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LESÃO CORPORAL ART. 129 Objeto jurídico: integridade física. Objeto material: pessoa que sofreu a agressão. Elementos subjetivos do tipo: dolo ou culpa CLASSIFICAÇÃO: - Comum; - Material; - De forma livre; - Comissivo (como regra); - Instantâneo; - De dano; - Unissubjetivo; - Plurissubsistente (como regra) Tentativa: admissível. ESPÉCIES: - Dolosa simples ou leve (caput); - Privilegiada (§ 5.º); - Dolosa qualificada grave (§ 1.º); - Culposa (§ 6.º); - Dolosa qualificada gravíssima (§ 2.º); - Dolosa com causa de diminuição de pena (§4.º); - Dolosa seguida de morte (§ 3.º); - Dolosa com causa de aumento de pena (§ 7.º) - Dolosa qualificada específica (§ 9.º). PARTICULARIDADES: A autolesão não é penalmente punida no direito brasileiro, embora seja considerada ilícita, salvo se estiver vinculada à violação de outro bem ou interesse juridicamente protegido, como ocorre quando o agente, pretendendo obter indenização ou valor de seguro, fere o próprio corpo, mutilando-se. Nessa hipótese, aplica-se o disposto no art. 171, § 2.º, V, do Código Penal, tendo em vista a proteção ao patrimônio da empresa seguradora. Outro ponto a observar é que a lesão culposa admite perdão judicial (§ 8.º). Consumação: Ocorre com a ocorrência da ofensa à integridade física ou à saúde. Como regra, exige-se laudo de exame de corpo de delito para demonstrá-la, pois é infração penal que deixa vestígio real (art. 158, CPP) CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA: a) relevante valor social ou moral: relevante valor é algo importante ou de elevada qualidade (patriotismo, lealdade, fidelidade, amor paterno ou materno etc.). Na ótica social, esses valores envolvem interesse de ordem geral ou coletiva (lesionar o traidor da pátria). Na visão moral, os valores concentram-se em interesse particular ou específico (ferir o traficante que viciou seu filho); b) Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima: Se o agente está dominado pela violenta emoção justamente porque foi, antes, provocado injustamente pode significar, como decorrência lógica, a perda do autocontrole que todos temos ao sofrermos qualquer tipo de agressão sem causa legítima. Desencadeado o descontrole, surge a possibilidade de lesão corporal. Síntese: ambas as hipóteses levam à diminuição da pena, de um sexto a um terço, porque representam menor culpabilidade (reprovação ou censura). QUALIFICADORAS: - Lesão corporal grave e lesão corporal gravíssima: ver no código - Lesão corporal resultante de violência doméstica: obs havendo laços de parentesco ou não; não necessariamente dentro de casa. CRIME PRETERDOLOSO: agente pratica uma conduta dolosa, menos grave, porém obtém um resultado danoso mais grave do que o pretendido, na forma culposa. Única forma autenticamente preterdolosa prevista no Código Penal (§ 3.º), pois o legislador deixou nítida a exigência de dolo no antecedente (lesão corporal) e somente a forma culposa no evento subsequente (morte da vítima). Ao mencionar que a morte não pode ter sido desejada pelo agente, nem tampouco pode ele ter assumido o risco de produzi-la, está-se fixando a culpa como único elemento subjetivo possível para o resultado qualificador. Justamente por isso, neste caso, havendo dolo eventual quanto à morte da vítima, deve o agente ser punido por homicídio doloso. Ressaltemos que a tentativa, nesta hipótese, é inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta é totalmente incompatível com a figura da tentativa. Se o agente não quer, de modo algum, a morte da vítima, é impossível obter a forma tentada da lesão seguida de morte. Ademais, ou a morte ocorre e o crime está consumado, ou não ocorre e trata-se apenas de uma lesão corporal. LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA: Acarreta a substituição da pena privativa de liberdade pela pecuniária. Aplica-se somente à hipótese de lesão corporal leve e desde que haja relevante valor social ou moral ou o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. Além da hipótese anterior, considerou o legislador a possibilidade de aplicar o privilégio quando o agressor for também agredido pela vítima. É preciso ressaltar, no entanto, que não se trata de uma situação de legítima defesa, ou seja, se o ofendido agredir o agente apenas para se defender não deve este receber o privilégio. Ao referir-se a lesões recíprocas, dá a norma a entender que as duas partes entraram em luta injustamente. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: no código PERDÃO JUDICIAL: Permite-se que o juiz afaste a punibilidade do crime de lesão culposa, não aplicando pena, se as consequências do crime atingirem o próprio agente de maneira tão grave que a sanção se torne desnecessária. A pena, se aplicada, não poderia ser mais severa do que já foi a própria natureza. A cirurgia de mudança de sexo como lesão corporal: Autorizada a cirurgia de mudança de sexo, no campo da medicina, é fundamental possa o direito adaptar-se a essa nova postura, pois o tipo penal do art. 129 definitivamente não tem a finalidade de, protegendo a integridade física, causar o mal. Assim, ainda que formalmente se possa falar em lesão corporal no caso de mudança de sexo do transexual – pessoa que rejeita expressamente no campo psicológico o seu sexo natural –, certamente não o é materialmente, pois o bem jurídico maior é garantir o bem-estar do/a interessado/a. PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO - ART. 130 Sujeito ativo: Pessoa contaminada por doença sexualmente transmissível Sujeito passivo: Qualquer pessoa Objeto jurídico: Vida e saúde Objeto material: É a pessoa que mantém a relação com quem está contaminado Classificação - Próprio; - instantâneo; - formal; - de perigo abstrato; - de forma vinculada; - unissubjetivo; - comissivo; - plurissubsistente. Tentativa: admissível. Espécies: a) Simples e b) qualificada Particularidade: É crime de ação pública condicionada à representação da vítima (§ 2.º). Consumação: Ocorre com a prática da relação sexual ou outro ato libidinoso, independentemente de resultado naturalístico. CRIMES CONTRA A HONRA EM ESPÉCIE 1) CALÚNIA (ART. 138) Caluniar alguém imputando fato falso, definido como crime. Se for imputada mera contravenção penal, não há calúnia. A imputação deve versar sobre fato determinado ou determinável A atribuição de qualidade negativa não configura calúnia. * Não afastam o crime ressalvas como “eu não acredito” ou “dizem por aí” Tipo subjetivo: no caput basta o dolo eventual; no parágrafo, precisa de dolo direto Meios de execução: a calúnia pode ser explícita ou implícita - a imputação deve ser verossímil - se na imputação consta circunstância que afasta a tipicidade ou a antijuridicidade, não há calúnia, pois não foi imputado fato definido como crime SUJEITOS PASSIVOS PECULIARES: nos termos do artigo 138, parágrafo 2º, é possível a calúnia contra os mortos. Nesse caso, o sujeito passivo é a família. Clássico o exemplo de crime vago, ou seja, crime que tem como sujeito passivo ente sem personalidade. É possível calúnia contra criança ou contra doente mental, pois podem praticar atos definidos como crime. Pessoa jurídica pode praticar crime ambiental, então pode haver calúnia contra ela em relação a esses crimes. É possível calúnia contra pessoa jurídica nos crimes praticados por pessoa jurídica. Consumação e tentativa: a calúnia protege a honra objetiva se consuma no momento em que a notícia infamante chega ao conhecimento de terceiros. Teoricamente, é possível a tentativa, na forma escrita ou gravada, se a vítima intercepta a comunicação antes que chegue ao conhecimento de terceiros Calúnia e concurso de crimes: a divulgação da calúnia pra várias pessoas configura crime único. A denunciação caluniosa absolve a calúnia por ser crime mais complexo. 2) DIFAMAÇÃO – ART. 139 CP Difamar alguém imputando-lhe fato ofensivo à reputação.O fato não precisa ser falso, bastando que seja infamante. Deve ser fato determinado (como na calúnia). A difamação tutela a honra objetiva. Sujeitos passivos: qualquer um e também inimputável e pessoa jurídica (morto não pode ser sujeito passivo por falta de previsão legal) Exceção da verdade: em regra, não é admitida, salvo se o imputado for funcionário público no exercício da função (porque todos tem o direito de verificar a regularidade do serviço público – justificativa: o interesse do Estado em zelar pela regularidade da administração é maior que o interesse em punir a maledicência; prevalece, com Noronha, que no momento da exceção da verdade, o ofendido deve ainda ser funcionário público, não pode ter sido exonerado; Bittencourt, minoritário, entende que basta que ao tempo da difamação o ofendido seja funcionário público) 3) INJÚRIA – ART. 140 CP Injuriar alguém ofendendo sua dignidade ou seu decoro. Aqui, a imputação é de qualidade negativa (não se imputa fato, se imputa qualidade). Tutela a honra subjetiva. Sujeito passivo: deve ser capaz de fazer um mínimo juízo de valor sobre os próprios atributos (pessoa tem que ter capacidade de se sentir ofendida); pessoa jurídica não pode ser passível de injúria; não é punível a injúria contra os mortos (cuidado com a injúria reflexa, que é xingar o morto e ofender o vivo – como chamar o morto de bastardo e ofender a mãe viva) A injúria deve ser dirigida à pessoa ou pessoas determinadas. Meio de execução: pode ser comissiva ou omissiva – por omissão Elemento subjetivo: intenção de ofender (animus injuriandi) Consumação e tentativa: consuma a injúria no momento em que a imputação chega ao conhecimento do próprio ofendido; tentativa é teoricamente possível, por exemplo, na comunicação escrita interceptada por terceiro Perdão judicial na injúria: há duas hipóteses (i) se o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; e (ii) no caso de retorção imediata que consista em outra injúria só para quem retorquiu, não havendo compensação de injúrias Injúria real: se a injúria consiste em violência ou vias de fato que, por sua natureza, é aviltante (exemplos: sujeito que dá tapa na cara do outro, arremessar excrementos, etc.) - é uma qualificadora, conforme art. 140 parágrafo 2º - na injúria real, as vias de fato (violência sem lesão - empurrar, dar tapa, etc.) são sempre absorvidas; no caso de lesão, será punida em concurso com a injúria real em concurso com a lesão corporal Injúria por preconceito: art. 140 parágrafo 3º - se a injúria consiste em elementos de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de idoso ou portador de deficiência - o entendimento tradicional na doutrina e nos tribunais é que a injúria por preconceito não se confunde com o racismo, já que o racismo estaria previsto na Lei nº 7.716/89, enquanto a injúria por preconceito no artigo 140, parágrafo 3º, sendo que o racismo seria imprescritível, mas a injúria por preconceito não; no entanto, o STJ no julgamento do Resp 686965 entendeu que a injúria racial é espécie de racismo e, por isso, também imprescritível.
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