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ANEMIA FALCIFORME LAÍS CRISTINA – CURSO DE MEDICINA Hemoglobinopatia caracterizada pela substituição do aminoácido ácido glutâmico pela valina na sexta posição da cadeira B do DNA do gene da hemoglobina. Doença hereditária mais prevalente no Brasil Elevada prevalência na Bahia 1:650 Autossômica recessivo (HbSS) o Estado heterozigoto -> traço falciforme (HbAS) Ps. Doença falciforme é qualquer tipo de hemoglobinopatia que gera a hemoglobina S FISIOPATOLOGIA Substituição do ácido glutâmico pela valina Na anemia falciforme ocorre uma alteração mínima na estrutura da hemoglobina que resulta em uma drástica redução na sua solubilidade. Ocorre polimerização (agregação) das moléculas da hemoglobina anormal quando desoxigenadas e redução da sua solubilidade. A solubilidade dessas moléculas quando oxigenadas, não sofre alterações. Essa alteração acontece na superfície da molécula, sem provocar alterações globais. A polimerização da desoxihemoglobina S depende de fatores como: concentração de O2, pH, concentração de hemoglobina S, temperatura, pressão, força iônica e presença de hemoglobinas normais. A HEMOGLOBINA FETAL (HbF) INIBE A POLIMERIZAÇÃO, FENOMENO RESPONSÁVEL PELA REDUÇÃO DE SINTOMATOLOGIA CLÍNICA NOS PACIENTES COM ELEVADOS NIVEIS DE Hb FETAL. FALCIZAÇÃO Todas as hemácias contendo hemoglobina S podem adquirir a forma falciforme. Processo normalmente reversível após reoxigenação. A repetição frequente deste fenômeno faz com que haja lesão de membrana, provocando rigidez e configuração de foice mesmo após a reoxigenação. Em virtude de sua rigidez, as células irreversivelmente falcizadas tem meia vida reduzida contribuindo significativamente para anemia hemolítica. No entanto, os sintomas da anemia falciforme estão ligados à ocorrência de lesões orgânicas causadas pela inflamação e obstrução vascular, chamada de crise de falcização. Nos períodos fora da crise, os pacientes evoluem praticamente assintomáticos, mesmo com anemia persistente, com níveis de hemoglobina em torno de 8g/dL. GENÉTICA POPULACIONAL Prevalência na raça negra A homozigose para o gene BS é a forma mais grave das síndromes falciformes. - há ausência de HbA, aumento variável de HbF. A heterozigose AS não apresenta nenhuma anormalidade hematológica significativa, embora possa ser encontrado raramente algum eritrócito falcizado. O O rim é o meio mais propicio para falcização nestes indivíduos. Podendo ocorrer hematúria. o Os heterozigotos não necessitam de tratamento médico. Mas devem ter aconselhamento genético pela possibilidade de ter filho com a forma grave. A hemoglobina C é uma variante estrutural também da cadeia B da globina. Ocorre substituição do ácido glutâmico pela lisina. A HbC não participa efetivamente da polimerização de desoxiHbS, por isso, esses pacientes tem uma evolução melhor. No entanto, vale lembrar que estes também podem apresentar todas as complicações da anemia falciforme. S/B-talassemia predomina em 1/3 dos pacientes com anemia falciforme. o S/β0 talassemia, com ausência total de produção de HbA, e S/β+ talassemia, em que ocorre produção predominante de HbS e de quantidades reduzidas de HbA. Os pacientes com S/B0 talassemia são tão graves quanto os homozigotos SS. A associação da talassemia B e HbS não é comum em negros VASO-OCLUSÃO Ocorre principalmente na microcirculação. Grandes artérias, como no pulmão e cérebro podem sofrer com isso. O contato direto das hemácias SS e a presença da hemólise, faz com que haja a ativação de células endoteliais da parede do vaso, induzindo uma resposta inflamatória e adesão de células brancas e vermelhas à parede. Associado à redução da biodisponibilidade de NO no vaso, ocasiona a vaso-oclusão. Terapia com Hidroxiureia: Está geralmente associada ao aumento da hemoglobina fetal, diminuindo a falcização das hemácias e promovendo melhora significativa na hemólise. CRISE VASOOCLUSIVA o Episódios dolorosos de intensidade variável o A dor depende do grau de lesão isquêmica e do órgão ou tecido afetado o Lesão tissular isquêmica secundária à obstrução dos vasos sanguíneos pelas células falcizadas o Dor persiste mesmo após o processo de falcização ter cessado Em média 3 – 6 dias Dores podem ocorrer nas extremidades, abdome, tórax, manifestações musculoesqueléticas TRATAMENTO CRISE VASOCLUSIVA DOLOROSA Corrigir fatores desencadeantes Desidratação Infecção Hipóxia Repouso Hidratação o Na dor leve pode ser feito reidratação oral quando há colaboração o Na dor moderada à grave, deve ser feito via endovenosa o Utilizar soluções hipotônicas ou isotônicas para hidratação, esses pacientes possuem uma tendência a desidratar. Alívio da dor MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Desenvolvem-se paralelamente ao declínio pós-natal da HbF Oclusão vascular pelos glóbulos vermelhos seguida de infarto nos diversos tecidos e órgãos; Hemólise crônica e seus mecanismos compensadores; Evidentes em torno do 6º mês de vida, juntamente com as primeiras manifestações clínicas Evolução da doença caracterizada por crises precipitadas por inúmeros fatores 1. Febre 2. Infecção 3. Exercício físico 4. Desidratação 5. Exposição ao frio 6. Tensão emocional Episódios dolorosos agudos - podem ser desencadeados por infecção, desidratação e tensão emocional. Atingem principalmente ossos longos, articulações e dor lombar. Dactilite ou síndrome das mãos e pés - são episódios de dor e inchaço frequentes em crianças entre 6 meses e 2 anos. Essas ocorrências são autolimitadas, embora possam ocorrer ataques recorrentes. Algumas vezes pode ser necessário fazer administração de analgésico. Crises aplásticas - queda acentuada nos níveis de hemoglobina, acompanhada de redução no número de reticulócitos. Em geral ocorre pela infecção do parvovirus B19. Pode ocorrer por iatrogenia, como elevada sobrecarga de O2 que reduz os níveis de eritropotina, no entanto, é uma complicação autolimitada. Crises hemolíticas- agravamento da anemia e acentuação da icterícia Crise de sequestro esplênico - queda nos níveis basais de hemoglobina de pelo menos 2g/dl, hiperplasia compensatória da MO e aumento rápido do baço. Infecções - principal causa da morbidade e mortalidade na anemia falciforme. Complicações cardíacas, pulmonares, neurológicas, hepatobiliar. Complicações genitourinárias - Proteinúria, priapismo (ereção dolorosa, persistente ou recorrente) Manifestações cutâneas (ulceras) Oftálmicas. Cuidados na gravidez são importantes para prevenir abortos espontâneos, crescimento intrauterino retardado, infecções, insuficiência cardíaca. Ps. O sequestro esplênico ocorre principalmente em crianças, visto que, em adultos geralmente o baço não é mais funcionante. SISTEMA NERVOSO CENTRAL 17% dos portadores de doença falciforme 5% dos portadores de HbSC Mortalidade: 15% Manifestações neurológicas geralmente focal o Hemiparesia o Hemianestesia o Deficiência no campo visual o Afasia o Paralisia do nervo craniano Sinais generalizados podem ocorrer o Convulsão o Coma Recorrência de novos infartos o 70% em até 5 anos do primeiro evento TRATAMENTO EM CASOS DE AVC Redução dos níveis de Hb S o Ajuda a prevenir progressão do AVC Nesta fase aguda níveis de Hb devem ser < 10g/dl o Recomenda–se exsanguineotransfusão parcial ou eritrocitaferese para reduzir nível de HbS (< 30%); o Caso não seja possível, realizar transfusão simples de glóbulos vermelhos Após regressão do episódio agudo o Terapia de transfusão regular crônica o Finalidade de manter nível de HbS < 30% SÍNDROME TORÁCICA AGUDA Isoladamente, principal causa de mortalidade após 2 anos de idade Principal causa de morbidade e mortalidade na doença falciforme emqualquer idade Clínica: o Febre o Tosse o Dispneia o Dor pleural o Infiltrados pulmonares o Declínio do nível basal da hemoglobina TRATAMENTO SÍNDROME TORÁCICA Exige hospitalização Causa frequente de óbito no adulto Avaliação Rx tórax Hemograma / hemocultura Gasometria (saturação O2 < 96%, PaO2< 75 mmHg ou decréscimo de 25% do valor basal) Cintilografia pulmonar V/Q Diagnóstico é clínico. Monitorização Hidratação (evitar hiperhidratação) Analgesia Manutenção apropriada da oxigenação (manter O2> 95% e/ou PaO2≥75mg) Antibioticoterapia de amplo espectro para cobrir Pneumococo Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus Mycoplasma pneumoniae (se clínica) Transfusão sanguínea, se necessário. PRIAPISMO Manifestação vasoclusiva (congestão dos corpos cavernosos e/ou esponjosos do pênis por hemácias falciformes) Ereção dolorosa e persistente do pênis, pode ser agudo ou crônico Em qualquer idade Grande maioria auto limitada com redução inferior a 24 horas Casos persistentes podem resultar em impotência TRATAMENTO PRIAPRISMO Hidratação e analgesia Transfusão Indicada quando medidas de crise vasoclusiva não reverterem o processo Não deixar Hb final > 10g/dl Resolução na maioria dos casos em 24 h Se não apresentar melhora → punção aspiração do corpo cavernoso Intervenção cirúrgica Sem resposta as medicações e transfusão Evitar impotência CRISE APLÁSTICA Precedida em 1 – 3 semanas por infecção viral o Parvovírus 819 Aplasia transitória do setor eritrocitário Apresenta sintomas de anemia aguda sem aumento esplênico Reticulocitopenia e ausência de icterícia TRATAMENTO CRISE APLÁSTICA Mantido sob vigilância hematológica até retorno da reticulocitose Em geral autolimitados Transfusão - se descompensação cardíaca ou queda 2 g do basal Transfusão: 10ml/Kg SEQUESTRO ESPLÊNICO Aumento abrupto do baço Queda acentuada dos níveis de hemoglobina Pode ocorrer choque hipovolêmico e óbito TRATAMENTO SEQUESTRO ESPLÊNICO Pronta intervenção - risco de choque hipovolêmico Transfusão de hemácias pequenas alíquotas e monitorizar o baço Avaliação das funções vitais e tamanho do baço Suspeita de repetir o quadro - possibilidade de esplenectomia nas crianças maiores de 2 anos; < 2 anos: transfusão crônica para manter HbS < 30% ALTERAÇÕES NA IMUNIDADE Mais susceptíveis às infecções por • Streptococcus pneumoniae • Haemophillus influenzae tipo b • Neisseria meningitidis • Salmonella sp TRATAMENTO FEBRE SEM FOCO Risco elevado de sepse Meningite, desconforto respiratório, dor óssea localizada, esplenomegalia Hemograma com reticulócitos / hemocultura Raio X tórax EAS e urocultura Punção lombar - se sinais de meningite Se 72 h afebril, culturas negativas, sem sepse e nível seguro de Hb → alta com antibiótico oral. O sangue oferecido deve ser filtrado, processo de retirada de neutrófilos, para evitar produção de citocinas e causar uma reação febril. DIAGNÓSTICO CLÍNICO História clínica – Crises dolorosas de repetição – Infecções – Anemia – Icterícia – Esfregaço periférico – Células em forma de foice – Eritroblastos – Algumas vezes células em alvo – Teste de falcização é positivo – em desuso. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Detecção da HbS e de suas associações com outras frações Técnica da eletroforese de hemoglobina o Em acetato de celulose com pH alcalino: Separação dos tipos de Hb de acordo com as diferentes taxas de migração das moléculas de hemoglobinas eletronicamente carregadas, quando submetidas a um campo elétrico. HEMOGRAMA Anemia normocrômica e normocítica com reticulocitose (5-20%) Hb em pacientes estáveis varia entre 5- 10 g/dl - conhecer o nível basal de cada paciente nos períodos intercrise Valores reduzidos de VCM - atenção para associação com alfa-talassemia ou S/β- talassemia; Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) é normal Leucocitose - achado frequente, podendo apresentar desvio para esquerda Plaquetose - contagem de plaquetas em geral elevada, pode atingir níveis de até 1.000.000/mm³. Plaquetose e leucocitose - decorrente da hiperplasia da medula óssea, hipofunção esplênica. Plaquetopenia presente nos quadros de sequestro esplênico ou hepático. ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL Orientação do paciente e familiares sobre a doença Penicilina oral profilática na infância Vacinas Quelante de ferro Ácido fólico, via oral, 1 – 5mg/dia Avaliação periódica dos diversos órgãos e sistemas: Alterações cardíacas, renais, pulmonares, presença de cálculos biliares, lesões na retina. TERAPIA COM AGENTES ANTIFALCIZANTES Hidroxiureia Promove aumento da HbF (4 – 20%) Indicação: (Protocolo do MS) 03 ou mais admissões hospitalares por crises vasoclusivas nos últimos 12 meses Mais de um episódio de síndrome torácica aguda nos últimos 12 meses Pacientes com complicações vasoclusivas graves Dose inicial preconizada 20mg/kg/dia, 1x ao dia Dose deve ser aumentada progressivamente a cada 3 a 4 meses, na ausência de sinais de supressão medular Sinais de supressão medular Transplante de medula óssea / terapia gênica. Necrose na região maleolar Necrose de cabeça de fêmur
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