência.” (ALENCAR, 1984, p. 20-21). Observemos a riqueza de detalhes com a qual escritor trabalha. Nota-se que esse foi um artifício que ele usa trabalhando em busca de pensamento de nacionalidade literária. Em suma, suas obras são um álibi poderoso na qual ele trabalha com a valorização adequada, defendendo o nacionalismo. Assim como afirma o próprio José de Alencar, era preciso muito mais que representar paisagens e linguagem. Faz-se necessário expressar o sentimento que comanda as ações. Na obra, Peri é representado como um “bom selvagem” que convive em harmonia com a família de D. Antônio de Mariz, um fidalgo que morava na região do Paraíba, onde o índio habitava. Era muito estimado pela família dos Mariz desde em que salvara a vida de Cecília, a filha do fidalgo. Desde então, era tratado com afinco e respeito por eles, a não ser por Isabel, uma jovem, filha ilegítima da família e por D. Lauriana, que mantinha por ele um desprezo e ingratidão pelo ato heroico por sua filha. Se referia, pois, a ele, sempre em tom de desprezo e palavras de tons pejorativos. Como mostra o trecho a seguir: “(...) Essa casta de gente, que nem gente é, só pode viver bem nos matos”. (ALENCAR, 1984, p. 52). No século XIX, com o status elevado de reino unido a Portugal, o Brasil deixa de ser colônia e torna-se o lar da corte portuguesa. Esse acontecimento marca o início de sua formação cultural, com a construção de universidades, bibliotecas, museus, etc. Rio de Janeiro, São Paulo e Recife tornam-se centros urbanos efervescentes de produção artística, literária e acadêmica (com forte influência francesa), sem falar das grandes expedições científicas realizadas por pesquisadores e artistas brasileiros e estrangeiros em regiões tropicais inexploradas em busca de catalogação e estudo de novas espécies de fauna e flora. Na primeira metade do século XIX, temos a identidade cultural brasileira formada com forte influência do olhar estrangeiro e pela construção do ideal do homem nativo, “autenticamente” brasileiro. É quando nasce a ideia do “índio herói”, ilustrada na trilogia indianista de José de Alencar (O Guarani, Iracema). Neste momento, a ideia de pátria estava intimamente ligada ao amor e conexão à natureza primitiva que somente o nosso índio saberia estabelecer. Estas obras recontam as origens do Brasil e de nossa colonização, buscando regenerar na literatura a violência despendida contra os povos indígenas que ocupavam as terras brasileiras e a destruição de suas culturas. A estratégia utilizada foi recorrer a um passado mítico, anterior à própria história e que, ao mesmo tempo, a legitima. O Guarani fala do amor e devoção do índio Peri por Cecília de Mariz, filha do fidalgo português D. Antônio de Mariz. Trata-se da representação do índio assimilado na submissão de Peri às vontades de Ceci, bem como sua conversão ao cristianismo, ilustrando o momento histórico de colonização do Brasil de plena instalação portuguesae missões religiosas. Já em Iracema reinventa a fundação do estado do Ceará e do Brasil por meio do amor proibido entre a índia, protagonista que dá título ao livro, e Martim, guerreiro português que lidera a ocupação no litoral. Iracema é tabajara, filha do pajé Araquém e guardiã do segredo da jurema é uma virgem consagrada ao deus Tupã. Rompendo o voto de castidade, gera um filho de Martim, assim, o romance apresenta, que seria o primeiro cearense e Peri representa o índio assimilado, Iracema transita os dois polos, não sendo assimilada pela cultura europeia, mas não permanecendo ao lado dos seus, não só dorme com Martim, foge com ele. Além de personificar o Novo Mundo, a concepção de Moacir faz de Iracema uma espécie de mãe mítica do povo brasileiro. No entanto, Iracema apresenta a busca pela regeneração de um passado histórico de colonização, marcado por atos de violência extrema contra as etnias indígenas brasileiras. Um exemplo é a concepção de Martim, que sempre age de forma respeitosa e cortês com Iracema e os demais indígenas. O personagem, que representa a Europa civilizada, é destituído de qualquer traço que possa indicar explicitamente o povo europeu como intelectual e economicamente superior. Em Iracema, o índio é idealizado, de modo a demonstrar cordialidade, passividade e gentileza, especialmente com o estrangeiro. São características que a classe dominante de um país teria interesse em difundir como referência de comportamento. Identificar esses traços em nosso “povo de origem” seria uma forma de instituir um modelo legitimado pela força do mito de fundação. A narrativa de fundação, portanto, pode constituir-se em uma ferramenta eficaz de regulação e manutenção de poder. Iracema traz aspectos da heroína mítica, da beleza que personifica a graciosidade da natureza, dos atributos físicos (agilidade, velocidade e perícia com arco e flecha) e o status de sacerdotisa. No entanto, a sua velocidade e agilidade lembram o herói homérico Aquiles, conhecido como “pés velozes”. Filha de pajé, somente ela conhecia o preparo da bebida de Tupã, que os guerreiros tabajaras ingeriam em rituais sagrados, nas noites anteriores a combates, para que tivessem sonhos de vitória. Ela guarda, portanto, o “mistério do sonho”, atribuição que somente alguém que transita entre o sagrado e o profano poderia assumir. Alencar exalta de forma poética a natureza primitiva da serra e litoral cearenses. Durante todo o romance, mostra os indígenas, sobretudo Iracema, imersos de forma harmônica em um cenário paradisíaco. As características dos personagens são frequentemente comparadas a atributos de alguma espécie da flora ou fauna locais, que seriam também, de certa forma, detentoras do sagrado, como a manifestação da voz de Tupã, quando o pajé Araquém move a grande pedra que fica em sua cabana. Trata-se da visão do índio não como indivíduo, mas como parte de um cenário. Diferentemente do perfil da heroína romântica e urbana de Alencar, Iracema possui o exotismo do corpo nu e selvagem, exposto e pronto a encantar Martim. Perfumava a si e a rede onde se deitava com o esposo. Também se banhava todas as manhãs na lagoa próxima de onde moravam. Os índios pitiguaras que a viam no banho batizaram a lagoa de Porangaba, a lagoa da beleza. As mães pitiguaras passaram a banhar suas filhas naquelas águas, porque elas teriam a propriedade mágica de dar beleza e formosura às jovens virgens. A exuberância da filha de Araquém acabou por forjar o mito da beleza. 3- MULHER E A SOCIEDADE BURGUESA A burguesia é uma classe social que surgiu nos últimos séculos da Idade Média por volta do século XII e XIII, com o renascimento comercial e urbano. Dedicava-se ao comércio de mercadorias (roupas, especiarias, joias, etc.) e prestação de serviços (atividades financeiras). Habitavam os burgos, que eram pequenas cidades protegidas por muros. Como eram pessoas ricas, que trabalhavam com dinheiro, não eram bem vistas pelos integrantes do clero católico. Portanto, a obra Lucíola de José de Alencar, mostra as características da personagem, em contraste com a sociedade em formação no século XIX. Os ideais burgueses e consequentemente a sociedade patriarcal mostram muitas contradições à figura feminina, que se por um lado não se adequa a normas e regras, por outro é obrigada a seguir padrões pré-estabelecidos pela mesma. Observamos, assim, o conflito constante das personagens femininas de Alencar, sobretudo, no romance em análise. A obra Lucíola, apresenta-nos uma cortesã, mulher dona de seus desejos, forte e determinada que, ao apaixonar-se por Paulo, rapaz do interior recém chegado ao Rio de Janeiro, transfigura-se e passa por uma mudança significativa de perfil, tornando-se submissa a seu amado e ao amor que lhe purifica a alma. Os protagonistas da narrativa enfrentam as críticas da sociedade burguesa, pois, Lúcia e Paulo não seguem os ideais exigidos daquela época, sendo vítimas da injustiça e da hipocrisia. Sem saída desse contexto, ambos acabam conformando-se ao ideal burguês, que impossibilita Paulo de desposar Lúcia, por ela não ser mais casta. É impossível ler Lucíola excluindo o contexto histórico vivenciado no final do século XIX, durante a ascensão da burguesia. O autor traça um perfil desse contexto e nos apresenta personagens condicionados a padrões e preceitos, a estereótipos e preconceitos. Nesse sentido, a imagem que temos inicialmente de Lúcia, é leviana e independente, mas acaba por se diferenciar ao longo da narrativa, para adequar-se aos padrões românticos. A identidade da personagem é modificada, para que ela sofra as consequências de seus próprios atos. Por outro lado, o próprio Paulo, que inicialmente encanta-se com Lúcia, no decorrer de sua adequação à sociedade burguesa, acaba por rejeitá-la. Diante desta discussão inicial, vemos que as características presentes nas mulheres que seguiam o ideal burguês; “As mulheres de Alencar”, em que mostramos o perfil de algumas das heroínas do autor em sua obra; e por fim, “Lucíola um retrato da sociedade burguesa”, apresentando as características da personagem Lúcia, na sociedade romântica burguesa. O perfil da mulher, nesse sentido, empenhava-se em representar a “mãe burguesa” daquela época. Como era vetada a esfera pública, as altas responsabilidades da organização do lar, do casamento e dos filhos eram exigidas dela, para que pudesse ser reconhecida como um ser de bom caráter, comportamento e costumes. Era ainda a “mãe educadora”, àquela a quem cabia a educação dos filhos, geralmente, feita em casa. E representava também o “anjo submisso e obediente”, a quem cabiam características como doçura, facilidade em perdoar e delicadeza de espírito, sobretudo, a partir da constatação de que ela era mais frágil do que o homem, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Sobre essas constatações. O narrador de Alencar representa em Lúcia o perfil de mulher contrário ao padrão exigido à mulher romântica e burguesa do século XIX, mostrando uma personagem com atitude, que era a dona dos salões e que detinha certa posse de bens. Mesmo que viesse o conflito dos amores proibidos e da situação social adversa, as razões pelas quais Lúcia precisava manter-se grandiosa na sociedade eram nobres. Lúcia pretendia, dentre outras coisas, manter a irmã Ana longe do triste destino vivido por ela. Se por um lado Lúcia é a mulher desafetuosa dos salões, por outro possui atos nobres e virtuosos. Nesse sentido, vemos na obra de Alencar, uma crítica ao desvirtuamento da mulher aos olhos dos padrões da burguesia e da sociedade patriarcal. Nem sempre havia uma escolha para essas heroínas e elas acabavam por trilhar caminhos contrários aos preceitos e regras, para poder sobreviver ou ajudar a família. A exemplo de Lúcia, muitas vezes por inocência e desespero, eram enganadas por homens despudorados, pela necessidadede urgências que as impeliam a romper as normas de conduta e comportamento, impostas pelos ideais burgueses. A protagonista de Alencar desempenha outros papéis e não teria o autor se submetido a copiar os estereótipos da sociedade do século XIX, mostrando que muitas dessas mulheres, pela própria condição de desigualdade imposta a elas, acabavam por ser enganadas e desviadas de seus anseios e sonhos. Aos padrões da burguesia, o modo de vestir-se de Lúcia permite que ela seja aceita pela Corte, que possa transitar pelos salões e receber atenções. Esse é um valor simbólico, uma alegoria que mostra, mais uma vez, o quanto a sociedade age pelas aparências. “Lúcia fitou-me por muito tempo, e chegou-se ao espelho para dar os últimos toques ao seu traje, que se compunha de um vestido escarlate com largos folhos de renda preta, bastante decotado para deixar ver as suas belas espáduas, de um filó alvo e transparente que flutuava-lhe pelo seio cingindo o colo, e de uma profusão de brilhantes magníficos capaz de tentar Eva, se ela tivesse resistido ao fruto proibido. Uma grinalda de espigas de trigo, cingia-lhe a fronte e cala sobre os ombros com a basta madeixa de cabelos, misturando os louros cachos aos negros anéis que brincavam.” (ALENCAR, 1957, p. 109) É a importância dos objetos sobre as pessoas e o preço com o qual se compra a dignidade e a frequência na Corte. Ao olhar despretensioso, Lúcia é uma bela mulher rica, provavelmente virtuosa e comprometida, características inferidas apenas por suas vestes e posses. Os utilitários ou símbolos de status conseguem mascarar a realidade da moça cortesã e a permitem andar livremente pelos salões. Ela demarca seu status na sociedade e não mostra recato. Nesse momento, para Paulo, Lúcia apresenta diversas características da mulher idealizada do Romantismo. Em “Lucíola”, encontramos uma personagem diferente desse padrão e deslumbrante, dona dos próprios desejos e dos próprios bens. Entretanto, essa mesma personagem busca a salvação e a redenção pelas escolhas que precisou seguir, para ajudar a família que estava morrendo de febre amarela. Sobretudo, busca salvar a irmã do caminho de pecados que foi obrigada a seguir. Seu amor por Paulo, um jovem recém chegado ao Rio de Janeiro, desperta nela uma grande transformação e ela entende que é preciso modificar o curso de seu futuro, abandonar os salões e a vida de luxos e futilidades. Ao fazer Lúcia obedecer aos padrões exigidos pela sociedade, Alencar mostra uma sociedade mesquinha e impiedosa, que nega aos amantes uma vida a dois, consequentemente, separando-os através das injustiças das regras e normas de conduta e castidade. A morte de Lúcia é um símbolo da crueldade dessas normas, que estabelecem o papel que a mulher deve manter para alcançar a felicidade. 4- DOM CASMURRO Este trabalho tem como objetivo a análise da imagem da mulher na passagem da Monarquia para a República, através da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, afim de perceber a relação existente entre a representação feminina no romance e as alegorias femininas como símbolo do sistema republicano. Para isso, analisamos o contexto político ideológico da instauração da República e as discussões acerca dos símbolos que foram construídos para a representação do novo regime político. Pretendemos mostrar como a figura feminina foi deslegitimada tanto na obra Dom Casmurro, como também, na simbologia do novo regime, num contexto marcado por transformações econômicas e socioculturais, em que emergem novos costumes e a nova mulher. Dom Casmurro é um romance de Machado de Assis, publicado em 1899. Narrado na primeira pessoa, conta a história de Santiago, o protagonista, que pretende "atar as duas pontas da vida", lembrar e reviver o seu passado. A narração começa na juventude, quando Santiago Bentinho, na época descobre o seu amor por Capitu, amiga de infância com quem acaba casando. A obra conta a história de um homem de posses que ama uma moça pobre e esperta e se casa com ela. Em sua velhice, ele escreve um romance de memórias com o objetivo de entender seu próprio passado e compreender melhor a vida. O romance explora temas como desconfiança, ciúme e traição. Embora o narrador pareça ter a certeza, para o leitor existe uma questão que paira no ar: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Traçando um retrato moral da época, a obra é considerada a maior de Machado de Assis, e uma das mais importantes da literatura brasileira. A obra de Machado de Assis, pode ser considerado o romance mais famoso da Literatura Brasileira. Discutido e falado, tanto pela crítica como em salas de aula, é a narrativa de um marido traído, de acordo com sua própria, visão. A obra era visto como o relato inquestionável de uma situação de adultério, do ponto de vista do marido traído. Mas o mundo caminhou, as ideias se modificaram e novas leituras foram surgindo. Na época em que questões relativas aos direitos da mulher assumiram importância maior em todo o mundo, isto é, na década de 1960, surgiram interpretações que indicavam outra possibilidade: a de que a narrativa pudesse ser expressão de um ciúme doentio, que cega o narrador e o faz conceber uma situação imaginária de traição. Podemos dizer que, assim como a obra de Machado pode ser dividida em duas fases, a romântica e a realista, ou seja, estas duas fases correspondem aos momentos básicos na vida dos personagens. A primeira fase narra o período da adolescência Capitu aos 14 anos e Bentinho 15 anos. Trata-se, nesta parte, de uma narrativa poética, em que Capitu se mostra uma pessoa dominadora, tomando toda iniciativa do jogo amoroso "Como se vê, Capitu, aos catorze anos, tinha já ideias atrevidas". (ASSIS, 2006, P. 39) A fase seguinte, narra o período que começa com o casamento entre Bentinho e Capitu. É uma fase mais realista e amarga, cheia de conflitos, gerados pela incompatibilidade de gênios. Bento desempenha o papel de homem patriarcal, assume o comando do relacionamento afetivo, levando-o à destruição. Capitu, até a metade do livro, é quem comanda a relação. É inteligente, tem iniciativa, arranja modos de livrá-lo do seminário etc. Trata-se de uma garota humilde, mas avançada e independente, muito diferente da mulher vista como modelo pela sociedade patriarcal do século XIX. Nesse sentido, Capitu representa no livro duas categorias sociais marginalizadas no Brasil da época, os pobres e as mulheres. A personagem acabará por “perturbar” a família abastada, ao casar-se com o homem rico. A personagem feminina se mostra perseverante aos problemas que o narrador e a sociedade lhe impõe. Ela assume dissimuladamente o que parece à sua frente e luta por aquilo que tem direito, mesmo que suspeitas caiam sobre si de uma hora para outra É a individualidade feminina sobreposta as imposições sociais, que a educação, a igreja e o homem colocam sobre a mulher. Ao apresentar o perfil de Capitu, Machado de Assis revela traços da psicologia feminina, a arte de dissimular e a capacidade que tem a mulher para sair-se bem de situações embaraçosas. Escolhendo suas personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência o que as personagens são e aparências, e o que as personagens demonstram ser. 5- O PRIMO BASÍLIO O romance O Primo Basílio de Eça de Queirós, publicado em 1878, é uma obra fundamental do Realismo-Naturalismo português. Inova a criação literária da época, oferecendo uma crítica aos costumes da pequena burguesia de Lisboa. Eça de Queirós promove um ataque a uma das instituições burguesas tidas como mais sólidas: o casamento. O Primo Basílio representa um dos primeiros momentos de reflexão sobre o atraso da sociedade portuguesa em um mundo profundamente transformado pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimentotecnológico. O enredo gira em torno do adultério cometido por Luísa e seu primo Basílio, que acabava de chegar do Brasil. Luísa está casada com Jorge há três anos, mas mesmo assim, se deixa seduzir pelo primo que fora seu primeiro namorado. Enquanto seu esposo viajava para Alentejo a trabalho os dois se encontram em um quarto alugado por Luísa especialmente para se dedicar a Basílio. Após ter seduzido sua prima, e vendo a situação em que se encontrava, desesperada de paixão e sendo chantageada por sua criada, que havia interceptado uma de suas cartas de amor para Basílio e não parava de tirar vantagem disso, conseguindo assim, dinheiro e regalias dentro de casa. Basílio abandona Luísa partindo sozinho para Paris. Jorge desconfia da situação quando retorna de viagem e acaba por saber de tudo. Luísa adoece gravemente e morre. O Primo Basílio de Eça de Queirós é um romance realista que retrata a sociedade burguesa Lisboeta do século XIX, se expressa através de um episódio doméstico, um adultério praticado pela personagem principal, Luísa. Eça de Queirós trata em sua trama romanesca. O autor chama atenção para aqueles que se aproveitam dos desvios e das fraquezas humanas, Luísa, a protagonista, paga caro pelo seu envolvimento com Basílio. As personagens são primorosamente construídas como que aprisionadas em seus impulsos e alternativas, pela circunstância social que as limita e condiciona. Com este “episódio doméstico”, o autor pretende mostrar as pessoas de forma exemplar, a tese realista da corrupção da família vista como instituição burguesa, mais especificamente a família da média burguesia lisboeta. O romance faz parte da 2ª fase de Eça de Queirós, onde sua produção é marcado pela influência realista – naturalista, compondo um vasto quadro da sociedade portuguesa da época, ele analisa e critica as instituições, a hipocrisia do clero, a aristocracia decadente e a família burguesa lisboeta. Afirmando que a família lisboeta é produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem, e mais tarde ou mais cedo centro de bambochata. A burguesia consegue definitiva ascensão ao poder político na Europa no final do século XVIII. A Revolução Francesa de 1789 foi o marco histórico desse processo. A consolidação do poder burguês se fez de forma expressiva durante o século XIX, principalmente por causa do desenvolvimento que o capitalismo alcançou neste período. Houve uma acelerada industrialização que acentuou os mecanismos de exploração social do sistema capitalista. Os países industrializados disputavam o tempo todo as áreas de exploração de matérias-primas e os mercados de consumo de manufaturados. Deu-se então um processo conhecido como Imperialismo. As desilusões com os rumos da Revolução Francesa apareceram ainda no momento romântico, mas este quadro aumentou ainda mais a decepção. O espiritualismo e o sentimentalismo, bases do Romantismo, cederam espaço às concepções materialistas e realistas. A realidade passou a ser objeto de estudo e em toda a Europa surgiram filosofias que buscavam explicá-la através de parâmetros científicos: tratava-se do cientificismo. O Positivismo foi a mais representativa dessas filosofias. O positivismo surgiu a partir dos escritos de Auguste Comte e pretendia constituir uma teoria geral do conhecimento, a partir da qual todos os aspectos da realidade poderiam ser explicados e normatizados. O determinismo foi uma outra tentativa nesse sentido, de acordo com esse pensamento as ações humanas poderiam ser determinadas e previstas a partir da análise de alguns fatores básicos, como o meio social, a raça dos indivíduos envolvidos naquelas ações e o momento histórico em que elas aconteceram. Darwin escreveu em 1859 a Origem das espécies e através de seus estudos chegou à conclusão de que existe um Evolucionismo e as Leis das Selvas, o que também contribuiu em muito para o cientificismo. No início da revolução industrial, no século XVIII, a mulher foi inserida no trabalho febril e houve a separação entre o trabalho doméstico e o trabalho remunerado fora de casa, na fábrica, só que o preconceito e a desigualdade ao invés de diminuírem foram se tornando cada vez maiores. Os salários pagos às mulheres eram bem menores que os pagos aos homens e em decorrência disso, nos momentos de crise, contratavam as mulheres, no intuito de economizar. Durante todo o processo da revolução industrial mulheres e homens brigaram entre si, elas eram acusadas de lhes tirarem os empregos. A luta contra o sistema capitalista de produção aparecia permeada pela questão de gênero. O problema passou a ser uma questão de produção aparecia permeada pela questão de gênero. O problema passou a ser uma questão de gênero, e lutando primeiramente contra os homens e a favor de direitos iguais elas aprenderam a defender seus direitos e a lutarem também por melhores condições de trabalho e logo no início do século XIX já se via mulheres lutando pela igualdade da jornada de trabalho, pelo direito ao voto e reivindicando direitos trabalhistas. Sendo o romance de maior êxito de Eça de Queirós, O Primo Basílio deve a maior parte de seu sucesso ao fato de suas cenas eróticas aparecerem de forma natural, mas teve também outros três grandes méritos; primeiro, a visão crítica da pequena burguesia lisboeta, cujo alvo é a família, produto de namoros insólitos e da educação romântica da mulher, entregue a sonhos idealizados e ao ócio. O segundo mérito do livro está na montagem do enredo, construído a partir de uma lógica bem norteada que contribui para a criação de uma atmosfera tensa. O principal mérito se deve à perfeita elaboração de personagens secundários, entre os quais se destaca Juliana, personagem de padrões naturalistas, construída para provar que os fins justificam os meios. O enredo não vai além de um caso banal de adultério (Luísa e Basílio), que atinge proporções mais amplas quando ameaçado pela chantagem da criada Juliana, o caráter mais completo e verdadeiro do livro. Trata-se de um romance de caráter sociológico, pois além de se apresentar diferentes estratos sociais, o autor apresenta o conflito de classes. Sendo assim, uma crítica profunda aos padrões burgueses e ao mesmo tempo funcionando como uma denúncia das características maléficas da burguesia. A obra realista busca criar impressão da realidade através do acúmulo de detalhes. Mostra o lado prosaico da vida, os temas elevados que agradavam aos clássicos perdem espaço. Pois Eça pretende detectar os vícios da sociedade que deseja reformar e isso exige uma aproximação do real. O Primo Basílio procura um contato direto com o real, sem a interferência da subjetividade. Apontar as mazelas sociais da sociedade atual para transformá-la. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo mostra o contexto histórico de cada período, analisadas por grandes obras literárias, assim percebemos que cada período mostra sua objetividade. A Literatura constantemente evolui à medida que novos movimentos emergem para falar das preocupações de diferentes grupos de pessoas e períodos históricos. Cada um desses grandes períodos e movimentos, designa ao sistema de normas que dominaram a cultura ocidental em um determinado momento do processo histórico. Estilo de época diz respeito a uma série de procedimentos estéticos que caracterizam determinado período histórico porque foram usados repetitiva e constantemente, por uma ou mais geração de escritores, Assim, o Estilo individual é a maneira peculiar com que cada escritor manipula a linguagem literária. Refere-se à capacidade de usar técnicas para obter um melhor resultado estético. REFERÊNCIAS ALENCAR, José de. Iracema. 36. ed. São Paulo: Ática, 2001. ALENCAR, José de. O guarani. 11. ed. São Paulo: Ática, 1984. ALENCAR, José de. Lucíola. 4°ed. Rio de Janeiro: José Olympio,1957 ASSIS, Machado. Dom Casmurro. São Paulo: Klick Editora/Zero Hora, 1997. QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. São Paulo: Ática, 1979.
Compartilhar