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ApostilaBOTINVVIIIISBN978-85-85658-77-9

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Capítulo 13: Bases de anatomia para compreensão de aspectos funcionais da
madeira.
Chapter · January 2018
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Milena Veiga
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Harvard University
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS 
 
BOTÂNICA NO INVERNO 2018 
 
Organizadores 
 
Laboratório de Algas Marinhas 
Fábio Nauer da Silva 
Nuno Tavares Martins 
Laboratório de Anatomia Vegetal 
Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva 
Erika Prado Maximo 
Laboratório de Biologia de Sistemas 
Daniele Silva Pereira Rosado 
Laboratório de Fitoquímica 
Gislaine das Neves Sacramento 
Laboratório de Fisiologia do 
Desenvolvimento Vegetal 
Bruno Nobuya Katayama Gobara 
Frederico Rocha Rodrigues Alves 
Renata Callegari Ferrari 
Laboratório de Sistemática, Evolução e 
Biogeografia de Plantas Vasculares 
Aline Possamai Della 
Andressa Cabral 
 
Professora responsável 
Profa. Dra. Cláudia Maria Furlan 
 
Autores 
Aline Possamai Della 
Allyson Eduardo Nardelli 
Andressa Cabral 
Annelise Frazão 
Antônio Azeredo Coutinho Neto 
Augusto Giaretta 
Bianca Kalinowski Canestraro 
Bruno Lenhaverde Sandy 
Camila Dellanhese Inácio 
Carmen Lucia Gattás 
Eduardo Damasceno Lozano 
Ellenhise Ribeiro Costa 
Emanuelle Lais dos Santos 
Erika Prado 
Fábio Nauer 
Filipe Christian Pikart 
Gisele Alves 
Jéssica Nayara Carvalho Francisco 
José Hernandes Lopes Filho 
Juan Pablo Narváez-Gómez 
Juliana Lovo 
Karoline Magalhães 
Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva 
Lorena Bueno Valadão Mendes 
Luana Jacinta Sauthier 
Luíza Teixeira Costa 
Maria Camila Medina Montes 
Maria Carolina Las-Casas e Novaes 
Mariana Maciel Monteiro 
Mariana Sousa Melo 
Matheus Colli-Silva 
Milena de Godoy Veiga 
Natalie do Valle Capelli 
Nuno Tavares Martins 
Pamela Santana 
Pâmela Tavares da Silva 
Patrícia Guimarães Araújo 
Priscila Pires Bittencourt 
Raquel Paulini Miranda 
Rebeca Laino Gama 
Renata Callegari Ferrari 
Sabrina Gonçalves Raimundo 
Sebastião Maciel do Rosário 
Valéria Ferrario Bazalar 
Vanessa Ariati 
Vinícius Daguano Gastaldi 
 
São Paulo 
2018 
 
 
 
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VIII Botânica no Inverno 2018 / Org. Aline Possamai Della [et al.]. – São Paulo: Instituto de 
Biociências da Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, 2018. 275 p. : il. 
ISBN Versão online: 978-85-85658-77-9 
Inclui bibliografia 
1. Biodiversidade e Evolução. 2. Estrututa e Desenvolvimento. 3. Recursos Econômicos 
Vegetais. 4. Ensino em Botânica. 
VIII Botânica no Inverno 2018. 
 
 
 
5 
 
PREFÁCIO 
 
Fundado em 1934 pelo professor Felix Kurt Rawitscher, o Departamento de Botânica do 
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo atualmente é referência em nível internacional 
de pesquisa e ensino. Possui uma equipe formada por 28 docentes (3 aposentados), os quais estão 
distribuídos em 8 áreas de conhecimento. Apresenta como infraestrutura 11 laboratórios, um herbário 
com a coleção de plantas vasculares, algas e madeiras estimado em 300.000 espécimes e, um fitotério, 
com uma coleção de plantas vivas para uso didático, estufas e casas de vegetação. Somando-se ao 
grande número de pós-graduando (dentre esses, estrangeiros) e a alta atividade científica dessa 
comunidade, a Pós-Graduação de Botânica possui conceito CAPES 7, o mais alto entre as botânicas 
do país. 
Realizado desde o ano de 2011, o curso de Botânica no Inverno, é uma iniciativa dos pós-
graduandos que visa divulgar esse trabalho realizado no Departamento
de Botânica, possibilitando o 
futuro acolhimento de alunos (potenciais) pesquisadores ao seu corpo discente. 
Na VIII edição, o Curso de Botânica no Inverno pretende, com os alunos de graduação e 
recém-formados, revisar e atualizar conceitos fundamentais das subáreas Anatomia Vegetal, 
Educação em Botânica, Ficologia, Fisiologia Vegetal, Fitoquímica, Sistemática e Taxonomia 
Vegetal, além de proporcionar a experiência de vivenciarem as atividades realizadas em nossos 
laboratórios, despertando o primeiro interesse dos possíveis futuros acadêmicos em projetos de 
pesquisa do Departamento. 
Para a realização do VIII Botânica no Inverno, agradecemos à Universidade de São Paulo, à 
direção do Instituto de Biociências, à chefia do Departamento de Botânica, à Comissão Coordenadora 
do Programa de Pós-graduação em Botânica, as agências de fomento FAPESP, CAPES e CNPq. 
 
O conteúdo dos capítulos é de responsabilidade dos respectivos autores. 
 
Desejamos a todos um bom curso. 
Comissão Organizadora do VIII Botânica no Inverno 
 
 
 
6 
 
ÍNDICE 
 
PREFÁCIO. ........................................................................................................................................................................5 
PARTE I: DIVERSIDADE E EVOLUÇÃO 
Capítulo 1: Origem e evolução do cloroplasto. .....................................................................................................................8 
Capítulo 2: Criptofíceas: um pequeno grupo de grande importância. .................................................................................13 
Capítulo 3: Macroalgas marinhas: técnicas de cultivo e aplicação. ....................................................................................20 
Capítulo 4: Ecologia de costões rochosos: metodologias de amostragem e monitoramento. ..............................................29 
Capítulo 5: Mudanças climáticas e os efeitos sobre macroalgas marinhas. ........................................................................46 
Capítulo 6: Macroalgas e suas aplicações biotecnológicas. ...............................................................................................51 
Capítulo 7: Morfologia e ecologia das briófitas. .................................................................................................................67 
Capítulo 8: Tópicos gerais sobre licófitas e samambaias. ...................................................................................................77 
Capítulo 9: Herbáceas de sub-bosque. ................................................................................................................................94 
Capítulo 10: Inferindo a história evolutiva de organismos: dos fundamentos básicos da obtenção dos dados à reconstrução 
de uma hipótese filogenética. ...........................................................................................................................................102 
Capítulo 11: Fundamentos de taxonomia vegetal. ............................................................................................................125 
Capítulo 12: Biogeografia neotropical: história e conceitos. ............................................................................................145 
 
PARTE II: ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO 
Capítulo 13: Bases de anatomia para compreensão de aspectos funcionais da madeira. ...................................................168 
Capítulo 14: Estruturas secretoras.....................................................................................................................................175 
Capítulo 15: Interação planta-animal: uma pequena abordagem sobre os mecanismos por detrás dos mutualismos ........193 
Capítulo 16: Genômica e elementos de transposição ..............................................................................................200 
 
PARTE III: RECURSOS ECONÔMICOS VEGETAIS 
Capítulo 17: Fatores que influenciam no desenvolvimento das plantas: Água e Macronutrientes. ...................................211 
Capítulo 18: Reações luminosas da fotossíntese: produzindo NADPH e eletricidade. .....................................................226 
Capítulo 19: Estresse hídrico em plantas: aspectos morfofisiológicos, adaptações e mecanismos de resposta. ................235 
 
PARTE IV: ENSINO EM BOTÂNICA 
Capítulo 20: Precisamos falar sobre a Bioinformática. .....................................................................................................246 
Capítulo 21: Educomunicação como ferramenta de Educação Ambiental: Projeto Ecossistemas Costeiros. ...................262 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Parte I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIVERSIDADE E EVOLUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
Origem e evolução dos cloroplastos 
Karoline Magalhães (Universidade de São Paulo) 
Fábio Nauer (Universidade de São Paulo) 
 
A diversidade biológica encontrada atualmente em nosso planeta está classificada em três 
domínios, Archaea, Bacteria e Eukarya, sendo os dois primeiros procariontes e o último eucarionte. 
As células de eucariontes são fruto do processo de endossimbiose que ocorreu há mais de 1.4 bilhões 
de anos. Nesse processo, um endossimbionte foi retido e integrado à célula hospedeira, originando a 
mitocôndria. Toda a diversidade biológica encontrada dentro de Eukarya descende deste único 
processo de endossimbiose. 
Os processos endossimbiose podem impactar dramaticamente a arquitetura celular e genômica 
das células envolvidas. Ao longo do processo de estabelecimento de endossimbiose, parte do material 
genético do endossimbionte é transferido para o núcleo principal da célula hospedeira. Tal fato resulta 
na diminuição dos genomas organelares, assim como reestruturação genética nessas organelas. 
Consequentemente, mitocôndrias e cloroplastos passam a ser dependentes de proteínas produzidas 
pelo núcleo, que são marcadas para realizarem funções como expressão, reparo e replicação dentro 
nessas organelas. 
A endossimbiose teve uma ampla influência sobre a diversificação das linhagens de 
eucariontes. Há teorias que defendem que o processo foi fundamental para o surgimento do sistema 
de endomembranas e da origem do núcleo dos eucariontes. As células procariontes são cerca de 10 
vezes menores que os eucariontes e assim exigem um outro nível de compartimentação para seu 
funcionamento. A capacidade de criar um fagócito por meio de uma invaginação celular, que fosse 
capaz de envolver partículas tão grandes quanto bactérias, foi crucial para a evolução dos eucariontes. 
A fotossíntese surgiu originalmente nas cianobactérias (algas azuis) há aproximadamente 3.5 
bilhões de anos. Esses organismos foram responsáveis pela oxigenação da atmosfera, permitindo a 
colonização do ambiente terrestre e modificando completamente o clima na Terra. Após o surgimento 
das células eucariontes, a endossimbiose envolvendo cianobactérias entram em cena. Chamamos de 
endossimbiose primária, aquela na qual um organismo eucarionte heterotrófico englobou e reteve 
uma cianobactéria, culminando no surgimento dos cloroplastos. Acredita-se que um único processo 
de endossimbiose primária deu origem à Archaeplastida (Figura 1). Tal grupo compreende a 
importantes linhagens que conhecemos atualmente, são as glaucófitas, rodofíceas (algas vermelhas) 
e clorofíceas (algas verdes e plantas terrestres). 
CAPÍTULO 1 
 
 
 
9 
 
A partir do processo de endossimbiose primária, os primeiros cloroplastos surgiram. 
Posteriormente, processos de endossimbiose envolvendo dois eucariontes se iniciaram. Em processos 
distintos de endossimbiose secundária envolvendo uma alga verde ancestral como endossimbionte, 
as chlorarachniofítas e euglenofíceas adquiriram seus plastídios (Figura 1). As características das 
células hospedeiras
dos dois grupos é bastante distinta. Enquanto as euglenofíceas estão 
proximamente relacionadas aos tripanossomídeos e leishmanias (Discicristata), as chlorarachniofítas 
são relacionadas aos foraminíferos e radiolários (Rhizaria). 
Embora filogenia dos plastídios secundários verdes já seja melhor compreendida, a história 
dos grupos com plastídios derivados de algas vermelhas ainda é controversa. Não há consenso sobre 
quantos eventos de endossimbiose originaram as linhagens de plastídios vermelhos. Inicialmente, 
acreditava-se que um único evento de endossimbiose secundária envolvendo uma alga vermelha e 
um hospedeiro heterotrófico se diversificou e deu origem as linhagens atuais de criptofíceas, 
dinoflagelados, haptofíceas e heterocontes. Esse grupo foi chamado Chromoalveolata. Outra teoria 
proposta para a evolução dos plastídios vermelhos, supõe que dois eventos distintos deram origem às 
linhagens vermelhas atuais. As haptofíceas e criptofíceas são fruto de um único evento de 
endossimbiose, sendo agrupadas em Hacrobia. Já os heterocontes teriam adquirido seus plastídios em 
um evento separando. 
Entretanto, trabalhos recentes utilizando filogenômica nuclear não embasam tais teorias. 
Recentemente, uma nova teoria sobre a origem e evolução dos plastídios secundários vermelhos foi 
proposta, em que propõe que as criptofíceas adquiriram seus cloroplastos por meio de um único 
evento de endossimbiose secundária com uma alga vermelha. Posteriormente, um eucarionte 
heterotrófico englobou uma criptofícea, originando plastídios terciários dos heterocontes. A partir de 
então, outro eucarionte heterotrófico englobou o heteroconte (plastídio terciário) em um processo de 
endossimbiose quaternária, dando origem a linhagem das haptofíceas (Figura 2). Entretanto, muito 
ainda precisa ser investigado para se chegar a um consenso sobre a evolução dos grupos de 
organismos que possuem plastídios de algas vermelhas. Os dinoflagelados são constantemente 
excluídos dessas analises. 
 
 
 
10 
 
 
Figura 1. Representação esquemática dos processos de transferência lateral dos plastídios nas atuais linhagens de 
eucariontes 
 
 
11 
 
 
Figura 2. Representação das teorias atuais sobre a origem dos plastídios derivados de algas vermelhas. 
 
 
12 
 
Referências 
Burki, F., Kaplan, M. Tikhonenkov, D., Zlatogursky, V., Minh, B. Q., Radaykina, L., Smirnov, A., 
Mylnikov, A. P., Keeling, P. J. 2016. Untangling the early diversification of eukaryotes; a 
phylogenomic study of the evolutionary origins of Centrohelida, Haptophyta and Cryptista. 
Proceedings of the Royal Society Biological Sciences, v. 283, n. 1823, p. 20152802. 
Charrier, B., Bail, A., Reviers, B. 2012. Plant Proteus: Brown Algal Morphological Plasticity And 
Underlying Developmental Mechanisms. Trends In Plant Science, August 2012, Vol. 17, No. 
8. 
Graham, L.E.; Graham, J.M. & Wilcox, L.W. 2009 Algae. 2. ed. Pearson Benjamin Cummings, 616 
p. 
Guimarães, S.M.P.B. 1990 Rodofíceas marinhas bentônicas do Estado do Espírito Santo: ordem 
Cryptonemiales. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 275 p. 
Guiry, M.D. 2011 The seaweed site: information on marine algae (Online). Acesso em 02 de junho 
de 2012. 
Knoll, A.H. The Multiple Origins Of Complex Multicellularity. Annu. Rev. Earth Planet. Sci. 2011. 
39:217–39. 
Lee, R.E. 2008 Phycology. 4ª ed. Cambridge University Press, 547 p. 
Paula, E.J.; Plastino, E.M.; Oliveira, E.C.; Berchez, F.; Chow, F. & Oliveira, M.C. 2007 Introdução 
à Biologia das Criptógamas. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 
Departamento de Botânica, São Paulo, SP, 184 p. 
Smith, D. R., Keeling, P. J. 2015. Mitochondrial and plastid genome architecture: reoccurring themes, 
but significant differences at the extremes. Proceedings of the National Academy of Sciences, 
p. 20144049. 
Spalding, M.D., Fox, H.E., Allen, G.R., Davidson, N., Ferdaña, Z.Z., Finlayson, M., Halpern, B.S., 
Jorge, M.A., Lombana, A., Lourie, S.A., Martin, K.D., Mcmanus, E., Molnar, J., Recchia, C.A., 
Robertson, J. 2007. Marine Ecoregions of the World: A Bioregionalization of Coastal and Shelf 
Areas. BioScience 57(7): 573-583. 
 
 
 
13 
 
 
Criptofíceas: um grupo pequeno de grande importância 
Karoline Magalhães (Universidade de São Paulo) 
 
Cryptophyceae, ou criptofíceas, é uma linhagem monofilética de organismos 
majoritariamente fotossintéticos. Algumas formas com plastídios sem cor (leucoplastos) podem 
ocorrer no gênero Cryptomonas. Há também espécies heterotróficas do gênero Goniomonas, que não 
possuem plastídios. Em estudos recentes, as criptofíceas são colocadas como irmãs de linhagens 
heterotróficas, como katableparídeos, telonemídeos e palpitia, que juntos formam o clado Cryptista. 
Entretanto, não há uma teoria consenso a respeito do relacionamento das criptofíceas com as demais 
linhagens de autótrofos cujos plastídios são derivados de algas vermelhas e ainda há debate na 
literatura cientifica a respeito deste tema. 
Inicialmente, o grupo foi classificado junto com as haptofíceas e heterocontes, como 
Chromista. Tal hipótese de classificação foi baseada em características compartilhadas pelos três 
grupos, como o armazenamento de β1-3 glicano no citoplasma, a presença de clorofila c nos 
tilacóides, aliado ao fato dos plastídios serem revestidos por quatro membranas (duas extras). A 
relação de ancestralidade dos plastídios dessas linhagens também foi confirmada por meio de dados 
filogenômicos dos cloroplastos. Entretanto, trabalhos filogenômicos utilizando os genomas do núcleo 
e da mitocôndria indicam que Cryptista (criptofíceas e outras linhagens heterotróficas) é grupo irmão 
de Archaeplastida. 
As criptofíceas são organismos unicelulares e biflagelados. Suas células são assimétricas, 
devido a inserção de um par de flagelos ligeiramente distintos. O flagelo maior (dorsal) é geralmente 
adornado por duas fileiras de mastigonemas, enquanto o flagelo menor com apenas uma fileira 
(Figura 1). Próximo a inserção dos flagelos, uma citofaringe, que é uma invaginação celular, se 
estende para o interior da célula. Alguns táxons podem ter uma abertura dessa citofaringe (gullet), 
chamada de sulco (furrow), que pode ser parcial ou total. Ejectiossômios, que são organelas 
explosivas, estão dispostos ao redor da região da citofaringe/ sulco. Eles também são encontrados 
entre as placas do periplasto em outras regiões da célula. Supõem- se que os ejectiossômios sejam 
organelas relacionadas a fuga e defesa contra injurias, e esses são diferentes dos tricocistos dos 
dinoflagelados. 
O periplasto cobre as células das criptofíceas e é organizado em duas camadas de proteínas 
que revestem a membrana plasmática por dentro (componente interno do periplasto-CIP) e por fora 
(componente externo do cloroplasto-CEP). As formas das placas do periplasto variam entre as 
CAPÍTULO 2 
 
 
 
14 
 
linhagens de criptofíceas e são muitas das vezes usadas como caracteres taxonômicos do grupo. A 
mitocôndria é unitária e tem forma tubular, que pode ser não ramificada à até complexas formas 
ramificadas. A mitocôndria se dispõe ao longo das demais organelas. O núcleo principal da célula 
está sempre disposto na parte antapical da célula (Figura 1). 
 
Figura 1. Morfologia básica das células fotossintetizantes de criptofíceas. (Am) amido, (Ci) citofaringe, (Cl) cloroplasto, 
(E) ejectiossômios, (F) flagelos, (M) mastigonemas, (Pi) pirenoide, (Nu) núcleo, (V) vestíbulo. 
 
As criptofíceas surgiram por meio de um processo de endossimbiose, cujo endossimbionte foi 
uma alga vermelha (Figura 2). Consequentemente, seus plastídios são complexos e têm algumas 
características únicas. Quatro membranas envolvem os cloroplastos das criptofíceas. Os dois pares 
de membranas externas correspondem ao retículo endoplasmático, e o par de membranas interno são 
do envelope do cloroplasto. A membrana formada pelo vacúolo durante
o englobamento do 
endossimbionte parece ter se fundido com o envelope nuclear. 
A grande maioria das espécies tem um único cloroplasto parietal lobado, com um pirenoide 
conspícuo (Figura 1). Os pigmentos fotossintéticos do grupo são clorofilas a e c, ficobiliproteínas e 
carotenoides. As ficobiliproteínas não estão dispostas em ficobilissomos, a despeito das algas 
vermelhas e cianobactérias. Existem estudos que indicam que todos os tipos de ficobiliproteínas 
encontrados nas criptofíceas são originalmente derivados uma ficoeritrina, visto que a aloficocianina 
e ficocianina foram perdidas ao longo do processo evolutivo. 
 
 
 
15 
 
 
Figura 2. Representação esquemática do processo evolutivo que resultou no surgimento de Cryptophyta 
 
Nas células desse grupo, as ficobiliproteínas estão localizadas dentro dos tilacóides e apenas 
um tipo é encontrado por organismo. Sendo assim, ao se obter um extrato de ficobiliproteína de uma 
espécie é possível saber qual tipo de ficobiliproteína essa possui por meio de uma varredura em 
espectrofotômetro dentro dos comprimentos de onda da luz visível (400-750nm). O tipo de 
ficobiliproteína tem sido utilizado para auxiliar a taxonomia das criptofíceas e existe correlação entre 
o tipo do pigmento e a filogenia molecular. Nos grupos vermelhos de criptofíceas, as ficobiliproteínas 
são mais conservadas. Por exemplo, a ficoeritrina 545nm é encontrada nos gêneros Rhodomonas, 
Rhinomonas, Storeatula, Teleaulax, Hanusia, Guillardia, Proteomonas Plagioselmis e Geminigera. 
A ficoeritrina 566nm é exclusiva do Cryptomonas, assim como a ficocianina 569nm do gênero 
Falcomonas. Já nos gêneros Chroomonas e Hemiselmis têm variação do tipo de ficobiliproteína de 
acordo com a linhagem. Em Hemiselmis, cinco tipos diferentes de ficobiliproteinas já foram descritas, 
sendo que algumas são espécie-especificas (até o momento). 
Os cloroplastos das criptofíceas ainda retêm o núcleo vestigial do endossimbionte, chamado 
de nucleomorfo. Portanto, as células de criptofíceas possuem quatro genomas (Figura 3), dois 
eucariontes (núcleo e nucleomorfo), e dois procariontes (cloroplasto e mitocôndria). Enquanto os 
genomas da mitocôndria e do núcleo são heranças da célula hospedeira, os genomas do nucleomorfo 
e do cloroplasto advêm do endossimbionte (alga vermelha). Cada genoma comanda sua síntese de 
 
 
16 
 
proteínas em compartimentos celulares distintos e fazem intercambio de moléculas, o que requere um 
mecanismo de coordenação dos compartimentos celulares. 
O nucleomorfo das criptofíceas tem três cromossomos, mas o tamanho do genoma varia e não 
há correlações obvias entre a filogenia do grupo e o tamanho do genoma do nucleomorfo. O processo 
de compactação do material genético do nuclemorfo se iniciou há milhões de anos atrás, sendo 
responsável pela eliminação e transferência de quase todos os genes para o núcleo principal do 
hospedeiro. Além do mais, o nucleomorfo tem sido considerado muito importante para o 
entendimento dos processos de endossimbiose e origem dos cloroplastos, visto que é um estado 
intermediário de redução do núcleo do endossimbionte. As células de criptofíceas têm dois 
citoplasmas, um da célula hospedeira e outro do endossimbionte. O citoplasma do endossimbionte 
fica localizado entre as duas membranas internas e externas do cloroplasto, e é chamado de espaço 
periplastidial (EPP). Nessa região celular são encontrados grãos de amido, os ribossomos 80S e o 
nucleomorfo (Figura 3). 
 
Figura 3. Representação da célula de criptofíceas evidenciando os quatro genomas e dois citosois presentes em cada 
organismo. (Am) amido, (EPP) espaço periplastidial, (G) complexo de Golgi, (MT) mitocôndria, (NM) nucleomorfo, (Pi) 
pirenoide, (RER) retículo endoplasmático rugoso. 
 
Ehrenberg descreveu as primeiras espécies de criptofíceas em 1832. Outras espécies e gêneros 
foram sendo descritos ao longo do tempo. Entretanto, a grande maioria dos autores tinha dificuldade 
 
 
17 
 
de separar espécies e propor filogenias devido ao pequeno tamanho da maioria das espécies (menor 
que 40µm) e a falta de características morfológicas conspícuas. A partir da década de 60, trabalhos 
com criptofíceas utilizando microscopia eletrônica se tornaram mais comuns, o que aumentou o 
número de caracteres morfológicos para sistemática e filogenia do grupo. Muitos gêneros foram 
criados, entretanto, há uma grande divergência na literatura sobre quais caracteres morfológicos são 
válidos para estabelecer as categorias taxonômicas. Por meio de imagens de microscopia eletrônica, 
a reprodução sexuada foi reportada nas criptofíceas, sendo que em alguns gêneros, como 
Proteomonas, pode haver dimorfismo entre os haploides de diploides. 
A partir da década de 90, trabalhos utilizando inicialmente sequências moleculares 
ribossomais para inferência filogenética validaram muitos dos gêneros estabelecidos previamente 
com base em caracteres morfológicos. Outros táxons já foram invalidados, como Chilomonas, 
atribuído as espécies atualmente classificadas como Cryptomonas (que possuem leucoplasto). Para 
outros táxons, as filogenias moleculares indicaram para- ou polifilia, e, portanto, necessitam de 
revisão taxonômica para validar ou não esses grupos. O uso de sequências moleculares junto a dados 
morfológicos também possibilitou a identificação de dimorfismo dentro de uma mesma espécie, que 
anteriormente poderiam classificadas como duas espécies distintas. Tal fato já foi documentado para 
espécies do gênero Cryptomonas. 
As criptofíceas são encontradas em ambientes marinhos, salobros e dulcícolas desde 
ambientes tropicais até áreas polares. São frequentemente reportadas na comunidade planctônica de 
ambientes aquáticos, embora raras espécies tenham sido documentadas para o solo e gelo. 
Ocasionalmente, algumas populações podem se multiplicar rapidamente resultado em florações, que 
são rapidamente sucedidas por florações de seus predadores, como dinoflagelados e ciliados. 
As criptofíceas são importantes como fonte de alimento para animais e protistas, como larvas e 
ciliados. Sendo assim, para reduzir a predação, algumas espécies de Cryptomonas desenvolveram 
comportamento de migração vertical na coluna d’água em lagos. Durante o dia vão para a zona 
eufótica e durante a noite migram para ambientes anôxicos e com sulfito de hidrogênio. Atribui-se 
que tal mecanismo consiga reduzir as perdas da população por predação em 38%. 
Alguns organismos marinhos do plâncton marinho podem manter cloroplastos de criptofíceas 
como cleptoplastídeos por um período de tempo. Os hospedeiros assim se favorecem pelos produtos 
da fotossíntese. O ciliado Myrionecta rubra e alguns grupos de dinoflagelados, como Dinophysis, são 
conhecidos por manter temporariamente plastídios de criptofíceas. Os hospedeiros temporários dos 
plastídios das criptofíceas também são capazes de formar florações, já reportadas na costa do Brasil 
e outras partes do mundo. Entre os dinoflagelados hospedeiros de cleptoplastídeos de criptofíceas, há 
espécies potencialmente produtoras de toxinas que podem causar envenenamento humano. 
 
 
18 
 
A estimativa do número de espécies de criptofíceas é incerto e chega a próximo de 200, sendo 
que cerca de metade dessas são marinhas e outra metade dulcícola. As ordens mais diversas são 
Cryptomonadales (166 espécies) e Pyrenomonadales (40 espécies). O gênero Cryptomonas conta com 
o maior número de espécies descritas atualmente (54 espécies), seguido pelos gêneros Chroomonas, 
Rhodomonas e Hemiselmis. Entretanto, muitas dessas espécies necessitam de uma investigação mais 
detalhada devido a carências na tipificação. 
Estudos recentes utilizando abordagem metagenômica, amostrando os oceanos em uma escala 
global (ver TARAOCEANS), identificaram cerca de 150 unidades taxonômicas operacionais (UTO) 
para as criptofíceas usando bibliotecas da região V9 do 18S rRNA. Esses dados representam
mais da 
metade da diversidade de espécies previamente estimada para o grupo nos ambientes marinhos. 
Adicionalmente a grande maioria das UTO (90%) encontradas para as criptofíceas foram dentro da 
fração do picoplâncton marinho. Entretanto, grande parte das espécies descritas de criptofíceas são 
da fração do nanoplâncton. Tais dados nos levam a supor que boa parte das espécies de criptofíceas 
marinhas ainda não foram descritas. 
A descrição de espécies do grupo numa perspectiva geral é bastante limitada. Todos os táxons 
descritos são resultados de coletas de oportunidade, o que resulta em uma baixa amostragem e 
representatividade numa perspectiva global. A imensa maioria das espécies descritas foram coletadas 
para o Hemisfério Norte. No Brasil, o conhecimento a respeito da flora das criptofíceas é ainda 
incipiente. Poucos trabalhos foram publicados e todos eles se baseiam apenas em descrições 
morfológicas obtidas por meio observações em microscopia de luz. Consequentemente, as 
estimativas do número de espécies em território nacional são incertas, uma vez que espécies crípticas 
são comumente descritas para o grupo. A escassez de taxonomistas para criptofíceas, aliado a 
problemas como falta de infraestrutura para microscopia eletrônica e biologia molecular, são fatores 
que contribuem para a carência de dados para o grupo em território brasileiro. Trinta e quatro espécies 
foram documentadas no Brasil, sendo 31 de ambientes continentais e duas de ambientes marinhos. 
 
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20 
 
 
 
Macroalgas marinhas: técnicas de cultivo e aplicação 
Patrícia Guimarães Araújo (Universidade de São Paulo) 
Allyson Nardelli (Universidade de São Paulo) 
 
 As algas marinhas são utilizadas pelo homem a milhares de anos. E apesar de seu consumo 
ser mais evidente pelos povos orientais, estudos arqueológicos demonstraram a utilização de 
macroalgas na costa sul do Chile a 14.000 anos atrás, sugerindo que as algas também fazem parte da 
dieta humana no Hemisférico Ocidental desde a antiguidade. Nos últimos 400 anos, as algas marinhas 
representam uma parte importante da culinária asiática, e após a segunda guerra mundial, o consumo 
deste recurso também se expandiu para o Ocidente. Atualmente elas são utilizadas na alimentação 
direta, em sopas, chás, saladas e sushi, como matéria-prima para produção de hidrocolóides, um 
espessante utilizado na indústria alimentícia, na composição de adubos, tintas, ração animal, na 
indústria farmacêutica, cosmética, nutracêutica e biotecnológica. 
 Até a Idade Média, as algas eram provenientes de coleta em bancos naturais, mas a partir do 
século XVII com o surgimento dos primeiros substratos artificiais para criação de peixes marinhos, 
também se desenvolviam os primeiros cultivos de algas. Atualmente, a algicultura tem um papel 
fundamental no desenvolvimento da maricultura mundial, representa uma alternativa para suprir a 
demanda de mercado, no complemento de renda de diversas comunidades tradicionais e minimiza a 
sobreexplotação dos bancos naturais. 
 De acordo com o último levantamento da FAO (Organização das Nações Unidas para 
Agricultura e Alimentação), a produção de algas em 2014 foi de 27.300 toneladas, que corresponde 
a 20% do total da produção mundial de organismos marinhos, com um valor de US$ 6,7 bilhões em 
2014. A maior parte desta produção ocorre na Ásia, principalmente na China, Indonésia, Filipinas, 
Coréia, Japão, Malásia e Tanzânia. Entre os países ocidentais, destacam-se o Chile, com 99% da 
produção de Gracilaria spp. no continente americano, seguido dos países da África como a Tanzânia, 
Madagascar, África do Sul e Namíbia. As principais espécies cultivadas são Kappaphycus alvarezii, 
Eucheuma spp., Gracilaria spp., Laminaria japonica Areschoug (Kelps), Undaria pinnatifida 
(Harvey) Suringar, Porphyra spp. (Pyropia spp.) e Sargassum fusiforme (Harvey) Stechell. No Brasil, 
há registros de cultivos de Gracilaria spp. nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, e 
da espécie Kappaphycus alvarezii (Doty) Doty ex. P. C. Silva no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo. 
Apesar do potencial para produção de algas, condições ambientais favoráveis, demanda social e 
CAPÍTULO 3 
 
 
 
21 
 
diversos estudos desenvolvidos neste setor, os cultivos de algas no país ainda são em pequena escala 
e representa uma atividade incipiente. 
 
Tecnologias para produção de macroalgas marinhas 
 As técnicas de cultivo de algas desenvolveram-se rapidamente nos últimos 70 anos, 
principalmente na Ásia e, mais recentemente, nas Américas e na Europa. No entanto, ainda há muitos 
desafios a serem superados relacionadas a técnicas de cultivo mais robustas e economicamente 
viáveis, especialmente para ambientes offshore, seleção e desenvolvimento de linhagens tolerantes a 
variações térmicas e de salinidade, resistentes a doenças e organismos epífitos e incrustantes, com 
altas taxas de crescimento e alta concentração
de moléculas de interesse. 
 De modo geral, o cultivo de algas é baseado na propagação vegetativa dos talos. As mudas de 
macroalgas são presas a cabos, redes ou colocadas em tanques onde ocorre um aumento da biomassa 
através de crescimento vegetativo. As mudas são originadas da coleta de bancos naturais, algas 
arribadas1, da produção do próprio cultivo ou da produção de esporos a partir de linhagens 
selecionadas. 
 As algas vermelhas dos gêneros Gracilaria Greville, Gracilariopsis E.Y. Dawson, 
Kappaphycus Doty e Eucheuma J. Agardh são as mais cultivadas no mundo. Elas são produzidas a 
partir de quatro técnicas diferentes: (i) cultivos em cordas flutuantes em um sistema denominado tie-
tie, (ii) balsas flutuantes ou semi-flutuantes com cordas ou redes tubulares, (iii) estacas presas ao 
fundo e (iv) em sistemas de tanques (Figura 1). As estruturas de tie-tie e balsas podem ser alocadas 
em baías protegidas ou mar aberto, enquanto que o método de estacas é utilizado em áreas rasas e 
protegidas, próximo à costa. O período de colheita varia de acordo com a espécie cultivada, 
geralmente varia entre dois a três meses. A técnica de cultivos em tanques possui a vantagem de 
controle do sistema, que garante uma produção com altos padrões de qualidade e biossegurança, no 
entanto, o custo elevado de manutenção torna esta técnica limitada. 
 Atualmente a maior parte estoques de mudas de Gracilaria e Gracilariopsis são provenientes 
da coleta de bancos naturais, mas também são observadas a reposição de mudas a partir de talos 
jovens produzidos do cultivo ou de esporos (carpósporos e tetrásporos) provenientes de linhagens 
selecionadas. Esta última técnica é comumente utilizada no Chile para produção de Gracilaria 
chilensis C.J. Bird, McLachlan & E.C. Oliveira e outras regiões como o Havaí. A dependência de 
mudas a partir dos estoques naturais pode causar sérios problemas em virtude da variabilidade 
genética das populações de algas, além de ocasionar a sobre-explotação deste recurso natural. As 
 
1 Algas arribadas são algas desprendidas do substrato pela força das correntes e que ficam atiradas a linha de praia 
durante a maré baixa. 
 
 
22 
 
mudas de Kappaphycus e Eucheuma são originadas de talos jovens do próprio cultivo. As espécies 
destes gêneros apresentam alta taxa de crescimento e facilidade de manejo do cultivo, por esta razão, 
estas espécies têm sido introduzidas em diversas regiões tropicais e subtropicais com objetivo de 
maricultura 
 
Figura 1. Técnicas de cultivo de algas dos gêneros Gracilaria, Gracillariopsis, Kappaphycus e Eucheuma. A) Sistema 
de cabo flutuante ou tie-tie, B) Balsas flutuantes onde as algas estão presas a cabos ou redes tubulares, C) Sistema de cabo 
presos no fundo. 
 
 Os desafios da produção destas algas vermelhas é reduzir os problemas de incrustação, 
epifitismo e herbivoria. Geralmente, a manutenção dos cultivos é feita 2-3 vezes por semana para 
retirada de incrustantes e epífitas das estruturas e algas cultivadas. Algumas soluções bem-sucedidas 
incluem o enxágue das algas com água doce, determinação de densidade de algas ideal e cultivos em 
tanques. As doenças também são frequentes entre as espécies de Kappaphycus e Eucheuma, e que 
ameaça a produção de diversas fazendas de algas marinhas. A mais comum é denominada de ice-ice, 
devido ao surgimento de manchas brancas ao longo dos talos, que causa ruptura e morte celular. 
Ainda não se conhece ao certo o vetor desta doença, infecções bacterianas, virais ou estresse físico 
podem ser fontes potenciais. 
 
 
23 
 
 O método de cultivo de Porphyra C. Agardh e Pyropia J. Agardh, comercialmente conhecidas 
como nori, envolve todo ciclo produtivo da alga. Na primeira fase, denominada conchocelis, ocorre 
a liberação e semeadura de esporos que se fixam em redes e são cultivados em tanques sobre 
condições controladas de temperatura, salinidade, pH e luminosidade. Na segunda fase, os talos 
gametofíticos (mudas) são transferidos para áreas maiores: tanques maiores, estacas fixas, redes e 
jangadas semi-flutuantes e flutuantes, que crescem por propagação vegetativa até atingir um tamanho 
comercial (Figura 2). As técnicas de controle de epífitas variam de acordo com os sistemas de cultivo. 
Podem ser através da dessecação com a exposição da estrutura de cultivo ao ar para matar epífitas e 
organismos incrustantes, através do controle do pH com aplicação de ácidos orgânicos nas redes. 
 A produção das algas pardas Saccharina Stackhouse e Undaria Suringar, conhecidas como 
kelps, é semelhante as técnicas de produção do nori. Envolve a liberação e semeadura de esporos e 
crescimento de talos gametofíticos em tanques, e posterior instalação destas mudas em sistemas off-
shore, onde os talos atingem até 5 metros de comprimento. 
 
Figura 2. Técnicas de cultivo de algas envolvendo todo reprodutivo. 
 
 
24 
 
Cultivo de algas multi-trofico 
Segundo a FAO, a produção no setor da aquicultura deve crescer 17% até 2025, em relação a 
safra de 2015, que foi de 166 milhões de toneladas. Está expansão na produção, gera apreensão com 
o uso sustentável dos corpos d’águas. Uma vez que as operações aquícolas podem causar impactos 
negativos como a eutrofização dos corpos d’água, devido ao aumento da concentração de nutrientes, 
o que pode provocar a hipóxia e acidificação das áreas sobre influência dos cultivos, afetando a 
diversidade dos organismos bentônicos e planctônicos, proliferando patógenos e ameaçando a saúde 
do ecossistema. Com isso, é relevante a aplicação de métodos de produção alinhados a bioeconomia, 
que visem, não apenas o crescimento econômico, mas também, uma maior abordagem ecológica e 
social, sendo fundamental para o desenvolvimento sustentável da atividade produtiva. Nesse 
contexto, é recomendável a utilização de métodos de produção que visem não apenas o crescimento 
econômico, mas também uma maior abordagem ecológica e social. Uma maneira para alcançar este 
objetivo é a implementação da Aquicultura Multi-Trófica Integrada Marinha (AMTIM). 
A AMTIM é uma abordagem que pode ser adotada para mitigar os possíveis efeitos negativos 
da monocultura. Esta estratégia de aquicultura baseia-se na produção aquática sob o conceito de 
reciclagem e reutilização. Em lugar de cultivar uma única espécie (monocultura) e incidir os esforços 
sobre suas necessidades, a AMTIM tenta imitar um ecossistema natural, combinando o cultivo de 
várias espécies com funções ecossistêmicas complementares, de modo que um tipo de alimento não 
consumido, por exemplo, resíduos, nutrientes e subprodutos, possam ser reaproveitados e convertidos 
em nutrientes, alimentos e energia para outras culturas, tendo a água como meio de conectividade 
entre os níveis tróficos. 
Sistemas AMTIM envolvem espécies como peixes ou camarões, que são alimentados com 
ração e/ou rejeitos de pesca (arraçoados), organismos filtradores de material orgânico particulado 
(MOP), como ostras, vieiras e mexilhões, e filtradores de compostos inorgânicos, como algas (Figura 
3). Os peixes introduzem material orgânico na coluna d’água devido a alimentos não consumidos e 
produção de fezes, além de liberar compostos inorgânicos como NH4
+, PO4
-3 e CO2, devido à ação 
metabólica. Organismos filtradores de MOP podem ter um reforço na sua dieta devido ao 
abastecimento de resíduos particulados de alimentos e fezes provenientes dos organismos arraçoados, 
assimilando parte deste material em seu tecido. Assim, espécies filtradoras podem apresentar uma 
maior taxa de crescimento, acima das observadas em monocultora de filtradores. Como consequência, 
a integração dos filtradores possibilitaria a diminuição da carga de MOP para os arredores do cultivo. 
Por sua vez, os filtradores também introduzem compostos inorgânicos na água pelas suas vias 
metabólicas. Os compostos inorgânicos provenientes dos arraçoados,
dos filtradores e do processo de 
biodegradação de material orgânico pela ação microbiana, são aproveitados pelos produtores 
 
 
25 
 
primários como as macroalgas que os usam na produção de compostos vitais para o seu 
desenvolvimento, como por exemplo, a produção de açúcares, proteínas e enzimas. 
 
Figura 3. Interações entre os organismos cultivados em sistema multitrófico 
 
No cultivo integrado, as macroalgas retiram da água compostos como NH4
+, PO4
-3 e CO2, que 
são provenientes das ações metabólicas dos organismos de níveis tróficos superiores, e os incorporam 
na sua biomassa, o que favorece o seu desenvolvimento, aumentando as taxas de crescimento. Estudos 
demostraram que as algas cultivadas em sistemas AMTIM apresentam um acúmulo de compostos de 
alta qualidade, como proteínas, polissacarídeos, pigmentos e compostos funcionais, contribuindo 
dessa forma na produção de biomassa de alta qualidade nutricional. Além disso, as macroalgas 
contribuem para o aumento da concentração de O2 dissolvido na água e estabilização do pH da água. 
Deste modo, o cultivo de algas integrado a outros níveis tróficos, não só favorece o aumento da 
produtividade da região, mas também contribui para a manutenção da saúde do ecossistema da área 
de cultivo e arredores. 
 
Aplicação das macroalgas 
 O mercado global de algas marinhas movimentou cerca de US$ 6,7 bilhões em 2014, 
representando 20% do total de produção mundial de organismos aquícolas. Grande parte da 
população mundial consome algas marinhas ou produtos derivados dela, como laticínios, carnes e 
frutas processadas, iogurtes, flans, pudins, sorvetes, tintas, creme dental, cosméticos e produtos 
farmacêuticos. Os países asiáticos ainda representam o principal mercado de algas marinhas, 
especialmente na indústria alimentícia, no consumo direto e de aditivos. Todavia, a demanda nos 
mercados Americanos e Europeus tem crescido nos últimos anos, com aditivos e espessante de 
alimentos, novas fontes de proteínas, suplementos alimentares saudáveis e alimentos nutracêuticos. 
 
 
26 
 
Além disso, também são utilizadas na alimentação direta ou suplemento da ração animal como 
abalones, aves, porcos e peixes. 
 A aplicação das macroalgas nas indústrias farmacêutica, cosmética e biotecnológica também 
tem crescido significativamente os últimos anos. As algas marinhas são ricas em compostos bioativos 
com propriedades anti-inflamatória, antioxidantes, antiviral, anticâncer, antifúngica e ação de 
proteção contra radiação ultravioleta. As algas ainda são utilizadas na agricultura para prevenção de 
patógenos, na produção de biopolímeros e na solução integrada de biorrefinarias para produção de 
biocombustíveis. 
Todavia, apesar da grande demanda de mercado e os esforços de pesquisas na área ainda são 
muitos os desafios para o desenvolvimento e expansão da indústria sustentável de algas marinhas. 
Diversos estudos têm sido realizados para desenvolver linhagens resistentes a doenças, epífitas, 
variações de temperatura e salinidade, alta taxa de crescimento, melhor propriedade nutricional e 
maior concentração de moléculas bioativas. Esforços também têm sido realizados para melhoria nos 
processos de manutenção, colheita, processamento, armazenamento das algas e desenvolvimento de 
fazendas offshore, com ampliação de áreas cultiváveis. 
 Considerando as técnicas aquícolas atuais, as algas marinhas representam os organismos mais 
apropriados para o cultivo no mar. Comparado a outros organismos, são técnicas de baixo custo, 
requer menor esforço de trabalho para manutenção e colheita, menor tempo de ciclo de produção e 
baixo impacto ambiental. Além disso, representa uma alternativa de renda para diversas comunidades 
costeiras ao redor do mundo. 
 
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29 
 
 
 
Ecologia de costões rochosos: metodologias de amostragem e monitoramento 
Mariana Sousa Melo (Universidade de São Paulo) 
Sabrina Gonçalves Raimundo (Universidade de São Paulo) 
Bruno Lenhaverde Sandy (Universidade de São Paulo) 
 
Introdução 
Grande parte da superfície da Terra é coberta pelos oceanos com aproximadamente setenta e 
um por cento do planeta coberto por águas marinhas e mesmo assim, é um ambiente relativamente 
pouco investigado se comparado com o ambiente terrestre. Contudo, tem grande importância para os 
seres humanos, indo muito além de um prazeroso banho de mar. A maior parte da população mundial 
vive nas regiões costeiras, o que se relaciona diretamente com os inúmeros serviços que o oceano nos 
proporciona, como o fornecimento de alimentos, extração de petróleo, entre outros. Porém, esta 
proximidade e relações estreitas tornam este ambiente muito vulnerável, em parte pelo seu 
desconhecimento e seus ecossistemas. Com fronteiras sutis, os ecossistemas estão todos ligados, de 
forma que eventos ocorridos no continente influenciam o oceano, podendo citar o aporte de nutrientes 
e água doce. Assim, o ambiente marinho sofre diversas influências oriundas das atividades humanas, 
bem como: a queima de combustíveis fósseis libera gás carbônico (CO2) na atmosfera, que ao se 
dissolver no oceano acidifica a água, dificultando a formação de conchas e estruturas calcárias por 
moluscos (como o mexilhão), algas e corais. 
Atualmente é sabido que a profundidade média dos oceanos é 3.800 metros, e em locais mais 
profundos atingem quase 11.000 metros e possui cerca de 300 vezes mais espaço para a ocupação 
dos seres vivos do que os ambientes terrestres e de água doce combinados. Existem mais filos de 
animais no oceano do que em água doce ou em terra, embora cerca de 80% das espécies animais não 
sejam marinhas devido à grande diferença dos habitats terrestres. No entanto, o ambiente marinho 
possui duas grandes regiões: pelágica, (a coluna d’água) e a bentônica (o assoalho marinho). A região 
pelágica contém dois grupos, o plâncton e o nécton, e a região bentônica apenas o bentos (Figura 1). 
Dentre as regiões citadas, a pelágica agrupa os organismos da coluna d’água que vivem à 
deriva, ou seja, com poder limitado de locomoção, sendo transportados passivamente por correntes e 
massas d’água. O plâncton possui uma diversidade mais específica: zooplâncton (pequenos animais, 
animais de baixa mobilidade e larvas de peixes e organismos bentônicos, entre outros) e fitoplâncton 
(organismos fotossintetizantes do plâncton, como as microalgas) (Figura 2A). 
CAPÍTULO 4 
 
 
30 
 
 
Figura 1. Os grupos dentro dos Domínios Marinhos: Plâncton, Nécton e Bentos. 
 
 
Figura 2. Biodiversidade presente nos Domínios Marinhos: Plâncton: (A) fitoplâncton e zooplâncton; Nécton: (B) peixe 
e Bentos: (C) ouriço-do-mar, (D) mexilhões, (E) alga verde e (F) estrela-do-mar. 
 
Embora muito pequenas, as microalgas do fitoplâncton são responsáveis pela produção de 
aproximadamente cinquenta por cento do oxigênio disponível na atmosfera através do processo da 
 
 
31 
 
fotossíntese. O oxigênio liberado neste processo vem da quebra da molécula de água e a matéria 
orgânica resultante é construída a partir do dióxido de carbono (CO2). Além de liberar oxigênio, 
organismos fotossintetizantes também produzem matéria orgânica (alimento, na forma de glicose) a 
partir de gás carbônico (CO2), utilizando a energia do Sol. Por isso, são considerados produtores 
primários, que compõem a base da cadeia alimentar de quase todos os ecossistemas do planeta. 
Tratando-se do outro grupo da região pelágica, o nécton é composto por organismos que 
vivem na coluna d’água e que possuem órgãos eficientes para natação, possuindo então capacidade 
de locomoção e podendo nadar longas distâncias, independente de correntes e movimentos de massas 
d’água (Figura 2B). Por fim, os organismos bentônicos os quais fazem parte da região bentônica são 
os que vivem junto ao leito oceânico de diversas naturezas, sejam eles sésseis ou fixos, como os 
mexilhões e as algas verdes (Figura 2D e E) ou móveis, como as estrelas-do-mar e os ouriços-do-mar 
(Figura 2C e F). 
Além disso, existe uma grande diversidade de habitats marinhos e costeiros, resultando em 
um grande mosaico de diferentes tipos de ambientes. De forma geral, os ambientes marinhos são 
regiões sobre a influência do mar, cada qual com uma condição de pressão, salinidade, profundidade, 
temperatura, luminosidade e diversidade biológica. Entre os diversos ecossistemas marinhos e 
costeiros podemos destacar os recifes de corais, as fontes hidrotermais, os manguezais e marismas, 
as praias arenosas, os costões rochosos, ambientes de mar profundo, entre outros. 
Embora existam vários ecossistemas que estão presentes na região costeira, como os costões 
rochosos, os quais são considerados muito importantes por apresentar alta riqueza de espécies de 
importância ecológica e econômica, por exemplo: mexilhões, ostras, algas, crustáceos e uma 
variedade de peixes. Além disso, por receber grande quantidade de nutrientes proveniente dos 
sistemas terrestres, estes ecossistemas de transição entre o ambiente terrestre e marinho, apresentam 
uma grande biomassa e produção primária de microfitobentos e de macroalgas. Como resultado, os 
costões rochosos são locais de alimentação, crescimento e reprodução de muitas espécies. Entre 
outras características, existe limitação de substrato ao longo de um gradiente existente, favorecendo 
a ocorrência de fortes interações biológicas entre a grande diversidade de espécies presentes. A grande 
variedade de organismos e o fácil acesso tornaram os costões rochosos uns dos mais populares e bem 
estudados ecossistemas marinhos. 
 
Costões Rochosos 
Os costões rochosos são afloramentos de rochas cristalinas que em geral estão situadas na 
transição entre os ambientes terrestres e marinho e, por isso, sofrem influência da maré e de diversos 
 
 
32 
 
fatores relacionados ao oceano como a temperatura da água. Desta forma, há diversas formações 
rochosas, como por exemplo, as falésias, os matacões e os costões rochosos verdadeiros (Figura 3). 
 
 
Figura 3. Exemplos de Costões Rochosos: (A) Matacões em Itaguá – Ubatuba, SP e
(B) Costões Rochosos Verdadeiros 
no Parque Estadual da Ilha Anchieta – Ubatuba, SP. 
 
Estes ecossistemas atuam como substrato para comunidades biológicas, e é considerado como 
um ambiente muito mais marinho que terrestre já que as espécies que o habitam estão muito mais 
relacionadas ao mar. No Brasil, as rochas possuem origem vulcânica e estão estruturadas de diversas 
formas, desde paredões verticais bastante uniformes (ex. a Ilha de Trindade/RJ) ou matacões de rocha 
(ex. a costa de Ubatuba/SP). Assim, encontramos ambientes de costa rochosa em quase toda costa 
brasileira. No entanto, a maior concentração dos verdadeiros costões rochosos na região Sul e Sudeste 
entre Cabo Frio (RJ) e o Cabo de Santa Marta (SC). 
Os costões rochosos podem apresentar muitas características complexas, mas de forma geral 
quanto maior sua complexidade, maior a diversidade de organismo ali encontrada. Por exemplo, 
existem costões rochosos expostos e outros protegidos que compreendem uma variação biológica 
distinta entre eles. Os costões expostos são aqueles que recebem frequente impacto de ondas e por 
isso são pouco fragmentados, aparentando-se a um paredão liso. Assim, possuem menor quantidade 
de habitats comparados aos costões protegidos, os quais estão localizados em baias abrigadas, 
podendo ou não ser orientadas para o continente. Além disso, por ser um ambiente que sofre com o 
alto hidrodinamismo (locais onde o embate de ondas é mais forte), não favorece a existência de 
organismos mais frágeis. No entanto, possuem alta produção primária devido ao fluxo de nutrientes 
que chega pela água, de modo que as algas (em geral de talos ramificados) se utilizam desta energia 
para realização da fotossíntese. 
Já os costões protegidos estão localizados em áreas em que o hidrodinamismo é menor, como 
por exemplo áreas no qual aconteceram rolamentos de matacões formando piscinas naturais. Assim, 
esses lugares apresentam alto nível de complexidade biológica, resultando numa grande riqueza de 
 
 
33 
 
espécies associadas. Nessas áreas podemos encontrar organismos maiores que os de costão exposto, 
como algas com talos bem desenvolvidos e com abundante biota associada a essas algas (algas, 
briozoários, esponjas, vermes, entre outros) e que conseguem viver ali. 
 
Zonação 
Ao se observar um costão rochoso pela primeira vez desde sua porção submersa até a porção 
rochosa exposta, um dos fatores mais notáveis é a disposição dos organismos em faixas ao longo de 
um perfil vertical deste ecossistema. A esta disposição vertical denominamos zonação, a qual resulta 
da influência de diversos fatores físicos e biológicos, como por exemplo, a variação das marés e a 
predação, respectivamente. No costão rochoso é possível observar três zonas distintas: 
 
 
Figura 4. Zonação em costões rochosos: Foto representativa de costão rochoso no Parque Estadual da Ilha Anchieta - 
Ubatuba/SP com esquema didático mostrando zonas de supra, médio e infralitoral. 
 
1. Supralitoral: Zona na qual encontra-se organismos que nunca ficam submersos, mesmo na 
maré alta. Esta zona está sujeita apenas a borrifos de água e abriga uma comunidade de líquens, 
cianobactérias (algas azuis) e de alguns animais móveis, como pequenos moluscos (como a 
Echinolittorina sp.) e artrópodes (como a Lygia sp., a baratinha-do-mar); 
2. Médiolitoral: Também chamada de zona “entremarés” é localizada logo abaixo da zona de 
supralitoral e é o nível no qual os organismos estão sujeitos à variação da maré, ficando expostos ao 
ar durante a maré baixa e submersos na água durante a maré alta. Na região superior do médiolitoral 
podemos observar organismos como cracas e mexilhões, que possuem adaptações ao fator abiótico 
SUPRALITORAL 
INFRALITORAL MEDIOLITORAL 
Foto: Bruno Sandy 
 
 
34 
 
como a dessecação, enquanto na parte inferior, ocorrem macroalgas, que ressecam durante o período 
de exposição e são reidratadas durante a maré alta. 
3. Infralitoral: Esta zona localiza-se abaixo do médiolitoral onde encontra-se organismos que 
ficam sempre submersos, mesmo durante a maré baixa. Neste ambiente encontram-se todos os peixes 
e organismos que não são adaptados à perda d’água e altas temperaturas, como ouriços-do-mar, 
estrelas-do-mar e anêmonas. 
 
Influências para formação da zonação em costões rochosos 
Muitos dos organismos do costão são fixos ou de baixa mobilidade, o que faz com que eles 
dependam muito das condições da água para sua reprodução, dispersão (através de larvas 
planctônicas) e para sua alimentação (por serem fixos, portanto filtradores). Desta forma, a zonação 
observada na composição predominante de alguns organismos em cada faixa do costão rochoso é 
resultante de fatores físicos e biológicos que atuam como fatores seletivos de organismos aptos a 
ocuparem cada zona (infralitoral, médiolitoral e supralitoral). Entre esses fatores estão: as marés, a 
temperatura, radiação solar, hidrodinamismo, as interações biológicas, entre outros. 
Por muito tempo acreditou-se que a maré era o único fator responsável pela zonação que 
observamos no costão, hoje sabe-se que este seja um dos mais relevantes fatores que atuam sobre 
esse ela. No período de maré baixa, muitos organismos ficam emersos e expostos às condições 
adversas como dessecação e altas temperaturas (Figura 5). Os organismos que se fixam nas regiões 
mais altas do costão são os primeiros a ficarem expostos e os últimos a serem novamente submersos. 
Por isso, conseguimos observar uma clara divisão vertical entre as faixas de exposição, já que os 
organismos que se distribuem de acordo com suas adaptações para estas condições extremas. 
 
Figura 5. Exposição de organismos na maré baixa. Ao lado esquerdo: aquário natural, Parque Estadual da Ilha Anchieta. 
Ao lado direto: organismos de costão rochoso expostos durante a maré baixa. 
 
 
35 
 
Outros fatores físicos importantes são a radiação solar e a temperatura. Por exemplo, os 
cirripédios (cracas) que são crustáceos que ocupam a região do médiolitoral possuem envoltório 
resistente que abrem e fecham mantendo uma quantidade adequada de água para manter a temperatura 
do organismo, além de contribuir para que não se exponham à radiação solar. Outro exemplo são as 
baratinhas-da-praia que também são animais que ocupam a zona de supralitoral, neste caso além de 
possuírem exoesqueleto quitinoso que diminui o contato com a radiação solar, se locomovem muito 
bem o que facilita transitar neste ambiente. 
O hidrodinamismo pode ser um fator relevante para a predominância de algumas espécies, em 
particular no médiolitoral. Neste caso, um bom exemplo são as diferentes algas que podem ocupar 
essa região. Em áreas de alto hidrodinamismo observa-se a predominância de algas com talos 
ramificados pela movimentação das águas que impede a superposição, que causaria sombreamento 
dos talos inferiores. Os ambientes com baixo hidrodinamismo podem favorecer a fixação e 
estabelecimento de organismos, principalmente esporos e propágulos, proporcionando a existência 
de algas com talos não ramificados e outros organismos mais frágeis. 
Somado a esses fatores, as interações existentes entre os organismos também ajudam a 
determinar o padrão observado na zonação dos costões rochosos. Deste modo, fatores biológicos 
como a competição por espaço, predação e a herbivoria podem ser cruciais na zonação. Estudos 
mostraram que alguns gastrópodes predadores estendem-se desde a zona do médiolitoral até o 
infralitoral, dependendo do batimento das ondas ou da disponibilidade das presas. Essas interações 
biológicas têm relevância particular para a determinação da distribuição dos organismos na região do 
supralitoral, onde fatores abióticos são mais determinantes. 
Além dos fatores descritos, outros podem atuar como limitadores da distribuição dos 
organismos. Águas com alta turbidez, por exemplo, podem reduzir a presença de algas na região do 
infralitoral.
Assim, a zonação dos organismos bentônicos num costão rochoso reflete a interação de 
vários fatores físicos e biológicos, estabelecendo limites precisos de distribuição. Cada costão possui 
características próprias que vão definir a importância relativa dos fatores abióticos e bióticos na 
estrutura das comunidades bentônicas presentes. De todo modo, este padrão de zonação é comum nos 
costões rochosos do mundo inteiro. As espécies que ocorrem em cada zona podem variar em função 
das diferentes latitudes, níveis de maré e exposição ao ar, entre outros, porém mostram adaptações 
especiais para viverem nesta área, sendo a zonação, a estrutura básica reconhecida na maior parte dos 
ambientes de costões rochoso. 
 
Ameaças aos Costões Rochosos 
 
 
36 
 
Atualmente, os costões rochosos sofrem diversos impactos antropogênicos, por exemplo, 
poluição orgânica, industrial, derrame de óleo, sedimentação de áreas portuárias, captura excessiva, 
introdução de espécies exóticas, turismo descontrolado, desmatamento das matas de encosta e até 
mesmo efeitos das mudanças climáticas. Nesse último caso, temos efeitos diversos, incluindo 
aumento da temperatura, resultando em perda de diferentes espécies como, por exemplo, o 
branqueamento de corais (fenômeno que acontece com a perda algas que vivem em simbiose com 
estes organismos e morrem pelo aumento da temperatura ou contaminação de patógenos). Outro 
efeito importante das mudanças climáticas sobre todo o oceano é sua acidificação, podendo ocasionar, 
entre outros impactos, a não calcificação de estruturas calcárias de diferentes espécies. 
 Este efeito acontece quando a água (H2O) e o gás se encontram formando o ácido carbônico 
(H2CO3) que se dissocia no mar, formando íons carbonato (CO3
²-) e hidrogênio (H+). O nível de acidez 
se dá através da quantidade de íons H+ presentes em uma solução – nesse caso, a água do mar. Quanto 
maior as emissões, maior a quantidade de íons H+ e,mais ácido os oceanos ficam. Em quantidades 
normais de absorção de CO2 pelo oceano, as reações químicas favorecem a utilização do carbono na 
formação de carbonato de cálcio (CaCO3) utilizado por diversos organismos marinhos na 
calcificação. 
O aumento intenso das concentrações de CO2 na atmosfera, e consequentemente, a diminuição 
de pH das águas oceânicas acaba por alterar o sentido destas reações, fazendo com que o carbonato 
dos ambientes marinhos se ligue com os íons H+, ficando menos disponível para a formação do 
carbonato de cálcio, essencial para o desenvolvimento de organismos calcificadores. A diminuição 
das taxas de calcificação afeta, por exemplo, o estágio de vida inicial destes organismos, bem como 
sua fisiologia, morfologia, reprodução, distribuição geográfica, crescimento, desenvolvimento e 
tempo de vida. Além disso, afeta também a tolerância às alterações na temperatura das águas 
oceânicas, tornando-os mais sensíveis e interferindo na distribuição de espécies. 
 Somado a todos esses impactos que foram superficialmente citados, ainda há uma falta de 
maiores esclarecimentos a respeito destes ecossistemas. De forma geral, conhecemos pouco dos 
costões rochosos brasileiros, tendo mais informações ecológicas de curto prazo no litoral de São 
Paulo, alguns pontos da Baía de Guanabara, a costa norte do Rio de Janeiro e em Cabo Frio (RJ). De 
modo que expandir a pesquisa para outras áreas, considerar monitoramentos e estudos de longo prazo 
ainda é uma necessidade. Além disso, é igualmente importante que tenha um embasamento mais 
relevante a respeito das espécies que habitam, tendo em vista que o conhecimento é mais aprofundado 
quando consideramos as macroalgas bentônicas. 
 
Pesquisa em Ecologia de Costões Rochosos 
 
 
37 
 
Realizar estudos ecológicos em costões rochosos apresenta muitos desafios. O próprio 
ambiente, em si, já é um fator limitante para o pesquisador. A maioria dos estudos em costões 
rochosos no mundo foi realizada na zona do médiolitoral. Estudos neste ecossistema devem ser 
planejados para serem executados durante as poucas horas do dia em que a maré está baixa, quando 
a região está acessível. Estudar o infralitoral também tem suas complicações. Como a amostragem 
nesta região é feita, geralmente, com mergulho autônomo, o tempo de amostragem é limitado pelo 
consumo de ar do mergulhador-pesquisador. 
A grande complexidade física e biológica destes ambientes resulta em uma grande 
variabilidade em quase todos os parâmetros medidos, mesmo numa pequena escala, seja ela vertical 
ou horizontal. Por isso, as características únicas deste ambiente devem ser levadas em consideração 
antes de definir um desenho amostral, para então selecionar os procedimentos mais adequados. 
Diversos parâmetros contribuem para a alta variabilidade na distribuição dos organismos de 
costão rochoso. São muitos os gradientes afetando as comunidades, como grau de exposição a ondas 
e correntes, proximidade de rios, a amplitude de maré e uma variação topográfica muito alta. A 
paisagem de costão rochoso é muito heterogênea, compondo diversos micro-habitat. Por exemplo, 
fendas, matacões, paredões ou poças de maré. Fatores como inclinação e rugosidade do substrato e 
incidência de luz também contribuem para uma grande variabilidade espacial. 
Além de variar em diversas escalas espaciais, os organismos de costão rochoso também 
apresentam uma considerável variação temporal, que pode levar de anos a décadas. Estas fontes de 
variabilidade devem ser cuidadosamente analisadas e levadas em conta antes de selecionar os 
métodos de coleta e desenho amostral. Se a variabilidade natural do sistema não for corretamente 
avaliada, esta pode gerar um ruído na interpretação dos dados, confundindo os resultados. Isto impede 
o pesquisador de detectar causas alternativas de variação na estrutura das comunidades como, por 
exemplo, as resultantes de impactos antrópicos. 
Estudos de campo podem ser classificados de diferentes formas. Entre eles estão: Estudos de 
base, que tem como objetivo definir o status presente de alguma condição biológica; Estudos de 
impacto, que incluem detectar e relacionar alterações biológicas com perturbações; Monitoramentos, 
que consistem em acompanhar determinados parâmetros ao longo do tempo para detectar mudanças; 
e Estudos ecológicos, que avaliam padrões e processos, onde padrões biológicos são descritos para 
determinar os fatores que os causam. A pesquisa em ecologia de costão rochoso, hoje em dia, 
frequentemente envolve experimentos controlados. Entretanto, amostrar padrões de distribuição e 
abundância por si só ou em conjunto com experimentos é ainda muito importante. 
 
Amostragem em Costão Rochoso 
 
 
38 
 
Para desenhar um método de amostragem em campo adequado, o pesquisador deve ter claros 
os objetivos e perguntas do estudo. Isso permitirá uma melhor definição das hipóteses a serem 
testadas e dos parâmetros que devem ser medidos, para assim definir o local de estudo, 
posicionamento de unidades amostrais e unidades biológicas utilizadas. Desta forma, o desenho 
amostral pode ser definido de maneira eficaz, com poder estatístico suficiente para responder às 
perguntas em questão. 
Independente dos objetivos do estudo, um desenho amostral deve incluir controles tanto no 
tempo quanto no espaço, replicação de todos os níveis de amostragem, múltiplos locais de 
amostragem, garantia de réplicas independentes e preferencialmente aleatórias e os resultados devem 
ser expressos em medidas de variabilidade estatística. A análise, para ser considerada válida, deve 
possuir poder estatístico. Este diminui à medida que aumenta a variabilidade intrínseca do sistema. 
Isto reflete diretamente no número de réplicas a serem amostradas no estudo. 
 
Seleção dos locais de estudo 
Os locais de coleta de dados ecológicos devem ser cuidadosamente selecionados. Para que 
possam ser consideradas réplicas, os locais devem possuir características parecidas

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